Durante o fim de semana multiplicaram-se as referências ao estudo "Destruição catastrófica de emprego" referido no semanário Expresso.
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Procurei ler o estudo original; por isso, iniciei uma pesquisa na internet. Foi aí que encontrei este artigo "
Falta de crédito explica "destruição catastrófica de emprego"" (Outubro de 2013) escrito pelo já conhecido artista Nuno Aguiar:
"Estudo do Banco de Portugal aponta as restrições de crédito como uma das principais razões para a drástica quebra do emprego nos últimos anos.
Portugal teve nos últimos anos um nível de destruição de emprego anormal, quando comparado com a história recente."
Outro artigo interessante que encontrei foi este "
Restrições financeiras aumentaram destruição de postos de trabalho" (Outubro de 2013), onde se pode ler:
"O relatório refere que a média de salário pago caiu à medida que se verificou, a partir de 2009, a um congelamento salarial. Além disso, este fenómeno foi acompanhado de um "aumento do número de trabalhadores temporários" e que "a rigidez salarial foi associada à baixa criação de emprego e altas taxas de insucesso de empresas."
E, no fim, não sei se deliberadamente ou não acrescenta-se a informação:
"O desemprego atingiu em janeiro deste ano um recorde máximo de 17,7%, tendo começado a recuar a partir daí. Segundo o governo, a tendência será para melhorar."
O que me impeliu a ler o estudo foi este título "
Mais de 40% dos desempregados pode nunca encontrar trabalho", depois de ter lido este outro "
Multinacional vai investir em Paredes e criar 250 empregos" e, recordar o que costumo concluir quando analiso os números do desemprego; mais de metade dos empregos que se destruíram (construção e comércio) nunca mais vão voltar e o emprego que está a ser criado é na indústria e noutras zonas geográficas.
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Então, lá encontrei o estudo "
Catastrophic Job Destruction"!
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Comecei a ler e... tive uma noção diferente do que eram aqueles "últimos anos"
- Figura 3 - dados de 1992 a 2009
- TABLE 2: DETERMINANTS OF NET JOB CREATION (2006-2011)
- TABLE 3: DETERMINANTS OF FIRM CLOSURE (2006-2010)
- Figura 6 - dados de 2002 a 2010
- TABLE 4: DETERMINANTS OF NET JOB CREATION AND WORKER FLOWS (1987-2009)
- TABLE 5: DETERMINANTS OF FIRM CLOSURE (1987-2008)
- Figura 7 - dados de 2003 a 2007 (período durante o qual a quota dos contratos a prazo duplicou)
- TABLE 6: ANNUAL JOB AND WORKER FLOWS, BY TYPE OF CONTRACT (2003-2008)
- TABLE 7: EMPLOYMENT ADJUSTMENT - RESULTS BY CONTRACT TYPE Firm FE (2003-2009)
Sim, 2009 foi um cisne negro, cuidado com as extrapolações.
"We conclude that the severity of credit constraints played a significant role in the current job destruction process. The worrying consequences of credit market fragmentation appear to have been translated into a sharp drop in the average amount of bank debts by Portuguese firms. We provided evidence showing that the firms that faced higher financial costs exited or destroyed jobs at higher rates than those that operated under less stressful financial conditions, most notably in 2010 and 2011."
Pensei logo no Antifrágil de Nassim Taleb, cuidado com o nível de endividamento. Os bancos são o servo cruel de Mateus 18, 23-35.
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A notícia inicial que desencadeou o interesse em ler o artigo refere:
"Cerca de 44,5% dos desempregados poderá nunca vir a encontrar emprego. A conclusão é de um estudo realizado por três economistas do Banco de Portugal, e divulgada na edição de hoje do semanário Expresso, que revelou ainda que o desemprego para a vida tem vindo a crescer nos últimos anos."
Contudo, li as conclusões 2 vezes e não encontrei nada que suporte o que foi escrito acima.
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O que encontrei foi isto na página 14, as conclusões começam na página 31
"Yet, unemployment protection also generates an even steeper fall in the transition from unemployment into employment. Addison and Portugal (2008) analyzed pre-1998 transitions from unemployment to employment using a regression discontinuity design that fits the characteristics of the unemployment insurance at that time when the maximum period of potential benefit depended in a deterministic way on the age of the unemployed person. The authors find that a large proportion of the population (44.5%) never makes a transition out of unemployment, but they also conclude that longer maximum potential duration of benefits translate into much lower escape rates."
Cuidado com o jornalismo em Portugal...