Mostrar mensagens com a etiqueta Deming. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Deming. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, janeiro 22, 2019

Curling


Nos últimos meses tenho usado muitas vezes esta metáfora, o curling, para falar acerca do papel dos gestores.

E o meu parceiro das conversas oxigenadoras enviou-me este texto, "Psychology – Managing Human Systems" de onde retirei:
"Deming believed everyone had a right to joy in work. That does not mean they are free from doing difficult tasks. It means that the organization has a duty to create a system where people can take pride in what they do. By doing so the organization is able to focus on continual customer focused improvement over the long term. Deming’s view is that employees are key to the long term success of the organization. They are not costs to be minimized. [Moi ici: Como não recordar os eficientistas da automatização versus o contrarian] They are valuable partners in the continuing success of the organization.
...
The job of a manager is not to motivate people it is to remove the barriers to joy in work. [Moi ici: A metáfora do curling] By creating an environment where people can take pride in what they do the ability of the organization to perform is optimized."

segunda-feira, outubro 29, 2018

O jogo mudou de nível! É a vida!


Esta manhã olhei para esta capa e fiquei logo atraído por um redemoinho de pensamentos em torno da frase de João Vieira Lopes:
"Para aumentar salários é preciso baixar a carga fiscal"
Primeiro o disclaimer, para não ser mal interpretado: IMPOSTO É ROUBO! 

Na fase da economia em que estamos e, sobretudo, na fase demográfica em que estamos, caminhamos a passos largos para o pleno emprego. Há muitas zonas do país em que já há anos que há falta de gente para trabalhar. Recordo que a taxa de desemprego na zona Centro rondava os 8,2% no 3º trimestre de 2015, no 2º trimestre de 2018 ronda os 5,3%.

Há dias brincava sobre os futuros protestos dos empresários incumbentes contra os apoios à instalação de novas empresas com capital estrangeiro, por causa da competição pelo recurso cada vez mais escasso: pessoas.

Quando a procura é maior do que a oferta, o preço sobe = o salário sobe! Portanto, caro João Vieira Lopes, não tenha ilusões, já não tem hipótese no campeonato dos custos. E recordo uma frase sobre o que se passou na Finlândia na penúltima crise e outra de Nassim Taleb:
"It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled."Mas, e como isto é profundo:"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants." Por favor voltar a trás e reler esta última afirmação.E o grande finale:"As creative destruction is shown to be an important element of economic growth, there is definitely a case for public policy to support this process, or at least avoid disturbing it without good reason. Competition in product markets is important. Subsidies, on the other hand, may insulate low productivity plants and firms from healthy market selection, and curb incentives for improving their productivity performance. Business failures, plant shutdowns and layoffs are the unavoidable byproducts of economic development."
E
"Systems don’t learn because people learn individually –that’s the myth of modernity. Systems learn at the collective level by the mechanism of selection: by eliminating those elements that reduce the fitness of the whole, provided these have skin in the game." 
Assim, caro João Vieira Lopes, o que vai acontecer é que vão ter de aumentar salários sob pena de perderem os trabalhadores. Muitas empresas não vão ter nem a arte, nem o engenho de subir na escala de valor para terem sucesso apresar dos salários mais altos. Assim, vão fechar e dar lugar a outras que serão organizadas de outra forma, ou até mesmo vão ser gerados desertos sem comércio, como hoje acontece com os desertos sem pessoas no interior. Será cada vez mais difícil uma pequena loja do interior sustentar-se com o mercado pequeno que tem.

Já imagino os apoios do governo de turno, ao arrepio do Primeiro Princípio de Deming - Constância de propósito, ao comércio em crise, quando na véspera o criticavam por não ser produtivo... torrar dinheiro impostado aos saxões para adiar o inevitável.

sexta-feira, novembro 10, 2017

Mais do que eventos (parte II)


Imaginem a produção de uma linha de fabrico ao longo de um mês (com dois turnos).
A amarelo, o tipo de produto produzido naquele turno (há produtos mais fáceis de produzir do que outros, há produtos com falhas da fase de concepção que nunca foram corrigidos na fase de industrialização).

A verde, as avarias que ocorreram na linha.

A azul, os turnos em que a produção foi afectada pela falta de pessoal (pessoas que resolveram faltar sem aviso prévio e que, por isso, não puderam ser substituídas)

A laranja, os turnos em que a produção foi afectada por falta de matéria-prima (fornecedores e/ou subcontratados) atrasaram-se na entrega de material para produções previstas.

Muita gente tem tendência a olhar para cada um destes eventos como o assunto, como o desafio, como a preocupação. Eu, recordo Juran e concentro a atenção nos problemas crónicos:

Melhoria a sério só acontece quando atacamos os problemas crónicos. Não adianta olhar para cada um dos eventos isoladamente, não adianta culpabilizar um trabalhador porque faltou sem avisar, ou um subcontratado porque não cumpriu uma promessa. O que é que no meu sistema permite e até fomenta este tipo de comportamentos?

Lembrei-me agora de um tweet que vi esta manhã:





quinta-feira, novembro 09, 2017

Mais do que eventos

"In his book Out of the Crisis, W. Edwards Deming wrote: “A fault in the interpretation of observations, seen everywhere, is to suppose that every event (defect, mistake, accident) is attributable to someone (usually the one nearest at hand), or is related to some special event. The fact is that most troubles with service and production lie in the system.”
“We shall speak of faults of the system as common causes of trouble, and faults from fleeting events as special causes,” he wrote. “Confusion between common causes and special causes leads to frustration of everyone, and leads to greater variability and higher costs, exactly contrary to what is needed. I should estimate that in my experience most troubles and most possibilities for improvement add up to proportions something like this: 94% belong to the system (responsibility of management), 6% special.”
Control charts offer the study of variation and its source over time."

Que bom voltar a encontrar este trecho do grande Deming. Vejo tão pouca gente fora da indústria automóvel a usar o poder das cartas de controlo...

Vejo tão pouca gente fora da indústria automóvel a olhar para lá da camada superficial dos eventos e a mergulhar nos comportamentos e no sistema.



segunda-feira, maio 22, 2017

A conspiração

"Company leaders, consider the following questions: How many surprises have you dealt with this week? How many customer relationships have had to be rescued or late orders escalated? How many apologies delivered, numbers explained, or presentations redone?
.
Every leader I know wrestles with these and other crises as a matter of routine. Yet leaders also recognize that running a business through constant firefighting puts them at risk of stressed-out employees, customer defections, a damaged brand, and safety or ethics catastrophes.
.
On closer inspection, the vast majority of fires are preventable. They are essentially “rework” — the added effort and cost required because something was not done right the first time. Unfortunately, firms can get stuck in a vicious cycle of rework, shortcuts, and more rework."
Quantas vezes por trás de um problema está uma conspiração?
Uma espiral que se reforça com cada volta e torna mais provável a recorrência futura.

Trecho retirado de "Why Your Employees Are Always Putting Out Fires"

domingo, abril 23, 2017

Almas gémeas!

Ontem de manhã o @joaops chamou-me a atenção para este texto de Nassim Taleb "On Interventionistas and their Mental Defects". Quando ao final da manhã, durante uma caminhada, o ouvia não pude deixar de ficar surpreendido.

Primeiro, Nassim Taleb conta a história de Anteu,  muito forte quando estava em contacto com o chão (ou a Terra, a sua mãe), e muito fraco se fosse levantado ao ar:
"like Antaeus, you cannot separate knowledge from contact with the ground. Actually, you cannot separate anything from contact with the ground. And the contact with the real world is done via skin in the game –have an exposure to the real world, and pay a price for its consequences, good or bad. Most things that we believe were “invented” by universities were actually discovered by tinkering and later legitimized by some type of formalization."
Não pude deixar de relacionar esta estória de Anteu com o tema das sanitas da passada sexta-feira.

Segundo, Nassim Taleb martela nos neocons usando aquilo que há anos chamo aqui de amadores a jogar bilhar:
"O que acontece é que os políticos tomam as decisões, como eu jogo bilhar… quando jogo bilhar só consigo jogar a pensar naquela jogada. Um profissional do bilhar quando pensa na jogada que vai fazer, equaciona e prepara já o terreno para as jogadas seguintes."
Versus:
"these interventionistas not only lack practical sense, and never learn from history, but they even make mistakes at the pure reasoning level, which they drown in some form of semi-abstract discourse. The first flaw is that they are incapable in thinking in second steps and unaware of the need for it –and about every peasant in Mongolia, every waiter in Madrid, and every car service operator in San Francisco knows that real life happens to have second, third, fourth, nth steps." 
Terceiro, algo que me fez lembrar o que aprendi com Deming com o jogo/experiência do funil:
"And when a blow up happens, they invoke uncertainty, something called a Black Swan, not realizing that one should not mess with a system if the results are fraught with uncertainty, or, more generally, avoid engaging in an action if you have no idea of the outcomes."
Almas gémeas!

domingo, novembro 06, 2016

Não é um "nice to have"

"Define What Your Strategy Is — And What It Isn’t.
.
Good strategy is ultimately about choices: it is as much about what not to do, as what to do. Most organizations don’t lose their way due to a lack of ideas, but by frittering away their focus and attention among thousands of seemingly useful but ultimately draining pursuits. This comes from a lack of clarity around your reason for being in existence, and the inability to draw bold lines separating ‘what will keep us on track’ vs. ‘what will lead us astray’. Next time you help create a big idea, initiative or strategy, do your company a favour and write down what it is, and in even bigger letters, what it isn’t. This includes things that customers or the media may be clamouring for. The effort needed to say no to seemingly legitimate options enforces the strategic discipline of clarifying the unique value your organization brings to people and to the market."
Enquanto lia este trecho senti logo click das peças a encaixarem-se:
A importância de se concretizar o que não se é, para reduzir o perigo da deriva da opinião dos clientes que Alan Klement tão bem relacionou com as causas especiais de Deming e que referi em "Acerca da variabilidade dos clientes".
.
Sistematizar o que não se é não é um mero "nice to have" é um verdadeiro must para nos guiar e evitar a deriva que desfoca e torra valor.


segunda-feira, agosto 31, 2015

Para reflexão

Há aquela frase atribuída a Gandhi, qualquer coisa como, temos de ser a mudança que queremos ver no mundo. Há também aquela outra que diz que não se começa a produzir arte depois de se tornar artista.
.
Seth Godin em "The average" chama a atenção para esta realidade:
"Everything you do is either going to raise your average or lower it.
.
The next hire.
.
The quality of the chickpeas you serve.
.
The service experience on register 4.
.
Each interaction is a choice. A choice to raise your average or lower it.
.
Progress is almost always a series of choices, an inexorable move toward mediocrity, or its opposite."
Simples, poderoso e ...  existencialista.

sábado, fevereiro 25, 2012

Incoerência!

Às segundas, terças e quartas, atacar a política de Alberto João Jardim na Madeira como despesista e insustentável.
Às quintas, sextas e sábados, propor exactamente a mesma política para o continente:
.
"É altura de o Governo criar um plano nacional do emprego"
.
O que é que um Governo, seja ele qual for, sabe sobre emprego sustentável?
.
Olhando para o gráfico:
Aposto que descubro onde é que o "plano nacional de emprego" devia concentrar a sua actuação... 
.
atacar o top 6 da criação de desemprego:
  • actividades imobiliárias, administrativas e serviços de apoio;
  • actividades de consultoria, científicas, técnicas e similares;
  • administração pública, actividades de educação, saúde e apoio social;
  • electricidade, gás e água, saneamento, resíduos e despoluição;
  • construção;
  • comércio, manutenção, reparação de veículos automóveis e motociclos.
Estes são os seis sectores onde o desemprego mais está a crescer. Olhem bem para eles... o 1º, o 4º e o 5º têm a ver com a bolha imobiliária. O 2º e o 3º têm a ver com a bolha de recibos verdes no sector público: universidades, escolas, hospitais, ... O 6º tem a ver com a bolha do crédito fácil para compra de veículos ...
.
É para estancar o crescimento do desemprego aqui que tem de existir um plano nacional de emprego? Mais uma auto-estrada Porto-Lisboa? Talvez uma SCUT?
.
O primeiro gráfico mostra o caminho. O crescimento negativo do desemprego, o emprego está a ser criado na indústria... por que é que os encalhados da tríade nunca falam disto?
.
Faz-me lembrar 2008 e 2009 na Assembleia da República... às segundas, terças e quartas discutia-se o aumento do salário mínimo nacional, às quintas, sextas e Sábados discutiam-se os apoios ao sector têxtil. Literalmente!!!

terça-feira, novembro 15, 2011

Impressionado...

Com 47 anos ainda consigo ficar impressionado com as pessoas, com a sua incoerência, com a sua falta de perseverança estratégica, com a rapidez com que mudam de opinião.
Neste artigo leio com espanto:
.
"Miguel Cadilhe defendeu hoje a necessidade de aumentar a poupança em Portugal, e deixou uma crítica ao Orçamento do Estado para 2012, que não tem "nem uma secçãozinha, nem uns parágrafos dedicados à política de poupança".
...
a política de poupança tem de ganhar primazia, e tem de ser a primeira preocupação do Governo. Preocupação essa que o economista lamente não ver expressa no Orçamento do Estado para 2012, que não dedica atenção a esse capítulo."
.
Estão de acordo com a importância da poupança? 
.
Eu estou, eu não posso estar mais de acordo com a poupança.
.
Então, qual é o problema?
.
É que a mesma pessoa que profere estas afirmações ainda este ano lançou o terrorismo sobre as poupanças
.
"Ex-ministro de Cavaco Silva sugere um imposto extraordinário, aplicado de uma só vez, sobre depósitos, imobiliário, acções e obrigações."
.
Enfim... entregues à bicharada.
.
Deming e o seu princípio nº 1... constância de propósito... pois, vai no Batalha!

domingo, maio 29, 2011

Subirás na escala de valor!

Se eu criasse um conjunto de princípios, à la Deming, para sintetizar o conjunto de vectores que podem ajudar as nossas PMEs a conseguirem passar para o nível seguinte do jogo competitivo, um deles seria este:
.
"Subirás na escala de valor!"
.
Por isso, é sempre com satisfação que encontro nos jornais relatos de experiências em curso, verdadeiras acções de exploração (exploration, para não confundir com exploitation de March ), talvez fique mais claro com: acções de expedição.
.
"Peixe-espada-preto vem também em conserva"
.
O artigo é curto mas permite focar alguns pontos importantes:
.
"As latas vão surgir nas prateleiras das lojas gourmet (Moi ici: Fazer o by-pass à grande distribuição. A grande distribuição é cega só vê preço, esquece que é visitada por gente de todas as bolsas. Introduzir um produto inovador pela via da grande distribuição é ter pressa de ter volume. Só que o negócio desta inovação não é o volume) com a designação "Conservas de Peixe-Espada-Preto, em Azeite", abaixo dos cinco euros (o preço ainda não está definido) (Moi ici: Comparar com as sardinhas em óleo a 0,60 cêntimos, não é o mesmo campeonato! É assim que fica claro que o negócio do volume é trabalho muito trabalho na passadeira do ginásio, é esforço, muito esforço, que nos deixa sempre no mesmo sítio, que muitas vezes nos deixa anorécticos e à beira da morte. Muito trabalho, muito ritmo, muito risco e ... lucro raquítico. Produtos inovadores bem sucedidos significam margens maiores, significam ganhar mais, trabalhar menos, ter menos risco, ser mais senhor do seu destino), numa ideia tripartida entre a ArtesanalPesca (cooperativa que fornece o pescado), Conservas Nero (responsável pela confecção da iguaria) e a SSB( R ), (responsável pela criação da imagem da embalagem e comercialização do produto)." (Moi ici: É a isto que chamo criar relações amorosas que fogem aos esquemas lanchesterianos que só concebem manobras lineares)

segunda-feira, março 14, 2011

Constância de propósito

Até ao final do ano passado havia o subsídio ao abate de automóveis.
.
Agora, "Governo quer aumentar imposto automóvel" onde se lê "A necessidade de travar a importação de automóveis"... onde está a constância de propósito?
.
    A constância de propósito é a melhor orientação de uma liderança... dizia Deming.
    .
    Entretanto, há quem ainda não se apercebeu do que está a acontecer e do país onde vive "Portugal deve incentivar a compra de automóveis híbridos" ou... eu é que sou trouxa, e ele sabe que neste país o irracional vai sempre avante.

    segunda-feira, julho 19, 2010

    Todos os modelos estão errados, alguns são úteis

    "Que modelo de qualidade defende então para um hospital (ou outro estabelecimento de saúde)?"
    .
    Como aprendi com Deming: Todos os modelos estão errados, alguns são úteis.
    .
    Tirando o modelo EFQM, que padece de uma falha embebida no seu ADN pois considera tudo importante, qualquer modelo da qualidade que conheço pode funcionar.
    .
    E porquê modelo da qualidade? Porque não falar em modelo de gestão?
    .
    IMHO o problema da maioria dos modelos reside na sua implementação: o papel dos consultores e o papel da gestão de topo.
    .
    Há anos fui contratado por uma organização para realizar auditorias aos sistemas da qualidade de 8 ou 9 instituições ligadas à saúde.
    .
    Na totalidade delas encontrei sistemas que estavam, no essencial, conformes com o referencial.
    .
    Na quase totalidade delas encontrei sistemas que eram um reflexo da 1ª geração de sistemas de garantia da qualidade:
    • procedimentos e mais procedimentos;
    • alguns objectivos, poucos e pueris;
    • mais de metade das pessoas estavam à margem do sistema;
    • a gestão de topo estava à margem do sistema;
    Apesar de conformes com o referencial dei comigo a pensar... que desperdício. Que valor acrescentado é que isto trouxe à vida da organização? Nenhum!
    .
    No entanto, um dia encontrei um sistema diferente... um centro de saúde que me satisfez como auditor e, sobretudo, como contribuinte.
    .
    .
    .
    .
    Um sistema que tinha como objectivos os objectivos do negócio!!! Uauu que original. Por que o fizeram assim e não da mesma forma que as outras instituições?
    .
    Estas organizações implementaram os seus sistemas da qualidade ao abrigo de um certo programa, com um orçamento que previa o recurso a consultores para apoiar as organizações a implementarem os seus sistemas da qualidade.
    .
    Aconteceu que este centro de saúde entrou tarde demais no programa e, por isso, quando entrou, já não havia verba para pagar aos consultores. Assim, o director agarrou o projecto em mãos e, como não tinha o apoio de consultores, olhou para o referencial e em vez de respostas normalizadas e genéricas da treta, fez a transposição para a sua realidade.
    .
    O referencial falava em objectivos da qualidade.
    .
    Nas outras organizações, com o auxílio de consultores, encontrei objectivos como "Obter a certificação..." ou "Não ter não-conformidades documentais..."
    .
    Neste centro de saúde, o director e a sua equipa, não fizeram a distinção entre qualidade e gestão. O referencial falava em objectivos da qualidade, o que é que eles pensaram:
    .
    "- Quais são os objectivos mais importantes para o Centro?
    - Os números que temos de enviar periodicamente para a Administração Regional de Saúde...
    - Então esses vão ser os nossos objectivos da qualidade..."
    .
    Ao final do dia, sentei-me no carro e antes de accionar a ignição, abraçado ao volante, mergulhei numa espécie de mini-depressão... o melhor sistema, o mais eficaz, o mais próximo de ajudar a gestão da organização a servir a comunidade e as outras partes interessadas era o que não tinha tido o apoio de consultores...
    .
    Não quero impor barreiras à entrada de consultores, seriam mais uma treta como os CAPs para formadores, mas é como diz o amigo boticário:
    .
    "O problema é que qualquer é consultor, faz um cursinho ao Domingo e já está (sinais dos tempos...)"
    .
    A maior parte das empresas de consultoria ao lidar com um produto maduro, como a implementação de sistemas de qualidade tendo como referencial a ISO 9001, usa como proposta de valor o preço mais baixo para o serviço. Assim, tem de recorrer a mão-de-obra barata, recém-licenciados que seguem uns guiões padronizados, com templates em que é só mudar o logotipo e o nome da organização... em vez de apostarem na eficácia apostam na eficiência.
    .
    Qualquer modelo que ajude uma organização a concentrar-se na sua razão de ser e a reflectir sobre o seu desempenho é bem vindo. Desde que não se apliquem receitas (lembro-me de um consultor que se chamava a si próprio taxista documental, a sério, ele via-se como um transportador de documentos de uma empresa para outra (BTW, uma vez, ao auditar o sistema da qualidade de um centro de hemodiálise encontrei num dos procedimentos a palavra "carcaça"... um resquício de um copy-paste mal feito... matadouro ou centro de hemodiálise é quase a mesma coisa) pois usava sempre os mesmos), as famosas chapas e, acima de tudo, desde que a gestão de topo esteja envolvida no projecto.

    domingo, agosto 09, 2009

    Acham isto normal? Ou a inconsistência estratégica! Ou jogar bilhador como um amador!


    -->
    Muito se escreve sobre estratégia.
    Porter no seu famoso artigo “What is strategy?” (na Harvard Business Review em 1996) deu várias respostas à pergunta do título, em função de várias ângulos de abordagem.
    Muitas vezes os crentes no Grande Planeador, no Grande Geometra, no Estado que tudo planeia e decide com superior capacidade reclamam que em Portugal falta uma estratégia unificadora, mobilizadora, etc.
    Por princípio não acredito na existência dessa Grande Estratégia. O mundo é demasiado complexo e demasiado instável para que seja possível desejar uma única estratégia e que ela seja válida por muito tempo. Acredito sim, num ecossistema de várias estratégias em permanente mutação, umas resultam, com mais ou menos sucesso, e depois desaparecem para dar lugar a outras ainda mais competitivas num ambiente que entretanto se alterou… hum… sinto que não estou a ser original… Beinhocker descreve bem este ecossistema de estratégias ao escrever sobre o dilema do prisioneiro e o jogo da vida dos modelos de Lindgren (delicioso).
    Mas se não existe essa tal de Grande Estratégia podemos equacionar alguns princípios básicos que deveriam ser respeitados, como aquele “First, do no harm!”
    Deming assentou a sua filosofia de gestão em 14 princípios. O primeiro deles todos é fundamental.
    Fundamental para uma estratégia, qualquer que ela seja e qualquer que seja o ângulo de abordagem: Constância de propósito!!!
    Constância de propósito!
    Constância significa agir como o cão que morde a perna do ladrão e não larga, e não larga, e não larga. Assumir uma estratégia significa, e implica, assumir algumas contrariedades como um custo necessário para conquistar um ganho superior. Se uma estratégia não tem um custo, se uma estratégia não obriga a fazer opções contraditórias, então, de certeza que é uma estratégia que pode ser facilmente copiada e replicada e, por isso, não vai trazer diferenciação nenhuma.
    Escrevo tudo isto por causa da sucessão de notícias que tenho apanhado nos jornais nos últimos dias e que retratam muito bem essa inconsistência estratégica:
    Neste postal “O que dizer da nossa competitividade”reflecti sobre o perigo de aumentar salários sem o correspondente suporte num aumento da produtividade, pois tal corrói a competitividade de uma indústria. No final desse postal chamei a atenção para a defensibilidade do argumento: se as empresas não podem suportar salários superiores, então devem fechar. É um argumento razoável, embora esta altura seja a pior para o pôr em prática. Mas se se decidir pô-lo em prática … a constância de propósito implica que deve ser levado até às últimas consequências. O que acontece é que os políticos tomam as decisões, como eu jogo bilhar… quando jogo bilhar só consigo jogar a pensar naquela jogada. Um profissional do bilhar quando pensa na jogada que vai fazer, equaciona e prepara já o terreno para as jogadas seguintes.

    Assim, os políticos tomam as decisões que levam a isto “Novo salário mínimo impôs aumentos de 5% para operários do têxtil

    Aumentos de 5% impostos numa época de crise, com as encomendas a baixar e as empresas a fechar (já em Novembro do ano passado se escrevia isto: “Indústria têxtil já perdeu 170 milhões em 2008

    A altura pode não ser a melhor, mas ao promover e incentivar o encerramento das empresas estaremos certamente a contribuir para premiar as empresas mais bem geridas e para fechar as empresas que seguem estratégias ultrapassadas “Têxtil e vestuário: Maioria continua a "trabalhar a feitio" (no JN de ontem)

    Contudo, depois, vem aquela impressão na barriga dos políticos, aquele tremer das pernas, quando percebem, só então é que percebem, as consequências das suas decisões. E, em vez de constância… começam a remendar e remendar e remendar.
    Como é que querem ter estratégia se não têm coragem de assumir o lado negativo das opções que tomam?
    No artigo do Público pode ler-se:
    “A elaboração de uma política fiscal e de encargos sociais "especial e limitada no tempo" é uma das recomendações propostas ao Governo pelo grupo de trabalho da Assembleia da República que acompanhou a Indústria Têxtil e de Vestuário (ITV). No relatório final deste organismo, aprovado por unanimidade, é apontado um período de dois a três anos, para ajudar a sustentar a competitividade do sector face aos ajustamentos de mercado.
    As preocupações manifestadas no relatório prendem-se com a necessidade de existirem políticas públicas que possam "garantir a sustentabilidade de uma indústria marcadamente exportadora", onde a qualificação e valorização salarial dos recursos humanos merece também referência. “
    Primeiro impuseram aumentos salariais de 5% quando as empresas têxteis na EU 27 conseguiram em 2008, segundo a Euratex com base em dados do Eurostat, aumentar os preços de fábrica em +1,4% no caso do têxtil e +0,1% no caso do vestuário, e tiveram menos 10,6% de encomendas de têxtil e menos 1,6% de vestuário. Ou seja, tornaram a vida mais difícil para as empresas num ambiente económico já de si difícil… e agora lançam as mãos à cabeça e propõem regimes especiais transitórios… ou seja, promovem a viciação… vão dat soro de uma forma que nada tem a ver com o negócio. Assim, não criam nenhum incentivo para melhorar o negócio, criam sim um incentivo para melhorar a lobby e a capacidade de influenciar decisões políticas futuras.

    quinta-feira, fevereiro 05, 2009

    Usarás indicadores e metas com critério e inteligência

    Parte da minha profissional é dedicada a apoiar empresas a transformarem-se na empresa do futuro, a empresa capaz de produzir os resultados futuros desejados de uma forma perfeitamente normal.
    .
    Faço-o recorrendo à seguinte metodologia. No ponto 5 desenvolvemos um balanced scorecard que se traduz num conjunto de indicadores. Depois, associamos a cada indicador um desafio de desempenho, uma meta.
    .
    Faço-o, faço-o de consciência tranquila, e tenho bons resultados. Não gosto é de perder tempo com tretas.
    .
    Contudo reconheço que nisto de usar indicadores e metas há algo de arte. Como pessoa que 'nasceu' no mundo da Qualidade, tenho sempre na mente a contradição entre o que faço e o aviso que Deming nos lançou "Eliminar as metas numéricas". Por que existe sempre o risco das metas serem o resultado de delírios da gestão, raios lançados por Zeus lá de cima do Olimpo e sem qualquer aderência à realidade.
    .
    Com Wheeler, sobretudo com o seu Understanding Variation, lido num comboio-bala entre Kioto e Tóquio, aprendi a respeitar a definição de metas para evitar estes episódios.
    .
    Assim, não abandonando a definição de objectivos (indicadores e metas) e sabendo o que pode acontecer a quem aborda o assunto de forma leviana, recomendo a leitura deste artigo "Goals Gone Wild: The Systematic Side Effects of Over-Prescribing Goal Setting" de Lisa D. Ordóñez, Maurice E. Schweitzer, Adam D. Galinsky e Max H. Bazerman.
    .

    sexta-feira, dezembro 26, 2008

    Martelar modelos "hard" para explicar a realidade

    Não há ninguém tão adepto do uso de indicadores na gestão das organizações e das pessoas como eu.
    .
    É importante pensar em resultados mensuráveis, sem eles estamos reféns dos dotes de oratória e da capacidade de alguns em endrominar mentes menos preparadas ou menos resistentes. Ou seja, sem resultados entramos facilmente no domínio da treta.
    .
    No entanto, percebo perfeitamente, aceito e partilho da mentalidade que levou a este texto:
    .
    "Se você vai dirigir um negócio competitivo hoje, precisa equilibrar os números visíveis e invisíeis. Se você gerenciar seguindo apenas sua intuição ou experiência, não será competitivo. Se gerenciar apenas com base nos números visíveis, não será competitivo. O Dr. Deming disse muitas vezes: "Aquele que dirige sua empresa apenas pelos númros visíveis logo deixará de ter uma empresa e números visíveis com os quais trabalhar." As pessoas tendem a olhar um dado visível e a trabalhar com ele, sem realmente compreenderem as suas limitações." (William Scherkenbach in "O caminho de Deming para a Qualidade e Produtividade")
    .
    É esta tendência para olhar para os dados "hard", para os dados matematizáveis, e a trabalhar única e exclusivamente com eles que vejo vezes sem conta na mente dos burocratas de Bruxelas ou dos macro-economistas que comentam a realidade.
    .
    Por exemplo, os apoios ao arranque de vinha para combater o excesso de produção de vinho: aqui, aqui e aqui.
    .
    O que os burocratas e macro-economistas não conseguem incluir nos seus modelos matemáticos são os dados "soft", é o rasgo, é o golpe de asa, é a capacidade humana para surpreender.
    .
    Os burocratas e macro-economistas, por que estão longe da realidade concreta das pessoas e organizações que operam no terreno, só conseguem modelar segundo as leis de Lanchester e equacionar guerras de confronto aberto, em que o mais fortes, os mais armados, os mais poderosos estão em vantagem e ganham sempre.
    .
    Continua

    sexta-feira, outubro 26, 2007

    Human Ingenuity

    Quando, em Agosto de 2006, escrevi este postal "Mais uma vez: o que interessa são os resultados (a eficácia), não os procedimentos " tinha consciência de algumas interpretações possíveis, tal como ficou patente num comentário recebido na altura:

    "... Mas deixe-me dizer-lhe que, concordando embora consigo em que o que importa são os resultados, nunca devemos perder de vista que os fins não justificam os meios. "

    Foi deste receio que me lembrei, ao dar de caras com esta notícia no Público de hoje "Oposição acusa PS de querer mascarar insucesso escolar", assinada por Filomena Fontes e Margarida Gomes.

    Afinal de contas, como dizia Deming, os humanos são danados para a brincadeira, quando se trata de cumprir metas.

    "When people are pressed to meet a target value there are three ways they can proceed:

    • they can work to improve the system;
    • they can distort the system;
    • or they can distort the data.

    A fenomenal história do armazém cornucópia aqui.

    quarta-feira, agosto 22, 2007

    Os humanos são muito criativos a inventar esquemas (parte II)

    Via Bloguítica, tomei conhecimento destas palavras do Presidente da República.



    "O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, alertou hoje para a necessidade de se privilegiar o rigor na produção de estatísticas, para não existirem cedências «à conveniência ou às tendências do momento»" (aqui).



    Afinal, não exagerei quando me recordei de Deming e da capacidade criativa dos humanos ainda ontem.