O Boletim Mensal de Economia Portuguesa, publicado pelo Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia, apresenta a figura que se segue para caracterizar o perfil das exportações portuguesas em termos de intensidade tecnológica:
Pessoalmente, considero que é uma caracterização infeliz.
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Claro que os políticos bem intencionados vão fazer tudo para aumentar o perfil dessa intensidade. E, por isso, aparecem as qimondas, verdadeiras aberrações para gáudio e erecção psicológica do turno da situação na altura.
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Pessoalmente, preferia uma estratificação baseada no valor acrescentado potencial. Se calhar as exportações de combustíveis estão enquadradas na metade superior da intensidade tecnológica e, os sapatos Armando Silva, que estão à venda na Ginza, estão na metade inferior.
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Façamos, então, uma grande simplificação, vamos recuar a 1986 e admitamos que o perfil da produção portuguesa, em termos de valor acrescentado potencial, pode ser representado por esta figura (especulativa quanto às percentagens, o que interessa é o sentido da evolução):
Como já referi aqui no blogue várias vezes, com a adesão à então CEE, acabam as barreiras alfandegárias que protegiam o ecossistema da economia portuguesa e, ... é uma mortandade sobretudo nas empresas que competiam pela nata do mercado interno. As empresas de produção de bens transaccionáveis de baixo valor acrescentado potencial minimamente bem geridas não tiveram grandes problemas. Competiam pelos preços mais baixos em sectores onde as empresas dos países da CEE não queriam ou podiam competir. Aliás, até se reforçou o movimento de investimento directo estrangeiro para levantar empresas nesses sectores de competição pelo preço mais baixo.
Especulemos que o perfil tenha evoluído para este estado:
Era um ecossistema ajustado aquele tempo... a taxa de desemprego chegou aos 3,9% no ano 2000.
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Entretanto, volto a apresentar uma figura com uns números interessantes:
E volto a referir um acontecimento da viragem do século,
11 de Dezembro de 2001, data da adesão da China à Organização Mundial de Comércio como membro de pleno direito.
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E vejamos o que aconteceu a um país com moeda própria e sem a protecção laboral europeia, com a entrada da China em jogo.
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A evolução das taxas de importação de têxteis pelos Estados Unidos (
Tabela 7):
Acham que esta evolução foi por causa do euro?
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Claro que não, com aquelas diferenças salariais lá de cima, seria impensável outra evolução para Portugal, com ou sem o euro.
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Estranho pois que economistas cheguem a conclusões diferentes das deste engenheiro anónimo de província. Em "Um guião político para as Europeias de 2014" leio:
"O problema maior da economia portuguesa foi, desde o final dos anos noventa, a sua progressiva perda de competitividade externa no quadro do Euro e a liberalização comercial e financeira promovida à escala continental pela integração europeia e aceite pelas elites nacionais."
Como se Portugal com o escudo não perdesse competitividade na mesma, dada a brutal diferença salarial para a China, numa economia adequada à competição pelo preço mais baixo.