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terça-feira, abril 16, 2024

Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas (parte II)

Em "Libertar a economia do colete de forças fiscal" sublinhei:

"O investimento privado reflete a saúde das economias. Se as expectativas e se o contexto são favoráveis, este indicador rapidamente espelha essa confiança. É por esse motivo que a decisão, tomada por este Governo, de acelerar o desagravamento fiscal sobre o trabalho, duplicando, até ao verão, a descida que estava prevista no Orçamento do Estado, tem de ser sublinhada e valorizada. As famílias precisam de espaço de manobra - já. A redução do IRC ao longo da legislatura também contribuirá para libertar recursos financeiros, permitindo finalmente a sua aplicação em fatores produtivos que puxem os negócios e a economia para a frente.

O aumento da produtividade está diretamente ligada ao investimento. Se o nosso pais tem hoje trabalhadores mais qualificados e empresários igualmente mais preparados, o que nos tem faltado é precisamente capital para investir. Passo a passo, com políticas públicas coerentes e com o propósito de criar riqueza e não apenas redistribuir o pouco que existe, Portugal tem hipóteses de crescer mais, desenvolver-se mais e, deste modo, fazer subir a maré para todos - isto é, aumentar os rendimentos das pessoas, aproximando os salários dos valores que são pagos nas economias europeias mais desenvolvidas."

É pena o jornalismo não ter gente dedicada ao tema da produtividade. Perceberia esta frase:

Mais uma vez:

"Alguém diz ao filho com 5 anos?

- A actuação do vosso ano na Festa de Natal do jardim-escola foi uma valente porcaria!" 

Perceberia que isto que se segue não faz qualquer sentido:

"aumentar os rendimentos das pessoas, aproximando os salários dos valores que são pagos nas economias europeias mais desenvolvidas"

Nunca será possível chegar ao nível dos salários das economias europeias mais desenvolvidas a produzir com o mesmo perfil de economia que temos. Isto é duro de ouvir. Por isso é que ninguém tem coragem de o dizer. Por mais que a produtividade na produção de [colocar aqui um exemplo] aumente, o limite para os salários é o preço a que se consegue vender (não pensem que o conseguem pelo aumento da produtividade física).

Assim, continuam alegremente neste jogo de sombras: A produtividade não aumenta porque [colocar aqui um culpado externo que sirva de bode expiatório]. Esta postura desculpa os intervenientes, pobres vítimas dos governos de turno... 

Imaginem um governo ter a coragem de dizer isto Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas e de explicar porquê.

segunda-feira, abril 08, 2024

Sobre a transição dolorosa...

"A produtividade per capita em Portugal está abaixo da média da UE27. Segundo o Eurostat, no nosso país a produtividade por hora de trabalho, em 2022, situa-se em 22 euros, o que compara com 46 euros para a média da UE27, 40 euros em Espanha ou 63 euros na Alemanha. A produtividade nominal por trabalhador empregado em Portugal foi de 76,7% face à média dos países da UE27 em 2022 (76,8% em 2012). Ou seja, a produtividade média por trabalhador é 23,4% inferior em território nacional, o que coloca Portugal no fundo da lista do "ranking" europeu de produtividade. Com pior classificação estão apenas 4 países: Polónia, Letónia, Grécia e Bulgária. A liderar estão países como a Irlanda (124,8% acima da média) e o Luxemburgo (59,2% acima da média)."

Estes números são duros, muito duros! 

Contudo, não creio que a solução passe pelas ideias apresentadas no artigo de onde retirei os números, "Contributos para o aumento da produtividade em Portugal".

Mais uma vez:

"Alguém diz ao filho com 5 anos?

- A actuação do vosso ano na Festa de Natal do jardim-escola foi uma valente porcaria!"

Claro que não. 

Por isso, continuamos num jogo de faz de conta que se abstém de pôr o dedo na ferida.

Quando escrevo sobre a transição dolorosa, não é dolorosa só para os trabalhadores, mas também e sobretudo para as empresas. 

sábado, abril 06, 2024

Assim, não admira.

Em Agosto de 2023 publiquei este postal, "Empobrecimento garantido" que ilustrava como o crescimento dos salários em Portugal está divorciado da evolução dos lucros.

Assim, não admira:

"Portugal passa Espanha e Itália e torna-se o 2.º em precariedade"

- De onde vem o dinheiro para pagar os salários e os impostos?

- Das vendas.  

- Errado! Da margem entre o preço de venda e o custo de produzir e entregar.

Se a concorrência não deixa o preço de venda subir para compensar o aumento do custo de produzir e entregar, a margem vai encolhendo ano após ano. Assim, com receio crescente sobre o futuro, os empregadores decidem racionalmente diminuir os riscos, os compromissos para o futuro.

Daí o interesse do patronato em mão de obra barata imigrante.

quinta-feira, abril 04, 2024

Ninguém faz contas

Há dias no WSJ apanhei este artigo, "The Biden-Trump Economy of Nostalgia". Julgo que há aqui algo em torno de temas que temos abordado aqui no blogue: 

"America's elderly presidential candidates want to return the country to a fantasy mid-20th-century past. [Moi ici: Recordo a reflexão acerca do peso da indústria transformadora no PIB] Their mantra is to restore manufacturing. But neither understands modern manufacturing or how America can forge a dynamic and secure future.

The Cato Institute has reported that-contrary to conventional belief-U.S. manufacturing accounts for a larger share of global output than Japan, Germany, South Korea and India combined. America's productivity is far ahead, too. In 2019, the value added by the average American manufacturing worker was $141,000, exceeding second-place South Korea by more than $44,000 a worker and China by more than $120,000. [Moi ici: Recordo o gráfico sobre Taiwan]

Rather than prepare the U.S. for the challenges of the 2lst century, they want to bring back the 20th.

...

America's success is thanks to its ability to move from low-tech, less productive sectors to higher-value ones such as computers, pharmaceuticals, medical and scientific instruments, aerospace, and electrical machinery. [Moi ici: Basta pesquisar aqui no blogue "Flying Geese"] The U.S. even understates its performance because our definition of manufacturing is as old as our presidential candidates. The late George Shultz said Washington could solve a political problem by treating software as a manufactured good. Software now accounts for about half the value of a new car. Politicians who see manufacturing only as bending metal are out of touch.

The Biden-Trump mindset ignores the links between productivity, growth and higher incomes. The 21st-century economy, including modern manufacturing, will depend on innovation in artificial intelligence, quantum computing and general-purpose technologies. 

...

The Biden-Trump economy of nostalgia won't lead to higher wages. Research by the Bureau of Labor Statistics and the Federal Reserve Bank of St. Louis shows that manufacturing workers earn less than the average private-sector worker. Manufacturing workers in higher-tech sectors, with greater productivity, fare better. These jobs benefit from trade, but Messrs. Biden and Trump fail to understand how a modern trade agenda can serve America's interests and promote our values."

Ninguém faz contas. É triste mas é a realidade crua e dura. A indústria do século XX não tem produtividade suficiente para suportar os salários do século XXI, "Pay is ultimately tied to productivity".  

quinta-feira, março 21, 2024

Por que é que continuamos tão dependentes de fundos europeus?

Este é mais um postal que me faz perder clientes, porque distingo o Carlos consultor do Carlos cidadão.

Ontem no seu programa matinal, "A Cor do Dinheiro", Camilo Lourenço disse que o sector têxtil é um sector de excelência. 


Sabem o que visualizei? 

Isto:
Poucos minutos depois, na rádio Observador, no programa "E o vencedor é...", ao minuto 08:07, José Manuel Fernandes disse:
"Por que é que continuamos tão dependentes de fundos europeus?
Neste caso, pelo que estamos a perceber, toda uma operação [Moi ici: Promoção internacional das empresas] que devia ser suportada por uma indústria, a indústria têxtil e de lanifícios do Norte, toda essa operação era paga em 50%, talvez mais, por fundos europeus."
Confesso que já pensei nisto várias vezes. Dão-se apoios para as empresas participarem em feiras, as organizações empresariais do sector informam-nos que essas feiras foram um sucesso, mas as empresas raramente se tornam independentes e continuam a precisar de doses futuras de apoios.

Porquê?

Por causa da figura acima? 



É-se competitivo sem se ser produtivo? Assim, ganham-se encomendas, mas não se acumula capital... o bom velho Schumpeter. Pagam-se os custos do passado, mas não se pagam os custos do futuro, a tal espécie de esquema Ponzi.

Outro exemplo sobre o qual já escrevi é o do tomate: uma produção tão competitiva, tão competitiva, tão competitiva, que sem apoios de fundos europeus, se afundará.

Remato esta reflexão com um postal que costumo citar aqui:

terça-feira, março 19, 2024

Cuidado como cresce

 Li no ECO "Parar de crescer é começar a morrer":

"Se uma empresa não cresce, definha e morre.

...

crescer é mais do que um objetivo, é um desígnio essencial. 

...

A internacionalização só contribui a sério para o fortalecimento, a valorização e a preservação a longo prazo do capital acionista se as empresas tiverem escala. Dos que não se lancem a sério, com coragem, em processos de crescimento ambiciosos não vai rezar a História, nem sequer no mercado doméstico."

Sabem qual o meu problema com este artigo? Crescer à custa da escala (volume).

As empresas podem crescer à custa da escala (volume), à custa do denominador da equação da produtividade a produzir mais do mesmo, ou podem crescer à custa da subida na escala de valor, à custa do numerador da equação da produtividade a produzir coisas diferentes, coisas com maior valor acrescentado.

O racional é o mesmo do agricultor que só consegue aumentar a produção trabalhando mais e mais terra, é a via cancerosa

Entretanto, já depois de escrever o que está para trás. Deparo com este tweet:


E termino com o bacalhau islandês e a cerveja Kirin.



 

sábado, março 09, 2024

Por que se pedem paletes de mão de obra estrangeira barata? (parte III)

Há dias li no WSJ este longo artigo, "Rich Countries Are Becoming Addicted to Cheap Labor".

Entretanto, ontem li "The Cheap Labor Addiction?". Interessante, quer o texto do artigo, quer a troca de comentários. Julgo que se trata do tema que tenho abordado aqui no blogue acerca dos "Flying Geese" e também do tema desta semana sobre o papel dos empresários e da produtividade do país.

Por exemplo, acerca deste trecho no jornal:

"In Canada, economists say the government has cast aside a carefully managed immigration system that gave priority to highly skilled workers, and ramped up significantly the intake of foreign students and other low-skilled temporary workers. By flooding the market with cheap labor, Ottawa may be propping up uncompetitive businesses and ultimately damaging productivity (1), according to a December report co-written by former Canadian central-bank governor David Dodge."

Leio:

"Notice the strange use of the word "uncompetitive." If those businesses are able to do well and maybe even thrive, how are they uncompetitive? (2) In fact, they are quite competitive.

And how would hiring more workers reduce productivity? (3) Are the employers stupid? Do they want to pay people who not only don't produce but also reduce production?

Of course not. It's clear what Dodge means. He means that hiring low-skilled workers could easily reduce average productivity.

Indeed, the very next paragraph of the news story makes my point:

Economic output per capita is lower than it was in 2018 following years of record immigration (4), notes Mikal Skuterud, an economist at Waterloo University in Ontario. Canada has been bringing in so many low-skilled workers that it lowers the country's productivity overall (5), he says.

Skuterud is pointing to average productivity even though he blows it at the end by equating that to the "country's productivity overall.""

 (1) e (2) - Já abordamos este tema aqui, misturar e fundir produtividade e competitividade dá asneira. Daí esta imagem que uso há anos:

É possível ser muito competitivo e empobrecer porque se é pouco produtivo e, por isso, apesar da subida do custo de vida os salários não são capazes de acompanhar porque a organização não liberta margem suficiente. 

Recordo:

(3) - Produtividade de empresas versus produtividade agregada de um país. Recordo Salário mínimo, produtividade, motivação/malandragem e desemprego (parte II)

(4) e (5) - Recordo Falta a parte dolorosa da transição

Podem querer o que quiserem, mas a opção que tomarem tem custos.

quarta-feira, março 06, 2024

IL? Um mal menor

Disclaimer: Eu vou votar Iniciativa Liberal, como um mal menor. 

Este artigo no DN, "IL avisa empresários: "Vão ter mesmo de aumentar os salários" dos trabalhadores", que li ontem, ilustra porque também é um mal. Aliás, eu tento ouvir o menos possível a campanha da Iniciativa Liberal para não ser tentado a mudar de ideias.

Há aqui um paralelismo com o que costumo dizer aos agricultoresdisse uma vez sobre os pescadores:

"O papel dos pescadores não é alimentarem o mundo, não são a Santa Casa da Misericórdia ponto. O papel dos pescadores é ganharem a sua vida ponto." 

"Estou farto de escrever aqui no blogue que a função do agricultor não é alimentar a sociedade, a função do agricultor é ganhar dinheiro através da prática da agricultura. A sociedade não quer saber dos agricultores, quer produtos agrícolas baratos nem que venham da Ucrânia. Por isso, o agricultor não deve ser trouxa e deve trabalhar para quem valoriza o fruto da sua actividade. Adiante." (Aqui)  

Rui Rocha disse:

"O presidente da IL disse esta segunda-feira diretamente aos empresários que "vão ter mesmo de aumentar os salários dos trabalhadores" porque, caso contrário, não será possível contrariar a saída sistemática de pessoas qualificadas do país." 

O que ele disse sobre "a saída sistemática de pessoas qualificadas do país" é mentira? Não!

Não faz sentido é pedir a empresários que resolvam um problema da comunidade, quando eles não só não têm capital para o fazer como essa não é a sua função.

 Isto só ilustra que Rui Rocha ignora os mastins dos Baskerville, o que é pena. Está como Alexandre Relvas, também acha que o salto da produtividade irlandesa foi feito por empresários irlandeses. Tem muito para aprender.

Já agora, em que é que isto difere do discurso de Mortágua sobre o tema?

"Há sempre uma desculpa para os salários baixos, o contrato precário, os horários impossíveis. Há sempre o "agora não pode ser", que a economia não aguenta melhores salários, que a produtividade não aumenta, que Portugal é um país pobre", disse, advertindo que "Portugal é um país pobre porque paga salários pobres"."

Acaso Rui Rocha acha que as empresas podem pagar melhores salários mas não querem? E que basta exortar os empresários para isso acontecer?

Rui Rocha não relaciona aumento de salários com aumento da produtividade... isto é demasiado grave.

Rui Rocha é outro que não pode dizer "a Festa de Natal do jardim-escola foi uma valente porcaria!"

Qual a resposta de um liberal a tudo isto? Não matem empresas deliberadamente, mas deixem as empresas morrer!

E se quiserem mesmo que a produtividade e os salários aumentem a sério, promovam a receita irlandesa e o mercado fará o papel que não cabe aos políticos, o de escolher vencedores.

domingo, março 03, 2024

Era importante que olhassem para os números primeiro (parte I)

No passado dia 1 de Março no JdN li "Geopolítica, juros e salários preocupam indústria" um artigo baseado numa conversa com o presidente da Associação Industrial Portuguesa (AIP).

A certa altura leio:

"O abrandamento da procura externa, os conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente, a concorrência asiática, as taxas de juro, [Moi ici: Factores conjunturais] os custos salariais e a produtividade são os principais desafios que a indústria enfrenta para este ano. [Moi ici: Enfrenta para este ano?! Come on, não se iludam, são factores estruturais] O leque de preocupações é elencado pelo presidente da Associação Industrial Portuguesa (AIP), que em declarações ao Negócios começa por descrever o "estado da arte" e a evolução do setor secundário nacional. "A base industrial do país tem enfraquecido. O peso da indústria transformadora no produto interno bruto não ultrapassa 14%, e 25% no valor acrescentado bruto. [Moi ici: Releiam este número. A indústria é responsável por 25% no valor acrescentado bruto. Será verdade? E isso é bom ou mau? E isso é relevante para o tema da produtividade e do crescimento ou não? Que dados podemos consultar? Podemos comparar com outros países? Dados do Banco Mundial no gráfico abaixo] O número de empresas industriais (68.501) no número total das sociedades comerciais é de 9,2%.A diferença da produtividade industrial também é alarmante: é cerca de um terço da francesa e pouco mais de metade da espanhola", ", alerta.

É uma evolução que, na opinião de José Eduardo Carvalho, "explica, em parte, o anémico crescimento em que temos vivido". "Um país com uma forte base industrial reforça a competitividade externa e o grau de internacionalização da economia, produz mais conhecimento e inovação e aumenta a competitividade salarial", defende."



Agora procuremos informação sobre a produtividade:

Vêem alguma correlação entre produtividade laboral e peso da indústria transformadora no produto interno bruto?

Entretanto, lembrei-me da Dinamarca. Como se posiciona?

E volto à metáfora de há dias:

Alguém diz ao filho com 5 anos?

- A actuação do vosso ano na Festa de Natal do jardim-escola foi uma valente porcaria!

Claro que não... por isso, o presidente da Associação Industrial Portuguesa prefere atirar culpas para cima do governo de turno. O governo de turno tem culpa por causa dos mastins que não ladram, não tem culpa do desempenho das empresas existentes. O presidente da Associação Industrial Portuguesa não pode fazer o mesmo que eu aqui no blogue. Ele tem de lutar pelo aumento da produtividade do que existe, mas isso não quer dizer que o que existe possa subir a sua produtividade para níveis próximos da média europeia. Se ele abrisse a boca para falar dos mastins dos Baskerville, tinha uma rebelião em casa. Isto enquanto não for percebido, é uma conversa de surdos.

segunda-feira, fevereiro 19, 2024

Precaução e optimismo (parte II)

Na parte I sublinhamos, acerca do aumento do preço médio do calçado português:

""Em 2023, o preço médio de venda nos mercados internacionais ascendeu a 27,70 euros (+3,45%), continuando a ser o segundo mais caro do mundo. Um aumento que, reconhece ao ECO o porta-voz da associação do setor (APICCAPS), Paulo Gonçalves, é "insuficiente face ao impacto da atualização do salário mínimo nacional e mesmo do aumento das matérias-primas", o que obriga a "acelerar a migração dos produtos para segmentos de maior valor acrescentado"."

Entretanto li "Custo do trabalho aumentou 5,3% em 2023":

"O Índice do Custo de Trabalho (ICT) aumentou 5,3% em 2023 face ao ano anterior, uma aceleração face aos 3,2% em 2022, anunciou hoje o Instituto Nacional de Estatística (INE).

...

Já o custo médio por trabalhador aumentou 7,1% em 2023 (4,4% em 2022) e o número de horas efetivamente trabalhadas por trabalhador subiu 1,8% (1,2% em 2022).

Em termos de atividade económica, o custo do trabalho na indústria subiu 5,6%, na construção 5,7% e nos serviços 5,3%, contra 5,5%, 5,8% e 4,3%, respetivamente, em 2022."

Se calhar errei nos cálculos que fiz para chegar aos 14%, se calhar é muito mais do que isso. 

Há ainda que acrescentar:

"Os custos não salariais registaram aumentos entre 6,1% nos serviços e 11,4% na construção."


Isto ilustra aquele quadrante do empobrecimento que costumo referir aqui. Considerem o aumento de custos desde 2015, sobretudo nos últimos 3 anos, e as exportações estagnadas, as vendas estagnadas. Umas empresas fecham, outras encolhem, outras empobrecem, outras conseguem bons resultados porque trabalham para nichos e outras passam a pôr etiquetas made in Portugal para algo basicamente feito fora da Europa.

sexta-feira, fevereiro 16, 2024

Precaução e optimismo

Na sequência de Outra coisa que me faz espécie e do Recordo o eu consultor versus o eu cidadão encontro um artigo do ECO, "Fábricas portuguesas perdem dez milhões de pares de sapatos.

Uma nota de precaução e uma nota de optimismo.

Vamos primeiro à precaução:
"Em 2023, o preço médio de venda nos mercados internacionais ascendeu a 27,70 euros (+3,45%), continuando a ser o segundo mais caro do mundo. Um aumento que, reconhece ao ECO o porta-voz da associação do setor (APICCAPS), Paulo Gonçalves, é "insuficiente face ao impacto da atualização do salário mínimo nacional e mesmo do aumento das matérias-primas", o que obriga a "acelerar a migração dos produtos para segmentos de maior valor acrescentado"."

Quando aqui referi o encerramento da Discoteca Amália por causa do aumento da renda era como uma ilustração do sublinhado acima. Recordar os 14% que referi há dias em Outra coisa que me faz espécie. É a isto que chamo empobrecimento por erosão, ser competitivo sem aumentar a produtividade.

Vamos à nota de optimismo. 

Isto anda tudo ligado... o final da frase citada acima:

"o que obriga a "acelerar a migração dos produtos para segmentos de maior valor acrescentado""

Sinal de que o sector continua focado no essencial. Só aqui, a mensagem aparece 5 vezes.

Outra citação:

"No último ano, enquanto as exportações de calçado encolheram 8,2%, as vendas no exterior de artigos de pele e marroquinaria cresceram 14%, para 310 milhões de euros, e nos componentes aumentaram 12,3%, para 73 milhões de euros. Valores e competências que estão a levar a associação a reforçar lógica de fileira e a encarar estes dois segmentos como "estratégicos" na afirmação da indústria nacional de calçado."

Items que teoricamente podem libertar um maior valor acrescentado bruto por trabalhador. Talvez por isso no último número de Facts & Numbers, de 2023, já se tenham acrescentado números das unidades de componentes e artigos de pele:



quarta-feira, fevereiro 14, 2024

Outra coisa que me faz espécie





Alguém diz ao filho com 5 anos?

- A actuação do vosso ano na Festa de Natal do jardim-escola foi uma valente porcaria!

"Enquanto não formos capazes de aumentar o salário bruto médio em Portugal, é difícil conseguir reter quer estudantes quer outros trabalhadores, que começam a comparar e facilmente vão para fora.
...
Temos também de ter maior produtividade. Além disso, claramente é preciso apostar na formação dos gestores e dos líderes das empresas portuguesas
...
Temos muitos gestores que não têm noções de gestão financeira. Falo da gestão financeira, mas podia falar de sustentabilidade, digitalização ou inteligência artificial. São áreas em que temos de desenvolver os nossos gestores para que as empresas tenham maior capacidade de geração de riqueza.
...
Se eu gostava que o país tivesse um salário mínimo de mil euros? Sim. Era bom para a retenção de talentos. Mas será que é possível? Acho que não. O nosso tecido empresarial é caracterizado por pequenas e médias empresas. Não temos um tecido empresarial de grandes empresas, como têm vários países europeus. Com o que temos, com um nível de produtividade relativamente baixo face à média europeia, como é que as empresas vão conseguir aumentar em três ou quatro anos o salário mínimo para mil euros? Não vejo como.
...
As empresas vão ter problemas, porque a componente de gastos com pessoal vai aumentar, o que reduz as margens. Isto liga-se com um tema fundamental que é o facto de as empresas portuguesas terem um nível de endividamento muito acima da média europeia. Em momentos de taxas de juro mais elevadas — como estamos a viver hoje –, grande parte do dinheiro que as empresas geram na sua atividade é usado para pagar os juros aos bancos. E isso faz com que não tenham capacidade para aumentar salários. Não podemos achar que vamos ter taxas negativas como tivemos. O problema do endividamento é importante. Se não tivermos mecanismos de financiamento alternativos, como o capital de risco, não vejo muitas empresas a terem capacidade de aumentarem os salários para esses níveis."

Escolham uma empresa de um sector tradicional aí com cerca de 75 trabalhadores, olhem para as suas contas e façam um exercício:

  • Mantendo o mesmo número de trabalhadores;
  • Mantendo o mesmo número de unidades de venda (produto ou serviço);
  • Assumindo que os preços das matérias-primas e energia se mantêm;
  • Quanto teria de aumentar o preço médio de venda para manter o mesmo nível de rentabilidade da empresa e pagar um salário mínimo de mil euros?
Num exemplo que eu fiz os preços médios teriam de aumentar cerca de 14%. Quantas empresas o conseguirão fazer num mercado competitivo? 

Querem-no fazer através da redução de custos? Um aviso, estudem primeiro os números de Marn e Rosiello

Querem-no fazer através de poesia académica? Um aviso, cuidado com os números, não se fiquem pelas acções, pensem nas fotografias do antes e do depois.

Alguns frequentadores mais antigos deste blogue podem contrapor e recordar o aumento do preço médio do calçado entre a primeira e a segunda década deste século. Sim, mas não foi a vender o mesmo e foi em empresas bem mais pequenas.

O sector tradicional continuará a existir, não poderá é ter a mesma dimensão e peso do passado. Lembram-se de um sketch do Herman José sobre o que é que Portugal exportava? Ele repetia em loop "calçado, têxteis, cortiça,  calçado, têxteis, cortiça,  ..." 

O que me faz espécie é a incapacidade dos académicos dizerem o que aprendi com Maliranta, com Taleb e com Reinert que destilei neste postal The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!

Compreendo que os académicos queiram vender formação para empresários, acredito que eles ganharão com isso e poderão melhorar o desempenho das suas empresas, mas não resolverá o problema de produtividade do país. Recordo o eu consultor versus o eu cidadão.

terça-feira, fevereiro 06, 2024

"tudo se reduz ao salário que se pode auferir"

Recorrentemente encontro este artigo na internet, inicialmente publicado em Junho de 2023:

Artigo que comentei em A evolução da produtividade (parte III).

Perguntem (estou armado em Chief Liz Danvers):
  • Por que é que a indústria do vidro na Marinha Grande está a enfrentar uma escassez de mão de obra?
  • Quais são as condições de trabalho oferecidas pela indústria do vidro na Marinha Grande?
  • Como é que a indústria do vidro na Marinha Grande se compara com outras indústrias em termos de atractividade para os trabalhadores portugueses (locais)?
  • Como é que essa situação se compara com tendências de emprego similares em outras regiões de Portugal?
  • Será que os portugueses são preguiçosos?
  • Será que os portugueses acham que trabalhar na indústria do vidro é atentatório da sua honra e bom nome?
BTW, e no resto da Europa como é? Qual a evolução da produção de vidro fabricado à mão (vidro artesanal)? Em países como a França ou a Alemanha a produção tradicional de vidro artesanal envolve profissionais que trabalham em vidrarias ou estúdios de pequena ou média dimensão.

Qual será o preço médio das peças de vidro fabricadas manualmente na Marinha Grande? Até que ponto esse preço liberta margem para pagar salários interessantes?

Confesso a minha parcialidade nestas coisas: tudo se reduz ao salário que se pode auferir. O "salário mínimo" para um português-tipo poder viver uma vida de acordo com os seus padrões pessoais cresceu muito mais, e mais depressa, do que a capacidade das indústrias tradicionais subirem preços ou aumentarem a produtividade para continuarem atractivas. Os trabalhadores mais velhos ou porque estão "instalados", ou porque são medrosos, continuam a valorizar os seus custos afundados e a permanecer agarrados a empresas que estão condenadas a empobrecê-los, porque também elas estão condenadas a empobrecer. O salário vem do preço a que os clientes estão dispostos a pagar. Os novos não estão dispostos a seguir a mesma via, são livres.

Não matem empresas, mas deixem-nas morrer!

quinta-feira, janeiro 25, 2024

Um click!

Em Explicar o mais importante (parte I) inclui esta figura:


Olhando para o Painel B tive um click que me fez recuar até a um livro que li em 2008 - "Value Migration" (1996) de Adrian Slywotzky. O autor definiu value migration como: 
“Value migration is the shifting of value-creating forces from declining or outmoded business models to fresh business designs that more effectively satisfy customers’ needs and priorities.”

O autor aplica a migração de valor a 3 tipos:

  1. a migração de valor entre indústrias ou sectores económicos
  2. a migração de valor entre empresas  
  3. a migração de valor entre áreas de uma empresa.
Segue-se um esquema que representa o ciclo de vida típico de um sector económico, ou de uma empresa. 

Foi deste esquema que me lembrei ao rever o tal painel B.

Na capa do JN da última terça-feira podia ler-se "Desemprego aumentou mais a Norte e castigou setores do calçado e têxtil" no miolo lia-se:
"Porto, Felgueiras, Guimarães e Braga são dos concelhos que espelham maior aumento do número de desempregados, revelando que é sobretudo nos territórios com mais indústria, no Norte do país, que as pessoas estão a perder o sustento. É ali que estão muitas das fábricas, nomeadamente de calçado e têxteis, dois dos setores que, segundo o Instituto de Emprego, estão a ser mais fustigados pelo desemprego: a indústria do couro lidera, seguida de perto pela fabricação de minerais não metálicos e pelo vestuário."

Penso que uma parte desta evolução é causada por factores conjunturais - se a economia nos mercados compradores afunda, claro que a procura baixa. No entanto, a grande pergunta é: quanta desta evolução é causada por factores estruturais?

Em conversa recente com alguns empresários do calçado julgo que a maioria pensa que isto é conjuntural. Eu, pelo contrário, julgo que existe uma corrente estrutural que não deve ser menosprezada.  

Os fabricantes portugueses foram capazes de evoluir de sapatos a 3€ o par para sapatos a 30€ o par, para isso tiveram de mudar de mercado, deixar o mercado interno, tiveram de ter fábricas mais pequenas e mais flexíveis. À medida que os custos sobem, e o preço de venda pouco mexe, cada vez mais empresários vão sentir dificuldades em continuar a manter as suas empresas a funcionar. Alguns, poucos, conseguirão evoluir para nichos onde os preços praticados são mais altos, mas precisarão de empresas ainda mais pequenas. A imigração, tal como na agricultura intensiva no sul do país, permitirá manter por mais tempo as empresas a funcionar com mão de obra barata (recordo as bofetadas).

Como poderá um empresário do calçado em Portugal pensar o futuro? Que diferentes vias pode seguir?

domingo, janeiro 21, 2024

Explicar o mais importante (parte II)

Parte I

"In this paper we argue that endogenous product selection provides a neglected source of bias in measured productivity in addition to the conventional biases of exit self-selection, endogeneity, and misspecification of the production technology and demand. When firms choose their products at a more disaggregated level than is observed in plant- and firm-level datasets, measured productivity reflects both characteristics of the firm and attributes of the products that are non-randomly chosen by the firm. To characterize the resulting bias in measured productivity, we develop a model of industry equilibrium in which firms endogenously sort across products. Following the standard "revenue production function" estimation approach, we use the model to derive the bias in measured firm and aggregate productivity. Calibrating the model's parameters, we show that the bias in measured firm and industry productivity can be quantitatively large and influences the response of both productivity measures to changes in parameter values.
Our analysis points to a number of areas for further research. On the one hand, the estimation of structural models of industry equilibrium that feature endogenous product choice is a promising line of inquiry. On the other hand, the development of census of production datasets containing detailed information on establishments' output, inputs, and prices by product is clearly a priority. While census datasets typically allocate establishments to a "main industry" based on their largest good, our research points to the additional insights to be gained from gathering more detailed information on the set of goods establishments supply. It is important to remember, however, that even when this information is available, the industrial classification used is typically coarse compared to the level at which firms make decisions about products. As a result, the bias in measured productivity induced by endogenous product selection is likely to remain a concern."

Recordei agora um postal, redigido à porta de uma moradia em Guimarães com uma garagem onde ouvia uma máquina de bordar a trabalhar, sobre a produtividade e o numerador como variável e não como uma constante. Escrito em Agosto de 2011 explicou melhor um outro escrito em Outubro de 2006.

Alterar o tipo de produtos produzidos é uma forma de alterar o numerador da equação da produtividade. E de que maneira.

Trecho retirado de "Products and Productivity" publicado pelo The Scandinavian Journal of Economics 111(4), 681-709, 2009.

quinta-feira, janeiro 18, 2024

Heterogeneidade e produtividade

"In his Nobel lecture, James Heckman named 'the evidence on the pervasiveness of heterogeneity and diversity in economic life' the most important empirical discovery from econometric analyses using micro data. Everybody who has ever worked with plant- or enterprise-level data will agree - there is no such thing as a representative firm, not even in four-digit industries where growing and shrinking, entering and exiting firms can be found in each period. Productivity differentials are a case in point as regards firm heterogeneity within industries. 'Of the basic findings related to productivity and productivity growth uncovered by recent research using micro-data, perhaps most significant is the degree of heterogeneity across establishments and firms in productivity in nearly all industries examined'." [Moi ici: Como não recordar o Lugar do Senhor dos Perdões ou Voltar ao Lugar do Senhor dos Perdões]
Seguem-se agora uns trechos que explicam o mindset das polítcas bem intencionadas:
"The empirical facts uncovered in microeconometric studies motivated formal models for the dynamics of industries with heterogeneous firms
...
In these models, productivity differentials play a central role in the entry, growth and exit of firms. In equilibrium, growing and shrinking, exiting and entering firms that have different productivities are found in an industry.
...
[Moi ici: Os políticos gostam de estabilidade, receiam a incerteza. Vêem com maus olhos o encerramento de empresas] H1. Firms that exit in year t were less productive in t-1 than firms that continue to produce in t.
Given that firms with a low productivity have a higher probability of exit at a point in time, exiting firms will be concentrated among the least productive units. [Moi ici: Por isso, os políticos pensam que as empresas com baixa produtividade têm de ser subsidiadas, têm de ser apoiadas, para que não encerrem. A desculpa é a de que os apoios ajudarão as empresas a aumentarem a sua produtividade] 'Less productive' means that the productivity distribution of exits is stochastically dominated by the productivity distribution of the continuing firms.
H2. Firms that enter the market in year t are less productive than incumbent firms in year t.
This follows from the selection process described above that leads to an improvement of the productivity distribution of incumbents over time because in each period the less productive firms have the highest probability to fall below the critical level and, therefore, to exit. Here, 'less productive' means that the productivity distribution of entries is stochastically dominated by the productivity distribution of incumbents.
H3. Surviving firms from an entry cohort were more productive than nonsurviving firms from this cohort in the start year."

Não me custa nada a crer no poder estatístico de H1, H2 e H3 no texto acima numa economia de mercado. Isto ajuda a explicar o aumento da produtividade agregada num dado sector económico. No entanto, não ajuda a explicar o mais importante. 

quarta-feira, janeiro 17, 2024

Penela, produtividade, trabalhadores, censos, autoestrada e inimigos

Ontem de manhã apanhei a parte final de "A História Do Dia", na rádio Observador, sobre o tema "A IA vai ficar com os nossos empregos?". Ouvi os últimos minutos que terminaram assim:

"Os dois problemas do país são a falta de produtividade e a falta de mão de obra"

Sorry, só há um problema, a falta de produtividade. Tudo o resto decorre deste.

Depois, à hora do almoço li no Diário de Coimbra, atraído por uma capa com uma cena de corrupção à base de queijos e spa:

"No entanto, Eduardo Nogueira dos Santos revelou que, «hoje, Penela tem praticamente pleno emprego, sendo que uma das maiores dificuldades dos nossos maiores empregadores reside na captação de trabalhadores». «Temos falta de trabalhadores, porque temos um tecido empresarial robusto, em que a procura excede a oferta. Mas também porque temos falta de habitação, o que também faz com que percamos população e eleitores e, indiretamente, provoca que o municipio veja a sua capacidade de investimento reduzida», frisou."

Temos aqui uma argumentação interessante:

  • falta de trabalhadores;
  • tecido empresarial robusto;
  • procura excede oferta;
  • falta de habitação;
  • perdemos população;
  • capacidade de investimento reduz-se.
Hoje em dia quando me falam em falta de trabalhadores torço logo o nariz. Recordo de Novembro passado "Depois não se venham queixar das empresas zombies". 

A falta de trabalhadores não é uma causa raiz, a causa raiz é a baixa produtividade. Porque a produtividade é baixa não se conseguem pagar salários que atraiam as pessoas. Por isso, o salário médio do concelho ainda não conseguiu ultrapassar o valor atingido em 2012. Por isso, o concelho de Penela perdeu mais de 9% da sua população em 10 anos segundo o Censos de 2021. Quanto à robustez do tecido empresarial o Censos de 2021 diz-me que em 10 anos:

  • População empregada na Agricultura e Pescas 2,7 % +0,4 р.р.
  • População empregada na Indústria e Construção 27,6 % -1,1 р.р.
  • População empregada nos Serviços 69,6 % +0,7 p.p
  • Trabalhadores por conta de outrem 1.628 -3,4 
  • Empregadores 235 -2,5 %
  • Trabalhadores isolados 240 +50,9 %
  • População ativa com 25 a 44 anos 41,9 % -12,4 p.p.
  • População ativa com 55 e mais anos 23,8 % +10,5 p.p.
  • No JdN da passada segunda-feira sublinhei estas palavras:
    "Falou do candidato Pedro Nuno Santos. Como olha para a proposta dele de aumentar o salário mínimo para mil euros em 2028?
    Acho que mil é pouco. Devia ser muito mais elevado, mas, para isso, precisamos de uma economia que suporte um salário digno, isso é que é importante. Precisamos de crescer 4%, 5% ao ano de forma sustentada."

    BTW, a entrevista ao presidente da câmara de Penela é um manancial de temas para este blogue. Mais um:

    "Neste campo, não posso deixar de evidenciar a satisfação com que recebemos a notícia de que no dia 1 de janeiro corrente, as portagens da Al3 iriam ser reduzidas. Menos 65% (desconto) é muito impactante para o nosso território. Porque não nos interessa estar a 15 minutos de Coimbra se isso comporta uma despesa demasiado elevada para a maioria das famílias a utilizarem. Com esta medida, de inteira justiça para as populações, mas sobretudo de extremo interesse para as empresas da região, trazemos também mais centralidade e maior qualidade de vida para Penela», sublinhou."

    Qual a remuneração base média mensal dos trabalhadores por conta de outrem no concelho de Penela em 2019 (última ano do Pordata com números)? 776,3 €.

    Qual a remuneração base média mensal dos trabalhadores por conta de outrem no concelho de Coimbra em 2019 (última ano do Pordata com números)? 966,1 €.

    Qual o sentido mais provável do fluxo de trabalhadores?

    Para um político nacional mergulhar a sério no tema da produtividade é perigoso para a sua carreira, porque se for sério vai fazer inimigos. Onde estará a tal fábrica?

    terça-feira, janeiro 16, 2024

    Uma via difícil e os escolhedores de vencedores (parte II)

    Há dias escrevi Uma via difícil e os escolhedores de vencedores sobre a atracção dos políticos por serem eles a fazerem o papel do mercado e a escolherem os vencedores. 

    Entretanto, no último caderno de Economia do Expresso Ricardo Reis aborda o tema:
    "Pedro Nuno Santos é o novo secretário-geral do PS. No seu discurso no congresso do partido, ele prometeu romper com o espírito antirreformista dos Governos de António Costa (de que fez parte) para conseguir uma "transformação estrutural da economia." A trave-mestra do seu pensamento económico é a "obrigação de fazer escolhas quanto aos sectores e tecnologias a apoiar". Ao contrário de outros temas, em que Santos é mais vago acerca do que promete (como é normal nos líderes partidários em eleições), esta é uma convicção profunda pessoal que vai caracterizar um futuro Governo que ele lidere.
    A discussão sobre a capacidade de o Estado escolher bem os sectores e as tecnologias a apoiar, ou o seu sucesso a promover transformações estruturais, é um tema clássico.
    ...
    No que diz respeito a promover o "perfil de especialização" com "potencial de arrastamento da economia" (palavras de Santos) é difícil pensar num melhor exemplo do que a Efacec. 
    ...
    Infelizmente, hoje é um exemplo também de que quando um Governo escolhe um campeão nacional e se empenha a facilitar o seu crescimento acabamos com um escândalo de corrupção.
    Não há volta a dar, o historial pessoal de Santos como investidor em sectores estratégicos e como transformador de empresas públicas até hoje foi um desastre. Talvez melhore se ele for primeiro-ministro. Um facto bem documentado no estudo dos gestores de carteiras financeiras é que os homens (mas não as mulheres) têm um otimismo persistente nas suas capacidades, que resiste à acumulação de perdas atrás das perdas. Para alguns, este desvio da racionalidade é uma forma de carisma. Para gerir dinheiro, costuma ser algo a evitar."


    terça-feira, janeiro 09, 2024

    Uma via difícil e os escolhedores de vencedores

     E volto a "A Growth Strategy for the Greek Economy":

    "Global competition in all sectors of the economy, and particularly in manufacturing, demands a reduction in production costs through the introduction of advanced technologies, and the development of innovative high-quality products. Success in these areas requires R&D activities. However, R&D spending in Greece is low compared to other European countries. For example, in 2018, the R&D spending of Greek firms accounted for 0.57% of GDP, compared to 1.41% on average in the EU (Figure 5-13, Section 5.4)."

    O texto sublinhado implica que à medida que os custos de produção baixam, o sistema produtivo tem de ser capaz de produzir e vender muito mais unidades para poder pagar o capital investido. Uma via difícil. 

    Outra vez, os autores não colocam a hipótese da economia se mover na horizontal.

    A propósito, no JdN de ontem li:

    "Se quando venceu as diretas o discurso foi criticado pela falta de preparação, no encerramento do 24.° congresso do PS Pedro Nuno Santos fez questão de dizer ao que vinha: pretende implementar um novo modelo "com mais dinheiro para menos setores" da economia,

    ...

    A grande mudança, anunciou, será feita - se vencer - na forma como os apoios passarão a ser atribuídos, selecionando "um número mais limitado de áreas estratégicas onde concentrar os apoios durante uma década". Defendeu que "é tempo de ser claro e de fazer escolhas [na atribuição de incentivos|". "Só conseguiremos transformara economia com mais dinheiro para menos setores.""

    Quem segue este blogue sabe que eu cada vez mais torço o nariz ao efeito nefasto dos subsídios na economia. No entanto, o que acho interessante nesta proposta é saber quais são as áreas estratégicas. Quais os critérios para a sua definição? BTW, "picking winners" sempre deu asneira, daí a minha proposta de longa data "deixem as empresas morrer".

    BTW, ainda acerca de Pedro Nuno Santos e este pormaior:

    "Isto porque, explicou, "a economia está em profunda transformação", onde "a automatização, a robotização e a inteligência artificial têm um enorme potencial para aumentar a produtividade, mas trazem desafios". "Neste processo, muitos setores altamente lucrativos mas com poucos trabalhadores, deixam de contribuir para o sistema de segurançasocial tanto quanto poderiam e deveriam", enfatizou."

    Que mais treta vai inventar ao melhor estilo do jogador de bilhar amador, tão focado na próxima jogada, na jogada imediata, que não se pensa nas consequências dessa jogada. Um clássico deste blogue: Nós não estudámos até ao fim todas as consequências das medidas que sugerimos.

    Sempre preocupados em sacar e não em criar riqueza. Aquele "setores altamente lucrativos", faz-me logo pensar no Portugal actual, se ganhas mais de 1800 euros por mês já és rico pela bitola socialista.

    Já nem a UE nos consegue salvar deste monstro fiscal.

    segunda-feira, janeiro 08, 2024

    Come on, aumentar a produtividade à custa de apoiar salários?!

    Primeiro, pelo que vou lendo, tenho uma opinião positiva sobre a evolução da economia grega. Recordo, por exemplo este postal do início do passado mês de Dezembro, "A receita irlandesa na Grécia (parte II)", ou este outro publicado no início do passado mês de Outubro, "A receita irlandesa na Grécia".

    Segundo, há dias escrevi este postal "Por causa de uns pastéis de nata (parte II)" que termina com um comentário a um video de Milei:

    "Voltando agora ao vídeo de Milei. Simpatizo com a teoria, mas o desafio é criar as condições para que a evolução horizontal na figura acima possa ocorrer a uma velocidade tal que não torne a transição muito dura. Contudo, os governos fazem exactamente o oposto. Em vez de apoiarem o novo, apoiam os incumbentes, fica-se numa terra de ninguém tão bem descrita por Spender e Taleb."

    Na passado Sexta-feira mão amiga mandou-me este artigo, "A Growth Strategy for the Greek Economy" que me levou ao original.

    Escolhi começar pelo capítulo 3, "Vision and goals for the Greek economy" e o que li ... não me agradou:

    "Employment in manufacturing has fallen internationally, but in Greece it has declined excessively. This is attributable to distortions that have led to too many self-employed individuals and small businesses that are dominant in the specific environment. In more technologically mature EU member states (the so-called EU15 group), the share of labour in the manufacturing sector was 20% in 2000, and just 14% in 2019. The reasons behind this reduction are new technologies and globalisation, in particular China's emergence and its impact on international trade. In Greece, 14% of the labour force was employed in manufacturing in 2000 and 8.2% in 2019. Based on Greece's technological lag compared to the EU15 countries and its relatively closed economy, one would expect that the share of employment in manufacturing would be larger than in the EU15. Indicatively, in Portugal, which is at the same technological level as Greece, 22.7% of the labour force was employed in manufacturing in 2000 and 17.6% in 2019.

    It is important to contain the reduction of employment in Greece's manufacturing sector and to achieve a convergence to the EU average. Currently, Greece exhibits one of the lowest shares of manufacturing activity in the EU, comparable only with the Netherlands and the Nordic countries - economies with much higher per capita income and greater industrial maturity. Policy proposals for enhancing Greece's manufacturing sector, and the remaining sectors examined in this section, are examined in detail in Chapter 6. This section summarises the main directions.

    The support of salaried employment is critical to the growth of the manufacturing sector in Greece. Greek manufacturing firms are generally small, in part due to the particularly high number of self-employed in the services sector. When measures to support salaried employment are adopted, these businesses will have a greater comparative advantage in the international markets and will grow."

    E recuo a 2006 e à ideia de Blanchard sobre a redução de salários para aumentar a produtividade que comentei em "Redução dos salários em Portugal" (Blanchard retratou-se em 2017). E recordo Reinert e o caso do Uganda e o quadrante do empobrecimento.

    O que os autores propõem no artigo citado acima é aumentar a competitividade das empresas apoiando-as no pagamento dos salários dos seus trabalhadores. Weird!!!

    O que estes autores não perceberam ainda foi a necessidade do que escrevi acima "mas o desafio é criar as condições para que a evolução horizontal na figura acima possa ocorrer a uma velocidade tal que não torne a transição muito dura". Não conseguem ganhar produtividade a proteger o passado.