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sexta-feira, novembro 21, 2025

A estagnação como consequência (Parte III)

Parte I e parte II.

O que escrevi sobre sociedades que evitam dor e economias que evitam recessões encaixa-se na perfeição na lógica de Joaquim Aguiar sobre o campo de possibilidades.

A sua teoria dá, aliás, a estrutura conceptual que explica por que caímos nessa espiral. Segundo Aguiar, o campo de possibilidades de um país define-se pelos seus constrangimentos estruturais. Quando uma sociedade rejeita desconforto, reformas, ajustamentos, rupturas curtas para evitar colapsos longos — o campo não se mantém estático: estreita-se. Perdem-se graus de liberdade.

A cada ciclo político que promete aliviar a dor:

  • mantém-se dívida,
  • congelam-se privilégios,
  • adia-se investimento produtivo,
  • impede-se destruição criativa, e
  • ganha força quem depende do status quo.

Resultado: há cada vez menos a escolher e cada vez menos a mudar.

A democracia anestesiada produz um campo de possibilidades cada vez mais pobre.

Aguiar dizia que o campo de possibilidades é sempre menor do que parece. A estabilidade artificial — económica e política — reduz ainda mais esse campo.

Ao evitarmos recessões (Parte I) e dor política (Parte II), ficamos com:

  • menos margem orçamental,
  • menos produtividade,
  • menos capacidade de ajustamento,
  • menos legitimidade para contrariar interesses instalados,
  • mais actores capazes de vetar qualquer reforma.

É o que Aguiar chamaria de um campo bloqueado.
A aparência de tranquilidade é, de facto, a acumulação silenciosa de impossibilidades.

Nos sistemas sociais e económicos, os choques funcionam como resets que alargam o campo de possibilidades.

Aguiar diria que:

  • uma crise abre alternativas;
  • um ajustamento redefine prioridades;
  • um colapso parcial elimina actores que bloqueavam caminhos;
  • uma ruptura revela escolhas escondidas.

Sem estas descargas:

  • o campo não se expande,
  • cristaliza-se, e
  • torna-se regressivamente mais estreito.

A paz prolongada e a ausência de recessões não geram liberdade — geram estreitamento estrutural do possível.

Aguiar era implacável com esta falha: os actores políticos anunciam fins que o campo de possibilidades não permite realizar.

O evitar da dor redefine esse campo de forma tão restritiva que:

  • as reformas necessárias não cabem nele,
  • as promessas necessárias não são viáveis,
  • e o sistema torna-se refém das suas próprias ilusões.

É aqui que o FT e a The Economist convergem com Aguiar: ao evitarmos dor durante décadas, criámos um campo de possibilidades tão pequeno que já quase nada cabe lá dentro — excepto mais estímulos, mais apoios, mais adiamentos.

Aguiar diria: "Ao eliminar os mecanismos de dor, eliminamos os mecanismos que criam possibilidades."

Ou, dito de outra forma: evitar todos os sobressaltos não amplia as escolhas — destrói-as.

Está decidido, vou reler: 




quinta-feira, novembro 20, 2025

A estagnação como consequência (parte II)

No The Times do passado Domingo um texto de Matthew Syed, "Numbed by borrowing, we can't see how badly we need to go cold turkey".

Se, na Parte I, defendi que longos períodos de paz criam sistemas que acumulam fragilidades invisíveis, a leitura do artigo de Matthew Syed reforça esse diagnóstico aplicando-o directamente às democracias modernas. Se as economias que evitam recessões se tornam frágeis, também as sociedades que evitam desconforto político e social entram numa espiral semelhante: crescem sem músculo, sobrevivem sem regeneração e tornam-se incapazes de enfrentar desafios reais.

O autor usa uma metáfora brutal e certeira: não tomamos OxyContin, mas engolimos políticas públicas que funcionam como analgésicos potentes. Prometem conforto imediato, escondem custos futuros e criam dependência. E, tal como um organismo habituado a doses cada vez maiores, os eleitorados também desenvolveram um limiar de dor extremamente baixo. O autor não poderia ser mais directo:

"We have become a body politic with an ultra-low pain threshold."

Isto explica muita coisa. Explica por que tão poucos aceitam reformas estruturais. Explica por que qualquer tentativa de cortar privilégios — mesmo os insustentáveis — desencadeia tempestades políticas. Explica, sobretudo, a nossa parcimónia no que toca a aceitar pequenos sacrifícios agora para evitar grandes rupturas amanhã.

O resultado é semelhante ao das economias que eliminam as recessões: criamos um ambiente de suposta estabilidade que se torna cada vez mais tóxico. Tal como The Economist mostra que 15 anos sem recessões levaram à má alocação de capital, empresas zombi e produtividade estagnada, Syed mostra que 30 anos a evitar dor política produziram democracias exaustas, estagnadas e, em muitos casos, cínicas.

O trabalho de Ruchir Sharma, citado no texto, é revelador: 

"in the seven largest democracies the combined stimulus from governments and central banks rose from 1 per cent of GDP in the recessions of the 1980s and 1990s to 3 per cent in 2001, 12 per cent in 2008 and 35 per cent in 2020. He writes: "The public - particularly homeowners, stockholders and bondholders - came to expect more help in every crisis … culminating in the shockingly large doses of government aid in the pandemic. Though inspired by a kind of paternalistic fear, these rescues are delivered with the growing certainty that the cure is not worse than the disease."

Esta expectativa de salvação automática é politicamente irresistível, mas corrosiva a longo prazo. Tal como recessões eliminam ineficiências, a política também precisa de momentos de dor para corrigir excessos, reequilibrar sistemas e restaurar responsabilidade. Evitar esses momentos equivale a programar uma crise maior.

A analogia histórica é igualmente perturbadora. O autor cita Will Durant:

"A nation, like a man, is born stoic and dies epicurean."

E a verdade é que o pós-1991 nos tornou epicuristas políticos: acreditámos que o sofrimento era opcional e que o progresso era garantido.

"After the collapse of the Soviet Union, we thought we'd won and utopia was our birthright."

Esse sentimento de invulnerabilidade - semelhante à paz prolongada que referi na Parte I - adormeceu a capacidade de aceitar custos, enfrentar dificuldades e tomar decisões difíceis.

A consequência é dupla:

1. Economias que crescem mais lentamente porque nunca são reestruturadas.

2. Democracias que se degradam porque nunca têm a coragem de contrariar expectativas instaladas.

A dor não desaparece. Apenas se acumula.

"Pain cannot be erased — only deferred. And deferred pain grows."

A The Economist fala de economias que perderam o seu ciclo de limpeza natural. Syed fala de democracias que perderam a capacidade de aceitar o desconforto. Ambas descrevem sistemas que caminham rumo a uma ruptura não por excesso de instabilidade, mas por excesso de estabilidade artificial.

A grande pergunta final - que Syed deixa no ar - é esta: estaremos dispostos a aceitar o "desmame" desta dependência colectiva? Ou preferimos continuar anestesiados até ao momento do colapso?

A resposta, claro, ainda não existe. Mas talvez seja esta a oportunidade: voltar a cultivar pequenos sobressaltos, pequenas reformas, pequenas dores — antes que fiquemos sem margem para evitar uma dor grande.

E, tal como defendi na Parte I sobre as economias, o mesmo se aplica às democracias: o desconforto não é uma ameaça à estabilidade — é a sua condição de possibilidade.

Se tivesse mais tempo trabalhava melhor a descrição do panorama:




domingo, novembro 16, 2025

A estagnação como consequência




Há anos que penso que as sociedades democráticas não estão preparadas para longos períodos de paz.

As guerras, ao colocarem em causa a existência do estado, abrem a porta a resets. Não havendo guerras, os sistemas de cada país vão acumulando metásteses porque ninguém tem coragem de fazer frente às corporações do bem.  

Na revista The Economist desta semana vem um artigo interessante, "Recessions have become ultra-rare. That is storing up trouble", um pouco na linha do que Nassim Taleb escreveu sobre qual o país com o sistema político mais estável, a Síria ou o Líbano. 

A Síria parecia estável porque nada mudava — até ao dia em que tudo ruiu de forma catastrófica. O Líbano, cheio de atritos, choques e negociações constantes, mantinha a resiliência precisamente por viver num estado de ajustamento permanente.

O artigo aponta para o mesmo fenómeno nas economias avançadas: ao evitarem recessões a qualquer custo, criam uma ilusão de estabilidade que impede a renovação natural, a destruição criativa e a realocação de recursos. Cresce-se, sim, mas cresce-se com músculo fraco. Taleb diria que é a diferença entre sistemas frágeis, que parecem fortes até ao momento da ruptura, e sistemas antifrágeis, que se fortalecem com pequenos choques. E talvez esteja na altura de perceber que evitar todos os sobressaltos não é sinónimo de estabilidade — é apenas adiar o momento do colapso.

O artigo argumenta que, apesar dos choques recentes — pandemias, guerras, taxas de juro elevadas e crises bancárias - as economias desenvolvidas têm evitado recessões há mais de 15 anos. Esta ausência prolongada de ciclos recessivos parece, à primeira vista, positiva, pois evita sofrimento humano e destruição de emprego. Contudo, o texto alerta para um efeito secundário: quando uma economia passa demasiado tempo sem a "limpeza" natural provocada por recessões, começa a acumular fragilidades — empresas ineficientes sobrevivem, a produtividade estagna e o capital não é realocado para usos mais produtivos.

O artigo revisita a noção de "destruição criativa" de Schumpeter, mostrando que recessões podem acelerar a inovação, permitir que negócios ineficientes desapareçam e gerar novas empresas mais fortes. Contudo, nem todas as recessões têm este efeito - algumas, como a japonesa dos anos 1990 ou a crise de 2007-09, acabaram por perpetuar ineficiências. Paralelamente, os governos modernos adoptaram uma política de "bail-outs para todos", intervindo rapidamente em qualquer início de crise, o que impede a reestruturação natural da economia. O resultado é a acumulação de riscos: financeiros, fiscais e de má alocação de recursos.

Phil Mullan, no seu Creative Destruction, já tinha alertado para esta tendência: governantes e bancos centrais passaram a proteger a economia de qualquer dor de curto prazo — e, ao fazê-lo, criaram uma economia cada vez mais dependente de estímulos, crédito barato e resgates permanentes. O que deveria ser um mecanismo natural de renovação empresarial foi neutralizado. A consequência, diz Mullan, não é apenas a sobrevivência de empresas zombi, mas um ciclo de crescimento anémico, baixos ganhos de produtividade e uma economia que perde vitalidade ano após ano.

Sem períodos de correcção, o sistema engorda, mas não fortalece. Gera volume, mas não gera músculo. E é precisamente aí que reside o grande desafio para as economias europeias — Portugal incluído. Se continuarmos a anestesiar cada turbulência com mais Estado, mais apoios e mais crédito, acabaremos com um modelo que cresce na aparência, mas não se regenera na substância. Mullan diria que o preço da estabilidade permanente é a estagnação permanente. E talvez esteja na altura de aceitarmos que algum desconforto, quando bem enquadrado, é o que mantém uma economia viva, capaz e preparada para o futuro.

sexta-feira, outubro 10, 2025

Eficiência versus resiliência


No WSJ no passado dia 7 de Outubro li "Fire at Plant Disrupts Auto Industry":
"A late-night fire leveled a key part of a New York aluminum plant in hours. Its absence is going to disrupt business at Ford Motor and other automakers for months to come.

The plant's operator, Atlanta-based Novelis, supplies about 40% of the aluminum sheet used by the auto industry in the U.S., according to industry analysts. Novelis said the Oswego, N.Y., plant has been knocked offline until early next year."

Quando a lógica dominante é escala + volume = menor custo unitário, as cadeias de fornecimento acabam inevitavelmente concentradas em poucos gigantes capazes de operar com produção massiva. Para os fabricantes, parece racional: o preço unitário baixa, as margens sobem, os accionistas ficam satisfeitos.

Mas o incêndio na fábrica da Novelis em Oswego, responsável por cerca de 40% do alumínio usado pela Ford e outros construtores, mostrou o outro lado da moeda. Uma falha localizada — neste caso, um incêndio no hot mill — foi suficiente para paralisar cadeias de produção globais durante meses. O que era visto como eficiência transformou-se em vulnerabilidade estrutural.

Já vimos esta mesma dinâmica nos semicondutores (durante a pandemia de COVID-19, a escassez global de semicondutores obrigou fábricas automóveis na Europa e nos EUA a suspender produção durante semanas) ou nas terras-raras: quanto mais se persegue o preço mais baixo, mais se concentra a produção, e mais frágil se torna todo o sistema. A dependência deixa de ser apenas económica e passa a ser estratégica. E os riscos de disrupção não se resolvem com inventários ou contratos de emergência.

A competição pelo preço conduz inevitavelmente ao gigantismo produtivo. Recordo uma unidade leiteira nos EUA com mais de 30 mil vacas numa única exploração. O crescimento reduz custos unitários, mas aumenta a exposição a falhas catastróficas — aquelas “fat tails” de que Nassim Taleb nos fala: eventos raros, mas devastadores.

É aqui que entra uma palavra quase esquecida, mas essencial: temperança.

Temperança não é recusar a eficiência, mas saber equilibrá-la com resiliência. É não ceder à obsessão pelo preço mais baixo, ignorando os riscos ocultos. É cultivar diversidade na cadeia de fornecimento, aceitar redundâncias saudáveis e resistir à sedução da escala infinita.

Interessante, esta manhã, durante a caminhada matinal ouvi:

quarta-feira, maio 17, 2023

Confundir efeito com causa (parte II)

Confundir efeito com causa (parte I) 


Por causa do fácil versus o difícil temos:

Há dias escrevemos este postal, Emprego, marketing e subida na escala de valor, onde abordamos o tema da destruição de emprego qualificado e o crescimento do emprego não qualificado. Nestes postais, Tudo vai depender do tal jogo de forças (parte V), e Turn, turn, turn - versão de 2023, abordo o impacte da saída da produção industrial na China.

Ontem, no WJS encontrei "The Disappearing White-Collar Job" onde li:

"For generations of Americans, a corporate job was a path to stable prosperity. No more.

The jobs lost in a monthslong cascade of white-collar layoffs triggered by overhiring and rising interest rates might never return, corporate executives and economists say.

...

"We may be at the peak of the need for knowledge workers," [Moi ici: Típico pensamento anglo-saxónico] said Atif Rafig, a former chief digital officer at McDonald's and Volvo. "We just need fewer people to do the same thing."

Long after robots began taking manufacturing jobs, artificial intelligence is now coming for the higher-ups-accountants, software programmers, human-resources, specialists and lawyers-and converging with unyielding pressure on companies to operate more efficiently.

...

During past periods when higher interest rates pitched the U.S. economy into recession, job losses were often led by industries most sensitive to rate changes, such as manufacturing and construction.

...

Layoffs in the information sector were up 88% in March from a vear earlier and up 55% in finance and insurance, the data show. For manufacturing, they were up 25% ever the same period.

Companies are for the moment focused on keeping bluecollar employees-restaurant servers, warehouse workers, drivers and the like-who remain in short supply, according to economists and humanresources specialists.

...

Whole Foods and Disney announced layoffs in recent weeks that largely hit corporate staff while sparing such customer-service jobs as grocery clerk and hourly theme park attendant. 

...

Payroll data from more than 300,000 small- and medium-size businesses showed that wages for new hires had generally declined in April from a year ago but fell most rapidly in white-collar professions, such as finance and insurance"

O desconhecido difícil para os agentes portugueses é conhecido fácil para agentes estrangeiros - daí  Tamanho, produtividade e a receita irlandesa.

Já há uns tempos que sinto que estamos a ficar maduros para uma revolução semelhante à que Cavaco encabeçou quando libertou a economia à iniciativa privada (bancos, televisões, jornais, empresas nacionalizadas com o 11 de Março...) pena que alguns se distraiam com a engenharia social.

sábado, novembro 05, 2022

A morte das empresas a dois níveis

O que quero dizer com "deixem as empresas morrer"?

Vejo o tema em dois níveis, ou duas perspectivas diferentes:

  • a perspectiva da empresa individual; e 
  • a perspectiva da sociedade.
Quando afirmo "deixem as empresas morrer" estou a pôr-me na perspectiva da sociedade. Como sociedade, precisamos que empresas menos produtivas deixem de actuar como zombies que consomem recursos que poderiam estar a ser usados noutras áreas da economia, ou noutras empresas, e não os rentabilizam de forma adequada. Sem a morte de empresas não há flying geeses capazes de acompanhar o aumento da produtividade das sociedades mais dinâmicas economicamente. Recordar Maliranta e Taleb, recordar Hausmann e os seus macacos que não voam, apenas trepam árvores. Recordar Portugal não irá crescer se continuar a “exportar ‘mais do mesmo’”

Ainda recentemente usei a pirâmide de Larreché:
A economia portuguesa só alcança a produtividade média europeia através da originação de valor. Recordar o exemplo irlandês - produtividade irlandesa: empresas nacionais versus empresas internacionais.

Vejamos a gora a perspectiva da empresa individual. Cada empresa individualmente deve fazer tudo o que é ética e legalmente possível para sobreviver. Ninguém de fora deve ter autoridade ou poder para dizer que uma empresa deve morrer porque ...

Cada empresa individual, tendo em conta o seu contexto interno e externo, tendo em conta os requisitos e as expectativas das suas partes interessadas, deve trabalhar para capturar mais valor ou para extrair mais valor. Recordar Marn e Rosiello:
Também se aumenta a produtividade vendendo melhor ou sendo mais eficiente, mas nada bate a capacidade de aumentar preços sem perder clientes, algo que só se consegue com a base da pirâmide de Larreché. 

Assim, enquanto como cidadão defendo que a sociedade deve deixar as empresas morrerem, como consultor trabalho para apoiar as empresas individuais a darem a volta quando estão em más circunstâncias. Ou a melhorarem o que já está bem, mas tem de melhorar porque amanhã as partes interessadas (clientes, trabalhadores e o sócio-estado) vão querer mais. Até porque se as empresas de mais baixa produtividade morrerem todas hoje não há empreendedores suficientes para pôrem a render os recursos entretanto libertados. Recordar Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas.

E algumas, não todas, das empresas com baixa produtividade, quando encaram de forma sistemática o desafio do aumento da produtividade para sobreviver, descobrem dentro de si recursos adormecidos, desprezados, inúteis, que se tornam preciosos para uma vida 2.0 onde as regras do jogo mudam e a empresa pode começar a viver, mais do que sobreviver. Como, por exemplo, aconteceu com o calçado quando mudou de modelo de negócio e de cliente-alvo e passou a vender sapatos que se vendem na loja a 300€ e não a 30€.

segunda-feira, outubro 24, 2022

Sem stressors não há informação

Hoje é mais ou menos pacífico dizer-se que algumas estratégias, baseadas em mão de obra barata, são impossíveis de sustentar em Portugal.

Apesar disto, Pode ser que cole à parede, chegaremos um dia à conclusão que estratégias baseadas em energia barata são impossíveis de sustentar em Portugal.

Taleb ensinou-me: "Stressors are information"

Entretanto esta semana:


Sem stressors não há informação, se não há informação, não há sinal de que a mudança seja mesmo necessária.

Se recuarmos a Outubro de 2021 percebemos que o preço da energia não tem nada a ver com a guerra.

quinta-feira, junho 10, 2021

"está tudo relacionado"

Recordo muitas vezes uma frase que Nassim Taleb escreveu no Twitter em 2014:

"Economists fail to get w/ GDP growth that anything that grows without an "S" curve (slowingdown phase) blows up."

Ontem ao passar os olhos pelo livro "The Bed of Procrustes" encontrei:

"Robustness is progress without impatience." 

Entretanto, à noite li "​The '85% Rule': Why a dose of failure optimizes learning": 

"If you have an error rate of 15% or accuracy of 85%, you are always maximizing your rate of learning in these two-choice tasks."

E recordei os velhos nabateus:

BTW, este fim de semana vi num canal do cabo, tipo National Geographic(?), um documentário sobre os Nabateus e a civilização de Petra. Uma parte desse documentário não me sai da cabeça... a parte em que se refere a técnica dos Nabateus para transportar água ao longo de km e km. Eles desenhavam a inclinação das tubagens não para a máxima eficiência de caudal transportado mas para a mais eficaz. A máxima eficiência leva à rotura frequente das tubagens.

Não sei porquê, mas sinto que isto está tudo relacionado. 

 

sexta-feira, novembro 06, 2020

"a class of people who inflict risk on others without being affected by the outcome"

"PAUL SOLMAN: The no-skin-in-the-game class?

NASSIM NICHOLAS TALEB: Exactly. Decision-makers who can drag you into intervention, can drag you into policies that cosmetically feel good, but eventually, somebody pays a price and it’s not them.

There are two levels. The first one, and the most obvious one, is people who intervene in Iraq, thinking, “Hey, we’re going to bring democracy,” or some abstract concept. The thing falls apart, and they walk away from it. They’re not committed with living or owning the toy. They broke it. They don’t own it. Then, the same people make the same mistake with Libya and then now currently with Syria, the warmongers. In the past, historically, warmongers were soldiers. You could not rise in a senate if you didn’t have war experience. [Today if] you have a class of people who inflict risk on others without being affected by the outcome, that class of people is going to disrupt the system, causing some kind of collapse."

Trecho retirado de "Beware ‘faux experts’ who don’t pay for their actions, Nassim Taleb says

domingo, outubro 25, 2020

Definitivamente não recomendado a ...

Outro podcast simplesmente brilhante "Ep.108 - Bounding Losses With Jaffer Ali"

Com uma série de mensagens de pôr os cabelos em pé para quem o dinheiro é fácil de torrar, desde políticos até "empreendedores" que acreditam que a solução para o sucesso é o crescimento a qualquer custo. 

Definitivamente não recomendado a:

  • políticos que acreditam que o futuro é igual ao passado;
  • adeptos do modelo de negócio ao estilo da Farfetch;
  • adeptos de modelos de negócio baseados no crescimento a qualquer custo;
  • crentes no eficientismo;
  • adoradores da Tesla.

sábado, abril 04, 2020

The Rules of the Passion Economy (parte II)

Parte I.

Ainda do capítulo 2 “The Rules of the Passion Economy", retirado de "The Passion Economy: The New Rules for Thriving in the Twenty-First Century".

A segunda regra parece tirada de tantos postais escritos neste blogue desde 2006: 
"RULE #2: ONLY CREATE VALUE THAT CAN’T BE EASILY COPIED.
...
you should be careful not to produce value — create a thing that people want—at scale. [Moi ici: Recordar os "sábios" da Junqueira. BTW, da próxima vez que ouvirem Vítor Bento na TV lembrem-se do que ele disse e da suckiness dos gigantes] Creating value at a large volume is something only huge companies can do profitably. ... Your value should be created slowly and carefully. Absorbing the significance of this point can be hard. Only focusing your attention on those things that reach a relatively small and strongly opinionated customer base, things that are hard to do, will be worth your while. [Moi ici: Recordar as tribos assimétricas de Taleb]
...
in the current economy, you want to do the opposite of what in the past has usually been considered good business sense. The moment one of your products or services takes off and becomes widely copied, you should begin abandoning it and looking for the next thing.
The more stuff you make or the more clients you take on, the harder it is to maintain excellence and to adapt your products and services in a way that both you and your customers want. Leave scale for the mass market. The Passion Economy is about quality and the conversation you have with your clients." [Moi ici: Recordar a co-criação

quinta-feira, março 12, 2020

Second-order thinking...


Na última semana recordei duas frases da autoria do Aranha:

  • "Não me venha com os seus factos que eu tenho os meus argumentos!"
  • "Quando o empresário português tem um problema, saca da carteira e compra uma máquina!"
Na mesma última semana várias conversas acabaram por aflorar dois temas clássicos no blogue:
Há um ditado que volta e meia Nassim Taleb usa:
  • Good fences make good neighbours
Hoje em dia, quando vejo imagens de gente que quer deitar para o caixote do lixo da História a existência de fronteiras penso sempre nos jogadores amadores de bilhar e no tal ditado.

Há dias, enquanto conduzia ouvi "Chesterton’s Fence: A Lesson in Second Order Thinking". Recomendo vivamente a leitura:
"When we seek to intervene in any system created by someone, it’s not enough to view their decisions and choices simply as the consequences of first-order thinking because we can inadvertently create serious problems. Before changing anything, we should wonder whether they were using second-order thinking. Their reasons for making certain choices might be more complex than they seem at first. It’s best to assume they knew things we don’t or had experience we can’t fathom, so we don’t go for quick fixes and end up making things worse."
Este trecho que se segue fez-me recordar "Most thinking stops at stage one":
"Second-order thinking is the practice of not just considering the consequences of our decisions but also the consequences of those consequences. Everyone can manage first-order thinking, which is just considering the immediate anticipated result of an action. It’s simple and quick, usually requiring little effort. By comparison, second-order thinking is more complex and time-consuming. The fact that it is difficult and unusual is what makes the ability to do it such a powerful advantage." 
Na última Terça-feira vimos as imagens do primeiro-ministro holandês fazer um discurso sobre novos comportamentos e, depois, o seu lado "fast" actuou e instintivamente fez o contrário do que tinha acabado de pregar. Pena que a cena dos amadores a jogar bilhar seja tão comum quando se toma a decisão de comprar uma máquina e, não se considera se ela viola as orientações estratégicas à la Terry Hill.

quinta-feira, novembro 21, 2019

"exploiting our gullibility and sucker-proneness for recipes that hit you in a flash as just obvious"

Deming tinha 14 principios sobre os quais assentava a sua abordagem ao mundo da qualidade/gestão.

O primeiro princípio era:
Create constancy of purpose for improving products and services.
Constância de propósito significa tomar uma decisão, assumi-la e não vacilar, ir até ao fim com a sua execução. Não tremer, nem recuar, quando as consequências das decisões começarem a mostrar o seu lado negativo. Afinal, qualquer mudança estrutural faz com que as coisas fiquem pior antes de ficarem melhor. E nessa altura, o clamor, o sofrimento, faz com que os decisores comecem a tremer das pernas.

Há cerca de um ano que leio artigos onde se defende que os salários devem aumentar para obrigar as empresas a subir a produtividade, em vez do clássico aumentar a produtividade para depois subir os salários:
Ontem descobri mais um texto a suportar a ideia de que os salários devem aumentar e a produtividade crescerá, "Porque se ganha tão pouco em Portugal":
"Estamos a assistir à queda de mais um “catecismo” doutrinal: aumentos de salários só mediante aumentos de produtividade.
...
E uma das maiores causas da nossa baixa produtividade assenta como não há muito tempo li num estudo oficial do Conselho para a Produtividade, coordenado pelos Ministérios das Finanças e da Economia que em Portugal: “a falta de qualificações dos empresários afecta a eficiência da empresa, assim como os critérios de escolha dos gestores, muitas vezes feita com base nas relações familiares e de amizade e não pelo percurso profissional”.
.
Dito de outra forma, esta conclusão do estudo significa que a baixa produtividade do País se deve à falta de competência dos empresários que, desta maneira, limita a eficiência das pessoas que com eles trabalham. Sendo mais claro e sem rodeios, a baixa produtividade empresarial entronca na reduzida capacidade de gestão e organização das empresas por parte dos empresários e gestores."
O que é que esta alma pensa, que as empresas pressionadas pelos aumentos salariais vão aumentar a sua produtividade?

Acredito mais em Nassim Taleb:
"Recall that the interventionista focuses on positive action - doing. Just like positive definitions, we saw that acts of commission are respected and glorified by our primitive minds and lead to, say, naive government interventions that end in disaster, followed by generalized complaints about naive government interventions, as these, it is now accepted, end in disaster, followed by more naive government interventions. Acts of omission, not doing something, are not considered acts and do not appear to be part of one’s mission. ... I have used all my life a wonderfully simple heuristic: charlatans are recognizable in that they will give you positive advice, and only positive advice, exploiting our gullibility and sucker-proneness for recipes that hit you in a flash as just obvious, then evaporate later as you forget them.
...
So the central tenet of the epistemology I advocate is as follows: we know a lot more what is wrong than what is right, or, phrased according to the fragile/robust classification, negative knowledge (what is wrong, what does not work) is more robust to error than positive knowledge (what is right, what works). So knowledge grows by subtraction much more than by addition—given that what we know today might turn out to be wrong but what we know to be wrong cannot turn out to be right, at least not easily."
Este sublinhado final do texto de Taleb tem tudo a ver com o exemplo no final de "Salário mínimo, produtividade, motivação/malandragem e desemprego (parte II)". Recordar "Vamos imaginar que há 3 empresas num sector e que cada uma tem um terço de quota de mercado:..."

Voltando à introdução deste postal: o aumento dos salários acima da produtividade vai provocar o encerramento de empresas e desemprego. Não se aumenta a produtividade, através do numerador, com um estalar dos dedos. Assim, a morte das empresas vai fazer com que a produtividade agregada aumente, até aumente muito, como no exemplo referido atrás, mas à custa de desemprego, sobretudo de pessoas mais velhas. Veremos se as pernas acabarão por tremer.

Remato com um regresso a 2007 e à lição finlandesa:
"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants."
Atenção, as fábricas mais produtivas só substituem as menos produtivas nas estatísticas. As mais produtivas não substituem as menos produtivas na produção, produzem outras coisas.

sábado, novembro 09, 2019

Salário mínimo, produtividade, motivação/malandragem e desemprego (parte II)

Parte I.

Como referi no final da parte I vou comentar a segunda parte do último "Think Tank" dedicado ao tema da produtividade (a partir do minuto 33).

A conversa começa com Jorge Marrão a dar um exemplo que não é nenhuma mentira, mas é tipo: com a verdade me enganas. A maioria das empresas em Portugal já não está aí.

Jorge Marrão conta que há anos foi à China e, esteve num hotel que pertence a uma cadeia de hotéis que também está em Portugal. Uma mesa para almoçar era servida por 5 funcionários na China e por 1 funcionário em Portugal. Claro que a produtividade em Portugal era muito superior à chinesa. Admitindo que o numerador era o mesmo nos dois países, o valor ganho com a venda do serviço de almoço, e que o denominador era mais pequeno em Portugal do que na China porque só se pagava um salário e não cinco, admitindo que o salário chinês não fosse demasiado baixo. Jorge Marrão explica que na China eram 5 funcionários porque tinham pouca formação.

Ao minuto 36'37'' Jorge Marrão volta a enganar-nos com a verdade (e atenção eu gosto de o ouvir e comungo de muitas das suas ideias, embora ele sofra um pouco da doença anglo-saxã, a mesma da tríade) - aumentar a produtividade traz um problema para a sociedade porque mais produtividade requer menos gente.

Qual é o problema deste argumento de Jorge Marrão? É o famoso, aqui no blogue, argumento dos engenheiros, quem o usa assume uma constante, algo que não pode mexer, algo em que nem pensa mexer, o numerador, assume que o que se faz é constante. Assim, a única opção que há é mexer no que é variável, ou seja, no denominador. Por exemplo, no número de trabalhadores necessários para produzir a mesma quantidade de output. Esta abordagem não está errada. No entanto, condena-nos a melhorias da produtividade de caca. Por causa do gráfico de Marn e Rosiello:


E por causa dos low hanging fruits já terem sido todos colhidos.

Acham que é assim que colmatamos este gap brutal com o resto da Europa?
(a amarelo Portugal, a laranja a UE28, a verde a zona euro)

Ao minuto 39' entra Joaquim Aguiar e não podia entrar melhor:
"Mais produtividade não é menos custos nem mais esforço."
A meio do minuto 40' Joaquim Aguiar desvia-se do essencial para dar o exemplo da Autoeuropa em Palmela. Diz Joaquim Aguiar, algo que não é novidade, a unidade da Autoeuropa é unidade mais produtiva de todo o grupo VW. Porque é que digo que Joaquim Aguiar se desvia do essencial? Começou por fazer-nos intuir que ia abordar o numerador da equação da produtividade com aquela afirmação que citei e sublinhei, mas depois dá um exemplo da vantagem do denominador. Basta recuar a 2010 neste blogue para ler em "As anedotas":
"Conseguem encontrar fábricas gémeas, fábricas que fabriquem os mesmos produtos em Portugal e na Alemanha?
.
Há uma que salta logo à vista, a AutoEuropa.
.
No caso da AutoEuropa, aposta que a produtividade portuguesa é, ou semelhante, ou superior às fábricas congéneres da VW na Alemanha (para modelos com a mesma gama de preço).
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Agora conseguem comparar a produtividade da AutoEuropa com a produtividade de uma unidade que produz a marca Porsche ou a marca Ferrari?
.
Na Ferrari e na Porsche especulo que fabricam menos carros por trabalhador que na AutoEuropa e, no entanto, têm uma produtividade muito superior...
.
Excluindo a indústria automóvel conseguem encontrar outro sector onde fábricas "gémeas" compitam ombro a ombro em Portugal e na Alemanha?
.
Não me recordo... a fazer exactamente o mesmo? Duvido!!!"
Se o numerador estiver bloqueado, a unidade com menores custos é mais produtiva, com as mesmas regras de gestão.

Mas as empresas não estão prisioneiras do denominador. Podem fazer o que os livros de Economia e Gestão nunca falam: mudar de numerador, mudar de output, subir na escala de valor, race to the top em vez de race to the bottom.

Ao minuto 43'40 Jorge Marrão lança um tema que ele não desenvolve no sentido que eu vou sublinhar aqui. Diz ele e bem: Associado ao tema do aumento da produtividade, vem o tema do aumento do salário. Gente com um salário superior, ganha apetência para outro tipo de consumo, o que, segundo ele, cria emprego para os que foram desempregados pelo aumento da produtividade.

O que é que nesta frase de Jorge Marrão me salta à vista?
  • Mais produtividade -> mais salário
  • Mais salário -> procura por coisas novas
Agora especulo:
  1. Se o aumento da produtividade for natural, o aumento da procura por coisas novas será natural, e a comunidade responderá a essa procura crescente com as suas próprias soluções;
  2. Se o aumento da produtividade for forçado, o aumento da procura por coisas novas será mais rápido do que a capacidade da comunidade responder a essa procura crescente, o que fará disparar o desiquilibrio da balanço externa e ... problemas mais cedo ou mais tarde
BTW, reconheço que o argumento de Jorge Marrão acerca do aumento do salário implicar mais procura por coisas novas pode estar um pouco estragado, porque hoje temos os empréstimos bancários generalizados que põem NINJAS a comprar tudo e mais alguma coisa, sem eles próprios criarem a riqueza adequada.

Ao minuto 45'40'' Jorge Marrão volta a encarreirar no lado bom da Força ao associar produtividade a mais receita por trabalhador:
"Não tem a ver com esforço, tem a ver com o que é que aquelas pessoas, naquele posto de trabalho conseguiram capturar de receita, de criação de riqueza"
E então vem o seu momento alto neste programa:
"Ou modificam um bocadinho a forma de trabalhar [Moi ici: actuar sobre o denominador da equação] em que é necessário menos recursos ou aumentam a receita"[Moi ici: Importante, distinguir o numerador, do denominador. Pena que não refira o gráfico de Marn e Rosiello para perceber o quanto o impacte da melhoria do numerador é superior ao da melhoria no denominador]
Logo a seguir Jorge Marrão dá um exemplo concreto. E com exemplos concretos as coisas percebem-se muito melhor (recordo logo o meu parceiro das conversas oxigenadoras a contar a argumentação do filho para explicar o sucesso do PAN: é o nome, só coisas concretas - pessoas, animais natureza).

Vamos imaginar que há 3 empresas num sector e que cada uma tem um terço de quota de mercado:
A empresa A tem uma produtividade de 100.
A empresa B tem uma produtividade de 50.
A empresa C tem uma produtividade de 10.

A produtividade do sector é de 53,3.

Voltemos agora às palavras de Jorge Marrão, adaptadas por mim:
"Se nós eliminarmos a empresa mais improdutiva, a produtividade do sector sobe muitíssimo"
 A produtividade do sector sobe para 75, um salto de mais de 40%

Qual a vantagem de eliminar a empresa menos produtiva? Palavras de Jorge Marrão:
"O salário da empresa menos produtiva no sector serve de referência a todas as empresas do sector, para estabelecer o salário do sector"[Moi ici: Não sei se isto se continuará a verificar numa economia com falta de mão de obra]
Este exemplo final de Jorge Marrão é a aplicação das ideias de Maliranta e de Nassim Taleb que nunca me canso de repetir. Por isso, escrevo aqui há anos: "Deixem as empresas morrer!"

Qual o problema da argumentação de Jorge Marrão? É uma argumentação que faz sentido, mas que é proposta por alguém que não vai sofrer as consequências directas da sua aplicação, sem skin-in-the-game. Reparem na diferença:
  • Eu - Deixem as empresas morrer
  • Jorge Marrão e muitos outros neste último ano - Temos de eliminar as empresas 
E Nassim Taleb aqui serve-me de farol:
Don’t take advice from those who are not at risk” for the consequences of their advice"
Quais as consequências da abordagem TEMOS DE ELIMINAR AS EMPRESAS MAIS IMPRODUTIVAS!
  • Desemprego de pessoas concretas;
  • Como o encerramento não é natural, mas induzido artificialmente, não há criação natural de unidades novas a ritmo suficiente para absorver os desempregados. Daí este remate no final deste postal:
"Por cá, politicamente a prioridade é a distribuição. Ao menos, podiam facilitar as condições para que capital estrangeiro investisse no país."
Recordo "Produtividade e socialismo (Parte II)"
"Dá para ficar a pensar muito seriamente na incapacidade das transferências inter-sectoriais gerarem uma massa crítica relevante para o país. A alternativa poderia passar por investimento directo estrangeiro para promover transferências inter e intra-sectoriais com a entrada de novos players.
Só que o campeonato nessa liga não é para amadores:"

BTW, Jorge Marrão desmistifica algo que já critiquei aqui várias vezes, a crença de que subidas fantásticas na produtividade são incompatíveis com trabalhadores com poucas qualificações escolares. Jorge Marrão dá o exemplo das empresas alemãs em Portugal (Bosh?): Basta um pouco de formação básica. O meu clássico: sexta-feira deixa de ser costureira numa fábrica de T-shirts e segunda-feira começa a trabalhar como costureira numa unidade de confecção de air-bags. Imaginem o salto brutal na produtividade daquela pessoa. O velho tema da caridadezinha (2014, 2008)

Para registo recordo Janeiro de 2019 e Agosto de 2009.

Claro que os "espertos" riem-se de nós todos.

sábado, julho 20, 2019

Deixar a produtividade aumentar

"Nas empresas a falta de organização e liderança é uma das explicações para a sua baixa produtividade, um problema antigo que, infelizmente, a classe empresarial nunca quis assumir como existindo e, por isso mesmo, dificilmente o resolverá."
A melhor contribuição para o aumento da produtividade numa sociedade consiste na promoção da livre concorrência e na remoção de barreiras à entrada e à saída.

Recordar a velhinha citação de Maliranta acerca da Finlândia acrescida da frase de Nassim Taleb:

Depois, algo que aprendi em 2007 com Maliranta e a experiência finlandesa:
"It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled."
Mas, e como isto é profundo:
"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants."
Por fim, Maliranta confirmado por Nassim Taleb:
"Systems don’t learn because people learn individually – that’s the myth of modernity. Systems learn at the collective level by the mechanism of selection: by eliminating those elements that reduce the fitness of the whole, provided these have skin in the game"
Trecho retirado de "Os problemas são poucos, as soluções parecem impossíveis /premium"

quinta-feira, julho 11, 2019

Tail risks can screw you (parte II)

Parte I.

O D. Pedro IV comentou:
"Disclaimer: não conheço o caso em concreto. Mas há um padrão que se tem.vindo a repetir....
.
- "Mas porque é que não têm lojas? Porque é que não vendem on-line? Olhe que o mercado está a mudar muito e não podem ficar de fora."
À resposta:
- "porque somos fabricantes e queremos foco completo e especialização nisso"
As pessoas olham com verdadeira desilusão. Senti isso várias vezes. O mundo está cheio de Ícaros, ou se preferirmos de exemplos do princípio de Peter que nos impele sempre a avançar até que saímos da nossa área de experiência e core business.
Exagerando: a necessidade (quase obrigação) de sair da zona de conforto está overrated!"
Por que usei a foto na parte I?
Demasiada gente fica seduzida com o glamour, com o lado solar, e não sabe, ou desvaloriza o sofrimento, o risco, ou o lado lunar.

O comentário avança duas linhas de pensamento. A primeira é acerca da essência da estratégia, a segunda acerca do nível de risco.

1. A essência da estratégia
A essência da estratégia é ser capaz de dizer não. Recordo sempre a lição de Agosto de 2008:
"the most important orders are the ones to which a company says 'no'"
O que não vamos fazer? Quem não vamos servir?
Sem escolher dizer não a certas coisas, não se pode ser excelente a outras, fica-se stuck-in-the-middle.

No texto "Quando falta mão de obra (parte II)" citei:
"Of course, economies of scale can sometimes be required for success in certain markets and for some products, but often they aren’t required and it is ego, not a strong business strategy, that is forcing growth where growth isn’t necessary."
Entre crescer pelo volume ou crescer pelo preço unitário (ou seja, pelo valor acrescentado) não deveria ser um dilema para uma PME. No entanto, quase sempre a pressão pelo crescimento leva a dizer sim a mais coisas do que deviam ser aprovadas. E uma organização começa a dispersar-se, começa a espalhar os recursos escassos por fatias de pão cada vez maiores.

2. Até onde arriscar?
Em princípio parece não haver uma resposta única a esta pergunta. Cada um arrisca até onde a sua paixão pelo risco o leva. No entanto, em Antifrágil Nassim Taleb dá uma pista infalível. Seguir o exemplo dos estóicos:
"combines an aggressive stance toward upside opportunities with a healthy paranoia about large negative outcomes"
Nunca arriscar a casa. Só arriscar até ao limite em que se tudo for perdido, a vida pode continuar. Ou seja:
"Dans une stratégie qui entraîne la ruine; les bénéfices ne compensent jamais les risques de ruine"
Deixa-me arriscar, tenho aqui uma possibilidade fantástica de ganhar uma boa maquia, só tenho de jogar uma vez na roleta russa...



quarta-feira, julho 10, 2019

Tail risks can screw you up


A propósito de "Eureka em PER com dívidas de 22 milhões a 622 credores" como não recordar da parte II:
"Of course, economies of scale can sometimes be required for success in certain markets and for some products, but often they aren’t required and it is ego, not a strong business strategy, that is forcing growth where growth isn’t necessary."
Para contextualizar: "De Vizela para o mundo" e "A atracção das marcas".

Primeiro um disclaimer: as pessoas da Eureka têm o meu respeito porque são gente com skin-in-the-game, são gente que fazem o que cada vez é mais difícil e arriscado, põem o pescoço no cepo e ao fazê-lo criam emprego.

Qual poderá ser o seu erro?
E recordo de "Jouer Sa Peau" de Nassim Taleb:
"On peu aimer le risque tout en nourrissant une aversion profonde pour la ruine.
L' asymétrie central de la vie est la suivante:
Dans une stratégie qui entraîne la ruine; les bénéfices ne compensent jamais les risques de ruine"
A atracção pelo crescimento rápido pode levar ao tail risk de tudo perder.


sexta-feira, junho 21, 2019

Optimista? Realista? Pessimista?

Há pessoas que quando escrevem sobre determinados assuntos ... recorrem acriticamente às estatísticas e nem se interrogam sobre o que elas querem dizer, ou o que está por detrás desses números. Por exemplo:
"Apesar da procura nos mercados internacionais não ser muito dinâmica, as exportações de bens e serviços apresentaram um crescimento homólogo de 3,4%, e continuam a demonstrar a capacidade das empresas portuguesas ganharem quotas de mercado nos principais destinos das exportações portuguesas: Espanha, Alemanha, França e Reino Unido" 
Alguém foi aos números do INE e sacou aquele 3,4% para poder escorar a afirmação seguinte "demonstrar a capacidade das empresas portuguesas".

Se estudassem os números por detrás do número, podiam perceber o que venho relatando há cerca de um ano, a mudança de panorama das exportações portuguesas e a sua crescente fragilização: "What a difference a year makes! (parte II)"

Outro exemplo:
"Hoje, o made in Portugal é um importante ativo concorrencial."
Todos os dias vejo exemplos do que está a ser feito para dar cabo desse activo. Ainda ontem li esta aberração louca "Empresa espanhola arrasou ponte e villa romanas em Beja para plantar amendoeiras" e recordei o que se está a esvair ao copiar o modelo canceroso espanhol: "Todos vão perder".

Outro exemplo:
"A transformação digital da economia, que motivou o lançamento do Programa Indústria 4.0, cada vez mais presente na economia mundial, irá ser decisiva para alinhar as tendências do mercado com a oferta de produtos, ajustando os mecanismos de produção (aumentando a automatização dos processos, substituindo tarefas com valor reduzido, exigindo novas competências e mais qualificações aos trabalhadores) e estimulando novos modelos de negócio."
Relacionar o impacte da Indústria 4.0 na economia portuguesa é ainda mais caricato que esperar que os migrantes resolvam o problema de falta de mão-de-obra em Portugal. BTW, recordar que os macacos não voam.

Outro exemplo:
"Hoje, com taxas de desemprego baixas e uma perspetiva de evolução demográfica difícil, a sustentabilidade do crescimento tem na produtividade um eixo central."
Não sei se estou a ser pessimista, realista ... ou optimista, ao acreditar cinicamente nas palavras de Maliranta e Taleb. Nas últimas semanas tive oportunidade de contactar várias empresas pressionadas por um importante cliente para mudar de paradigma de trabalho, e esta reflexão não me sai da cabeça: Quanto tempo?

Trechos retirados de "Produtividade – o desafio essencial para sustentar o crescimento numa economia virada para o futuro"

domingo, junho 16, 2019

Nope!


Nope!

Quando vi esta fotografia pensei logo nos muitos empresários que ainda não perceberam o filme em que estão metidos.

Muitas pessoas e organizações são capazes de se alhear em relação às mudanças do contexto e não perceber o seu potencial impacte. Assim, são capazes de adiar a mudança que permitirá fazer face ao que só daí a alguns anos se materializará na parede contra a qual vão bater. Basta recordar o caso das escolas privadas, como ainda esta semana referi.

Há anos que escrevo aqui sobre a evolução demográfica. Por exemplo:
Uma das consequências da agudização da evolução demográfica será o desligamento da evolução salarial da evolução da produtividade. Recordo o que escrevi sobre a crescente irrelevância do SMN:
Sabem o que acontece às empresas que aumentam os salários para lá do aumento da produtividade? Não têm futuro, fecham!

Recordo algumas reflexões:

Assim como muitas empresas têxteis francesas e alemãs se deslocalizaram para Portugal nos anos 60 e 70, porque o aumento de produtividade no sector na França e na Alemanha era incompatível com o aumento dos salários na França e na Alemanha, também por cá começaremos a sentir cada vez mais relatos deste tipo. Empresas com encomendas a terem de fechar porque não conseguem captar trabalhadores, ou não conseguem ganhar o dinheiro suficiente para pagar as dívidas.

Recordar a velhinha citação de Maliranta acerca da Finlândia acrescida da frase de Nassim Taleb:

Depois, algo que aprendi em 2007 com Maliranta e a experiência finlandesa:
"It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled."
Mas, e como isto é profundo:
"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants."
Por fim, Maliranta confirmado por Nassim Taleb:
"Systems don’t learn because people learn individually – that’s the myth of modernity. Systems learn at the collective level by the mechanism of selection: by eliminating those elements that reduce the fitness of the whole, provided these have skin in the game"
Recordar esta "Especulação perigosa" de Novembro último.

terça-feira, abril 23, 2019

Tão bom!!!




"In real life, belief is an instrument to do things, not the end product. This is similar to vision: the purpose of your eyes is to orient you in the best possible way, and get you out of trouble when needed, or help you find a prey at distance. Your eyes are not sensors aimed at getting the electromagnetic spectrum of reality. Their job description is not to produce the most accurate scientific representation of reality; rather the most useful one for survival.
...
In that sense harboring superstitions is not irrational by any metric: nobody has managed to reinvent a metric for rationality based on process. Actions that harm you are observable.
...
Survival comes first, truth, understanding, and science later [Moi ici: Tão poderoso!!!]...
In other words, you do not need science to survive (we’ve done it for several hundred million years) , but you need to survive to do science. As your grandmother would have said, better safe than sorry.
...
bounded rationality: we cannot possibly measure and assess everything as if we were a computer; we therefore produce, under evolutionary pressures, some shortcuts and distortions. Our knowledge of the world is fundamentally incomplete, so we need to avoid getting in unanticipated trouble.
...
Judging people on their beliefs is not scientific
.
There is no such thing as “rationality” of a belief, there is rationality of action.
The rationality of an action can only be judged by evolutionary considerations...
The axiom of revelation of preferences states the following: you will not have an idea about what people really think, what predicts people’s actions, merely by asking them – they themselves don’t know. What matters, in the end, is what they pay for goods, not what they say they “think” about them, or what are the reasons they give you or themselves for that. (Think about it: revelation of preferences is skin in the game). Even psychologists get it; in their experiments, their procedures require that actual dollars be spent for the test to be “scientific”. The subjects are given a monetary amount, and they watch how he or she formulates choices by spending them. However, a large share of psychologists fughedabout the point when they start bloviating about rationality. They revert to judging beliefs rather than action.
...
Actually, by a mechanism (more technically called the bias-variance tradeoff), you often get better results making some type of “errors”, as when you aim slightly away from the target when shooting. I have shown in Antifragile that making some types of errors is the most rational thing to do, as, when the errors are of little costs, it leads to gains and discoveries.
This is why I have been against the State dictating to us what we “should” be doing: only evolution knows if the “wrong” thing is really wrong, provided there is skin in the game for that."...
Rationality is not what has conscious verbalistic explanatory factors; it is only what aids survival, avoids ruin.
.
Rationality is risk management, period."