domingo, outubro 09, 2011

Para reflexão

À atenção de quem exorta as empresas portuguesas a trabalharem para a Autoeuropa.
.
"Toyota Motor Corp., Asia’s biggest carmaker, is telling parts suppliers in Japan to slash prices or face being replaced by overseas rivals as the yen’s value appreciates, four people involved with the discussions said.
...
The company asked some parts-makers to slash prices by as much as half, according to one of the people involved in the discussions."
.
Não ponho em causa a legitimidade da decisão da Toyota, apenas quero chamar a atenção para os riscos de uma PME lidar directamente com uma grande empresa.
.
Se o negócio é preço e se uma PME se mete com um gigante... cuidado, o mais certo é virmos a ter um caso de pedofilia empresarial.
.
Nada move o gigante contra uma PME em particular, está na sua natureza, é uma exigência que decorre da sua proposta de valor.
.

O que Guy Kawasaki aprendeu com Steve Jobs

"What I Learned From Steve Jobs":
.
Gosto particularmente de duas:
.
"“Value” is different from “price.”
.
Woe unto you if you decide everything based on price. Even more woe unto you if you compete solely on price. Price is not all that matters—what is important, at least to some people, is value. And value takes into account training, support, and the intrinsic joy of using the best tool that’s made. It’s pretty safe to say that no one buys Apple products because of their low price."
.
E
.
"Marketing boils down to providing unique value."
.

E o que serviu para a Apple por que razão não há-de resultar para a sua empresa? Valor é a palavra-chave!

sábado, outubro 08, 2011

A dimensão do mercado não é relevante

A propósito da história da Proóptica esta provocação de Al e Laura Ries em "A origem das marcas":
.
"Qual é a dimensão do mercado? (Moi ici: Mercado cheio de grandes marcas internacionais... qual poderá ser o mercado para alguém que se lembra de fazer óculos portugueses com design de estilistas portugueses?)
.
Normalmente, esta é a primeira questão a ser colocada antes do início de um processo de brand building, embora seja uma questão errada.
.
As oportunidades de brand building não residem nos mercados já existentes mas na criação de novos mercados.

Se o objectivo é criar uma marca nova e poderosa, é necessário estudar de que forma o produto ou serviço pode divergir de uma categoria já existente. O mesmo será dizer, a melhor forma de criar uma nova marca não é seguir uma categoria existente, mas sim criar uma nova onde se possa ser o primeiro a entrar no mercado.
.
Dividir e conquistar é a fórmula de sucesso para a criação de uma marca nova e poderosa.
.
Qual é a dimensão do mercado? A melhor resposta a esta questão, do ponto de vista do branding, é “zero”.
.
Para criar uma nova marca é necessário ultrapassar a lógica de servir um mercado e concentrar-se na criação de um mercado.

Um elemento crucial no processo de branding é a diferenciação entre o mercado e a percepção.
.
O objectivo principal de um processo de branding nunca é o mercado ao qual o produto ou serviço se destina, mas sim a mente do potencial cliente. (Moi ici: Quem são os clientes-alvo? Qual é a experiência que procura e valorizam? O truque não é a concentração no produto! O truque é trabalhar sobre a experiência mental que os clientes-alvo vão percepcionar e o que vão sentir) A mente decide, o mercado segue a direcção indicada.
.
Muitos gestores tentam colocar este processo em “curto-circuito”, pensando em termos de mercado e ignorando a necessidade de primeiro começar por influenciar as mentes. Este tipo de pensamento pode ser a fonte de muitas confusões ao nível da definição e posicionamento de mercado.

A mente não raciocina em termos de mercado, mas sim em categorias e, neste aspecto, o elemento visual é apenas um meio para atingir o objectivo

O que é importante não é o que está no mercado , mas sim o que está na mente e se nela existe um nicho ou uma posição para ser ocupada por uma nova categoria.

Qual é a dimensão do mercado?
.

Zero. Perfeito! É exactamente esse o mercado alvo."

Observar, destilar, aprender

Gosto de olhar para exemplos concretos para destilar os ensinamentos gerais que podem ser aplicáveis a outras situações no espaço e tempo. Depois, começamos a perceber que há padrões que se repetem, o que só me dá optimismo para encarar o futuro de quem empreende com pensamento estratégico e não acredita que a esperança seja a abordagem estratégica por excelência:
.
"Desde 2003 que a Proóptica é o resultado de uma ruptura com as grandes marcas internacionais - aquelas que todas as ópticas vendem - aliada à pergunta: porque não apostar no que é nosso? E a verdade é que, hoje, os óculos portugueses, que começaram por ser apenas uma forma de sobreviver num mercado massificado, são já responsáveis pelo sucesso nacional e internacional da empresa. João Rolo foi o primeiro criador a alinhar na aventura de desenhar óculos, mas depressa se seguiram outros conhecidos estilistas.
.
Segundo Luís Justino, director-geral da Proóptica, as vantagens desta aposta são inúmeras, quer para a empresa quer para os estilistas: "Posso quase garantir que se não tivéssemos apostado em marcas portuguesas hoje não estaríamos vivos. E a verdade é que não fomos só nós que ganhámos com esta aposta; estilistas como João Rolo, José António Tenente e Ana Salazar tinham muitos clientes que não usavam acessórios portugueses e que agora são fãs deste tipo de óculos."
.
Quem tenta competir num mercado massificado não pode ter ilusões, o preço é o factor-chave. Assim, há que começar por comprar bem, para isso é preciso ter volume e mais volume e mais volume. Todo esse volume exige uma rede de lojas que assegure o escoamento, exige mão de obra barata porque as margens são apertadas, exige... estão a ver o rosário.
.
Quem desiste desse campeonato e opta pelo mercado da diferenciação entra no jogo num nível muito diferente. Aí é o design, a personalização, o sentido da escassez a dar cartas.
.
Depois, começam a surgir sinergias... um esboço de balanced centricity: ópticas, estilistas, clientes das ópticas, clientes dos estilistas, ...
.
Trecho retirado de "Proóptica Aposta em marcas nacionais foi tábua de salvação"
.
BTW, ao contrário do que pressinto que é a opinião dos media, ao relatar casos de insucesso como os referidos neste postal "É pena que os media...", acredito que a maior parte dos empresários que age desta forma começaram por acreditar que a esperança era a melhor estratégia. Não mexer em nada no interior da empresa acreditando que a conjuntura exterior ia mudar... até que se torna inevitável a queda e é tarde demais para salvar a empresa.

"It's a Canadian!

Criar uma rede de combustíveis low-cost com o apoio do Estado?
.
Em Estarreja, cidade há menos de sete anos e com menos de 30 mil habitantes, através da iniciativa privada:

  • existe um posto de combustíveis low-cost junto ao Intermarché;
  • existe um posto de combustíveis low-cos da marca Prio no centro da cidade; e
  • tudo indica que está a ser construído um posto de combustível low-cost junto ao Pingo Doce
Como é que esta rede a ser criada com o apoio do Estado se vai conjugar com os postos já existentes? Vão receber apoios do Estado? Vão ter concorrência desleal do Estado?
.
Ingenuamente pensava que o autor do Desmitos ia ajudar a dar uma machadada na economia socialista... afinal...
.
Os americanos diriam "It's a Canadian!" e ficava tudo dito.
.
Além destes postos, num raio de 2 km podem encontrar-se outras marcas: Galp; BP; Repsol; Cepsa; e um independente

Recordar Lawrence... nada está escrito (parte X)

Continuado da parte IX e sobretudo da parte VIII.
.
Há anos que escrevemos aqui no blogue sobre a possibilidade do regresso dos importadores que compravam na China a países mais próximos, mais flexíveis e mais baratos porque não obrigam a tanto impacte de capital por "demasiado" tempo.

Interessante este relatório de Agosto de 2011 do BCG "Made in America, Again - Why Manufacturing Will Return to the U.S.":
.
"A big shift of manufacturing from China to the U.S. and other parts of North America will create up to 3 million U.S. jobs in coming years, says a study from Boston Consulting Group.
.
The report says labor costs in China are rising so fast, while U.S. productivity continues to climb, that the cost advantage of sourcing many types of goods production in China is rapidly shrinking.
.
“Factor in shipping, inventory costs and other considerations,” and for many types of goods “the cost gap between sourcing in China and manufacturing in the U.S. will be minimal,” according to the report.
...
But the report said ocean shipping rates have risen in recent years, mainly because of spiking bunker fuel prices since the depths of the recession in 2009, while a shortage of container port capacity projected in 2015 and a falloff in shipbuilding could push rates higher.
.
The authors said the steady appreciation of China’s currency against the U.S. dollar is another factor raising the cost of goods made there, while trade disputes continue over many products made in China and the ocean supply chain is subject to threat of disruptions.
.
BCG said several southern U.S. states “will turn out to be among the least expensive production sites in the industrialized world.” Mexico is also getting some of the output shifting from China, and can deliver goods into the U.S. in one or two days compared with 21 by ocean. But BCG officials said Mexico would not benefit as much as some expect because U.S. expertise in many goods would draw the work back here instead."
.
E Portugal? Acredito que o país vai aproveitar esta volta da maré, como base para fornecer a Europa Ocidental.
.
Aproveitar também para ler "Buck Up, America: China Is Getting Too Expensive"

sexta-feira, outubro 07, 2011

Avaliar a suficiência, alinhamento e coerência entre objectivos estratégicos e actividades críticas

Dois artigos interessantes que podem ajudar quem tem de traduzir os desafios de uma estratégia num conjunto de actividades alinhadas com a sua execução prática.
.
Os autores abordam o caso prático da "firm's supply chain strategy", no entanto, acho que é aplicável à operacionalização da estratégia para uma unidade de negócio.
.
O primeiro artigo é sobre como criar aquilo a que os autores chamam "functional strategy map":
Prefiro a minha abordagem a partir da identificação dos clientes-alvo e da proposta de valor a oferecer. Contudo, há que chamar a atenção para o facto dos autores não pretenderem criar uma estratégia mas o de retratarem a estratégia real que emerge das actividades da empresa.
.
O segundo artigo é sobre a avaliação da qualidade de uma estratégia emergente. Até que ponto é aquilo que se faz é consistente, é coerente, é sinérgico, é suficiente...
Tenho em mãos um projecto com um cliente em que a proposta de valor é "o preço mais-baixo" e vou experimentar usar esta abordagem para avaliar a ligação entre os objectivos estratégicos do mapa da estratégia com as actividades críticas a desenvolver no dia-a-dia no âmbito dos processos.

Só especulo.

"Construtoras devem fundir-se para sobreviver:
.
As empresas de construção nacionais devem considerar fusões para conseguir sobreviver à travagem da economia portuguesa, avisou, esta semana, o presidente da Associação de Empresas de Construção e Obras Públicas, Ricardo Pedrosa Gomes. "Não há alternativa", frisou o mesmo responsável."
.
Quando uma grande empresa de construção se funde com uma grande empresa de construção o que é que acontece?
.
.
.
.
Ficamos com uma empresa de construção ainda maior. Logo, ficamos com uma empresa de construção que precisa de obras ainda maiores para sobreviver.
.
Não há mesmo alternativa?
.
.
E pensar que o mercado esteve sobre-dimensionado durante estes anos todos e decidir estrategicamente encolher. Não é alternativa?
.
Será que uma empresa de construção mais pequena e flexível não pode ter sucesso nos tempos que virão?
Será que uma empresa de construção especializada em certas actividades não pode ter sucesso nos tempos que virão?
.
Ainda ontem apreciei uma obra em que toda a maquinaria pesada era alugada... muito mais flexibilidade.
.
Mas eu de construção não percebo praticamente nada... só especulo.

Outra agricultura

José Martino escreveu "O "meu" Prós e Contras" no semanário Vida Económica de onde transcrevo:
.
"um orador que esteja a representar uma determinada entidade está desde logo condicionado pela defesa dos interesses dessa mesma entidade. Não pode assim falar "livremente".
...
A Fátima Campos Ferreira diria apenas que o programa seria mais interessante com as intervenções das seguintes pessoas:

  • Norberto Pires, responsável da Hortijales, em Vila Pouca de Aguiar (20 anos de sucesso na horticultura); (Moi ici: A horticultura exporta mais do que o vinho)
  • Artur Sousa, presidente do Grupo Sousacamp, Vila Flor, produção de cogumelos nos concelhos de Vila Flor, Vila Real e Paredes (o Grupo está a internacionalizar-se);
  • Vítor Araújo, gerente do grupo de empresas da Kiwi Greensun, em Guimarães; 
  • Francisco Figueira, que possui empresas de produção, conservação, normalização e embalagem de ameixas e kiwis, concelhos de Campo Maior, Valença, Póvoa de Lanhoso, Guimarães, etc. Exporta parte significativa das suas produções;
  • Luís Alves, de Gaia, produtor e exportador de Plantas Aromáticas e Medicinais (PAM), divulgador, comunicador e animador desta fileira;
  • Fernando de Moitinhos, de Ílhavo, micro- floricultor, um caso de sucesso empresarial pelo emprego das tecnologias mais sofisticadas;
  • Agostinho Cabougueira - produtor e exportador de cravos, de Chaves (cerca de 20 anos de sucesso nesta actividade agrícola);
  • Pedro Pimentel, secretário-geral da Associação Nacional dos Industriais de Laticínios, um dos melhores experts sobre a fileira do leite e dos lacticínios;
  • Jorge Soares, dirigente da Associação que controla a IGP "maçãs de Alcobaça";
  • Horácio Ferreira, gerente da cooperativa de citrinos "Cacial", em Faro."
No mesmo semanário Teresa Silveira assina ""Portugal Foods" está na feira agroalimentar de Colónia":
.
"19 empresas portuguesas na ANUGA 2011

A Boleta Barranquenha - Transformação Artesanal de Porco Alentejano; Casa da Prisca - Salsicharia Trancosense; Cecílio (miolo de pinhão português); Cerealis Produtos Alimentares (massas alimentícias, cereais pequeno-almoço, bolachas e farinhas); Cofaco Açores Indústria de Conservas (conservas de peixe); Confeitaria Rolo; Derovo - Derivados de Ovos (ovo líquido pasteurizado, em spray e cozido, fullprotein, omeletes/tortilhas); Doce Reina - Sobremesas; Fritoforno (refeições prontas); Frulact - Indústria Agro-Alimentar (preparados à base de fruta para a industria alimentar); JC Coimbra (azeite); Lactaçores (leite e laticínios); Maçarico (azeitonas, tremoços, patés e condimentos); Mendes Gonçalves (azeite, vinagre, molhos e condimentos); Novarroz - Produtos Alimentares (arroz); Nutrigreen (purés de fruta, barras e smothies); Primor (carnes e enchidos); Salsicharia da Gardunha (presunto e enchidos); Vieira de Castro (bolachas)."

Acham isto normal? Ou a inconsistência estratégica! Ou jogar bilhador como um amador! (parte II)

Outro sintoma de como lidamos com jogadores amadores de bilhar...
.
Depois de "Acham isto normal? Ou a inconsistência estratégica! Ou jogar bilhador como um amador!" outro exemplo que impressiona e revela a bitola que temos na assembleia a legislar:
.
"Parlamento volta a discutir IVA reduzido nos ginásios"

Que história conta uma etiqueta?

Ontem, neste postal "Não é preciso ser doutor para criar empresas com futuro (parte II)" transcrevi esta frase "Aliás, tenho clientes que me pedem mesmo para colocar na etiqueta 'Made in Portugal' e não 'Made in União Europeia'"
.
E essa frase não tem parado de me dar voltas à cabeça...
.
Por que é que um cliente há-de pedir a um fornecedor que em vez de uma etiqueta com os dizeres "Made in União Europeia" ponha uma que evidencie "Made in Portugal"?
.
Quando trabalho com uma empresa na co-criação da sua estratégia o primeiro desafio passa por responder à pergunta:
.
Quem são os clientes-alvo?
.
Depois de respondida, a etapa seguinte passa pela formulação da proposta de valor a oferecer a esses clientes-alvo. A construção da proposta de valor passa por responder a outra pergunta:
.
Quais são as experiências de vida que os clientes-alvo procuram e valorizam?
.
E a palavra-chave aqui é...
.
"EXPERIÊNCIA"
.
Quem me abriu os olhos para a realidade das experiências na vida dos clientes?
.
"The Experience Economy: Work Is Theater & Every Business a Stage " de Joe Pine e Jim Gilmore (ver aqui e aqui)
.
Depois, em 2007 Joe Pine e Jim Gilmore publicaram "Authenticity: What Consumers Really Want" onde encontro uma pista para a minha resposta à pergunta:
.
Por que é que um cliente há-de pedir a um fornecedor que em vez de uma etiqueta com os dizeres "Made in União Europeia" ponha uma que evidencie "Made in Portugal"?
.
Já entraram numa loja com artigos de gama alta em que pegaram num artigo, apreciaram-no, olharam para o preço e... depois, lá dentro, numa etiqueta escondida encontram Made in China ou in Vietnam ou ... e ficam com uma sensação estranha... um artigo de luxo e fabricado nessas paragens?
.
Pine e Gilmore em "Authenticity" escrevem:
.
"Goods and services are no longer enough; what consumers want today are experiences - memorable events that engage them in inherently personal way.
...
But in a world increasingly filled with deliberately and sensationally staged experiences - an increasingly unreal world - consumers choose to buy or not buy based on how real they perceive an offering to be.
Business today, therefore, is all about being real. Original. Genuine. Sincere. Authentic.
...
Therefore, to availability of commodities, cost of goods, and quality of service, businesses now must add authenticity of experience as something to be managed. Let us now explicitly define these four successively dominant consumer sensibilities:

  1. Availability: Purchasing on the basis of accessing a reliable supply
  2. Cost: Purchasing on the basis of obtaining an affordable price
  3. Quality: Purchasing on the basis of  excelling in product performance
  4. Authenticity: Purchasing on the basis of conforming to self-image.
...
What they buy must reflect who they are and who they aspire to be in relation to how they perceive the world - with lightning-quick judgments of "real" or "fake" hanging in the balance.
...
This authenticity imperative intensifies as fakes saturate contemporary markets and product counterfeiting becomes more sophisticated and more global."
.
A etiqueta "Made in União Europeia" soa a algo de falso e a etiqueta "Made in Portugal" soa algo de genuíno e reforça a imagem de quem quer vender a experiência de usar um artigo da gama alta...
.
Não me canso de dizer aos empresários que subestimam o preço dos seus artigos... vendem muito mais do que trabalho + matérias-primas...

A doença brasileira

Ainda ontem elogiei a mudança de atitude na ATP - Associação Têxtil e Vestuário de Portugal com este postal "Começa a entranhar-se o locus de controlo interno no têxtil. Cool!!!".
.
Há dias chamei a atenção para a doença brasileira com o postal "The Better You Understand Economics, the More You Realize that Money Isn’t All that Matters (parte II)"
.
Primeiro, observar a versão da revista The Economist sobre a evolução do real face ao dólar:
Segundo, apreciar o discurso do todo-poderoso ministro brasileiro da Fazenda Guido Mantega em "Temos um problema no sector industrial
.
Reparem como o problema são os Outros, reparem como os Outros são maus, são traiçoeiros, e reparem como os brasileiros são vítimas inocentes que têm de ser defendidas pelo seu governo:
.
"Sim, temos um problema que é o sector industrial. Mas o sector de ‘commodities' continua bem. Temos uma indústria automobilística com capacidade ociosa, electrónica também. Isso levou-nos a uma concorrência predatória. Até os americanos estão disputando nosso mercado: fazem uma política de desvalorização de moeda (Moi ici: Esta observação é desmentida pelo gráfico)  e vêm aqui. Vivemos uma concorrência desenfreada, do salve-se quem puder, com países muito agressivos indo atrás do ‘file mignon' que restou que são os nossos mercados. O mercado brasileiro cresce 10% ao ano, nos EUA o crescimento do consumo é de 1,5%. Aí todo mundo quer comer o pernil brasileiro e temos que nos defender dessa agressividade."
...
"Temos de fazer defesa comercial. Por exemplo, o Brasil é um dos países que mais têm acções antidumping. Nós criamos uma lei contra a triangulação. Além disso, estamos tomando medidas para a guerra cambial que se intensificou. É nesse cenário que se insere a medida do IPI dos automóveis. O complexo automobilístico brasileiro é importante para a economia. Depois de passar por 2009 e 2010 muito bem, com a procura crescendo mais de 10%, em 2011 continua crescendo só que as importações crescem de forma desenfreada. Se toda expansão da procura se alimentar com importações, a indústria local vai estagnar."
.
O salário mínimo português ronda os 485 € pagos 14 vezes por ano.
O salário mínimo no Estado de S. Paulo no ano passava rondava o equivalente a 275 € pagos 12 vezes por ano (se pesquisei bem).
.
O ministro da Fazenda do Brasil, ao querer proteger a indústria local, retira-lhe a motivação para se aperfeiçoar e ser competitiva a nível internacional. Por exemplo, um fabricante de máquinas português que exporte para o Brasil tem de fazer frente a uma taxa alfandegária de 60%... isso impede a exportação? A maior parte das vezes sim! Isso protege as empresas brasileiras concorrentes? Claro que sim... só que essa protecção não é gratuita... a maior parte das empresas é como a vida. A vida não planeia, a vida responde e evolui perante restrições e desafios. Uma empresa protegida é uma empresa que não precisa de evoluir..
.
Portugal, país de fronteiras abertas, apesar de dezenas de anos de governos com mentalidade socialista, por que as empresas não são protegidas, pelo menos as que não são dos amigos do poder, muitas fecharam após o choque chinês... mas com o tempo, aprenderam a dar a volta por cima:
.
Ainda ontem escrevemos "Recordar Lawrence... nada está escrito (parte IX)" com os números mais recentes sobre o desempenho da indústria portuguesa, sobretudo o sector exportador.
.
A transformação que a indústria brasileira precisa não tem de ser comandada pelo governo, seja ele qual for, tem de ser trabalho de cada empresa individual, com estratégia, com modelo de negócio, com know-how, ...
não há by-pass a essa etapa.
.
O locus de controlo tem de estar no interior de cada empresa. O futuro de uma empresa é demasiado precioso para que o seu líder o coloque nas mão de um ministro que meses depois pode estar na praia a beber piñacoladas... o locus de controlo tem de estar no seu interior.

quinta-feira, outubro 06, 2011

Começa a entranhar-se o locus de controlo interno no têxtil. Cool!!!

Muito interessante a entrevista de João Costa, o presidente da direcção da ATP - Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, à revista "Portugalglobal".
.
O sector do têxtil e vestuário começa a entranhar uma postura que existe há vários anos no calçado... (apetece dizer até que enfim) lê-se a entrevista e percebe-se que há a compreensão de que o futuro é construído pelos empresários do sector, não por barreiras alfandegárias ou apoios do Estado.
.
Este reconhecimento de que o locus de controlo está no interior do sector é extremamente importante... é o passo fundamental para um comeback seguro.
.
É bom perceber que esta revolução de mentalidades está a percorrer a ATP.
.
O futuro só pode ser melhor do que o passado dos últimos anos.
.
BTW, nos States "Women’s and girls’ cut and sew blouse and shirt manufacturing grew by 47% or 3,600 jobs, which seems impressive given the downfall of textiles. Interestingly, the cut & sew apparel mfg. industry growth is almost entirely in Los Angeles. The industry was declining nationally until 2007 when it took a sharp turn upward." (Isto durante a década 2001-2011)

Recordar Lawrence... nada está escrito (parte IX)

Parte VIII.
.
Bom!!!

Dados do INE de hoje, relativos ao mês de Agosto:
.
"Em Agosto, a variação homóloga nominal do Índice de Volume de Negócios da indústria fixou-se em 5,2% (2,8% no mês anterior). Esta evolução foi determinada por acelerações ocorridas em ambos os mercados, externo e interno. As vendas para o mercado externo apresentaram um crescimento de 10,1% (6,4% em Julho), enquanto as vendas para o mercado nacional aumentaram 2,7% em Agosto (0,6% no mês precedente)."
...
"Em Agosto, o volume de negócios da secção das Indústrias Transformadoras apresentou uma variação homóloga de 7,4% (3,3% no mês anterior)."
...
"Em termos homólogos, o volume de vendas na indústria com destino ao mercado externo aumentou 10,1%, em Agosto, o que compara com uma variação de 6,4% observada no mês precedente."
...
"As vendas dos agrupamentos de Bens de Consumo e de Bens de Intermédios aumentaram 9,7% e 10,1%, respectivamente (5,1% e 9,0% no mês anterior,pela mesma ordem)."
...
"As vendas na secção das Indústrias Transformadoras apresentaram uma variação homóloga de 14,1%, taxa superior em 7,8 p.p. à observada em Julho."

Mais um exemplo

"Exportações de cortiça crescem mais de 11% até Julho":
.
"Carlos de Jesus sublinha ainda que, para este bom desempenho, foi determinante a recuperação da quota de mercado da cortiça, pela primeira vez em dez anos, após superar a concorrência dos vedantes artificiais.

Segundo o responsável da APCOR, o grande trunfo foi o investimento em investigação e desenvolvimento e a criação de novos produtos, que permitiram demonstrar "a qualidade intrínseca das rolhas de cortiça".

Acresce que a cortiça tem assegurado a expansão em áreas de negócio relacionadas com a sustentabilidade, como os materiais de construção e de isolamento, bem como o design. "Temos beneficiado do facto dos consumidores procurarem produtos mais sustentáveis e de ter havido um grande esforço a nível de comunicação e de novas aplicações", conclui Carlos de Jesus."

Não é preciso ser doutor para criar empresas com futuro (parte II)

Após o rol de problemas em empresas têxteis que aqui são referidas, fica bem... sabe bem, mais de 3 anos e meio depois, com uma grande recessão internacional pelo meio, descobrir que a Inarbel continua a sua caminhada bem sucedida.
.
Primeiro, recordar a parte I.
.
Depois, ler "Jogar ao ataque nos mercados internacionais"... um exemplo vivo do que é ter pensamento estratégico:
.
"Após o diagnóstico, em 2002 tomou uma decisão que alterou a dinâmica da Inarbel: José Armindo decidiu apostar numa nova marca de roupa para bebé, criança e adolescentes até aos 16 anos, a Dr. Kid. (Moi ici: Criação de uma marca destinada a um público-alvo)
O porquê dessa decisão explica-a em duas pernadas: "Com as empresas a fugirem para as fábricas do Leste europeu, primeiro, e da Ásia, depois, achei que a solução passava por criar uma marca própria, de gama média-alta, (Moi ici: Gama média-alta, ou seja, nicho. Subida na escala de valor) que me garantisse sempre uma parte da produção da fábrica." (Moi ici: Conjugar marca própria com private label. A marca própria serve de exemplo, de montra do potencial da empresa para trabalhar em private label)
...
"Prospecção feita em vários mercados, criou um departamento de Marketing e Planeamento, contratou uma estilista, e a primeira colecção da Dr. Kid chegou ao mercado em 2003. Mas as mães portuguesas não eram o único público-alvo que o empresário queria cativar. Espanha e Estados Unidos foram definidos logo à partida como mercados prioritários. (Moi ici: Como disse a administradora da Lusomedicamenta, "um mercado de 10 milhões é muito pequeno", e para quem trabalha para nichos ainda mais pequeno. É preciso seguir a receita alemã, correr o mundo à procura de clientes-alvo sintonizados com a proposta de valor em vez de ter uma fábrica dilacerada por n propostas de valor, algumas até contraditórias entre si)
Já com duas estilistas em permanência, a Dr. Kid pode ser encontrada em 22 países, tão diferentes como Rússia, México, Inglaterra, França, Turquia, Grécia, Ucrânia, onde chega através de uma rede de 40 agentes estrangeiros. Em Portugal tem cinco lojas próprias, todas num raio de 50 quilómetros da fábrica, e 200 clientes de retalho através dos quais está presente em lojas multimarca.
A marca foi crescendo, reposicionou-se para um público até aos 12 anos, e "agora já tem a enormíssima responsabilidade de representar entre 30% a 40% da nossa produção", refere. "Não quero crescer muito mais com a marca. Porque também é um risco: se tivermos o azar de um ano não acertar bem com as colecções ou se houver uma quebra significativa no consumo de um dos mercados mais importantes, isso vai reflectir-se na facturação da empresa."
.
Tal como outras empresas do sector, José Armindo sente o regresso a Portugal de marcas internacionais que na última década tinham optado por países de produção mais barata. "Agora já me posso dar ao luxo de seleccionar os clientes. (Moi ici: Cá está a tal onda que também se sente nos EUA e que pode compensar o efeito da recessão europeia) Isso porque fizemos uma aposta muito forte na internacionalização e também no delinear de uma estratégia", justifica. E, além da qualidade reconhecida, tanto da marca própria como dos trabalhos desenvolvidos para outras empresas, reconhece que o "made in Portugal" é sinónimo de qualidade". "Aliás, tenho clientes que me pedem mesmo para colocar na etiqueta 'Made in Portugal' e não 'Made in União Europeia'", ilustra. (Moi ici: E esta hem!!!)

Como o mundo mudou...

No dia da morte de Steve Jobs recordo o final dos anos 80 do século passado onde, no meu ZX Spectrum, programava no mais básico BASIC a produção de uns gráficos tridimensionais que permitiam visualizar o comportamento de um corante, a rodamina B, ao longo do rio Douro, entre Salto de Castro e Miranda do Douro. Primeiro passo para o esforço de modelização do comportamento do rio como um reactor pistão não ideal.
.
Como o mundo mudou...
.
E Jobs percebeu, muito antes do mainstream, o truque da vida no planeta Mongo:
.
"... in a way that science can't capture..." (ver entre o minuto 4:03 e o minuto 4:09)
.
E o truque é esse, salientar o que a ciência não pode capturar. Tudo o que a ciência captura, é algoritmizável e transformável em trabalho de máquinas.

Onde estava durante o deboche da orgia despesista?

""Acabaram os tempos de ilusões. Temos um longo e árduo caminho a percorrer, para o qual quero alertar os portugueses de uma forma muito directa: a disciplina orçamental será dura e inevitável, mas se não existirem, a curto prazo, sinais de recuperação económica, poder-se-á perder a oportunidade criada pelo programa de assistência financeira que subscrevemos", afirmou Cavaco Silva nas comemorações do 101.º aniversário da implantação da República, nos Paços do Concelho, em Lisboa." (Moi ici: O que se entenderá por "sinais de recuperação económica"? Basta a mais pura e básica matemática para ver qual a composição da economia portuguesa. Sinais de recuperação económica significa que 30% da economia teria de compensar a quebra dos outros 70%? Será razoável?)
...
"Portugal e os portugueses devem assim redescobrir a “austeridade digna”: poupar, conter “gastos desmesurados”, consumir produtos nacionais e fazer turismo no país." (Moi ici: Poupar? Mas ainda há dias o presidente apoiou incondicionalmente um QE pelo BCE, uma das melhores formas de destruir poupança!!! Onde está a coerência?)
...
"A crise que atravessamos é uma oportunidade para que os portugueses abandonem hábitos instalados de despesa supérflua, para que redescubram o valor republicano da austeridade digna, para que cultivem estilos de vida baseados na poupança", referiu o chefe de Estado, acrescentando: (Moi ici: E quem é que define o que é despesa supérflua? Será de proíbir a produção nacional de artigos considerados supérfluos? Existe uma regra para definir o que é supérfluo? Por exemplo, quando uma fábrica de Arrifana fabrica sapatos que vão ser vendidos a 2000 euros o par na Ginza, está a fabricar um artigo supérfluo? E quem os compra deve ser punido?) "Perdemos muitos anos na letargia do consumo fácil e na ilusão do despesismo público e privado." (Moi ici: Onde esteve estes anos todos enquanto o Estado esbanjava?)
.
Trechos retirados de "Cavaco Silva: "Acabaram as ilusões e não bastam sacrifícios""

quarta-feira, outubro 05, 2011

Pena que os media ...

O JdN ontem dedicou duas páginas  ao tema do "Encerramento de empresas":
.
"Oliveira do Conde, Carregal do Sal, 8 de Setembro: cerca de 100 operários da fábrica de confecções Integal regressam de férias. Com três meses de salários, subsídios e outras remunerações em atraso, ficam também agora sem trabalho. Nas portas da empresa, oportunamente encerradas, encontraram colado um singelo papel a informar de que a empresa tinha iniciado o há muito temido processo de insolvência. Alguns dos trabalhadores, na maioria mulheres, não aguentaram a angústia e tiveram que ser encaminhados para o hospital. Não foi fácil descobrir pequenas, médias e grandes empresas que usaram, bruscamente no último Verão, este expediente para atirar os seus trabalhadores para o desemprego.
...
Rua Vilarinho de Freires, Leça do Balio, 13 de Setembro: vários trabalhadores da empresa têxtil Balisantos, que estavam de férias, são despedidos por carta.
...
Esmoriz, 2 de Setembro: nove trabalhadores da empresa de tapeçarias AS Pereira regressam de férias. Mas mal entram na fábrica, as oito mulheres e um homem são informados pela administração de que a empresa iria encerrar, pois as dificuldades eram muitas e as encomendas estavam limitadas a um único cliente.
...
Os 97 trabalhadores da Gamor, empresa têxtil de Santiago de Bougado, na Trofa, foram de férias com dois subsídios (Natal e férias) , o mês de Agosto e horas extraordinárias por receber. No dia 5 de Setembro, segunda-feira, quando regressaram do ao trabalho depararam-se com a luz cortada.
...
Os 85 trabalhadores da Milopos, uma das últimas grandes unidades têxteis de Viana do Castelo, foram de férias com os salários de Julho e Agosto e o subsídio de férias em falta. No dia 19 de Setembro, regressaram ao trabalho, mas na empresa nada havia para fazer. Na prática, regressaram a uma fábrica entretanto encerrada."
.
Olhando para este cenário o que pensar do futuro do têxtil no nosso país?
.
Começam logo os impropérios contra os chineses e outros...
.
.
.
.
.
.
"As exportações do têxtil estão de boa saúde. De acordo com a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), de Janeiro a Julho de 2011, a indústria portuguesa do têxtil e do vestuário exportou 2.454.802.000 euros, mais 258.292.000 euros do que no mesmo período de 2010, o que representa um crescimento de 11,8 por cento. Mesmo prevendo-se algum abrandamento no segundo semestre, dado que o nosso principal mercado de destino, a União Europeia, em que se destacam mercados de exportação como a Espanha, França, Alemanha, Reino Unido e Itália, evidencia sinais de retracção no consumo.
 ...
O têxtil, o vestuário e a moda portugueses, no seu conjunto, são um bom exemplo de afirmação bem sucedida nos mercados interno e externo e depende cada vez mais dos modelos de negócio e das boas práticas de gestão e inovação, que garantam competitividade. Se a estes forem somados estratégia, planeamento, sustentabilidade e visão, numa lógica de mercado global, os produtos de sucesso são um resultado expectável. Não surpreende, pois, que num contexto de dificuldade e de desaceleração da economia mundial, as exportações do têxtil e do vestuário portugueses continuem a aumentar significativamente. Portugal exportou para 168 destinos, em diferentes regiões do globo, com 84 por cento do valor total a ficar-se pelos países da UE, ocupando a Espanha o primeiro lugar, com 29 por cento do cômputo geral.
...
Neste intenso contexto de mudança, embora nas duas últimas décadas se tenha verificado o desaparecimento de um elevado número de empresas, a indústria do têxtil e do vestuário soube reinventar-se, inovando e crescendo, identificando actualmente três caminhos para empresas do sector: marca e distribuição de moda, têxteis técnicos e funcionais e private label sofisticado. Estas três opções estratégicas são referidas pelos responsáveis empresariais do sector como incontornáveis na ascensão na cadeia de valor do produto, de forma a continuarem competitivas em nichos de mercado de maior valor acrescentado.
...
De acordo com os dados mais recentes disponibilizados pelo Community Innovation Survey (CIS), 64 por cento das empresas portuguesas da indústria têxtil, vestuário e calçado adquiriram maquinaria, equipamento e software entre 2006-2008, com 37 por cento a realizarem actividades de I&D dentro da própria empresa e 14 por cento a adquirirem externamente I&D para aplicação na empresa. É um dado adquirido que ndústria Têxtil e Vestuário (ITV) continua a investir em I&D. A prova disso são os seus mais recentes produtos, com uma forte componente inovadora. Os números também falam por si. Na realidade, uma parte considerável do valor do sector têxtil português, que produz cerca de 6 mil milhões de euros – 61 por cento dos quais provêm da exportação – é classificada de têxteis técnicos, ou seja, são produtos tecnologicamente sofisticados, que inovam pelas técnicas de fabrico ou pela qualidade das matérias-primas."
.
Afinal a culpa não é dos chineses... é a vida!
.
Quando não há estratégia, quando não há inovação, quando não há re-invenção, quando se acredita que o queijo vai lá estar sempre amanhã, como mais um direito adquirido... nada feito! Porque, por vezes, mesmo com estratégia, mesmo com inovação, mesmo re-invenção e espírito de luta... nada está garantido à partida... é a vida! Mas é mesmo, no esplendor da sua amoralidade.
.
Pena que os media dediquem muito mais tempo ao sangue do que às milhares de empresas anónimas que vão descobrindo caminhos de sucesso. Pena que os media  não enquadrem os casos negativos com o cenário global do sector para se perceber que destruição criativa é isto, que aumentar a produtividade é isto, que dar a voilta por cima é isto.
.
Segundo conjunto de trechos retirados do número de Outubro da revista "Portugalglobal"

By-pass à banca

"Um dos aspectos notáveis, quando analisamos o conjunto da proposta de novos negócios é a capacidade de detectar oportunidades que antecipam as profundas modificações da procura que a actual crise vai desencadear. A flexibilidade, o aluguer em vez da compra, a redução do investimento inicial e as parcerias estiveram presentes na generalidade das propostas. Um exemplo concreto foi o de um carro de supermercado para pessoas que se deslocam em cadeiras de rodas, que foi desenvolvido em parceria com um fornecedor português de carrinhos de supermercado.
.
Também as empresas em fases mais avançadas do seu ciclo de vida têm vindo a evidenciar uma capacidade de se reinventar que surpreende quem suspeitasse do seu imobilismo. O calçado português tem-se destacado pela inovação do "design" e capacidade de crescer em período recessivo. Outros sectores, do metalo-mecânico ao mobiliário, da agricultura ao turismo, evidenciam igualmente uma revolução que desafia ou cavalga a crise - balança comercial positiva no comércio do azeite ou o reconhecimento de Lisboa como oferecendo dos melhores "hostels" do Mundo confirmam essa tendência de adaptação às novas tendências do mercado, interno e externo, tendo a balança comercial vindo a bater recordes de redução do "deficit"."
....
"No entanto, uma pesada nuvem paira sobre este esforço de renovação do tecido económico - a contracção do crédito bancário não cessa de se agravar, apesar do crescimento que os depósitos bancários têm registado. O desequilíbrio acumulado e a impossibilidade de renovação dos financiamentos levam a banca nacional a restringir cada vez mais o financiamento das empresas." (Moi ici: E para que serve o sistema bancário de um país? Se um sistema deixa de cumprir a sua função primordial, deixa de satisfazer a sua razão de ser... então, deixa de ter sentido a sua existência. Viable Systems Model - systems 1 de Stafford Beer. Claro que a Natureza tem horror ao vazio...)
...
as empresas devem buscar financiadores internacionais, de preferência sob a forma de capitais próprios. Embora ainda escassas, são já várias as operações efectuadas junto do mercado para as PME alemão, de grandes empresas americanas como a Intel ou a Cisco, ou de empresas de "private equity". Finalmente, há ainda a considerar o crowd-funding, um modelo baseado nas redes sociais que permite o contributo de numerosos pequenos investidores para projectos de mérito reconhecido pela opinião pública. (Moi ici: Aquela velha proposta deste blogue de "fazer by-pass ao país" vai ainda mais longe... fazer by-pass ao sistema bancário do país, como a Douro Azul recentemente. A Martifer não o tentou, ou não o conseguiu fazer... e pressionada pelos bancos vendeu um investimento com pouco mais de 2 anos... )

Trecho retirado de "Financiar o crescimento" de José Paulo Esperança publicado ontem no JdN.
.
ADENDA: A Martifer não o quis fazer... percebi agora ao recordar este documento de Fevereiro deste ano (diapositivo 28)
.
ADENDA (6 de Outubro): Agora fiquei um bocado confuso ... "Martifer vende centrais fotovoltaicas a fundo do BNP Paribas"

Um velho carro cubano

Como no filme "Inception":
.
"Maior maternidade do país em risco com recusa de anestesistas ao novo pagamento"
.
Um velho sonho vai ruindo e desfazendo-se ...
.
O título concentra-nos na atitude dos anestesistas. Pessoalmente destacaria os oito meses de salários em atraso.
.
E anda a suposta nata deste país na escola, a tentar conseguir um lugar em Medicina para entrar neste mundo... graças a Deus resisti a essa tentação.

Ter memória

Comecei este blogue por 3 ou 4 motivos. Um deles era o de prolongar a minha memória, ter uma base de textos, impressões e reflexões, sobre o que vou encontrando e lendo na minha vida profissional, que fosse facilmente acessível e pesquisável.
.
É bom ter memória... costumo dizer nas empresas, sem registos não há memória, sem memória não se aprende.
.
Por falar em ter memória...
.
"Ricardo Salgado - que já vinha com uns slides preparados - defendeu os projectos de construção da rede de TGV que ligará Portugal a Espanha e do Novo Aeroporto. Portugal, diz, respondendo às questões do jornalistas, Ricardo Salgado, "vai desenvolver-se através da aposta nos serviços e estes estarão inevitavelmente associados aos transportes". Alertou para o facto de só Madrid ter um PIB maior de que o português e de isso se agravar se não se construir a rede de TGV. Pelo que o Governo deve avançar com a realização, "tão cedo quanto possível", destas obras."
.
1 semestre depois o país tinha o seu primeiro PEC e a apartir daí foi o que sabemos...
.
O que diz isto sobre a capacidade de antecipação estratégica de um banqueiro?

Impunidade

"A ribeira de Alcarrache ficou por desmatar, numa extensão de 1500 hectares ao longo da linha de água. As organizações de defesa do ambiente identificaram no território importantes nichos ecológicos e negociaram com a Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas de Alqueva (EDIA) a manutenção do montado de azinho, que acabou submerso.
...
No entanto, na Ribeira de Alcarrache milhares de árvores continuam submersas sob 15 metros de água e os habitats que se pretendiam preservar estão irremediavelmente perdidos, quando o objectivo era não perturbar a fauna que ali vive, nem mexer na flora."
.
"O sacrifício do montado de azinho na área inundada pela albufeira de Alqueva continua a ter lugar em território espanhol, decorrida quase uma década após o encerramento das comportas da grande barragem do sul, a 8 de Fevereiro de 2002. Razões de segurança para a navegação sustentam o corte de mais de 4000 azinheiras. A Confederação Hidrográfica do Guadiana, entidade que gere a bacia do rio ibérico no país vizinho, apresenta uma outra explicação: foram atingidas cotas de enchimento da barragem portuguesa que "não eram previsíveis"."
.
A impunidade campeia... faz lembrar o que os árabes recordam dos cruzados na Terra Santa: gente que não respeitava acordos.
.
Trecho retirado de "Alqueva: espanhóis retiram azinheiras submersas"
.
É nestas alturas que sinto a falta de um A-Team e de um Hannibal Smith para apertar os calos a gente sem escrúpulos. 

Crendices e cargo cult (parte II)

Volto ao artigo de Miguel Lebre de Freitas ontem no JdN.
.
O gráfico do artigo ilustra bem a diferença entre o mundo dos bens transaccionáveis (sujeitos a importações e exportações, sujeitos à concorrência internacional) e a loucura dos bens não-transaccionáveis... 

Nós funcionamos com base em estímulos e é muito difícil resistir-lhes:

Quem tinha capital para investir e quisesse retorno rápido... onde o faria?
.
O gráfico ilustra bem quem é que vai sofrer a sério com o Período de Desalavancagem Em Curso (PDEC) ... e reparem, onde está situado esse poder? Qual a relação dos bancos com esse poder?

TGV, Beja, a loucura ainda foi maior do outro lado

A nossa sorte foi a crise internacional ter abortado os planos do governo para Portugal.
.
Sem ela, continuaríamos com o embalo que queria desfazer uma serra para atapetar um lago de Inverno e construir um aeroporto servido por um TGV para fazer as vezes de metro (Jorge Coelho dixit em tempos).
.
Com ela, 5 linhas de TGV e um novo aeroporto não avançaram.
.
Apesar dela, o aeroporto de Beja avançou.
.
Em Espanha, onde o cainesianismo era mais antigo e os cofres do país mais recheados não construiram um aeromoscas...
.
.
.
"But of the 48 regional commercial airports built in the debt-ridden country in less than 20 years, only 11 make a profit."
.
"Spain's white elephants – how country's airports lie empty"
.
E isto não é crime?

terça-feira, outubro 04, 2011

Crendices e cargo cult

É essencial perceber que existem 3 economias no país.
.
"Preços"
.
"Por exemplo, ao longo do período 1995-2009, os preços dos bens "locais" aumentaram. Porquê? Porque durante todo aquele período, a procura interna aumentou mais do que a oferta interna e os bens locais não podem ser importados. A subida do preço dos bens "locais", por sua vez, motivou a reorientação da produção em seu favor e o desvio do consumo para as importações. O impacto na estrutura produtiva e no défice externo é bem conhecido."
.
E o governo, numa demonstração de "cargo cult" utilizou dinheiro, em 2009, para apoiar a economia dos bens "locais".
.
E que tal apoiar o abate de veículos para importar mais carros novos?
.
Há que subsidiar as economias do centro da Europa com o dinheiro saqueado aos contribuintes portugueses.

Judean People's Front vs The People's Front of Judea? (parte II)

A melhor forma de resolver a contradição da "parte I" é olhar para os números:
.
"Ocupação nos hotéis de 5 estrelas foi a que mais subiu em Julho"
.
Acabo de ler no "A Origem das Marcas" de Al Ries e Laura Ries:
.
"Nas palavras de Darwin, "a natureza favorece os extremos". (Assim é no branding, onde a natureza favorece os extremos)"
.
O muito caro e muito barato!
.
Triste é quando a preguiça mental toma conta dos primeiros.

O valor não se troca nem cria na transacção, emerge durante o uso

"Challengers win by pushing customers to think differently, using insight to create constructive tension in the sale. Relationship Builders, on the other hand, focus on relieving tension by giving in to the customer's every demand.
.
Where Challengers push customers outside their comfort zone, Relationship Builders are focused on being accepted into it.
.
They focus on building strong personal relationships across the customer organization, being likable and generous with their time. The Relationship Builder adopts a service mentality. While the Challenger is focused on customer value, the Relationship Builder is more concerned with convenience. At the end of the day, a conversation with a Relationship Builder is probably professional, even enjoyable, but it isn't as effective because it doesn't ultimately help customers make progress against their goals."
.
Trecho retirado de "Selling Is Not About Relationships" de Matthew Dixon e Brent Adamson.
.
Se o valor de uma oferta emerge durante o seu uso pelo cliente, então, mais do que tornar a transacção agradável, o que continua a ser importante, há que descobrir ou desenhar a melhor solução para cada valor. Como escrevem Irene Ng e Gerar Briscoe:
.
"Overall, the firms came to the realisation that an asset was not a ‘sacred cow’ and that the better it was at absorbing contextual variety of use, the less it would depend on human capability and the easier it would be to scale and replicate across contracts. Furthermore, our study suggests that organisations structured around manufacturing require a re-evaluation of their operational elements and viability when they transform into a full-service organisation. We argue for a transformation in the customer relationship to help realise the value proposition that firms offer."
.
Trecho retirado de "Value, variety and viability: designing for co-creation in a complex system of direct and indirect (goods) service value proposition" de Irene Ng and Gerard Briscoe

Um livro sobre o planeta Mongo

Al e Laura Ries escreveram "The Origin of Brands: How Product Evolution Creates Endless Possibilities for New Brands".
.
Comecei a ler o livro e rapidamente percebi que era sobre o advento do planeta Mongo.
.
"divergência, a menos compreendida e mais poderosa força na Terra.
.
O fenómeno que se se registou na natureza também está a ocorrer nos produtos e serviços.
.
Eventualmente, todas as categorias irão divergir e tornar-se em duas ou mais categorias, criando infinitas oportunidades para o brand building.
.
A interligação entre a evolução e a divergência providencia um modelo capaz de nos fazer compreender o Universo e, em particular o universo das marcas.
.
A evolução recebeu todos os louros. Porém, ela não pode ser a única responsável pelas imensas espécies tão diversas e originais. Se não fosse a divergência, a evolução, por si só, teria criado um mundo povoado por milhões de procariotas do tamanho de dinossauros."

Macedónia

segunda-feira, outubro 03, 2011

Umberto Eco tem uma história deste tipo (parte II)

Continuado daqui.
.
E na sequência de "Uma economia em transformação", depois de ler "'Podemos ter de fechar lojas', avisa Miguel Mota Freitas da SONAE SR".
.
Mesmo os auto-denominados líderes de mercado ... ponderam o encerramento de lojas. Embora o exemplo dado das lojas Vobis não faça sentido. Em minha opinião essas lojas fecharam por não se terem diferenciado o suficiente da concorrência das FNACs.

A minha evolução

No final dos anos 80 do século passado descobri o mundo da qualidade.
.
Comecei pelo mundo da melhoria da qualidade com "Guide to Quality Control" de Kaoru Ishikawa, Juran, com o SPC e com os métodos Taguchi.
.
Depois, com a ISO 9001, a empresa onde trabalhava certificou-se em... 1992.
.
Dediquei os anos 90 do século passado ao mundo da garantia da qualidade e da ISO 9001, primeiro como responsável da qualidade nas empresas onde trabalhava, depois como consultor, formador e auditor.
.
Trabalhar no mundo da garantia da qualidade ajudou-me a crescer, a conhecer as empresas, a apoiar empresas que não tinham planeamento da produção, que não tinham especificações, que não tinham controlo da qualidade, que não definiam objectivos, que não aprendiam com os erros.
.
Tenho consciência que algumas empresas trabalhavam para ter uma bandeira, mas para muitas foi um trabalho útil porque as tornou mais eficientes, mais organizadas, dotadas de números sobre a produção e a qualidade.
.
Hoje, dedico apenas uma pequena parte do meu tempo profissional à ISO 9001, não só porque se trata de um mundo commoditizado, qualquer recém-licenciado pode trabalhar como consultor, mas também porque só aceito participar em projectos que não violem a minha consciência.
.
Durante esses anos 90 acreditava que a batalha da eficiência era suficiente para as empresas.
.
Hoje, sei que a eficiência não é tudo. Hoje sei que em certos negócios a eficiência é um empecilho no caminho para o sucesso...
.
O mundo da qualidade que tanto me ensinou, que tanto puxou por mim... parece que enquistou e ficou para trás... cristalizado em velhas fórmulas para combater em guerras que mudaram de cenário e de armas.
.
O mundo da qualidade acha o Acordo Ortográfico o máximo, uma pedra no alicerce da normalização... eu... eu aprendi que a normalização em excesso pode ser um perigo, aprendi a gostar da destruição da Torre de Babel e do que ela simbolizava.
.
Hoje, acredito sobretudo na variedade, nas pequenas séries, na novidade, na eficácia, no feito-à-medida...
.
Hoje, acredito que montar um sistema da qualidade numa empresa privada sem arrasar o conteúdo da cláusula 7.2 da ISO 9001 é perigoso... quem são os clientes-alvo? Qual a proposta de valor? Que clientes vamos rejeitar? (Se olharem para o conteúdo dessa cláusula verão que ela é escrita na óptica do cliente que audita o fornecedor... nunca questiona se o cliente é o adequado para o fornecedor)
.
Hoje, acredito que montar um sistema da qualidade numa empresa privada sem trocar política da qualidade por estratégia para o negócio e, objectivos da qualidade por objectivos para o negócio, é incorrecto e perigoso.
.
Escrevo isto por causa deste artigo "Manufacturing Strategies: The latest dMASS newsletter":
.
"“quality inherently involves delivering the most value with the fewest resources and environmental impacts.” He views environmental problems as deficiencies in the process of converting resources into manufactured products and suggest shifting the focus from managing the consequences of using resources to managing resources as inputs. This means delivering much more benefit to customers with fewer resources.
.
Many management strategies aimed at improving manufacturing practices – successors of the quality management movement such as Poka Yoke, lean manufacturing, and Kaizen – promote efficiency and waste reduction and often result in reduced environmental impacts."
.
O mundo da qualidade ficou preso neste paradigma da eficiência. E tudo isto é válido e faz sentido quando a proposta de valor assenta no preço mais baixo. No entanto, e quando a proposta de valor não tem a ver com o preço mais baixo? E quando a proposta de valor tem a ver com a moda, com a inovação, com a customização, com a rapidez?
.
Olivier Boiral em "Managing with ISO Systems: Lessons from Practice" publicado pela Long Range Planning 44 (2011) 197-220 escreve:
.
"Although the number of ISO management system certifications is rapidly increasing around the world, it is also stagnating, even declining, in some developed countries. This is notably the case for ISO 9001."
.
Hoje acredito que o ciclo não é o PDCA mas o CAPD e a qualidade gosta muito de grandes planeamentos, gosta muito de começar por eles. Prefiro começar pelos resultados... os actuais reais e os do futuro desejado. Tudo o resto é feito em função disso.

É a vida

""Oeiras Valley" - uma "ilha" de crescimento"
.
Tanto crescimento e afinal não é sustentado... afinal é à "madeirense".
.
Ou seja, se se acabarem os fósforos não há brasas auto-suficientes para gerarem o calor necessário para assar as sardinhas...
.
Como dizia ontem o João Miranda, cheira-me a estertor da economia que viveu baseada em endividamento fácil a taxas de juro baixas.
.
É a vida!

Macedónia


The Better You Understand Economics, the More You Realize that Money Isn’t All that Matters (parte II)

O título era "The Better You Understand Economics, the More You Realize that Money Isn’t All that Matters"
.
O que nos dizem os académicos?
.
"Todos os sectores de bens transaccionáveis são beneficiados pela desvalorização. Uma desvalorização discrimina estes sectores positivamente. A desvalorização é importante para contrariar os efeitos negativos que decorreram de termos uma taxa de câmbio demasiadamente valorizada. Isso desincentivou o investimento na produção de bens transaccionáveis. Agora temos de reverter esse processo." (Trecho retirado daqui)
.
Atentemos no exemplo do Brasil:

O real tem-se desvalorizado, quer face ao dólar, quer face ao yuan.
.
E, no entanto:
.
"A diferença entre o calçado brasileiro e o português"
.
Gráfico retirado daqui.

Uma alternativa barata e flexível

Desde há muito que exponho aqui no blogue a minha opinião sobre o software que se encontra por aí para apresentar os resultados dos indicadores do balanced scorecard. Por exemplo, basta recordar "BSC e software" e os 3 erros mais comuns na apresentação de resultados.
.
Pois bem, com o auxílio desta macro "Sparklines for Excel (R)" conseguem-se fazer pequenas maravilhas:

Muito mais interessante que as microcharts (sparklines) que vêm incorporadas com o Excel 2010.

domingo, outubro 02, 2011

Uma economia em transformação

"Processos de falência triplicaram desde 2007"
"Número de empresas «falidas» subiu 60%"
"Número de empresas 'falidas' triplicou desde a crise"
.
Só é pena é a parte enorme da economia que é Estado, demorar muito mais tempo a, ela própria, também se  transformar... enquanto não o fizer é uma sobrecarga sobre o resto da economia.

Recordar Lawrence... nada está escrito (parte VIII)

Comecei esta série na parte I por causa de um feeling resultante da combinação do meu gosto pela via  "contrarian" com o que vou observando nas PMEs com que lido.
.
Acabo de encontrar um texto que corrobora... corrobora não, que justifica o meu sentimento, "France faces a Dilemma" de Kaj Grichnik e Jerome Pellan:
.
"The United States is not alone in its manufacturing malaise. In virtually every Western country, factory employment is disappearing and trade deficits are dangerously on the rise. Take France, for example. Between 1999 and 2009, the country moved from a positive trade balance of €17.8 billion (US$25.4 billion) to a deficit of €21.1 billion ($30.1 billion), a disturbing change in direction that took 30 percent of France’s manufacturing jobs with it.
.
And although these numbers mirror trends in the U.S., one very big distinction hidden in these statistics provides important clues about whether France and other western European countries are more likely to enjoy a manufacturing recovery, (Moi ici: Qual o país da Europa Ocidental que mais se aproxima dos Estados Unidos?) or whether the U.S. is — and that distinction clearly favors the United States. Unlike U.S. losses, the lion’s share of France’s losses in manufacturing capacity are not due to China and other low-cost nations; instead, French production and jobs are moving primarily to Germany. (Moi ici: É como se a França estivesse no meio-termo, perde no topo para a Alemanha e na base para a China. Nós por cá perdemos quase tudo para a China...)
.
In other words, the deterioration in France’s manufacturing capacity is the result of a shift within its region. Of the €38.9 billion ($55.5 billion) total decline in France’s trade balance, only about €7.2 billion ($10.3 billion) is directly attributable to the growth of its trade deficit with China. Yet between 1999 and 2009, France’s trade imbalance with Germany increased by a whopping €13 billion ($18.5 billion). By contrast, the United States’ trade imbalance with China grew more than threefold in that period while the U.S. trade deficit with Germany held steady.
.
The implications of this for France and for the United States could not be more different. If manufacturing does, in fact, become more and more regional, the United States stands to gain from the movement back to North America of Chinese and other low-cost production facilities. France, though, doesn’t have that luxury. (Moi ici: É o que tenho pensado e escrito no último mês...)
.
Moreover, France’s worsening trade deficit with China has been driven chiefly by manufacturing losses in lower-tech, lower-margin products, such as apparel, furniture, and office machines. France’s trade imbalance with western European nations has come at the expense of higher-value products such as automobiles, advanced chemicals, and industrial machinery. Consequently, for France, the regional manufacturing model could turn out to be a very expensive development.
.
France’s inability to compete effectively against other countries in its backyard for factory capacity is linked to a set of labor and cost dynamics that are increasingly antiquated in a more globalized and malleable manufacturing environment. (Moi ici: Flexibilidade, para mim, pode ser mais importante que os custos)  For example, France’s 35-hour workweek, imposed in 2000 just as other countries were liberalizing production shift rules, increases the overall cost of labor. Further, because of France’s generous medical, unemployment, and pension benefits for residents, companies pay an amount equal to about 83 percent of net salaries in so-called social charges, compared with only 47 percent in Germany. And industrial labor relations in France are extremely adversarial.

By addressing these and other equally problematic issues adroitly, France could possibly dissuade some CEOs from closing French factories. But if France doesn’t address these issues in the next 10 years, the country stands to lose an additional 7 percent of its manufacturing workforce, or about 200,000 jobs.

There are some indications that improving the fortunes of manufacturing is increasingly important to French politicians of all stripes. One of the more audacious proposals calls for taxing sectors that are not exposed to international competition to help industries that are. (Moi ici: A maneira rápida, fácil e errada de resolver um problema é subsidiando o seu prolongamento e atrasando a inevitável transformação... uma espécie de TSU?) But it will take more than new fiscal measures for France to regain its former manufacturing glory; a 21st-century cultural and social transformation is needed for France to again resemble the country that spawned such legendary industrial figures as Peugeot, Eiffel, Citroen, Hussenot, Renault, and Schlumberger.

Para reflexão

Sem pôr em causa o título deste artigo do jornal i "PME. Sem financiamento muitas empresas morrerão até 2013" atrevo-me a perguntar:

  • quantas PMEs localizadas em Portugal vão conseguir sobreviver porque os seus clientes não têm financiamento para fazer importações?
  • quantas PMEs localizadas em Portugal vão conseguir sobreviver porque importadores europeus não vão ter financiamento para fazer importações da China?
  • quantas PMEs localizadas em Portugal vão conseguir sobreviver porque concorrentes habituados a viver com dinheiro fácil a taxas de juro baixas vão ter de mudar de estratégia ou fechar?

The Better You Understand Economics, the More You Realize that Money Isn’t All that Matters

O título deste postal foi roubado a Don Boudreaux no "Cafe Hayek".
.
E foi roubado porque é uma grande verdade que muitos desconhecem:
.
"The Better You Understand Economics, the More You Realize that Money Isn’t All that Matters"
.
O dinheiro, o preço, não é tudo.
.
E os empresários do futuro são os empresários que trabalham para aumentar os preços do seu serviço-produto.
.
Como?
.
Concentrando-se no que está para lá do dinheiro trocado na transacção... concentrando-se na experiência que os clientes vão viver.
.
Os sinais estão por todo o lado, por exemplo em "Manufacturing’s Wake-Up Call":
.
"debate over the future of U.S. manufacturing is intensifying. Optimists point to the relatively cheap dollar and the shrinking wage gap between China and the U.S. as reasons the manufacturing sector could come back to life, boosting U.S. competitiveness and reviving the fortunes of the American middle class.
...
Instead, for the foreseeable future, manufacturing will largely be regional. (Moi ici: Há anos que o marcador "proximidade" marca presença neste blogue... recordar também Ghemawatt e a semi-globalização)
...
But for many manufacturers, economics and market dynamics increasingly suggest that they locate factories close to their major markets, including the United States. This type of region-oriented footprint is a clear way to provide adequate scale and volume, minimize transportation and logistics costs, increase market responsiveness and innovation, and customize products for the unique preferences of different regions and cultures. If factory labor costs and currency rates were the sole enablers of manufacturing success, then the West could not compete with emerging nations or offshoring. More and more, though, these factors play a smaller part in manufacturing decisions. (Moi ici: Claro que os políticos e os académicos, longe da realidade, não percebem esta mudança estrutural) Four other considerations, all more complex, drive manufacturers’ choices about where to place and expand factories:
  1. The skill level and quality of factory employees, especially for high-tech facilities. 
  2. The presence of high-impact clusters, in which many companies can learn from one another and innovate more readily. 
  3. Access to nearby countries with emerging consumer markets and lower-cost labor (for the U.S., this means building a future with Mexico). 
  4. A reasonably competitive regulatory and tax environment (for the U.S., this means simplifying and streamlining the current tax and regulatory structure).
...
With unit labor costs playing a smaller part in manufacturing decisions, (Moi ici: Entretidos com a TSU, com o ataque ao euro, com a impressão de bentos, não percebem como é que isto pode acontecer...other factors — including talent availability, market accessibility, innovation, regulations, intellectual property protections, barriers to entry and exit, and scale of operations — increasingly drive decisions about where to place and expand factories. Based on the relative economics for each segment, we charted which U.S. industries can compete as exporters, which can be dominant in the regional North American market, which can survive but are threatened by foreign competitors, and which are already mostly overseas but can still manufacture in the U.S. to serve niche markets. (Moi ici: A divisão é interessante e permite pensamento estratégico... ver as figuras)
...
designing production systems that align employees’ activities with the company’s overall strategy (Moi ici: A mensagem deste blogue, do nosso trabalho, dos nossos livros... concentrar uma organização no que é essencial, alinhar recursos, vontades, motivações, ideias) and that empower employees to improve manufacturing processes can unlock the productivity and innovation potential of the well-educated U.S. workforce."

Os novatos também têm o seu lugar

A propósito de "Juíza que prendeu Isaltino estava só há um mês em Oeiras"
.
Recentemente um familiar foi a uma urgência hospitalar porque estava há vários dias sem ir à casa de banho e sentia-se muito mal.
.
Foi atendido por uma médica muito jovem e com pouca experiência.
.
.
.
Azar!
.
.
Dada a inexperiência da médica, ela fez o que poucos fazem, em vez de receitar comprimidos... seguiu o protocolo e... salvou a vida a esse meu familiar porque detectou um problema na aorta.
.
.
Há anos em Tikrit, um outro familiar estava numa sessão de tribunal onde era réu, a juíza também era novata... .
.
Durante a sessão onde a juíza acabou por concluir que a acusação não tinha pernas para andar, elementos das forças vivas da região quiseram ter uma conversa particular com a senhora.
.
Sempre acreditei que, por ser nova na zona, não se deixou aprisionar por diplomacias e jogos políticos.
.
Apesar do que diz Arroja, os novatos também têm o seu lugar.

Não culpem a caneta quando a culpa é de quem escreve (parte III)

Parte I e parte II.
.
O "cargo cult" dá nisto!!!
.
"The Six Sigma Blues"
.
O 6 sigma é fantástico para aumentar a eficiência numa empresa. Recomendo-o! Já vi o seu efeito em empresas que precisavam de se tornar muito mais eficientes.
.
Agora... a maioria das empresas antes de ser mais eficiente precisa de ser mais eficaz.
.
Não interessa ser eficiente se a empresa não seduz clientes com o que produz.
.
Acham que a Ferrari é uma empresa eficiente?
.
Mas a culpa nunca é da ferramenta, é sempre do cérebro humano que a usa!

sábado, outubro 01, 2011

E os Açores?

Aceito de barato a hipótese de que nos Açores nada se passou de anormal com as suas contas.
.
O ponto não é esse!
.
Qual é o montante da dívida dos Açores? Quanto é que isso representa relativamente ao PIB da região?

Mais peças do puzzle que vão compondo Mongo


"Moda Operandi: Click, Cash, Couture":
.
"True couture addicts who attend the runway shows at New York’s Fashion Week — or at least watch them online — can’t help but compile a mental wish list: a BCBGMaxAzria silk dress, perhaps, or a pair of Alexander Wang’s metallic glitter pants. Tragically for them, these wants rarely translate into actual purchases. The clothes chosen by large department store buyers often get “edited” to make them more commercial — a fur collar is trimmed here, a leather belt is added there—so what’s finally available is a watered-down version of the designer’s original vision. This is precisely the crisis the 7-month-old Manhattan-based website Moda Operandi set out to address. The members-only online shopping portal allows fashion slaves to add exotic runway fare to their personal wardrobes weeks before the full lines enter stores."
.
Explosão de gostos, revolta contra os referenciais do mainstrean, variedade, variedade, variedade.
.
"“There can be huge surprises,” Magnusdottir adds, sitting in her office in Manhattan’s Flatiron District, wearing a black tulle skirt and a blouse crossed with bustier-style straps. Her customers aren’t just looking for simple dresses, she says. They are advanced fashionistas who like the most daring designs, and the company is making those designs more accessible. “What we’re doing is kind of mad,” she says."
.
E por que não o exemplo da "Create-a-mattress"?

Agricultura com futuro: assente em vantagens competitivas

Ontem ao almoço, enquanto comia uma sandes entre dois compromissos, encontrei no Correio da Manhã uma referência à produção de pimentos na empresa Atlantic Growers em Odemira.
.
A firma fundada em 2001, com 60 funcionários, todos da região, que trabalham 8h/dia nas estufas de vidro, factura anualmente 4,5 milhões de euros e pretende triplicar o montante nos próximos 4 anos.
.
99% da produção é exportada para a Holanda, Inglaterra e Alemanha.
.
Vantagem competitiva: "Esta é uma das poucas zonas da Europa onde se produz todo o ano. No Inverno temos luminosidade suficiente e no Verão o clima é ameno"
.
Encontrei aqui outra fonte de informação:
.

"Que países estão interessados em investir aqui? (Odemira)
Israel, por exemplo, que é número um em tecnologia para horticultura, tem interesse em investir na Europa. Existe um holandês que está a fazer testes para um tipo de fl or em quintas no Zimbabué e Tanzânia, que também consegue produzir aqui. A Alemanha também tem interesse. O mercado europeu cresceu, com a entrada dos países de Leste, e a maioria dos países não tem clima para produzir também no Inverno.
.
Quais as vantagens desta região para a horticultura?
Um microclima sem grandes picos térmicos e água de boa qualidade, em quantidade e a um preço razoável. É uma zona perto da costa, mas a geada é mínima. Conseguimos semear batata em Novembro. Mesmo que chova muito, como o solo é arenoso, consegue-se tirar partido do microclima. Mas há o tal trabalho de drenagem a ser feito. O facto de estar no parque natural faz a diferença para os grandes supermercados, que
são exigentes a nível ambiental. A mão-de-obra não existe em abundância, mas havendo condições de alojamento, pode crescer. E estamos dentro do mercado. O nosso concorrente é o Norte de África."
.
Caro John veja este pormaior:
.
"Face à produtividade e rentabilidade do negócio – um investimento inicial de oito milhões de euros e
35 pessoas ao serviço, permitem uma facturação anual de 3,5 milhões de euros – a decisão pareceria óbvia. Mas não é. Ferry Enthoven recorda os oito anos que demorou o licenciamento das estufas e recusa-se a voltar a passar pelo mesmo.
«Vamos esperar que se defina uma área reservada à produção em estufas de vidro, com todos os licenciamentos inerentes, e só depois avançamos»"

É a vida!

O que aprecio num sistema económico de mercado, em que o Estado não intervém a escolher e a proteger "campeões nacionais" e "empresas estratégicas", é que sou eu que escolho quem cresce e quem morre. Eu e os outros consumidores.
.
Ao contrário do que se diz, não são os grandes que ficam cada vez mais grandes. São os que seduzem e cativam clientes os que crescem e prosperam... até que apareça(m) outra(s) empresa(s) que consigam captar a preferência dos clientes e, nesse caso, é a vida!
.
"Kodak pondera pedir protecção ao abrigo da lei de Falências"