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quarta-feira, outubro 23, 2024

Duas dúvidas acerca de estratégia e SPC


Há muitos anos que uso e abuso do SPC. Por exemplo:
O SPC é muito bom para evitar a esquizofrenia analítica. Por exemplo:
Na passada segunda-feira Roger Martin publicou "Statistical Process Control & Strategy". Como grande apreciador dos contéudos de Roger Martin assim que pude mergulhei a sua leitura.

Apreciei os insights fornecidos no artigo, particularmente a analogia da aplicação do Controlo Estatístico de Processo (CEP = SPC) à estratégia. No entanto, tenho algumas observações que gostaria de partilhar.
"The WWHTBT can be utilized to set control limits for your strategy.
...
Setting control limits in advance is critically important because human beings have an infinite capacity for ex post rationalization.
...
The only protection against your own ex-post rationalization is to set control limits ex ante."
Primeira, no SPC tradicional, os limites de controlo não são algo que definimos arbitrariamente ou com base em expectativas futuras. Em vez disso, emergem de dados históricos do processo, reflectindo a variação natural inerente a um processo estável. Os limites de controlo revelam o que é típico de um processo ao longo do tempo, ajudando-nos a detectar quando ocorre uma variação invulgar (causa especial). Neste contexto, a definição de limites de controlo com base nas expectativas de resultados futuros parece inconsistente com os princípios fundamentais do SPC.
"É extremamente importante não confundir os limites de controlo com as especificações ou com as metas para o processo. As especificações são a voz do cliente ou do mercado, as metas são a voz ou o desejo da gestão, os limites de controlo são a voz do processo, aquilo que o processo é capaz de fornecer." (Fonte - Dezembro de 2008)
Volto ao texto de Roger Martin:
"If outcomes stay within your preset control limits, then keep your hands off the dials — with confidence."
A carta de controlo permite descortinar entre variação aleatória ou variação causada por causas específicas. O que nós fazemos ao executar uma estratégia é perturbar uma realidade. Vamos então à segunda observação.
O próprio acto de executar uma estratégia envolve frequentemente a introdução de mudanças ou “causas especiais” de variação, porque o objectivo é mudar a organização do seu estado actual para um futuro novo e desejado. No SPC, a variação das causas especiais indica normalmente uma necessidade de correcção, mas na estratégia, a introdução de causas especiais (novas iniciativas, mudanças estruturais, etc.) é intencional. Este contraste entre manter a estabilidade do processo (foco do SPC) e impulsionar a mudança estratégica pode ter de ser mais explorado para evitar confusão. Não percebo como Roger Martin conclui que um processo sob controlo estatístico é um processo em que a estratégia está a resultar.

segunda-feira, maio 15, 2023

Fugir da esquizofrenia

Há muitos anos que aqui no blogue escrevo sobre a esquizofrenia analítica, independentemente do governo de turno ser de direita ou de esquerda. Recordo, por exemplo:

Mão amiga fez-me chegar este tweet:

Não por acaso, no final de Abril último tirei uma foto ao título de uma coluna do JN:


Agora, analisei os dados do Pordata e resolvi fazer as cartas de controlo para os valores individuais e para a amplitude móvel:


E o que as cartas revelam é que a mortalidade infantil subiu de um ano para o outro por mera flutuação estatística. Nem o Pordata nem a ordem dos Médicos conseguem fugir da esquizofrenia na análise dos resultados (nem Câncio, se o governo fosse de direita). Só os deuses fogem da Conversa de humano.

quarta-feira, agosto 21, 2019

Para lidar com a variabilidade

Interessante que em Agosto de 2019, finalmente, a Harvard Business Review publique um artigo, "Do You Understand the Variance In Your Data?", sobre a análise estatística dos números, dos indicadores ao longo do tempo.

De acordo com a minha pesquisa, a primeira vez que aqui no blogue falei sobre esquizofrenia analítica foi em Novembro de 2006 em "Comportamentos, padrões... não, "happenings"; não, eventos; não, meteoros".

A figura:
Da montanha russa costuma-me acompanhar neste tema. De bestial a besta em 30 dias porque num mês os resultados foram bons ou menos maus e 30 dias depois os resultados são maus ou piores, quando afinal, estatisticamente não mudou nada. No artigo da HBR esta situação é descrita assim:
"The figure below depicts the error rates for the first three weeks of an invoicing process:
After week two, the responsible manager was embarrassed — could her team really be performing that poorly? After the third, she breathed a sigh of relief. The error rate may be high, but at least the trend was in the right direction! She had been extolling her people to “work harder to get the error rate down.” Finally, they were listening!
.
Unfortunately, her interpretation did not hold up. Here are the measurements for the next seven weeks:
This manager’s illusion was shattered the very next week, as the error rate went even higher! Her mistake arose because she did not understand that all processes vary, often considerably!"
Por exemplo, como não lembrar "Uns dias são melhores do que outros" de Maio de 2006. Ou Junho de 2009, ou Julho de 2019.

Quanto ao artigo da HBR, saúda-se a entrada no tema da variabilidade (recordo aqui o anterior nome do nosso projecto profissional, Redsigma, e a sua razão de ser). No entanto, acho estranho que o autor apresente o tema como uma novidade, opte por fórmulas que há muito foram provadas como incorrectas, e não tenha feito qualquer referência a nomes como Shewart, Wheeler ou Deming.

Aqui no blogue sobre a variabilidade/variância podem ser consultados os marcadores associados a este postal.

Por fim, um exemplo sem esquizofrenia e a estória de um estagiário que queria ir longe na vida.


segunda-feira, abril 22, 2019

Falta de profissionalismo, venezuelização, falta de liderança

Ontem em casa da minha mãe folheei o último número do Expresso e ao deparar com o título "Mortalidade infantil aumenta sem explicação" suspeitei logo de mais um episódio de esquizofrenia estatística, uma continuação de Janeiro último em "Mortalidade infantil e esquizofrenia".

Desta feita, com os dados da taxa de mortalidade infantil cheguei à mesma conclusão:
Estatisticamente não se pode dizer que 2018 foi pior que 2017, ou que 2010 foi melhor que 2012.
Daí que subscreva na íntegra:
"“Não se identificaram causas que justifiquem o aumento. [Moi ici: Em 2018] Não há uma relação causal,
...
O recorde absoluto foi batido em 2010, com uma taxa de 2,5. Também aqui não foi possível apurar explicações. “Estudámos tudo, como estudamos sempre, e não encontrámos uma causa”, admite a médica."
Procurar explicações para a variabilidade estatística normal é a base para a esquizofrenia analítica tola.

O que no artigo verdadeiramente me chamou a atenção foi este trecho:
"Outra das conclusões é a falta de informação e o excesso de mortes inconclusivas. O estudo revelou registos omissos, com regiões do país onde nem sequer se sabe qual foi o tipo de acompanhamento que a mulher teve durante a gravidez. Na verdade, ironiza a diretora-geral da Saúde, “a única causa que aumentou nos certificados de óbito foi a ‘causa desconhecida’, que não devia constar” e que leva as autoridades de saúde a pensar em “tornar obrigatórios alguns campos para que outros não fiquem por preencher”."
Interpreto-o como um sintoma de falta de profissionalismo, de venezuelização, de falta de liderança:

  • É o profissional que não investiga e opta pelo mais fácil;
  • É a chefia directa que não revê, que não controla, que não chama a atenção para a falta de informação;
  • É toda uma cadeia de controlo da qualidade da recolha da informação que falha até chegar à directora-geral da Saúde.
Como é que se podem tomar decisões baseadas em factos se não temos factos?

sábado, outubro 29, 2016

Acerca da variabilidade dos clientes

Há dias sublinhei "Learn more about your most loyal customers". No entanto, ontem, Alan Klement fez-me voltar ao tema sob uma outra perspectiva, até porque sendo alguém que vem da área da Qualidade e que muito estudou Deming e as causas aleatórias e especiais:
"Customer motivation, on the other hand, is not a natural system. Nature puts no limits on how customer motivation can be measured, interpreted, or affected. Nothing limits the amount of variables we can test for or defines how those variables interact. Such a system contains vastly more useless data about your customers than useful data. This means that as you gather more and different types of data about your customers, the more likely you are to misunderstand them.[Moi ici: Big Data anyone?]

We want to change the system, not just study it as it is. Here is another reason that the “more data are better” approach does not suit innovation: innovation is about changing the system, not just studying it as it is. … The innovator wants to change the system of today to produce something different tomorrow.

Life is variation. [Moi ici: Recordar a génese da Redsigma (2006, 2013] Every investigation you do will discover variation. Understanding the basics of variation—as it relates to systems and innovation—will help you better understand the data you gather and help you know how you should react to them.
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Variations due to common causes versus special causes.

The system of progress has variation. You will find variation within every part of the system of progress. There will be variation among customers, their struggles, how customers find and choose a product, how they use it, and how they imagine their lives being better.

How does this concept help innovation? Poorly designed products happen when innovators respond to common variation as if it were special variation, and vice versa. In these cases, innovators keep piling on more and more features and changes to the product, making it bloated and fragile. This makes both the product and the business vulnerable to creative destruction.[Moi ici: Bem visto. Nunca me tinha passado pela cabeça fazer esta associação entre variabilidade aleatória e especial e as diferenças entre clientes]"
Existem diferentes variedades de clientes, diferentes segmentos. Cada variedade exibe variabilidade.

Trechos retirados de "When Coffee and Kale Compete"

segunda-feira, maio 04, 2015

Desta vez, sem esquizofrennia

Ao longo dos anos, as opiniões dos governos acerca da evolução da criminalidade em Portugal, têm-me merecido comentários:
Ontem, por causa deste artigo "Governo destaca a criminalidade mais baixa de sempre", resolvi fazer o teste.
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Primeiro, há variação na carta da variabilidade?
Não, estatisticamente está tudo na mesma.
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Depois, há variação na carta do valor individual?
UAU!!!
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Finalmente!
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Estatisticamente, é muito pouco provável que o valor de 2014 pertença à mesma distribuição que os valores anteriores.
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É muito provável que tenha acontecido algo do género:
A distribuição evoluiu para um ponto em torno de uma nova média.
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Agora sim, agora podem celebrar o valor porque é realmente menor e sintoma de uma melhoria que não de mera flutuação estatística.
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O que varia de 2013 para 2014?
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Eis a variação na frequência dos vários tipos de crime, entre o relatório da segurança interna de 2013 e o de 2014.


sexta-feira, fevereiro 21, 2014

Gráficos e sua análise (parte II)

Parte I
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Como desconfiávamos, fazendo testes estatísticos básicos, verifica-se que:
  • o tempo de espera para cirurgia não tem variações estatisticamente significativas, logo não desceu;

  • a mortalidade infantil não tem variações estatisticamente significativas, logo não subiu;



terça-feira, março 26, 2013

A esquizofrenia continua

Leio:
"O secretário-geral do Sistema de Segurança Interna, Antero Luís, apresentou esta segunda-feira, em Lisboa, um resumo do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), depois de uma reunião com Passos Coelho, os ministros da Justiça e Administração Interna e os responsáveis pelas forças de segurança. Manifestou-se globalmente satisfeito com a baixa de 2,3% nos números gerais da criminalidade, que classificou de "excelentes resultados" e, por isso, felicitou as polícias."
E recordo "Esquizofrenia analítica... por causa de 0,6%"

Trecho inicial retirado de "Crime vira-se para o interior do país"

sexta-feira, março 26, 2010

Esquizofrenia analítica... por causa de 0,6%

Ontem de manhã, nas rádios, fui bombardeado nos vários noticiários com as palavras do ministro da Administração Interna sobre os números da "Criminalidade violenta e grave" incluídos no Relatório Anual de Segurança Interna -2009".
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O que foi dito e, sobretudo, a entoação com que foi dito, por causa de uma redução de 0,6% no número total de crimes, violentos e graves, fez-me desconfiar da esquizofrenia analítica.
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Ao final do dia consegui recolher os dados do período 2003 a 2009 o que me permitiu fazer uma análise do comportamento estatístico.
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Para a carta do valor individual e da amplitude móvel obtive os seguintes resultados:
Conclusão?
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Treta...
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Nos últimos 7 anos não houve alterações no nível da criminalidade violenta e grave.
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Ou seja, mais um caso de esquizofrenia analítica.