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domingo, junho 09, 2024

Mais uma razão para apoiar a causa irritante.

Numa economia saudável quando a procura baixa a oferta tem de se adaptar ou mudar. 

Como há muito aprendi com Nassim Taleb: Stress is information.

Numa economia não-saudável os produtores tentam reduzir as consequências da incerteza passando a factura para os contribuintes, com o apoio do governo de turno.

Por exemplo, "Excesso de vinho: há 120 milhões de litros a mais nas adegas":

Produtores produzem vinho que não tem a procura capaz de escoar toda a produção. Compradores preferem comprar vinho em Espanha (300 milhões de litros). Vinho vai-se acumulando nas adegas (120 milhões de litros).

O excesso de importações (esta linguagem de excesso é influenciada pelos produtores. Nunca há excesso de importação porque é feita por procura concreta, há sim excesso de produção) e de stock nas adegas cooperativas e privadas está a criar dificuldades financeiras, impedindo o escoamento do produto e atrasando pagamentos aos viticultores. A Federação das Adegas de Portugal tem alertado para este problema desde o início do ano e está a pedir uma destilação de crise com o apoio de fundos europeus para eliminar o excedente de vinho. Ou seja, em vez de lidar com a causa do problema preferem passar o custo para os contribuintes. 

O novo Governo de turno reuniu-se com representantes do sector para encontrar uma solução antes da próxima vindima, a fim de evitar um impacte negativo maior sobre os produtores e o sector vitivinícola. Sem uma solução rápida, os produtores enfrentarão dificuldades durante a vindima, com a falta de espaço para escoar a produção e atrasos nos pagamentos, exacerbando a crise no sector. Em vez de enfrentar a causa do problema como adultos, recorre-se ao papá-Estado para esconder a necessidade de resolver o problema.

Como as coisas devem funcionar? Por exemplo, "Scarcity of organic cows puts pressure on UK milk supplies, warn experts".

O leite orgânico é mais caro de produzir do que o leite convencional, custando 50 pence por litro em comparação com 40 pence por litro. O aumento dos custos de combustível, fertilizantes e rações desde 2021 influenciou alguns produtores de lacticínios a aumentar o preço pago aos produtores de leite, enquanto outros mantiveram o mesmo preço, levando algumas explorações a reduzir os seus rebanhos ou a abandonar a produção biológica. A taxa de inflação máxima em 41 anos, de 11,1%, em Outubro de 2022, levou a uma queda na procura de alimentos orgânicos, à medida que os consumidores cortavam nos gastos. Embora a inflação tenha caído para 2,3% em Abril e as vendas orgânicas tenham começado a recuperar, a confiança permanece frágil.

Muitos produtores de leite mudaram da produção de leite orgânico para a convencional durante um período de inflação recorde para aumentar o rendimento, reduzindo o número de explorações de leite orgânico de 400 em 2021 para pouco mais de 300 este ano.

A procura dos consumidores por leite biológico aumentou 3,9% no ano que antecedeu Março, após uma queda durante a crise do custo de vida. Agora, o número decrescente de vacas orgânicas ameaça o abastecimento de leite orgânico nos supermercados devido a uma recente recuperação na procura pelo consumidor.

Os especialistas esperam uma quebra na oferta de leite biológico até Setembro e Outubro, após o esgotamento do excedente da Primavera, realçando a actual incerteza no sector.

Redução do consumo leva a redução da produção. Aumento do consumo leva a aumento de preços e, depois, aumento da produção.

Mais uma razão para apoiar a causa irritante. Fundos europeus usados para manter o status quo em vez de promover o desenvolvimento.

segunda-feira, agosto 31, 2020

Acredita que o preço é a única forma de competir?

"Not so very long ago, almonds were grown in a number of places in America and across the world. But some places are better than others for growing almonds, and as with most production contexts, there are economies of scale to consolidation. In this case, the Central Valley of California is perfect—totally perfect—for growing almonds. Consequently, over 80 percent of the world’s almonds are now produced in this one valley. This is what agricultural scientists would call a monoculture, and they are a common outcome in systems that maximize efficiency. A factory produces a single product, a single company dominates an industry, a single piece of software dominates computer systems. We remove unhelpful inefficiencies and get more productive.
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But with that high efficiency comes an inherent vulnerability to shocks, with potentially catastrophic results: one extreme local event—a wind-swept fire, say, or a pernicious virus—could wipe out 80 percent of global almond production all at once. And there are knock-on effects. All of the almond blossoms need to be pollinated in the same narrow window of time, because all the almond trees grow in the same soil and experience the same weather. The huge volume of simultaneous pollination necessitates shipping in beehives from all over America for the short pollination window. There is an epidemic of honeybees dying in America, creating concerns about the US honeybee population’s ability to pollinate the wide variety of plants that need the bees’ busy work. One theory for the elevated honeybee mortality rates is that beehives are trucked around America for these monoculture pollinations like never before, and that this is stressful for the bees.
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Rather than producing resilient ecosystems, our obsession with efficiency proxies is producing fragile monocultures, potentially vulnerable to catastrophic failure. No doubt the monocultures are efficient in a narrow sense, but that efficiency has a dark side."
Dois temas:
  • o risco das monoculturas; e
  • como fugir à guerra da eficiência?
Acerca do risco das monoculturas - "Quando a Xylela lá chegar vai ser rápido (parte II)"

Acerca do risco das monoculturas e de fugir à guerra da eficiência - ""E sem intenção, e sem querer, apareceu na minha mente a decisão de pôr de lado o azeite alentejano"". 

Neste texto, sobre o azeite alentejano, escrevo sobre a marca "azeite not-intensivo", como escrevo sobre Monção e Melgaço aqui sobre a marca.

Como se consegue combater quem, à custa da eficiência da monocultura, tem o preço mais baixo? Com uma marca que se diferencie. Por exemplo, Portugal em 2019 importou 801 milhões de euros de cereais e... exportou 98 milhões de euros. Como é que este país consegue exportar cereais? Então não é o preço o factor decisivo? Como é que podemos ter preço?
"Os chamados cereais btp (baixo teor de pesticidas) têm como finalidade a produção de baby food. O nosso país tem condições climatéricas e de solos que permitem a produção em condições competitivas deste tipo de cereal, que tem um valor de mercado superior ao do trigo panificável corrente. A produção nacional representa 25% das necessidades do mercado interno.
A cadeia de valor tem dois clientes principais, a Nestlé e a Danone, e a procura tem aumentado. Trigo e cevada são os principais cereais btp, com um prémio associado de +30 €/t, mas a certificação é obrigatória para comercializar junto da indústria."(fonte)
E voltando ao texto inicial sobre a produção intensiva de amêndoas? Reparar neste exemplo, "To Protect its Supply, Kind Speaks for the Bees", como as conservas de atum que ostentam a certificação quanto aos métodos de captura.


Recordo Malcolm Gladwell no seu livro extraordinário livro (adjectivo atribuido de forma consciente) "David & Goliath":
"Why has there been so much misunderstanding around that day in the Valley of Elah? On one level, the duel reveals the folly of our assumptions about power. The reason King Saul is skeptical of David's chances is that David is small and Goliath is large. Saul thinks of power in terms of physical might. He doesn't appreciate that power can come in other forms as well - in breaking rules, in substituting speed and surprise for strength. Saul is not alone in making this mistake."
A concorrência imperfeita passa por esta capacidade de quebrar as regras cristalizadas nas mentes dos incumbentes.

O preço não é a única forma de competir!

sexta-feira, novembro 10, 2017

Deixem o capitalismo funcionar!

Ontem no Twitter alguém criticava Trump por ter dito uma barbaridade, acerca das exportações serem boas e as importações serem pecaminosas. Comentei dizendo que quase todos os meses é comum ouvir políticos portugueses de todas as cores, da situação e da oposição, dizerem o mesmo e ninguém estranha.

E é isso, há coisas que se dizem e publicam e que ninguém estranha, apesar de não resistirem a uma simples análise acerca da sua razoabilidade. Por exemplo, "De plus en plus d'agriculteurs bio en situation de détresse".

Agricultores lançam-se na produção bio, têm custos de produção superiores e recorrem a apoios do Estado francês. Agora que o Estado resolve cortar esses apoios protestam.
"ont des coûts de production supérieurs à ceux de l'agriculture conventionnelle, liés notamment à plus de main d'oeuvre. Et, même en vendant leurs produits un peu plus cher que les produits non bio, sans les aides de l'Etat, ils ont beaucoup de mal à s'en sortir...
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Une situation aberrante alors que la demande des citoyens en produits bio progresse chaque année en moyenne de 10% (+20% entre 2015 et 2016). Préservation de l'eau et de la biodiversité, régénération des terres agricoles, préservation de la santé, et créations d'emplois,... les services rendus par l'agriculture biologique à la société dans son ensemble sont nombreux et méritent d'être reconnus. Alors pourquoi ne pas plus l'aider à se développer ? Les agriculteurs bio voient dans cette suppression de l'aide au maintien un manque de reconnaissance pour tous ces effets positifs. Et beaucoup d'agriculteurs qui envisageaient de se convertir au bio finissent par changer d'avis. Malheureusement."
Recordo um tweet que favoritei recentemente:


Portanto, a procura por produtos agrícolas bio cresce a 20% em França, o Estado francês resolve cortar os apoios aos agricultores bio e estes não podem subir preços? Por que é que têm de ser todos os contribuintes a financiar o consumo da fatia que prefere produtos bio? Fatia que deve ser a que tem mais rendimentos, muito provavelmente? Por que é que não deixam o capitalismo funcionar? Por que é que têm de meter a catequese ao barulho?

Entretanto, na mesma França e no mesmo sector, sublinho esta outra postura, "Des agriculteurs rachètent une grande surface pour vendre leur production":
"Des agriculteurs du Grand Est ont racheté une grande surface, un ancien Lidl. Implanté à Colmar ce commerce est particulier car on y pratique la vente directe, ce qui n existe pas dans les supermarchés classiques. Il est géré par les paysans qui chaque semaine apportent leurs produits locaux plus variés qu'ailleurs.
....
En vendant maintenant directement leur productions, ils ont retrouvé une certaine liberté 
Ils n'ont plus à se soumettre aux conditions de plus en plus restrictives des grandes surfaces qui ne veulent que des "produits calibrés et standardisés". Ils mettent ainsi sur les étales  une plus grande variétés de produits. Denis Digel cultive 35 sortes de tomates, mais les supermarchés ne « lui en prenaient que deux sortes » !"
Pessoalmente compro ovos bio e sem factura (take that AT)
Pessoalmente compro alguns produtos agrícolas bio e sei que são mais caros que os convencionais.

sexta-feira, outubro 13, 2017

Agricultura por gente com skin-in-the-game (parte II)

Interessante esta evolução "Febre dos frutos secos contagia planície alentejana".

Como não recordar os tweets deste postal "Agricultura por gente com skin-in-the-game":

Pena os actores ainda não terem tomado consciência a sério de que têm de assumir o futuro por si e não ficar à espera do papá-Estado. Por um lado temos os produtores que estão a fazer a parte inicial no terreno. No entanto, já poderiam estar a movimentar-se para subir na escala de valor e, por exemplo, equacionar a produção de manteiga de amêndoa. E já poderiam estar a criar uma marca para a região para fugir do granel comoditizado e vender a marca Portugal.

segunda-feira, julho 17, 2017

Oportunidade de negócio?

Este números, "Près de 9 Français sur 10 ont consommé du bio en 2014", fazem-me lembrar de ver em Agosto de 2014 em Paris cerejas à venda a 14€/kg.

Que oportunidades de negócio para as empresas agrícolas de um país com potencial para reforçar a sua imagem de marca como joalheiro agrícola.


sexta-feira, junho 30, 2017

A confiança é demasiado importante

Artigos destes "Tem a certeza de que está a comprar comida biológica?" põem em causa todo um sector.

Ao não identificarem os "culpados" lançam um suspeição sobre todos.

Justo ou injusto não interessa, é a vida.

Eu, se fosse um operador biológico procuraria forma de me destacar da massa e estaria a pensar em forma de me distinguir e de reforçar a minha credibilidade.

A confiança é demasiado importante para este tipo de negócio ...

segunda-feira, outubro 10, 2016

Estratégia na agricultura

Como é que os representantes patronais dos agricultores deste pequeno país reagirão a um artigo como este "The Dizzying Grandeur of 21st-Century Agriculture"?
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É impossível competir contra este modelo de negócio e é imoral que os mais pobres não possam aproveitar as vantagens deste modelo de negócio.
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Mas já não estamos no século XX, estamos no século XXI e a caminho de Mongo. Por isso, cada vez mais nichos e tribos valorizam e estão dispostos a pagar por outro tipo de agricultura. Recordar o recente:
""Um consumidor do Centro da Europa prefere um produto português a um produto espanhol, marroquino, turco ou egípcio. Mesmo se o nosso produto for mais caro, desde que seja de qualidade, nós vendemos." "No ano passado, um produtor teve de me mostrar uma factura para eu acreditar que tinha  vendido batata-doce de Aljezur três vezes mais cara na Alemanha e na Suíça do que o valor do produto espanhol e norte-americano. Conseguiu isso por ter um produto de excelência."
Absurdo é querer produzir no campeonato do meio, não ter preço nem diferenciação e esperar que os contribuintes paguem a desvantagem competitiva porque são agricultores.

domingo, outubro 09, 2016

Outra vez a marca Portugal

Na senda do que aprendi acerca do valor do made in Portugal na agricultura versus o Mar del Plastico de Almeria, em linha com a ideia da "joalharia" agrícola:

Este artigo desta semana, "Exportação ganha com fama de Portugal":
""Um consumidor do Centro da Europa prefere um produto português a um produto espanhol, marroquino, turco ou egípcio. Mesmo se o nosso produto for mais caro, desde que seja de qualidade, nós vendemos." "No ano passado, um produtor teve de me mostrar uma factura para eu acreditar que tinha  vendido batata-doce de Aljezur três vezes mais cara na Alemanha e na Suíça do que o valor do produto espanhol e norte-americano. Conseguiu isso por ter um produto de excelência."

quinta-feira, janeiro 07, 2016

A receita da treta

Ao avaliar um livro chamado "The Content Code" apanhei estes trechos:
"Here’s the magic of the entrepreneurial economy. When something isn’t working anymore, someone will find something better to replace it! The information density hammer will forge new content forms and niche platforms that will expose new opportunities for early adopters and innovators.
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The challenges at hand might seem difficult, but this is an era of infinite opportunity. You need to be clear-eyed and rational, developing your strategies based on what is, not what you wish things to be.
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But one thing is clear: Whatever the strategy, in a highly competitive environment, the status quo is not good enough. If you’re facing a possibility of content saturation in your market, you need to be thinking of ways to change the game."
Não pude deixar de relacionar esta mensagem com a mensagem mais comum em Portugal... como se lida com a mudança?
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Providência cautelar ou... o apoiozinho do papá-Estado "Suinicultura. Governo cede para travar derrocada de setor que vale 600 milhões".
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Confesso que fico desconcertado com este tipo de reacção... há qualquer coisa de muito errado com uma cultura que premeia este tipo de comportamento.
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A certa altura lê-se:
"Atualmente, o preço médio praticado na bolsa de Lérida é de cerca de 1,25 euros, mas em Portugal os produtores recebem apenas 1,05 euros por cada quilo de carne."
E não há nenhum jornalista curioso que investigue por que é que isto acontece?! Acaso os espanhóis são tansos? O que é que está por trás desta diferença?
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A certa altura lê-se:
"“O que se recebe não chega para pagar a alimentação. Muito menos medicação e vacinação. Vamos deixar os porcos morrer à fome?”, " 
Será que isto não é uma mensagem daquele tipo "When something isn’t working anymore, someone will find..."?
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Será que o sector pode continuar com a actual dimensão?
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Seria uma economia bonita se todos os sectores económicos repetissem esta receita da treta. Enfim!

segunda-feira, dezembro 21, 2015

Uma outra via para a agricultura biológica?

Com a fama que temos na agricultura, recordar "A marca Portugal", a agricultura biológica representa uma oportunidade interessante para a agricultura portuguesa.
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Contudo, quem se dedicar a ela tem de ter em conta que o modelo de negócio é diferente, que os clientes-alvo têm de ser diferentes, que as prateleiras têm de ser diferentes, que a proposta de valor tem de ser diferente.
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Ao ler "Área de produção para agricultura biológica aumentou 8% num ano" sou assaltado por sentimentos contraditórios:
"A comercialização, ainda muito centralizada na área metropolitana de Lisboa, vai expandir-se ao Porto, Aveiro e outras áreas do país”, continua. O preço é um entrave à disseminação deste negócio, mas a Agrobio acredita que “tende a estabilizar ou mesmo diminuir” graças a um aumento expectável da produção.
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A União Europeia é deficitária e é o maior mercado do mundo se considerarmos o conjunto dos seus países. Mas o essencial é aumentar a produção. Só assim haverá produtos mais acessíveis aos consumidores”, conclui.
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Em 2011, gerou vendas de 21 milhões de euros, com uma área de 219.684 hectares, valor superior ao que se verificou em 2014 (212.345 hectares). Esta redução é explicada pela falta de incentivos comunitários à produção, cenário que entretanto se alterou com os novos apoios da PAC que já estão a ser utilizados pelos agricultores. A agricultura biológica representa 6% do total da área agrícola utilizada no país.
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Na Europa este negócio está avaliado em 26,3 mil milhões de euros e a Alemanha é o maior produtor: vale mais um terço das vendas. Segue-se França, Reino Unido e Itália. Os países com maior consumo per capita de produtos biológicos são a Suíça, a Dinamarca e o Luxemburgo."
Quer-me parecer que Jaime Ferreira, presidente da Associação Portuguesa de Agricultura Biológica (Agrobio), terá muito a aprender com o exemplo do calçado. Ora vejamos:

  • O modelo da Agrobio está concentrado no mercado nacional;
  • O mercado nacional tem um número limitado de consumidores dispostos a pagar preço premium por produtos biológicos;
  • Logo, a Agrobio aposta no aumento da produção, para poder reduzir custos unitários, para poder reduzir preços e chegar a mais consumidores nacionais;
  • Assim, o rendimento dos produtores biológicos nacionais será baseado na quantidade.
Será que as explorações portuguesas podem crescer muito? Será que se criarem um mercado nacional com alguma dimensão não estarão a criar mercado para os gigantes europeus do sector?
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Se estivesse a aconselhar o presidente da Agrobio proporia que se estudasse uma outra via. O propósito da Agrobio não é criar mercado nacional para os agricultores biológicos portugueses, o propósito da Agrobio é fazer com que os agricultores biológicos portugueses tenham sucesso e aumentem o seu rendimento. Assim, proporia que se concentrasse a atenção não em servir os clientes portugueses mas os clientes muito mais ricos e conhecedores do Centro da Europa. Reparar em:
"Na Europa este negócio está avaliado em 26,3 mil milhões de euros e a Alemanha é o maior produtor: vale mais um terço das vendas."
Pelo menos durante 6 a 8 meses a produção nacional tem a vantagem do clima face à Alemanha. Por que não tentar exportar produtos da agricultura biológica para a Alemanha, para a França, para o Reino Unido e Itália?
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A minha postura ás vezes escandaliza alguns interlocutores mas posta de forma muito simples é: os agricultores biológicos portugueses não têm obrigação de servir o mercado nacional, devem pensar em maximizar o seu negócio aproveitando aquilo que são as suas vantagens competitivas.
 

sexta-feira, julho 31, 2015

Um mercado potencial para a agricultura portuguesa

Um mercado potencial para a agricultura portuguesa.
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A nossa imagem, longe do Mar del Plastico, a marca Portugal, o clima de Portugal.
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Gráfico retirado de "The World's Largest Markets For Organic Products" onde se pode ler:
"The global appetite for organic products is still stronger than ever.
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The global market for organic produce looks very healthy indeed, having increased five-fold since 1999."


sábado, maio 23, 2015

Mirtilhos, proximidade e normandagem

Que timing!!!
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De manhã fui à Biobaga, em Avanca, comprar mirtilhos (variedades Camelia e Palmeto). 
As groselhas ainda precisam de mais 2 ou 3 semanas:
Dá-me um gozo tremendo comprar directamente ao produtor um produto biológico e local!
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"If you’re looking for the next organic on a broad scale, better to look toward local local. It is a designation that has become so appealing to consumers that in some ways it is surpassing the popularity — although not yet the dollar value — of organics.
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The authenticity halo around organic and natural has begun to fade, and local foods and beverages are poised to surpass them as a symbol of trust and transparency. ... local is no longer merely a bridge between organic and natural; local now speaks to consumer desires for a food system with integrity.
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With its connotations of community, economy and environmental stewardship, local offers compelling narratives that include small-scale production and closer, reciprocal relationships with food producers. These authentic stories have become a major part of the shopping, cooking and eating experience for consumers — a key aspect of the movement toward fresh, less processed food. Although some local products may carry prices that put them out of reach for many people, consumers in all segments are turning toward local to help them resolve their confusion and uncertainty surrounding organic certifications and the claims of the organic marketplace. People believe in the integrity of local producers and small farmers, seeing them as deeply invested in the quality of their products."
Claro que aqueles que um dia serão chamados de "os totalitários do século XXI", "equivalentes aos totalitários do século XX" e que, tal como aqueles gozam do apoio da maioria da população, preferem outro mercado... "O saque normando"

segunda-feira, julho 07, 2014

Proteccionismo eriça-me logo os pêlos

Às segundas. terças e quartas, os notáveis da nossa praça defendem:
"- É preciso aumentar a produtividade. Temos de ser mais produtivos!"
Às quintas, sextas e sábados, os mesmos notáveis, por causa da destruição criativa que os prejudica directamente nos seus negócios, ou que prejudica os seus clientes (no sentido que os romanos davam à palavra), defendem:
"O antigo ministro da Agricultura Arlindo Cunha defendeu hoje a proteção do comércio local contra o grande poder detido pelas cadeias comerciais de grande distribuição, que "representam 85% da distribuição alimentar" em Portugal.
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"O Governo devia usar o músculo regulador para impor certas regras. Hoje temos uma desintegração dos circuitos comerciais locais e precisamos de fazer algo para recriar as cadeias comerciais locais, isso é muito importante", disse o antigo ministro de Cavaco Silva durante comemorações do 30.º aniversário da OVIBEIRA - Associação de Produtores Agropecuários, que decorreram em Idanha-a-Nova.
...
"O país vive uma nova realidade incontornável, da grande distribuição que se estende de forma tentacular até às terras de baixíssima densidade, através de médias superfícies em que o que vendem não vem do próprio território", disse Arlindo Cunha.
O controlo de "85% da distribuição alimentar no país" é, para antigo governante, "um poder louco"."
Quem lê este blogue sabe que não nutro especial simpatia pelos Golias da distribuição grande. No entanto, sou o primeiro a defendê-los contra estes engenheiros sociais.
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Então, e a produtividade?
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Então, e o consumidor?
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Então. e o acesso do consumidor a bens de primeira necessidade a baixo-preço?
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Pessoalmente, acredito que já estamos noutra. Em vez de:
"Hoje temos uma desintegração dos circuitos comerciais locais e precisamos de fazer algo para recriar as cadeias comerciais locais,"
Acredito que isso tudo já aconteceu e, agora, sem intervenção de engenheiros sociais, num movimento genuíno bottom-up já estão a ser criados os circuitos da geração seguinte, combinando produções nacionais, com autenticidade, agricultura biológica e internet. Tudo feito por gente com skin-in-the-game, sem intervenção proteccionista.
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Aliás, o meu lado mais cínico e conspirativo até procura ver nestas palavras uma artimanha qualquer da distribuição grande para criar barreiras, na aparência vendidas como necessárias para proteger os consumidores, a esta nova geração atomizada.


Trechos retirados de "Ex-ministro Arlindo Cunha defende proteção do comércio local"

segunda-feira, dezembro 30, 2013

Fazer o by-pass à distribuição

Ainda ontem escrevia aqui sobre o "Mudar de vida":
"Várias vezes aqui no blogue já escrevi sobre os que protestam impotentes contra os preços a que são obrigados a vender o fruto do seu trabalho, a agricultura e a pesca são casos recorrentes.
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Normalmente aconselho a fazer o by-pass à distribuição e a mudar o posicionamento, a internet facilita essa transição para uma integração vertical."
Hoje, encontro este exemplo concreto "Agricultura sustentável vendida em cabazes, do produtor ao consumidor":
"Esta associação constatou que no seu território existia “um conjunto de pequenos produtores que toda a vida tinham trabalhado na agricultura, mas não conseguiam escoar a sua produção”, porque não tinham dimensão para vender para as grandes superfícies ou não tinham conhecimentos na área da comercialização. A ADREPES verificou ainda que existia naquele perímetro um conjunto de cidades de média dimensão com consumidores receptivos aos produtos locais.
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“Feito o diagnóstico, começámos a trabalhar com os produtores, que sozinhos não tinham a diversidade e a quantidade necessárias, mas que, em associação, já reuniam estas características”"
Há menos de seis meses que sou cliente semanal da "Sabores Aos Molhos". Recebo um ficheiro excel com as ofertas da semana e os preços e, escolho o que quero e as quantidades. A entrega é feita à sexta-feira.
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Em "Concentram-se nos custos" citei:
""You don't look at it as one million units sold. You look at it as one unit sold a million times."
E quando olho para os brócolos, ou para os alhos franceses, ou para as acelgas, ou para os espinafres... e comparo com o que costumava trazer do Continente dou do Pingo Doce, não tem nada a ver. Parece que cada unidade foi escolhida a dedo!!!
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Lê-se Daniel Bessa, André Macedo, Jaime Quesado e tantos outros e a mensagem é tecnologia e mais tecnologia em sectores de ponta...
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E volto sempre a 2006:
"there are no “sunset” industries condemned to disappear in high wage economies, although there are certainly sunset and condemned strategies, among them building a business on the advantages to be gained by cheap labor”"
Como ainda esta noite conversava com o outro lado do Atlântico, a necessidade, o JTBD, mantém-se, o que muda é a forma de o realizar, desde os trovadores da Idade Média até ao iPod. Não precisamos de enveredar por tentativas esotéricas condenadas ao fracasso de pôr os macacos a voar.

terça-feira, março 12, 2013

Oportunidades de negócio

Só oportunidades de negócio à espera de serem abraçadas por quem não pensa em produção em massa mas em nichos de valor acrescentado.
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Mais uma "Resíduos de pesticidas em comida para bebé em Portugal acima do permitido" e outra ainda:
"Portugal foi também um dos países em que foram encontradas maçãs com resíduos de pesticidas acima do legislado."

terça-feira, novembro 06, 2012

Riqueza da terra

Hoje, num interessante suplemento do JdN afirma-se:
"Todos os meses, cerca de 200 jovens apostam na agricultura como saída profissional"
Algumas notas:
"Nós temos fundadas perspectivas de crescimento, com larga expansão no mercado internacional", afirmou Joaquim Moreira, administrador da Acushla, empresa de produção de azeite biológico, com sede, leia-se olival de 210 hectares, em Vila Flor." (Moi ici: Pelos números da facturação e da produção, de forma simplificada pode dizer-se que vende o azeite a 10€/litro. Prevê crescer 25% no próximo ano! É a crise... Resultado da aposta na promoção (vários prémios internacionais)  e no design. Interessante que o empresário tenha uma formação em... Marketing e Comércio Internacional)
 "Já Manuela Castro Cunha, gerente da empresa de aquacultura Castro e Cabero, de Paredes de Coura, admite crescimento, mas dentro de portas. "Nós apostamos na qualidade em detrimento da massificação e isso faz com que não consigamos ter preços para competir com os nossos vizinhos espanhóis", afirma a gestora"... "A empresa Castro e Cabero decidiu apostar na diversificação em detrimento da produção massiva, pelo que confina a comercialização dos seus produtos ao mercado interno." (Moi ici: Neste caso pressinto algumas contradições estratégicas. Não apostam na massificação e, no entanto, escoam toda a produção via Clube de Produtores Sonae... ou seja, via uma cadeia de hipermercados. A diversificação de que falam não podia ser encaminhada para a produção de espécies que os massificadores consideram pouco atractivas e, assim, poder exportar algumas produções para nichos?)
"Um dos objectivos para 2013 é a diminuição das importações na Agricultura. É que todos os anos gastamos três mil milhões de euros em produtos agrícolas." (Moi ici: Palavras de João Diogo Albuquerque, secretário de Estado da Agricultura. O objectivo devia ser o de ganhar dinheiro produzindo aquilo onde podemos fazer a diferença, em vez de tentar copiar e produzir com custos superiores o que outros produzem e colocam no nosso país a um preço competitivo)
Ainda sobre a a riqueza da terra, ainda no JdN de hoje, o artigo "Produtores de vinho andam a "regar" o negócio com azeite".

terça-feira, outubro 16, 2012

Pensamento estratégico impõe-se

Para um país com pouco capital, com propriedades agrícolas muito divididas e de reduzida dimensão, com um clima invejável - quase não neva no Inverno - a 2 dias do centro da Europa e com instituições certificadoras credíveis. Competir com os produtores de grandes quantidades, com custos imbatíveis proporcionados pelo efeito da escala e por estarem submetidos a Estados menos vampirescos, é impensável. Por isso, o pensamento estratégico impõe-se:
"Em Portugal, as vendas no retalho de alimentos provenientes de agricultura biológica foram estimadas em 2010 em cerca de €22 milhões pela Interbio, associação do sector. No total do consumo alimentar do país a quota é de 0,2%, mas o mercado está em forte crescimento, que em 2011 atingiu 20%. A agricultura biológica e o consumo de produtos orgânicos continuam a disparar na Europa. Segundo dados divulgados na BioFach, feira na Alemanha dedicada ao sector, a liderar está a Dinamarca, onde mais de 7% do consumo alimentar no país é de origem biológica."
Claro que não basta produzir, pensem também no marketing, na criação de uma marca com mística.
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Trecho retirado de "O triunfo da comida biológica"
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PS: Relativamente ao artigo, tenho pena que dependam tanto da grande distribuição

segunda-feira, outubro 08, 2012

Uma agricultura com futuro

Há uma agricultura que vive de subsídios e apoios, que produz de forma pouco competitiva o que pode ser produzido no norte da Europa por Golias produtivos super-eficientes.
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E, no entanto, existe uma agricultura com futuro, uma agricultura capaz de ser uma boa opção de vida:
"Agricultura biológica aumentou 20 vezes a área em apenas década e meia"
O artigo refere um tema que já me foi contado (é verdade caro Pedro):
"À Agrobio têm chegado pedidos de potenciais clientes estrangeiros que procuram grandes quantidades. Mas só os agricultores de grande dimensão "conseguem escala" para responder a essa necessidade. "
 É verdade, uma raridade nos tempos que correm, oferta inferior à procura.
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Uns reparos para a Agrobio:
"De nicho de mercado, a agricultura biológica espalhou-se à grande distribuição e generalizou-se nos formatos especializados, supermercados e mercados de rua." 
Fujam da grande distribuição, defendam a Vossa margem, usem os canais alternativos e não se esqueçam das prateleiras virtuais.
"para ganhar dimensão, são precisos "mais agricultores e área plantada" e acções de divulgação sobre os benefícios para a saúde destes alimentos, defende."
Não esperem que seja o Estado a divulgar os Vossos produtos e benefícios, segurem a Vossa independência.

terça-feira, setembro 04, 2012

Por que não se estuda?

Ao longo dos anos vemos, ouvimos e lemos sobre a "guerra da produção de leite".
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O que vejo, ouço e leio, quase sempre tem uma argumentação nacionalista subjacente, o que é nacional é bom e o que é estrangeiro é mau.
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Confesso que não me recordo de ver, ouvir ou ler qualquer abordagem um pouco mais cientifica, mas pode ser falha minha.
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Entretanto, tive oportunidade de espreitar dois capítulos (o 3º e o 5º) deste livro "Worlds of Food: Place, Power, and Provenance in the Food Chain".
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Muito interessante!!! Por que inventam tanto? Por que não se estuda?
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Em vez da cartada nacionalista/proteccionista, a aposta na importância do território e da cultura associada:
"Despite considerable obstacles and constraints, not least from the persistence of competitive regulatory and agricultural policies which continue to ‘lockin’ producers into providing standardized food products at ever cheaper farm gate prices, new and highly uneven network developments in agri-food are diffusing and contributing to a more diverse rural landscape in both Europe and the US. This raises important conceptual questions concerning the capacity of local places to sustain these ‘counter-movements’ and to continue to promote their cause."