Ontem li um artigo trágico-cómico, "Call to monitor second jobs at four-day week council":
"South Cambridgeshire District Council (SCDC) started a trial in January 2023 where workers do 100% of their work in 80% of their hours - with no reduction in pay. [Moi ici: Quatro dias de trabalho na semana]
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According to SCDC's website, the purpose of the extra day off was for staff to 'recover and re-energise' in preparation for a 'more intense' four-day working week." [Moi ici: Uma desculpa um bocado esfarrapada]
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A council that has implemented a four-day working week has been asked to monitor employees working second jobs on their paid day off.
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The health and wellbeing survey carried out in 2024 by Robertson Cooper found that 16% of workers had taken on other paid work during their extra day. This compares with 1% in 2023 when the trial first began.
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Independent councillor Dan Lentell has put forward a motion to highlight a survey which revealed that a number of workers had taken on other additional paid work.
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Mr Lentell's motion [...] asks the council to introduce 'appropriate monitoring and reporting mechanisms!
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The motion said there should be 'clear guidelines' prohibiting staff from doing other jobs during their paid day off that 'could conflict with council duties or undermine public trust!
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The authority asked council officers not to take on additional paid work on their nonworking day, but instead encouraged them to do things like caring responsibilities, volunteering, and use it for their personal wellbeing."
Ah, que bela sátira do nosso tempo! Num mundo onde os trabalhadores camarários têm a "benção" de trabalhar apenas quatro dias por semana, somos convidados a aplaudir este prodígio do "progresso" laboral. Afinal, recebem o mesmo salário por menos horas e ainda ganham um dia extra para "recarregar baterias". Parece o paraíso na terra, certo? Pois bem, não tão depressa.
Descansar, cuidar de si, ou mesmo fazer algum voluntariado altruísta? Não, nada disso! Muitos optam por... trabalhar mais. Sim, usam o dia de folga, que deveria ser o apogeu do bem-estar, para se dedicarem a trabalhos extra e aumentar os seus rendimentos. Afinal, saúde financeira também é bem-estar, não é verdade? É claro que quem paga esta maravilha — os contribuintes aka os otários, ou trouxas — fica encantado com esta dupla produtividade dos seus impostos.
E, como se o absurdo já não fosse suficiente, entra o capítulo que parece tirado diretamente de "O Caminho para a Servidão", de Friedrich Hayek. Agora discutem seriamente monitorizar como estes funcionários utilizam o seu tempo livre. Só falta o legislador de plantão a definir que, nas suas horas livres, os trabalhadores devem meditar, tricotar ou plantar árvores, sempre em prol do "bem comum". Imagine-se o espetáculo distópico de um funcionário sendo advertido por usar o tempo livre de forma "inapropriada".
No fundo, este episódio é um tributo à ironia dos tempos modernos: uma política "progressista" que se revela uma confusão de privilégios mal geridos, controlo excessivo e uma boa dose de cinismo. Porque nada diz "inovação" como criar um problema e depois propor um comité para o resolver.
Os contribuintes líquidos são os otários, os cabeças de melão, que suportam a festa. Parabéns!