Mostrar mensagens com a etiqueta calçado. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta calçado. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, março 05, 2024

Canário na mina


 No JN do passado dia 2 de Março, "Ecco'Let anuncia processo de despedimento":

"A multinacional do calçado, Ecco'Let, sediada em São João de Ver, Santa Maria da Feira, prepara o despedimento de cerca de 10% dos seus trabalhadores. A informação foi avançada, na manhã de ontem, aos funcionários."

Recordar:

Pois Um click! (Janeiro de 2024). 


Anonimamente o desemprego no sector "Indústria do couro e dos produtos do couro" quase duplicou num ano. Agora está a chegar a uma empresa conhecida e do segmento alto. A APICCAPS fala no luxo, mas ... 

quinta-feira, fevereiro 22, 2024

e sinto que algo não bate certo

Pensem no que tenho escrito aqui nas últimas semanas sobre o calçado:

O sector do calçado vai encolher, e vai ter de subir ainda mais na escala de valor, ou seja, vai ter de anichar e trabalhar para segmentos de muito maior valor acrescentado, luxo mesmo talvez.

Lido no Público de 20.02, "Calçado prepara salto para competir pelo luxo em grande escala".

"Um salto. É disto que o calçado português precisa para não ficar encurralado entre dois problemas que o ameaçam: o risco de perder para a concorrência a guerra comercial pelo segmento médio; e a incapacidade de satisfazer as grandes encomendas de calçado mais caro, seja de marcas de luxo ou de calçado técnico. Sem preço e sem escala, não há saída. Mas em Estarreja estão a abrir-se portas que evitem esta "armadilha do segmento médio".[Moi ici: Olha o tema do stuck-in-the-middle]

...

Com a subida dos custos de produção, Portugal deixou de ter preço para competir com outros países, de baixos salários, que usam esse "trunfo" para oferecer preço baixo e ganhar as encomendas do segmento médio. A alternativa, espelhada no que as empresas portuguesas estão a mostrar desde domingo em Itália, é o calçado mais caro, de moda ou técnico. Mas aí coloca-se o segundo problema: falta capacidade de produção em larga escala. O que pode ser solucionado com as máquinas e o software que Portugal criou e já se encontra em teste na empresa de Estarreja. Em causa está uma resposta às grandes marcas de moda internacional que procuram países fornecedores de calçado com capacidade de entrega de grandes volumes. Um assunto crítico sempre que se pensa em Portugal, e que pode ser ilustrado com o recente desfecho anunciado pela marca francesa Veja, muito popular em todas as geografias.

...

Para não concorrer pelo preço baixo, as fábricas portuguesas terão de assegurar encomendas de gama alta, moda e luxo, ou gamas específicas como o calçado técnico. Para isso, é fundamental ter capacidade de resposta a grandes encomendas. O que, por sua vez, obriga a repensar a forma como se trabalha.

Luís Onofre, presidente da Apicapps, já o disse, na recente entrevista ao PÚBLICO: muita gente vai ter de se mentalizar de que é preciso fazer menos coisas, mas melhores. O que se pode traduzir em menos segmento médio em que o preço baixo é o factor crítico, e apostar em fazer mais para os segmentos mais exigentes.

...

Tal como uma companhia de aviões quer os aparelhos o menos tempo possível em solo, também uma fábrica de calçado quer as máquinas sempre a trabalhar. Mudar entre produtos obriga a pará-las. "Com inteligência artificial, visão artificial e robotização, será possível mudar muito rapidamente de série, reduzindo ou eventualmente eliminando até esses tempos mortos", esclarece a gestora.

Para Reinaldo Teixeira, há outra vantagem: "Os robôs que esta tecnologia vai trazer consigo não trabalham apenas oito horas, como um ser humano. O que permite pensar num segundo turno, ou até num terceiro, caso seja necessário.".""

Leio e releio o artigo e sinto que algo não bate certo... sinto a sensação de "stuck-in-the-middle", logo a começar pelo título, "luxo em grande escala". Se tem escala não é luxo. Depois "países fornecedores de calçado com capacidade de entrega de grandes volumes" versus "muita gente vai ter de se mentalizar de que é preciso fazer menos coisas, mas melhores". (Nota: parágrafo corrigido às 08h26)

Já agora a APICCAPS tem centenas de associados, será que a sua direcção já teve uma conversa franca sobre o futuro com os associados? Não creio que todos estejam a par dos dilemas do futuro, ou tenham capacidade para sobreviver no futuro. 

Agora uma pergunta séria e honesta, não sei mesmo, não estou a ser irónico, como é que uma associação lida com o facto de ter de "pick winners" entre os seus associados?  

segunda-feira, fevereiro 19, 2024

Precaução e optimismo (parte II)

Na parte I sublinhamos, acerca do aumento do preço médio do calçado português:

""Em 2023, o preço médio de venda nos mercados internacionais ascendeu a 27,70 euros (+3,45%), continuando a ser o segundo mais caro do mundo. Um aumento que, reconhece ao ECO o porta-voz da associação do setor (APICCAPS), Paulo Gonçalves, é "insuficiente face ao impacto da atualização do salário mínimo nacional e mesmo do aumento das matérias-primas", o que obriga a "acelerar a migração dos produtos para segmentos de maior valor acrescentado"."

Entretanto li "Custo do trabalho aumentou 5,3% em 2023":

"O Índice do Custo de Trabalho (ICT) aumentou 5,3% em 2023 face ao ano anterior, uma aceleração face aos 3,2% em 2022, anunciou hoje o Instituto Nacional de Estatística (INE).

...

Já o custo médio por trabalhador aumentou 7,1% em 2023 (4,4% em 2022) e o número de horas efetivamente trabalhadas por trabalhador subiu 1,8% (1,2% em 2022).

Em termos de atividade económica, o custo do trabalho na indústria subiu 5,6%, na construção 5,7% e nos serviços 5,3%, contra 5,5%, 5,8% e 4,3%, respetivamente, em 2022."

Se calhar errei nos cálculos que fiz para chegar aos 14%, se calhar é muito mais do que isso. 

Há ainda que acrescentar:

"Os custos não salariais registaram aumentos entre 6,1% nos serviços e 11,4% na construção."


Isto ilustra aquele quadrante do empobrecimento que costumo referir aqui. Considerem o aumento de custos desde 2015, sobretudo nos últimos 3 anos, e as exportações estagnadas, as vendas estagnadas. Umas empresas fecham, outras encolhem, outras empobrecem, outras conseguem bons resultados porque trabalham para nichos e outras passam a pôr etiquetas made in Portugal para algo basicamente feito fora da Europa.

sexta-feira, fevereiro 16, 2024

Precaução e optimismo

Na sequência de Outra coisa que me faz espécie e do Recordo o eu consultor versus o eu cidadão encontro um artigo do ECO, "Fábricas portuguesas perdem dez milhões de pares de sapatos.

Uma nota de precaução e uma nota de optimismo.

Vamos primeiro à precaução:
"Em 2023, o preço médio de venda nos mercados internacionais ascendeu a 27,70 euros (+3,45%), continuando a ser o segundo mais caro do mundo. Um aumento que, reconhece ao ECO o porta-voz da associação do setor (APICCAPS), Paulo Gonçalves, é "insuficiente face ao impacto da atualização do salário mínimo nacional e mesmo do aumento das matérias-primas", o que obriga a "acelerar a migração dos produtos para segmentos de maior valor acrescentado"."

Quando aqui referi o encerramento da Discoteca Amália por causa do aumento da renda era como uma ilustração do sublinhado acima. Recordar os 14% que referi há dias em Outra coisa que me faz espécie. É a isto que chamo empobrecimento por erosão, ser competitivo sem aumentar a produtividade.

Vamos à nota de optimismo. 

Isto anda tudo ligado... o final da frase citada acima:

"o que obriga a "acelerar a migração dos produtos para segmentos de maior valor acrescentado""

Sinal de que o sector continua focado no essencial. Só aqui, a mensagem aparece 5 vezes.

Outra citação:

"No último ano, enquanto as exportações de calçado encolheram 8,2%, as vendas no exterior de artigos de pele e marroquinaria cresceram 14%, para 310 milhões de euros, e nos componentes aumentaram 12,3%, para 73 milhões de euros. Valores e competências que estão a levar a associação a reforçar lógica de fileira e a encarar estes dois segmentos como "estratégicos" na afirmação da indústria nacional de calçado."

Items que teoricamente podem libertar um maior valor acrescentado bruto por trabalhador. Talvez por isso no último número de Facts & Numbers, de 2023, já se tenham acrescentado números das unidades de componentes e artigos de pele:



sexta-feira, janeiro 26, 2024

Análise do contexto, again

Trecho retirado do WSJ de ontem em "Retailers Shift Inventory Strategy".

"Retailers are reviving an old playbook to manage their inventory levels after four years of struggling to find the sweet spot of holding enough merchandise but not too much.

Merchants have worked through the excess inventory that piled up on store shelves and in warehouses over the past 18 months, and are now focusing on replenishing items rather than stocking up on goods to have on hand in case of supply-chain disruptions. The shift marks a return to the "just-in-time" inventory management strategy many companies had employed before pandemic-driven product shortages and volatile shifts in consumer demand prompted a switch to a "just-in-case" stockpiling approach.

Jamie Bragg, chief supply chain officer at Tailored Brands, said just-in-time inventory management is the goal. The Houston-based parent company of Men's Wearhouse and Jos. A. Bank worked over the past few years to get better visibility into orders that are still in production overseas, positioning it to adjust orders based on demand, he said.

...

Terry Esper, a logistics professor at Ohio State University, said companies are now better able to predict shopper demand and feel they can hold leaner inventories amid moderating spending growth and fewer supply-chain disruptions.

"Retailers have more confidence in the overall supply chain and the logistics network and the environment, and as a result, they're saying, 'Hey, I think we're at a point now where we're safe to go back to just-in-time," Esper said.

Companies typically prefer not to hold large inventories because the excess stock ties up capital, requires more space and people to manage it and runs the risk of becoming outdated as trends change, logistics experts say.

Retailers have been working to get inventories back in line with sales after bringing in too much merchandise that was no longer in demand in 2022 as consumers shifted spending from items such as home decor to office apparel and then toward travel."

Que implicações para fabricantes europeus que forneçam estes retalhistas?

  • Encomendas mais pequenas
  • Aumento da volatilidade da procura
  • Necessidade de mais flexibilidade e capacidade de resposta
  • Maiores requisitos de colaboração
  • Potencial para aumento da complexidade logística.

  • Riscos e oportunidades para os fabricantes europeus:

    Riscos:
    • Instabilidade financeira: tamanhos e frequência de encomendas flutuantes podem levar a fluxos de vendas menos previsíveis.
    • Aumento dos custos operacionais: Expedições mais pequenas e mais frequentes podem aumentar os custos de transporte e logística.
    • Desafios de produção: Adaptar os processos de produção para atender à maior variabilidade e ao imediatismo dos pedidos JIT pode ser um desafio.
    Oportunidades:
    • Parcerias mais fortes: Uma colaboração mais estreita com os retalhistas pode levar a relações mais fortes e de longo prazo.
    • Capacidade de resposta ao mercado: Os fabricantes que se adaptam de forma eficaz podem responder melhor às tendências e exigências do mercado, ganhando potencialmente uma vantagem competitiva.
    • Diversificação da base de clientes: A necessidade de mitigar o risco pode encorajar os fabricantes a diversificar a sua base de clientes e reduzir a dependência de um único retalhista.
    Riscos e oportunidades para este tipo de retalhistas

    Riscos:
    • Perturbações na cadeia de abastecimento: A dependência do JIT pode tornar os retalhistas mais vulneráveis a perturbações inesperadas na cadeia de abastecimento, o que pode levar a rupturas de stock.
    • Aumento da dependência dos fornecedores: A entrega pontual torna-se crucial, aumentando a dependência da capacidade dos fornecedores de cumprir prazos apertados.
    • Volatilidade do mercado: Mudanças rápidas na procura dos consumidores podem representar desafios na manutenção de níveis ideais de inventário.
    Oportunidades:
    • Custos de stock mais baixos: Níveis mais baixos de stock podem reduzir os custos de armazenamento e transporte.
    • Maior flexibilidade: o JIT permite que os retalhistas sejam mais ágeis na resposta às tendências do mercado e às preferências dos consumidores.
    • Melhor cash flow: Ao reduzir o excesso de stock, os retalhistas podem melhorar seu cash flow e alocar recursos de forma mais eficiente.
    Prepare-se, atenção à liquidez ou linhas de crédito para lidar com períodos de procura incerta ou mudanças rápidas no mercado, diversifique a base de clientes para não depender excessivamente de um pequeno número de grandes retalhistas, melhore a integração com os sistemas TI dos clientes.

    O resto já sabe daqui do blogue: Aumentar a flexibilidade e agilidade na produção, foco na qualidade e inovação.

    quinta-feira, janeiro 25, 2024

    Um click!

    Em Explicar o mais importante (parte I) inclui esta figura:


    Olhando para o Painel B tive um click que me fez recuar até a um livro que li em 2008 - "Value Migration" (1996) de Adrian Slywotzky. O autor definiu value migration como: 
    “Value migration is the shifting of value-creating forces from declining or outmoded business models to fresh business designs that more effectively satisfy customers’ needs and priorities.”

    O autor aplica a migração de valor a 3 tipos:

    1. a migração de valor entre indústrias ou sectores económicos
    2. a migração de valor entre empresas  
    3. a migração de valor entre áreas de uma empresa.
    Segue-se um esquema que representa o ciclo de vida típico de um sector económico, ou de uma empresa. 

    Foi deste esquema que me lembrei ao rever o tal painel B.

    Na capa do JN da última terça-feira podia ler-se "Desemprego aumentou mais a Norte e castigou setores do calçado e têxtil" no miolo lia-se:
    "Porto, Felgueiras, Guimarães e Braga são dos concelhos que espelham maior aumento do número de desempregados, revelando que é sobretudo nos territórios com mais indústria, no Norte do país, que as pessoas estão a perder o sustento. É ali que estão muitas das fábricas, nomeadamente de calçado e têxteis, dois dos setores que, segundo o Instituto de Emprego, estão a ser mais fustigados pelo desemprego: a indústria do couro lidera, seguida de perto pela fabricação de minerais não metálicos e pelo vestuário."

    Penso que uma parte desta evolução é causada por factores conjunturais - se a economia nos mercados compradores afunda, claro que a procura baixa. No entanto, a grande pergunta é: quanta desta evolução é causada por factores estruturais?

    Em conversa recente com alguns empresários do calçado julgo que a maioria pensa que isto é conjuntural. Eu, pelo contrário, julgo que existe uma corrente estrutural que não deve ser menosprezada.  

    Os fabricantes portugueses foram capazes de evoluir de sapatos a 3€ o par para sapatos a 30€ o par, para isso tiveram de mudar de mercado, deixar o mercado interno, tiveram de ter fábricas mais pequenas e mais flexíveis. À medida que os custos sobem, e o preço de venda pouco mexe, cada vez mais empresários vão sentir dificuldades em continuar a manter as suas empresas a funcionar. Alguns, poucos, conseguirão evoluir para nichos onde os preços praticados são mais altos, mas precisarão de empresas ainda mais pequenas. A imigração, tal como na agricultura intensiva no sul do país, permitirá manter por mais tempo as empresas a funcionar com mão de obra barata (recordo as bofetadas).

    Como poderá um empresário do calçado em Portugal pensar o futuro? Que diferentes vias pode seguir?

    quarta-feira, janeiro 10, 2024

    Esta pergunta é genuína, mesmo. (parte II)

    Comunico que me informaram da razão para a dificuldade de atracção referida na parte I


    Agora fica tudo mais claro. A navalha de Occam funciona mesmo, a explicação mais simples é a preferível.

    O marketing é extraordinário.


    domingo, janeiro 07, 2024

    Esta pergunta é genuína, mesmo.

     No Dinheiro Vivo de Ontem em "Luís Onofre "Ajudámos os bancos na altura da troika, é tempo dos bancos ajudarem as empresas"" sublinhei:

    "A falta de mão-de-obra ainda é um problema?

    A especializada, sim. Eu tenho um défice de quase uma dúzia de pessoas na minha empresa e não consigo arranjá-las. E para a conseguirmos especializar um trabalhador é muito complicado, as pessoas acabam por desistir e preferem ir para restauração e o turismo."

    Tão estranho... a empresa de Luís Onofre não será das mais pobres do sector e, mesmo assim, não consegue ser mais atraente que a restauração e o turismo? Por que será? 

    Esta pergunta é genuína, mesmo.

    terça-feira, novembro 14, 2023

    A possibilidade do optimismo

    Ontem, no postal "Espero que não vos tremam as pernas quando as empresas começarem a cair como tordos" (Parte III) mostrei esta tabela:
    Fiquei satisfeito com a evolução dos produtos farmacêuticos. Recordo da semana passada, Menos dor na transição, este trecho:
    "É uma boa notícia e um exemplo concreto da teoria dos Flying Geese."
    Sobre a instalação de uma empresa farmacêutica no reino do calçado.

    O calçado, o têxtil e vestuário estão em queda? Sim, mas isso terá de ser a tendência para criar o nível de produtividade desejado no futuro. 

    O que é que o JdN de ontem escolheu para abordar?

    Na capa:

    Pena que não tenha salientado o lado positivo. Em 10 anos as exportações de produtos farmacêuticos cresceram quase 270%, as de calçado cresceram 10%.


    BTW, na mesma capa, ao lado, outro título:








    quarta-feira, outubro 04, 2023

    "Os Anos do Absurdo" (parte II)

     Há dias escrevi sobre o tempo que vivemos e como pode ser apelidado de “Os anos do absurdo”.

    Por exemplo, conciliar o querer um novo aeroporto em Lisboa, quando ao mesmo tempo se está contra o consumo de combustíveis fósseis, quando ao mesmo tempo se está contra o excesso de turismo, quando ao mesmo tempo se está contra a gentrificação.

    Hoje o JdN traz um conjunto de entrevistas com responsáveis de associações empresariais. Um tema recorrente entre os vários entrevistados, e que é sintoma de mais um absurdo que os jornalistas são incapazes de questionarem, é o tema do sector que “bomba”, do sector que tem falta de trabalhadores, mas ao mesmo tempo não consegue acumular capital.

    Não há ninguém que se questione como é que a maioria das empresas num sector económico estão cheias de trabalho e, no entanto, não ganham dinheiro?

    Como é que se consegue ser competitivo

    Pelo preço ou pelo valor. Quando só se consegue ser competitivo pelo preço e não se ganha escala, porque não faz sentido, porque não é possível, o resultado garantido é o empobrecimento. O sucesso comercial não se traduz em sucesso financeiro. Assim, até se podem pagar os custos do passado, mas não se conseguem pagar os custos do futuro. 

    Costa disse que a realidade anda mais depressa que a capacidade do governo legislar. Isso fez-me lembrar os ciclos viciosos que se autocatalizam. Já aqui relacionei esta situação com o esquema Ponzi invertido, os clientes actuais são servidos à custa dos clientes futuros, até que deixa de ser possível manter o esquema.

    terça-feira, agosto 29, 2023

    Falta a parte dolorosa da transição (parte III)

    Parte I e parte II.

    O que escrevi na parte I?
    "O período 3 é falso, é rotundamente falso porque falta a parte dolorosa da transição. Falta criar as condições para os flying geese (A mudança bottom-up!The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!). É preciso deixar as empresas morrer (e como isto é dificil politicamente, os desempregados são eleitores). No entanto, o que se faz é apoiar essas empresas para que dêem o salto de produtividade ... a sério?!"

    Afinal, os apoios nem são para ajudar as empresas a darem o salto de produtividade. Ontem no JN em "Desemprego atinge os concelhos industriais" li:

    "TRABALHO Os concelhos com maior propensão industrial foram os que registaram os maiores aumentos do desemprego nos últimos 12 meses. Mais de metade dos novos desempregados estáno Norte, sobretudo onde predominam os setores do têxtil e do calçado, que se queixam de falta de encomendas. Para travar os despedimentos, o Governo prepara-se para suportar parte do salário dos trabalhadores que estão parados.

    ...

    O setor do couro teve o maior aumento do desemprego, 15,4% Superior ajulho de 2022, e há empresários do calçado que pedem medidas para evitar "despedimentos em massa" (ler texto na página seguinte). Já o têxtil e o vestuário viram o desemprego subir acima dos 12%, porque "as empresas tiveram uma diminuição acentuada da procura", assinala Mário Jorge Machado, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal. Isto deve-se à conjuntura internacional que arrefeceu os mercados europeus, o que levou a que o retalho vendesse menos do que o esperado no ano passado, gerando-se "excesso de stock" que, este ano, se repercute num travão das encomendas, acrescenta. [Moi ici: Ainda ontem à tarde na RTP 3 ouvi uma declaração do presidente da ATVP sobre o têxtil e a sustentabilidade em que, entre outras coisas, dizia que era preciso aumentar o tempo de vida do vestuário. Eu sorri e pensei no impacte desse justo objectivo na rentabilidade das empresas e no emprego têxtil]

    ...

    O JN sabe que se trata de um programa dirigido aos trabalhadores das indústrias afetadas pela quebra de encomendas, nas quais se inclui o têxtil e vestuário.

    A ideia é que o IEFP financie uma parte dos salários, desonerando as empresas que, de outra forma, teriam de recorrer ao lay-off ou despedir. A portaria que regulamenta o programa será publicada no inicio de setembro e as formações devem arrancar nesse mês. A duração prevista é até ao final do ano, mas os empresários veem vantagens em prolongá-lo a 2024. [Moi ici: Entretanto, o presidente da Associação das Indústrias de Vestuário e Confeção (ANIVEC), César Araújo, diz que apesar do desemprego as empresas não conseguem contratar]"

    Recordar Tudo vai depender do tal jogo de forças (parte VI)  onde se fala da inversão de ciclo nas exportações portuguesas.

    É o medo atávico dos governos portugueses, que não querem deixar as empresas morrer e, por isso, amarram recursos escassos a empresas zombie.

    quinta-feira, agosto 10, 2023

    Exportações - sobre o primeiro semestre de 2023

    Como referi em Inversão de ciclo até que ponto a metalomecânica está a ser, vai ser, o equivalente ao têxtil nos anos 70?

    Os animais vivos e aas preprações hortícolas continuam a sua estória de sucesso.

    Um lado que estas análises não revelam encontra-se neste artigo "Franceses e alemães ajudam a aliviar perdas das exportações têxteis em julho":
    "Em termos de grandes categorias de produtos, as exportações de matérias têxteis caíram 7% em volume e 1% em quantidade, valor enquanto nos têxteis-lar e outros artigos têxteis confecionados baixaram 9% em volume e 17% em valor. [Moi ici: Em tempos de crise o têxtil sofre logo] Já o vestuário, embora tenha vendido menos peças lá fora (-8%), conseguiu vendê-las mais caras (+9% em valor)."[Moi ici: Apesar de tudo, um bom sinal]
    Um acompanhamento pessoal, o vinho. Daqui "Exportações de vinhos portugueses sobem quase 4% para 447,6 milhões até junho":
    ""Nos primeiros seis meses do ano, as exportações totais de vinho atingiram os 447,6 milhões de euros, 158,3 milhões de litros, a um preço médio de 2,83 euros por litro",[Moi ici: Come on, que preço mixiruca é este?] indicou, em comunicado, a ViniPortugal. Em comparação com o mesmo período de 2022, verificou-se um crescimento de 3,4 milhões de litros nas exportações em volume, 16,8 milhões de euros em valor e 0,05 euros no preço médio."




    quarta-feira, julho 26, 2023

    Luxo, ambiente, massas, caça, salários e calçado

    (X) Por que é que os portugueses, genericamente falando, não compram sapatos Made in Portugal?

    (Je) - Por que são demasiado caros para a bolsa-tipo portuguesa.

    (X) Por que é que as fábricas portuguesas não produzem calçado mais barato que possa ser comprado por portugueses?

    (Je) - E depois, como se pagavam os salários e as matérias-primas?

    Para que os salários possam subir há que aumentar o valor acrescentado. Para aumentar o valor acrescentado  há que aumentar o preço médio de cada par de sapatos. Para aumentar o preço médio de cada par de sapatos há que procurar clientes que os possam pagar.

    Claro que há outra forma de aumentar o valor acrescentado: reduzir o custo unitário, praticar preços mais baixos e aumentar a quantidade produzida e vendida. Só que isso implica ter vantagem competitiva no custo e isso é incompatível num produto com muita mão de obra incorporada e situado na Europa Ocidental.

    Escrevo isto a propósito de um texto publicado no semanário Expresso no Sábado passado: "Especulação Já não há hotéis na terra da fraternidade e uma noite num dos empreendimentos de luxo pode chegar a €1650 - Zeca Afonso teria de "montar uma tenda para dormir" " em Grândola""

    Estou a lembrar-me dos anos a seguir à revolução de 74 e dos milhares de caçadores anónimos que íam caçar para o Alentejo em regime de caça livre (não havia outro e era um direito de Abril).

    Eu nunca ocuparei esses empreendimentos turísticos em Grândola, porque não tenho dinheiro para isso e porque não fui educado nesse estilo de gasto e de vida, mas não consigo deixar de pensar que talvez esse nível de preços proteja a região do turismo de massas e permita pagar melhores salários.

    sexta-feira, julho 07, 2023

    Será que a podem transformar numa oportunidade?


    Como auditor de sistemas de gestão da qualidade gostava de encontrar mais sistemas de gestão. 

    Por exemplo, auditar um sistema de gestão em que a análise de contexto transpira temas realmente importantes e não palha para alimentar auditor. 

    Ontem no FT, em "EU set to make textile industry pay for waste", encontrei um tema que ainda não vi tratado nas empresas têxteis e de calçado:
    "The EU wants the textile industry to pay for the processing of discarded clothing and footwear under new rules aimed at cutting the environmental footprint of fast-fashion brands.
    ...
    The equivalent of 12kg of clothes and footwear per EU citizen is discarded each year of which more than three-quarters is incinerated or goes to landfill, according to commission data. The consumption of clothing and footwear is expected to increase by 63 per cent from 62mn tonnes in 2019 to 102mn tonnes in 2030. European Environment Agency data suggests.
    ...
    "Fast fashion is a problem,""
    Em tempos escrevi aqui sobre os rinocerontes cinzentos. Rinocerontes cinzentos são ameaças altamente prováveis, de alto impacto e frequentemente negligenciadas. São diferentes dos cisnes negros, que são eventos imprevisíveis e inimagináveis.

    Qual o impacte desta medida nos fabricantes portugueses? Será que a podem transformar numa oportunidade?

    Um risco é algo que pode acontecer, mesmo que não façamos nada.
    Uma oportunidade só pode ser aproveitada se for trabalhada com antecedência. Nunca esqueça o que aprendi na aula de despedida de um professor: Sorte ... quando a preparação encontra a oportunidade.

    E depois, um ditado asiático: “As oportunidades multiplicam-se à medida que são aproveitadas”

    Numa empresa com um sistema de gestão um tema destes não passa despercebido, motiva reflexão, decisão e acção.

    sábado, maio 20, 2023

    Vergonha alheia…

    Vergonha alheia!

    Tanta conversa sobre marca, preço de venda, design … mas afinal corremos o risco de deslocalização quando o aumento dos salários é superior ao da produtividade.

    Wait! Em que gama de valores é que os salários têm crescido mais do que a produtividade?

    Há tempos tive a conversa sobre o salário do motorista de autocarro que sai de Lago na Nigéria para fazer o mesmo em Oslo, ou sobre o barbeiro tuga que vai para Londres fazer o mesmo. A sua produtividade física mantém-se, mas a sua produtividade efectiva aumenta drasticamente porque as comunidades em que ficam inseridos podem suportar serviços pagos a um preço muito superior.

    Como é que num mesmo país isto pode acontecer? Quando as pessoas migram de uma ocupação numa área para outra ocupação numa outra área?

    Esta conversa parece retirada do guião de Ferraz da Costa… o que não é propriamente um elogio.

    Representa uma mudança no discurso …

    Continua

    sexta-feira, maio 12, 2023

    Emprego, marketing e subida na escala de valor

    Ontem escrevi Momento, preço, valor, modelo de negócio e futuro sobre o quanto em Portugal se patina quando o tema é subir na escala de valor.

    Ontem no JdN em "Emprego de licenciados com destruição recorde" podia-se ler:

    "Num ano, desapareceram 105 mil empregos de licenciados.

    ...

    O emprego só atingiu novo máximo no primeiro trimestre - crescendo menos do que o desemprego - por ter sido puxado por sectores como o alojamento e restauração ou a construção. Em ocupações mais qualificadas, pelo contrário, o emprego recuou.

    ...

    nos dados mais detalhados, surgem assimetrias em função do nível de escolaridade. O emprego até cresce para menos qualificados, mas destaca-se a quebra de 6,1% entre quem tem o ensino superior. Apesar disso, o desemprego entre os licenciados não aumenta tanto (+2.7%). É que tanto na população ativa como na população total, os licenciados sofrem quebras próximas de 6%.

    ...

    "Aquilo que temos visto é a subida dos salários de sectores menos qualificados, pelo salário mínimo e pela própria dinámica de procura de emprego do turismo, dirigida a pessoas menos qualificadas, que tem aumentado o salário. Por outro lado, os salários reais dos qualificados com formação superior, têm vindo a cair. O prémio salarial associado à escolaridade caiu para os mais jovens de forma muito significativa nos últimos anos. E um incentivo adicional à emigração". Há, segundo economista. uma "recomposição do mercado de trabalho" Torna-se mais atractivo para imigrantes não qualificados - os salários dos não qualificados estão a subir e há oportunidades de emprego -e torna-se menos atractivo para os mais qualificados".

    No ECO o meu lado cínico foi despertado em "Calçado entra em 86 escolas para atrair jovens para as fábricas". Como é que o marketing abalroará a experiência que os jovens têm com os familiares que trabalham ou trabalharam no sector do calçado?

    "preço médio de venda dos sapatos portugueses para os mercados internacionais ascendeu a 26,40 euros em 2022. Um crescimento de 8,7% em relação ao ano anterior"

    Quanto é que aumentaram as matérias-primas e a energia? Quanto sobrou para o aumento dos salários? Quanto maior o sucesso das empresas a captarem os futuros trabalhadores para estes sectores, menos haverá para os outros sectores com mais valor acrescentado bruto.

    Recordar:

    • "Falta de mão-de-obra dificulta resposta à procura crescente da produção nacional. Salário médio no setor cresceu 40% numa década, situando-se nos 871 euros em 2019" (fonte)
    • "Há empresários preocupados com o efeito do aumento do salário mínimo na competitividade na indústria portuguesa" (fonte)
    Ainda de ontem:
    • "Key to artisanship is there being few artisans. Specifically, the existence of scarcity." (fonte)
    Parece que o ministro da Economia não percebe a pirâmide dos Flying Geese:
    "A questão dos salários é decisiva para o futuro dos trabalhadores e das empresas. Se tivermos salários baixos, a economia nunca se vai desenvolver. Esse problema está umbilicalmente ligado com algum esforço que tem vindo a ser feito para aumentar os salários", apontou Costa Silva, em resposta ao PCP, na comissão parlamentar de Economia." (fonte)


    sábado, janeiro 28, 2023

    O elefante no meio da sala

     A propósito de "Sustentabilidade made in Brasil para "calçar' os sapatos portugueses" recordei-me desta metáfora:


    A nota do final do artigo ajuda a perceber, "A jornalista viajou a convite da Assintecal, com apoio da ApexBrasil."

    Ou seja, o artigo é, de certa forma, publicidade. Nada contra, mas é interessante que não se escreva uma palavra sobre o investimento directo português na criação de fábricas de calçado no Brasil, para minorar a falta de pessoas no país, disposta a entrar no sector, e a incapacidade de acompanhar o aumento do custo da mão de obra quando se está habituado a trabalhar o segmento mais barato do mercado. 



    quarta-feira, dezembro 14, 2022

    Cuidado com os americanos

    "Esta semana, um empresário alemão andou no Vale do Ave a fazer contactos para deixar encomendas têxteis que costumava colocar na China e Turquia. "Está disposto a pagar 20% mais para reduzir a exposição numa zona que considera de risco" conta um industrial do sector, animado com a perspetiva do negócio

    ...

    Rafael Campos Pereira, vice-presidente da AIMMAP, a associação do sector metalúrgico, admite que 2022 vai fechar com exportações superiores a €20 mil milhões, 10% acima do recorde de 2021 e pelo menos quarto dos melhores registos mensais de sempre. Para isso, diz, pesam subidas nos principais mercados do sector Espanha, França e Alemanha além dos Estados Unidos, que deu um salto homólogo de 70% em oito meses

    ...

    Na fileira têxtil, as previsões apontam mais uma vez para um recorde nas exportações, depois de o terceiro trimestre fechar 19,2% acima de 2019 (€4,7 mil milhões). Em quantidade, o ganho é de apenas 6%, o que leva Mário Jorge Machado, presidente da associação setorial ATP, a sublinhar que "há valorização de produto, mas também há mão da inflação". Aliás, recorda, o ano obrigou muitas empresas a recorrerem a lay-off pela subida dos custos e por cortes nas encomendas de marcas preocupadas com a redução do consumo.

    ...

    muitas marcas americanas querem alternativas à Ásia,

    ...

    No calçado ainda ninguém assume que o recorde de €1,96 mil milhões de 2017 será batido na frente externa, [Moi ici: Mentira o presidente da APICCAPS assumiu-o no último número do Dinheiro Vivo] mas "este é seguramente um dos três melhores anos de sempre", admite Paulo Gonçalves, porta-voz da associação setorial APICCAPS,

    ...

    No caso da indústria do mobiliário, 2022 puxou os EUA do 5° para o 3º lugar no ranking dos maiores mercados, com um crescimento de 30% nas vendas, e Angola, "a beneficiar da alta do petróleo" para crescer 50%, regressou ao top 10."

    Qual o perigo do mercado norte-americano? A sua baixa sofisticação, afinal estamos a falar de clientes que estão a sair da Ásia. Recordo o que escrevi em 2018 aqui no blogue, Tanta coisa que me passa pela cabeça...:

    "Quem segue este blogue sabe que há muitos anos escrevemos e defendemos aqui que o mercado americano não pode competir com o europeu em preço unitário."

    Por exemplo, na última Monografia Estatística publicada pela APICCAPS podemos encontrar:

    • Preço médio de um par de sapatos importado pelos Estados Unidos - 11,37 USD
    • Preço médio de um par de sapatos importado por Portugal - 13,28 USD
    • Preço médio de um par de sapatos importado pela Alemanha - 17,94 USD
    • Preço médio de um par de sapatos importado por França - 18,26 USD

    Trechos retirados de "O sonho americano das exportações portuguesas" publicado no caderno de Economia do semanário Expresso do passado Sábado.

    terça-feira, dezembro 06, 2022

    Os contras!

    O livro "Niching Up: The Narrower the Market, the Bigger the Prize" de Chris Dreyer dedica o primeiro capítulo aos contras do anichar:

    "CON #1 - Smaller Market
    The first con that I think everyone is aware of is that when you niche there is a smaller market and, therefore, fewer buyers. The very definition of niche means it is limited to a specialized audience. Depending on the specific business niche, the ability to target customers or audiences can be constrained, which affects business growth.
    Simply put, serving a niche means fewer customers. [Moi ici: O que não quer dizer que se faça menos dinheiro do que a trabalhar para o mainstream, se ele ainda existir]
    ...
    CON #2 - Waste
    The second con (which may not be as immediately obvious as the first) is that it can be more difficult and cost you more money to get in front of your target audience when dealing with a niche.
    ...
    Instead, niching requires relationship building, because you can't advertise with direct marketing like you could in broader industries.
    ...
    CON #4 - Lack of Diversity
    Once you decide on a niche, there is a lack of diversity in your work. You are basically doing the same thing and talking to the same people all the time. If you don't have a passion for what you're doing, it can get monotonous.
    ...
    Con #6: Product Perfection 
    Another potential con of niching is product perfection. Competition in the marketplace requires companies to develop perfect strategies and provide better solutions. Because there are fewer prospects when you niche, there is less room for error. You must be able to provide products (or services) that are exactly in line with what the customer demands.
    ...
    Con #7: Increased Effort and Sacrifice for Buyers
    The final con on our list may be the biggest of all: when you niche, you may make things more difficult for your buyers by increasing the amount of effort and sacrifice they have to make."
    Qual a relação com Estão todos de acordo?

    Sou apologista das PMEs anicharem, mas em vez de contar só o lado solar, também acho relevante apontar para os limites do modelo, como Hoffman refere em "uma árvore má não pode dar bons frutos"

    O que estranho mais é que tenho visto sobretudo movimentos de empresas no calçado para aproveitar a saída das marcas da China, algo que implicará maiores quantidades e preços mais baixos, mas será inevitavelmente cortado pela falta de mão-de-obra ... a não ser que se importem bangladeshis. Algo que já esteve mais longe de acontecer. Se já existe em Itália há anos (recordar esta série de postais Curiosidade do dia - comunismo e Chega (parte III)) porque não há-de existir por cá? Costa também não sabia das esquadras chinesas.

    BTW, colega do Twitter mandou-me no Domingo à noite esta foto:
    Acompanhada do seguinte comentário:
    "Par de pantufas compradas há pouco numa loja dos chineses. Material absolutamente commodity, ou pelo menos é o que se espera.. Mas repara bem no "made in". Fiquei passado.."
    Voltando ao calçado, será que ainda pensam na Moldávia como o futuro abastecedor de gáspeas?

    segunda-feira, dezembro 05, 2022

    Estão todos de acordo?

    Na passada terça-feira, enquanto viajava de comboio, vi a capa do JdN do dia e li o artigo "Calçado recebe investimento de 600 milhões até 2030". Depois, saquei da aplicação de Notas do computador e escrevi de rajada:

    Subir na escala de valor, anichar. São conselhos que dou às PMEs quase desde o início deste blogue. Uma PME não pode competir pelo preço mais baixo. Assim, a subida na escala de valor permite encontrar um nicho onde uma empresa pode viver e prosperar sem precisar de ser gigante. A PME tipo não tem capital e organização, nem mentalidade para a competição séria pelo preço.

    Eu, consultor, posso explicar a uma empresa que vai ter de encolher, que vai ter de trabalhar diferentes clientes e vender com base numa vantagem competitiva diferente. Eu não lhes posso mentir e dizer que podem ter o negócio actual e, ao mesmo tempo, criar um negócio à parte para trabalhar o nicho. Não há recursos. Quando discutimos estes tópicos falamos olhos nos olhos e, muitas vezes, o empresário não arrisca. Tem medo! (E quem não tem medo? Só os irresponsáveis não têm medo de uma revolução como esta). O meu ponto neste parágrafo é que lhe é dita qual é a opção e quais as suas consequências para o modelo de negócio actual. Não há nem paninhos quentes nem ilusionismo.

    Quando vejo uma associação empresarial a publicar um documento estratégico a dizer que o futuro é o nicho do luxo fico com dúvidas. Será que é correcto uma associação trabalhar e usar os recursos da associação para privilegiar uma estratégia que só é útil para uma parte dos seus associados. Isto sem dizer olhos nos olhos quais as implicações para as empresas quanto à dimensão, mercado, proposta de valor, vantagens competitivas e clientes-alvo.

    Guardei isto e não lhe voltei a pegar, mas o texto ficou a remoer na minha mente. Porquê? Por causa das críticas que costumo fazer aos líderes de associações empresariais que exercem o cargo para defenderem o passado, não para levar o sector a abraçar o futuro. Por exemplo, em E não tem mais nada para dizer?

    Guardei porque fiquei a pensar que ser líder associativo é ser preso por ter cão ou não ter. 

    Ontem, ao procurar uma coisa aqui no blogue dei de caras com este texto de 2018, Tanta coisa que me passa pela cabeça... 

    Por que acabei por ir buscar o texto às Notas? Por causa de uns trechos que li no Sábado passado no livro "Step Up, Step Back: How to Really Deliver Strategic Change in Your Organization":

    "The first ask of leaders when kicking off a new strategy or change - and the first way in which leaders need to step up and do more is for them to clearly tell the organization what they want.

    Starting by explaining what the change should deliver and why it is needed sounds obvious, but too often gets short-changed by leaders too eager to 'just get on with it'

    ...

    Explain why it's necessary and how it fits 

    Next, leaders need to create a credible narrative for the change. A narrative understand what the future might look like. When kicking off a strategic is a story that links the past and the present and, in that context, helps us strategy why now. That's critical if people are to understand what's driving the change, leaders need to talk about why this new strategy is needed - and if they are to get a sense of urgency as to why this is now a priority for and - a context that can help them decide how to deliver it the business.

    ...

    When leaders explain a new strategy in the context of the past, it enables managers to understand how this new strategy links with what has gone before. This is important because, other than in a brand-new business, a new strategy will typically be announced a against a backdrop of existing work. By understanding how the new strategy fits with what's gone before, managers can work i.e. the out which of their existing initiatives they will be able to keep and which ones that fit with, and may help deliver, the new strategy the parts they can stop. Knowing the parts of their existing work that can be stopped is critical if bandwidth iS to be freed up, with which to give new strategy the time and focus it needs"

    Fiquei a pensar se as consequências deste "choque estratégico" foram percebidas por todos os associados. Estarão todos de acordo? Não houve discordâncias? E começo a recordar um texto de Peter Drucker que li há muitos anos sobre uma reunião numa empresa grande americana. O CEO apresentou uma proposta que ele considerava ser crítica e disruptiva. Apresentou-a e toda a gente votou a favor dela. Ele ficou incomodado e retirou a proposta dizendo. Se estão todos de acordo é porque não a perceberam. Peço que a revejam e voltamos a discuti-la na próxima reunião.