domingo, novembro 28, 2010

Act 9, 3-7

Quem analisar historicamente este blogue, à procura de temas recorrentes, pode crer que um deles é sem dúvida o esforço missionário para divulgar uma nova maneira de ver a produtividade, de abordar a competitividade, e uma esperança na capacidade das pessoas e das empresas para encontrarem uma estratégia competitiva.
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A esmagadora maioria dos macro-economistas e a totalidade dos políticos, foi educada e teve o seu modelo mental em grande parte construído num tempo que não se adapta, que não se ajusta à nova realidade.
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Daniel Amaral, na passada sexta-feira escrevia:
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"A produtividade do trabalho em Portugal é igual a 56% da média da Zona euro e a 47% da dos Estados Unidos: as diferenças são abissais e sem indícios de melhoria"
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De que falamos quando falamos de produtividade?
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Não há uma única maneira de definir a produtividade! Pessoalmente recorro a esta definição:
Nos custos estão incluídos os salários e as taxas, por exemplo. Toda a gente, a começar por mim neste blogue prega o aumento da produtividade. O aumento da produtividade é fundamental para que todos vivamos melhor.
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Como é que os políticos, como é que os macro-economistas e os engenheiros falam do aumento da produtividade?
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É preciso reduzir os custos!!!
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Houve um tempo, primeira metade da década de 90 do século passado, em que também eu pensava assim.
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Posso aumentar a produtividade baixando os custos ou aumentando a facturação. Como vivemos num mundo muito competitivo, com excesso de oferta, não posso aumentar a facturação à custa de um aumento do preço... logo, tenho de me concentrar na redução dos custos (cortando salários, trabalhando mais depressa, comprando mais barato, em suma está aqui a escola toda).
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Com Rosiello e outros aprendi o poder de alavancagem do mexer na facturação... mexendo no preço... ainda me lembro, com alguma vergonha, de quão absurda a ideia me parecia, num mundo competitivo. Com Hermann Simon aprendi a lição alemã (a das pequenas e médias empresas, que representam para aí 80% da economia e não das VW ou Siemens do mundo do preço. Hermann Simon chamou-lhes os Campeões Escondidos), como competir quando se tem uma moeda forte... mexendo no numerador da equação lá em cima... Estão a imaginar a frase a ser proferida por um alemão, quase como se repelisse um insulto "Wir sind nicht kosten-schneider".
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Mas como se consegue mexer no preço aumentando-o, num mundo competitivo?
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Sendo diferentes! Aumentando o valor reconhecido pelos clientes!
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Hoje esta filosofia já me está entranhada, já faz parte da minha pessoa e desespero com os que ainda não viram a luz (pessoas como João Duque, Vítor Bento, Ferraz da Costa, Ferreira do Amaral, Daniel Amaral, Teixeira dos Santos e o jogo do gato e do rato e tantos outros que ainda estão como os engenheiros da AEP, aumentar a produtividade = reduzir os custos).
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Agora, conciliem aumento do nível de vida dos portugueses, aumento da produtividade e aumento da competitividade... aí chega-se a um imbróglio.
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Apesar de tudo, um daqueles macro-economistas, ainda que não tenha visto a luz, fez contas. Reparem, toda aquela série de macro-economistas, até o pomposamente designado Fórum para a Competitividade, ninguém fez contas, atiram que temos de cortar salários, para reduzir os custos e aumentar a produtividade e aumentar a competitividade, sem estudos, sem contas, à boa (má) maneira dos políticos que temos. Sem contas, sem factos, sem as fotos da realidade, as discussões não passam de superficiais conversas de café onde se atiram umas bocas.
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O Semanário Sol (está a valer a pena a troca do Expresso pelo Sol, basta-me ficar com o Caderno Confidencial para achar bom o investimento. Enfim, algo bom que saiu do OE2011) publica esta semana o artigo "Corte privado teria poucos efeitos na competitividade":
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Foi o próprio ministro das Finanças a admitir que a redução de salários no sector privado poderia aumentar a competitividade do país. Mas esta tese não é consensual, mesmo entre economistas com visões tão diferentes como João Ferreira do Amaral ou Bagão Félix. Um corte salarial semelhante ao da Função Pública apenas reduziria os precos finais das exportações portuguesas em 1,65%. (Moi ici: Conclusões consistentes com as de Rosiello e outros, basta pensar qual o peso dos salários nos custos fixos?)
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João Ferreira do Amaral e João Carlos Lopes, ambos docentes no ISEG, estudaram os efeitos de uma eventual redução dos salários nas empresas exportadoras. Com base no seu perfil de custos, concluiram que os salários têm um peso de 33% no preço final dos bens exportados por Portugal. Assim, uma melhoria da competitividade externa de 10%, por exemplo, só seria possível com uma redução salarial de cerca 30% naquelas empresas. (Moi ici: Estão a ver quão risíveis são estes sobressaltos e estas conferências de imprensa? Ainda voltarei a esta conferência de imprensa em postal futuro)
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(Moi ici: Fizeram as contas, têm mérito por isso... mas ainda não viram a luz, ainda não perceberam como funciona o truque alemão e, por isso, desesperam, ora vejamos as alternativas que propõem...)
“É completamente irrealista e insuportável do ponto de vista social”, diz ao Sol João Carlos Lopes, defendendo que o reforço da competitividade do país tem de passar sobretudo por diminuir custos de contexto (Moi ici: Redução de custos) – reformando o sistema legal, por exemplo -, fomentar o empreendedorismo, melhorar a eficiência das empresas e diminuir o défice de capital humano.
O ex-ministro do Trabalho Bagão Félix considera também que a questão fundamental para Portugal ganhar competitividade “não está nos salários, mas no conjunto dos encargos salariais e de outros aspectos que afectam os custos. (Moi ici: Redução de custos)
É preciso aumentar a produtividade, afirma, mas com melhorias na educação, na formação, no sistema de Justiça, na burocracia e baixando a TSU – Taxa Social Única paga à Segurança Social (Moi ici: Treta, tudo treta, é com isso que colmatamos aquela lacuna lá em cima de a nossa produtividade ser apenas 56% da média da Zona Euro? Não me parece. Mandam-se estas bocas sem estudar, trata-se tudo ao nível do mito e fazer continhas para um caso particular e depois para outro?). Bagão diz que um corte de 1,7 pontos nesta taxa poderia ser compensado por um aumento de um ponto no IVA. (Moi ici: Impressiona-me a leviandade com que em Portugal se diz à boca cheia "Aumentem-se os impostos!")
A redução da TSU é, de resto, alvo de outra proposta feita esta semana pelo Fórum da Competitividade. Esta plataforma de empresários e gestores recuperou um estudo apresentado em Outubro, da responsabilidade de Francesco Franco, da Faculdade de Economia da Universidade Nova, que propõe a redução das contribuições empresariais, de 23,75% para 3,75%, de forma a estimular a exportação de produtos portugueses. Para compensar a queda de receitas para o Estado, teria de haver um aumento do IVA, segundo a proposta.
O Fórum quer ainda a criação de contratos-tipo flexíveis, até quatro anos, para jovens à procura do primeiro emprego, jovens no sector de exportação e desempregados de longa duração. Os contratos teriam isenção total ou parcial da contribuição das empresas para a Segurança Social. Além disso, a associação quer um novo sistema de fixação de ordenados que garanta que os salários cresçam menos do que a produtividade.” (Moi ici: O que a malta deste Fórum não sabe, nem sequer imagina é que todos os estudos mostram que a distribuição, a variabilidade, a dispersão de produtividades dentro de UM MESMO sector de actividade económica, é maior do que a distribuição de produtividades ENTRE DIFERENTES sectores de actividade económica. Nem lhes convém saber, isso representaria trabalho interno, e retirar-lhes-ia argumentos para pressionarem os governos).
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Agora percebo melhor por que Ferreira do Amaral capitulou e propõe... sair do euro. Fez as contas, segregou-se dos irresponsáveis que atiram bocas para o ar, mas não viu a luz, não tem, se calhar, suficiente contacto com as PMEs, além da educação que teve que o impede de ver a irracionalidade exuberante dos agentes económicos (e de como isso é bom para um país católico habituado a flexibilidade), o convívio com uma sociedade lisboeta ensimesmada não ajuda... O jornalista Jerome Fenoglio no Le Monde de Domingo passado "Chômage, récession, rigueur: le Portugal glisse inexorablement vers la pauvreté" cometeu o mesmo erro, ficou-se pelo ecossistema lisboeta baseado na drenagem, que é precisamente o que o FMI vai cortar rente assim que chegar. Assim, transmitiu o que ouviu:
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"A Lisbonne, chaque interlocuteur vous quitte en s’excusant de ne pas avoir aperçu quelque chose de positif à l’horizon. L’industrie ? ” L’appareil productif a été détruit par l’intégration européenne “, déplore Carvalho Da Silva, secrétaire général de la CGTP, principal syndicat du pays. Ces dernières années, le Portugal, handicapé par une faible compétitivité, a vu partir plusieurs de ses principaux exportateurs (Moi ici: Os grandes só têm sucesso com uma proposta de valor: preço. Logo, o seu negócio é reduzir custos, ou seja, salários baixos. Logo, bon voyage). Dans le nord du pays, les dernières entreprises textiles ferment sous la pression de la concurrence asiatique. (Moi ici: Por isso é que este ano as exportações cresceram 5% e para o ano vão continuar a crescer, o factor flexibilidade, no mundo da moda é fundamental) L’agriculture ? ” Elle a aussi été laminée par la marche forcée vers le tertiaire “, (Moi ici: A agricultura que não vive de subsídios e aposta nas nossas vantagens intrínsecas está bem e recomenda-se) constate Fernando Rosas, historien et ancien député du Bloc des gauches (anticapitaliste).

L’aide extérieure ? ” Pendant trente ans, l’économie du pays n’a presque jamais été portée par sa croissance, généralement faible, mais par les subsides de l’étranger,explique le sociologue Antonio Barreto. Il y a eu les sommes rapatriées par les émigrés, les subventions de l’UE, puis l’endettement des ménages et des entreprises grâce aux facilités de crédit offertes par l’euro. Tout cela est bien fini aujourd’hui. “

L’avenir du Portugal se réduit donc à une année 2011 qui s’annonce ” terrible “d’après ces observateurs. Avec un chômage qui établira des records historiques à plus de 11,5 %. (Moi ici: Esta semana em Felgueiras o dono de uma fábrica tentou demover 3 operários a não se despedirem... não gostavam do modo como o encarregado os tratava. Não, não é piada, é a consequência de uma zona Norte a prosperar com as exportações e com concelhos em pleno-emprego) Avec une récession qui pourrait plonger bien plus profondément que les – 0,2 % du produit intérieur brut (PIB) attendus. Avec surtout l’entrée en vigueur d’un budget d’une rigueur jamais vue, destiné à faire reculer le déficit public de 7,3 % du PIB cette année à 4,6 % fin 2011."
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Por uma vez, com Francisco Louçã.
Já vai longo o postal, é capaz de ser o mais longo da história deste blogue...

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