"A imposição de tarifas aduaneiras por parte da nova administração americana, liderada por Donald Trump, é uma nova ameaça para o negócio dos produtores de milho em Portugal, que falam num "fator potenciador de enorme instabilidade e volatilidade nos mercados mundiais de commodities agrícolas."
Pergunto com sinceridade: Um aumento de instabilidade e volatilidade nos mercados mundiais de commodities agrícolas não é positivo para os produtores portugueses? Pode ser negativo para quem importa e comercializa, mas para quem produz, é uma oportunidade para ter um preço mais elevado.
Durante o artigo temos:
"Portugal tem um grau de autoaprovisionamento em milho de cerca de 25%, o que coloca o país entre os Estados-membros da União Europeia mais desprotegidos - só os Países Baixos, Chipre e Malta têm uma percentagem inferior. E igualmente "face à situação geopolítica que se vive em certas latitudes, algumas das quais na fronteira do espaço europeu", ", como é o caso da guerra na Ucrânia, o presidente da Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo (ANPROMIS) alerta que é "extremamente perigosa esta excessiva exposição face ao exterior"."
Pergunto com sinceridade: Qual é o papel da ANPROMIS, procurar o melhor para os seus sócios ou estar preocupada com o grau de autoaprovisionamento em milho? Ou será que o que quer é apoios comunitários para os produtores? Será que o modelo da UE baseado nos contribuintes alemães tem pernas para continuar a andar? Recordo o que escrevo aqui no blogue há vários anos:
"os agricultores têm de deixar de se ver como os responsáveis por alimentar o mundo, têm sim de se ver como responsáveis pela alimentação dos seus clientes."
No final do artigo temos:
"Questionado sobre a capacidade exportadora dos produtores portugueses, o presidente da ANPROMIS reconhece que apenas existe um “limitado número de negócios com Espanha” no milho para a alimentação humana (gritz). Precisamente um segmento de “produtos com mais qualidade e para novos mercados” que Jorge Neves destaca como tendo maior potencial para os produtores nacionais em resposta à “conjuntura atual [que] exige cada vez mais uma adaptação constante”."
Durante grande parte do artigo, a ANPROMIS e os produtores defendem a necessidade de apoiar a produção de milho commodity (um produto de baixa margem e alta concorrência internacional), argumentando que a dependência externa é arriscada. No entanto, no final, o próprio presidente da associação admite que há maior potencial no milho de mais qualidade e para novos mercados.
Isto sugere um possível conflito de interesses ou falta de clareza na estratégia do sector:
- Por um lado, pede-se subsídios e apoios para a produção de milho commodity, uma cultura altamente volátil e sujeita à concorrência global.
- Por outro, reconhece-se que o futuro pode estar em nichos de maior valor acrescentado.
Se os produtores portugueses têm dificuldades em competir no mercado de milho commodity, talvez fosse mais estratégico apostar desde já em produtos diferenciados em vez de tentar sustentar artificialmente um sector que enfrenta tantas dificuldades.
Qual é mesmo a missão da ANPROMIS?
Depois de escrever isto e de dar o título fui fazer uma caminhada, e voltei a pensar nesta tensão entre manter o negócio como está e esperar que os alemães paguem a conta, ou mudar de vida.
Claro que é mais cómodo esperar que os alemães paguem a conta do que enveredar pela incerteza da mudança.
O problema é que os alemães vão deixar de pagar a conta, é inevitável:
A Alemanha está a enfrentar uma grave crise demográfica. A sua taxa de natalidade tem vindo a diminuir e está abaixo do nível de substituição há quase 70 anos. Isto significa que, durante décadas, não nasceram jovens suficientes para sustentar a força de trabalho.
Agora, ao entrarmos na próxima década, a situação está a atingir um ponto crítico. A última geração considerável de trabalhadores na Alemanha está prestes a reformar-se em grande número. Como resultado, a Alemanha, que tem sido há muito tempo a espinha dorsal financeira da União Europeia, poderá já não conseguir apoiar a economia europeia como fez no passado. Em vez de contribuir com fundos, a Alemanha poderá tornar-se num país que necessita de apoio financeiro da União Europeia. Se isto acontecer, mudará significativamente o panorama económico da Europa.