Recordo muitas vezes a palavra histerese quando penso no desemprego.
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Usava-a muito em Fenómenos de Transferência, sobretudo associada à adsorção.
Quando o fenómeno corre no sentido da adsorção tem um comportamento diferente de quando corre a dessorção.
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Por que penso agora em histerese?
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Por causa do desemprego e do salário mínimo.
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Ao longo da década de 90 do século passado tivemos uma evolução dos custos de mão-de-obra no sector do têxtil e vestuário que pode servir de avatar para o que se passou nos outros sectores da economia transaccionável:
À medida que o país adoptava um modelo mental que considerava os sectores tradicionais como obsoletos e incapazes de se ajustarem ao mundo novo, e os sectores não-transaccionáveis como
a nova última Coca-Cola no meio do deserto, os salários iam subindo muito acima da produtividade e as fábricas iam fechando. Quem não se lembra da facilidade com que se dizia que
se uma fábrica não consegue pagar o novo salário mínimo deve fechar.
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Nessa altura, mesmo que os salários não tivessem subido, mesmo que os salários tivessem baixado, o resultado final teria sido o mesmo, a única coisa que variaria seria a velocidade de destruição de emprego e das fábricas como resultado da adesão da China à Organização Mundial do Comércio (ver tabela acima). Como não recordar o
choque de 18 de Fevereiro de 2008, foi o ponto onde começou o comeback.
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Depois da travessia do deserto, no início de
2008 escrevi aqui que o pior para os sectores transaccionáveis tinha passado. O
sector do calçado é um exemplo paradigmático dessa evolução.
Quando a troika chegou, os políticos e os Sarumans do costume (a tríade) estavam sempre a falar do sector transaccionável, que era preciso baixar salários para o salvar:
TRETA!
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Lembram-se de em 2012 andarem todos à nora com um famoso
relatório sobre o desemprego? Esse relatório demonstrava, contra a ideia do mainstream que quanto mais um sector económico em Portugal estava aberto ao exterior menos desemprego tinha.
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Regressemos à actualidade. Esta semana escrevi esta "
Curiosidade do dia" e hoje mesmo "
Um peu partout". Entretanto, no Twitter aparecem muitas bocas acerca da evolução do desemprego e da subida do salário mínimo. Olhando para a força do reshoring em curso, tema que passa completamente ao lado de artigos como este "
A Little-Noticed Fact About Trade: It’s No Longer Rising" e que se traduz em números como estes:
Podemos pensar que ainda poderíamos ter uma evolução melhor.
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No entanto, o ponto deste postal é outro: como está a evoluir o emprego nos sectores não-transaccionáveis? Interessante que agora no sector privado quem mais tem falado contra o aumento do salário mínimo seja a
Confederação do Comércio e Serviços, precisamente o subsector privadoque mais subiu os salários durante a orgia despesista até à troika.
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Agora o massacre é e será nesta área por causa do comércio online, por causa da demografia, por causa do fraco poder de compra e porque a dinâmica de crescimento actual está nos sectores transaccionáveis. O perfil de criação de desemprego com o aumento do salário mínimo é diferente e é mais do que compensado pela dinâmica do reshoring.