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terça-feira, dezembro 20, 2016

Volume é vaidade, lucro é sanidade

"O britânico Barclays está a preparar-se para dizer a sete mil clientes para realizarem mais transacções com o banco ou procurarem outra instituição, de acordo com a Bloomberg. O objectivo desta medida é impulsionar as receitas.
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O banco britânico lançou um novo sistema informático, o Flight Deck, que classifica cada cliente da sua unidade de "trading" de acordo com o retorno que gera para a instituição. Assim, o Barclays pode dar prioridade à relação com os clientes que são mais lucrativos e descartar aqueles que não dão grandes contributos para o retorno do banco, segundo a mesma fonte.
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A instituição financeira britânica eliminou, desde 2014, 17 mil clientes devido às regras mais duras no que diz respeito ao retorno de capital. Com este novo sistema agora implantado, mais sete mil clientes do Barclays podem ter de procurar uma nova instituição financeira, escreve a Bloomberg."
Quem lê estes trechos não pode deixar de sorrir e recordar marcadores que este blogue utiliza há quase uma década:

  • Stobachoff - aquele "classifica cada cliente da sua unidade de "trading" de acordo com o retorno que gera para a instituição" tem tudo a ver com a curva de Stobachoff
  • Clientes-alvo - um dos primeiros marcadores usados neste blogue. A importância de perceber para quem temos de trabalhar. Ao decidir deixar de trabalhar com 17 + 7 mil clientes não rentáveis a empresa percebe que não é o volume que interessa. Ao perceber que o mais importante é saber para quem não trabalhar (volto sempre a Hill e à magia de 2008), ao concentrar-se nos clientes-alvo há-de perceber que há um padrão nos JTBD e nos serviços prestados
  • Volume is vanity profit is sanity - frase usada aqui no blogue pela primeira vez em Julho de 2006. Como não recordar a empresa de calçado que me ensinou a metáfora da Arca de Noé em 2006.
Agora pensem nos outros bancos. O que dirão desta decisão?

terça-feira, junho 23, 2009

Alerta

Já em Novembro passado tinha sido despertado para o mito "Clientes Fidelizados = Algo de bom" por V. Kumar.
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Ontem recebi um e-mail da MIT Sloan Management Review com o título "Why a Loyal Customer Isn’t Always a Profitable One" por Tim Keiningham, Lerzan Aksoy, Alexander Buoye e Luke Williams" (o artigo pode ser lido no Wall Street Journal)
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Destaco dois trechos:
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"our research showed a very large percentage of loyal customers—often more than 50%—are not profitable for most companies, because their loyalty is driven largely by expectations of great deals"
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E agora os números de fazer cair a mandibula inferior:
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"The target audience for any company should be customers who are not only loyal in both attitude and action, but also profitable. But research consistently finds that profitable customers tend to make up only around 20% of a company’s customers. Break-even customers represent around 60%, and unprofitable customers around 20%."
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Estes números são maus de mais!!!
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Estes números deveriam tocar os sinos a rebate e levar a fazer uma reflexão profunda sobre o que se passa. Como é que as empresas podem adormecer e ser embaladas e inebriadas até chegarem a este panorama?
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Como é que escreveu Terry Hill?
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As encomendas mais importantes são as que recusamos!!!

segunda-feira, março 16, 2020

Quantas empresas (parte XI)


Na minha infância, antes do saco plástico, o leite do dia era comprado em garrafas de vidro que vinham com uma tampa de alumínio:

Suil era a marca do leite que se bebia em São João da Madeira em 1969.

Nesses tempos era comum as cozinhas terem uma peça como esta para limpar o interior das garrafas:
Ontem à noite tive oportunidade de ler o capítulo 3 do livro “Nine Rules for Thriving in the Twenty-First Century” de Adam Davidson. Um capítulo sobre a “Braun Brush, um negócio com sede em Long Island e gerido por uma família - Braun Brush, the “Makers of Specialty Brushes Since 1875”. 

Um capítulo que se enquadra bem nesta série e ilustra como as empresa de calçado podem dar o salto para a descoberta do cliente. Divido a história da Braun Brush em quatro fases:
A Fase I - Artesanal
O fundador da empresa começou por ser alguém que trabalhava numa fábrica que engarafava o leite e, tinha a função de lavar as garrafas devolvidas pelos consumidores. Além de ser uma tarefa morosa, estava constantemente a ser repreendido pelo chefe quando a limpeza não ficava bem feita. Tinha um problema, tinha uma dor, e começou a trabalhar numa solução que lhe facilitasse a vida. Ele era o inovador e, em simultâneo, o cliente da sua inovação. Como cliente foi rechaçando as inúmeras soluções que ia testando. Depois de anos de trial & error chegou a uma escova que resolvia o seu problema. O que fazia num dia passou a ser feito numa hora.

Patenteou a sua solução. Despediu-se e começou a fazer escovas. Fabricava as escovas durante a noite e, durante o dia visitava potenciais clientes para lhes apresentar/entregar o produto.

Os anos de experiências fizeram dele um especialista em escovas, quer no tipo de materiais usados, quer em formas e outras possibilidades. Nesta fase o Braun fundador não tinha acesso à escala, era um artesão. O know-how adquirido permitiu que desenvolvesse escovas para animais, para culinária, para têxteis, até para queijos. O seu entusiasmo e paixão era o adequado para uma economia local e artesanal, embora já tivesse uma pequena fábrica. Era um artista, sempre pronto a desenhar soluções específicas para problemas específicos. Por exemplo, desenvolveu uma escova para limpar ecrâns de cinema, uma actividade em crescimento na altura dos primeiros anos da empresa.

A Fase II - Industrial
Anos 50 do século passado, a fase artesanal entrou em declínio. A empresa passou para as mãos do genro do filho do fundador. O investimento público em vias de comunicação tornou a economia americana nacional em vez de local. [Moi ici: Como não recordar "Decisões de localização (parte I)"] Assim, um pequeno fabricante de escovas em New York podia servir clientes no Alabama, Colorado e Oregon. 

Enquanto durante duas gerações a Braun apostou na diversidade de escovas para fins específicos, os novos tempos exigiam abraçar a comoditização. Seleccionar as escovas com maior mercado potencial, descartar as restantes e escalar a produção o mais possível para vencer a corrida
Os anos 50 do século passado representaram a transição do artesanal para a linha que aprendemos com Terry Hill:
Redução da variedade de modelos ao mínimo, para evitar a perda de tempo em alterações de setup. Era mais lucrativo produzir em massa e encontrar novos mercados para escoar a mercadoria. A empresa já não precisava de artistas, a ciência e a gestão eram a solução.

O actual CEO entrou na empresa chefiada pelo pai nos anos 80 do século passado. Ao longo dos anos 90 ele almoçava diariamente com o pai, analisavam os números do negócio e estavam sempre em desacordo num ponto: o filho (Lance) dizia ao pai que a empresa deveria voltar às suas raízes iniciais e  concentrar-se na criação de novos tipos de escovas, escovas UAU!, escovas com emoção. Ao longo desses primeiros 10 anos Lance tinha feito amizade com um artista que fazia esculturas com as escovas. O pai ria-se e dizia que ele era tolo.

A Fase III - O choque chinês (Recordar esta série de 2010)
Entretanto, ao longo desses anos 90, os fabricantes chineses começaram a enviar um grande número de escovas para os Estados Unidos. Inicialmente concentraram-se nos modelos mais baratos vendidos   pela distribuição grande. Eram escovas de qualidade inferior. No entanto, ano após ano, as escovas importadas da China ficavam cada vez melhores e começavam a invadir áreas mais especializadas. 

Durante as conversas ao almoço com o pai, Lance avisava-o que os chineses em breve começariam a fazer mossa no seu negócio. O pai ria-se. Em 2002, no entanto, as fábricas chinesas começaram a fazer exatamente os tipos de escovas que a Braun produzia. As escovas chinesas eram muito mais baratas e, Lance teve que admitir, quase com a mesma alta qualidade quanto as da Braun. Os seus avisos para o pai tornaram-se cada vez mais desesperados. Ele temia que um dia o negócio colapsasse. O pai achava que ele era um exagerado.

Entretanto, o pai autorizou a compra do primeiro computador, que o filho aproveitou para criar bases de dados sobre os clientes, as vendas e os custos. Assim, ficou cada vez mais ciente da mutação em curso no mercado.

Lance e o pai pertenciam a mundos diferentes e tinham desenvolvido visões totalmente diferentes sobre a Braun Brush e, mais amplamente, sobre a economia americana na era da tecnologia e comércio. O pai, cresceu na América do pós-guerra, quando os Estados Unidos dominavam quase todos os mercados globais com seus produtos, um mundo em que a chave para um negócio bem-sucedido era o volume de vendas. Nesse tempo, a maioria das empresas prosperava vendendo commodities: jogando pelo seguro e vendendo a mesma coisa repetidamente. O pai queria vender o maior número possível de escovas ao maior número possível de pessoas. O seu objetivo era nunca perder uma venda. Se fosse preciso baixava os preços, prometia entregar escovas mais rapidamente - qualquer coisa para conseguir essa venda.

Lance irritava-se com este posicionamento da empresa, usava o computador para mostrar ao pai que linhas inteiras de modelos da empresa não eram lucrativas, ou que podiam vender milhões de certos tipos de escovas e continuar no mesmo sítio. A famosa maldição da Rainha Vermelha.

Até que o pai morreu... duas semanas para fazer o luto e, depois.

A Fase IV - Mongo
A propósito de Mongo - recordar "1 Origem de uma metáfora", ou "Estranhistão ... weirdistão"

Ao regressar começou logo a trabalhar na mudança. Reuniu a equipa comercial e comunicou que a partir desse dia não venderiam uma única escova em concorrência directa com as importações baratas da China. Se uma fábrica chinesa pudesse fazer um modelo de escova razoavelmente semelhante, a Braun sairia completamente dessa linha. A Braun deixaria o negócio das commodities e entraria no campeonato das escovas altamente especializadas. A Braun deixaria a competição pelo preço e volume. Voltariam às raízes do bisavô, voltariam à arte e à Economia da Paixão. Como não recordar o Evangelho do Valor!!!

As escovas especializadas, tinham grandes margens de lucro. Elas seriam desenhadas para clientes com necessidades tão específicas que não haveria concorrência. O problema era o esses clientes serem raros. Lance disse à equipa que o sucesso não viria do número de vendas que eles fizessem, mas da qualidade das vendas. E mais, passou a mensagem de quanto mais baixo o tamanho da encomenda, menor a probabilidade de haver concorrentes a competirem por essa mesma encomenda. E se não houvesse concorrência, a Braun poderia apresentar preços baseados no valor que aportavam aos clientes e não com base nos custos. Clientes em busca de uma escova única pagariam um preço-premium por ela.

Lance iniciou a transição para uma empresa de escovas especializadas aproveitando uma oportunidade inesperada. Recordar o princípio da limonada na parte X. Recebeu um telefonema de uma pessoa que acabara de concluir uma inspecção de rotina a uma central nuclear. Esse inspector percebeu que as escovas que estava a usar na limpeza do sistema de refrigeração da central geravam riscos de segurança. Lance desenhou uma escova, levou várias para a central e, após uma bateria de testes, conseguiu provar que eram seguras. 

Hoje, essas escovas são usadas em geradores nucleares em todo o mundo. E as centrais nucleares economizam milhões de dólares por ano à custa de um modelo de escova que custa 12 dólares em matérias-primas.

É exatamente isto que os empresários da Economia da Paixão devem procurar: um produto cujo preço seja determinado pelo valor que fornece ao cliente, não pela matéria-prima usada para fabricá-lo.

Hoje a empresa ainda faz pincéis, é claro, mas seus lucros não provêm da fabricação de um produto físico. Os seus lucros provêm da criatividade, do conhecimento e do pensamento que entram nesses produtos. Os seus lucros provêm do valor que é gerado na vida dos clientes. Lance tornou-se um especialista em pincéis personalizados. 

Lance descobriu algo que suspeitava nos dias em que implorava ao pai que mudasse a estratégia da empresa: é possível ganhar muito mais dinheiro produzindo muito menos escovas quando as escovas criadas resolvem problemas fora do comum de uma empresa ou de um indivíduo. Lance costuma cobrar milhares de dólares por essas escovas, e os seus clientes pagam a conta com prazer porque as escovas permitem-lhes economizar muito mais do que isso.

Lance agora faz quinze mil tipos diferentes de escovas com uma equipe de trinta fabricantes de pincéis - ou, mais precisamente, artesãos. Ele vende várias escovas exclusivas, feitas sob medida para as necessidades específicas de uma pequena base de clientes. Recordar esta figura de "Muitos picos, muita arte"
Além disso, Lance faz algo que teria horrorizado seu pai. Anualmente, elimina centenas de referências de escovas do catálogo da empresa. Frequentemente, essas referências são exactamente as escovas que têm o maior volume de vendas, mas a menor margem de lucro. Se alguém na China pode fazer a mesma escova com aproximadamente o mesmo nível de qualidade, a Braun abandona a linha.

Outro exemplo, a Marlin:


domingo, julho 18, 2010

Para que serve uma biblioteca?

"Biblioteca Nacional garante não ter alternativa ao encerramento"
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Este título faz recordar um texto de Umberto Eco sobre as bibliotecas. Divinal!
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Para que serve uma biblioteca? Para impedir que o leitor chegue aos livros.
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A primeira vez que fui a Inglaterra, estive num hotel em Manchester, um hotel que ficava ao lado da biblioteca. Assim, aproveitei para a visitar e ter um choque.
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Ao contrário da biblioteca municipal do Porto, os livros estavam ao alcance dos leitores... e mais incrível, as revistas científicas e técnicas que eu conhecia, sempre atrasadas, na faculdade, estavam ali, à mão de semear, ao alcance do braço, para leitura actualizada.
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Nunca esquecerei a minha ingenuidade; algures no meu 2º ano na faculdade precisava de praticar uns exercícios de Mecânica Pura e Aplicada, o professor tinha recomendado um livro da McGraw-Hill cujo autor começava por agá (h). E lá fui eu à biblioteca municipal do Porto à procura do livro. Abríamos umas gavetas e procurávamos numas fichas de cartão o código com a localização do livro, o critério de procura era o nome do autor...
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Claro que não encontrei o livro que procurava, mas fiquei a saber que a biblioteca municipal do Porto tinha dezenas de títulos de um prestigiado autor albanês chamado Enver Hoxha.

quarta-feira, abril 27, 2011

O que não fazer é tão importante como o que fazer

Um dos conselhos que mais frequentemente dou às empresas é o da focalização.
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O interessante artigo que citei neste postal "Go Mongo: "We will find a place (To settle) Where there's so much space"" ajuda a explicar uma dificuldade intelectual que sentia.
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Olhando para três propostas de valor extremas, que posso colocar nos vértices de um diagrama ternário (como referi aqui), quase que posso trabalhar independentemente dos clientes concretos, para optimizar o sistema produtivo capaz de gerar essas ofertas extremas.
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Contudo, na prática, nunca o fiz. Procurei sempre que as empresas identificassem os seus clientes-alvo, e desenhassem o mapa de relações de causa-efeito plausíveis tendo em conta as experiências procuradas e valorizadas pelos clientes-alvo.
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A explosão dos atributos e a redução progressiva do ró, ao aumentarem o número de posições intermédias viáveis, significa um afastamento dos extremos no diagrama ternário... há cada vez mais posições híbridas viáveis. Assim, há que identificar os clientes-alvo associados a uma posição, há que avaliar até que ponto a posição é viável.
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Depois, há que:
  • focalizar a atenção nas experiências procuradas e valorizadas;
  • identificar as capacidades necessárias;
  • identificar as actividades a realizar;
  • identificar os investimentos em que apostar.
Continua a fazer sentido a concentração das atenções, dos recursos, das vontades nos clientes-alvo e na proposta de valor a oferecer-lhes.
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Daniel Pink neste artigo "Think Tank: Why we all need a 'To Don't' List, just like Moses", apesar de dedicado mais à produtividade e organização pessoal, chama a atenção de algo importante para as empresas.
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Tão importante como listar o que há a fazer, é listar o que não se deve fazer. Como Pink refere, de entre os 10 mandamentos, 8 são sobre o que não fazer.
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Há que recordar Terry Hill:
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"the most important orders are the ones to which a company says 'no'."

terça-feira, janeiro 16, 2018

"but what really matters is succeeding"

Aprecio esta abordagem e postura, mas ao mesmo tempo faz-me impressão pensar nas organizações e instituições pesadas e prisioneiras de conceitos teóricos quando o mundo muda tanto. Recordo um texto de Nassim Taleb que dizia que os Romanos adoptavam as leis que resultavam.
"We'll then look at the leaders we've traditionally sought, and why they are perhaps an endangered species in the new environment.
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to succeed, maybe even to survive, in the new environment, organizations and leaders must fundamentally change. Efficiency, once the sole icon on the hill, must make room for adaptability in structures, processes, and mind-sets that is often uncomfortable.
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The first was that the constantly changing, entirely unforgiving environment in which we all now operate denies the satisfaction of any permanent fix. The second was that the organization we crafted, the processes we refined, and the relationships we forged and nurtured are no more enduring than the physical conditioning that kept our soldiers fit: an organization must be constantly led or, if necessary, pushed uphill toward what it must be. Stop pushing and it doesn't continue, or even rest in place; it rolls backward.
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Before we begin, a thought. There's a temptation for all of us to blame failures on factors outside our control: "the enemy was ten feet tall," "we weren't treated fairly," or "it was an impossible task to begin with." There is also comfort in "doubling down" on proven processes, regardless of their efficacy. Few of us are criticized if we faithfully do what has worked many times before. But feeling comfortable or dodging criticism should not be our measure of success. There's likely a place in paradise for people who tried hard, but what really matters is succeeding. If that requires you to change, that's your mission."
Trechos retirados de "Team of Teams: The Power of Small Groups in a Fragmented World" de Stanley McChrystal e Chris Fussell

quinta-feira, outubro 07, 2010

As encomendas mais importantes...

As encomendas mais importantes são as que se rejeitam, escreveu Hill, a pergunta devia ser feita antes de cada proposta ser elaborada, antes de cada visita ser planeada, antes de cada feira ser decidida, antes de cada ... "Quem são os clientes-alvo?".
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A propósito de "Dica ao empreededor: Alguns clientes é melhor nem ter"

sábado, fevereiro 28, 2009

Standardisar a flexibilidade

Ontem numa PME, ao fim de algum tempo de entrevista conjunta a vários dos seus colaboradores, um deles proferiu a seguinte afirmação:
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- O que nós precisamos é de standardizar a flexibilidade!
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Stop!!! Freeze!!!
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Standardizar a flexibilidade ... para algum purista da linguagem estamos perante uma contradição! Padronizar é tornar igual (ver O perigo da cristalização), flexibilidade é paleta de opções, é disponibilidade para ouvir e acolher.
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Quem conhece o conceito de proposta de valor (e conhece a minha figura 12), quem recorda os quadros, baseados nos textos de Hill, que publiquei neste postal Flexigurança, fiscalidade e competitividade facilmente constata que standardizar a flexibilidade é uma contradição.
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Mas quanto sumo, quanto essência está concentrada na frase 'Standardizar a flexibilidade'.
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Apesar de ser uma contradição ambulante há uma forma de a ultrapassar: unidades de negócio dedicadas a cada uma das propostas de valor... mesmo que estejam debaixo do mesmo tecto (plant-within-the-plant de Skinner) por exemplo aqui.

terça-feira, junho 10, 2014

Acerca da ISO / DIS 9001 (Secção 10 - parte XI)

Parte Iparte IIparte IIIparte IVparte Vparte VIparte VII,  parte VIIIparte IX e parte X.
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A versão ISO / DIS 9001 acaba com a referência às acções preventivas. Passa a referir acções correctivas e a melhoria contínua. O que vem em linha com o que tenho escrito por aqui e no livro "Gestão Ambiental - Sintonizar Ambiente e Estratégia para o Negócio".
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Monitorizar e medir não é um fim em si mesmo, é um instrumento para nos ajudar a tomar decisões.
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Monitorizamos e medimos para tomar decisões. A tomada de decisões inicia-se quando comparamos os resultados reais obtidos com os resultados desejados, com as metas.
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Quando os resultados reais obtidos não correspondem às expectativas, estamos perante uma não-conformidade. Uma não-conformidade é uma falha, tem de ser corrigida. Uma vez corrigida, temos de avaliar a necessidade de melhorar o sistema, para minimizar a possibilidade dessa não-conformidade se repetir. À acção de melhoria que se realiza para minimizar a repetição de uma não-conformidade chamamos acção correctiva.
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Sempre que um resultado concreto, um resultado individual desencadear uma acção de melhoria estamos perante uma acção correctiva.
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Quando analisamos conjuntos de dados e avaliamos tendências, e decidimos desenvolver uma acção de melhoria para melhorar a tendência, a essa acção chamamos acção preventiva.
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Muitas empresas confundem acção correctiva com correcção, confundem acção correctiva com o tratamento da não conformidade, e em boa verdade cada auditor, cada consultor tem a sua versão do que é uma acção correctiva e, ainda maior a entropia, do que é uma acção preventiva.
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São discussões nas listas de e-mail das ISO 9000 na internet, são revistas e mais revistas, livros e mais livros cada um com a sua versão. Quanto aos artigos publicados em revistas mensais, cinco e seis meses depois, as secções das cartas dos leitores continuam a debater acaloradamente os prós e os contras das versões dos autores sobre a diferença entre acção correctiva e preventiva.
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Por exemplo:

Livros:

  • “After the quality audit” de J.P. Russel e Terry Regel, ASQ (versão apresentada nas páginas 3 a 11, versão que aqui seguimos)
  • “The ISO 14000 SEM Audit Handbook” de Gregory P. Johnson, St. Lucie Press (versão apresentada nas páginas 134 a 139, versão com a qual não concordamos)
  • “Implementing ISO 14000” Editado por Tom Tibor e Ira Feldman, McGraw-Hill (versão apresentada na página 131, versão com a qual não concordamos – exemplo de não conformidade: falta uma licença, acção correctiva: obter a licença!!! Onde se actua sobre as causas, neste caso???)
  • “Coment mettre en oeuvre des actions préventives” de Mouvement Français pour la Qualité.

Revistas

  • "Quality World”, Setembro de 1999, artigo “Corrective action still misunderstood” de Bob Sansbury,
  • “Quality Progress”, Março de 1998, artigo “ Preventive Action vs. Corrective Action: The horse, the barn door, and the apple” de C. Michael Taylor
  • “Quality Engineering”, Volume 12, Number 2 1999-2000, artigo “The Deming cycle provides a framework for managing environmentally responsible process improvements”, Richard Reid e Elsa L. Koljonen.


Não temos a veleidade de apresentar aqui a Verdade, a Definição, apresentamos uma versão, que cremos, ser útil para que as organizações melhorem o seu desempenho. E a minha versão pode ser encontrada aqui 


quarta-feira, novembro 26, 2014

E quem puder dar esse acompanhamento superior (parte IV)

Parte I, parte II e parte III.
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Para terminar, um tema que me ficou atravessado desde a parte I:
"Para além de grandes marcas como a Inditex, a empresa é também procurada por pequenos designers que querem começar ou começaram recentemente uma marca própria. ... Para além de grandes encomendas, a fábrica Paula Borges, com 50 funcionários, lida frequentemente com quantidades pequenas encomendadas por designers e lojas estrangeiras, sobretudo de Inglaterra e França."
Falta de concentração estratégica, trabalhar longe da fronteira do desempenho... e a lição de Terry Hill?
Andam constantemente a saltar de um extremo para o outro.

segunda-feira, maio 24, 2010

Há mais marés que marinheiros (parte II)

Continuado daqui.
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"Um país não pode aguentar durante muito tempo gastar muito mais do que aquilo que produz" (Moi ici: Portugal é a prova provada de que a afirmação do Presidente está incorrecta. Há quantos anos é que Portugal vive acima das suas capacidades?)
Se considerarmos a economia de um país como um ecossistema, com um elevado número de actores ou de agentes, ou, melhor ainda, de jogadores...
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"evolutionary game theory deals with entire populations of players, all programmed to use some strategy (or type of behaviour). Strategies with high payo will spread within the population (this can be achieved by learning, by copying or inheriting strategies, or even by infection). The payoff depend on the actions of the coplayers and hence on the frequencies of the strategies within the population. Since these frequencies change according to the payo s, this yields a feedback loop. The dynamics of this feedback loop is the object of evolutionary game theory." (1)
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Até à nossa adesão ao euro, até à adesão da China à OMC e até à entrada dos países da Europa de Leste na UE, o nossa economia suportava-se num ecossistema de estratégias globalmente ganhadoras e adaptadas às competências dos jogadores em campo (em biologia chamar-se-ia, talvez, fenótipo(?)), muitas dessas estratégias eram simplesmente uma reacção instintiva e sem grande explicitação crítica que fazia uso de uma vantagem competitiva: o custo mais baixo.
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Para muitos macro-economistas, para muitos políticos, para muitos empresários que não souberam dar a voltam, esse tempo "Até à nossa adesão ao euro, até à adesão da China à OMC e até à entrada dos países da Europa de Leste na UE", representa uma espécie de Éden, uma espécie de ventre materno para onde se quer voltar porque representa segurança, familiaridade, controlo, sucesso, felicidade...
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"A strategy is evolutionarily stable if a population of individuals using that strategy cannot be invaded by a rare mutant adopting a different strategy" (2)
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"An evolutionarily stable strategy or ESS is a strategy with the property that if most members of the population adopt it, no alternative strategy has a higher Darwinian fitness, and therefore none can invade the population by natural selection." (3)
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Para muita gente, euro, China e Europa de Leste são a explicação para todos os nossos males económicos (BTW, em breve o senso-comum dirá que o novo bode expiatório é a Alemanha), porque de certa forma, permitiram que outros competissem connosco com a mesma estratégia de custo, passando eles a ter a vantagem competitiva.
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O que bloqueia o pensamento de muita gente é a fixação numa estratégia evolutivamente estável... como voltar a ter sucesso, recorrendo à estratégia de sempre, quando outros têm uma vantagem competitiva?
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O que bloqueia o pensamento de muita gente é a crença no equilíbrio...
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"An ESS is invariably an equilibrium point, but not every equilibrium point is an ESS"(3)
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Quando o número de jogadores é elevado e quando o número de interacções entre eles é grande e existe memória sobre o resultado das interacções anteriores:
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"when w is sufficiently great, there is no single best strategy regardless of the behavior of the others in the population"(2) (onde w é a probabilidade de, depois da interacção actual, os mesmos jogadores individuais se voltem a encontrar e interagir no futuro)
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Aquele "there is no single best strategy" é a frase libertadora...
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"It assumes a well-mixed population with a finite number of strategies and posits that the per capita growth rate of each strategy is proportional to its fitness. If the fitness values are independent of the frequencies, then the average fitness of the population will grow: This yields the usual hill-climbing dynamics and results in the survival of the fittest only. But if the fitness values are frequency-dependent, as is usual with evolutionary games, the average fitness need not grow (1). Several strategies can coexist in steady or fluctuating frequencies. Chaotic dynamics are possible." (4)
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Outra afirmação libertadora... o equilíbrio, a estratégia evolutivamente estável, o monopólio ditatorial estratégico... podem todos ir para o Inferno!!!!!!!!!!!
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Há várias possibilidades, há várias estratégias ... pudera, como se pode duvidar quando se aprende isso com os protozoários?
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Contudo, vamos precisar que os macro-economistas obsoletos que dominam o mainstream (por exemplo: "Constâncio: cortes nos salários têm de ser para todos" ou "Já que não se pode desvalorizar o escudo, há quem defenda o corte nos salários" Ou seja o meu velho combate) sejam removidos pela lei da vida, para que macro-economistas formados após as aplicações da teoria dos jogos conjugada com a simulação em mundos virtuais, cheguem ao mainstream e imponham uma visão nova onde não há uma única estratégia.
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Um macro-economista ciente da evolutionary economics diria aos empresários: Amanhem-se! Há sempre uma alternativa, procurem-na, esforcem-se, desenvolvam-na!
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Um macro-economista ciente da evolutionary economics diria aos políticos: Facilitem a vida aos empresários, não compliquem, descompliquem, não privilegiem, abram. E não tenham pena das empresas que fecham, é a destruição criativa a funcionar, é a única forma dos recursos serem canalizados para projectos mais competitivos, mais rentáveis, mais produtivos:
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"Joseph Schumpeter long ago showed how economic crises give rise to the gales of creative destruction – as new entrepreneurial individuals and enterprises seize the opportunity to forge new business models, and new industries revolutionize and transform the economy. The British economist of innovation, Christopher Freeman, found evidence that innovations not only accelerate but bunch up during economic downturns only to be unleashed as the economy begins to recover, ushering in powerful new waves of technological change."(5)
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Um macro-economista ciente da evolutionary economics diria, ainda, aos políticos: cuidado com os direitos adquiridos, não basta contarem com o desenvolvimento dos fenótipos existentes, e se de repente o próprio habitat mudar?
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Basta pormos um macro-economista a falar de economia para vir ao de cima a incapacidade de jogarem xadrez contra si próprios... "As expectativas recaem agora nos "bens transaccionáveis". Nas empresas que exportam e que concorrem no exterior com os produtos da China ou dos países de Leste."(6) Não percebem!!! Estão tão desligados da realidade... só percebem a variável preço/custo... não sabem que a alquimia existe, que a alquimia resultante da paixão com clientes, fornecedores e produtos faz milagre e origina valor!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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Como é que um macro-economista de cátedra consegue explicar isto "Há mais de duas décadas, o sector decidiu eleger o calçado italiano como seu rival e, ao nível do preço médio/par, a diferença está a esbater-se: 23 contra 20 euros nacionais," (7) apesar da China colocar o calçado na Europa, em média, a 3€ o par, 98% da produção nacional é exportada. Não consegue porque a resposta é: "Its value origination, stupid! Not cost mitigation, stupid" (O problema passa também pelas Associações empresariais... há os encostados ao poder, os queixinhas e, ... as outras: "Retratos das Associações empresariais deste país")
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E depois dizem estas barbaridades "Sem contenção nos gastos, sem que a subida dos salários seja compensada pelo aumento da produtividade, não há criação de riqueza."(6)
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Continuam ao nível do Sr. Costa, ainda não perceberam que poupar não é o mesmo que ganhar, ainda não perceberam que por mais que se poupe não se ganha dinheiro. Para criar riqueza há que originar valor... continuam ao nível que eu tinha em 1992 quando recebi a revista da HBR e li o artigo de Rosiello e não percebi que se pode aumentar o preço se se criar valor!!!!! (Outras contas em: "Reduzir salários não é de esquerda nem de direita, é ignorância pura e dura... mitologia") Continuam a não perceber a diferença medonha nas consequências, de se mexer no numerador da equação da produtividade em vez de cortar nos custos, em vez de mexer no denominador.
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(1) "Evolutionary Game Dynamics" de J. Hofbauer e K. Sigmund, Am. Math. Soc., Volume 40, Number 4, 2003
(2) "The Evolution of Cooperation" de Robert Axelrod e William D. Hamilton, SCIENCE, VOL. 21 1, 27 MARCH 1981
(3) "Evolution of coordinated alternating reciprocity inrepeated dyadic games" de Lindsay Browning e Andrew M. Colman,Journal of Theoretical Biology 229 (2004) 549–557
(4) "Evolutionary Dynamics of Biological Games" de Martin A. Nowak e Karl Sigmund, SCIENCE VOL 303 6 FEBRUARY 2004
(5) "Startups Surge in the Great Reset"
(6) "De repente, as empresas passaram a ser as salvadoras da pátria"

quarta-feira, fevereiro 11, 2015

- Nós não fazemos isso!

Frank Cespedes em "Aligning Strategy and Sales" recorda esta tira:

Como não associar a última imagem à tirada de Terry Hill e recuar ao Verão de 2008 em "The Most Important Orders are..."
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Só uma empresa com uma estratégia pode dizer:
- Nós não fazemos isso!

domingo, setembro 18, 2011

A indústria das experiências

"Esta agência não é para turistas, "é para viajantes""
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Trata-se de um bom exemplo sobre a caracterização dos clientes-alvo e das experiências que procuram e valorizam.
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De realçar que a empresa não tem só uma ideia do que faz e para quem, também sabe o que não faz e para quem não faz... recordar Hill que dizia que as encomendas mais importantes são as que rejeitamos porque não se encaixam na nossa estratégia, no nosso perfil... só quando se rejeita é que se pode falar de pensamento estratégico, de trade-offs, de escolha estratégica.
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Este tipo de empresa está em linha com este artigo "Innovation in the experience economy. A taxonomy of innovation organisations" de Jon Sundbo.
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"Where the aim of services is to solve the customers’ problems, the experience industry seeks to give the customers what can be defined as a mental journey.
“Experience” includes entertainment, which in the extreme can be escapism, and active exertion such as sport. It can also be learning and extending one’s understanding of life and in extreme cases be existentially meaninggiving such as is the case with therapy, literature or film.
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there is an increasing demand for experiences determined by several factors: Seeking for social status, more meaning and less boredom in life, and psychological selfrealisation.
This demand is flighty. It is rooted in fundamental psychological needs and societal factors, but these are needs and factors from the luxury end of human life.
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Experience production is an activity that is carried out in firms with the aim to produce experiences. These are for example festivals, film and broadcasting companies, fitness and sports clubs, computer game companies, design and architectural firms. As mentioned, some literature claims that experience is a general element that is developed in all business sectors and added to services and goods: Experience functions when integrated add on to other products and marketing activities in service and manufacturing industries besides being its own industry. Experience production can be considered a general business principle, exactly as the service management and marketing principle is a production principle for the service sector as well as a general marketing principle, which is also used in manufacturing.
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Consequently we can advantageously operate with primary and secondary experience sectors ... The primary experience sector consists of firms whose main aim is to produce experiences. The secondary sector consists of agricultural, manufacturing and service firms that use experiences as add ons or marketing tools."

quinta-feira, dezembro 15, 2016

Uma questão de criatividade


Subir na escala de valor não é conversa da tanga e quase sempre nem requer tecnologia espacial.

Basta um pouco de criatividade e estar atento à evolução da procura e à evolução da oferta.

Por exemplo, capas para proteger PC ou Mac quem precisa?

Em que prateleiras as pessoas as compram?

E o que é que essas prateleiras disponibilizam?

Após meses de pesquisa não intensiva nas Worten, nas FNAC, nos quiosques e lojas de centros comerciais e até em lojas chinesas. Desistimos, fartos das monótonas capas pretas e monocolores e fartos das promoções. Como se o meu critério fosse escolher a capa mais barata.

Como nasceu a necessidade? Qual a minha luta? Que progresso queria fazer?

Comprei um novo computador com tampa metálica e colocava-o tal e qual na minha pasta de trabalho. Cedo reparei que se não tivesse cuidado o metal começaria a ficar riscado e manchado ao contactar e ser pressionado contra outras peças metálicas na pasta como as argolas de um caderno.

Estava criada a necessidade de progresso, deixar de ter esta preocupação, deixar ter um cuidado especial no arranjo das coisas na pasta. Posso dizer que tudo começou pelo "trabalho funcional por realizar" - arranjar uma protecção para o computador para me libertar da preocupação.

Com base no "trabalho funcional por realizar" começou a minha pesquisa. Só que o "trabalho funcional por realizar" no meu caso, descobri, não me chega. Queria a protecção mas também queria algo de diferente do que via e do que toda a gente tem ... um "trabalho emocional por realizar". Uma outra forma de expressar:
"Socks are the new neckties, the place where a man can, on a pretty risk-free basis, express his individuality. And the socks business is on fire. There is enormous growth in socks because consumers need to stock up to replace their all-black collections with something more thoughtful, interesting and fun. And buyers of companies are paying high multiples for successful sock companies. Will that last? Most likely, it will move like most trends towards something else in three years’ time."
O mesmo padrão que me levou a ser cliente das Happy Socks.

O que impede alguém de se expressar com os objectos que usa no dia a dia?

Um conselho recorrente neste blogue é o de convidar as PME a concentrarem-se nos segmentos underserved.

Clientes overserved são clientes que valorizam o "trabalho funcional por realizar" e pouco mais, para eles o preço é o critério de decisão.

Clientes underserved têm outros critérios além do preço. O preço, como aprendi com Hill naquele produtivo Verão de 2008, pode ser um factor higiénico, pode ser um order qualifyer em vez de um order winner.

Assim, quando falo em subir na escala de valor, penso, por exemplo, em empresas têxteis que em vez de apostar no monótono preto, assumem o desafio da cor e de trabalhar para as tribos de Mongo. Por exemplo, as Happy Socks apostam no design e na cor:
Cobram 9€ por um par de meias.

Como é que uma empresa portuguesa pode concorrer com a Happy Socks? Apostando na qualidade do tecido: as meias da Happy Socks são feitas na Turquia e a qualidade não é grande coisa. Apostando no serviço ao cliente: a última vez que encomendei, há 2 ou 3 anos, a encomenda demorou cerca de 3 meses a chegar, quando reclamei ao fim de um mês, responderam-me como se eu fosse um meridional europeu habituado a esquemas e a querer meias de borla.

Por que escrevo tudo isto agora?

Porque decidi saltar da pesquisa no retalho físico e espreitar na Amazon para ver se havia alguma capa de jeito para computador. E havia e chegou ontem:

Subir na escala de valor passa por fazer esta transição do overserved para o underserved. E, como relato neste exemplo, não é, quase sempre, uma questão de tecnologia. No entanto, é quase sempre uma questão de criatividade.





domingo, outubro 23, 2011

A geração do Maio de 68 deixa isto bonito por todo o lado.

"“You can’t let people think that something’s going to be there if it’s not,” Ms. Raimondo said in an interview in her office in the pillared Statehouse, atop a hill in Providence. No one should be blindsided, she said. If pensions are in trouble, it’s better to deliver the news and give people time to make other plans.
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Then, in 2009, with zero political experience, she ran for the state office of treasurer. Although she is a Democrat in a heavily Democratic state, she stood out because she refused to promise that state jobs and pension benefits would be protected no matter what. She won by a landslide, receiving more votes than any other candidate for any state office.
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AT the Portuguese Club in Cranston, José M. Berto raised his hand. At 62, he told Ms. Raimondo, he was on the cusp of retirement.
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We’re looking at a Ponzi scheme that would make Bernie Madoff look like a Boy Scout,” said Mr. Berto, a supply officer for the state."
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Trechos retirados de "The Little State With a Big Mess"

quarta-feira, novembro 11, 2009

Estratégia e organização produtiva

"Technology, competition, and social change have brought serious problems for manufacturing. Further technological and social changes will take place and, in combination with the natural competitive processes, will, I believe, continue to force an accelerating evolution in the factory.
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Mass production as we have known it is an outmoded concept. (Moi ici: Tanta gente a precisar de atingir isto, de perceber o sentido e significado desta afirmação. Não basta produzir, produzir, produzir... é preciso ir à procura da originação de valor.)Changes in production management are essential. The corporations and managers that lead in bringing about changes in manufacturing management will gain an important competitive advantage."
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When companies fail to recognize the relationship between manufacturing decisions and corporate strategy, they may become saddled with seriously noncompetitive production systems that are expensive and time-consuming to change.
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The mistake of considering low costs and high efficiencies as the key manufacturing objective ... is typical of the oversimplified concept of "a good manufacturing operation." Such criteria frequently get companies into trouble, or at least do not aid in the development of manufacturing into a competitive weapon. Manufacturing affects corporate strategy, and corporate strategy affects manufacturing. Even in an apparently routine operating area such as a production scheduling system, strategic considerations should outweigh technical and conventional industrial engineering factors invoked in the name of "productivity." (Moi ici: strategic considerations should outweigh technical and conventional industrial engineering factors. Só que isto pressupõe que exista uma estratégia... recordo logo aquela afirmação de Hill "the most important orders are the ones to which a company says 'no'." E quantas empresas têm definidos os seus clientes-alvo? A Lei de Gresham aplicada aos clientes.)
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Trechos retirados de "Manufacturing in the Corporate Strategy" de Wickham Skinner."

quarta-feira, agosto 17, 2022

Falta de alinhamento ao vivo e a cores

Neste blogue, ao longo dos anos, tenho registado vários casos que são um absurdo em termos de estratégia. Por exemplo:
Ontem encontrei mais um exemplo do que me parece um absurdo em termos de estratégia. Aprendi primeiro com Porter no seu clássico "What is strategy?" (A evolução da ideia de mosaico estratégico (parte III)), e depois com Terry Hill (As mudanças em curso na China - parte II), a importância do alinhamento estratégico. Ou seja, se se quer ter marca de luxo não se pode vender o artigo ao desbarato na feira do preço baixo. Se se quer ser competitivo no custo/preço não se pode ao mesmo tempo investir na diferenciação da marca.

O exemplo em causa estava no DN sob o título, "Carnes da Montana quer chegar às cantinas públicas":
"Marca que representa sete raças autóctones bovinas existentes em Portugal está a inovar oferta e explora novos mercados. [Moi ici: Marca e raças autóctones aponta para diferenciação, qualidade, e baixas quantidades]

Os produtores de sete raças autóctones de bovinos identificadas em Portugal encontraram um novo canal para fazer chegar as suas produções diretamente ao consumidor, através da loja online Carnes da Montanha. Vão lutar para que o produto chegue às cantinas públicas e assim estimule a preservação de um efetivo que é "muito mais do que carne", como descreve Idalino Leão, administrador da empresa. [Moi ici: Produtores de raças autóctones querem escoar a carne através de um canal que não valoriza a qualidade, mas a conformidade. Querem escoar a carne como se fosse uma commodity. Não percebem que o negócio das cantinas públicas é o negócio do preço/custo mais baixo?]
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"Orgulhoso por poder exibir as nove medalhas de ouro atribuídas a produtos da Carnes da Montanha no último Concurso Nacional de Carnes Tradicionais Portuguesas, que se realizou em junho, em Santarém,"  [Moi ici: Qual o valor destas medalhas? Ou as medalhas não prestam, ou as Carnes da Montanha não sabem como as utilizar. As medalhas se valerem algo devem ser usadas para reforçar a proposta de valor para mercados que valorizam a diferenciação]
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 "o objetivo é convencer os municípios a usarem estes produtos sempre que nas ementas das cantinas públicas (hospitais, escolas, universidades) esteja previsto o consumo de carne de vaca" [Moi ici: Acham que estas entidades nadam em dinheiro? Compram ao preço mais baixo e, por isso, têm de ser fornecidas por produtores com raças muito eficientes]
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Segundo o administrador, em Portugal, 60% dos clientes estão em Cascais, Oeiras e Ericeira, 20% no Algarve os restantes no resto do país." [Moi ici: Como não recordar a artesã de Bragança e os outros, têm de mudar de mercado, mas não é para baixo, é para cima. Pena que o administrador seja "também o presidente da Agros e da Confagri", formatado no negócio do preço baixo, não tem nem experiência nem tempo para apostar numa estratégia de preço alto]

quinta-feira, setembro 17, 2009

I rest my case... open up your eyes!!!

Ontem recebi na caixa do correio electrónico uma referência a um livro novo intitulado "Cut Cost, Grow Stronger" de Shumeet Banerji, Paul Leinwand e Cesare Mainardi.
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Pelo título, a minha primeira reacção foi negativa... mais um grupo a promover os cortes nos custos como a terapia de eleição. Não suporto essa postura típica de macro-economista , ou de burocrata de Bruxelas... afinal, que manobras sabem equacionar para lá das lineares de Lanchester.
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Contudo, resolvi fazer das tripas coração e ler a introdução do livro... e em boa hora o fiz.
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"We reject the idea that cutting costs in itself makes a business weaker or more limited. To be sure, if you reduce expenses in a panic, or without an eye to strat­egy, you could do great harm to your company’s competitiveness. But if you focus on your priorities and on your future potential, cutting costs can be a catalyst for ex­actly the change a company needs. (Moi ici: alto... há aqui qualquer coisa que pode ter interesse. Relacionar corte de custos com a estratégia, ou melhor, o pânico, se for controlado, pode ser canalizado para desencadear uma reflexão estratégica profunda que esteja em atraso. O perigo de morte abre os olhos dos intervenientes e gera o sense of urgency de que fala Kotter.)
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Unfortunately, many companies are cutting expenses ineffectively. They either spread the pain as evenly as they can across all parts of the business or they target high-cost areas first. And they look for short-term reductions without fully considering the impact on their long-term position or prospects." (Moi ici: OK, esta é a parte que eu temo, a reacção instintiva de cortar 10% em todo o lado sem qualquer reflexão, sem qualquer justificação... normalmente resulta em tiros nos pés.)
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"The right way to think about costs — whether your company is under pressure now or marshalling resources for the future — is to look at the capabilities you need most and to invest only in those that will give you a clear advantage in reaching the customers you care about most. (Moi ici: Please, rewind and read the underlined text again... aquele trecho precioso... "the customers you care about most". Os clientes-alvo!!! Se as capacidades que permitem servir os clientes-alvo forem prejudicadas... Houston, we have a big problem. Mas se virarmos o tabuleiro, podemos pensar no que estamos a desperdiçar agora mesmo ao trabalhar para os clientes que não são clientes-alvo! Ainda há dias escrevi sobre o equivalente à lei de Gresham: clientes-alvo são expulsos pelos clientes que não são clientes-alvo. A coisa está a ficar interessante.) This approach involves a new way of thinking about capabilities. They need to be seen for what they are: a defining factor in productivity, a critical element of success, and a major factor in determining strategy."
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(Moi ici: Depois, encontro um trecho que me faz logo recordar um dos melhores livros que li de Ram Charan, um livro escrito em parceria com Larry Bossidy, "Confronting Reality - Doing What Matters to Get Things Right".)
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"In our experience, the most dramatic, significant, and successful cost reductions, in either the short term or the long run, aren’t those that are simply prompted by financial analyses. They have all occurred in situations when management realized that it had to truly transform. The process wasn’t expense reduction as usual; it involved real fear — a sense that “If we don’t change, we may not survive.” These urgent situations provide exactly the right impetus to make critical strategic changes." (Moi ici: é este 'impetus' que dá a força, o momento para vencer a inércia, para obrigar a fazer o que já devia ter sido feito hà muito tempo... por isso é que a introdução ao livro de Bossidy e Charan tem o subtítulo de "Break with the past".)
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Depois, os autores apresentam um caso concreto, um exemplo. Não o vou transcrever aqui porque pode ser lido facilmente na hiperligação que fiz acima.
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Se lerem esse caso... de certeza que vão sorrir ao começar a encontrar pistas para temas que normalmente são apresentados neste blogue.
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"Most important, they saw that the complexity of the company’s product line was hurting its long-term profitability (Moi ici: os meus mestres Skinner e Hill escreveram-no, a minha figura 12 ilustra-o.) and needed to be addressed. Johnson Controls’ huge volume of sales ... had covered up the fact that certain parts of the business were subscale; (Moi ici: ainda esta semana, usando as equações de Baker voltamos à carga com as ideias de Hermann Simon: volume is vanity, profit is sanity.) they required an investment in capabilities that was greater than what they earned back in profits. The capabilities (which were focused on manufacturing, sales, and certain types of R&D) required to produce and market high-volume batteries turned out to be very different from those required to make and distribute the wide variety of batteries for more specialized or lower-volume vehicles. (Moi ici: olha a novidade! O que é pena é que tenham de ser as circunstâncias excepcionais, as situações de quasi-morte a abrir os olhos dos gestores.)
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In part by focusing on their mass-market, high-volume customers, the managers at Johnson Controls were able to immediately identify 35 percent cuts in overhead, in areas as diverse as accounting, human resources, and information technology, without hurting the most profitable parts of their business." (Moi ici: I rest my case)

domingo, junho 13, 2021

"the Age of Diverse Markets"

Longe vão os tempos do: qualquer cor desde que seja preto.

Ao longo dos anos tenho escrito sobre Mongo, ou o Estranhistão. A metáfora que uso para ilustrar o abandono do monolitismo do século XX e o advento da variedade e diversidade do século XXI.

"Today, business is transitioning from one major era, the Age of Mass Markets, to another, which we call the Age of Diverse Markets. [Moi ici: Aquilo a que chamo de Mongo, ou o Estranhistão]
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The Age of Mass Markets, which extended through most of the prior century, was characterized by fast-growing homogeneous markets. [Moi ici: A visão monolítica que a Economia aplica à realidade para a poder matematizar. Depois, chega a modelos e a conclusões sem adesão à realidade e não percebe, e enterra a cabeça na areia]
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[Moi ici: In the Age of Mass Markets] These companies were characterized by massive economies of scale in nearly every business function (production, distribution, advertising, and so on), which ensured that as they increased their sales, their unit costs dropped, giving them ample profits to invest in getting more sales and in further reducing their costs by increasing the efficiency of their production and distribution systems. Both prices and distribution costs were relatively uniform, so reporting tools based on averages—like aggregate revenues, costs, and gross margins—were sufficient.
The key management imperative was to get big fast. The rules of thumb were that all revenues were good and all costs were bad. [Moi ici: Como não recuar a 2012 e a "Como surgem os Golias e pistas para o aparecimento de Davids". Em Portugal, os mesmos da tríade ainda sonham com empresas grandes. Em Mongo, "Giants invariably descend into suckiness"] Companies segregated their functional departments to individually optimize their revenue-maximizing or cost-minimizing objectives, and they coordinated them at the top through periodic planning sessions and period-end financial reports.
Today’s Age of Diverse Markets, which began its widespread acceleration around 2000, is completely different. Today, there are very few mass markets, while there are more and more diverse markets where product offerings, pricing, and service packages are uniquely configured, if not by individual customer, than at least by highly segmented target markets.
Today, markets are heterogeneous and fragmenting down to the individual customer in many cases. Throughout our economy, pricing is becoming much more varied, both within market segments and even between one customer and the next. In parallel, the cost to serve each customer is becoming increasingly diverse, depending on the customer relationship, product-service mix, and other factors. This change has already overtaken the business-to-consumer (B2C) markets, and it is rapidly transforming the business-to-business (B2B) markets as well."
"In the Age of Mass Markets, products were “king.” To a large extent, companies succeeded by selling the same products to as many customers as possible. In the Age of Diverse Markets, in contrast, customers are “king.” Companies succeed by microtargeting particular customers and tightly specified market segments and providing them with tailored packages of products and related services."
Comecei a reler “Choose Your Customer: How to Compete Against the Digital Giants and Thrive” de Jonathan S. Byrnes. Primeiro, o título. Qual a primeira decisão estratégica? Escolher os clientes-alvo! Recuar ao Verão de 2008 e a Terry Hill e à sua frase "the most important orders are the ones to which a company says 'no'.". Julho de 2007, a primeira vez que usei o marcador "clientes-alvo" aqui no blogue. Apesar de já o fazer em textos anteriores. Segundo, Jonathan S. Byrnes. Um autor que aprecio há mais de 10 anos.

segunda-feira, dezembro 08, 2014

Um exemplo de segmentação

O texto mais antigo que conheço sobre a curva de Stobachoff é um artigo de Kaj Storbacka sobre um banco na Finlândia.
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Um banco que ganhava dinheiro com metade dos clientes para perder muito com a outra metade. Trata-se de um fenómeno muito comum como aprendi com Skinner, Terry Hill, Kotler e Byrnes entre outros, um fenómeno que decorre das empresas não escolherem os seus clientes-alvo e terem a veleidade de ser tudo para todos e, terem a veleidade de serem uma espécie de Arca de Noé, e terem horror a rejeitarem clientes, a rejeitarem encomendas.
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Por isso, saliento este exemplo "Barclays recusa clientes menos abastados"