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segunda-feira, maio 22, 2017

I rest my case: competitividade e CUT

Recordem o que se escreve neste blogue há anos e o que os académicos, políticos e comentadores económicos (de direita e de esquerda escrevem ou afirmam) acerca da redução de salários ou da desvalorização da moeda para aumentar a competitividade. Depois, mergulhem neste texto, "Going Beyond Labour Costs: How and Why “Structural” and Micro-Based Factors Can Help Explaining Export Performance?" de Carlo Altomonte, Filippo di Mauro e Chiara Osbat.

Alguns trechos:
"Competitiveness depends strongly on firm-level factors, such as size, organisation, technological capacity, and other supportive conditions in the economic ecosystem in which firms operate. At the same time, the attention of policy-makers has been focused on aggregate macroeconomic factors, such as labour costs and current account positions. Central banks in particular have concentrated on these indicators, which is not surprising given that their traditional policy instruments are inherently macroeconomic in nature.
...
we show initial evidence that adjusting traditional relative export prices for quality allows to better understand export patterns for a number of EU countries
...
Even though “competitiveness” is at the centre of the public debate, there is no agreement on an unequivocal definition of the concept. In particular, when looking at a narrow, measurable concept of competitiveness, the focus is in general on prices, costs, wages and exchange rates. These are important factors in determining the ability of firms to compete in international markets, especially in the short run, but there is strong evidence that - in a fully globalised world and over longer term horizons – such factors are only part of a much broader set that includes at least three main elements, as identified by the literature: (i) firm-level factors, e.g. technological ability to utilise factor endowments, capacity to specialise and exploit new and dynamic markets; (ii) structural/macroeconomic factors prevailing in the individual countries, such as labour- and product-market functioning, technological diffusion, innovation, taxation, financing constraints as well as demand and overall macroeconomic conditions; (iii) the geographical position of the country and the extent of trade frictions.
...
given the sizeable changes in the world market structure brought about by globalisation and the raise of emerging economies, the overall trade performance of a country is more and more likely to depend on factors beyond pure price or cost considerations. In this context, the ability of countries and firms to compete successfully will be determined by their capacity to change and adapt to new market conditions, reviewing their product mix and export portfolios beyond pure cost considerations, and by other means of enhancing productivity."
I rest my case.

sábado, maio 20, 2017

Ao arrepio do mainstream

"This means we should be very cautious before interpreting rising wage (or “unit labour”) costs in some sectors, or even at the whole-economy level, as indicative of a problem such as an erosion of “competitiveness”. Much of the eurozone “adjustment” debate misses the relevance of these dynamics altogether. The (rare) theoretically well-informed analyses of wage costs in the eurozone pour cold water on the idea that countries on its periphery priced themselves out of export markets [Moi ici: Não foram eles que se "priced themselves out of exports markets" foi o choque chinês. Recordar esta Curiosidade do dia de ontem] and that driving down wages was therefore the correct policy goal afterwards."
Aliás, coisa que nunca vi escrita por ninguém, eis como o salário médio cresce mesmo sem que os salários individuais cresçam:
  • consideremos um universo económico constituído por 100 trabalhadores no têxtil a ganhar em média 600€ mensais com um desvio padrão de 30€. O salário médio deste universo económico é de 600€ mensais.
  • Surge o choque chinês que aniquila as empresas (recordar números do calçado, do têxtil e do mobiliário) que competem na gama mais baixa do preço. Se admitirmos que os trabalhadores no têxtil que ganham entre 510-540€ vão para o desemprego, sem mais, estatisticamente o salário médio deste universo cresce e é interpretado pelos macroeconomistas como "priced themselves out of exports markets"
Agora que o sector da metalomecânica portuguesa está a crescer e a exportar como nunca, não está a genericamente a competir com as empresas de topo alemãs ou italianas, as que operam no topo da escala de valor e têm marcas fortes pagam melhores salários, está a competir com e a "eliminar" as que estão na base e pagam salários mais baixos. Logo ...

Trecho retirado de "Cost ‘disease’ and its cures"

quarta-feira, fevereiro 24, 2016

Aprenda a duvidar dos media (parte XI)

Parte I, parte IIparte IIIparte IVparte Vparte VIparte VIIparte VIIIparte IX e parte X.
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Como é que se distingue um economista de direita de um economista de esquerda?
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Como ambos foram formatados na crença no Homo economicus só conhecem a competição pelo preço. Assim:

  • um economista de direita acredita que a competitividade externa é recuperada baixando os salários nominais e revoltando os trabalhadores;
  • um economista de esquerda acredita que a competitividade externa é recuperada manipulando a taxa de câmbio e enganando os trabalhadores com a ilusão monetária.
Mais um exemplo de economista de direita ... Pedro Arroja:

Pois, comparemos com a realidade:
E, no entanto:

É claro que agora, 9 anos depois, é fácil vir dizer que mais este economista estava errado. No entanto, aqui, este anónimo da província, ao vivo e a cores punha o pescoço no cepo e defendia que eles, de esquerda ou de direita, estavam errados. Por exemplo aqui.

sexta-feira, março 07, 2014

Salários e produditividade

Cuidado com esta frase:
"é impossível comparar os salários em Portugal com os de países como a Alemanha "pura e simplesmente porque os alemães, por hora, fazem três ou quatro vezes mais do que os portugueses"."
 Alguém acha que os trabalhadores alemães "correm" três ou quatro vezes mais do que os trabalhadores portugueses?
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A diferença de produtividade entre os trabalhadores portugueses e alemães não reside na diferença de quantidades produzidas, reside na diferença entre o valor acrescentado potencial dos artigos produzidos.
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A frase coloca a responsabilidade pelo aumento da produtividade nos ombros dos trabalhadores e, por isso:
"a competitividade em Portugal só pode ser estimulada através da "educação das pessoas"
Contudo, para o campeonato da produtividade de pouco serve educar os executantes. A educação dos trabalhadores que executam pode, eventualmente, contribuir para um aumento marginal da produtividade através do aumento marginal das quantidades produzidas.
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O aumento da produtividade para os níveis alemães passa por subir na escala de valor.
A educação só pode contribuir para este aumento da produtividade se actuar nos decisores das empresas e se actuar nos criadores das empresas.
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E mesmo:
"a competitividade em Portugal só pode ser estimulada através da ... aquisição das máquinas corretas""
Tem que se lhe diga, os insurgentes que o digam. O truque é a concentração nos clientes-alvo.
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Trechos retirados de "Salários só podem subir quando produtividade aumentar"

domingo, fevereiro 09, 2014

Sexo, jardineiros, intervencionistas, Taleb e Cavaco Silva (parte III)

Mantenho o título por voltar à parte do sexo.
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Ontem, ao ler o artigo "Designing Business Models for Value Co-Creation", citado em "Acerca do ecossistema da procura", encontrei a referência a "Escaping the Red Queen Effect in Competitive Strategy: Sense-testing Business Models".
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À noite, ao lê-la, fiquei logo apanhado pela relação com o sexo...
"The ‘red queen effect’ refers to the red queen’s advice in Lewis Carroll’s Through the Looking Glass in which she says, in order to stay in a (competitive) place you have to run very hard, whereas to get anywhere you have to run even harder. In today’s knowledge and mobile environments we know that businesses cannot survive by just running harder, but rather by running differently and ‘smarter’ than competitors."
Primeiro, recordar o comportamento dos afídeos da parte II quando as condições ambientais mudam.
"To counter direct competitive challenges, organizations often continuously learn new ways of improving their efficiency and performance. (Moi ici: Uma paisagem competitiva conhecida, um mercado conhecido, concorrentes conhecidos. Nada de extraordinário, a eficiência é suficiente para continuar a jogar. Reprodução assexuada) Having familiarized themselves over a number of years with such ways of doing business, their first reaction to discontinuous (fast-changing, disruptive) competition is to ‘‘work harder’’, (Moi ici: Esta é a parte em que os membros da tríade, de Vítor Bento e Ferraz da Costa, até João Ferreira do Amaral, acham que se reduzirmos salários, aumentarmos horários de trabalho ou voltarmos ao escudo, conseguimos ultrapassar esta diferença:Reparem, a economia portuguesa, no tempo do escudo, nunca teve de competir com diferenças desta ordem de grandeza) when what they need to do is to ‘‘unlearn’’ what they know and ‘‘work differently’’"
Na biologia, o sexo é uma espécie de ‘‘unlearn’’ what they know and ‘‘work differently’’, voltar a baralhar as cartas, os genes, para testar novas abordagens, para barrar o acesso a abordagens anteriores pelos vírus.
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Sem sexo, ou seja, sem sair fora da caixa, sem a possibilidade de falir, com acesso a bail-outs:
"Several observers have commented that even though many companies work harder to improve themselves in increasingly fierce competitive environments, results improve slowly or not at all. This is a characteristic situation that could be described as the ‘‘Red Queen effect’’. It is a competency trap where ‘‘running harder’’ becomes customary: it is of an analytic-benchmark nature, it shows short-term success and is less risky in the near horizon, but ultimately holds long-term downfall.
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Working ‘‘differently’’ seems to be an intuitively suitable approach for survival or even prosperity in the present era’s increasingly competitive business landscape. Companies need to change industry rules (the accepted way of doing business in the industry) by fundamentally questioning their tendency to conform to useful but ‘‘unoriginal’’ (copied, imitated, improved) practices, lessons, and experiences." (Moi ici: Como os afídeos, em tempo de mudança, saltar para o sexo)

terça-feira, fevereiro 04, 2014

Curiosidade do dia

Neste blogue não se acredita que a redução de salários, ou o aumento do horário de trabalho, ou o corte de feriados, ou a redução da TSU a pagar pelas empresas, sejam meios de aumentar a competitividade da economia de bens transaccionáveis, apesar de poder proteger emprego na economia de bens não transaccionáveis.
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No entanto, neste blogue também se acredita que a existência dum salário mínimo nacional (SMN) é algo que prejudica os trabalhadores mais vulneráveis... isto de obrigar uma empresa em Bragança a pagar o mesmo SMN que uma empresa de Lisboa é absurdo.
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Por isso, este artigo "Minimum wage rise is maximum idiocy" faz todo o sentido:
"One of the tragedies of the minimum wage is that it is a tax on those companies that are large employers of the least well educated and those who do not possess scarce skills. Citizens at the bottom are further squeezed out of the market because they have become more expensive. It is a form of punishment for that cohort. Minimum wage increases positively encourage companies to seek alternatives to labour, such as outsourcing or automation.
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The cheerleaders for minimum wage rises are typically academic economists. Most of them receive salaries from the taxpayer, directly or indirectly, and have never built a business or met a payroll. Their chief worries are publishing arcane papers; many can be wrong all their lives and never lose a penny of their own money."

segunda-feira, dezembro 23, 2013

A brincadeira de nos armarmos em deuses

"O equilíbrio externo já foi, não só assegurado, mas ultrapassado, com a economia a apresentar excedentes (outra forma de desequilíbrio...), coisa que não acontecia desde a segunda guerra mundial. Este equilíbrio, porém, foi conseguido à custa do agravamento do desequilíbrio interno (com o desemprego a passar para os cerca de 17%), uma vez que, na ausência de suficiente correcção da taxa de câmbio real (TCR), o seu principal instrumento foi uma sobre-contenção da procura interna (sobretudo do investimento). Um equilíbrio assim conseguido não é sustentável, porque, sem correcção da TCR, é incompatível com o regresso ao equilíbrio interno."
Aquele uso de "sobretudo do investimento" causa-me arrepios, a leviandade com que se chama aos gastos do Estado no betão de "investimento", enfim.
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Segundo o último Boletim Mensal do IEFP temos:
"A análise segundo as profissões dos desempregados registados no final de novembro de 2013, evidencia as seguintes profissões como as mais representativas (dados apurados para o Continente): “pessoal dos serviços, de proteção e segurança” (86 625), “trabalhadores não qualificados dos serviços e comércio” (77 040), “empregados de escritório” (63 716), “operários e trabalhadores similares da indústria extrativa e construção civil” (57 148) e “trabalhadores não qualificados das minas, construção civil e indústria transformadora” (52 666)."
Uma parte da procura interna caiu drasticamente por causa do fim do crédito fácil e barato que alimentava o comércio, outra parte da procura interna caiu por causa da interrupção "momentânea" do caudal de dinheiro para as obras públicas com mais do que duvidoso retorno. Admitamos a hipótese de que essas fontes de procura não voltarão a ser o que eram, para que servirá essa correcção da TCR?
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Para salvar emprego? Para recuperar emprego?
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O que tornará as empresas desses sectores mais competitivas?
O que preparará as empresas desses sectores para um futuro sustentável?
Será uma questão de baixar salários?
"A saída deste dilema seria através da política monetária que, através do crédito, estimulasse a procura interna, sobretudo a componente do investimento."
Será que Vítor Bento olhou para a composição da origem do desemprego? Será que está a pedir uma nova leva de torrefacção de impostos futuros em obras públicas só para mascarar o desemprego?
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Por mim, continuo a olhar para o desemprego como um objectivo indirecto, como uma consequência da criação de riqueza. Pensava que tinha ficado claro onde nos pode levar a brincadeira de nos armarmos em deuses e actuar directamente, com impostos futuros, na insuflação dos números do emprego.
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Trecho retirado de "Os dilemas da política económica"

quarta-feira, dezembro 04, 2013

Custo do trabalho e 'cargo cult'

O gráfico mostra os custos do trabalho numa série de países europeus.
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Por custo, entenda-se salário, contribuições para a segurança social, formação, seguros, etc..
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O gráfico revela uma contradição interessante. O nível de desemprego na Alemanha e o custo do trabalho na Alemanha.
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A resposta é simples para quem lê este blogue, não há contradição. Basta concentrar-se no valor criado e os custos passam para segundo plano.
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Isto pode ser tentado em Portugal, e ter sucesso, como estratégia por cada empresa em particular; contudo, não funciona de certeza se for imposto top-down por um governo.
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Isto fez-me lembrar aquele postal a brincar com Fátima Campos Ferreira e o 'cargo cult', se tantas startups de sucesso tecnológicas começaram em garagens, o governo devia promover a construção maciça de garagens e, como consequência lógica, teremos milhares de startups tecnológicas a rivalizar com a Apple.
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O 'cargo cult' aqui é repetir os erros da década passada e decretar subidas obrigatórias de salários e assumir que quem não os conseguir pagar não tem direito à vida e tem de fechar. (Recordo logo o parlamento português que numa semana subia o salário mínimo, para na semana a seguir decidir apoiar as empresas para evitar que fechassem)

Imagem retirada de "Was Arbeit in Europa kostet"

BTW, França é um caso interessante....

quinta-feira, novembro 28, 2013

E estamos reduzidos a estas elites da treta

Ontem à noite, ao jantar, a certa altura proferi a frase:
"Mais vale rico e com saúde do que pobre e doentio"
A família parou, processou e, a minha mulher que não conhecia a frase disse qualquer coisa como:
"Isso é básico, claro que é preferível ser rico e com saúde do que pobre e doentio" 
A frase é óbvia e até gera sorrisos porque quem a ouve está à espera de um trade-off do género:
"Mais vale ser pobre e com saúde do que rico e doentio" 
Ou vice-versa.
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Escrevo isto por causa desta afirmação:
"Patrick Monteiro de Barros defendeu que "o problema [baixo salário mínimo] resolve-se aumentando a educação, a produtividade global", mas considerou que "não há vontade política para fazê-lo"." 
Quer dizer que se forçarmos legislativamente um aumento da produtividade global ele vai acontecer?
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E "não há vontade política para o fazer"? Qual é o trade-off? Não o vejo... proclama-se legislativamente a ordem para aumentar a produtividade global. Ela sobe e, poderemos pagar salários superiores...
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Se isto for verdade qual é o trade-off?
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Treta!!!
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E estamos reduzidos a estas elites da treta.
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Trecho retirado de "Patrick Monteiro de Barros diz ter "vergonha" do valor do salário mínimo em Portugal"

quinta-feira, novembro 21, 2013

Mateus 7, 3 discutir a intenção dos outros em cortar salários numa casa que a pratica é arriscado

Um primeiro disclaimer: Este blogue há anos que critica e brinca com aqueles que defendem a redução dos salários como uma medida de promoção da competitividade (e são muitos, desde João Ferreira do Amaral, que através da saída do euro pretende oferecer de bandeja competitividade às empresas, até a Pedro Ferraz da Costa e ao seu obsoleto e inqualificável Forum para a Competitividade". Recordar, por exemplo: "Acerca da produtividade, mais uma vez (parte I)" e "O jogo do gato e do rato (parte VII)". Recordar o que aqui defendemos ao longo dos anos acerca do gráfico de de Marn e Rosiello)
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Um segundo disclaimer: Este blogue acredita que as empresas existem para servir os clientes, existem para servir quem está fora da sua alçada e tem liberdade de escolha. Assim, este blogue defende a concorrência porque premeia quem melhor servir os clientes. Este blogue, por isso, também defende a liberdade de circulação de bens e serviços e não acredita no proteccionismo.
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Agora analisemos o texto  ""Não se pode aceitar" mais produtividade à custa de cortes salariais". A certa altura o jurista diz:
"“À luz desta perspectiva de que o trabalho e a economia devem estar ao serviço da pessoa, não se pode aceitar este tipo de raciocínio, que muito se ouve, de que para reforçar a produtividade das empresas devem ser reduzidos os salários”, defende o jurista.
Se assim é, questiona Pedro Vaz Patto, que vantagens têm as pessoas em reforçar a produtividade das empresas.
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Tem sentido a produtividade e a saúde das empresas, se isso reverte em benefício das pessoas que lá trabalham. Se é com o sacrifício das pessoas que lá trabalham, está invertido este princípio de que a economia está ao serviço da pessoa e não o contrário”, sublinha."
O que falta neste raciocínio?
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Pergunto: Tem sentido a produtividade e a saúde das empresas se isso não reverte para os clientes? Se isso não reverte para as pessoas que consomem?
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Vivemos num mundo em que a oferta é maior do que a procura, quando a oferta é maior do que a procura quem manda é quem compra. Por exemplo, com isto "Fim dos direitos cobrados pela UE às cordas indianas pode custar 35 milhões às empresas portuguesas" o que farão as empresas produtoras de cordas?

  • umas não sentirão qualquer efeito porque trabalham para clientes e nichos que procuram e valorizam algo mais do que o preço mais baixo;
  • outras terão de aumentar a sua produtividade para tentar sobreviver, para tentar produzir o mesmo ou mais com menos recursos (por exemplo, com menos trabalhadores)
Acredito que a maioria das empresas não corta salários para aumentar a produtividade como fim mas para sobreviver. Por exemplo, com a quebra da procura no mercado interno qual a possibilidade de uma construtora manter o mesmo volume de pagamento de salários? Ou corta salários ou despede pessoas.
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Afinal o que fez a Igreja portuguesa quando a crise lhe bateu à porta? Despediu!
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Afinal o que anda a fazer a Rádio Renascença quando a crise lhe bate à porta? "Renascença quer reduzir salários acima dos 1.400 euros brutos"
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Não tem nada a ver com produtividade... tem tudo a ver com a sobrevivência.
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BTW, por que não proibir a automatização das empresas que rouba postos de trabalho?
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Apetece recordar Mateus 7, 3... discutir a intenção dos outros em cortar salários numa casa que pratica ou quer praticar essa política é um pouco arriscado
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BTW, as empresas existem para servir os seus clientes, estes não existem para servir as empresas. 

domingo, novembro 17, 2013

Acerca do salário mínimo

Sempre defendi neste blogue que o futuro da economia privada portuguesa não passa por salários baixos, são quase 10 anos de evidências que se podem pesquisar aqui.
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Ao mesmo tempo que defendo isso, não me sinto com poder, moral, autoridade para obrigar outros a seguir uma certa via que eu acho melhor. Muitas não a seguem porque genuinamente não têm capacidade, ADN e possibilidades para fazer melhor do que o que já fazem.
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Por isso, compreendo e concordo com César das Neves "César das Neves: Aumentar salário mínimo «é estragar a vida aos pobres»"
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Basta recordar a origem do salário mínimo, basta recordar a história e a motivação inicial por detrás da sua criação.

quarta-feira, setembro 04, 2013

Curiosidade do dia ou As opções durante uma reconversão - parte V

A propósito de "Desemprego levou cinco homens a criar própria empresa e trabalho não falta" várias linhas de pensamento:

  • aqui está um caso em que se calhar os defensores da redução de salários têm razão, (receita 1), se os salário pudessem baixar talvez não precisassem de ir todos para o desemprego e talvez a empresa inicial se salvasse;
  • aqui está um caso em que se calhar se aplica a decisão de encolher a empresa, para tentar ganhar um novo rumo;
  • um ponto que me deixa realmente a pensar é este:
"A empresa, que constituíram com um capital social de 5.000 euros, dedica-se a fazer exactamente o mesmo trabalho que estes homens já realizavam no grupo anterior, em Viana do Castelo, e que avançou para a insolvência em Março passado.
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"Trabalhamos na rede telefónica, nas infra-estruturas, passando fibra ótica e cabo, montando postes e fazendo ligações. E estamos a operar em todo o distrito de Viana do Castelo, subcontratados pela operadora", acrescentou."
As barreiras à entrada são extremamente baixas, a operadora não tem critérios muito exigentes já que subcontrata uma empresa recém-formada. Ou seja, deve ser um mundo-cão a nível de competição feroz baseada no preço-mais-baixo.
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Esta nova empresa, com uma estrutura de custos mais enxuta que os incumbentes vai fazer-lhes a vida negra, adivinho mais incumbentes a falir.
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Pergunto, como é que os incumbentes, ou as novas empresas, têm margem para formar colaboradores e comprar equipamentos para acompanhar a evolução tecnológica?

terça-feira, setembro 03, 2013

As opções durante uma reconversão - parte V

Na parte II escrevemos algumas das hipóteses que se colocam durante a reconversão de uma empresa que viu os seus clientes desaparecerem.
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Algumas das hipóteses passam por encolher, por mudar de vida, por dedicar-se a um nicho onde possam fazer a diferença.
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Aqui está um bom exemplo, "Director Says BlackBerry Can Survive as 'Niche' Player":
"One of the members of BlackBerry Ltd.'s board committee tasked with exploring strategic alternatives said the company can compete as a "niche company" in the smartphone business, but said there are "subsets" that should be sold off.
...
"I think BlackBerry is able to survive as a niche company. But being a niche company means deciding to be a niche company."
Eheheh, estou a imaginar uns seguidores da concorrência perfeita a sugerir:
"Se a BlackBerry baixar salários safa-se!" 

segunda-feira, setembro 02, 2013

As opções durante uma reconversão - parte IV

Em "A bad economy can provide good opportunities for businesses", há 2 anos, escrevi:
"As PMEs portuguesas, sem capital suficiente para se deslocalizarem e sem acesso ao sector dos bens não transaccionáveis, fizeram o que se faz quando se está desesperado, saltaram da "burning platform". Muitas não resistiram e foram definhando com mais ou menos rapidez, com mais ou menos estrondo. Contudo, algumas empresas fuçaram e fuçaram até que começaram a descobrir o seu espaço, o seu ecossistema, o seu nicho. A Grande Contracção de 2008-2009 é que escondeu essa revolução estrutural nas PMEs portuguesas que passa despercebida aos olhos do mainstream.
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O facto de uma empresa não se deslocalizar obriga-a a usar a sua herança como uma peça de um puzzle e a ir ao mercado testar e testar diferentes combinações de produtos, de clientes, de soluções até que a herança se case com algo de novo no exterior que resulta, que encaixa, que tem potencial para gerar capital. Depois, o spill-off acaba por contaminar outras empresas existentes e outras mentes, servindo de exemplo, de motivação, de prova de que há uma alternativa"
O ponto crítico é a necessidade de mudar de vida para fazer face à mudança do mundo e, é essa necessidade que obriga as empresas a subirem na escala de valor.
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E quando o mundo muda e uma empresa não muda de vida? E quando uma empresa decide seguir pelo caminho mais simples, mudar tudo o que possa manter o seu modelo de negócio e os seus clientes? Julgo que este texto, "What gives American factories their competitive edge: They’re easy to close", ajuda a responder a essa pergunta:
"That may make the US an attractive spot for multinationals, but economies that live by cheap labor costs can die by them, too."
BTW, não acredito nestes números:
"The end result, according to the consultants, is that the US could capture $25 to $72 billion in exports from the four European countries and Japan, creating as many as 1.2 million factory jobs." 
Isto é assumir que a procura é homogénea, isto é assumir que os recursos são facilmente transmissíveis, isto é assumir que o custo/preço é tudo.
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BTW, e o efeito das leis alemãs na necessidade de subir na escala de valor?

domingo, setembro 01, 2013

Ter memória... é um fardo

Julgo que os antigos tinham um ditado qualquer acerca de se ter memória e das implicações dessa posse.
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Primeiro - Pensem no que se pode dizer acerca da evolução das exportações portuguesas nos últimos anos após 2009. Lembrem-se o quanto elas têm crescido e, sobretudo, ganho quota de mercado.
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Segundo - Pensem na evolução das exportações portuguesas no período 2005-2010, "Portugal foi o 3º país da UE a 15 em que as exportações mais cresceram no período 2005-2010".
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Terceiro - Recuemos a Outubro de 2011 e recordemos a receita de Daniel Bessa para o aumento das exportações "Daniel Bessa sugere mais horas de trabalho sem aumento de salários":
"“Acho que nas empresas viradas para os mercados exteriores, para serem capazes de produzir e vender mais barato aqui e ali, era vantajoso e um estímulo ser-lhes dada a possibilidade de aumentar o horário de trabalho até uma hora a mais, por exemplo”, afirma à Renascença, adiantando que esse aumento horário não seria acompanhado de um aumento de salário."
Como se pudéssemos competir com a China nos custos... como se a exportação das PMEs se baseasse em commodities.
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Sempre a mesma treta!

sexta-feira, agosto 30, 2013

Outro exemplo, porque é importante a austeridade

"For 127 years, Herdade de Manantiz has been producing olive oil, mostly for the domestic market. But having suffered through recession like thousands of other traditional businesses, it has started overhauling its operations and searching for customers outside Portugal.
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In May, the company completed its first overseas sale — to a Brazilian retailer that bought 504 bottles of oil. It is pursuing buyers in Sweden and Japan for its oil made from galega olives, which are unique to Portugal.
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It’s difficult to change direction for very small companies like ours, but there comes a point when there is really no other choice,” said António Morais de Almeida, who is part of the fifth generation of the family that owns and operates Manantiz.
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“Portugal had been one of the losers in the globalization process because most of our industries were competing directly with the emerging markets,” he said. (Moi ici: Muito bem, não culpar o euro)
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He said that the economic crisis had forced companies to start producing higher-quality products that can be marketed at a higher price. (Moi ici: LOL!!! E os que defendiam que só desvalorizando a moeda ou reduzindo salários se conseguia exportar!!!) Manantiz is a good example of that. Its initial shipment of olive oil to Brazil sold at 60 reais, or nearly $26, a bottle, four times what is sells for in Portugal."
Trechos retirados de "After a Recession in Portugal, the Tiny Green Fruits of Success"

As opções durante uma reconversão - parte III

"John Maguire has a plan to save Friendly’s"
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Li o artigo todo e, ao terminar, pensei logo:
"Um exemplo de como baixar os salários não pode ser uma solução geral"
A procura desta cadeia baixou! E esse abaixamento da procura nada tem a ver com os preços, tem tudo a ver com a oferta.
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Sem, de alguma forma, mudar de vida (receita (3) da parte II) a procura não voltará.

quarta-feira, agosto 28, 2013

As opções durante uma reconversão - parte II

Parte I.
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Julgo que a maioria das crises estruturais que as empresas nos sectores transaccionáveis atravessam é explicada, recorrendo à analogia entre a Economia e a Biologia, pela entrada em cena de outras espécies, concorrentes novos com novos modelos de negócio. Os nutrientes, os clientes, continuam lá; contudo, as novas espécies estão melhor dotadas para os sifonar, recordar a competição entre diferentes tipos de paramécias.
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Relativamente aos sectores não transaccionáveis, julgo que a explicação para as crises estruturais normalmente é outra, o problema não é a entrada de novos concorrentes, é o desaparecimento, é a rarefacção dos nutrientes, dos clientes.
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Então, quais são as opções que uma empresa no sector não-transaccionável tem à sua disposição para fazer face à redução agregada da procura?
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Embora me digam que é tudo uma questão de macroeconomia, que é irrelevante a estratégia das empresas individuais, que o que há a fazer é baixar salários, não acredito nessa inevitabilidade.
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Para mim o importante são as empresas como organismos individuais e não os agregados abstractos,  cada empresa é um caso e, o que serve para uma pode ser veneno para outra.
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O contexto é: a procura baixou (estruturalmente)!
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A pergunta é: que opções temos pela frente?
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Uma resposta pode ser: Vamos continuar a fazer o que sempre fizemos; contudo, como a procura é menor, a receita vai ter de ser menor. Assim, vamos ter de aprender a viver e a funcionar com menos receita.
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(1) Aqui, a resposta instintiva é: despedir e/ou cortar salários.
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Hão-de existir empresas para as quais esta é a melhor opção.
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O aviso que faço é: e conseguem ter alguma vantagem competitiva nesse novo cenário? Se sim, avancem, se não, cuidado.
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Um exemplo típico de empresas que avançaram por esta via e estão a falhar, porque não têm vantagem competitiva, são as que publicam os jornais. Reduziram o quadro de pessoal, reduziram os salários, mas mesmo assim não se safam porque não têm vantagem competitiva.
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(2) Outra resposta é: encolher e especializar-se.
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Hão-de existir empresas para as quais esta é a melhor opção.
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Este é o conselho que dou aos jornais, por exemplo, em vez de continuarem a publicar um jornal à moda antiga, especializem-se num tema onde possam fazer a diferença, onde possam ter uma vantagem competitiva. Este é também o conselho que dou a muitas PMEs... é talvez o conselho mais difícil de seguir porque representa um rombo no ego. Encolher uma empresa e deixar de ser generalista vai contra a ideia clássica de progresso de uma empresa, crescer, crescer e crescer.
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(3) Outra resposta é: encolher e mudar de vida.
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Hão-de existir empresas para as quais esta é a melhor opção.
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Isto significa aproveitar algo do passado da empresa, algo incorporado no seu ADN e, procurar um novo nicho onde possa ter uma vantagem competitiva.
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Um exemplo do sector transaccionável para ilustrar esta categoria é, por exemplo: a empresa que deixou o sector do calçado e se dedicou à marroquinaria, aproveitando o know-how sobre a compra e o trabalhar do couro.
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A quebra nas receitas é conjuntural ou estrutural? Se é conjuntural, o que a empresa tem de fazer é arranjar forma de conseguir aguentar mais tempo "debaixo de água" para depois voltar ao habitual quando vier a retoma. Se é estrutural, o que a empresa tem de fazer é criar um novo estado normal. Esse novo estado normal passa por aprender a viver com menos receitas, ou seja tem de ter menos custos e, não necessariamente por vender mais barato, ou por reduzir salários.
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Por exemplo, quem segue a opção (2) e não se dota dos especialistas que ajudam a fazer a diferença, como é que pode construir uma vantagem competitiva? Por exemplo, neste postal de ontem "Mongo também passa por isto, pela batota" quem é que tem indiferenciados e quem é que tem especialistas, as lojas independentes ou as cadeias? E qual está a ser o desempenho de cada tipo de loja?