quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Enquanto uns entram em estado de erecção psicológica...

... só de pensar nos grandes investimentos públicos, outros já escrevem sobre o bail-out de países na Europa (países, já não é sobre bancos), entre os quais Portugal:
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"The European Union’s executive arm forecasts a deficit of 11 percent in Ireland, 6.2 percent in Spain and 4.6 percent in Portugal this year. The euro region’s average budget gap was just 0.6 percent in 2007.
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European officials have already expressed concern that their bond market could potentially face a crisis similar to that unleashed by the collapse of Lehman Brothers Holdings Inc. in September. .
ECB board member Lorenzo Bini Smaghi said Feb. 12 there’s a “risk that the mistrust that there is today in financial markets” is “transformed into mistrust in states.”
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The gap between the interest rates Greece, Austria and Spain must pay investors to borrow for 10 years and the rate charged Germany yesterday rose to the widest since before they adopted the euro. Credit-default swaps on Ireland rose to a record on Feb. 16, climbing to 378.4 points.
Greek credit-default swaps, 270 points on Feb. 16, show a 4.5 percent chance that the country will default in the next 12 months, according to ING Bank NV.
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Eddington Capital’s Allen, who runs a fund of hedge funds, says the market currently “vastly underestimates” the risks and expects credit-default swaps for Greece, Italy, Spain and Portugal to double in the next 12 months."
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Trechos de "Germany, France May Face Bailout of Nations, Not Just Banks"
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Ver também: "Germany may rescue debt-laden EU members"

Confiança

Ouro acima dos 980 dolares a onça.
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Euro perdeu 10% face ao dolar nos últimos dias.

A doença nacional

O primeiro dos 14 princípios de Deming assenta na constância de propósito, numa orientação que não muda a cada golpe de vento, na selecção de um conjunto de prioridades que não são trocadas a cada nova maré.
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Pois bem depois do monumento à treta de que falamos aqui Programas versus Objectivos e metas e sobretudo aqui, qual não é o meu espanto quando no Público de hoje encontro outra encarnação, com diferentes actores...
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"Segundo um estudo coordenado pelo economista Ernâni Lopes, a pedido da Associação Comercial, a economia do mar pode duplicar o seu peso no PIB caso Portugal consiga tornar-se num actor marítimo relevante a nível global. Para o conseguir, o ex-ministro das Finanças sugere várias prioridades que poderão ser um catalisador "capaz de organizar e dinamizar um conjunto de sectores com elevado potencial de crescimento, inovação e capacidade para atraírem recursos e investimentos, nomeadamente externos, de qualidade".
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O estudo, realizado durante um ano, foi patrocinado por 15 empresas. "Não é um estudo estratégico, é um plano concreto para concretizar nos próximos 25 anos", adiantou Bruno Bobone, da Associação Comercial. Neste documento, que será amplamente divulgado nas próximas semanas, apontam-se, além de acções específicas em diversos sectores, as fontes de financiamento possíveis. No entanto, não são avançados números concretos, dependentes de avaliações mais aprofundadas sector a sector, adiantou Bobone."
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Mas o trabalho da equipa coordenada por Tiago Pitta e Cunha valeu a pena? Deu origem a alguma coisa de concreto? O que é que este novo trabalho acrescenta? O que o habilitará a ter um destino diferente(s) do anterior(es)?
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Hoje em dia, com o Google e a wikipedia, qualquer conjunto de alunos pode arregimentar grupos de acções específicas sobre qualquer área e transformá-las em documentos estratégicos, sem qualquer compromisso com os resultados... enfim, depois da violência da doméstica e da Sida (aqui e aqui) mais um monumento à treta.

Trecho retirado do artigo "Mar poderá vir a alimentar cinco por cento do PIB nacional" no Público de hoje.

Alguns subsídios para a reflexão sobre o futuro da Gestão das Pessoas

"HR is summoned to redundancy negotiations but may then be ignored. And now questions are being asked about what HR did or did not do to help avert this crisis in the first place."
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"HR must raise its game " de Stefan Stern no Financial Times.

A tentação é grande mas...

... é nestas decisões que se alicerça uma estratégia. Pensar no que fica para lá da espuma e turbulência do dia-a-dia, apostar no médio-longo prazo para criar uma imagem, para alavancar um posicionamento, um reconhecimento.
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"Diverting money from communicating with customers to retailer support is the beginning of a vicious cycle for manufacturer brands. As manufacturer brands spend less building their brands with end customers, they lose brand equity with the ultimate arbiter in the marketplace. This increases the relative power of retailers and their negotiating power. As a result, manufacturer brands are subject to even greater concessions by retailers. In order to fund these concessions to retailers, manufacturer brands divert more money from consumer communications to retailers." (1).
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Tema mais importante que nunca, o investimento nas percepções e no seu suporte em algo mais, basta olhar para o Diário Económico de hoje "vendas de marcas brancas crescerem mais de 40% no último ano."



(1) Trecho retirado de "Private Label Strategy - How to Meet the Store Brand Challenge" de Nirmalya Kumar e Jan-Benedict E. M. Steenkamp.

terça-feira, fevereiro 17, 2009

"Ou seja, concorrem nas percepções e não na substância."

A propósito de mais um postal de Pedro Arroja no Portugal Contemporâneo "os advogados" apanhei num comentário a seguinte pérola :
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(Os fabricantes) "Ou seja, concorrem nas percepções e não na substância."
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Mas num mundo com excesso de oferta face à procura, num mundo em que a qualquer hora a oferta pode aumentar, num mundo em que os compradores (clientes) podem mudar de opção de compra, só há duas formas de competir:
  • apostar na substância e combater no impiedoso mundo da guerra do preço, onde normalmente quem ganha são os maiores que ficam maiores;
  • apostar na percepção e combater no universo da diversidade e da diferenciação;
Quando uma empresa de calçado portuguesa tem os seus sapatos, com a sua marca, em exposição para venda a cerca de 2000€ o par, nas montras de lojas da Ghinza em Tóquio de que é que falamos?
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Pessoalmente, acredito que o nosso problema com a baixa produtividade reside, em grande parte, na incapacidade de abraçar a competição pelas percepções, pelo valor.
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Preço é aquilo que o cliente paga, valor é aquilo que ele atribui ao que recebe.
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A mentalidade concentrada naquilo que é mais fácil - produzir, a fábrica - convida a pensar nos custos e na sua redução e, impede a concentração na criação de valor.

The tipping point (parte II)

Depois do que escrevemos ontem... nem de propósito "Staring into the Abyss"
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ADENDA das 14h10: Santander's Banif Fund Suspends Payments

Acordar as moscas que estão a dormir (parte VI)

"Negócios de pequena dimensão, vão revelando flexibilidade e capacidade de adaptação. O problema está em saber o que restará depois de se esgotarem os efeitos da crise internacional e a economia portuguesa acordar mais endividada, com um Estado mais pesado e ávido por receitas, devido aos remédios que estão a ser aplicados."(1)
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Quando acabar a crise internacional vamos ficar com um monstro (cuco) ainda maior e mais sequioso... pobres saxões!
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(1) Trecho retirado de "Ovo, salsichas e batatas fritas" assinado por João Cândido da Silva.
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Uma simulação aqui "Requiem por um empresário" assinada por Tiago Caiado Guerreiro.
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Continuado daqui.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

The tipping point

Há um livrinho de Malcolm Gladwell sobre o qual já aqui escrevi que se chama "The Tipping Point".
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'tipping pint' ou ponto de viragem.
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Para alguém como eu, com formação de base na área da química, e que tive a sorte de ter uma disciplina como Quimicotecnia numa escola como o Liceu António Nobre no Porto, onde tinha a possibilidade de realizar muito trabalho laboratorial, ponto de viragem faz logo lembrar uma titulação e a respectiva curva:
Se temos uma solução ácida, com um pH muito baixo, e adicionamos gota a gota uma solução básica (alcalina), o pH vai começar a subir, primeiro de forma lenta, quase imperceptível e depois, de repente, no ponto de viragem, dá um salto quase vertical, com uma primeira derivada com um declive a tender para infinito.
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Pois bem, receio que estejamos a caminho de um ponto de viragem... será uma apreciação objectiva? Ou uma projecção da minha vontade irracional?
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Há duas semanas em Cádiz (Espanha) terão sido lançadas pedras a um banco, ainda em Espanha foi preso um construtor que em três meses assaltou cinco bancos. Tinha uma vida estável, deixaram de pagar-lhe e ele começou a roubar para... pagar as dívidas.
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O Reino Unido está à beira da bancarrota: "Obduracy, incompetence and the week I became convinced Britain faces national bankruptcy"
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Muitos falam em copiar a receita sueca e em nacionalizar os bancos... só que a seguir os suecos desvalorizaram fortemente a moeda e iniciaram uma recuperação baseada nas exportações. Mas agora, quem é que vai exportar e para onde? Os americanos, os japoneses, os chineses, os europeus, ... estão todos a contar com o ovo no sim senhor do vizinho.
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Discursos de gabinete e alcatifas

No passado dia 11 de Fevereiro o governador do banco de Espanha fez este discurso "La economía española después de la crisis".
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A certa altura o governador diz:
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"En esta situación, la única fórmula posible para recuperar la competitividad perdida frente al exterior después del último ciclo expansivo es aumentar nuestra productividad. Y el aumento de la productividad, además de requerir prestar la máxima atención a la educación y la formación, pasa inevitablemente por llevar a cabo reformas estructurales en numerosos campos. Hoy, por razones de tiempo, dedicaré exclusivamente mi intervención a la reforma de las instituciones laborales,"
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Bastou-me ler este trecho para começar a imaginar o que é que vem a seguir... o mesmo tipo de propostas que costumo ouvir de políticos e empresários portugueses. A grange responsável pela nossa baixa produtividade é... a legislação laboral.
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Portugal e Espanha não precisam de aumentos incrementais da produtividade conseguidos à custa de migalhas obtidas via denominador da equação da produtividade, reduzindo custos.
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Portugal e Espanha precisam de saltos de aumento da produtividade. Ora isso só se consegue actuando sobre o numerador da equação da produtividade, criando mais valor acrescentado.
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Para que isso aconteça há que deixar de produzir produtos velhos, batidos e commoditizados e apostar em produtos com muito mais valor acrescentado.
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Como escrevi num blogue inglês sobre a economia espanhola:
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Quantum jumps of productivity are not the result of shrinking companies or reducing salaries, they are the natural outcome of improving the value of what is produced.
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Mr Miguel Fernández Ordóñez has not yet learned something that took me 8 years to learn, when a country joins the eurozone there is only one healthy way of leaving in it: become economically similar to Germany. Work, think and invest as Germans, that is the only way of improving productivity and the level of living when your currency is strong.
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Mr. Miguel Fernández Ordóñez says "Esta relación entre formación y salarios se explica porque los trabajadores más formados son más eficientes y, por tanto, obtienen unos salarios más elevados y porque los empresarios siempre prefieren despedir a los trabajadores menos productivos." These are the words of a beaurocrat, these are the words of someone that does'nt know the reality of a plant...
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Portuguese and Spanish workers with very little academic instruction are very productive when they work in a German plant, because what matters is what people produce, the value that they create, plant work is repetitive.
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I would like to send to Mr Miguel Fernández Ordóñez this message:."It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled." But look how this is deep:"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants." Please turn back and read it again.
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I invite Mr Mguel Fernández Ordóñez to read the article from September-October 1992 from Harvard Business Review "Managing Price, Gaining Profit" from Robert Rosiello et al. To see how different is to increase value instead of reducing fix cost.
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E estamos, Portugal e Espanha, condenados a isto, a estes discursos de gabinete, de corredores, de alcatifas, longe da realidade, longe de um minimo de aderência à realidade.

Qual é a estratégia?

""Salientando que, por exemplo, na Alemanha, os efeitos da crise estão a ser ainda «mais gravosos» que em Portugal, o presidente da AEP defende que a única saída é «trabalhar».
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«A crise é mais profunda do que pensávamos. Perante isto, só posso dizer uma coisa: temos que trabalhar», afirmou Barros. ""
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Trecho retirado de "Associação Empresarial: única saída da crise «é trabalhar»"
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A única saída é trabalhar!
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Verdade mas incompleto. Perigosamente incompleto. Basta recordar Hayek:
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" Never will a man penetrate deeper into error than when he is continuing on a road that has led him to great success."
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Não basta trabalhar, há que reflectir sobre as mudanças em curso e reformular as apostas estratégicas, sob pena de se gastarem recursos, sob pena de se continuar a trabalhar em apostas que deixaram de funcionar.
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Primeiro: Back to the basics.
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Antes de trabalhar, reflectir:
  • Para quem podemos vender?
  • Quem pode ser o nosso cliente-alvo?
  • Podemos vender com vantagem sobre eventuais concorrentes?
  • Em que é que temos de ser bons?
  • Em que factores devemos abusar?
Os clientes para quem vendíamos vão continuar a comprar? E no mesmo volume? Qual a migração em curso?
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Como fazer face a esta evolução? Como responder à mudança? Qual a estratégia?

domingo, fevereiro 15, 2009

Outra vez aquele sentimento...

... da calma enganadora que precede a tempestade.
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"IMF chief Dominique Strauss-Kahn warns second wave of countries will require bail-out"
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"Some have speculated that the UK may have to seek IMF support if capital markets become frightened of the size of its foreign financial liabilities, which increasingly appear to have become supported by the state. But there are a swathe of Eastern European countries which appear particularly vulnerable and may need IMF support.
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With the Fund's warchest expected to run dry later this year, the Japanese confirmed in Rome that they would supply an extra $200bn of capital to the Washington-based institution.
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Mr Strauss-Kahn, who warned recently that his resources could run dry within six months, said: "This is the largest loan ever made in the history of humanity."
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"Failure to save East Europe will lead to worldwide meltdown"
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"Not even Russia can easily cover the $500bn dollar debts of its oligarchs while oil remains near $33 a barrel. The budget is based on Urals crude at $95. Russia has bled 36pc of its foreign reserves since August defending the rouble.
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In Poland, 60pc of mortgages are in Swiss francs. The zloty has just halved against the franc. Hungary, the Balkans, the Baltics, and Ukraine are all suffering variants of this story. As an act of collective folly – by lenders and borrowers – it matches America's sub-prime debacle. There is a crucial difference, however. European banks are on the hook for both. US banks are not.
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Almost all East bloc debts are owed to West Europe, especially Austrian, Swedish, Greek, Italian, and Belgian banks. En plus, Europeans account for an astonishing 74pc of the entire $4.9 trillion portfolio of loans to emerging markets.
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They are five times more exposed to this latest bust than American or Japanese banks, and they are 50pc more leveraged (IMF data).
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Spain is up to its neck in Latin America, which has belatedly joined the slump (Mexico's car output fell 51pc in January, and Brazil lost 650,000 jobs in one month). Britain and Switzerland are up to their necks in Asia.
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Whether it takes months, or just weeks, the world is going to discover that Europe's financial system is sunk, and that there is no EU Federal Reserve yet ready to act as a lender of last resort or to flood the markets with emergency stimulus."
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""There are accidents waiting to happen across the region, but the EU institutions don't have any framework for dealing with this. The day they decide not to save one of these one countries will be the trigger for a massive crisis with contagion spreading into the EU."
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Europe is already in deeper trouble than the ECB or EU leaders ever expected. Germany contracted at an annual rate of 8.4pc in the fourth quarter.
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If Deutsche Bank is correct, the economy will have shrunk by nearly 9pc before the end of this year. This is the sort of level that stokes popular revolt.
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The implications are obvious. Berlin is not going to rescue Ireland, Spain, Greece and Portugal as the collapse of their credit bubbles leads to rising defaults, or rescue Italy by accepting plans for EU "union bonds" should the debt markets take fright at the rocketing trajectory of Italy's public debt (hitting 112pc of GDP next year, just revised up from 101pc – big change), or rescue Austria from its Habsburg adventurism.
So we watch and wait as the lethal brush fires move closer.
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If one spark jumps across the eurozone line, we will have global systemic crisis within days. Are the firemen ready?"

Diversidade um seguro comunitário para fazer face ao futuro

Várias vezes recordo neste espaço um trecho de poesia, saído do número de Setembro de 2003 da revista Harvard Business Review e da autoria Gary Hamel e Liisa Valikangas no artigo "The quest for resilience":
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"Life is the most resilient thing on the planet. I has survived meteor showers, seismic upheavals, and radical climate shifts. And yet it does not plan, it does not forecast, and, except when manifested in human beings, it possesses no foresight. So what is the essential thing that life teaches us about resilience?
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Just this: Variety matters. Genetic variety, within and across species, is nature's insurance policy against the unexpected. A high degree of biological diversity ensures that no matter what particular future unfolds, there will be at least some organisms that are well-suited to the new circumstances."
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Como é impossível prever o futuro, o melhor seguro para uma comunidade é apostar na diversidade. Quando o futuro chega e premeia uns e cobra a outros, a diversidade permite a sobrevivência estatística da comunidade e a transmissão e evolução de ADN para novas experiências.
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Os crentes no Grande Planeador acreditam que entidades únicas, os governos ou as oposições, têm o dom de adivinhar o futuro e determinar que apostas vão ter sucesso no futuro... pois, fiem-se na Virgem e não corram!
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Foi deste tema que me recordei quando descobri este artigo "A Villacanas, haut lieu castillan de la filière bois, le "miracle des portes" est fini" no Le monde na internet.
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"Bienvenue à Villacanas, 11 000 habitants, capitale de la menuiserie industrielle. Hier encore, ce gros bourg prospérait grâce à la spécialité locale : la porte en bois. Ses dix usines produisaient plus de 70 % des huisseries traditionnelles de toute l'Espagne.
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Depuis l'éclatement de la bulle immobilière, la ville paie son hyper-spécialisation : deux entreprises ont fermé en 2008, deux autres sont en cessation de paiement, toutes tournent au ralenti après avoir dégraissé. En 2006, sept millions de portes sortaient annuellement des ateliers de Villacañas. Dans le pays, on mettait alors en chantier quelque 800 000 logements, plus qu'en Allemagne, au Royaume-Uni et en France réunis.
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Cette mono-industrie offrait alors 5 650 emplois aux habitants de la région. Aujourd'hui, à peine 3 000 personnes ont conservé leur poste. Et pour combien de temps ? L'Espagne devrait construire moins de 200 000 logements en 2009. Dans son bureau, le maire socialiste de Villacañas tient les comptes du chômage. "En janvier, il y a eu 80 demandeurs d'emploi de plus, ce qui met notre taux de chômage à 14 %, pile dans la moyenne nationale, commente Santiago Garcia Aranda. Mais depuis une semaine, il y a 250 chômeurs de plus et, fin février, on atteindra 17 % ou 18 %."
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Regiões que apostam tudo no têxtil, tudo no calçado, tudo no turismo, tudo no... tornam-se mais rentáveis enquanto a economia desse sector cresce, todavia, tornam-se muito mais vulneráveis durante as situações de revés, pois a mono-cultura coloca todos no mesmo saco não há distribuição de risco (engraçado estou a escrever isto sobre regiões e estou a dectectar um fractal, vou procurá-lo ... O paradoxo da estratégia (parte I: Compromissos) e Não há almoços grátis: Há que optar ... estratégias puras versus híbridas e a sua relação com o retorno e com a taxa de sobrevivência).
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Aviso para os crentes no Grande Planeador: a humildade é muito importante.

sábado, fevereiro 14, 2009

No ordinary recession

No Público de hoje, entrevista de Augusto Mateus, ""Estados devem ter a coragem de aumentar o défice público"" assinado por Lurdes Ferreira e Graça Franco.
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Diz Augusto Mateus:
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"Podemos ajudar a que a crise seja menos intensa se nos focalizarmos não tanto em consumir menos e poupar mais, mas em consumir melhor e poupar melhor. Os consumidores individualmente não têm muito a ganhar em reduzir o seu consumo, desde que tenham a expectativa de que vão manter a sua actividade."
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Só que consumidores e empresas não estão a poupar. Quem pode, está a limpar o seu balanço, está a pagar dívidas.
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A economia estava a consumir com base no crédito e não com base na poupança. Vivemos agora o 'pay-back' time.
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No artigo "No ordinary recession" assinado por Axel Leijonhufvud pode ler-se:
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"What is the difference? It resides in the state of balance sheets. The financial crisis has put much of the banking system on the edge – or beyond -- of insolvency. Large segments of the business sector are saddled with much short-term debt that is difficult or impossible to roll over in the current market. After years of near zero saving, American households are heavily indebted."
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"So the private sector as a whole is bent on reducing debt. Businesses will use depreciation charges and sell off inventories to do so. Households are trying once more to save. Less investment and more saving spell declining incomes. The cash flows supporting the servicing of debts are dwindling. This is a destabilising process but one that works relatively slowly. The efforts by financial firms to deleverage are the more dangerous because they can trigger a rapid avalanche of defaults"

A Grande Importância das Pequenas Coisas

O Aranha chamou-me a atenção para este texto "A Grande Importância das Pequenas Coisas" de Carlos Marques da Silva.
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Trata-se de poesia pura e cheia de significado profundo.
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Ontem à tarde no decurso de uma reunião, por causa de um comentário do Raul acerca das pequenas coisas, lembrei-me logo deste texto:
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"Tomados isoladamente, esses pormenores poderiam afigurar-se insignificantes, negligenciáveis, prescindíveis… Um fóssil aqui, um tipo particular de rocha ornamental ali, uns azulejos mimetizando aspectos geológicos acolá… Mas, no conjunto do percurso, esses pequenos nadas fazem falta."
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"O que ressalta destes exemplos é a negligência com que são tratadas as pequenas coisas, os detalhes, os pormenores. Frequentemente, justifica-se a eliminação destes elementos com a circunstância de serem apenas coisas pequenas, sem grande significado, apenas uma entre muitas. Contudo um conjunto coerente, articulado, de pequenas coisas é muito mais que a simples soma dos seus modestos elementos." (a este último pormenor chama-se a propriedade da emergência de um sistema: o todo é mais do que a soma das partes, acrescento eu)
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E por fim este trecho profundo que despertou logo a minha atenção:
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"Perder diversidade é como arrancar páginas de um livro. Quantas páginas poderemos arrancar até deixar de compreender o enredo?"

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

O ministro Pinho precisa de ajuda

A propósito do ministro Pinho na SIC-N agora mesmo:
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O ministro Pinho ainda não percebeu que está em curso uma recalibração geral!!!!!!!!!!!
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O ministro ainda não percebeu que existe um excesso de capacidade instalada na indústria automóvel e que nada vai ficar como dantes!!!!!!!!!!
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Isto de financiar o status-quo, o de ajudar as empresas da fileira automóvel a suster temporariamente a respiração debaixo de água à espera da retoma... vai atrasar a reconversão necessária, vai torrar dinheiro e...

Acordar as moscas que estão a dormir (parte V)

Chamem-me bruxo, depois desta sequência: parte I, parte II, parte III e Parte IV
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Basta ouvir o que disse Daniel Bessa sobre a redução de salários (a partir do segundo 50)
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Não sou bruxo nenhum, basta olhar para os factos, pensar no futuro e não acreditar no Pai Natal.

Não está tudo mal

"Portugal entrou em recessão pela primeira vez em cinco anos, depois do PIB se ter contraído 2% no quarto trimestre, revelou o INE."
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Este mês já visitei várias empresas das fileiras tradicionais em Portugal que só sabem que existe crise por que ouvem falar dela nas notícias.
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Por que é que os media não falam dessas empresas que não precisam do estado, que não precisam de apoios? Será por não serem sexy?

Acordar as moscas que estão a dormir (parte IV)

Na sequência de Acordar as moscas que estão a dormir (parte II) e de Acordar as moscas que estão a dormir (parte III) agora temos:
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"Portugueses vão pagar mais 320 milhões em impostos em 2010"
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"O Governo prometeu à Comissão Europeia aumentar os impostos em 2010 e 2011.
A decomposição da receita fiscal, prevista no Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) aprovado no final de Janeiro no Parlamento e já entregue em Bruxelas, deixa claro que os impostos directos e indirectos vão aumentar nos próximos dois anos, avança o «Correio da Manhã». "
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"Carga fiscal sobe de novo em 2010"
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"320 milhões de euros será o impacto do aumento de 0,2 pontos percentuais na carga fiscal em 2010, se o PIB rondar os 160 mil milhões de euros.
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480 milhões de euros será o impacto da subida da carga fiscal em 0,1 pontos percentuais, em 2011, caso o PIB seja próximo dos 160 mil milhões de euros."
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Ah monstro insaciável, Ah cuco ganancioso, estás quase a matar o hospedeiro. E depois, como viverás?
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Será que este aumento fará parte das promessas bandeira durante a próxima campanha eleitoral?
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Depois, algumas comentadoras deste blogue ainda acreditam no Pai Natal ...

Amor e sedução

Eu falo de amor pelos produtos, clientes, negócio. Descobri que Jeanne Liedtka usa a palavra sedução: "Seduction and the Art of Seduction".
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“If you want to achieve strategic success, use strategy to treat employees like lovers instead of prostitutes.”
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“… leaders see the strategies that they invent as “real” and “true.” But because they see these strategies as “real” and “true” rather than as products of their own invention, they believe that if they merely (and, of course, one should not underestimate the difficulty of even this) communicate it clearly, others will also see it as real and true, and work to implement it. But this assumption cannot be supported.
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No strategy is ever “true” – all strategies are inventions. They are man-made designs. Business is not governed by natural laws – our strategies are not “discovered” truths, like e = mc2.
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Business leaders make them up because they want the future to be different than the past. This is good, and such inventions play a useful purpose – something else that we also know from change theory. But because leaders are so close to their own inventions, and because these inventions flow out of the way they see the world, leaders believe that their strategies are as compelling to others as they are to them. After all, leaders normally have analysis to “prove” that their inventions are true. But you can never “prove” that an invented design for a possible future is “true” – especially using a rationale that flows out of a single view of “reality.”

Successful strategies are compelling and persuasive in the eye of the beholder – put more vividly, they are seductive. The real power of any strategy is the opportunity it affords to entice people into sharing an image of the future. Notice that I said entice – not delude or manipulate.

Second, not just any conversation will do – we need a conversation that starts with a focus on the possibilities, rather than the risks, constraints, or uncertainties.
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We also know that chemistry matters. Look for the sparks, the passion. If your pulse does't quicken any point in the conversation, something is wrong.”
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É muito mais fácil criar, sentir e transmitir a paixão, a sedução necessária para energizar uma transformação estratégica, quando se conhece o 'milieu', quando se vê para lá da superfície das coisas e das relações.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Ouro

A 950 USD a onça...

Acordar as moscas que estão a dormir (parte III)

Continuado daqui: Acordar as moscas que estão a dormir (parte II)
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Ontem na SIC-N, no programa "Negócios da semana" parecia que Bagão Felix tinha lido este blogue. Qual foi o tema de abertura?
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A redução de salários...
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BTW qual o tema da crónica "Os erros repetem-se" assinada pelo presidente do forum para a competitividade?
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"O desequilíbrio da balança comercial evidencia bem a queda da nossa competitividade externa, independentemente da pressão adicional causada pela subida abrupta do preço do petróleo. E o nosso desequilíbrio externo evidencia que vivemos muito acima das nossas possibilidades.
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Actualmente o seu financiamento tornou-se mais caro e mais difícil e pode até vir a ser impossível. É por isso muito assustador ver como o Governo, sem reconhecer a crise interna e as dificuldades derivadas do desequilíbrio externo e das limitações ao seu financiamento, se prepara para injectar dinheiro em políticas dispersas no pressuposto de que a recuperação virá em 2010.
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E se não vier? E se os mercados não aceitarem dívida de Portugal, Espanha, Grécia, Itália e Irlanda?
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É um cenário que já é discutido, tanto nos gabinetes internacionais como na imprensa, mas cuja discussão é ignorada em Portugal, salvo honrosas e raras excepções que não chegam à opinião pública.
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À opinião pública só chegam notícias de desemprego que justificam por antecipação todos os apoios governamentais, para os quais já se constituíram as filas do costume.

Ter um nível de consumo equivalente ao de 1996 - menos um terço do que actualmente - seria, apesar de tudo, aceitável e resolveria quase todas as dúvidas dos nossos financiadores. Mas não há qualquer plano para demonstrar que teremos de chegar a um nível que se situará, irremediavelmente, entre esse e o actual.
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O ajustamento que teremos de fazer devia levar-nos a começar desde já a preparar um conjunto de medidas equivalentes às das cartas de intenções assinadas com o FMI.
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Não sei qual é a equipa que as terá de negociar, mas duvido que seja a actual."
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A ideia começa a fazer o seu percurso.
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Pode vir a tornar-se uma inevitabilidade, sobretudo para a função pública e para os pensionistas, imposta pela falta de dinheiro.
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No entanto, custa-me ver o presidente do forum para a competitividade a não encontrar outra alternativa para a iniciativa privada.
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Este combate de Ferraz da Costa pela redução de salários não é recente basta recordar Combates laterais, combates secundários .
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É sintomático que o presidente do forum para a competitividade nunca fale do numerador da equação da produtividade, nunca fale em tornar-mo-nos alemães.
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A que propósito é que ele se tornou presidente de tal forum? Qual o CV que o tornou adequado para a função? Que experiência de vida o dotou para lidar com tal desafio?

Back to the basics

Nestes tempos de recalibração é necessário voltar ao fundamental, ao bê-á-bá.
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"To identify your core business, first identify the five following assets:
1. Your most potentially profitable, franchise customers;
2. Your most differentiated and strategic capabilities;
3. Your most critical product offerings;
4. Your most important channels;
5. Any other critical strategic assets that contribute to the above (such as patents, brand name, position at a control point in a network).
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What is the business definition where you compete?
What is your core business and source of potential competitive advantage?"
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Chris Zook in "Profit from the Core"

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Lagoa parte II

Em Setembro de 2008 restavam umas pequenas poças de água.
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Hoje a situação era esta:






Acordar as moscas que estão a dormir (parte II)

A propósito de Acordar as moscas que estão a dormir.
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É nestas coisas que eu aprecio os checos, esta falta de diplomacia, este comportamento de elefante em loja de porcelana que estraga os arranjinhos dos governos da velha Europa:
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"Ainda se desconhece a dimensão e duração da actual crise, mas já começou o debate na UE sobre quando deverão os países corrigir os seus défices excessivos, actualmente em espiral ascendente para contrariar a recessão económica. A República Checa, ainda fora do euro mas no leme da UE durante este semestre, faz jus à sua tradição ortodoxa e está a ‘forçar a barra'."
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"Presidência da UE quer anular défices já em 2012" Estão a imaginar como é que em Portugal isto vai ser atingido? Estão já a imaginar a classificação de rico deslizar e ser aplicada a simplesmente quem tem um salário?
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Ah! Isso é com os ricos.
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Estamos todos à espera de quê? O cobrador vai bater à porta e de que maneira!

Acerca dos processos (parte I)

A ISO 900o define processo como:
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"conjunto de actividades interrelacionadas e interactuantes que transformam entradas em saídas"
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No entanto, quando começamos a 'olhar' para um processo, as actividades são a última coisa em que nos concentramos, são o menos importante.
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O que é um processo? É um método definido para atingir um dado resultado, e esse resultado é que é fundamental para a definição de um processo, muito mais do que o trabalho, as actividades que se desenvolvem no seu interior.
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As actividades são sempre instrumentais, o essencial é o resultado.
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Muitas organizações confundem processos com departamentos atribuindo-lhes designações como: "Recursos Humanos"; "Comercial" ou "Aprovisionamentos".
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Um processo é uma realidade horizontal, transversal. Um departamento é uma realidade vertical, mais precupada com a gestão dos recursos e especialidades do que com o fluxo do trabalho.
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Um processo deve ser designado por um verbo + um substantivo (um processo é acção, é transformação), por exemplo:
  • Formar colaboradores;
  • Comprar matérias-primas;
  • Planear produção;
O que é interessante com esta fórmula para a designação de um processo é que se trocarmos a ordem obtemos as saídas do processo:
  • Colaboradores formados;
  • Matérias-primas compradas;
  • Produção planeada;
Ao escolher o verbo, escolher um que indique uma actividade única que ocorre num ponto em particular do processo e que nos ajuda a visualizar um resultado. Evitar usar verbos do tipo 'Gerir'. Verbos que indicam uma actividade, ou múltiplas actividades, que ocorrem ao longo do tempo e que não ajudam a individualizar um resultado concreto, único e específico.

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Passar da estória individual para um padrão e do padrão para uma explicação, para uma teoria

IMHO este é um dos melhores postais de Pedro Arroja "às vezes, ao desbarato".
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O autor escreve: "Eu não me tinha dado ainda conta da enorme incapacidade dos portugueses para o pensamento abstracto, e da sua excessiva concentração nas formas concretas de pensamento."
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Estou quase a sair do escritório para trabalhar com uma empresa hoje de tarde, associo um dos desafios dessa empresa àquilo a que Geoffrey Moore chamou "Crossing the Chasm".
Um produto inovador tem sucesso junto de 'meia-dúzia' de Visionários (estes representam os Early adopters da figura) e depois... nada.
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Parece que há uma barreira ao crescimento, à difusão do produto inovador pelo mercado em geral. Daí o abismo o 'chasm' entre os Early adopters e a Early majority.
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Desde tenra idade que me habituei a ver na televisão o desaparecido Fernando Pessa, e outros locutores, a entrevistarem 'inventores' que se queixavam de que ninguém lhes ligava às suas invenções, ninguém financiava a sua expansão,... o choradinho do cortejo dos coitadinhos em que o nosso país se tornou expert.
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Agora voltando a Arroja; a nossa cultura concentrada em formas concretas de pensamento, habituada só a ver o que se vê acima da superfície das águas, dificilmente mergulha para estudar a dimensão do iceberg e retirar lições gerais sobre o assunto (por isso é que fomos e somos bons a desbravar caminho, a bater o terreno inexplorado: Estilos de gestão ).
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O que Geoffrey Moore fez foi pegar nessas estórias individuais, verificar que havia um padrão que se repetia, avançar com uma explicação e com uma hipótese sobre como enfrentar a situação.
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A coisa chega a este limite de caracterizar psicologicamente os Visionários dos Pragmatistas:
Nós... pela palmadinha nas costas e pela cedência do megafone para carpir mágoas.
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Vejam como eu sou um desgraçadinho incompreendido. Tenham pena de mim! Associem-se solidariamente à minha tristeza.

É só fazer as contas

"José Sócrates garante ser possível identificar os ricos"
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"É uma proposta razoável, exequível, a favor da equidade fiscal e da justiça fiscal", replicou José Sócrates, explicando que o que propõe é que o próximo Governo faça uma reforma do sistema fiscal "de modo a que os rendimentos mais elevados tenham menos deduções" e, "aproveitando essa folga", se possam reduzir os impostos à classe média. "
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Seguindo a velha máxima da política portuguesa "É só fazer as contas!" Façamos as contas:
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Pressuposto inicial
Estado quer aliviar a carga fiscal sobre a classe média sem perder receita fiscal.
Assim, reduz as deduções fiscais aos ricos e aumenta-as à classe média. Logo:

O acréscimo global de receita fiscal sacada aos ricos = Alívio do fardo fiscal impostado à classe média .
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Em quanto é que cada sujeito fiscal incluído na classe média vai ser aliviado?
Não tenho acesso aos números para poder fazer a conta mas cheira-me a malabarismo com as palavras. O número total de sujeitos fiscais classificados como ricos é muito, mas mesmo muito inferior ao número total de sujeitos fiscais classificados na classe média. Daí que o alívio individual deva ser irrisório.
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ADENDA: Nem de propósito
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"Quanto ao impacto que esta redução das deduções para os mais ricos pode vir a ter em termos de alívio fiscal para a classe média, Saldanha Sanches está convencido que será «muito reduzido».
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«Estamos a falar de pequenas quantias, quase simbólicas, semelhantes ao corte da taxa de IVA em 1%»."
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"Corte de deduções fiscais para os ricos quase sem impacto"
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ADENDA (07h09 de 11.02.09)
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"são apenas alguns exemplos entre os cerca de 31 mil agregados familiares a quem o primeiro-ministro quer retirar benefícios fiscais. José Sócrates ainda não definiu quem considera serem os "ricos", mas tendo em conta a taxa que o próprio definiu, o grupo dos que ganham mais de 62 546 euros e pagam 42 % de IRS, será o atingido. No entanto, estes 31 mil são apenas 1% do total dos agregados, o que fará com que o "bolo" das deduções dividido pela classe média dê "valores tão pequenos que se tornam ridículos","
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(Sócrates tira a 'ricos' mas não ajuda classe média)

Sintomas da confiança no futuro

"Bullion sales hit record in rush to safety"

Ah! Isso é com os ricos.

Ao ler este trecho:
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"Não há nenhuma razão para que aqueles que são mais ricos passem a deduzir o mesmo que a classe média portuguesa deduz. Têm despesas com a educação, despesas com a saúde, muito bem, mas as suas deduções não devem ser o mesmo que é para a classe média. É por isso que teremos de reduzir essas deduções com um objectivo: o dinheiro que aí se poupará de despesa fiscal servirá para aliviar aquilo que são as contribuições fiscais da classe média",
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Ao recordar o filme da evolução do apetite do monstro (é olhar bem para a explosão insaciável) ocorre-me perguntar:
  • qual a definição de rico?
  • a definição de rico é estática ou situacional, ou seja, pode mudar por decisão de quem alimenta o monstro?
Assim, a associação a Brecht é imediata:
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"Primeiro vieram buscar os Comunistas,
e eu não disse nada,porque eu não era Comunista.
Então vieram buscar os Judeus,
e eu não disse nada,
porque eu não era Judeu.
Então vieram buscar os Católicos,
e eu não disse nada,
porque eu era Protestante.
Então vieram buscar-me a mim,
e nessa altura,
já não havia ninguém para falar por mim."
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O copo meio-cheio

A revista Business Week recorda que há quem aproveite a migração de valor que está a ocorrer:
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"For Some Small Businesses, Recession Is Good News"

O alfaiate industrial parte II

A propósito dos 20 anos de casa daqui.
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Este trecho do livro "Os Novos Líderes" de Daniel Goleman, Richard Boyatzis e Annie McKee
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"Quando os líderes se envolvem na estratégia apenas a nível intelectual, torna-se quase impossível manter a energia e o entusiasmo, e o processo de aprendizagem fica prejudicado. Então, do que é que os líderes da empresa mais precisavam? Como disse aquele gestor, precisavam "de se envolver emocionalmente, com os seus sonhos e paixões - tanto entre eles como com a estratégia -, e de se ligarem às possibilidades do futuro, a fim de permitir que se fizesse alguma coisa para construir esse futuro."

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Preto no branco sem esconder nada.

O Norteamos alertou-me para esta explicação sobre a Qimonda:
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"Quimonda: Os marxistas «say it better»"
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Vale a pena ler.

As consequências do curto-prazismo batem à porta quando menos se espera e com juros

"estes “desenvolvimentos evidenciam a necessidade de os Estados-membros tomarem em linha de conta a sustentabilidade orçamental quanto analisam e implementam medidas de resgate” da banca e da economia real. "
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No Jornal de Negócios de hoje "Ministros europeus "preocupados" com dificuldades dos Governos em financiarem-se".
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Os ministros das Finanças da Zona Euro estão crescentemente preocupados com o facto de alguns Governos estarem a sentir dificuldades acrescidas em financiarem-se nos mercados internacionais."
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De que é que estavam à espera?

You can see where this is going.

Vai ser bonito ... depois do caseiro "Compro o que é nosso" temos a França, a Espanha, os Estados unidos, o Japão (Consommons français ! )
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Evans-Pritchard relata:
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"Spain's unemployment has jumped to 3.3m – or 14.4pc – and will hit 19pc next year, on Brussels data. The labour minister said yesterday that Spain's economy could not "tolerate" immigrants any longer after suffering "hurricane devastation". You can see where this is going. " (Bond market calls Fed's bluff as global economy falls apart )
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Se começarmos a fazer um exercício de identificação de relações de causa-efeito para especular sobre onde é que isto nos pode levar...

O alfaiate industrial

O semanário Expresso deste sábado traz mais um exemplo de quem ou formulou, ou descobriu uma estratégia competitiva.
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Muitas vezes, neste espaço, chamo a atenção para a importância de ter relações amorosas com clientes, produtos e serviços, algo que falta a macro-economistas, burocratas de Bruxelas e consultores. Só o conhecimento que advém dessa intimidade permite ser rápido a circular nos OODA loops.
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Em Agosto de 2007 escrevi neste blogue acerca da Maconde:
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"Quando trabalho como consultor para uma organização, procuro ser provocador, para levar as pessoas a abandonar o terreno conhecido, mas aviso sempre, e tento manter a minha guarda interna: só sou consultor, no final do projecto não fico com a criança. Para que me oiçam, mas não dê-em demasiada ênfase ao que digo... posso estar errado.
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Um consultor, tal como um gestor, sabe (ou julga saber) umas regras básicas de gestão, tem experiência e conhecimentos de casos anteriores, procura formar-se e informar-se, pode até desenvolver carinho, ou clubite, pelas instituições e amizade pelas pessoas com quem trabalha, mas falta-lhe uma especiaria, o conhecimento intrínseco do negócio, o instinto para o negócio da organização consultada. A abordagem do consultor corre o risco de ser asséptica, aplicam-se as fórmulas e "prontos".
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Se isto se pode dizer de mim como consultor, será que posso generalizar e chamar a atenção para os gestores da Maconde? Será que não sofriam do mesmo mal, e estando numa posição de poder executivo, tomaram decisões demasiado assépticas?Repare-se, depois da saída de Pais de Sousa (veio da Vulcano) em Março passado, a empresa viu entrar Cândida Morais (veio da Barbosa & Almeida)...
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Quem sou eu, não tenho qualquer informação sobre este caso em particular mas... depois de ler todos os cortes e cortes que a empresa fez, acho que alguém se esqueceu que é preciso ganhar dinheiro (ver Gertz & Baptista: emagrecer, emagrecer até ser grande!!!)"
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No artigo do Expresso do passado Sábado "O alfaiate industrial de Vila do Conde" encontro:
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"No Verão de 2007, a velha Maconde agonizava sem encomendas e um passivo de €50 milhões (32 milhões à banca). Na altura, restava a unidade de Vila do Conde, autonomizada como Macvila. Face à falência iminente, Luísa Rocha, engenheira com 20 anos de casa, José Amorim, contabilista e o advogado José Pedro Vieira apresentaram um projecto que convenceu o Governo e o consórcio bancário liderado pelo BCP."
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O artigo descreve a adopção de uma proposta de valor próxima da consultoria, liderança pelo serviço: ""A nossa vantagem competitiva está nos produtos mais complexos e na capacidade de respostas rápidas", dis Luísa Rocha. Nesta nova cruzada comercial há uma sigla - MTM - que traduz a sua nova ambição. Made to measure (feito à medida) é mais um desafio da empresa que pretende tornar-se um alfaiate industrial de alemães, britânicos e irlandeses. Em lojas requintadas desses mercados, a Macvila disponibiliza uma gama de tecidos e modelos à escolha do cliente. O retalhista transmite as medidas e em 12 dias recebe o fato encomendado."
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"A verdade, é que a unidade enfrenta 2009 com o entusiasmo redobrado de quem recebeu o dobro dos pedidos de colecções para a estação Outono/Inverno em que trabalha. Não é seguro que todos os pedidos se transformem em encomendas, mas é um sinal de vitalidade..."
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Cá vai a seguir a tradução prática daquilo a que chamo abusar daquilo em que se pode fazer a diferença:
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""As colecções são mais complexas e diversificadas, induzindo séries mais pequenas", nota Luísa Rocha."

domingo, fevereiro 08, 2009

Pós-Graduação Gestão das Organizações e Desenvolvimento Sustentável

Gestão Ambiental e Ecoeficiência.
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Não esquecer a palavra-chave.

Não consigo resistir ...

... já o confessei váias vezes neste local.
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Tenho um fraco por soundbytes e poesia, pronunciar palavras e frases que deslizam bem no sistema fisiológico e em simultâneo adoçam o pensamento, por que o significado é potente e razoável. Por exemplo:
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"There is, however, a missing link. For if too much debt is at the heart of the crisis, what about the over-borrowers? What do they have to say?
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I'm not talking about unfortunate souls who have slipped behind as a result of redundancy or family crisis. I'm more interested in Smart Alecs who signed for a dozen credit cards and then spent over the limits. Or homebuyers who enjoyed a burst of creativity when it came to disclosing incomes on mortgage forms. Or heavily geared buy-to-let merchants who worked out that instead of paying for a house, they could get a house to pay for them.
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These and others have played a role in creating the credit crunch. But we rarely hear from them or about them. The reason, I fear, is that after 12 years of a government which has infantilised the electorate by telling it that the state will always provide, there has been a shocking diminution of personal responsibility. We are a society addicted to victimhood.
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As such, when things go wrong, we seek bogeymen rather than face up to our own shortcomings. We expect instant, painless solutions to self-inflicted problems. Britain's booze culture is blamed on the slick advertisements of drinks companies and the cut-price tactics of supermarkets. Our obesity epidemic is the fault of junk-food outlets and confectionery suppliers. And our personal indebtedness, the highest it has ever been, is the result of a pernicious campaign by greedy banks to enslave their customers. Oh yes, and the crash was caused by beastly Americans.
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It is a mindset that is fostered by cynical politicians who see few votes in telling people that which discomforts them, even if it's the truth. Much better to identify a "dark force" and then roll out an initiative to tackle it. This exculpates the guilty, while creating an impression of activity."
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Já agora especulo com outro motivo para o fenómeno (tendo em conta as teorias de Pedro Arroja sobre as distinções entre a sociedade prot e a sociedade cath) talvez a culpa não seja dos políticos, mas do progressivo aumento de católicos em Inglaterra. Just kidding.
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Trechos retirados de "We're in denial: afraid to face up to the real causes of recession"

Uma teoria interessante...

... que leva a um modelo que simula a nossa realidade e ajuda a percebê-la e a encadear os acontecimentos "The Roving Cavaliers of Credit".
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Alguns trechos:
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"Thus rather than credit money being created with a lag after government money, the data shows that credit money is created first, up to a year before there are changes in base money. This contradicts the money multiplier model of how credit and debt are created: rather than fiat money being needed to “seed” the credit creation process, credit is created first and then after that, base money changes.
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It doesn’t take sophisticated statistics to show that the second prediction is wrong—all you have to do is look at the ratio of private debt to money. The theoretical prediction has never been right—rather than the money stock exceeding debt, debt has always exceeded the money supply—and the degree of divergence has grown over time."
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"“In the real world, banks extend credit, creating deposits in the process, and look for reserves later”.[5]
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Thus loans come first—simultaneously creating deposits—and at a later stage the reserves are found. The main mechanism behind this are the “lines of credit” that major corporations have arranged with banks that enable them to expand their loans from whatever they are now up to a specified limit."
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"Thus causation in money creation runs in the opposite direction to that of the money multiplier model: the credit money dog wags the fiat money tail. Both the actual level of money in the system, and the component of it that is created by the government, are controlled by the commercial system itself, and not by the Federal Reserve."
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"The only way that Bernanke’s “printing press example” would work to cause inflation in our current debt-laden would be if simply Zimbabwean levels of money were printed—so that fiat money could substantially repay outstanding debt and effectively supplant credit-based money.
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Measured on this scale, Bernanke’s increase in Base Money goes from being heroic to trivial. Not only does the scale of credit-created money greatly exceed government-created money, but debt in turn greatly exceeds even the broadest measure of the money stock—the M3 series that the Fed some years ago decided to discontinue."
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"We are therefore not in a “fractional reserve banking system”, but in a credit-money one, where the dynamics of money and debt are vastly different to those assumed by Bernanke and neoclassical economics in general.[10]
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Calling our current financial system a “fiat money” or “fractional reserve banking system” is akin to the blind man who classified an elephant as a snake, because he felt its trunk. We live in a credit money system with a fiat money subsystem that has some independence, but certainly doesn’t rule the monetary roost—far from it."
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"Though in some ways the answers are obvious, it lets us see why banks are truly cavalier with credit. The conclusions are that bank income is bigger:
  • If the rate of money creation is higher (this is by far the most important factor);
  • If the rate of circulation of unlent reserves is higher; and
  • If the rate of debt repayment is lower—which is why, in “normal” financial circumstances, banks are quite happy not to have debt repaid.
In some ways these conclusions are unremarkable: banks make money by extending debt, and the more they create, the more they are likely to earn. But this is a revolutionary conclusion when compared to standard thinking about banks and debt, because the money multiplier model implies that, whatever banks might want to do, they are constrained from so doing by a money creation process that they do not control.
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However, in the real world, they do control the creation of credit. Given their proclivity to lend as much as is possible, the only real constraint on bank lending is the public’s willingness to go into debt. In the model economy shown here, that willingness directly relates to the perceived possibilities for profitable investment—and since these are limited, so also is the uptake of debt.
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But in the real world—and in my models of Minsky’s Financial Instability Hypothesis—there is an additional reason why the public will take on debt: the perception of possibilities for private gain from leveraged speculation on asset prices."
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A furna vulcânica no fundo do oceano...

sábado, fevereiro 07, 2009

Quando a esmola é grande o pobre desconfia

O Le Monde bem tenta animar a malta com algum optimismo "Le bout du tunnel ?"
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Mas ao ler Edward Hugh sobre a situação italiana "Italy Needs EU Bonds And It Needs Them Now! " desconfio da esmola francesa.

Vamos fazer um exercício...

Quando inicio um projecto de transformação estratégica com uma organização, procuro trabalhar as oportunidades e ameaças que identificam no meio envolvente com um pouco da análise PESTEL, para criar uma representação dinâmica de factores externos que podem influenciar o futuro da organização.
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A partir daí podemos identificar incertezas críticas e equacionar alguns cenários para o futuro. O propósito é o de obrigar a transformação estratégica a ter alguma aderência à realidade e evitar os devaneios da gestão.
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Aqui vai um extracto do último que fiz para alimentar uma discussão durante a semana que passou.
Uso estes esquemas para que os intervenientes percebam, vejam (por que assim salta aos olhos) que as decisões que tomam nunca são isoladas, e podem gerar uma cadeia de reacções de causa-efeito positivas, negativas ou ambas.
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As nossas decisões nunca são neutras, nunca ficam impunes. Mais tarde, ou mais cedo as suas consequências voltam a bater-nos à porta, para nosso deleite ou para nosso tormento.
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Tudo isto a propósito do que ouvi ontem na rádio e li hoje nos jornais:
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No Público de hoje, no artigo "Governo deve intervir para facilitar acesso ao crédito", assinado por Luísa Pinto:
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"Associações reivindicam papel mais activo do Estado para desbloquear os empréstimos que são indispensáveis para as empresas portuguesas."
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"Por isso, defende José António Barros, "apesar das próprias dificuldades dos bancos em refinanciarem, neste momento, as suas carteiras de crédito, face à escassez de liquidez e de confiança que ainda permanece nos mercados financeiros internacionais", é importante existir "uma maior pro-actividade na concessão de crédito às PME e na maior razoabilidade do seu custo". "
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Admitamos que os bancos se esquecem da sua função de proteger os depósitos de quem neles confiou e de desprezarem os interesses dos seus accionistas.
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Conjuguemos esse esquecimento com o que está a acontecer com a derrocada da procura "Dez empresas por dia declaram falência" no JN de ontem, onde se pode ler:
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"No mês de Janeiro, 299 empresas fecharam ou entraram em processo de insolvência, uma média de 10 firmas por dia. No primeiro mês de 2008, entraram em idênticos processos um total de 293 firmas."
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Os bancos ficariam mais seguros ou não?
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Bancos menos seguros conseguem melhores taxas de juro ou não?
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Bancos menos seguros teriam mais acesso a crédito ou não? (Basta atentar no exemplo dos nossos vizinhos: Nas costas dos outros vemos as nossas )
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Além do desempenho dos bancos, qual o desempenho dos nossos políticos (posição e oposição) haverá cada vez mais ou menos facilidade em emprestar dinheiro a Portugal? (Cuidado com o exemplo desta semana em Espanha que não conseguiu colocar toda a dívida de longo prazo que queria.)
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Edward Hugh escreveu, relativamente a Espanha:
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"So - with budget GDP growth estimates which consistently underestimate the size of the contraction, and tax revenue falling as unemployment payments rise (onde é que nós já vimos isto?) - little by little the money is drying up, and this isn't surprising, since Spain can't print its own euros, and so, given the difficulties of borrowing them externally, liquidity becomes very, very tight. Not desperately so yet, but tight. But it is obvious that if things carry on like this we will begin to see a gradual grinding to a halt of the public sector, and all those "functionarios" and pensioners who have so far been very carefully protected from the crisis will find themselves more exposed to the full force of the crunch."
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Daniel Amaral escreveu no Diário Económico de ontem:
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"Os sacrifícios que nos esperam são incomensuráveis e o próximo orçamento vai ser dramático. (Acrescento eu aqui: By the way: Acordar as moscas que estão a dormir. O próximo orçamento vai ser redigido antes ou depois das eleições? You know the answer! So prepare yourself for the day-after) ) Mas não creio que tal seja perceptível para a generalidade das populações. Então, uma de duas: ou começamos a trabalhar num apoio político alargado ou arriscamos um chumbo de consequências imprevisíveis. Talvez o Presidente da República possa dar uma ajuda. Eu não tenho grandes dúvidas: falhar este orçamento é entrar em 2010 com o país feito em cacos."
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Posto isto, um exercício interessante seria o de desenhar a cadeia inexorável de reacções de causa-efeito que resultaria se os bancos fossem "obrigados" a serem mãos-largas.
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Então aquele apelo de Joaquim Cunha da Associação PME para que os bancos emprestem mais dinheiro e com mais facilidades às famílias...
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Cuidado com o curto-prazismo.
Recuperemos o conhecimento das relações de causa-efeito e a responsabilidade que quem vivia ligado à terra tão bem conhecia.
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E já agora, será que algum político vai falar verdade sobre o day-after durante a campanha eleitoral? E será que os media tradicionais ainda têm jornalistas não engajados que tenham a coragem de fazer perguntas sobre o day-after drante a campanha eleitoral?

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Acordar as moscas que estão a dormir.

Nas vésperas dos dois últimos actos eleitorais alguém prometeu subir impostos?
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O que aconteceu a seguir?
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Já sabem a resposta.
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Na véspera da próxima eleição: será que alguém vai prometer a redução dos salários dos funcionários públicos e das pensões para os reformados?
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O que acontecerá no day-after?
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Será que já sabem a resposta?
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Singapura, Irlanda e Espanha... does it ring a bell?
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"Of course, there is another way to go here, we could decide to reduce prices and salaries in the public sector (ie internal deflation as an alternative to devaluation), and bring the budget more back into line with Spain's ability to pay. This is what they seem to be doing in Ireland, although, even there, the prime minister allegedly threatened to call in the IMF if the public sector unions failed to agree on the spot to a five percent salary reduction." (Nas costas dos outros vemos as nossas )
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Os canários vão à frente ...

Por favor, alguém que conte a verdade aos agricultores. Não os tratem como criancinhas.

Por vezes a realidade brinda-nos com estórias que ilustram perfeitamente as teorias de Pedro Arroja sobre as sociedades católicas e protestantes.
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Quando morre um familiar próximo, os pais tentam esconder o facto às suas criancinhas. Normalmente optam por não revelar a verdade de chofre, e desviam a conversa e falam de viagens e blábláblá.
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O semanário Vida Económica publicado esta semana traz um desses casos. Um caso em que ninguém... ninguém com poder e autoridade, tem a coragem de contar a verdade aos adultos, aos agricultores. No artigo "Jaime Silva contestado pelos produtores de milho" pode ler-se o protesto dos adultos (de idade fisiológica) contra a realidade:
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"Em causa está o facto de o preço dos adubos ter aumentado 100%, o gasóleo 40% e os pesticidas mais de 50%. E face a estes aumentos o preço a que o milho é vendido mantém-se exactamente igual ao que é praticado desde 1989."
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Por que é que não explicam aos agricultores a realidade? Por que é que não explicam aos agricultores o que significa produzir uma commodity? Por que é que os agricultores devem ser apoiados e os operários da antiga Quimigal em Estarreja que produziam ácido sulfúrico não?
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" «É um cenário extremamente difícil para os produtores», afiança Luís Vasconcellos e Souza. O mesmo responsável acrescenta que «há muito tempo que o Estado não investe no sector» e destaca não se conformar com a resposta de que «não há dinheiro». «Há fundos comunitários específicos para o sector», sublinha para acrescentar de imediato: «não sei o que é feito ao dinheiro». Jaime Silva é alvo de críticas directas: «é uma pessoa muito inteligente mas que não percebe nada do sector». O responsável da Associação Nacional de Produtores de Milho abrange a sua crítica ao afirmar que «não é só no sector da agricultura que o ministro está deslocalizado»."
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O que será, o que significará este «há muito tempo que o Estado não investe no sector»?
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Se os agricultores produzem um produto básico, standard, indiferenciado, vendido a granel, como é que os agricultores querem fazer face à realidade?
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Se não fosse a crise financeira que atravessamos e que secou o capital, dentro de dois anos teríamos umas empresas na Rússia a produzir autênticos oceanos de cereal em terrenos aráveis que estão em pousio e que se preparavam para ser trabalhados (Estratégia na agricultura ).
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Como é que os agricultores portugueses iriam fazer face a essas produções concorrentes?
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Enquanto não lhes contarem a verdade eles nunca vão procurar alternativas, ou seja, fazer o mesmo que fez o sector do calçado para voltar a ter sucesso.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Nas costas dos outros vemos as nossas

A capa do Jornal de Negócios de hoje tem uma caixa, com a foto do ministro das finanças, onde se lê: "Emissão de dívida pública de curto prazo imune ao corte do "rating" da República".
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O pormaior que me escapou numa primeira leitura foi aquele "curto prazo".
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Escreve o jornal na página 23:
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"A justificar o bom resultado estará o facto de, dada a elevada aversão ao risco no mercado, os investidores estarem a procurar mais títulos de dívida pública e, em especial, títulos de curto prazo (maturidade até um ano).
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O teste de fogo para a dívida pública portuguesa terá, contudo, lugar no primeiro leilão de títulos com maturidade de cinco ou dez anos (Obrigações do Tesouro), sobre os quais os investidores têm maiores reservas."
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O que me preocupa, sabendo que somos governados por gente que gasta mais do que pode (quer da situação, quer da oposição) é saber que a Espanha tem um risco inferior a Portugal e, no entanto:
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"And the centre is having problems, as we saw in the case of yesterday's €7bn 10 year treasury bond auction (Tuesday) which produced a Spanish yield differential jump at its highest level since the euro came into existence - 137 basis points above the equivalent German Bunds. More ominously, foreign investors were notably absent, leaving Spanish banks to soak up the debt. Which makes all that nonsense Spanish people have been seeing on their TV screens this week about how the banks are not lending enough to households and businesses seem even more ridiculous, since it is the needs of the government itself which is increasingly "crowding out" all the rest."
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Ainda: durante anos ouvi estórias da minha irmã, estórias carregadas de 'inveja', onde me contava como o dinheiro para o Ambiente em Espanha nunca faltava, nunca era rateado, enquanto que do lado de cá ...
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Pois bem:
"Another minor but revealing anecdote about all this came my way yesterday afternoon, when a friend of mine who works for the municapal authority in one of Barcelona's "sattelite towns" told me she had just had a frustrating day trying to buy a ticket for a trip to Brussels (you know, to sign something, and appear in the photo) for one of their civic dignitaries. Now the travel agents were quite happy to make the reservation, and prepare the ticket. What they were not willing to do was hand it over. As they said to her "I'm afraid you can only have it after you pay". She was bemused by all this - it isn't really her job to do this kind of thing - so she went to see the responsible parties in the accounts department (the flight is the day after tomorrow) and to her amazement they told her "right now this is impossible, tell them we can let them have the money within two weeks"
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Mês após mês... as afirmações peremptórias de Manuela Ferreira Leite, há mais de seis meses vão-se confirmando uma após outra. Por exemplo, o escândalo que foi quando disse "Não há dinheiro!"
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Vejamos Espanha:
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"So - with budget GDP growth estimates which consistently underestimate the size of the contraction, and tax revenue falling as unemployment payments rise (onde é que nós já vimos isto?) - little by little the money is drying up, and this isn't surprising, since Spain can't print its own euros, and so, given the difficulties of borrowing them externally, liquidity becomes very, very tight. Not desperately so yet, but tight. But it is obvious that if things carry on like this we will begin to see a gradual grinding to a halt of the public sector, and all those "functionarios" and pensioners who have so far been very carefully protected from the crisis will find themselves more exposed to the full force of the crunch."(Oopss!!! Isto não pode transpirar cá em Portugal, há três eleições à porta durante este ano)
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E que tal:
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"Of course, there is another way to go here, we could decide to reduce prices and salaries in the public sector (ie internal deflation as an alternative to devaluation), and bring the budget more back into line with Spain's ability to pay. This is what they seem to be doing in Ireland, although, even there, the prime minister allegedly threatened to call in the IMF if the public sector unions failed to agree on the spot to a five percent salary reduction."
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Este postal de Edward Hugh é preocupante e quiçá premonitório:
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"But the debate which is going on in Spain (Portugal acrescento eu) about the current crisis is still light years away from the country's rapidly evolving reality, so the question which keeps going round and round in my head is: just how long will it be before some crazy politician out there in one of Spain's minor autonomous communities starts proposing to issue regional IOUs/quasi money of the Argentinian type. If and when this does happen, then we will know that the end is well and truly begining (ie that the point of no return has been passed), and if you like we could treat such a hypothetical event as an early potential indicator of impending disaster."
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Ah, e BTW:
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"No serious politician can threaten the banks in this way and hope to maintain investor confidence. Maybe even more worrying is the fact that Zapatero has not already "corrected" him. This kind of statement is a declaration of weakness and not one of strength."
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Trechos retirados de The (Credit) Drought In Spain Falls Mainly On The Plane

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Sem título, que título deveria dar a uma estória destas?
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Estão é a precisar de patins
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This is not happening, tirem-me deste filme.
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Usarás indicadores e metas com critério e inteligência

Parte da minha profissional é dedicada a apoiar empresas a transformarem-se na empresa do futuro, a empresa capaz de produzir os resultados futuros desejados de uma forma perfeitamente normal.
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Faço-o recorrendo à seguinte metodologia. No ponto 5 desenvolvemos um balanced scorecard que se traduz num conjunto de indicadores. Depois, associamos a cada indicador um desafio de desempenho, uma meta.
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Faço-o, faço-o de consciência tranquila, e tenho bons resultados. Não gosto é de perder tempo com tretas.
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Contudo reconheço que nisto de usar indicadores e metas há algo de arte. Como pessoa que 'nasceu' no mundo da Qualidade, tenho sempre na mente a contradição entre o que faço e o aviso que Deming nos lançou "Eliminar as metas numéricas". Por que existe sempre o risco das metas serem o resultado de delírios da gestão, raios lançados por Zeus lá de cima do Olimpo e sem qualquer aderência à realidade.
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Com Wheeler, sobretudo com o seu Understanding Variation, lido num comboio-bala entre Kioto e Tóquio, aprendi a respeitar a definição de metas para evitar estes episódios.
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Assim, não abandonando a definição de objectivos (indicadores e metas) e sabendo o que pode acontecer a quem aborda o assunto de forma leviana, recomendo a leitura deste artigo "Goals Gone Wild: The Systematic Side Effects of Over-Prescribing Goal Setting" de Lisa D. Ordóñez, Maurice E. Schweitzer, Adam D. Galinsky e Max H. Bazerman.
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quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Aprendizes de feiticeiros querendo esturricar dinheiro impostado aos saxões

À atenção de Pedro Adão e Silva:
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"Consider the manufacture of memory chips. The process involves some of the most sophisticated technology in the world, with incredible quality controls, clean room environments, and highly complex manufacturing techniques (bom para o ego dos políticos e comentadores encartados. Ah ganda choque tecnológico). The investment requirements are prodigious. The industry consumes enormous quantities of capital, with new factories costing one to two billion dollars.
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Yet, the industry is profitless. Once every five or six years, when supply is tigth, a ray of profitability appears from behind the clouds. The the clouds close in, and the industry loses money for years, with no prospect of structural profitability in sight.
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Sometimes, there is no way to reverse the situation. Sometimes, the best course of action is to walk away. That's the decision Intel made in 1985.
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Intel recognized and was willing to acknowledge the bitter reality of life in a no profit zone. It had excellent engineering talent, worked exceptionally hard, competed successfully with the Japanese, invested enormous amount of capital - and made no money. In fact, it lost $200 million in 1985. Worst of all, there was no action that Intel could take to reverse the situation (pois, não tinham Pedro Adão e Silva para os alumiar), nor was there any prospect that circumstances would improve. Intel confronted the reality of the no profit zone pattern and made the toughest decision in its history - it walked away."
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Trecho de Adrian Slywotzky e David Morrison in "Profit Patterns".

Medonho, medonho

Mais uma praga bíblica...
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"Spain lost almost 200,000 jobs in January in the worst one-month rise since records began, lifting the unemployment rate to 14.4pc and inflicting further damage on the credibility of the Spanish government. "
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Evans-Pritchard "Spain's downward spiral spooks bond investors"

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Macro-economistas



Pedro Arroja propõe o corporativismo, ou seja o enfoque nas relações harmoniosas entre os concorrentes, remetendo o cliente para segundo plano (organização corporativa - como se ainda vivêssemos num mundo de escassez).


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Pedro Arroja propõe ainda o proteccionismo "Na realidade, a melhor maneira para segurar o nível de vida da população num período de crise económica é o proteccionismo - e tanto mais quanto menos mobilidade existir na sua força de trabalho", remetendo-nos para uma vida de Trabants e afins.


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Saldanha Sanches, Daniel Amaral e Olivier Blanchard propõem a redução dos salários como forma de aumentar a produtividade (Disputando migalhas).


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Contudo, olhamos para os alemães e vêmos:

2007 Unit Labour Cost Index (2000=100)
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Será que o seu salário baixou para aumentar a sua produtividade?
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Além de errada, baixar os salários teria de ser uma medida a usar necessariamente a cada x anos. Quem tem uma moeda forte não pode assentar a sua competitividade nisso, tem de aprender com os alemães.
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BTW, interessante esta tabela:
Em 2050, se for vivo, terei quase 90 anos ... grande clube: gregos, franceses e portugueses. Grande exemplo... depois vêm falar de sustentabilidade ambiental, mas não têm pejo em fazer da geração seguinte uns escravos da dívida.
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Daqui: Do BRICs (and Germans) Eat PIGS?

Imposto revolucionário

"Estradas de Portugal pedem meio milhão (de euros) por cada inauguração" na capa do Jornal de Negócios de hoje.
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Concessionárias pagam sem poder escolher fornecedores.
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De onde virá o dinheiro?

De arrepiar...

... o comentário de Pedro Adão e Silva no Rádio Clube Português esta manhã.
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Isto de comentadores sem experiência de vida dos negócios mandarem bitaites sobre o que é que o estado deve fazer com o dinheiro impostado aos saxões.
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Abençados alemães da Saxónia que não vão em cantigas.
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Enfim, mais um normando.

Mudança do modelo de negócio...

Tempos de mudança acentuada (recalibração ou mudança de nível) podem requerer mudança do modelo de negócio. Por que aquilo que funcionava pode deixar de funcionar:
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O que se segue é válido para as empresas e para os governos dos países:
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"... the hardest thing to change successfully in any company is its gross-margin model. Every such change leads to radical downsizing and reorganization, but this is rarely accompanied by wholesale replacement of the executive team. There is no infusion, in other words, of the new skills required to make the new margin model work. Instead there is an increasingly strained old guard struggling to adapt to patterns and problems it has no experience in handling.
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In our view, therefore, the best practice for dealing with a failure to gain marketplace acceptance with a current generation of offers should be to undertake an immediate restructuring designed to maintain the margin model over a smaller base of revenue and to focus on getting the following generation of offers back into the mainstream. This keeps the enterprise within the experience base of the current management team maintains a financial model that can support its current organizational model, albeit at a smaller scale."
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Trecho retirado de "Dealing With Darwin" de Geoffrey Moore

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Produção industrial japonesa

Uma catástrofe de proporções bíblicas... equiparável a uma das pragas que ceifou o Egipto.
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"If it is, Japan industrial production will have fallen 28% (non annualized) in four months. It will have fallen by a third in about a year. Nothing in the history of major nations compares. A 28% decline in four months would be more than half of the entire decline in U.S. industrial production over the 3 years and nine months of the U.S. Great Depression."
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"Veneroso: Japan on the Edge of the Abyss"
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Um pouco de veneno certeiro:
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"To my mind the real reason why the yen soars is because it soars. ... Since everyone now ignores fundamentals and only looks at the witchcraft of charts and technical tools they now all have the next technical objective of 79 yen to the dollar on the brain."

Procrastinação e falta do sentido de urgência

Kotter propõe que na base dos projectos de mudança bem sucedidos está sempre a presença de um sentido de urgência.
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Falta de sentido de urgência é uma falha que encontro em muitas organizações. Costumo pensar que na sua origem está a falta de mais mulheres em posições de chefia. Os homens são bons em atenção concentrada, não em atenção dispersa.
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A falta de sentido de urgência está associada à procrastinação.
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Uma arreliadora e permanente falta de consciência sobre a urgência de agir traduz-se no adiamento das decisões/acções e no avolumar dos problemas.
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Daí que a leitura do artigo "Procrastinating Again? How to Kick the Habit" seja um bom investimento a não adiar.

Modelo de negócios e processos (parte II)

Continuado daqui.
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A figura que se segue mostra como um modelo de negócio se divide em duas partes: uma virada para o exterior, concentrada na criação de valor; e outra virada para o interior, concentrada na captação de algum retorno desse valor criado através da organização e desenvolvimento interno.

Espero que a figura ilustre a quantidade de trabalho, a arquitectura, a filigrana a criar, desenvolver e fomentar antes de se olhar para o interior da organização.
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Assim, o que dizer dos projectos de re-engenharia, de melhoria que começam sem se perceber o mecanismo de criação de valor: quem são os clientes-alvo; quem são os distribuidores; qual a proposta de valor; quais os momentos de verdade e de batota.
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Isso por que se parte do princípio de que o propósito da melhoria de um processo é sempre o de o tornar mais rápido e mais barato.
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Contudo, assumir que o objectivo é sempre o de baixar os custos, aumentar a eficiência e reduzir o tempo de ciclo significa admitir que a proposta de valor é a do preço-baixo.
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Se o cliente-alvo não der a prioridade máxima ao preço (order qualifier não order winner), então, simplesmente fazer as coisas mais rapidamente ou mais barato não tornará as coisas melhores.
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Quando o mundo é recalibrado e muda de nível ou de temporada, é fundamental reflectir sobre o que fazer, e não só sobre o como fazer.

domingo, fevereiro 01, 2009

Está tudo ligado

O gráfico deste postal "GDP Data Show Pain of U.S. Slump Abroad " ilustra bem o que previmos.
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A Grande Recessão em marcha nos países ocidentais, e que se traduz todos os dias em milhares de despedimentos, apesar de tudo não vai ser tão forte como nos anos trinta do século XX. Por que os despedimentos que ocorreram nos anos trinta num curto espaço de tempo, têm vindo a acontecer no Ocidente nos últimos 20 anos, primeiro com a invasão japonesa e depois com a invasão chinesa e indiana.
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Agora na China, a fábrica do mundo, um país que não criou uma classe-média suficiente para locomover a procura interna, como Henry Ford preconizou, o futuro não parece nada pacífico: