"“Aquilo que desejamos é que os salários em Portugal possam crescer acima daquilo que é a soma da inflação e da produtividade,[1] para podermos caminhar para uma mais justa repartição dos salários no PIB. Isso tem várias componentes. Temos de conseguir fazer subir os salários médios e os salários medianos de forma a que também valoriza os trabalhadores mais qualificados e mais jovens”, indica.Na segunda-feira passada publiquei este postal "Pode não ser uma questão de cultura" - muitas vezes a mudança não acontece por falta da cultura certa, um outro factor pode ser o constrangimento que limita.
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O ministro disse ainda que os recursos humanos qualificados são hoje “um dos fatores mais críticos para o crescimento da produtividade e competitividade” em Portugal. [2] “É importante conseguirmos atrair e criar condições para termos um trabalho mais qualificado em Portugal”."
Hoje vi este tweet:
E pensei, depende, pode fazer sentido ou não.Como é que se explica a alguém de uma forma delicada que não se põem bonecos numa apresentação pwp muito menos no Ensino Superior?— Sara Neves (@sara__neves) November 26, 2019
O que quero sublinhar é que não devemos ser tão taxativos.
O ministro da Economia diz "recursos humanos qualificados são hoje “um dos fatores mais críticos para o crescimento da produtividade e competitividade” em Portugal". Portanto, segundo o ministro a limitação ao crescimento da produtividade e competitividade é a qualificação dos recursos humanos. Por isso, é que a emigração continua a crescer e 40% desses novos emigrantes têm formação superior?
Recuo a 2017:
"A "fuga de cérebros" representa 40% das saídas anuais de portugueses, estimou esta quarta-feira o professor do Instituto de Geografia e de Ordenamento do Território, Jorge Malheiros, durante a apresentação do relatório ‘Perspectivas da Migração - 2017’, da OCDE.Recuo a 16 de Novembro de 2019:
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Em 2016, saíram do nosso país 97 151 pessoas, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística, pelo que os profissionais com maior grau académico foram cerca 38 mil.
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Nos próximos anos e com o crescimento económico verificado em Portugal, Jorge Malheiros estima que a emigração portuguesa sofrerá uma quebra, a exemplo dos dois últimos anos. Mas, entre os emigrantes com maior grau académico "esta tendência não se irá verificar"."
"Estatísticas demográficas do INE confirmam que há menos emigrantes, mas que a proporção de diplomados entre estes aumentou.É sempre a velha treta do "If you build it, he will come". Nope!
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Depois do pico dos anos da crise económica, o número de emigrantes continua a descer, mas a proporção de diplomados entre os que optam por sair do país para viver fora por um período de tempo de um ano ou mais (emigração permanente) passou de 28,7% em 2017 para 40% em 2018"
O constrangimento não é a qualificação dos recursos humanos. E recuo à caridadezinha de 2008:
"if companies are not hiring, job training is irrelevant.Por que é tão difícil meter isto na cabeça?
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if you really want to reduce unemployment and poverty, it is obvious from recent history that job training has nothing to do with it."
"The problem is that poverty and unemployment are not much influenced by the qualities and qualifications of the workforce. They depend, rather, on the state of demand for labor. They depend on whether firms want to hire all the workers who may be available and at the pay rates that firms are willing, or required, to offer, especially to the lowest paid."Quando temos um contexto que não atrai naturalmente, organicamente, investimento directo estrangeiro, as empresas que vêm com alguma dimensão, passam sempre por uma portagem onde negoceiam benesses com o governo de turno, porque se ficassem sujeitas ao contexto normal não vinham para cá, é natural que haja pouca saída para os licenciados. Como o número de licenciados continua a crescer e as ocupações para licenciados não acompanham esse crescimento, é natural este resultado "Prémio salarial dos jovens licenciados cai 60% numa década. São menos 183 euros por mês".
"Questionado sobre o impacto que o aumento dos salários pode ter em setores, como o têxtil e do calçado, que já vieram alertar para o risco de falência de algumas empresas, o ministro garante que o Governo irá apoiar “toda a economia, no sentido do crescimento da produtividade”."Se o minitro estivesse ciente do que propõe e das suas consequências, se o ministro praticasse constância estratégica diria com mais diplomacia do que eu:
- Temos pena! A produtividade da economia não sobe porque a empresa A agora é mais produtiva. A produtividade da economia sobe a sério quando as empresas A, B, C, ... fecham, falidas ou não. Recordar o exemplo de Jorge Marrão.
Qual é o problema político do ministro da Economia (é o da galinha no pequeno almoço), é que as empresas que vão fechar não serão substituídas por outras a uma velocidade suficiente para evitar o crescimento do desemprego. Aí, quando começarem os relatos do desemprego, (esse será o pesadelo das pessoas concretas que irão para o desemprego por causa das teorias de gente que vive em Lesboa e não sofre na pele as consequências do que prega) as pernas vão tremer e vão começar as ajudas, os apoios e os subsídios, não para os mais capazes, mas para os que estão mais próximos da fumarola do Estado. Depois, ficamos com uma economia louca, doente. Como no caso do tomate ou do eucalipto:
- Os saxões que aguentem (Setembro de 2019) - Produtores de tomate pedem apoios excepcionais ao Governo e União Europeia
- Tomate para a indústria com produtividades muito elevadas - (Novembro de 2019)
- Eucaliptos têm cinco vezes mais apoio do que floresta nativa - (Julho de 2018)
- Navigator vota distribuição de quase 100 milhões aos acionistas - (Novembro de 2019)
Trecho retirado de "“Não podemos continuar a basear a competitividade da economia em baixos salários”, diz ministro da Economia"