quarta-feira, outubro 12, 2011

Esqueçam o governo...

... este e os que lhe sucederão.
.
"O governo não tem uma estratégia para o sector agro-alimentar"
.
Aliás, grande parte do discurso de João Miranda da Frulact vai precisamente nesse sentido:
.
"O Estado tem empresas públicas em todos os sectores, mas não na agro-indústria...
É verdade.
Isso é bom ou mau?
É bom porque significa que as empresas agro-industriais evoluíram enormemente sem a ajuda do Estado. Tirando os fundos comunitários, nunca houve orientações. E as empresas conseguiram evoluir e chegar a níveis de competitividade de estado de arte, e hoje estão ao nível do que de melhor há no mundo.
...
Que imagem tem Portugal no exterior?
A questão é que apesar de não haver uma estratégia, há apoios financeiros. Mas não são selectivos, nem têm foco.
A nossa representação no exterior, nas feiras de referência, nos locais de promoção a nível mundial, foram feitas ao longo dos últimos anos de forma muito má. As melhores empresas portuguesas sempre se recusaram a ir para o pavilhão Portugal.
Porquê?
Porque estavam mal representadas e então o melhor é estarem sozinhas.
Mal representadas como?
Hoje, se numa feira internacional olhar-mos para o pavilhão de representação de Portugal ficamos nós mesmos empobrecidos. Aquilo não é representativo de Portugal e isso é um drama."
.
Também aqui a grande receita:
.
By-pass ao Estado.

terça-feira, outubro 11, 2011

Uma oportunidade?

Leio "Are viruses the way to green manufacturing?" e recordo uma conversa do final do mês passado.
.
Explicavam-me como a fermentação está a fazer um "comeback" e a ganhar terreno face à síntese química agora que se conseguem identificar as impurezas que resultam da síntese química.
.
E em Portugal há gente que domina esta técnica... oportunidade?

Paciência e locus de controlo

"We cannot predict the future. But we can create it.
...
None of us can predict with certainty the twists and turns our lives will take. Life is uncertain, the future unknown.
...
what distinguishes those who perform exceptionally well from those who underperform or worse?
...
This study grabbed us because of our own persistent angst and gnawing sense of vulnerability in a world that feels increasingly disordered.
...
Yet some companies and leaders navigate this type of world exceptionally well. They don’t merely react; they create. They don’t merely survive; they prevail. They don’t merely succeed; they thrive. They build great enterprises that can endure. We do not believe that chaos, uncertainty, and instability are good; companies, leaders, organizations, and societies do not thrive on chaos. But they can thrive in chaos.
...
Why did the 10X companies achieve such spectacular results, especially when direct comparisons — companies operating in the same fast-moving, unpredictable, and tumultuous environments — did not? Part of the answer lies in the distinctive behaviors of their leaders.
.
Amundsen and Scott achieved dramatically different outcomes not because they faced dramatically different circumstances. ... If they faced the same environment in the same year with the same goal, the causes of their respective success and failure simply cannot be the environment. They had divergent outcomes principally because they displayed very different behaviors. (Moi ici: Por maior que passa desconhecido aos macroeconomistas. Por isso, são incapazes de conceber, ou mesmo perceber, a distribuição de produtividades intra-sectorial)
...
Let’s first look at what we did not find about 10Xers relative to their less successful comparisons: They’re not more creative. They’re not more visionary. They’re not more charismatic. They’re not more ambitious. They’re not more blessed by luck. They’re not more risk-seeking. They’re not more heroic. And they’re not more prone to making big, bold moves. To be clear, we’re not saying that 10Xers lacked creative intensity, ferocious ambition, or the courage to bet big. They displayed all these traits, but so did their less successful comparisons. (Moi ici: O que aí vem é um tema recorrente neste blogue!!! Preparem-se)
.
So then, how did the 10Xers distinguish themselves? First, they embrace a paradox of control and noncontrol. On the one hand, 10Xers understand that they face continuous uncertainty and that they cannot control, and cannot accurately predict, significant aspects of the world around them. On the other hand, they reject the idea that forces outside their control or chance events will determine their results; they accept full responsibility for their own fate.  (Moi ici: Locus de controlo no interior!!!)
...
(Moi ici: Pensar no destino da Aerosoles, da Salsa e tantas outras empresas que deram saltos maiores que a perna... recordar, também, as lições de Hsieh no que se segue) When we began this study, we thought we might see 10X winners respond to a volatile, fast-changing world full of new opportunities by pursuing aggressive growth and making radical, big leaps, catching and riding the Next Big Wave, time and again. And yes, they did grow, and they did pursue spectacular opportunities as they grew. But the less successful comparison cases pursued much more aggressive growth and undertook big-leap, radical-change adventures to a much greater degree than the 10X winners.
...
The 20-Mile March creates two types of self-imposed discomfort: (1) the discomfort of unwavering commitment to high performance in difficult conditions, and (2) the discomfort of holding back in good conditions. (Moi ici: Sinto que esta história de ontem também se encaixa aqui. Crescer a um ritmo demasiado obriga a alargar a gama de clientes e a cair nos braços da grande distribuição para escoar  volume e escala, o que implica perda de margens... ao princípio isso não se sente porque fica camuflado pelo aumento da facturação. Quando se acorda... é um pesadelo!!! Já não se produz arte... tem-se uma linha de montagem entre mãos que tem de estar constantemente a vomitar material para o mercado... material cada vez mais apelativo para as massas, ou seja, mais indiferenciado, mais sujeito à lei do preço mais baixo)
...
Some people believe that a world characterized by radical change and disruptive forces no longer favors those who engage in consistent 20-Mile Marching. Yet the great irony is that when we examined just this type of out-of-control, fast-paced environment, we found that every 10X company — unlike their less-successful peers — exemplified the 20-Mile March principle during the era we studied.
...
Do you need to accomplish your 20-Mile March with 100% success? Progressive and its fellow 10X companies didn’t have a perfect record, only a near-perfect record, but they never saw missing a march as “okay.” If they missed it even once, they obsessed over what they needed to do to get back on track: There’s no excuse, and it’s up to us to correct for our failures, period(Moi ici: Locus de controlo no interior!!!)
.

Um desafio... o desafio

O desafio por excelência é o da concentração no que é essencial (o subtítulo do livro).
.
Focar a atenção para o que interessa é tão difícil...
.
"The second lesson is the actual wisdom of his thinking concerning technology, which touches on the line of thinking which says it's not the thing that's important, it's the *experience* of the thing.
.
Garr sobre Steve Jobs "Steve Jobs & the art of focus"

eheh, os convidados dos Prós e Contras não são capazes de explicar isto

"Em Agosto, o índice das novas encomendas recebidas pelas empresas industriais apresentou um aumento homólogo de 15,5%, taxa inferior em 3,2 pontos percentuais (p.p.) à observada em Julho. Este comportamento foi determinado por desacelerações ocorridas em ambos os mercados, externo e nacional. As encomendas recebidas do mercado externo aumentaram 17,0% em Agosto (20,7% em Julho), enquanto as recebidas do mercado nacional registaram uma variação homóloga de 13,8% (16,3% no mês anterior)."
...
"Todos os Grandes Agrupamentos Industriais registaram variações homólogas positivas e inferiores às observadas em Julho. (Moi ici: Pessoalmente acho que não faz sentido tirar ilações sobre as comparações que não têm em conta a periodicidade das actividades humanas) O índice do agrupamento de Bens de Investimento apresentou o contributo mais influente para a variação do índice agregado deste mercado (10,4 p.p.), em resultado de um aumento homólogo de 33,2% (40,2% em Julho). O agrupamento de Bens Intermédios apresentou um crescimento de 9,3% (11,6% no mês anterior) e contribuiu com 4,5 p.p. para a variação do índice agregado. As novas encomendas de Bens de Consumo aumentaram 10,1%, resultado 2,6 p.p. superior ao observado no mês precedente."
.
Trechos retirados de "Índice de Novas Encomendas na IndústriaAgosto de 2011"
.
"Comércio Intracomunitário
No período de Junho a Agosto de 2011, as expedições aumentaram 13% e as chegadas diminuíram 7,9%, face ao mesmo período do ano anterior.
.
No que respeita às variações homólogas, em Agosto de 2011 registou-se nas expedições intracomunitárias, um acréscimo de 15,5%, devido às evoluções positivas registadas nas Máquinas e aparelhos, produtos Químicos e Veículos e outro material de transporte. As chegadas de bens registaram uma variação nula.
...
Comércio Extracomunitário
No período de Junho a Agosto de 2011, as exportações e as importações aumentaram 16,6% e 2,5% respectivamente, face ao mesmo período do ano anterior.
.
Excluindo os Combustíveis e lubrificantes, verifica-se que as exportações aumentaram 19% e as importações diminuíram 2,5%, em comparação com igual período do ano anterior. O saldo da balança comercial, com exclusão deste tipo de produtos, atingiu um superavit de 378,7 milhões de euros e a correspondente taxa de cobertura foi de 119,5%, enquanto nos resultados globais (incluindo os Combustíveis e lubrificantes) se registou um défice de 1 094,7 milhões de euros, com uma taxa de cobertura de 71,6%.
.
Em termos homólogos, em Agosto de 2011 as exportações, apresentaram um acréscimo de 23,1%, em resultado principalmente das exportações de produtos Químicos, Metais comuns e Máquinas e aparelhos. As importações diminuíram 1,3%, devido fundamentalmente à quebra registada nas importações de Combustíveis minerais provenientes dos países extracomunitários.
.
Trechos retirados de "Estatísticas do Comércio InternacionalAgosto de 2011"

Acham isto normal? Ou a inconsistência estratégica! Ou jogar bilhador como um amador! (parte III)

Depois da parte II.
.
Mais um exemplo de incoerência...
.
"O primeiro-ministro garante que o Governo está a preparar um conjunto de intervenções para promover o crescimento da economia. Esta manhã, durante uma visita à fábrica da Toyota em Ovar, Pedro Passos Coelho foi confrontado com um panorama negro no sector automóvel."
.
Stay out! Please! Don't mess with the economy!
.
Não lhe explicam o significado dos números do INE?
.
(Trecho retirado daqui)

Pessoalmente não me sinto enganado

""há países e governos, a começar pelo nosso, que foram imprevidentes, complacentes e irresponsáveis". "Pode ser grande a origem externa das nossas dificuldades. Mas a verdade é que é isso mesmo o que se pede aos governantes: que prevejam dificuldades, que previnam problemas e que protejam os seus povos durante as tempestades""
.
António Barreto andou distraído... recordar as frases:
.
"Acham que a função de um Governo é estar a antecipar uma evolução negativa para a qual não tem ainda nenhum dado que o confirme? Se o estivesse a fazer, seria um profundo erro."
.
Nós não estudámos até ao fim todas as consequências das medidas que sugerimos
.
Trecho inicial retirado de "Governantes enganaram a opinião pública, acusa António Barreto" pessoalmente não me sinto enganado... vi o que estava a acontecer e este blogue é a prova.

segunda-feira, outubro 10, 2011

Reflexões e perplexidades

 O artigo “Aumento do calor traz um prenúncio de morte ao Douro” publicado no JdN no passado dia 4 de Outubro, assinado por João Carlos Malta, traz-me uma série de reflexões e de perplexidades... não sei se é o termo correcto.
.
O estoicismo só por si não nos leva a nenhum lado.
.
Faz-me recordar:

Recortes do artigo:
“À questão sobre a quantidade de produção em excesso, responde com pinças: “Vai haver abandono de terrenos. Devíamos ter 35 mil hectares e temos 46 mil hectares. É fazer as contas…” (Moi ici: Segundo Paul Symington existe excesso de produção vitivinícola  no Douro. Excesso de produção quer dizer, vinho que não se vende e vinho mais barato.)

“O excesso de vinho engarrafado e a retracção do mercado do vinho do Porto fazem com que o preço diminua para níveis em que, na perspectiva dos Symington, deixa de ser lucrativo vender. Aliás, já foi a baixa rentabilidade dos vinhos do Douro que, segundo o produtor, levou as grandes multinacionais Diageo e Pernod Ricard a sair da região para investir noutros locais” (Moi ici: É tudo uma questão de estímulos... se realmente há produção em excesso, então, a melhor cura para ela é... ela própria. Quanto à Diageo e Pernod Ricard ... eu, que sou um outsider, sempre pensei que foi porque eles quando entraram não perceberam, ou não conheciam os artigos 20º e 21º do Decreto-Lei n.º 166/86 de 26 de Junho de 1986 e foram seduzidas pelo inventário)

“Paul Symington consdera ainda que o vinho do Porto está a adquirir uma “imagem demasiado formal”, o que pode levar a que o decréscimo das vendas continue.
“Hoje, a maioria das pessoas gostam muito de comida e de cozinhar, o vinho do Porto tem de fazer parte disto. Há muito trabalho a fazer.”, considera Paul, que critica a estratégia de marketing da região.  (Moi ici: E por que é que os que comercializam o vinho do Porto não têm uma estratégia de marketing própria?)
.
Os produtores de vinho do Porto têm como grandes canais de distribuição as garrafeiras e as grandes superfícies. Ou melhor, actualmente, apenas um com dimensão: os hipermercados. “as garrafeiras estão a perder quota de mercado sistematicamente e, hoje em dia, representam 5% a 7% do mercado. A maior parte das pessoas vão ao Continente, ou ao Pingo Doce”, identifica Paul Symington.
Quais as consequências? Diminuição das margens de lucro.
“Não quero criticar as grandes cadeias, que fazem o seu trabalho, têm accionistas e consumidores.  (Moi ici: Esta é a postura britânica... estóica, aguentar o blitzz. Os portugueses começam logo a arranjar culpados no exterior e a pedir ajuda ao papá-Estado)
.
Querem ter vinhos a bom preço”, explica. “A guerra foi perdida. A questão não passa por querer ou não (estar lá), 80% de consumo de vinho no Reino Unido, em França e, muito em breve, em Portugal, é feito em quatro ou cinco grandes cadeias.”  (Moi ici: Este deitar a toalha ao chão é que surpreende... É nestas circunstâncias que faz todo o sentido pensar estrategicamente... pensar no exemplo da Purdue e como fez o by-pass à grande distribuição até que esta aceitou as suas condições, pensar no exemplo da Amazon e no poder das vendas directas neste tempo em que as lojas físicas vão perdendo mercado, pensar que os consumidores precisam, de ser educados, precisam de experimentar a diferença... e pensar que a Symington manteve n marcas o que permite uma actuação direccionada a diferentes segmentos. É também o melhor exemplo do que significa a adição de trabalhar para as grandes cadeias de distribuição... é fácil vender, ao princípio, pode-se cortar na equipa, nos custos comerciais e o volume cresce e cresce... e não falo aqui dos "impostos revolucionários" que a grande distribuição cobra. De certeza que não há nada a fazer? De certeza que não é possível formular estratégias para nichos de mercado a par da manutenção da ligação à grande distribuição? )
Estruturalmente, retira espaço às marcas de pequena e média dimensão. “Muitas das empresas de média dimensão do sector desapareceram por isso mesmo.
Uma quinta que vende 20 mil caixas só consegue escoar para as garrafeiras, restaurantes e lojas." (Moi ici: No entanto, apesar deste discurso, a nível do vinho assistimos à explosão das vendas do vinho de autor, do vinho das pequenas séries... não será o aprisionamento num modelo mental que não permite ver outras alternativas? Acho que fica bem aqui recordar as ligações dos comentários deste postal... criar valor é o segredo e cuidado com a concentração no preço)

Recordar Lawrence... nada está escrito (parte XI)

Continuado da parte Xparte IX e sobretudo da parte VIII.
.
O que podemos aprender e utilizar no caso do nosso país?
.
Segundo o BCG, para os EUA:
.
"Seven “tipping point” sectors are poised to return to the U.S. for manufacturing: transportation goods, computers and electronics, fabricated metal products, machinery, plastics and rubber, appliances and electrical equipment, and furniture. Combined with increased U.S. exports, these industry groups could boost annual output in the economy by $100 billion, create 2 to 3 million jobs, and lower the U.S. non-oil merchandise trade deficit by up to 35 percent beginning in the next five years."

Duh!

Estavam à espera de quê?
.
"Holanda recebeu mais de 80% do investimento directo de Portugal"
.
É a construção de uma Europa forte sem fronteiras que prejudica os estados mais socialistas

domingo, outubro 09, 2011

Uma ajuda

"Cavaco desafia portugueses a "vencerem previsões negativas" do Banco de Portugal"
.
"O "Jornal de Negócios" escreve que a grande recessão de consumo em Portugal já começou. Irá agravar-se no final deste ano com o imposto extraordinário e continuará, pelo menos, em 2012. O Banco de Portugal sublinha a forte redução do rendimento disponível das famílias como factor explicativo da "queda muito acentuada" que prevê para o consumo privado."
.
E apesar dos sucessos da indústria e da agricultura exportadoras, há que manter os pés assentes no chão e não  fazer discursos com mensagens à la Sócrates:
.
"Uma das características mais importantes da estrutura da economia portuguesa nas últimas décadas é o crescente domínio do sector dos serviços, à semelhança, aliás, dos seus parceiros europeus. Em 2010, agricultura, silvicultura e pescas representaram apenas 2,7% do VAB (contra 24% em 1960) e 10,9% do emprego, enquanto indústria, construção, energia e água corresponderam a 22,8% do VAB e 27,7% do emprego. Os serviços contribuíram com 74,5% para o VAB e representaram 61,4% do emprego."
.
Será que o presidente acredita que Portugal não é um país de serviços?
.
Trecho final e figura retiradas de "Portugal - Ficha País"
.
Sim eu sei que há serviços que se prestam ao exterior.


Que história conta uma etiqueta? (parte II)

Na passada sexta-feira escrevi "Que história conta uma etiqueta?"
.
Ontem à tarde, visitei a loja El Corte Inglés em Vila Nova de Gaia, aproveitei para apreciar o calçado para homem que tinham exposto.
.
Realmente... apreciar um, dois modelos da marca Pikolinos, achá-los atraentes pela sua simplicidade e pelo aspecto do acabamento dado à pele (longe do classicismo dos Armando Silva ali ao lado, made in São João da Madeira) e espreitar para o verso da lingueta para confirmar a suspeita... made in China.
.
Comprar umas chinelas na feira com a etiqueta made in China OK, comprar calçado made in China numa das lojas "não sei quê Dragão" OK, comprar umas sapatilhas made in China por 9 euros numa loja Decathlon OK, agora comprar um par de sapatos made in China por mais de 100 euros num espaço El Corte Inglés ... soa a uma experiência falsa... é absurdo.
.
Ao sair de Estarreja parei numa loja "Primeiro Dragão" e comprei pilhas, maxell made in Japan (maxell era uma marca de cassetes...), para os meus sinais de presença durante o jogging e, um micro-rato para o portátil.
.
Cada coisa no seu lugar.

Não basta ter memória, é preciso aprender com o que dela se retira

Está quase a fazer um ano que escrevi este postal "Os megafones ignorantes" (em Março deste ano também escrevi: "O exemplo do calçado") onde se pode ler:
.
"A indústria do vestuário está no fio" de onde sublinho "os preços do algodão "praticamente duplicaram" no último ano, o que afecta o custo dos fios em 50%/ 60%, dos tecidos em cerca de 25% e do vestuário na ordem dos 5%."
.
"Por este andar o calçado sobe" de onde destaco "As solas, peles e acessórios usados no calçado aumentaram 30% desde o início do ano, obrigando os empresários "a um esforço muito grande. Os aumentos foram enormes e os clientes não estão dispostos a pagar mais"" e "é assegurada pela marca própria Eject."
.
Um ano depois o balanço... quem tinha razão?
.
Como tem corrido o ano para o sector têxtil? E para o sector do calçado?
.
E o que é que isso quer dizer sobre o modelo de negócio, os clientes-alvo e a proposta de valor desses sectores?
.
Mais gente devia tentar pôr os empresários a reflectir sobre isto e sobre o que tal significa para o seu negócio... têm de deixar de se subestimar tanto!!!
.
Volto a repetir o que escrevi há um ano:
.
"Acham mesmo que para este nível de preços do par de sapatos o preço da matéria-prima é assunto?"

Quando as galinhas tiverem dentes (parte V)

Parte I.
.
Outro exemplo em "Wal-Mart Brings in Consultants to Stock Shelves".
.
A corrida cada vez mais acelerada na passadeira só leva à anorexia. O efeito da Rainha Vermelha, levado ao extremo, deteriora a capacidade de um sistema cumprir a missão básica que justifica a sua existência.
.
A Wal-Mart é a Wal-Mart, símbolo máximo de uma organização eficiente que compete com sucesso no negócio do preço... talvez esteja a preocupar-se demasiado com a concorrência, talvez o modelo Aldi seja ainda mais eficiente (de certeza que é).
.
Por cá, não é difícil encontrar exemplos do mesmo tipo de falha... por exemplo, ovos esgotados numa loja Continente às 16 horas de uma sexta-feira de Agosto, ou excesso de fruta estragada na secção de frutas frescas, falta de iogurtes numa loja Pingo Doce

Esqueleto para um mapa da estratégia



Para reflexão

À atenção de quem exorta as empresas portuguesas a trabalharem para a Autoeuropa.
.
"Toyota Motor Corp., Asia’s biggest carmaker, is telling parts suppliers in Japan to slash prices or face being replaced by overseas rivals as the yen’s value appreciates, four people involved with the discussions said.
...
The company asked some parts-makers to slash prices by as much as half, according to one of the people involved in the discussions."
.
Não ponho em causa a legitimidade da decisão da Toyota, apenas quero chamar a atenção para os riscos de uma PME lidar directamente com uma grande empresa.
.
Se o negócio é preço e se uma PME se mete com um gigante... cuidado, o mais certo é virmos a ter um caso de pedofilia empresarial.
.
Nada move o gigante contra uma PME em particular, está na sua natureza, é uma exigência que decorre da sua proposta de valor.
.

O que Guy Kawasaki aprendeu com Steve Jobs

"What I Learned From Steve Jobs":
.
Gosto particularmente de duas:
.
"“Value” is different from “price.”
.
Woe unto you if you decide everything based on price. Even more woe unto you if you compete solely on price. Price is not all that matters—what is important, at least to some people, is value. And value takes into account training, support, and the intrinsic joy of using the best tool that’s made. It’s pretty safe to say that no one buys Apple products because of their low price."
.
E
.
"Marketing boils down to providing unique value."
.

E o que serviu para a Apple por que razão não há-de resultar para a sua empresa? Valor é a palavra-chave!

sábado, outubro 08, 2011

A dimensão do mercado não é relevante

A propósito da história da Proóptica esta provocação de Al e Laura Ries em "A origem das marcas":
.
"Qual é a dimensão do mercado? (Moi ici: Mercado cheio de grandes marcas internacionais... qual poderá ser o mercado para alguém que se lembra de fazer óculos portugueses com design de estilistas portugueses?)
.
Normalmente, esta é a primeira questão a ser colocada antes do início de um processo de brand building, embora seja uma questão errada.
.
As oportunidades de brand building não residem nos mercados já existentes mas na criação de novos mercados.

Se o objectivo é criar uma marca nova e poderosa, é necessário estudar de que forma o produto ou serviço pode divergir de uma categoria já existente. O mesmo será dizer, a melhor forma de criar uma nova marca não é seguir uma categoria existente, mas sim criar uma nova onde se possa ser o primeiro a entrar no mercado.
.
Dividir e conquistar é a fórmula de sucesso para a criação de uma marca nova e poderosa.
.
Qual é a dimensão do mercado? A melhor resposta a esta questão, do ponto de vista do branding, é “zero”.
.
Para criar uma nova marca é necessário ultrapassar a lógica de servir um mercado e concentrar-se na criação de um mercado.

Um elemento crucial no processo de branding é a diferenciação entre o mercado e a percepção.
.
O objectivo principal de um processo de branding nunca é o mercado ao qual o produto ou serviço se destina, mas sim a mente do potencial cliente. (Moi ici: Quem são os clientes-alvo? Qual é a experiência que procura e valorizam? O truque não é a concentração no produto! O truque é trabalhar sobre a experiência mental que os clientes-alvo vão percepcionar e o que vão sentir) A mente decide, o mercado segue a direcção indicada.
.
Muitos gestores tentam colocar este processo em “curto-circuito”, pensando em termos de mercado e ignorando a necessidade de primeiro começar por influenciar as mentes. Este tipo de pensamento pode ser a fonte de muitas confusões ao nível da definição e posicionamento de mercado.

A mente não raciocina em termos de mercado, mas sim em categorias e, neste aspecto, o elemento visual é apenas um meio para atingir o objectivo

O que é importante não é o que está no mercado , mas sim o que está na mente e se nela existe um nicho ou uma posição para ser ocupada por uma nova categoria.

Qual é a dimensão do mercado?
.

Zero. Perfeito! É exactamente esse o mercado alvo."

Observar, destilar, aprender

Gosto de olhar para exemplos concretos para destilar os ensinamentos gerais que podem ser aplicáveis a outras situações no espaço e tempo. Depois, começamos a perceber que há padrões que se repetem, o que só me dá optimismo para encarar o futuro de quem empreende com pensamento estratégico e não acredita que a esperança seja a abordagem estratégica por excelência:
.
"Desde 2003 que a Proóptica é o resultado de uma ruptura com as grandes marcas internacionais - aquelas que todas as ópticas vendem - aliada à pergunta: porque não apostar no que é nosso? E a verdade é que, hoje, os óculos portugueses, que começaram por ser apenas uma forma de sobreviver num mercado massificado, são já responsáveis pelo sucesso nacional e internacional da empresa. João Rolo foi o primeiro criador a alinhar na aventura de desenhar óculos, mas depressa se seguiram outros conhecidos estilistas.
.
Segundo Luís Justino, director-geral da Proóptica, as vantagens desta aposta são inúmeras, quer para a empresa quer para os estilistas: "Posso quase garantir que se não tivéssemos apostado em marcas portuguesas hoje não estaríamos vivos. E a verdade é que não fomos só nós que ganhámos com esta aposta; estilistas como João Rolo, José António Tenente e Ana Salazar tinham muitos clientes que não usavam acessórios portugueses e que agora são fãs deste tipo de óculos."
.
Quem tenta competir num mercado massificado não pode ter ilusões, o preço é o factor-chave. Assim, há que começar por comprar bem, para isso é preciso ter volume e mais volume e mais volume. Todo esse volume exige uma rede de lojas que assegure o escoamento, exige mão de obra barata porque as margens são apertadas, exige... estão a ver o rosário.
.
Quem desiste desse campeonato e opta pelo mercado da diferenciação entra no jogo num nível muito diferente. Aí é o design, a personalização, o sentido da escassez a dar cartas.
.
Depois, começam a surgir sinergias... um esboço de balanced centricity: ópticas, estilistas, clientes das ópticas, clientes dos estilistas, ...
.
Trecho retirado de "Proóptica Aposta em marcas nacionais foi tábua de salvação"
.
BTW, ao contrário do que pressinto que é a opinião dos media, ao relatar casos de insucesso como os referidos neste postal "É pena que os media...", acredito que a maior parte dos empresários que age desta forma começaram por acreditar que a esperança era a melhor estratégia. Não mexer em nada no interior da empresa acreditando que a conjuntura exterior ia mudar... até que se torna inevitável a queda e é tarde demais para salvar a empresa.

"It's a Canadian!

Criar uma rede de combustíveis low-cost com o apoio do Estado?
.
Em Estarreja, cidade há menos de sete anos e com menos de 30 mil habitantes, através da iniciativa privada:

  • existe um posto de combustíveis low-cost junto ao Intermarché;
  • existe um posto de combustíveis low-cos da marca Prio no centro da cidade; e
  • tudo indica que está a ser construído um posto de combustível low-cost junto ao Pingo Doce
Como é que esta rede a ser criada com o apoio do Estado se vai conjugar com os postos já existentes? Vão receber apoios do Estado? Vão ter concorrência desleal do Estado?
.
Ingenuamente pensava que o autor do Desmitos ia ajudar a dar uma machadada na economia socialista... afinal...
.
Os americanos diriam "It's a Canadian!" e ficava tudo dito.
.
Além destes postos, num raio de 2 km podem encontrar-se outras marcas: Galp; BP; Repsol; Cepsa; e um independente

Recordar Lawrence... nada está escrito (parte X)

Continuado da parte IX e sobretudo da parte VIII.
.
Há anos que escrevemos aqui no blogue sobre a possibilidade do regresso dos importadores que compravam na China a países mais próximos, mais flexíveis e mais baratos porque não obrigam a tanto impacte de capital por "demasiado" tempo.

Interessante este relatório de Agosto de 2011 do BCG "Made in America, Again - Why Manufacturing Will Return to the U.S.":
.
"A big shift of manufacturing from China to the U.S. and other parts of North America will create up to 3 million U.S. jobs in coming years, says a study from Boston Consulting Group.
.
The report says labor costs in China are rising so fast, while U.S. productivity continues to climb, that the cost advantage of sourcing many types of goods production in China is rapidly shrinking.
.
“Factor in shipping, inventory costs and other considerations,” and for many types of goods “the cost gap between sourcing in China and manufacturing in the U.S. will be minimal,” according to the report.
...
But the report said ocean shipping rates have risen in recent years, mainly because of spiking bunker fuel prices since the depths of the recession in 2009, while a shortage of container port capacity projected in 2015 and a falloff in shipbuilding could push rates higher.
.
The authors said the steady appreciation of China’s currency against the U.S. dollar is another factor raising the cost of goods made there, while trade disputes continue over many products made in China and the ocean supply chain is subject to threat of disruptions.
.
BCG said several southern U.S. states “will turn out to be among the least expensive production sites in the industrialized world.” Mexico is also getting some of the output shifting from China, and can deliver goods into the U.S. in one or two days compared with 21 by ocean. But BCG officials said Mexico would not benefit as much as some expect because U.S. expertise in many goods would draw the work back here instead."
.
E Portugal? Acredito que o país vai aproveitar esta volta da maré, como base para fornecer a Europa Ocidental.
.
Aproveitar também para ler "Buck Up, America: China Is Getting Too Expensive"

sexta-feira, outubro 07, 2011

Avaliar a suficiência, alinhamento e coerência entre objectivos estratégicos e actividades críticas

Dois artigos interessantes que podem ajudar quem tem de traduzir os desafios de uma estratégia num conjunto de actividades alinhadas com a sua execução prática.
.
Os autores abordam o caso prático da "firm's supply chain strategy", no entanto, acho que é aplicável à operacionalização da estratégia para uma unidade de negócio.
.
O primeiro artigo é sobre como criar aquilo a que os autores chamam "functional strategy map":
Prefiro a minha abordagem a partir da identificação dos clientes-alvo e da proposta de valor a oferecer. Contudo, há que chamar a atenção para o facto dos autores não pretenderem criar uma estratégia mas o de retratarem a estratégia real que emerge das actividades da empresa.
.
O segundo artigo é sobre a avaliação da qualidade de uma estratégia emergente. Até que ponto é aquilo que se faz é consistente, é coerente, é sinérgico, é suficiente...
Tenho em mãos um projecto com um cliente em que a proposta de valor é "o preço mais-baixo" e vou experimentar usar esta abordagem para avaliar a ligação entre os objectivos estratégicos do mapa da estratégia com as actividades críticas a desenvolver no dia-a-dia no âmbito dos processos.

Só especulo.

"Construtoras devem fundir-se para sobreviver:
.
As empresas de construção nacionais devem considerar fusões para conseguir sobreviver à travagem da economia portuguesa, avisou, esta semana, o presidente da Associação de Empresas de Construção e Obras Públicas, Ricardo Pedrosa Gomes. "Não há alternativa", frisou o mesmo responsável."
.
Quando uma grande empresa de construção se funde com uma grande empresa de construção o que é que acontece?
.
.
.
.
Ficamos com uma empresa de construção ainda maior. Logo, ficamos com uma empresa de construção que precisa de obras ainda maiores para sobreviver.
.
Não há mesmo alternativa?
.
.
E pensar que o mercado esteve sobre-dimensionado durante estes anos todos e decidir estrategicamente encolher. Não é alternativa?
.
Será que uma empresa de construção mais pequena e flexível não pode ter sucesso nos tempos que virão?
Será que uma empresa de construção especializada em certas actividades não pode ter sucesso nos tempos que virão?
.
Ainda ontem apreciei uma obra em que toda a maquinaria pesada era alugada... muito mais flexibilidade.
.
Mas eu de construção não percebo praticamente nada... só especulo.

Outra agricultura

José Martino escreveu "O "meu" Prós e Contras" no semanário Vida Económica de onde transcrevo:
.
"um orador que esteja a representar uma determinada entidade está desde logo condicionado pela defesa dos interesses dessa mesma entidade. Não pode assim falar "livremente".
...
A Fátima Campos Ferreira diria apenas que o programa seria mais interessante com as intervenções das seguintes pessoas:

  • Norberto Pires, responsável da Hortijales, em Vila Pouca de Aguiar (20 anos de sucesso na horticultura); (Moi ici: A horticultura exporta mais do que o vinho)
  • Artur Sousa, presidente do Grupo Sousacamp, Vila Flor, produção de cogumelos nos concelhos de Vila Flor, Vila Real e Paredes (o Grupo está a internacionalizar-se);
  • Vítor Araújo, gerente do grupo de empresas da Kiwi Greensun, em Guimarães; 
  • Francisco Figueira, que possui empresas de produção, conservação, normalização e embalagem de ameixas e kiwis, concelhos de Campo Maior, Valença, Póvoa de Lanhoso, Guimarães, etc. Exporta parte significativa das suas produções;
  • Luís Alves, de Gaia, produtor e exportador de Plantas Aromáticas e Medicinais (PAM), divulgador, comunicador e animador desta fileira;
  • Fernando de Moitinhos, de Ílhavo, micro- floricultor, um caso de sucesso empresarial pelo emprego das tecnologias mais sofisticadas;
  • Agostinho Cabougueira - produtor e exportador de cravos, de Chaves (cerca de 20 anos de sucesso nesta actividade agrícola);
  • Pedro Pimentel, secretário-geral da Associação Nacional dos Industriais de Laticínios, um dos melhores experts sobre a fileira do leite e dos lacticínios;
  • Jorge Soares, dirigente da Associação que controla a IGP "maçãs de Alcobaça";
  • Horácio Ferreira, gerente da cooperativa de citrinos "Cacial", em Faro."
No mesmo semanário Teresa Silveira assina ""Portugal Foods" está na feira agroalimentar de Colónia":
.
"19 empresas portuguesas na ANUGA 2011

A Boleta Barranquenha - Transformação Artesanal de Porco Alentejano; Casa da Prisca - Salsicharia Trancosense; Cecílio (miolo de pinhão português); Cerealis Produtos Alimentares (massas alimentícias, cereais pequeno-almoço, bolachas e farinhas); Cofaco Açores Indústria de Conservas (conservas de peixe); Confeitaria Rolo; Derovo - Derivados de Ovos (ovo líquido pasteurizado, em spray e cozido, fullprotein, omeletes/tortilhas); Doce Reina - Sobremesas; Fritoforno (refeições prontas); Frulact - Indústria Agro-Alimentar (preparados à base de fruta para a industria alimentar); JC Coimbra (azeite); Lactaçores (leite e laticínios); Maçarico (azeitonas, tremoços, patés e condimentos); Mendes Gonçalves (azeite, vinagre, molhos e condimentos); Novarroz - Produtos Alimentares (arroz); Nutrigreen (purés de fruta, barras e smothies); Primor (carnes e enchidos); Salsicharia da Gardunha (presunto e enchidos); Vieira de Castro (bolachas)."

Acham isto normal? Ou a inconsistência estratégica! Ou jogar bilhador como um amador! (parte II)

Outro sintoma de como lidamos com jogadores amadores de bilhar...
.
Depois de "Acham isto normal? Ou a inconsistência estratégica! Ou jogar bilhador como um amador!" outro exemplo que impressiona e revela a bitola que temos na assembleia a legislar:
.
"Parlamento volta a discutir IVA reduzido nos ginásios"

Que história conta uma etiqueta?

Ontem, neste postal "Não é preciso ser doutor para criar empresas com futuro (parte II)" transcrevi esta frase "Aliás, tenho clientes que me pedem mesmo para colocar na etiqueta 'Made in Portugal' e não 'Made in União Europeia'"
.
E essa frase não tem parado de me dar voltas à cabeça...
.
Por que é que um cliente há-de pedir a um fornecedor que em vez de uma etiqueta com os dizeres "Made in União Europeia" ponha uma que evidencie "Made in Portugal"?
.
Quando trabalho com uma empresa na co-criação da sua estratégia o primeiro desafio passa por responder à pergunta:
.
Quem são os clientes-alvo?
.
Depois de respondida, a etapa seguinte passa pela formulação da proposta de valor a oferecer a esses clientes-alvo. A construção da proposta de valor passa por responder a outra pergunta:
.
Quais são as experiências de vida que os clientes-alvo procuram e valorizam?
.
E a palavra-chave aqui é...
.
"EXPERIÊNCIA"
.
Quem me abriu os olhos para a realidade das experiências na vida dos clientes?
.
"The Experience Economy: Work Is Theater & Every Business a Stage " de Joe Pine e Jim Gilmore (ver aqui e aqui)
.
Depois, em 2007 Joe Pine e Jim Gilmore publicaram "Authenticity: What Consumers Really Want" onde encontro uma pista para a minha resposta à pergunta:
.
Por que é que um cliente há-de pedir a um fornecedor que em vez de uma etiqueta com os dizeres "Made in União Europeia" ponha uma que evidencie "Made in Portugal"?
.
Já entraram numa loja com artigos de gama alta em que pegaram num artigo, apreciaram-no, olharam para o preço e... depois, lá dentro, numa etiqueta escondida encontram Made in China ou in Vietnam ou ... e ficam com uma sensação estranha... um artigo de luxo e fabricado nessas paragens?
.
Pine e Gilmore em "Authenticity" escrevem:
.
"Goods and services are no longer enough; what consumers want today are experiences - memorable events that engage them in inherently personal way.
...
But in a world increasingly filled with deliberately and sensationally staged experiences - an increasingly unreal world - consumers choose to buy or not buy based on how real they perceive an offering to be.
Business today, therefore, is all about being real. Original. Genuine. Sincere. Authentic.
...
Therefore, to availability of commodities, cost of goods, and quality of service, businesses now must add authenticity of experience as something to be managed. Let us now explicitly define these four successively dominant consumer sensibilities:

  1. Availability: Purchasing on the basis of accessing a reliable supply
  2. Cost: Purchasing on the basis of obtaining an affordable price
  3. Quality: Purchasing on the basis of  excelling in product performance
  4. Authenticity: Purchasing on the basis of conforming to self-image.
...
What they buy must reflect who they are and who they aspire to be in relation to how they perceive the world - with lightning-quick judgments of "real" or "fake" hanging in the balance.
...
This authenticity imperative intensifies as fakes saturate contemporary markets and product counterfeiting becomes more sophisticated and more global."
.
A etiqueta "Made in União Europeia" soa a algo de falso e a etiqueta "Made in Portugal" soa algo de genuíno e reforça a imagem de quem quer vender a experiência de usar um artigo da gama alta...
.
Não me canso de dizer aos empresários que subestimam o preço dos seus artigos... vendem muito mais do que trabalho + matérias-primas...

A doença brasileira

Ainda ontem elogiei a mudança de atitude na ATP - Associação Têxtil e Vestuário de Portugal com este postal "Começa a entranhar-se o locus de controlo interno no têxtil. Cool!!!".
.
Há dias chamei a atenção para a doença brasileira com o postal "The Better You Understand Economics, the More You Realize that Money Isn’t All that Matters (parte II)"
.
Primeiro, observar a versão da revista The Economist sobre a evolução do real face ao dólar:
Segundo, apreciar o discurso do todo-poderoso ministro brasileiro da Fazenda Guido Mantega em "Temos um problema no sector industrial
.
Reparem como o problema são os Outros, reparem como os Outros são maus, são traiçoeiros, e reparem como os brasileiros são vítimas inocentes que têm de ser defendidas pelo seu governo:
.
"Sim, temos um problema que é o sector industrial. Mas o sector de ‘commodities' continua bem. Temos uma indústria automobilística com capacidade ociosa, electrónica também. Isso levou-nos a uma concorrência predatória. Até os americanos estão disputando nosso mercado: fazem uma política de desvalorização de moeda (Moi ici: Esta observação é desmentida pelo gráfico)  e vêm aqui. Vivemos uma concorrência desenfreada, do salve-se quem puder, com países muito agressivos indo atrás do ‘file mignon' que restou que são os nossos mercados. O mercado brasileiro cresce 10% ao ano, nos EUA o crescimento do consumo é de 1,5%. Aí todo mundo quer comer o pernil brasileiro e temos que nos defender dessa agressividade."
...
"Temos de fazer defesa comercial. Por exemplo, o Brasil é um dos países que mais têm acções antidumping. Nós criamos uma lei contra a triangulação. Além disso, estamos tomando medidas para a guerra cambial que se intensificou. É nesse cenário que se insere a medida do IPI dos automóveis. O complexo automobilístico brasileiro é importante para a economia. Depois de passar por 2009 e 2010 muito bem, com a procura crescendo mais de 10%, em 2011 continua crescendo só que as importações crescem de forma desenfreada. Se toda expansão da procura se alimentar com importações, a indústria local vai estagnar."
.
O salário mínimo português ronda os 485 € pagos 14 vezes por ano.
O salário mínimo no Estado de S. Paulo no ano passava rondava o equivalente a 275 € pagos 12 vezes por ano (se pesquisei bem).
.
O ministro da Fazenda do Brasil, ao querer proteger a indústria local, retira-lhe a motivação para se aperfeiçoar e ser competitiva a nível internacional. Por exemplo, um fabricante de máquinas português que exporte para o Brasil tem de fazer frente a uma taxa alfandegária de 60%... isso impede a exportação? A maior parte das vezes sim! Isso protege as empresas brasileiras concorrentes? Claro que sim... só que essa protecção não é gratuita... a maior parte das empresas é como a vida. A vida não planeia, a vida responde e evolui perante restrições e desafios. Uma empresa protegida é uma empresa que não precisa de evoluir..
.
Portugal, país de fronteiras abertas, apesar de dezenas de anos de governos com mentalidade socialista, por que as empresas não são protegidas, pelo menos as que não são dos amigos do poder, muitas fecharam após o choque chinês... mas com o tempo, aprenderam a dar a volta por cima:
.
Ainda ontem escrevemos "Recordar Lawrence... nada está escrito (parte IX)" com os números mais recentes sobre o desempenho da indústria portuguesa, sobretudo o sector exportador.
.
A transformação que a indústria brasileira precisa não tem de ser comandada pelo governo, seja ele qual for, tem de ser trabalho de cada empresa individual, com estratégia, com modelo de negócio, com know-how, ...
não há by-pass a essa etapa.
.
O locus de controlo tem de estar no interior de cada empresa. O futuro de uma empresa é demasiado precioso para que o seu líder o coloque nas mão de um ministro que meses depois pode estar na praia a beber piñacoladas... o locus de controlo tem de estar no seu interior.

quinta-feira, outubro 06, 2011

Começa a entranhar-se o locus de controlo interno no têxtil. Cool!!!

Muito interessante a entrevista de João Costa, o presidente da direcção da ATP - Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, à revista "Portugalglobal".
.
O sector do têxtil e vestuário começa a entranhar uma postura que existe há vários anos no calçado... (apetece dizer até que enfim) lê-se a entrevista e percebe-se que há a compreensão de que o futuro é construído pelos empresários do sector, não por barreiras alfandegárias ou apoios do Estado.
.
Este reconhecimento de que o locus de controlo está no interior do sector é extremamente importante... é o passo fundamental para um comeback seguro.
.
É bom perceber que esta revolução de mentalidades está a percorrer a ATP.
.
O futuro só pode ser melhor do que o passado dos últimos anos.
.
BTW, nos States "Women’s and girls’ cut and sew blouse and shirt manufacturing grew by 47% or 3,600 jobs, which seems impressive given the downfall of textiles. Interestingly, the cut & sew apparel mfg. industry growth is almost entirely in Los Angeles. The industry was declining nationally until 2007 when it took a sharp turn upward." (Isto durante a década 2001-2011)

Recordar Lawrence... nada está escrito (parte IX)

Parte VIII.
.
Bom!!!

Dados do INE de hoje, relativos ao mês de Agosto:
.
"Em Agosto, a variação homóloga nominal do Índice de Volume de Negócios da indústria fixou-se em 5,2% (2,8% no mês anterior). Esta evolução foi determinada por acelerações ocorridas em ambos os mercados, externo e interno. As vendas para o mercado externo apresentaram um crescimento de 10,1% (6,4% em Julho), enquanto as vendas para o mercado nacional aumentaram 2,7% em Agosto (0,6% no mês precedente)."
...
"Em Agosto, o volume de negócios da secção das Indústrias Transformadoras apresentou uma variação homóloga de 7,4% (3,3% no mês anterior)."
...
"Em termos homólogos, o volume de vendas na indústria com destino ao mercado externo aumentou 10,1%, em Agosto, o que compara com uma variação de 6,4% observada no mês precedente."
...
"As vendas dos agrupamentos de Bens de Consumo e de Bens de Intermédios aumentaram 9,7% e 10,1%, respectivamente (5,1% e 9,0% no mês anterior,pela mesma ordem)."
...
"As vendas na secção das Indústrias Transformadoras apresentaram uma variação homóloga de 14,1%, taxa superior em 7,8 p.p. à observada em Julho."

Mais um exemplo

"Exportações de cortiça crescem mais de 11% até Julho":
.
"Carlos de Jesus sublinha ainda que, para este bom desempenho, foi determinante a recuperação da quota de mercado da cortiça, pela primeira vez em dez anos, após superar a concorrência dos vedantes artificiais.

Segundo o responsável da APCOR, o grande trunfo foi o investimento em investigação e desenvolvimento e a criação de novos produtos, que permitiram demonstrar "a qualidade intrínseca das rolhas de cortiça".

Acresce que a cortiça tem assegurado a expansão em áreas de negócio relacionadas com a sustentabilidade, como os materiais de construção e de isolamento, bem como o design. "Temos beneficiado do facto dos consumidores procurarem produtos mais sustentáveis e de ter havido um grande esforço a nível de comunicação e de novas aplicações", conclui Carlos de Jesus."

Não é preciso ser doutor para criar empresas com futuro (parte II)

Após o rol de problemas em empresas têxteis que aqui são referidas, fica bem... sabe bem, mais de 3 anos e meio depois, com uma grande recessão internacional pelo meio, descobrir que a Inarbel continua a sua caminhada bem sucedida.
.
Primeiro, recordar a parte I.
.
Depois, ler "Jogar ao ataque nos mercados internacionais"... um exemplo vivo do que é ter pensamento estratégico:
.
"Após o diagnóstico, em 2002 tomou uma decisão que alterou a dinâmica da Inarbel: José Armindo decidiu apostar numa nova marca de roupa para bebé, criança e adolescentes até aos 16 anos, a Dr. Kid. (Moi ici: Criação de uma marca destinada a um público-alvo)
O porquê dessa decisão explica-a em duas pernadas: "Com as empresas a fugirem para as fábricas do Leste europeu, primeiro, e da Ásia, depois, achei que a solução passava por criar uma marca própria, de gama média-alta, (Moi ici: Gama média-alta, ou seja, nicho. Subida na escala de valor) que me garantisse sempre uma parte da produção da fábrica." (Moi ici: Conjugar marca própria com private label. A marca própria serve de exemplo, de montra do potencial da empresa para trabalhar em private label)
...
"Prospecção feita em vários mercados, criou um departamento de Marketing e Planeamento, contratou uma estilista, e a primeira colecção da Dr. Kid chegou ao mercado em 2003. Mas as mães portuguesas não eram o único público-alvo que o empresário queria cativar. Espanha e Estados Unidos foram definidos logo à partida como mercados prioritários. (Moi ici: Como disse a administradora da Lusomedicamenta, "um mercado de 10 milhões é muito pequeno", e para quem trabalha para nichos ainda mais pequeno. É preciso seguir a receita alemã, correr o mundo à procura de clientes-alvo sintonizados com a proposta de valor em vez de ter uma fábrica dilacerada por n propostas de valor, algumas até contraditórias entre si)
Já com duas estilistas em permanência, a Dr. Kid pode ser encontrada em 22 países, tão diferentes como Rússia, México, Inglaterra, França, Turquia, Grécia, Ucrânia, onde chega através de uma rede de 40 agentes estrangeiros. Em Portugal tem cinco lojas próprias, todas num raio de 50 quilómetros da fábrica, e 200 clientes de retalho através dos quais está presente em lojas multimarca.
A marca foi crescendo, reposicionou-se para um público até aos 12 anos, e "agora já tem a enormíssima responsabilidade de representar entre 30% a 40% da nossa produção", refere. "Não quero crescer muito mais com a marca. Porque também é um risco: se tivermos o azar de um ano não acertar bem com as colecções ou se houver uma quebra significativa no consumo de um dos mercados mais importantes, isso vai reflectir-se na facturação da empresa."
.
Tal como outras empresas do sector, José Armindo sente o regresso a Portugal de marcas internacionais que na última década tinham optado por países de produção mais barata. "Agora já me posso dar ao luxo de seleccionar os clientes. (Moi ici: Cá está a tal onda que também se sente nos EUA e que pode compensar o efeito da recessão europeia) Isso porque fizemos uma aposta muito forte na internacionalização e também no delinear de uma estratégia", justifica. E, além da qualidade reconhecida, tanto da marca própria como dos trabalhos desenvolvidos para outras empresas, reconhece que o "made in Portugal" é sinónimo de qualidade". "Aliás, tenho clientes que me pedem mesmo para colocar na etiqueta 'Made in Portugal' e não 'Made in União Europeia'", ilustra. (Moi ici: E esta hem!!!)

Como o mundo mudou...

No dia da morte de Steve Jobs recordo o final dos anos 80 do século passado onde, no meu ZX Spectrum, programava no mais básico BASIC a produção de uns gráficos tridimensionais que permitiam visualizar o comportamento de um corante, a rodamina B, ao longo do rio Douro, entre Salto de Castro e Miranda do Douro. Primeiro passo para o esforço de modelização do comportamento do rio como um reactor pistão não ideal.
.
Como o mundo mudou...
.
E Jobs percebeu, muito antes do mainstream, o truque da vida no planeta Mongo:
.
"... in a way that science can't capture..." (ver entre o minuto 4:03 e o minuto 4:09)
.
E o truque é esse, salientar o que a ciência não pode capturar. Tudo o que a ciência captura, é algoritmizável e transformável em trabalho de máquinas.

Onde estava durante o deboche da orgia despesista?

""Acabaram os tempos de ilusões. Temos um longo e árduo caminho a percorrer, para o qual quero alertar os portugueses de uma forma muito directa: a disciplina orçamental será dura e inevitável, mas se não existirem, a curto prazo, sinais de recuperação económica, poder-se-á perder a oportunidade criada pelo programa de assistência financeira que subscrevemos", afirmou Cavaco Silva nas comemorações do 101.º aniversário da implantação da República, nos Paços do Concelho, em Lisboa." (Moi ici: O que se entenderá por "sinais de recuperação económica"? Basta a mais pura e básica matemática para ver qual a composição da economia portuguesa. Sinais de recuperação económica significa que 30% da economia teria de compensar a quebra dos outros 70%? Será razoável?)
...
"Portugal e os portugueses devem assim redescobrir a “austeridade digna”: poupar, conter “gastos desmesurados”, consumir produtos nacionais e fazer turismo no país." (Moi ici: Poupar? Mas ainda há dias o presidente apoiou incondicionalmente um QE pelo BCE, uma das melhores formas de destruir poupança!!! Onde está a coerência?)
...
"A crise que atravessamos é uma oportunidade para que os portugueses abandonem hábitos instalados de despesa supérflua, para que redescubram o valor republicano da austeridade digna, para que cultivem estilos de vida baseados na poupança", referiu o chefe de Estado, acrescentando: (Moi ici: E quem é que define o que é despesa supérflua? Será de proíbir a produção nacional de artigos considerados supérfluos? Existe uma regra para definir o que é supérfluo? Por exemplo, quando uma fábrica de Arrifana fabrica sapatos que vão ser vendidos a 2000 euros o par na Ginza, está a fabricar um artigo supérfluo? E quem os compra deve ser punido?) "Perdemos muitos anos na letargia do consumo fácil e na ilusão do despesismo público e privado." (Moi ici: Onde esteve estes anos todos enquanto o Estado esbanjava?)
.
Trechos retirados de "Cavaco Silva: "Acabaram as ilusões e não bastam sacrifícios""

quarta-feira, outubro 05, 2011

Pena que os media ...

O JdN ontem dedicou duas páginas  ao tema do "Encerramento de empresas":
.
"Oliveira do Conde, Carregal do Sal, 8 de Setembro: cerca de 100 operários da fábrica de confecções Integal regressam de férias. Com três meses de salários, subsídios e outras remunerações em atraso, ficam também agora sem trabalho. Nas portas da empresa, oportunamente encerradas, encontraram colado um singelo papel a informar de que a empresa tinha iniciado o há muito temido processo de insolvência. Alguns dos trabalhadores, na maioria mulheres, não aguentaram a angústia e tiveram que ser encaminhados para o hospital. Não foi fácil descobrir pequenas, médias e grandes empresas que usaram, bruscamente no último Verão, este expediente para atirar os seus trabalhadores para o desemprego.
...
Rua Vilarinho de Freires, Leça do Balio, 13 de Setembro: vários trabalhadores da empresa têxtil Balisantos, que estavam de férias, são despedidos por carta.
...
Esmoriz, 2 de Setembro: nove trabalhadores da empresa de tapeçarias AS Pereira regressam de férias. Mas mal entram na fábrica, as oito mulheres e um homem são informados pela administração de que a empresa iria encerrar, pois as dificuldades eram muitas e as encomendas estavam limitadas a um único cliente.
...
Os 97 trabalhadores da Gamor, empresa têxtil de Santiago de Bougado, na Trofa, foram de férias com dois subsídios (Natal e férias) , o mês de Agosto e horas extraordinárias por receber. No dia 5 de Setembro, segunda-feira, quando regressaram do ao trabalho depararam-se com a luz cortada.
...
Os 85 trabalhadores da Milopos, uma das últimas grandes unidades têxteis de Viana do Castelo, foram de férias com os salários de Julho e Agosto e o subsídio de férias em falta. No dia 19 de Setembro, regressaram ao trabalho, mas na empresa nada havia para fazer. Na prática, regressaram a uma fábrica entretanto encerrada."
.
Olhando para este cenário o que pensar do futuro do têxtil no nosso país?
.
Começam logo os impropérios contra os chineses e outros...
.
.
.
.
.
.
"As exportações do têxtil estão de boa saúde. De acordo com a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), de Janeiro a Julho de 2011, a indústria portuguesa do têxtil e do vestuário exportou 2.454.802.000 euros, mais 258.292.000 euros do que no mesmo período de 2010, o que representa um crescimento de 11,8 por cento. Mesmo prevendo-se algum abrandamento no segundo semestre, dado que o nosso principal mercado de destino, a União Europeia, em que se destacam mercados de exportação como a Espanha, França, Alemanha, Reino Unido e Itália, evidencia sinais de retracção no consumo.
 ...
O têxtil, o vestuário e a moda portugueses, no seu conjunto, são um bom exemplo de afirmação bem sucedida nos mercados interno e externo e depende cada vez mais dos modelos de negócio e das boas práticas de gestão e inovação, que garantam competitividade. Se a estes forem somados estratégia, planeamento, sustentabilidade e visão, numa lógica de mercado global, os produtos de sucesso são um resultado expectável. Não surpreende, pois, que num contexto de dificuldade e de desaceleração da economia mundial, as exportações do têxtil e do vestuário portugueses continuem a aumentar significativamente. Portugal exportou para 168 destinos, em diferentes regiões do globo, com 84 por cento do valor total a ficar-se pelos países da UE, ocupando a Espanha o primeiro lugar, com 29 por cento do cômputo geral.
...
Neste intenso contexto de mudança, embora nas duas últimas décadas se tenha verificado o desaparecimento de um elevado número de empresas, a indústria do têxtil e do vestuário soube reinventar-se, inovando e crescendo, identificando actualmente três caminhos para empresas do sector: marca e distribuição de moda, têxteis técnicos e funcionais e private label sofisticado. Estas três opções estratégicas são referidas pelos responsáveis empresariais do sector como incontornáveis na ascensão na cadeia de valor do produto, de forma a continuarem competitivas em nichos de mercado de maior valor acrescentado.
...
De acordo com os dados mais recentes disponibilizados pelo Community Innovation Survey (CIS), 64 por cento das empresas portuguesas da indústria têxtil, vestuário e calçado adquiriram maquinaria, equipamento e software entre 2006-2008, com 37 por cento a realizarem actividades de I&D dentro da própria empresa e 14 por cento a adquirirem externamente I&D para aplicação na empresa. É um dado adquirido que ndústria Têxtil e Vestuário (ITV) continua a investir em I&D. A prova disso são os seus mais recentes produtos, com uma forte componente inovadora. Os números também falam por si. Na realidade, uma parte considerável do valor do sector têxtil português, que produz cerca de 6 mil milhões de euros – 61 por cento dos quais provêm da exportação – é classificada de têxteis técnicos, ou seja, são produtos tecnologicamente sofisticados, que inovam pelas técnicas de fabrico ou pela qualidade das matérias-primas."
.
Afinal a culpa não é dos chineses... é a vida!
.
Quando não há estratégia, quando não há inovação, quando não há re-invenção, quando se acredita que o queijo vai lá estar sempre amanhã, como mais um direito adquirido... nada feito! Porque, por vezes, mesmo com estratégia, mesmo com inovação, mesmo re-invenção e espírito de luta... nada está garantido à partida... é a vida! Mas é mesmo, no esplendor da sua amoralidade.
.
Pena que os media dediquem muito mais tempo ao sangue do que às milhares de empresas anónimas que vão descobrindo caminhos de sucesso. Pena que os media  não enquadrem os casos negativos com o cenário global do sector para se perceber que destruição criativa é isto, que aumentar a produtividade é isto, que dar a voilta por cima é isto.
.
Segundo conjunto de trechos retirados do número de Outubro da revista "Portugalglobal"

By-pass à banca

"Um dos aspectos notáveis, quando analisamos o conjunto da proposta de novos negócios é a capacidade de detectar oportunidades que antecipam as profundas modificações da procura que a actual crise vai desencadear. A flexibilidade, o aluguer em vez da compra, a redução do investimento inicial e as parcerias estiveram presentes na generalidade das propostas. Um exemplo concreto foi o de um carro de supermercado para pessoas que se deslocam em cadeiras de rodas, que foi desenvolvido em parceria com um fornecedor português de carrinhos de supermercado.
.
Também as empresas em fases mais avançadas do seu ciclo de vida têm vindo a evidenciar uma capacidade de se reinventar que surpreende quem suspeitasse do seu imobilismo. O calçado português tem-se destacado pela inovação do "design" e capacidade de crescer em período recessivo. Outros sectores, do metalo-mecânico ao mobiliário, da agricultura ao turismo, evidenciam igualmente uma revolução que desafia ou cavalga a crise - balança comercial positiva no comércio do azeite ou o reconhecimento de Lisboa como oferecendo dos melhores "hostels" do Mundo confirmam essa tendência de adaptação às novas tendências do mercado, interno e externo, tendo a balança comercial vindo a bater recordes de redução do "deficit"."
....
"No entanto, uma pesada nuvem paira sobre este esforço de renovação do tecido económico - a contracção do crédito bancário não cessa de se agravar, apesar do crescimento que os depósitos bancários têm registado. O desequilíbrio acumulado e a impossibilidade de renovação dos financiamentos levam a banca nacional a restringir cada vez mais o financiamento das empresas." (Moi ici: E para que serve o sistema bancário de um país? Se um sistema deixa de cumprir a sua função primordial, deixa de satisfazer a sua razão de ser... então, deixa de ter sentido a sua existência. Viable Systems Model - systems 1 de Stafford Beer. Claro que a Natureza tem horror ao vazio...)
...
as empresas devem buscar financiadores internacionais, de preferência sob a forma de capitais próprios. Embora ainda escassas, são já várias as operações efectuadas junto do mercado para as PME alemão, de grandes empresas americanas como a Intel ou a Cisco, ou de empresas de "private equity". Finalmente, há ainda a considerar o crowd-funding, um modelo baseado nas redes sociais que permite o contributo de numerosos pequenos investidores para projectos de mérito reconhecido pela opinião pública. (Moi ici: Aquela velha proposta deste blogue de "fazer by-pass ao país" vai ainda mais longe... fazer by-pass ao sistema bancário do país, como a Douro Azul recentemente. A Martifer não o tentou, ou não o conseguiu fazer... e pressionada pelos bancos vendeu um investimento com pouco mais de 2 anos... )

Trecho retirado de "Financiar o crescimento" de José Paulo Esperança publicado ontem no JdN.
.
ADENDA: A Martifer não o quis fazer... percebi agora ao recordar este documento de Fevereiro deste ano (diapositivo 28)
.
ADENDA (6 de Outubro): Agora fiquei um bocado confuso ... "Martifer vende centrais fotovoltaicas a fundo do BNP Paribas"

Um velho carro cubano

Como no filme "Inception":
.
"Maior maternidade do país em risco com recusa de anestesistas ao novo pagamento"
.
Um velho sonho vai ruindo e desfazendo-se ...
.
O título concentra-nos na atitude dos anestesistas. Pessoalmente destacaria os oito meses de salários em atraso.
.
E anda a suposta nata deste país na escola, a tentar conseguir um lugar em Medicina para entrar neste mundo... graças a Deus resisti a essa tentação.

Ter memória

Comecei este blogue por 3 ou 4 motivos. Um deles era o de prolongar a minha memória, ter uma base de textos, impressões e reflexões, sobre o que vou encontrando e lendo na minha vida profissional, que fosse facilmente acessível e pesquisável.
.
É bom ter memória... costumo dizer nas empresas, sem registos não há memória, sem memória não se aprende.
.
Por falar em ter memória...
.
"Ricardo Salgado - que já vinha com uns slides preparados - defendeu os projectos de construção da rede de TGV que ligará Portugal a Espanha e do Novo Aeroporto. Portugal, diz, respondendo às questões do jornalistas, Ricardo Salgado, "vai desenvolver-se através da aposta nos serviços e estes estarão inevitavelmente associados aos transportes". Alertou para o facto de só Madrid ter um PIB maior de que o português e de isso se agravar se não se construir a rede de TGV. Pelo que o Governo deve avançar com a realização, "tão cedo quanto possível", destas obras."
.
1 semestre depois o país tinha o seu primeiro PEC e a apartir daí foi o que sabemos...
.
O que diz isto sobre a capacidade de antecipação estratégica de um banqueiro?

Impunidade

"A ribeira de Alcarrache ficou por desmatar, numa extensão de 1500 hectares ao longo da linha de água. As organizações de defesa do ambiente identificaram no território importantes nichos ecológicos e negociaram com a Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas de Alqueva (EDIA) a manutenção do montado de azinho, que acabou submerso.
...
No entanto, na Ribeira de Alcarrache milhares de árvores continuam submersas sob 15 metros de água e os habitats que se pretendiam preservar estão irremediavelmente perdidos, quando o objectivo era não perturbar a fauna que ali vive, nem mexer na flora."
.
"O sacrifício do montado de azinho na área inundada pela albufeira de Alqueva continua a ter lugar em território espanhol, decorrida quase uma década após o encerramento das comportas da grande barragem do sul, a 8 de Fevereiro de 2002. Razões de segurança para a navegação sustentam o corte de mais de 4000 azinheiras. A Confederação Hidrográfica do Guadiana, entidade que gere a bacia do rio ibérico no país vizinho, apresenta uma outra explicação: foram atingidas cotas de enchimento da barragem portuguesa que "não eram previsíveis"."
.
A impunidade campeia... faz lembrar o que os árabes recordam dos cruzados na Terra Santa: gente que não respeitava acordos.
.
Trecho retirado de "Alqueva: espanhóis retiram azinheiras submersas"
.
É nestas alturas que sinto a falta de um A-Team e de um Hannibal Smith para apertar os calos a gente sem escrúpulos. 

Crendices e cargo cult (parte II)

Volto ao artigo de Miguel Lebre de Freitas ontem no JdN.
.
O gráfico do artigo ilustra bem a diferença entre o mundo dos bens transaccionáveis (sujeitos a importações e exportações, sujeitos à concorrência internacional) e a loucura dos bens não-transaccionáveis... 

Nós funcionamos com base em estímulos e é muito difícil resistir-lhes:

Quem tinha capital para investir e quisesse retorno rápido... onde o faria?
.
O gráfico ilustra bem quem é que vai sofrer a sério com o Período de Desalavancagem Em Curso (PDEC) ... e reparem, onde está situado esse poder? Qual a relação dos bancos com esse poder?

TGV, Beja, a loucura ainda foi maior do outro lado

A nossa sorte foi a crise internacional ter abortado os planos do governo para Portugal.
.
Sem ela, continuaríamos com o embalo que queria desfazer uma serra para atapetar um lago de Inverno e construir um aeroporto servido por um TGV para fazer as vezes de metro (Jorge Coelho dixit em tempos).
.
Com ela, 5 linhas de TGV e um novo aeroporto não avançaram.
.
Apesar dela, o aeroporto de Beja avançou.
.
Em Espanha, onde o cainesianismo era mais antigo e os cofres do país mais recheados não construiram um aeromoscas...
.
.
.
"But of the 48 regional commercial airports built in the debt-ridden country in less than 20 years, only 11 make a profit."
.
"Spain's white elephants – how country's airports lie empty"
.
E isto não é crime?

terça-feira, outubro 04, 2011

Crendices e cargo cult

É essencial perceber que existem 3 economias no país.
.
"Preços"
.
"Por exemplo, ao longo do período 1995-2009, os preços dos bens "locais" aumentaram. Porquê? Porque durante todo aquele período, a procura interna aumentou mais do que a oferta interna e os bens locais não podem ser importados. A subida do preço dos bens "locais", por sua vez, motivou a reorientação da produção em seu favor e o desvio do consumo para as importações. O impacto na estrutura produtiva e no défice externo é bem conhecido."
.
E o governo, numa demonstração de "cargo cult" utilizou dinheiro, em 2009, para apoiar a economia dos bens "locais".
.
E que tal apoiar o abate de veículos para importar mais carros novos?
.
Há que subsidiar as economias do centro da Europa com o dinheiro saqueado aos contribuintes portugueses.

Judean People's Front vs The People's Front of Judea? (parte II)

A melhor forma de resolver a contradição da "parte I" é olhar para os números:
.
"Ocupação nos hotéis de 5 estrelas foi a que mais subiu em Julho"
.
Acabo de ler no "A Origem das Marcas" de Al Ries e Laura Ries:
.
"Nas palavras de Darwin, "a natureza favorece os extremos". (Assim é no branding, onde a natureza favorece os extremos)"
.
O muito caro e muito barato!
.
Triste é quando a preguiça mental toma conta dos primeiros.

O valor não se troca nem cria na transacção, emerge durante o uso

"Challengers win by pushing customers to think differently, using insight to create constructive tension in the sale. Relationship Builders, on the other hand, focus on relieving tension by giving in to the customer's every demand.
.
Where Challengers push customers outside their comfort zone, Relationship Builders are focused on being accepted into it.
.
They focus on building strong personal relationships across the customer organization, being likable and generous with their time. The Relationship Builder adopts a service mentality. While the Challenger is focused on customer value, the Relationship Builder is more concerned with convenience. At the end of the day, a conversation with a Relationship Builder is probably professional, even enjoyable, but it isn't as effective because it doesn't ultimately help customers make progress against their goals."
.
Trecho retirado de "Selling Is Not About Relationships" de Matthew Dixon e Brent Adamson.
.
Se o valor de uma oferta emerge durante o seu uso pelo cliente, então, mais do que tornar a transacção agradável, o que continua a ser importante, há que descobrir ou desenhar a melhor solução para cada valor. Como escrevem Irene Ng e Gerar Briscoe:
.
"Overall, the firms came to the realisation that an asset was not a ‘sacred cow’ and that the better it was at absorbing contextual variety of use, the less it would depend on human capability and the easier it would be to scale and replicate across contracts. Furthermore, our study suggests that organisations structured around manufacturing require a re-evaluation of their operational elements and viability when they transform into a full-service organisation. We argue for a transformation in the customer relationship to help realise the value proposition that firms offer."
.
Trecho retirado de "Value, variety and viability: designing for co-creation in a complex system of direct and indirect (goods) service value proposition" de Irene Ng and Gerard Briscoe

Um livro sobre o planeta Mongo

Al e Laura Ries escreveram "The Origin of Brands: How Product Evolution Creates Endless Possibilities for New Brands".
.
Comecei a ler o livro e rapidamente percebi que era sobre o advento do planeta Mongo.
.
"divergência, a menos compreendida e mais poderosa força na Terra.
.
O fenómeno que se se registou na natureza também está a ocorrer nos produtos e serviços.
.
Eventualmente, todas as categorias irão divergir e tornar-se em duas ou mais categorias, criando infinitas oportunidades para o brand building.
.
A interligação entre a evolução e a divergência providencia um modelo capaz de nos fazer compreender o Universo e, em particular o universo das marcas.
.
A evolução recebeu todos os louros. Porém, ela não pode ser a única responsável pelas imensas espécies tão diversas e originais. Se não fosse a divergência, a evolução, por si só, teria criado um mundo povoado por milhões de procariotas do tamanho de dinossauros."