segunda-feira, dezembro 23, 2013

A brincadeira de nos armarmos em deuses

"O equilíbrio externo já foi, não só assegurado, mas ultrapassado, com a economia a apresentar excedentes (outra forma de desequilíbrio...), coisa que não acontecia desde a segunda guerra mundial. Este equilíbrio, porém, foi conseguido à custa do agravamento do desequilíbrio interno (com o desemprego a passar para os cerca de 17%), uma vez que, na ausência de suficiente correcção da taxa de câmbio real (TCR), o seu principal instrumento foi uma sobre-contenção da procura interna (sobretudo do investimento). Um equilíbrio assim conseguido não é sustentável, porque, sem correcção da TCR, é incompatível com o regresso ao equilíbrio interno."
Aquele uso de "sobretudo do investimento" causa-me arrepios, a leviandade com que se chama aos gastos do Estado no betão de "investimento", enfim.
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Segundo o último Boletim Mensal do IEFP temos:
"A análise segundo as profissões dos desempregados registados no final de novembro de 2013, evidencia as seguintes profissões como as mais representativas (dados apurados para o Continente): “pessoal dos serviços, de proteção e segurança” (86 625), “trabalhadores não qualificados dos serviços e comércio” (77 040), “empregados de escritório” (63 716), “operários e trabalhadores similares da indústria extrativa e construção civil” (57 148) e “trabalhadores não qualificados das minas, construção civil e indústria transformadora” (52 666)."
Uma parte da procura interna caiu drasticamente por causa do fim do crédito fácil e barato que alimentava o comércio, outra parte da procura interna caiu por causa da interrupção "momentânea" do caudal de dinheiro para as obras públicas com mais do que duvidoso retorno. Admitamos a hipótese de que essas fontes de procura não voltarão a ser o que eram, para que servirá essa correcção da TCR?
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Para salvar emprego? Para recuperar emprego?
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O que tornará as empresas desses sectores mais competitivas?
O que preparará as empresas desses sectores para um futuro sustentável?
Será uma questão de baixar salários?
"A saída deste dilema seria através da política monetária que, através do crédito, estimulasse a procura interna, sobretudo a componente do investimento."
Será que Vítor Bento olhou para a composição da origem do desemprego? Será que está a pedir uma nova leva de torrefacção de impostos futuros em obras públicas só para mascarar o desemprego?
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Por mim, continuo a olhar para o desemprego como um objectivo indirecto, como uma consequência da criação de riqueza. Pensava que tinha ficado claro onde nos pode levar a brincadeira de nos armarmos em deuses e actuar directamente, com impostos futuros, na insuflação dos números do emprego.
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Trecho retirado de "Os dilemas da política económica"

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