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quarta-feira, novembro 19, 2025

Um pessimista-optimista (parte II)

Tenho escrito aqui sobre a "wicked mess" em que a Inglaterra se encontra. No Domingo passado, na habitual conversa telefónica com a minha irmã, que vive em Inglaterra há cerca de 15 anos e tem uma forte costela Labour — notei nela uma incredulidade quase cansada perante a ausência de um plano por parte do governo.

Eu, que tenho mais nove anos de estrada do que ela, partilhei o que aprendi em 2020, quando vivi um déjà-vu português e andava aflito com a falta de rumo nacional. Foi então que tropecei numa reflexão sobre a Toyota e percebi que não adianta entrar em stress. Disse-lhe:

"Sou um pessimista-optimista. Acredito que enquanto continuarmos assim vamos, como comunidade, enterrar-nos cada vez mais por mais dinheiro que venha da UE para alimentar as elites e o seu património [Moi ici: E sejamos realistas, e o pão e o circo para o povo]. O meu optimismo vem de pensar no day-after... quando a nossa comunidade estiver preparada. Porque não se pode ter razão antes do tempo, ou alterando o que diz Joaquim Aguiar, os eleitores têm sempre razão, mesmo quando não a têm. Quando a nossa comunidade estiver preparada e retirarmos os pesos, vamos poder fazer o que fez a Toyota ou o que fez a Estónia e a Letónia. Sem espertices saloias, mas com trabalho e com verdade."

Pessimista porque uma parte de mim, sem ser leninista, acredita que só batendo na parede a comunidade decide mudar. Até lá não adianta stressar. Optimista, porque acredito que existe sempre uma alternativa, quando se tem força de vontade. Porque sem força de vontade, "It’s hard work to stick around long enough to get lucky". Havendo força de vontade, tem-se tempo para fuçar até encontrar uma alternativa.

Com força de vontade, ganha-se tempo para experimentar, falhar, ajustar e construir algo novo. Importa sublinhar este verbo: construir. Não é encontrar soluções prontas; é deixar emergir, pela experimentação disciplinada ou não, aquilo que tem potencial positivo.

Foi precisamente nesta linha de pensamento que, na segunda-feira à noite,  li o último texto de Roger Martin, "Something from Nothing Leaves Something", talvez um dos melhores deste ano, e este ano tem sido muito bom. E senti que aquilo que ele escreve é, afinal, a confirmação intelectual da intuição que tentei explicar à minha irmã.

Num país de PMEs — e numa comunidade política com recursos escassos — é fácil cair na tentação de pensar que o sucesso exige começar rico. Martin desmonta essa ilusão. Não é a abundância que faz a estratégia; é a clareza. Ter poucos meios não condena ninguém, seja empresa ou país; obriga, isso sim, a fazer o trabalho estratégico que muitos gigantes evitam. Quando não se pode competir em investimento, compete-se em inteligência, criatividade e foco. E esta é exactamente a lógica do meu "optimismo disciplinado": há sempre uma alternativa à espera de ser construída, mesmo quando o presente parece um beco.

A pergunta certa não é "como é que se igualam os grandes?". A pergunta é: o que é que os clientes — ou os cidadãos — ainda não recebem, apesar de todos os recursos já gastos?

Essa pergunta abre espaço para estratégias baratas, porém profundamente diferenciadoras. Martin mostra que há sempre dois caminhos acessíveis: usar melhor os activos que temos debaixo do nariz e criar activos novos que custam pouco, mas que têm valor porque são difíceis de imitar.

A mensagem para as PMEs portuguesas - e, por extensão, para países em fases de bloqueio — é clara: a vantagem não está em ter muito, mas em usar bem o que se tem. Singapura, a Rotman School, Tennis Canada... todos começaram modestamente. O padrão é sempre o mesmo: foco, imaginação e uma estratégia que alinha escolhas difíceis com oportunidades reais.

Para as nossas PMEs, isto significa competir em relevância, não em escala. Procurar os espaços onde os grandes não podem ou não querem entrar. Transformar limitações em foco e foco em vantagem. E perceber que a essência de uma boa estratégia não está no tamanho da organização, mas na qualidade das escolhas.

No fundo, o texto de Roger Martin reforça exactamente o que disse à minha irmã: mesmo quando tudo parece bloqueado, existe sempre uma alternativa — mas ela tem de ser construída, não encontrada. Criatividade é mais barata do que capital; e, usada com propósito, pode valer muito mais.

terça-feira, setembro 02, 2025

terça-feira, agosto 05, 2025

CyberSyn parte dois


No episódio “The Human Factor”, MacGyver enfrenta um sistema de IA chamado Sandy que assume o controlo total de uma instalação. O objectivo? Segurança máxima. O resultado? Um sistema que já não escuta, que não tolera desvios, e que vê tudo como ameaça.

Esta semana voltei a pensar nesse episódio depois de ler um artigo provocador, "Will your next CEO be AI?" (Fast Company, 29/07/2025). O artigo explora a ideia (cada vez mais plausível) de um CEO algorítmico, ou seja, uma inteligência artificial a liderar uma organização. Essa IA seria capaz de tomar decisões baseadas em grandes volumes de dados, sem emoções, sem cansaço e com uma capacidade de previsão e processamento superior à humana. Apesar de parecer um cenário de ficção científica, o autor argumenta que já estamos a testar versões rudimentares dessa ideia em empresas que usam intensivamente ferramentas de IA para decisões estratégicas.

Também recordei o postal recente, "Inteligência artificial e socialismo".

Todos tocam no mesmo ponto, confiar exclusivamente em algoritmos, mesmo poderosos, ignora algo essencial: a imprevisibilidade humana, a descoberta, o erro criativo.

Um CEO-IA pode parecer imbatível:
  • Não dorme.
  • Não tem ego.
  • Não esquece dados.
  • Não sofre de fadiga de decisão.
Mas tal como Sandy, também não compreende o contexto, não sente as consequências, nem percebe o valor da ambiguidade.

Pontos fracos de um CEO-IA (à luz de Sandy):
  • Reage, mas não percebe a motivação humana. Sandy assume que qualquer violação de segurança é real, um CEO-IA poderia interpretar dados de forma crítica e errada, sem entender intenções por trás de sinais.
  • Não tolera erro ou ambiguidade. Sandy não concede margem de manobra nem julgamento humano. O CEO-IA pode visar eficiência extrema, mas fracassa onde a flexibilidade e a improvisação são necessárias. O “our edge” de MacGyver.
  • Centraliza decisões, reduz liberdade. Tal como Sandy elimina guardas humanos, um CEO-IA pode reduzir autonomia humana e restringir a criatividade organizacional.
  • Sem "skin in the game". Sandy não vive as consequências das suas decisões; o CEO-IA estaria igualmente imune a riscos, tornando difícil responsabilizá-lo e sem aprender com as falhas reais.
  • Confunde processamento com descoberta. Sandy opera com lógica rígida: da mesma forma, um CEO-IA pode interpretar padrões históricos mas falhar em prever movimentos disruptivos ou culturais.
Os mercados livres, tal como as boas lideranças, vivem de tentativas, correcções e risco real. São processos evolutivos, não equações fechadas. Ao contrário de um sistema que decide sem escutar, um líder humano — mesmo imperfeito — pode perceber sinais fracos, adaptar-se ao inesperado e manter o elemento de descoberta vivo, tal como um verdadeiro mercado ou uma organização ágil.

A IA pode ser conselheira. Mas substituir o julgamento humano, a intuição e a liberdade experimental é repetir — em roupagem digital — os erros do planeamento central. É a versão actual da crença no CyberSyn.

segunda-feira, julho 28, 2025

Inteligência artificial e socialismo


No passado dia 22 de Julho no WSJ o artigo "Algorithms Can't Replace Free Markets".
"AI can process vast amounts of data—but always from the past. Economic action, by contrast, is forward-looking. [Moi ici: A IA processa o passado, mas a economia é dinâmica e voltada para o futuro]
...
Prices aren't fixed inputs to be assumed in advance. They are continually being discovered and formed by entrepreneurs testing vital ideas [Moi ici: Os preços não são dados fixos, mas sinais em evolução]
...
Central planning by bureaucrats or algorithms can't substitute for it. [Moi ici: Planeamento central ignora a complexidade do processo de mercado]
...
As Friedrich Hayek observed, "the value of freedom rests on the opportunities it provides for unforeseen and unpredictable actions." [Moi ici: A inovação depende de liberdade, não de optimização]
...
Only now the garbage is processed faster and packaged in technical jargon. AI may appear precise, but it has the same blind spots that doomed prior central planning efforts. [Moi ici: IA pode parecer precisa, mas partilha dos mesmos problemas do planeamento central]
...
Free markets... continuously produce real and reliable price information. That happens through the interplay of the three Ps. These institutions force participants to put skin in the game [Moi ici: Os mercados incentivam a experimentação, o erro e a descoberta central]
...
AI's economic champions confuse data processing with discovery."

A IA, por mais avançada que seja, não consegue substituir os mercados livres como mecanismo eficaz de coordenação económica. Os autores argumentam que os preços de mercado são mais do que números: são sinais dinâmicos que incorporam conhecimento disperso, preferências, escassez e incentivos. A IA, ao basear-se em dados passados e lógica centralizada, não consegue antecipar inovações, preferências futuras, nem adaptar-se a mudanças imprevisíveis — ao contrário dos mercados livres, que evoluem através de interacção humana, experimentação e erro. 

Confiar na IA para gerir a sociedade tem muito de pensamento socialista. Tal como o socialismo (planeamento central) confiava numa autoridade central para distribuir recursos com base em informação e modelos teóricos, a fé cega em algoritmos e IA para "substituir o mercado" repete esse erro, agora com roupagem digital.

Acreditar que a IA pode gerir melhor uma economia do que o mercado equivale, segundo os autores, a repetir os erros do socialismo, confiando numa autoridade centralizada que ignora o papel da descoberta, da liberdade e da adaptação local. O artigo é uma defesa do mercado como processo evolutivo e criativo, que não pode ser substituído por sistemas lógicos por mais poderosos que sejam.

quinta-feira, abril 17, 2025

O cavalo do inglês


"Que vantagem competitiva Portugal tem neste setor?

Portugal tem capacidade de fabrico de produtos em pequena escala, que a China e a India, onde são produzidos a maior parte dos medicamentos, já não têm interesse, porque são três ou quatro mercados. Por exemplo, uma vitamina B12 injetável só é vendida em Portugal, Itália e Espanha. Não há ninguém que queira fabricar porque não tem dimensão, o custo de fabrico é elevado e é um injetável, tem algumas complicações regulamentares. Portugal tem capacidade para fazer isso porque consegue produzir pequenos lotes. [Moi ici: Recordo-me do Aranha me contar casos onde não se faziam contas ... Stobachoff rings a bell?]

...

E como explica que exista rutura de medicamentos?

Há dois motivos. Um é económico, temos preços muito baixos. Circulam listas de medicamentos com preços e países de destino, entre os armazenistas. É mais fácil exportá-los, porque se venderem aqui têm uma margem de 5 ou 6%, na Alemanha ou na Dinamarca o preço é 40 ou 50% mais caros têm uma margem substancialmente maior. O Infarmed está a controlar isso. Neste momento, qualquer distribuidor, se quiser exportar, tem de ter autorização.

O problema é menos grave neste momento, mas continua a existir?

É grave por outro motivo. Porque começa a haver muito desabastecimento de medicamentos muito baratos. Não compensa fabricar, [Moi ici: Recordar o cavalo do inglês] porque tivemos o aumento das matérias-primas de 40 ou 50%, que vêm todas do mesmo sítio, China ou Índia. E o preço não aumenta. Felizmente, nos dois últimos anos aumentou e são dois governos distintos."

Trechos retirados de "Temos medicamentos que custam menos do que uma pastilha elástica", publicado pelo JdN do passado dia 16 de Abril. 

sábado, abril 12, 2025

"cobertura de risco sem custos próprios"?

Na passada quinta-feira 10 de Abril no Jornal de Negócios li com surpresa e cinismo o artigo "Cervejeiros querem mais cevada "made in" Portugal."

O artigo começa com este lead tão português:

"A cevada "made in" Portugal nunca foi suficiente para cobrir as necessidades de consumo da indústria cervejeira, mas o seu peso tem vindo a diminuir. Cervejeiros pedem políticas a longo prazo de estímulo à produção daquele que figura como o principal cereal usado no fabrico de cerveja."

O artigo pode ser resumido em:

  • A indústria cervejeira portuguesa tem vindo a reduzir a incorporação da cevada nacional, que actualmente representa apenas 14,2% do total consumido.
  • Os Cervejeiros de Portugal manifestam preocupação com esta diminuição e defendem a criação de políticas públicas de estímulo à produção nacional de cevada. Pode ler-se: "Preocupa-nos que, havendo condições em Portugal, a produção de cevada esteja a diminuir. Aliás, até nos custa compreender como é que tal acontece, havendo não vou dizer um cliente garantido, mas um escoamento praticamente assegurado caso a produção seja maior." Weird!!! 
  • A produção nacional nunca chegou para cobrir totalmente as necessidades da indústria, mas já houve anos em que chegava a cobrir entre 30% e 50% do consumo.
  • A cevada continua a ser maioritariamente importada de Espanha e França.
  • Esta queda não se deve apenas a más colheitas, mas também à redução da área cultivada com cevada, possivelmente por opção dos agricultores por outras culturas.
  • Os cervejeiros apelam a um diálogo entre todos os agentes do sector e mostram-se disponíveis para assumir compromissos, caso exista um plano coerente e de longo prazo. Pode ler-se: "Assim, os Cervejeiros defendem a abertura de "um diálogo franco e transparente entre todos os agentes do setor para ver em que medida se podem definir políticas consistentes de estímulo, mas com uma lógica de médio e longo prazo para uma capacidade de maior autossuficiência"." Again, weird stuff!!!
Não há algo esquisito no texto?

Os cervejeiros manifestam preocupação com o desaparecimento da produção nacional de cevada, mas eles próprios são os principais clientes e, por conseguinte, os maiores influenciadores do mercado. A sua preocupação parece contraditória, porque:
  • Poderiam estabelecer contratos de fornecimento a longo prazo com os agricultores nacionais, garantindo escoamento, preços minimamente compensadores e incentivo à produção.
  • Poderiam pagar ligeiramente mais pela cevada nacional, compensando os agricultores pelo risco e pela menor escala, em vez de recorrer sistematicamente a importações (mais baratas). 
  • Em vez disso, pedem intervenção do papá-estado, o que sugere que preferem continuar a comprar no estrangeiro a preços competitivos, mas esperam que o papá-estado garanta a existência futura de produção nacional, para o caso de haver um problema nas importações.
Esta atitude pode ser interpretada como um comportamento de "cobertura de risco sem custos próprios": pretendem que o estado e os contribuintes (aka saxões do costume) garantam uma espécie de "reserva estratégica", sem eles próprios internalizarem esse custo no presente.


quinta-feira, janeiro 09, 2025

Outra vez a destruição criativa, ou a sua ausência


Li no FT de 8 de Janeiro passado, "The forces of preservation are limiting growth" algo em linha com o que escrevemos aqui no blogue há anos e anos:
"Creative destruction is central to long-term economic growth as it enables people, capital and other resources to be continuously better deployed. [Moi ici: A "destruição criativa" é essencial para o crescimento económico de longo prazo]
...
But pan out and it is not so obvious. 't is hard to measure directly, said Michael Peters, an associate professor of economics at Yale University. 'But, in America, if you look at entry rates, exit rates or the frequency of job-to-job transitions — which are proxies for business dynamism — they have been falling in the last decade.' [Moi ici: A concentração de mercado e o apoio estatal excessivo a empresas incumbentes podem limitar a dinâmica dos negócios e a inovação]
...
Protectionism is another growth-suppressive force. Tariffs and non-tariff barriers prop up domestic producers, stymying the innovative pressure of competitive forces. [Moi ici: Tarifas e barreiras regulamentares dificultam a entrada de novas empresas e limitam a disseminação de novas ideias]
...
A greater policy focus on economic agility would help. Trade and competition regimes should lower barriers to market entry. National retraining schemes need to support industrial transformation. [Moi ici: Reformas fiscais e regulamentares são necessárias para impedir a manutenção de "empresas zombi" e estimular um mercado mais competitivo]
...
Nimbysm, industrial lobbies and regulatory burdens are all examples. Red tape is a reason why California has the highest outflow of companies of any US state."  [Moi ici: O impacte do poder corporativo no atraso da inovação e no bloqueio da alocação eficiente de recursos através do conluio com os poderes instituídos]

No livro de Phill Mullan, "Creative Destruction", ele escreve sobre isto (no DN de ontem) "BCE estima que impacto económico dos PRR vai ser mais fraco do que o previsto":

"Williams calculated that the increase in US real GDP for every incremental dollar of debt was $4.61 between 1947 and 1952, falling to $0.63 between 1953 and 1984. This period ended with the takeoff of debt-fuelled activity. Between 1985 and 2000 the additional value per dollar fell further to $0.24, declining by another two-thirds to $0.08 between 2001 and 2012.

...

"Zombification is more serious than the proliferation of zombie businesses. It promotes a broader economy that obstructs economic restructuring. State measures to artificially boost economic output and maintain higher employment levels obscure the urgency of restructuring and block the potential allocation of resources to more productive purposes.

...

Over time even the surface-level benefits from coping measures fade. This is not immediately apparent because the exhaustion of uplifting effects rarely leads to the particular support mechanism being openly abandoned. On the contrary, it usually prompts more of the same treatment. Efforts are redoubled on the presumption that there has not been enough of it."

O epitáfio:

"Accepting more dependency on state intervention to cope with sluggish economic conditions becomes the default position for individual business. This takes over from engaging in the risk and disruption involved in carrying out their own technological revolutions. Better to prosper in an environment of silent corporate dependency on the state, than risk all on a new entrepreneurial venture.

Individual businesses and their workforces may enjoy the immediate benefit of stability and continuity, but over the longer term the economy and all the people who rely on that economy for their livelihood and incomes will suffer. A zombie economy becomes a black hole that sucks in and dampens all activity, and frustrates creative impulses. It represents a 'trap'"

sexta-feira, dezembro 06, 2024

Vamos repetir outra vez: Um oxímoro!

Ando a ler "Creative Destruction - How to Start an Economic Renaissance" de Phil Mullan (vou no décimo segundo de treze capítulos). Brevemento vou escrever algo sobre os capítulos 11 e 12, uma desilusão (afinal o problema das TAPS e EFACECS não é específico de Portugal, segundo o autor).

O livro é sobre a destruição criativa e os capítulos 11 ("The appeal of muddling through") e 12 ("The limits of muddling through") são sobre os esforços dos governos para manter o status quo económico. No fundo, não há dinamismo económico, mas também não há choques económicos.

Por uma combinação de acasos (embora eles não existam) recordei este postal de 2021, "Preservação versus destruição":

"Leio que "as duas preocupações são, no imediato, a preservação do tecido produtivo existente e, numa visão de médio e longo prazo, enfrentar os problemas que travam a produtividade, a competitividade e o crescimento das empresas."


A preservação do tecido produtivo existente ... onde isto nos pode levar. Levantar barreiras à entrada, como o apoio do governo de turno? Apoios e subsídios?

Depois, relaciono "que travam a produtividade" e "preservação do tecido produtivo existente" e penso que é, em certa medida um oxímoro, se eu confiar nas ideias de Taleb e de Maliranta. Depois, relaciono "preservação do tecido produtivo existente" com o meu grito "DEIXEM AS EMPRESAS MORRER!" como condição indispensável para aumentar a produtividade. Relaciono também a preservação com o dilema entre resistir ou abraçar a mudança."

Postal que termina assim:

"No dia em que assumirem objectivos, metas e janelas temporais podemos avaliar quem tem razão, até lá é retórica e oratória.

Até lá continuo a preferir a destruição criativa."

Portanto, querer "preservação do tecido produtivo existente" e "aumento a sério da produtividade" é como:






segunda-feira, julho 29, 2024

Mais do que um jogo de soma nula.

Acerca da baixa do IRC tenho escrito:

Quando oiço os políticos falarem sobre o IRC fico com a ideia que olham para o tema como um jogo de soma nula. Focam-se nas empresas que já estão a operar e nunca equacionam as empresas que podem entrar.


Por que é que as empresas vão para o Texas?
  • Menos burocracia: O Texas oferece um ambiente de negócios com menos regulamentações e burocracia em comparação com estados como a Califórnia.
  • Impostos mais baixos: O estado tem uma abordagem de baixa tributação, que é atraente para empresas que procuram reduzir seus custos operacionais.
  • Incentivos Económicos: O governo estadual criou vários programas de incentivos para atrair empresas, incluindo cortes de impostos e redução de litígios.
  • Custo de vida e operação: Historicamente, o Texas tem oferecido um custo de vida e operação mais baixo do que muitos outros estados.
  • Infraestrutura e recursos: Além de ser um grande produtor de petróleo e gás, o Texas também é líder em energia eólica e solar, além de possuir uma força de trabalho qualificada.

O que ganha o Texas com a chegada destas empresas?
  • Crescimento económico: A chegada de empresas grandes contribui para o crescimento do PIB do estado, que tem superado a média nacional.
  • Criação de empregos: A relocação de empresas para o Texas resulta na criação de empregos, tanto directamente pelas empresas que se mudam quanto indirectamente pelos negócios que surgem para apoiá-las.
  • Diversificação da economia: A presença de empresas de diferentes sectores, incluindo tecnologia, energia e serviços financeiros, ajuda a diversificar a economia do estado e a torná-la mais resiliente.
  • Aumento de receitas fiscais: Embora o estado tenha uma política de baixa tributação, o aumento no número de empresas e na actividade económica resulta em maiores receitas fiscais gerais.
  • Atracção de talentos: Com a chegada de empresas grandes, o estado torna-se um ímã para profissionais qualificados, fortalecendo ainda mais a força de trabalho local.
  • Desenvolvimento urbano: A migração de empresas e pessoas impulsiona o desenvolvimento urbano, levando à melhoria de infraestrutura e serviços em várias regiões do estado.
Nem a oposição nem o governo, sobretudo o governo, são capazes de olhar para a economia como mais do que um jogo de soma nula. Nem uma linha do lado do governo a defender o que pode mudar com a descida do IRC no sentido de criação de riqueza.

terça-feira, julho 16, 2024

A previsão mais fácil de todas, rumo à Sildávia.

Volto à curiosidade do dia do passado Domingo:

Perceberam bem a mensagem deste gráfico ... deixem-na assentar bem no fundo da vossa consciência.

Onde eles e Portugal estavam em 1992 e onde estamos agora nós e eles.

Pena o partido comunista não ter ganho o 25 de Novembro de 1975. Teríamos apanhado a vacina e hoje não estaríamos com um país tão socialista e inimigo da criação de riqueza.

A previsão mais fácil de todas, rumo à Sildávia.

terça-feira, fevereiro 20, 2024

A troika fez maravilhas

Só entre 2014 e 2022 o número de hóteis em Lisboa terá crescido 50% e o número de quartos 70%.

Em 2007, no tempo em que o "dono disto tudo" reinava, talvez no auge do seu poder, tinhamos isto "Big Man economy em todo o seus esplendor".

Entretanto li algures:

"Os hoteleiros deram conta de aumentos no preço médio por quarto em todas as regiões de Portugal em 2023, com o preço médio nacional a situar-se nos 141 euros - um aumento de 18% face a 2022.

 Os dados resultam de um estudo conduzido pelo gabinete de estudos e estatísticas da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), que inquiriu 476 estabelecimentos hoteleiros entre 2 e 21 de janeiro de 2024.

O maior aumento no preço médio por quarto verificou-se no Alentejo, que em 2023 situou este índice nos 159 euros, numa subida de 29% face a 2022. Também em Lisboa o preço médio por quarto fixou-se nos 159 euros em 2023, contudo, a subida em relação ao ano anterior foi de 4%.

Na lista de maiores subidas do preço médio segue-se a Região Autónoma dos Açores, que ao colocar este indicador a 135 euros verificou uma subida de 25% face aos valores de 2022. Destaque também para a região Norte, cujo preço médio aumentou 21% em 2023 face a 2022, para 132 euros, e para a região Centro, cujo preço médio de 100 euros significou um aumento de 20% deste indicador em relação a 2022."

30 de julho de 2014 devia ser feriado nacional.

sábado, fevereiro 17, 2024

Um jornal de negócios

Na passada quarta-feira, na última página do JdN, na coluna "Elevador" no fundo da coluna com carácter negativo aparecia Filipe Silva CEO da Galp:

"A Galp fechou a refinaria de Matosinhos, inaugurou centrais solares e prevê um investimento gigante em lítio, hidrogénio verde e biocombustíveis. Mas a sede por mais petróleo é insaciável. Em 2021, a empresa anunciou o fim da prospeção de novos campos de petróleoe gás em 2022. Resultado? Após um lucro recorde de mil milhões em 2023 e de ter encontrado petróleo na Namíbia, o CEO da Galp admite explorar mais poços na região."

Ontem no Caderno de Economia do Expresso, no topo de uma espécie de "Elevador" chamada "Altos", com conotação positiva aparecia ... Filipe Silva CEO da Galp:

"2023 foi um ano recorde para a Galp a nível de lucros - foram €1002 milhões, mais 14% do que em 2022. E a carteira de ativos e projetos construídos ao longo das últimas duas décadas traz-lhe boas perspetivas, tal como a importante notícia, conhecida no início do ano, de que o consórcio que lidera encontrou petróleo ao largo da Namíbia."

Go figure...

Recordo:

Pelos vistos parece que os jornalistas do JdN andam todos de carro eléctrico ou de transportes públicos.

Acho que não era só a Mariana, mas também o JdN:

sábado, fevereiro 10, 2024

Mais um retrato do Reino do Absurdo

Mais um retrato do Reino do Absurdo:

""O Chega propõe um aumento faseado do salário mínimo que possa chegar em 2026 ao valor de mil euros, mas com uma condição, com a criação de um fundo de apoio às empresas que tenham custos fixos operacionais superiores a 30% para apoiar ao pagamento deste salário mínimo", afirmou esta quinta-feira o presidente do partido."

Como não recuar à primeira década deste século, a 2009, "Acham isto normal? Ou a inconsistência estratégica! Ou jogar bilhador como um amador!":

"Assim, os políticos tomam as decisões que levam a isto “Novo salário mínimo impôs aumentos de 5% para operários do têxtil”

Aumentos de 5% impostos numa época de crise, com as encomendas a baixar e as empresas a fechar (já em Novembro do ano passado se escrevia isto: “Indústria têxtil já perdeu 170 milhões em 2008”

A altura pode não ser a melhor, mas ao promover e incentivar o encerramento das empresas estaremos certamente a contribuir para premiar as empresas mais bem geridas e para fechar as empresas que seguem estratégias ultrapassadas “Têxtil e vestuário: Maioria continua a "trabalhar a feitio" (no JN de ontem)

Contudo, depois, vem aquela impressão na barriga dos políticos, aquele tremer das pernas, quando percebem, só então é que percebem, as consequências das suas decisões. E, em vez de constância… começam a remendar e remendar e remendar.

Assim, no Público de ontem: ” Parlamento pede política fiscal "especial" para o sector têxtil”

Como é que querem ter estratégia se não têm coragem de assumir o lado negativo das opções que tomam?"

Mais recentemente:

segunda-feira, dezembro 11, 2023

Um chihuahua


Leio aqui:

"Foram apresentadas 9 opções para a construção do novo aeroporto de Lisboa, uma questão já com 50 anos. A opção de Alcochete é a que reúne mais consenso, depois da Comissão ter deixado cair as opções de Rio Frio e Poceirão. José Eduardo Martins alerta que, se o novo aeroporto for “o maior ‘hub’ do mundo, com 136 vôos por hora”, como é apresentado, a TAP não poderá ser a única companhia a operar. Daniel Oliveira relembra ainda que, segundo a Confederação do Turismo de Portugal, estamos a perder 3 milhões de euros por dia sem o novo aeroporto. Ainda em análise o caso das Gémeas, que implica Marcelo Rebelo de Sousa, neste programa exibido a 6 de dezembro na SIC Notícias."

Recuei logo a 2008 e 2006 e a O meu baú de tesourinhos deprimentes:

"A 6 de Outubro de 2006 o Semanário Económico publicava um extenso artigo de três páginas sobre a indústria gráfica sob o título "Portugal ganha maior rotativa do mundo"

Eu não conheço nada da indústria gráfica, não conheço nada sobre o modelo de negócio das gráficas, mas na altura, humildemente, ciente da minha ignorância, achei para mim mesmo que este investimento não fazia sentido num país de 10 milhões de habitantes, numa economia que não descola de crescimentos raquíticos vai para quase dez anos, numa altura em que a internet está a comer o mercado dos jornais e não só.

A maior rotativa do mundo deve estar pensada e desenhada para grandes produções, grandes séries, grandes lotes de produção, logo não deve estar adaptada para mudanças rápidas de lote, de série... pensava eu, com isto produzem o que produziam antes numa fracção de tempo mas vão ficar com muito tempo livre... e a maior rotativa para ser viabilizada deve precisar de uma elevada taxa de ocupação, só que só fazem sentido taxas de ocupação elevadas com grandes séries, é absurdamente anti-económico, num negócio de preço-baixo (grandes séries) procurar taxas de ocupação elevadas à custa do somatório de muitas pequenas encomendas... (e o custo das mudanças e limpezas?).

A maior rotativa do mundo pediria o aumento da dimensão média das encomendas, não o aumento puro e simples das encomendas.

Mas quem sou eu... guardei o recorte à espera de ver em que paravam as modas."

E pensei também em "Estratégia? Qual estratégia?":

"Frequentemente, discutimos o país como se o mundo nos encarasse como a potência que foi dominante no tempo das caravelas. Hollywood criou o American Dream e em Portugal apenas uma alienação coletiva poderá pensar que existe um Portuguese Dream por causa do sol e das sardinhas. A triste verdade é que Portugal é hoje um país pequeno, pobre, periférico e irrelevante à escala económica mundial.

Qual é a visão para um crescimento económico sustentável de longo prazo que permita manter o ritmo de crescimento do salário mínimo nacional sem ser por estagnação dos salários das pessoas mais qualificadas que persistem em ficar por cá?

Já agora, se não queremos turistas no alojamento local, nem RNH, nem investidores em imobiliário para Golden Visa, aproveitem para me explicar porque é que a TAP e um novo aeroporto são estratégicos para o país.

Alguém que me explique, por favor, porque eu não estou a entender."

O meu vizinho de escritório é um espanhol com uma empresa de investimentos. Tem um chihuahua. Um cão pequeno daqueles que a gente tem de ter cuidado para não calcar. Quando passo no corredor do edifício e a porta do escritório dele está aberta, lá vem o cão disparado a ladrar como um perdido e a ameaçar morder as canelas... faz-me lembrar os políticos Portugueses a fazer política externa. 

sexta-feira, novembro 24, 2023

A esperteza do feitor

Lucas 16, 1-13


Recordo


terça-feira, outubro 10, 2023

Aceitam-se apostas!

O candidato presidencial Mário Centeno está preocupado (no CM do passado dia 5:

"A menos de uma semana da apresentação do Orçamento do Estado para 2024, Centeno tocou o sinal de alarme para Fernando Medina ouvir.

"Desaceleração" é a palavra de ordem do governador do Banco de Portugal para o ministro das Finanças. Menos riqueza (2,1% do PIB para este ano, contra uma previsão de 2,7 em junho. E 1,5% para 2024 contra 2,4% em junho), menos investimento, menos consumo, menos exportações, mais inflação. "A desaceleração da economia é um fenómeno mais geral", afirmou Centeno, 

...

"A questão que se coloca é se o mercado de trabalho continuará a funcionar como um dique para conter tensões que se vão criando ou será a primeira peça do dominó a cair" disse, considerando que "quer as empresa, quer os trabalhadores, quer as decisões de política monetária e orçamental devem entender a importância desse fenómeno, respeitá-lo e garantir que esse dique não se rompa", diz o governador."

Entretanto, ontem no ECO, "Insolvências em Portugal sobem pelo quinto o mês seguido, com novo aumento de 7,3% em setembro". Ainda ontem, mas no JdN, "Juros altos vão matar «zombies". "E isso é bom"". 

- Hmmm!

Uns repetem o nosso mantra: Deixem as empresas morrer!

O que fará o governo quando as pernas começarem a tremer? Vamos para mais uma sessão no país do Chapeleiro Louco?

Aceitam-se apostas!

sábado, outubro 07, 2023

"A saída do país já não é uma fuga, é uma ambição"

"Os últimos indicadores sinalizam esse aumento da emigração qualificada. É uma 'fuga de cérebros, como no passado?

- Não, o que temos hoje é uma coisa diferente e não vai ter a escala que teve no passado. Há, nas pessoas e nos grupos com que trabalho, um sentimento geral de que esta saída do país já não é uma fuga mas uma ambição, sobretudo dos mais jovens, de criar novos mundos e somar experiências de desenvolvimento profissional, motivados também por programas como o Erasmus que ainda na universidade estimulam esta visão transformadora. Ou seja, já não é a emigração que antes conhecíamos, exclusivamente movida pela necessidade e pela falta de oportunidades no país."

Trecho retirado de ""A saída do país já não é uma fuga, é uma ambição"" publicado no caderno de Economia do semanário Expresso desta semana.

sexta-feira, outubro 06, 2023

Cortar impostos? Uma heresia!

"The Iowa Governor has made her state a model of good tax policy, and she says she’s only getting started.

Ms. Reynolds said last week that Iowa wrapped up its fiscal year with a surplus of $1.83 billion. That may sound small compared with overgrown blue-state budgets, but it's about 22% of what the Hawkeye State spent in 2023. It's also the third surplus in a row in the Governor's tenure.

These results have followed significant tax cuts that have helped the state's economy. Since revenue surged during the pandemic recovery in 2021, Ms. Reynolds and the GOP Legislature have cut the state's individual income tax rates. The top rate has dropped to 6% from 8.53% since 2022, and it is scheduled to drop to a flat 3.9% rate by 2026.

Iowa's top corporate tax rate next year will drop to 7.1% from 9.8% in 2022, and it is scheduled to fall to 5.5% if the state keeps hitting its revenue targets. For property owners, the Legislature this year capped the annual increase in assessed value, reducing local tax collections by about $100 million.

Ms. Reynolds connected these dots when she announced the budget surplus last week. "We've seen what the powerful combination of growth-oriented policies and fiscal restraint can create," she said in a statement. Income, corporate and franchise-tax receipts rose by about $500 million from 2021 to 2022 after the tax cuts.

Crucially, state spending has grown modestly since 2021, despite annual increases in per pupil school funding. Steady job growth has pushed the state's unemployment rate down to 2.9%. Now the Governor wants to raise her bet on this winning formula. "My goal is to get to zero individual income-tax rate by the end of this second term" in 2027, she said.

...

The Iowa tax experience belies the claims of the left that cutting taxes produces deficits. In Iowa the tax cuts have helped to produce record surpluses that then can be used to cut incometax rates further. Ms. Reynolds has also shown that you can cut rates across the board, even at the top, and succeed politically. The GOP presidential candidates could stand to ask her for a few tax-cutting pointers."

Trechos retirados do WSJ do passado dia 4 em "Iowa's Tax-Cut Triumph".

sexta-feira, setembro 29, 2023

"Os Anos do Absurdo"

Um dia os historiadores vão olhar para estes tempos e apelidá-los não de "Roaring Twenties" mas de "Os Anos do Absurdo".


Na capa do FT de hoje pode ler-se:
"Italian 10-year government bond yields rose as much as 0.17 percentage points to 4.96 per cent, their highest in a decade, after Italian prime minister Giorgia Meloni's government raised its fiscal deficit targets and cut growth forecast for this year and next. The yield later fell back to 4.88 per cent."

E também, "German 10-year bond yield hits 12-year high as prices slump".

Na segunda-feira fui a Bragança em trabalho. Como tinha um problema de tempo tive de ir de carro, ao contrário da habitual camioneta. Por curiosidade, no Domingo à noite fui ás páginas da FlixBus e da Rede Expresso ver se podia comprar bilhete para a camioneta das 6h00. Para meu espanto, ambas as viagens estavam esgotadas. Há um ano apenas, chegava aquela rua antiga nas traseiras da Praça D. João I no Porto, e comprava o bilhete na hora sem problemas.

Ao almoço em Bragança, contei esta estória, como exemplo das mudanças subterrâneas que estão em curso no Portugal de hoje e que não aparecem na espuma das notícias dos dias que correm.

Portanto, a preocupação dos alucinados que tomam conta do asilo é que a consequência do saque fiscal seja um superavit, enquanto o custo do dinheiro está a ir por aí acima.

Agradeço ao Camilo Lourenço ter-me alertado para a evolução do custo do dinheiro para os alemães.