quinta-feira, novembro 21, 2019

"exploiting our gullibility and sucker-proneness for recipes that hit you in a flash as just obvious"

Deming tinha 14 principios sobre os quais assentava a sua abordagem ao mundo da qualidade/gestão.

O primeiro princípio era:
Create constancy of purpose for improving products and services.
Constância de propósito significa tomar uma decisão, assumi-la e não vacilar, ir até ao fim com a sua execução. Não tremer, nem recuar, quando as consequências das decisões começarem a mostrar o seu lado negativo. Afinal, qualquer mudança estrutural faz com que as coisas fiquem pior antes de ficarem melhor. E nessa altura, o clamor, o sofrimento, faz com que os decisores comecem a tremer das pernas.

Há cerca de um ano que leio artigos onde se defende que os salários devem aumentar para obrigar as empresas a subir a produtividade, em vez do clássico aumentar a produtividade para depois subir os salários:
Ontem descobri mais um texto a suportar a ideia de que os salários devem aumentar e a produtividade crescerá, "Porque se ganha tão pouco em Portugal":
"Estamos a assistir à queda de mais um “catecismo” doutrinal: aumentos de salários só mediante aumentos de produtividade.
...
E uma das maiores causas da nossa baixa produtividade assenta como não há muito tempo li num estudo oficial do Conselho para a Produtividade, coordenado pelos Ministérios das Finanças e da Economia que em Portugal: “a falta de qualificações dos empresários afecta a eficiência da empresa, assim como os critérios de escolha dos gestores, muitas vezes feita com base nas relações familiares e de amizade e não pelo percurso profissional”.
.
Dito de outra forma, esta conclusão do estudo significa que a baixa produtividade do País se deve à falta de competência dos empresários que, desta maneira, limita a eficiência das pessoas que com eles trabalham. Sendo mais claro e sem rodeios, a baixa produtividade empresarial entronca na reduzida capacidade de gestão e organização das empresas por parte dos empresários e gestores."
O que é que esta alma pensa, que as empresas pressionadas pelos aumentos salariais vão aumentar a sua produtividade?

Acredito mais em Nassim Taleb:
"Recall that the interventionista focuses on positive action - doing. Just like positive definitions, we saw that acts of commission are respected and glorified by our primitive minds and lead to, say, naive government interventions that end in disaster, followed by generalized complaints about naive government interventions, as these, it is now accepted, end in disaster, followed by more naive government interventions. Acts of omission, not doing something, are not considered acts and do not appear to be part of one’s mission. ... I have used all my life a wonderfully simple heuristic: charlatans are recognizable in that they will give you positive advice, and only positive advice, exploiting our gullibility and sucker-proneness for recipes that hit you in a flash as just obvious, then evaporate later as you forget them.
...
So the central tenet of the epistemology I advocate is as follows: we know a lot more what is wrong than what is right, or, phrased according to the fragile/robust classification, negative knowledge (what is wrong, what does not work) is more robust to error than positive knowledge (what is right, what works). So knowledge grows by subtraction much more than by addition—given that what we know today might turn out to be wrong but what we know to be wrong cannot turn out to be right, at least not easily."
Este sublinhado final do texto de Taleb tem tudo a ver com o exemplo no final de "Salário mínimo, produtividade, motivação/malandragem e desemprego (parte II)". Recordar "Vamos imaginar que há 3 empresas num sector e que cada uma tem um terço de quota de mercado:..."

Voltando à introdução deste postal: o aumento dos salários acima da produtividade vai provocar o encerramento de empresas e desemprego. Não se aumenta a produtividade, através do numerador, com um estalar dos dedos. Assim, a morte das empresas vai fazer com que a produtividade agregada aumente, até aumente muito, como no exemplo referido atrás, mas à custa de desemprego, sobretudo de pessoas mais velhas. Veremos se as pernas acabarão por tremer.

Remato com um regresso a 2007 e à lição finlandesa:
"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants."
Atenção, as fábricas mais produtivas só substituem as menos produtivas nas estatísticas. As mais produtivas não substituem as menos produtivas na produção, produzem outras coisas.

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