segunda-feira, fevereiro 28, 2022

Live and let live

No sector de bens transaccionáveis as PMEs portuguesas exportadoras praticam preços mais elevados para o mercado interno ou para o mercado externo?

Os consumidores do mercado interno são iguais aos do mercado externo? Não! Têm poder de compra diferente.

ME - mercado externo
MI - Mercado interno

Muitas PMEs exportadoras ou não trabalham para o mercado interno, ou produzem produtos diferentes, mais baratos para ele. 
Muitas PMEs exportadoras nunca sobreviveriam a trabalhar só para o mercado interno. O mercado interno é pequeno e não aguenta margens elevadas.
Muitas PMEs exportadoras nem perdem tempo a trabalhar para o mercado interno. 

O que defendo aqui neste espaço desde o início deste blogue em 2004?
  • As empresas devem ter uma estratégia! 
  • Ter uma estratégia passa por escolher os clientes-alvo, os clientes que podem ser servidos com vantagem competitiva.
  • O objectivo das empresas é o lucro, não a quota de mercado.

Alguns exemplos:
Por isto, o que penso sobre a ideia de focar as PMEs exportadoras na redução das importações, em vez de continuarem a fazer o trabalhar de ganhar mercado no exterior, está bem descrito em Produtividade e tretas académicas.

Tudo isto por causa de mais uma exibição de falta de pensamento estratégico em "Madeira e mobiliário com vendas recorde ao exterior de 2587 milhões" no DN de ontem:
"Apesar da pandemia, 2021 foi um bom ano para as exportações da fileira nacional da madeira e mobiliário, que atingiram os 2587 milhões de euros, ultrapassando em 1,6 milhões o máximo histórico que havia sido alcançado em 2019. O presidente da Associação das Indústrias da Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP) mostra-se "muito satisfeito" com esta performance, mas alerta para o crescimento de 21% nas importações, que levaram a uma "queda abrupta" do saldo da balança comercial, para 440 milhões de euros. [Moi ici: O artigo começa com uma descrição positiva]
...
Mas nem tudo são boas notícias, já que as importações da fileira de madeira e mobiliário, que haviam abrandado em 2018 e 2019 e caído em 2020, cresceram 21% em 2021, ou seja, a uma taxa superior à das exportações, arrastando o superávite do setor para 440 milhões de euros, valor que equivale aos níveis de 2011. "Um absoluto desastre", diz o presidente da AIMMP. "O país precisa de aumentar as exportações, sem agravar as importações, caso contrário não teremos crescimento económico, mas apenas um empobrecimento gradual e coletivo", defende, sublinhando que "na situação económica e empresarial em que nos encontramos, os incentivos ao consumo não constituem fonte de crescimento, mas de agravamento do endividamento externo"."

Querem aumentar a produtividade e os salários ao mesmo tempo que se dedicam a produzir baratos, com margens baixas e em pequenas quantidades? 

Live and let live.

domingo, fevereiro 27, 2022

"Gell-Mann Amnesia" effect

Recordo muitas vezes a lição de vida que aprendi há muitos anos quando um grupo de advogados, juristas e políticos debatia na RTP acerca de Camarate com argumentos que suportavam a transmutação da alquimia (201720162009).

Sexta-feira passada em "Unsettled - What Climate Science Tells Us. What it Doesn't, and Why it Matters" de Steven E. Koonin" encontro:
You open the newspaper to an article on some subject you know well.
In Murray's case, physics. In mine, show business . . .
In any case, you read with exasperation or amusement the multiple errors in a story, and then turn the page to national or international affairs, and read as if the rest of the newspaper was somehow more accurate about Palestine than the baloney you just read. You turn the page, and forget what you know."

sábado, fevereiro 26, 2022

Quantas vezes somos vítimas deliberadas das especulações em torno destas "mudanças"?

Neste postal de 2012, Conversa de humano, escrevo sobre análise estatística e depois aplico-a à taxa de mortalidade infantil.

Isto fez-me recordar uma das estórias mais interessantes no livro de Tim Harford, "The Data Detective":
"It was a vital question. Across the UK, mortality rates for newborn babies varied substantially for no obvious reason. Could doctors and nurses be doing anything different to save these children?
...
The explanation for the disparity in mortality rates was quite different.
When a pregnancy ends at, say, twelve or thirteen weeks, everyone would call that a miscarriage. When a baby is born prematurely at twenty-four weeks or later, UK law requires this to be recorded as a birth. But when a pregnancy ends just before this cutoff point—say, at twenty-two or twenty-three weeks—how it should be described is more ambiguous. A fetus born at this stage is tiny, about the size of an adult’s hand. It is unlikely to survive. Many doctors call this heartbreaking situation a “late miscarriage” or a “late fetal loss,” even if the tiny child briefly had a heartbeat or took a few breaths. Dr. Smith tells me that parents who have been through this experience often feel strongly that the word “miscarriage” is inadequate. Perhaps in the hope of helping these parents to process their grief, the community of neonatal doctors in the Midlands had developed the custom of describing the same tragedy in a different way: the baby was born alive, but died shortly after.
Mercifully few pregnancies end at twenty-two or twenty-three weeks. But after doing some simple arithmetic, Lucy Smith realized that the difference in how these births were treated statistically was enough to explain the overall gap in newborn mortality between the two hospital groups. Newborns were no more likely to survive in London after all. It wasn’t a difference in reality, but a difference in how that reality was being recorded.
The same difference affects comparisons between countries. The United States has a notoriously high infant mortality rate for a rich country— 6.1 deaths per thousand live births in 2010. In Finland, by comparison, it is just 2.3. But it turns out that physicians in America, like those in the UK’s Midlands, seem to be far more likely to record a pregnancy that ends at twenty-two weeks as a live birth, followed by an early death, than as a late miscarriage."

Quantas vezes somos vítimas deliberadas das especulações em torno destas "mudanças"? 

Políticos e ambiente

Em Novembro passado aqui no blogue escrevi:
"Há muito que penso que os políticos começaram a falar cada vez mais do ambiente porque era algo que não lhes vinha cobrar. Por exemplo, um político pode propor políticas para reduzir défice, para reduzir filas de espera na Saúde, para aumentar salários, ... e todas essas políticas têm o inconveniente de, mais tarde ou mais cedo, virem cobrar através da comparação entre os resultados propostos versus os resultados obtidos. Já com o ambiente era diferente. Os políticos podiam falar do ambiente à boca cheia sem recear que ainda durante a mesma legislatura alguém lhes viesse pedir contas."

Agora, em "Unsettled - What Climate Science Tells Us. What it Doesn't, and Why it Matters" de Steven E. Koonin" encontro:

"The threat of climate catastrophe-whether storms, droughts, rising seas, failed crops, or economic collapse-resonates with everyone. And this threat can be portrayed as both urgent (by invoking a recent deadly weather event, for instance) and yet distant enough so that a politician's dire predictions will be tested only decades after they've left office."

sexta-feira, fevereiro 25, 2022

Coisas que dificultam a subida na escala de valor

Ontem em "The Real Secret to Retaining Talent" sublinhei:

"Over the past several decades managers have had to adapt to a stark reality: Individuals with unique talent can profoundly affect the value—and even the nature—of the work their organizations produce. A film studio can make a movie with or without Julia Roberts, but it won’t be the same movie. The Green Bay Packers can play football without quarterback Aaron Rodgers—but they will have to run a different offense. If a pharmaceutical company loses its star scientist, it will have to change its research program. If a hedge fund loses its investment guru, it will need to alter its approach to investing."

No dia anterior em "The Handbook of Competency Mapping" tinha sublinhado:

"the management of a boat-building firm specializing in high-quality craftsmanship decided to expand into mass production of low-cost speedboats. It proved impossible to adapt worker attitudes away from their historical commitment to quality and craftsmanship. Management was obliged to relocate the speedboat production and recruit a separate workforce. The new venture failed because the history and culture of the organization did not match with the new task. Thus a distinctive competence in one area-quality craftsmanship-may amount to a distinctive incompetence in another sector which adequately has low-cost production. Strategy formulation and opportunity surveillance are useless exercises unless the company has the internal abilities to execute its decision, or at least possesses the chance of developing the required capabilities. Competence, both generic and specific, plays an important role in the success of an organization."

São estas coisas que dificultam a transição entre modelos de negócio. São estas coisas que dificultam a subida na escala de valor.

O que nos trouxe até aqui, dificilmente será o que nos pode levar mais acima.

quinta-feira, fevereiro 24, 2022

Argumentos visuais

[Florence Nightingale]“That makes her perhaps the first person to grasp that busy, influential people would pay far more attention to a vivid diagram than to a table of numbers.

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As Nightingale quipped when sending one of her analytical books to the Queen, “She may look at it because it has pictures.”

It’s a cynical, almost contemptuous, thing to write. But it is true. A chart has a special power. Our visual sense is potent, perhaps too potent. The word “see” is often used as a direct synonym for “understand”—“I see what you mean.” Yet sometimes we see but we don’t understand; worse, we see, then “understand” something that isn’t true at all. Done well, a picture of data is worth the proverbial thousand words. It is more than persuasive; it shows us things we could not have seen before, revealing patterns amid chaos. However, much depends on the intent of the chart’s creator, and the wisdom of the reader.

...

Much of the data visualization that bombards us today is decoration at best, and distraction or even disinformation at worst. The decorative function is surprisingly common, perhaps because the data visualization teams of many media organizations are part of the art departments. They are led by people whose skills and experience are not in statistics but in illustration or graphic design. The emphasis is on the visualization, not on the data. It is, above all, a picture.

...

So information is beautiful—but misinformation can be beautiful, too. And producing beautiful misinformation is becoming easier than ever.

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A good chart isn’t an illustration but a visual argument ... If a good chart is a visual argument, a bad chart may be a confusing mess—or it may also be a visual argument, but a deceptive and seductive one. Either way, by organizing and presenting the data, we are inviting people to draw certain conclusions. And just as a verbal argument can be logical or emotional, sharp or woolly, clear or baffling, honest or misleading, so too can the argument made by a chart.

I should note here that not all good charts are visual arguments. Some data visualization is not intended to be persuasive, but exploratory. If you’re handling a complex dataset, you’ll learn a lot by turning it into a few different graphs to see what they show. Trends and patterns will often leap out immediately if plotted in the right way."

Por exemplo, no livro que ando a ler "Unsettled - What Climate Science Tells Us. What it Doesn't, and Why it Matters" de Steven E. Koonin", estou farto de encontrar exemplos como este:


Fontes oficiais apresentam gráficos manipulados, para levar a uma conclusão forçada.

Trechos retirados de "The Data Detective" de Tim Harford.

quarta-feira, fevereiro 23, 2022

Porque é um nicho pouco sexy!

"Por que é que as empresas portuguesas não são competitivas com o exterior?"

A pergunta com que começou o Think Tank de ontem. Aqui vai a minha contribuição. 


As empresas portuguesas são competitivas com o exterior!!!


Não é essa a vossa percepção? Basta olhar para as estatísticas do INE.


Então, que se passa? Por que não é essa a vossa percepção?


Vamos à biologia buscar um exemplo. 

Os crocodilos apareceram primeiro que os dinossauros. Os dinossauros apareceram e desapareceram... os crocodilos continuam.

As empresas portuguesas são competitivas nos nichos onde maioritariamente têm competido. E continuarão a sê-lo até que o contexto abiótico o permita, e/ou até que concorrentes igualmente bem sucedidos tomem conta do nicho. Por que é que tanta gente tem a percepção que não são competitivas? Porque é um nicho pouco sexy! O valor acrescentado não é muito elevado, mas é um nicho que se tem mantido estável. Como os humanos são satisficers, não maximizers,  a maioria fica abrigada no nicho. Recordar o relatório publicado recentemente: "Portugal não irá crescer se continuar a “exportar ‘mais do mesmo’”"

Um factor abiótico que pode pôr em causa este status-quo vem relatado no JdN de ontem em "Falta de pessoal e efeito dominó nas contratações sobem salários". Se não fosse a importação de mão-de-obra barata para a indústria, ao estilo de Odemira, esta seria uma das melhores notícias para a economia portuguesa no longo prazo, não para os empresários portugueses. Imaginem que não há "Odemiras" (não há bofetadas).

Os custos salariais sobem porque aumenta a concorrência pelas pessoas e pelo talento existente. Recordo que somos uma população a esvaír-se numa hemorragia demográfica (pirãmide etária e emigração. Recordar o que escrevi sobre os Figos). Maiores custos implicam que as empresas têm de ser capazes de os suportar. Por isso, ou sobem na escala de valor, ou aumentam a eficiência (sobem na escala do volume)... ou morrem. O que acontece a uma economia em que estas empresas morrem?

""It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled."Mas, e como isto é profundo:"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants." Por favor voltar a trás e reler esta última afirmação."

Claro que esta é uma evolução perigosa para o poder, sempre mancomunado com incumbentes.

Claro que esta é uma postura perigosa para um consultor num mundo de instalados que ficam ofendidos com uma opinião excêntrica. 

terça-feira, fevereiro 22, 2022

Qual a relação entre custos e preços?

A propósito deste texto, "Corporate pricing is boosting inflation — but we’re still buying", que grande confusão aqui vai:

"But some economists and politicians say that corporations are using inflation as an excuse to jack up prices beyond what’s necessary to account for their increased costs. More than just passing those costs onto consumers, they say, corporations are taking advantage of the unprecedented global economic circumstances to increase their profits, simply because they can."

Qual a relação entre custos e preços?


Então, qual é a relação entre custos e preços?


Não há!!!

As empresas aumentam os preços quando podem, quando não podem aguentam, ou fecham, ou pedem ajuda ao papá-Estado.

segunda-feira, fevereiro 21, 2022

"A produtividade tem de ser uma exigência nacional!"

"A produtividade tem de ser uma exigência nacional! Se formos mais produtivos por unidade de trabalho incorporado, podemos aumentar a receita fiscal "sem dor", exigir uma melhor distribuição do fator trabalho, com ênfase para a qualificação (o que promove o aumento do salário médio), e evitamos a debandada dos portugueses mais talentosos.

Para percebermos porque é que Portugal é sucessivamente ultrapassado pelos novos países que se juntaram mais recentemente à União Europeia devemos olhar para os dados da produtividade do fator trabalho. Peguei nos dados da evolução da produtividade do trabalho por hora trabalhada em euros, para os últimos anos, para vários países que recentemente se juntaram à União Europeia, a que acrescentei Espanha e a Grécia.

E até excluí os anos de 2020 e 2021, por serem anos atípicos.

O resultado para Portugal é devastador. De 2015 a 2019, a produtividade na Roménia aumentou 37,1%, enquanto em Portugal apenas aumentou 9,6%, tendo ficado na média da UE a 27, onde a produtividade aumentou 9,6%, mas onde os restantes países com quem nos comparamos arrasaram: a Estónia 31,3%, a Bulgária 30,9%, a Lituânia 27,2%, a Letónia 26,2%, a República Checa 24,6%, a Eslovénia 18,4%, a Croácia 12,7% e a Eslováquia 12,3%!

É por estas e por outras que estamos como estamos e acabámos de perder um período de crescimento europeu notável porque não soubemos fazer o que devíamos: não mudámos o tecido empresarial, não amortizámos a dívida, não investimos..."

Recordar, acerca da Roménia:

Espero que João Duque já tenha abandonado a ideia de Julho de 2020 de substituir importações, Produtividade e tretas académicas.

Trechos retirados de "O orçamento pode esperar" de João Duque no Caderno de Economia do semanário Expresso do último Sábado. 

Portugal não irá crescer se continuar a “exportar ‘mais do mesmo’” (parte II)

Ontem publiquei Portugal não irá crescer se continuar a “exportar ‘mais do mesmo’”  (a parte I) ... comparem com Ultrapassados pelo Leste escrito em  Julho de 2021... é isto.


Precisam que vos faça um desenho?


 

domingo, fevereiro 20, 2022

Portugal não irá crescer se continuar a “exportar ‘mais do mesmo’”

BTW, o tema deste postal deve ser uma preocupação da sociedade não dos empresários. A preocupação dos empresários é a sua empresa. Empresários são humanos, praticam o "satisficing", não o "maximizing of". Recordar o que eu digo aos agricultores, a sua missão não é alimentar o mundo. O mundo está-se marimbando para eles. A sua missão é proporcionarem vida à sua família.

"Portugal não irá crescer se continuar a “exportar ‘mais do mesmo’”, dependendo a retoma económica de uma “nova vaga de investimento” em bens, serviços e conceitos “diversificados e inovadores”, conclui um estudo da Fundação Calouste Gulbenkian, divulgado esta sexta-feira.

“No horizonte 2030, o país não pode crescer mantendo o seu foco exclusivamente no que já se exporta – exportar “mais do mesmo”, mesmo quando o ‘mesmo’ é melhorado – nem manter uma preferência por mercados europeus que, no conjunto, poderão vir a crescer muito pouco nas próximas décadas”, lê-se no trabalho, intitulado ‘Foresight Portugal2030’.

...

Para ser sustentada, a retoma do crescimento – tendo em atenção o perfil demográfico previsível – tem de assentar num investimento que permita um aumento substancial da produtividade dos fatores (conhecimento/tecnologia, trabalho qualificado, capital e terra)”, refere.

Ou seja, acrescenta, “para que haja crescimento da economia, é fundamental que as atividades mais presentes nos mercados externos sejam das que maior valor acrescentado geram”: “Essa é que é verdadeiramente a medida da competitividade. E a que estamos ainda longe de atingir”, considera."

Ontem, neste postal "deixem as empresas evoluir ou morrer, ponto!!!", referi este postal de Março do ano passado, "The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!" onde aparece o modelo "flying geese". O Japão não chegou onde chegou porque fabrica cada vez melhor vestuário ...

Percebem o que isso implica para os incumbentes e para as redes de influência instaladas em torno das fumarolas do poder? O país precisa de saltos no valor acrescentado, mas "os macacos não voam, trepam às árvores". Logo, temos de apostar na receita irlandesa, mas sem demografia e com um estado-vampiro.

Trechos retirados de "Portugal não irá crescer se continuar a "exportar mais do mesmo", diz estudo da Gulbenkian".

sábado, fevereiro 19, 2022

deixem as empresas evoluir ou morrer, ponto!!!

Vou recuar só até 2018 e escolher alguns postais sobre o tema comum "deixem as empresas morrer":

"Se uma sociedade valoriza e premeia o risco económico do empreendedor da economia real gera-se toda uma dinâmica de crescimento, mortalidade e retorno. Se uma sociedade tem medo do risco económico e das suas consequências, começa a pôr em causa o motor ao não permitir que os melhores projectos ganhem os louros e o retorno adequado (recordar Spender e as fundições inglesas nos anos 80 "Apesar das boas intenções") [Moi ici: LER, por favor!!!]
.
Se o negócio do leite corre mal para uma parte dos produtores lá aparece um apoio ou um subsídio do governo de turno.
Se o negócio do porco corre mal para uma parte dos produtores ...
Se o negócio do têxtil corre mal para uma parte dos fabricantes ...
Se o negócio da construção corre mal para uma parte dos construtores ...


O texto citado de Spender é muito bom, os apoios podem ajudar a comprar máquinas mas não mudam a mente dos gestores. [Moi ici: Meditem nisto e no texto abaixo] Logo, é dinheiro perdido enquanto se empata a economia com zombies que vão estragar o mercado recorrendo a fórmulas antigas e competindo pelo preço sem racionalidade económica.
.
"Vive e deixa morrer" devia ser um lema a seguir por muitos governos."

Ontem, li "Why The Key Management Problem Is Often At The Top": 

"That is precisely the point. It’s actually a key to solving the management puzzle. The relatively weaker performance of the other firms is often the result of what is going on at the top of the firm. [Moi ici: Recordar o clássico aqui no blogue "Há mais variedade de produtividade intrasectoriamente do que intersectorialmente]

That in turn is good news for relatively poorly performing firms: they may be able to improve their performance without massive changes throughout the whole firm. What they need is to fix what's happening at the top.

At the same time, this also explains why the management problems of the weaker performers are so intractable: the top managers have difficulty in solving the problem because it is they who are often the problem. They are reluctant to look at their own behavior in the mirror. It is thus the role of management analysts to hold up the mirror for them and help them begin to discuss the undiscussable."

Este racional, que partilho, é o mesmo que me leva a discordar deste texto:

"Pero el problema de España es que tiene una gran parte de la fuerza laboral poco cualificada e incapaz de aportar valor añadido a la empresa por encima de un determinado nivel de retribución." 

Essa mesma força de trabalho pouco qualificada, emigra para a Alemanha ou França e dá saltos no valor acrescentado. O problema é a incapacidade das decisões da gestão de topo acompanhar o ritmo de subida dos custos de contexto.

Qual a solução? Nacionalizar as empresas? Roubar as empresas? Prender os empresários? Não, os empresários já dão o melhor que sabem e podem. A melhor solução é... deixem as empresas evoluir ou morrer, ponto!!! Claro que o ritmo do aumento dos custos de contexto pode ser tal que poucos conseguem evoluir a tempo, e a taxa de reposição de novos projectos não ser suficiente para renovar a economia. No problema! As pessoas emigram.

 

sexta-feira, fevereiro 18, 2022

Seremos todos Odemira

Há dia publiquei este postal "Algumas questões" sobre a falta de trabalhadores para trabalhar na indústria automóvel em Castelo Branco (interior profundo, vítima de hemorragia demográfica e envelhecimento)

Ontem, no Jornal de Notícias, "Viana do Castelo desespera por centenas de trabalhadores"

"A empresa do setor automóvel BorgWarner dá emprego a 1200 pessoas de nove nacionalidades" nas suas duas unidades em Viana e tem vagas em aberto. "Pretendemos crescer com mais 200 postos de trabalho este ano. Temos conseguido encontrar talentos, mas começamos a notar alguma dificuldade [de recrutamento] nos perfis técnicos, como manutenção, automação, robótica e programação", adiantou Ana Silva, diretora de recursos humanos da Borg Warner
...
as dificuldades de recrutamento crescentes em setores como construção civil, indústria automóvel, hotelaria, carpintaria e metalomecânica. E que já levaram até à perda de novos potenciais investimentos."

Ando eu a escrever o quão importante é o investimento directo estrangeiro em Portugal, para subir na escala de valor, por exemplo, Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas. E começo a recear que mesmo que se arranje esse investimento já não há gente para trabalhar nele.

A armadilha de que falava Nogueira Leite, A armadilha, ainda é mais funda do que parece à primeira vista.

Nesta cena da demografia caminhamos a passos largos para uma disrupção violenta.

quinta-feira, fevereiro 17, 2022

"a refusal to acknowledge that the world had changed"

 

"This book has argued that it is possible to gather and to analyze numbers in ways that help us understand the world. But it has also argued that very often we make mistakes not because the data aren’t available, but because we refuse to accept what they are telling us. For Irving Fisher, and for many others, the refusal to accept the data was rooted in a refusal to acknowledge that the world had changed. [Moi ici: Recordo logo Drop your tools!!! Ou porque não era o verdadeiro socialismo]

...

One of Fisher’s rivals, an entrepreneurial forecaster named Roger Babson, explained (not without sympathy) that while Fisher was “one of the greatest economists in the world today and a most useful and unselfish citizen,” he had failed as a forecaster because “he thinks the world is ruled by figures instead of feelings.” [Moi ici: Recordo logo "Nós fazemos as contas ao contrário"]

I hope that this book has persuaded you that it is ruled by both." [Moi ici: Recordo logo Acerca do optimismo não documentado]

Trechos retirados de "The Data Detective" de Tim Harford.

Portugueses, what else?

 

Impressionante:

"Em 2020, 61% dos portugueses não leu qualquer livro. É um dos dados que salta à vista no Inquérito às Práticas Culturais dos Portugueses 2020 realizado pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian que é divulgado esta quarta-feira." 

Adeptos da pílula azul... 

quarta-feira, fevereiro 16, 2022

A armadilha

 

"países como Portugal terão caído na "armadilha do crescimento intermédio" no sentido vulgarizado por Philippe Aghion entre outros: países que perderam a sua vantagem competitiva na exportação de bens manufaturados assente em salários baixos e que por isso são, em muitos setores das suas economias, incapazes de acompanhar as economias mais desenvolvidas nos mercados de bens e serviços de alto valor acrescentado. ... Portugal precisa de sair desta armadilha e não parece ser por via da canalização do investimento para infraestruturas públicas ou privadas."

Ontem enquanto descia de Bragança ouvia o Think Tank, por causa de uma questão de um ouvinte, Jorge Marrão voltou a um exemplo de restaurantes para falar de produtividade. Só que mais uma vez encalhou em "mais produtividade = mais eficiência". O restaurante A era mais produtivo do que o B porque servia o mesmo número de refeições com menos empregados. O truque que precisamos não é este, este são peaners. Precisamos de restaurantes capazes de venderem pratos mais caros com o consentimento e a satisfação dos clientes. Isso, normalmente, passa por novos protagonistas ...

Trecho retirado de "A marcar passo". 

Enxutos ou listas de compras?

Este artigo, "Sharpen your strategy document", chama a atenção para um ponto de vista que partilho, mas que é minoritário.

Recomendo documentos estratégicos curtos, enxutos, directos ao assunto. No entanto, a maioria prefere longas listas pormenorizadas.
"strategy statements are often tasked with taking on super-heavy loads. Too many of them now include the mission statement, the purpose statement, a list of enduring cultural values and commitments to various stakeholders, and even the core goals for the business.
...
It’s time to declutter strategy documents. And my suggestion for doing that is to create two lists: what is going to change and what’s not going to change.
...
Let’s start with what won’t change. Those items shouldn’t be in the strategy document. This category includes all the immutable truths that are part of an organization’s narrative about itself: the purpose and mission statements, its commitment to certain values and priorities, its promises to various stakeholders.
...
Ideally, the new document includes the four elements of a simple and effective framework Dinesh Paliwal, the former CEO of audio entertainment company Harman International Industries, shared with me:
  • a concrete summary statement of the outcome you are trying to achieve
  • the three or four levers you must pull to achieve that goal
  • the headwinds that have to be overcome to achieve that goal
  • a scoreboard for measuring progress."

terça-feira, fevereiro 15, 2022

Algumas questões...

Este artigo, "Empresa muda linhas de produção para a Turquia por falta de mão de obra", publicado no Jornal de Notícias de ontem deixou-me algumas questões:

"A falta de trabalhadores é a razão invocada pela APTIV, multinacional alemã que produz cablagem para a indústria automóvel, em Castelo Branco, para a deslocalização de duas linhas de produção para outra unidade do grupo na Turquia até junho. As duas linhas de produção fabricam cablagem (cabos elétricos para veiculos) para os motores a combustão da Maserati e da Ferrari. Esta supressão coloca um ponto final a uma longa ligação que tinha condições para crescer na APTIV, não fosse a dificuldade de contratar.

...

"A fábrica de Castelo Branco recebeu o projeto para testagens que muitas empresas pelo Mundo ambicionavam fazer quanto aos cabos para os carros elétricos da Maserati e da Ferrari. Fizeram-se ainda protótipos para o jipe Ineos. É uma grande prova de confiança", frisa a fonte.

As pessoas ou não passam na entrevista ou não querem trabahar por turnos ou não se adaptam e vão-se embora", adianta Francisco Matias, representante dos trabalhadores da APTIV e dirigente do Sindicato Nacional da Indústria e Energia. "Fizemos o que estava ao nosso alcance para ajudar as condições de atratividade, conseguindo que os salários se fixassem acima da média da indústria automóvel e que a contratação passasse de seis para 12 meses, o que dá segurança laboral inicial", completa o sindicalista."

Será que a situação ainda é mais grave do que eu pensava?

Será que a desertificação do interior ainda é mais grave do que pensámos?

Se nem a pagar salários acima da média da indústria automóvel ...

Entretanto, ao final da manhã quando contei a notícia a umas colegas consultoras, uma falou-me de uma empresa grande e conceituada do ramo automóvel na zona de Famalicão que já terá contingente de Filipinos, também me falaram de empresa de calçado com contingente de indianos, e também me falaram de uma outra empresa com contingente de paquistaneses, com um marroquino lá pelo meio. Aliás terá sido através do marroquino que a empresa terá descoberto quanto é que realmente a empresa de mão de obra pagava aos trabalhadores.


Somos já Odemira

segunda-feira, fevereiro 14, 2022

O tema do pricing

O tema do pricing está sempre em cima da minha mesa. Por isso, alguns sublinhados de "How To Identify And Adopt Your Ideal Pricing Strategy":

"1. Avoid Commoditizing Your Product Or Service

The key to a smart pricing strategy is to avoid commoditizing your product or service.

...

2. Define Your Target Customers' Needs [Moi ici: Um clássico!]

Entrepreneurs are notorious for leaving money on the table. Pricing always follows the Pareto Principle, with an ever-smaller percentage of customers willing to spend an ever-increasing amount of money with your company. Start with finding the 20% of your existing customers that will spend more money with you. Then, define their needs and offer a premium option.

...

4. Don't Lower Your Value

Know your own worth and don't be afraid to charge accordingly. Do not lower your value just because a lead says you should.

...

5. Go After Quality Versus Quantity

Know your customer and don’t be scared to go after quality versus quantity.

...

12. Make Their Investments Worthwhile

Whatever your ultimate pricing structure is, make sure you position your products, services and company overall to not be in a race to the bottom. No matter how commoditized your offering might seem or actually be, you can wrap a value-added set of features, services and approaches around them to make paying a premium worthwhile."

domingo, fevereiro 13, 2022

"o que é diferente são as escolhas feitas por quem lidera as empresas"

"However, if these firms are within the same economy, these differences in the choice of inputs must reflect either the fact that they face different factor prices at the same time or the fact that they are making different technological choices given the same factor prices; either assumption presents difficulties for the neoclassical formulation that have not really been confronted.

...

Exploration of technologies that have not been used before involves in an essential way the characteristics of "innovation" that we described earlier. If this position is accepted, it is not merely that movements along preexisting production functions explain little of experienced growth. It is that the idea of movements along with the production function into the previously unexperienced regions-the conceptual core of the neoclassical explanation of growth must be rejected as a theoretical concept.

...

However, in either case, as long as firms differ in terms of what they come up with as a result of their research and development activities, firms will differ in terms of their profitability."

Há anos que escrevo aqui no blogue sobre o papel das escolhas das empresas. O governo é o mesmo, as leis são as mesmas, o povo é o mesmo... o que é diferente são as escolhas feitas por quem lidera as empresas.

Trechos retirados de "An evolutionary theory of economic change" de Richard Nelson e Sidney Winter.

sábado, fevereiro 12, 2022

Dúvidas...

Quem segue este blogue sabe que costumo trabalhar regularmente com o sector do calçado. Desde o Verão passado que o sector do calçado em Portugal tem andado num reboliço de trabalho, muito trabalho, muitas encomendas, falta de pessoal, falta de subcontratados, disrupção no fornecimento de matérias-primas, aumentos brutais no custo de matérias-primas, componentes e energia.

Literalmente podemos dizer que todas as empresas do sector estão entupidas de trabalho, sem correr grandes erros de simplificação.

Nos meus contactos com os empresários costumo perguntar pelo andamento dos preços... sistematicamente dizem-me que não conseguem aumentar preços. Já nem comento a tristeza que sinto perante essa resposta. Sabem o quanto acredito que o típico empresário português deixa demasiado dinheiro em cima da mesa - Talvez o tema que mais nos separa dos níveis de produtividade do resto da Europa Ocidental

Quinta-feira passada comecei a ouvir notícias e comentários sobre o desempenho do sector em 2021. Já tenho experiência suficiente para não embandeirar em arco ao mínimo sinal de sucesso (wishful thinking?). Por um lado, por causa dos números. Quero ver os números! Por outro lado, sinto que o sector tem uma espada de Damôcles sobre si, depois de ler Eric Reinert, e depois de perceber que o jogo do gato e do rato, acerca da produtividade, seguirá a via de Avelino de Jesus, não há que ter ilusões. O sector em Portugal terá de encolher muito no futuro.

Ontem no Jornal de Negócios olhei para os números do sector em 2021 e comparei-os com os dados de 2019 e 2020:

Quando os empresários me dizem que não conseguem aumentar os preços, muitas vezes recordo o começo do livro "Vinho e Pão" - Qual é a diferença?

Será que o crescimento do preço médio do calçado exportado compensa o aumento dos custos dos factores de produção? Desconfio que não ...

sexta-feira, fevereiro 11, 2022

No país do Chapeleiro Louco

No país do Chapeleiro Louco:


"Mais de 72 mil empresas já pediram compensação pelo aumento do salário mínimo"

Recordar:


Há que ir além da clubite

Os que eram contra cortes salariais no tempo de Passos Coelho agora vão estar calados.

Os que aprovavam os cortes salariais no tempo de Passos Coelho agora vão estar contra.

Eu compreendi na altura porque se faziam cortes salariais, eu espero que agora o próximo governo não alimente o génio da lâmpada da inflação.

quinta-feira, fevereiro 10, 2022

Um país dois sistemas


Na terça-feira de manhã, numa conversa matinal em Bragança, comentava com o meu interlocutor:
- Houve momentos em 2020 e 2021 em que pensei, "Sente-se no ar o cheiro a notas a serem queimadas na fogueira". Tanta riqueza a ser destruída... como a vamos repor?

Na terça-feira ao final do dia percebi que o presidente da república terá dito nesse dia:
"Mas viver com Covid também foi estimulante: descobriu-se coisas, em nós e nos outros, que porventura não tínhamos descoberto”, acrescentou."





Where have you been?

O Jornal de Negócios de ontem trazia um extenso artigo intitulado "Industrialização desperta interesse das construtoras".

Recordei-me logo de duas experiências:

  • Subir na escala de valor (Março de 2007)
  • A experiência de trabalho (nos anos 90) com uma empresa que fabricava portões de garagem para o mercado nacional e para exportação. O empresário dizia: recebo uma encomenda de 300 portões para França, todos iguais. Recebo uma encomenda de 30 portões para uma obra em Coimbra... todos diferentes.

quarta-feira, fevereiro 09, 2022

"depois surpreenderem-se com o inevitável"

O jornal Público de ontem trazia um longo artigo sobre o Alqueva. Retive este título:

E este trecho:
"Regressão demográfica Apesar de terem sido investidos quase quatro mil milhões de euros no maior projecto hidroagrícola nacional, nos cinco concelhos do distrito de Beja (Beja, Serpa, Ferreira do Alentejo, Vidigueira e Moura) que concentram 85% do olival moderno a perda de população entre 2011 e 2021 superou os 7500 habitantes.

Entre 2011 e 2021, a região do Alentejo perdeu 41 mil habitantes, revelam os resultados preliminares dos Censos 2021.

Quase 20 anos depois, o encerramento das comportas de Alqueva, o projecto que tanta esperança Suscitava, provocou uma enorme mudança na agricultura e na paisagem alentejana, mas não estancou a sangria demográfica."

E fico meio parvo a pensar... mas quem é que pensou que a aposta na agricultura ía estancar a sangria demográfica? 

Erik Reinert nos seus livros relata o que os cobradores de impostos na Europa cedo aprenderam. As zonas urbanas geravam mais arrecadação de impostos do que as zonas agrícolas. As zonas agricolas para gerarem mais produção tem de recorrer à estratégia cancerosa, a agricultura não tem a mesma capacidade de multiplicação da riqueza que a indústria. O melhor que um país agrícola tem para fazer é deixar de vender produtos agrícolas e subir na escala de valor apostando na agro-indústria e por aí fora. Depois, para complicar, as culturas do Alqueva são intensivas, negócio preço, aposta no low-cost, ... queriam fixar população? Pena os jornalistas não estudarem o bê-à-bá e depois surpreenderem-se com o inevitável.

 

terça-feira, fevereiro 08, 2022

"The value of the measure will evaporate"

"A few years ago I interviewed General H. R. McMaster, an expert on the mistakes made in Vietnam. He told me that the army used to believe that “situational understanding could be delivered on a computer screen.”
It could not. Sometimes you have to be there to understand—especially when a situation is fast-moving or contains soft, hard-to-quantify details, [Moi ici: Mal li isto recordei logo uma pergunta que me fizeram na semana passada durante este webinar, sobre auditorias remotas no sector alimentar] as is typically the case on the battlefield. The Nobel laureate economist Friedrich Hayek had a phrase for the kind of awareness that is hard to capture in metrics and maps: the “knowledge of the particular circumstances of time and place.”
Social scientists have long understood that statistical metrics are at their most pernicious when they are being used to control the world, rather than try to understand it.
...
"When a measure becomes a target, it ceases to be a good measure.") Psychologists turn to Donald T. Campbell, who around the same time explained: “The more any quantitative social indicator is used for social decision-making, the more subject it will be to corruption pressures and the more apt it will be to distort and corrupt the social processes it is intended to monitor.”
Goodhart and Campbell were onto the same basic problem: a statistical metric may be a pretty decent proxy for something that really matters, but it is almost always a proxy rather than the real thing. Once you start using that proxy as a target to be improved, or a metric to control others at a distance, it will be distorted, faked, or undermined. The value of the measure will evaporate.”[Moi ici: Ainda perguntam porque é que este é um livro a ler em tempos de maioria absoluta?]

Trechos retirados de "The Data Detective" de Tim Harford

segunda-feira, fevereiro 07, 2022

Não nos interrompam, estamos ocupados a ver uma série televisiva

"Il y a des vérités qu’il ne faut pas dire et on peut compter sur les candidats à la présidentielle ou sur nos chers grands médias pour ne pas les crier à la face des électeurs qui, souvent, détestent qu’on les dérange pendant qu’ils regardent leur série sur Netflix, à moins qu’ils ne dorment du sommeil du juste.

Comment redresser la France, championne du monde de la désindustrialisation, de la dépense publique ou des attaques contre les élus (1 186 entre janvier et novembre 2021) ? Qui peut encore préserver la paix du monde alors que montent des bruits de bottes russes ou chinoises du côté de l’Ukraine et de Taïwan?

...

La France est en train de devenir une petite province égocentrique, obsédée par son déclin, et elle décroche par rapport aux autres pays du Vieux Continent, l’Allemagne bien sûr, mais aussi l’Italie. L’américanisation accélérée de notre système politico-médiatique est pour beaucoup dans cette évolution. Les vraies questions, comme la dette de l’État , l’illettrisme galopant ou l’explosion des incivilités, sont à peine abordées. C’est le règne du bourdon sur la vitre, du superfétatoire.[Moi ici: Como no telejornal de ontem da RTP1, abertura e longos minutos dedicados à notícia do dia, a vitória da selecção no europeu de futsal]"

Trechos retirados de "À propos de sept ou huit sujets qui fâchent" 


domingo, fevereiro 06, 2022

Fico dividido

Ontem no Jornal de Notícias li este artigo "Falta de maioria já não desculpa: indústria exige reformas a Costa" e fiquei dividido

Primeiro, os sublinhados que fiz:

"Governo não tem desculpa para adiar reformas estruturais. Querem também rapidez e eficácia no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e no Portugal 2030. [Moi ici: Nota 1]

...

o país reúne agora condições para encetar as reformas estruturais de que precisa e que os empresários diariamente e justamente reclamam." [Moi ici: O país precisa de reformas estruturais para ser atractivo para o investimento directo estrangeiro. Os empresários nacionais fariam melhor em concentrarem-se no que podem fazer por eles próprios para subirem na escala de valor. Subir na escala de valor é um trabalho interno. Boleias do exterior normalmente traduzem-se em descontos no preço final, quando o que precisamos é de subir os preços]

Considera "urgente uma estratégia clara e integrada, com medidas concretas para recuperar a atividade económica, melhorar a competitividade e relançar e reorientar o investimento". [Moi ici: Fico triste com esta mentalidade, com este locus de controlo no exterior. A competitividade para ser melhorada precisa de um empurrão do governo? Precisa de orientações exteriores. Come on!!! E volto a Erik Reinert e à diferença entre trabalhar o numerador ou o denominador. Todo o discurso dos representantes dos empresários assenta em aumentar a competitividade com base na redução do denominador, ou seja, à custa da redução dos custos de contexto]

...

Entre várias outras medidas, diz ser "absolutamente crucial" apoiar "a recapitalização das empresas e a requalificação dos ativos" chama a atenção para o envelhecimento da população e para a "rigidez laboral". [Moi ici: De que requalificação dos activos estarão a falar? Não consigo imaginar os representantes dos empresários alemães, nos anos 70 a protestarem com o governo federal ou estadual, porque não conseguiam arranjar pessoal para os sectores tradicionais?]

...

As indústrias de base florestal estão disponíveis para colaborar e continuar a aumentar as exportações. Não  acabem com a nossa floresta" , apelou. [Moi ici: palavras de Vitor Poças, presidente da Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal]

...

"A carga fiscal sobre as nossas empresas penaliza substancialmente a competitividade externa" [Moi ici: Primeiro, a competitividade em função do denominador. Segundo, falar em carga fiscal como penalizadora da competitividade externa quando o sector vive um tempo de muito, muito, muito trabalho... não abona em favor do opinador] e também "os custos de contexto, a nivel da energia, fiscalidade ou justiça, são altamente penalizadores" [Moi ici: Só conversa sobre custos...] [Moi ici: palavras de Paulo Gonçalves, director de comunicação da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Sucedâneos

...

E o PS "vai certamente reforçar as medidas já delineadas para a recuperação economica", desde logo no PRR e no PT 2030, que "serão um motor de arranque para as empresas" "Os setores do textil e do vestuário precisam desta alavanca para se reposicionarem no mercado internacional"", [Moi ici: Ver Nota 1] [Moi ici: palavras de César Araujo, presidente da Associação Nacional das Industrias de Vestuário e Confecção]

Nota 1: À atenção dos empresários que põem esperança no exterior, percebam a mensagem desta figura:

Por que fico dividido? Por um lado esta conversa em que o aumento da produtividade é associado à redução de custos,  e depende do trabalho dos governos de turno. 

Por outro lado, imposto é roubo.

Por que é que os representantes empresariais olham para os governos como super heróis capazes de fazerem o trabalho que só cada empresário pode fazer, subir na escala de valor?

Back to Cavaco...



sábado, fevereiro 05, 2022

Comportamentos, causas e condutores

Pediram-me para investir em conhecer melhor a ISO 22000. Inicialmente pensei em 2 ou 3 cursos pagos. Depois, pensei melhor e resolvi começar a ver videos no Youtube sobre o tema. Estabeleci uma hora por dia (meia-hora antes de sair de casa de manhã, e outra meia-hora à noite). Entretanto, já devo ter investido mais de 25 horas no desafio.

Tenho apanhado muita coisa boa. A melhor coisa que descobri foi um senhor chamado David Rosenblatt. Comecei por um vídeo que me fascinou. Tive de o ver 3 vezes:


Entretanto, descobri este artigo, "Behavioral Based Food Safety – An Alternative Training Methodology" onde o autor expõe o seu modelo.
"In order for an employee to carry out a decision four conditions must be met simultaneously:

1. He or she has to know what to do and how to do it. 
2. They must be capable of doing it. 
3. They need to remember what to do. 
4. She or he must decide to do it.
...
a behavioral model we call MACK, an acronym representing the four conditions that must be met in order for a plan to be realized:

• Motivation [Moi ici: O 4 lá de cima. No vídeo aborda o tema e fez-me lembrar a quantidade de loucuras que veja no trânsito no dia-a-dia. Por que é que as pessoas não cumprem as regras?]
• Awareness [Moi ici: O 3 lá de cima. No vídeo, David Rosenblatt, explica muito bem a importância da repetição periódica da sensibilização]
• Capability [Moi ici: O 2 lá de cima. Este postal, Causas e 5 porquês, aborda este factor. Por que pode ser perfeitamente racional não cumprir o que esá previsto]
• Knowledge [Moi ici: O 1 lá de cima]
...
[Moi ici: Outra abordagem interessante] We have identified five motivational drivers at play among workers:

1. Inherent obedience [Moi ici: Cada vez há menos trabalhadores a quem basta dizer o que devem fazer e eles fazem, ponto]
2. Scientific information [Moi ici: Há gente a quem basta transmitir a informação de forma racional]
3. Emotional stimuli [Moi ici: Há gente que responde melhor a uma estória]
4. Positive feedback [Moi ici: Há gente que precisa de feedback positivo para reforçar a sua actuação]
5. Punishment [Moi ici: Os rebeldes]

Each person is motivated by a unique balance between these drivers, creating a “motivational fingerprint”. This fingerprint is affected by personality, culture, upbringing, beliefs and more. Once we’ve learned each employee’s motivational profile we can fine tune our personal teaching and leadership tools to their highest effectiveness."
Vale a pena investir no vídeo e no artigo para quem lida com comportamentos organizacionais. Por exemplo, o artigo através de um exemplo explica muito bem como um mesmo comportamento negativo em 4 pessoas diferentes pode ter causas diferentes em cada uma das pessoas.

sexta-feira, fevereiro 04, 2022

Manipulação

"For example, if a group of doctors collect and analyze data on clinical outcomes, they are likely to learn something together that helps them to do their jobs. But if the doctors’ bosses then decide to tie bonuses or professional advancement to improving these numbers, unintended consequences will predictably occur. For example, several studies have found evidence of cardiac surgeons refusing to operate on the sickest patients for fear of lowering their reported success rates.

In my book Messy, I spent a chapter discussing similar examples. There was the time the UK government collected data on how many days people had to wait for an appointment when they called their doctor, which is a useful thing to know. But then the government set a target to reduce the average waiting time. Doctors logically responded by refusing to take any advance bookings at all; patients had to phone up every morning and hope they happened to be among the first to get through. Waiting times became, by definition, always less than a day."


Trechos retirados de "The Data Detective" de Tim Harford.

quinta-feira, fevereiro 03, 2022

"we need to realize that our feelings can trump our expertise"

Nestes tempos de maioria absoluta. Nestes tempos de "Lie to me". Nestes tempos de manipulação estatística. 

"I worry about a world in which many people will believe anything, but I worry far more about one in which people believe nothing beyond their own preconceptions.

...

Doubt is a powerful weapon, and statistics are a vulnerable target. That target needs defenders. Yes, it’s easy to lie with statistics—but it’s even easier to lie without them.

And more important, without statistics it’s impossible to tell the truth—to understand the world so that we can try to change it for the better,

...

when it comes to interpreting the world around us, we need to realize that our feelings can trump our expertise.

...

The aim of this book is to help you be wiser about statistics. That means I also need to help you be wiser about yourself. All the statistical expertise in the world will not prevent your believing claims you shouldn’t believe and dismissing facts you shouldn’t dismiss. That expertise needs to be complemented by control of your own emotional reactions to the statistical claims you see.

...

We often find ways to dismiss evidence that we don’t like. And the opposite is true, too: when evidence seems to support our preconceptions, we are less likely to look too closely for flaws.

The more extreme the emotional reaction, the harder it is to think straight. 

...

We don’t need to become emotionless processors of numerical information—just noticing our emotions and taking them into account may often be enough to improve our judgment. Rather than requiring superhuman control over our emotions, we need simply to develop good habits. Ask yourself: How does this information make me feel? Do I feel vindicated or smug? Anxious, angry, or afraid? Am I in denial, scrambling to find a reason to dismiss the claim?

...

The answer to both questions is the same: when it comes to interpreting the world around us, we need to realize that our feelings can trump our expertise."

Trechos retirados de "The Data Detective" de Tim Harford.

quarta-feira, fevereiro 02, 2022

"hay que construir nuevas cadenas de aprovisionamiento regionalizadas” (parte III)

Parte I e parte II.

O impacte destas restrições na aceleração da revolução que já estava em curso, traduzido no reshoring:
Isto vai provocar uma mudança abrupta no paradigma vigente. Que implicações serão sentidas? Como as poderemos aproveitar?



terça-feira, fevereiro 01, 2022

"hay que construir nuevas cadenas de aprovisionamiento regionalizadas” (parte II)

Part I 

"Splits are emerging in corporate America's response to a supply chain crisis which growing numbers of executives expect to last all year, heralding a wave of spending on new capacity, better data, and support for weaker vendors.

This earnings season, companies have complained of shortages, delays, and spiking costs in a quarter in which they scrambled to procure semiconductors, were left waiting for components and suffered the effects of suppliers' staffing gaps.

...

The pandemic has pushed manufacturers to redesign their supply chains in favor of certainty of supply and locating inventory closer to customers.

...

Companies including VF Corp, the clothing group behind The North Face, said they had moved some production to suppliers closer to their biggest markets.

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Companies with more domestic suppliers and those that had moved before the pandemic o broaden their supply chains were faring better than others with more complex, global logistics, said Tim Ryan, chair of PwC US. mid-January survey of US executives by PwC found that less than half expected supply chain disruptions to ease by the end of the year, and more than 60 percent planned to raise prices in response.

...

“The engineers have designed supply chains around predictability and when that predictability goes away everything goes to hell in a handbasket,” he told the FT.

“Most companies are realising that they over-tuned their operation for performance versus resilience,”"

Trechos retirados "Winners and losers emerge from lingering US supply chain crisis"