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sábado, março 22, 2025

Não devia ser um drama, quase que podia ser celebrado

Não devia ser um drama, quase que podia ser celebrado. A menos que seja resultado de uma evolução artificial de custos da mão de obra, não suportada por procura.

Drama mesmo é quando a chegada de algumas empresas é celebrada.

O caderno de Economia do semanário Expresso do passado dia 21 traz um artigo intitulado, "Yazaki Custo da mão de obra penaliza Portugal".

O artigo discute o despedimento de 364 trabalhadores da fábrica da Yazaki Saltano em Ovar, justificado pelo elevado custo da mão de obra em Portugal e pela crise do sector automóvel europeu. A empresa japonesa destaca a concorrência de países com custos mais baixos, como o Egipto, a Roménia, a Bulgária e a Tunísia, onde os salários são significativamente inferiores.

A Yazaki compara os custos salariais entre diferentes países e conclui que a produção no Egipto custa apenas 10% do custo de produção em Portugal. O artigo menciona ainda que a crise no sector automóvel já levou a outros encerramentos e despedimentos em Portugal:

"O custo da mão de obra "está a comprometer a sustentabilidade da produção em Portugal", afirma a Yazaki Saltano na mensagem que justifica o despedimento coletivo de 364 pessoas na sua fábrica de Ovar. 

...

o documento que fundamenta a decisão de despedir 364 dos 2100 trabalhadores da maior empresa de Ovar também refere a crescente "sensibilidade ao preço" das construtoras automóveis. E afirma que "o custo de produção em Portugal faz com que a YSE (Yazaki Saltano EMEA) não seja selecionada para os projetos a que se candidata por uma questão de preço".

E a empresa faz contas relativamente à perda de competitividade do país para concluir que "o mesmo projeto produzido no Egito representa somente 10% do custo de mão de obra de Portugal. Ou seja, um trabalhador em Ovar custa 9 vezes mais do que outro trabalhador no Egito. Portugal também fica a perder face à concorrência da Roménia (38% abaixo), Marrocos, com 27,57% do custo de Portugal, Bulgária (44,4%) ou Tunísia (21,57%), indica o documento a que o Expresso teve acesso. São diferenças "impossíveis de cobrir por via do aumento da produtividade", assume a administração, depois de comparar o salário bruto médio mensal nas suas fábricas nestes países e a respetiva evolução desde 2019. Em Ovar, o valor passou de €808 para €1303, enquanto a Roménia apresenta valores de €464 em 2019 e de €821 em 2025. Na Bulgária, o salário subiu de €361 para €583, em Marrocos saltou dos €284 para os €362, e na Tunísia aumentou dos €163 para os €284. No Egito, onde só há dados do atual exercício, o valor é de €136."

Sabem o que é andragogia?

Vou procurar demonstrar.

A notícia do despedimento colectivo de 364 trabalhadores na fábrica da Yazaki Saltano em Ovar gera previsíveis reacções de preocupação e pessimismo. Afinal, trata-se de um encerramento que afecta directamente centenas de famílias e um reflexo de uma perda de competitividade do país face a mercados onde os custos salariais são significativamente mais baixos. [Moi ici: Recordar a bússola da competitividade e como esta conversa é perigosa para o que realmente interessa, o aumento da produtividade] Contudo, num olhar mais amplo e menos imediatista, este tipo de eventos não deve ser encarado como um drama. Pelo contrário, fazem parte do mecanismo que impulsiona as economias para patamares mais elevados. No postal sobre a bússola da competitividade usei esta imagem:


Reparem que o caminho para "+ produtividade" tem um cemitério de empresas. Já o caminho da "+ competitividade" é o caminho do empobrecimento, das empresas zombies suportadas em subsídios pagos pelo estado com dinheiro dos contribuintes.

A Yazaki opera num sector onde o factor preço é determinante, e os seus clientes têm alternativas mais baratas.

Uma economia saudável e dinâmica não se constrói protegendo indefinidamente empregos de baixo valor acrescentado, mas sim permitindo que sectores mais antigos cedam espaço para novos sectores emergirem. Este é o motor que impulsiona o desenvolvimento económico: quando uma empresa já não consegue operar num determinado contexto, a resposta não deve ser o lamento, mas sim a criação de condições para que novas indústrias, mais produtivas e com maior capacidade de pagar melhores salários, ocupem o espaço deixado vago.

Isto remete para o modelo dos Flying Geese. Os países menos desenvolvidos começam por atrair indústrias intensivas em mão de obra, com baixos salários. Com o tempo, essas indústrias crescem, os salários aumentam, e a produção desses sectores migra para países mais baratos. O país de origem, em vez de colapsar, sobe na cadeia de valor, investindo em sectores mais sofisticados, com melhores salários e maior especialização.

Portugal tem de aceitar que não pode, nem deve, competir apenas pelo factor custo. Se quisermos manter empregos industriais, esses empregos terão de ser sustentados por inovação, automação e produção de bens de maior valor acrescentado. O drama da saída da Yazaki não é que uma empresa de componentes automóveis está a fechar postos de trabalho. O verdadeiro drama será se Portugal não estiver a criar novas oportunidades para absorver essa mão de obra em sectores de maior valor. Recordam-se de "não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas"?

Em vez de lamentarmos a saída de empresas que só conseguem competir com baixos salários, [Moi ici: E isto não é uma crítica, é um facto da vida. Como os produtores de sapatos de St. Louis, foi bom enquanto durou] devemos concentrar-nos em criar um ecossistema onde outras possam pagar melhor. Se a economia funcionar correctamente, no lugar da Yazaki surgirão empresas mais inovadoras, com produtos diferenciados e margens que permitam pagar salários mais elevados. É assim que se sobe na escala de valor, é assim que as sociedades prosperam.

Só que isto implica deixar as empresas morrer!


Nota: No artigo pode ler-se "São diferenças "impossíveis de cobrir por via do aumento da produtividade"" isto é sobre trabalhar o denominador porque o numerador está a diminuir. Recordar os números de Rosiello.

domingo, fevereiro 09, 2025

Não é só sobre crescer, mas sobre tornar-se indispensável



Conheço uma PME que está a fazer o seu caminho de forma positiva até agora. Acompanho o seu CEO nos últimos anos e por duas vezes ele procurou criar parcerias com empresas estrangeiras.

Quando ele me falava das negociações para essas parcerias eu perguntava sempre, o que é que empresas muito maiores têm a ganhar em trabalhar convosco? Nunca conseguimos uma resposta clara. Essas parcerias nunca chegaram a dar frutos. 

Agora leio:
"Trust leads to trust. Influence creates influence. The network effect is the dynamic of our time, and most of us don't even notice it.
The value of a network goes up exponentially as more people engage with it.
People don't engage with your network because it's good for you. They do it because it's good for them. The network effect challenges system architects to create assets that provide value for users that increase when they invite their colleagues to join in.
...
It's not only the fax machine, or Fight Club, or Alcoholics Anonymous. The network effect powers any system that deserves it.
This isn't a competition of effort or obvious performance metrics. The work doesn't get the network effect it deserves based on how much you insist on people joining you. Instead, networks catch on because the network being built is attractive, sticky, and persistent. Does it work better for me if my friends join in?
Networks create value for those who choose to join them, and part of that value comes from the status and affiliation bump that evangelists of the system receive.
People only invite others to join a network if they benefit from doing so.
If you don't begin with a network effect as a significant benefit for users, it's almost impossible to build it in later."

Há muitos anos que trabalho estas "networks" com as PMEs, por exemplo, de 2007: "Subir na escala de valor"

Um erro comum em muitas PMEs: focam-se na sua necessidade de crescer e procuram parceiros maiores sem uma proposta de valor clara sobre o que esses parceiros têm a ganhar. No entanto, os ecossistemas bem-sucedidos são aqueles que criam um efeito de rede natural - em que cada novo participante torna a rede mais valiosa para os outros.

Boas networks, bons ecossistemas não se vendem, tornam-se inevitáveis. Se uma PME quer atrair parceiros estratégicos, precisa criar um modelo onde a participação traga benefícios imediatos e exponenciais. Seja pelo conhecimento partilhado, pelo acesso a mercados ou pelo reforço de reputação e influência, o valor da rede tem de ser evidente desde o primeiro momento.

No fundo, construir um ecossistema empresarial não é só sobre crescer, mas sobre tornar-se indispensável.

Trechos retirados de de "What is Strategy" de Seth Godin.


quarta-feira, fevereiro 05, 2025

Ambição, foco, políticos e zombies

Já por mais de uma vez referi a experiência do gorila, por exemplo em 2012, "Cuidado com os pregos no caixão (parte II)."

Entretanto ontem, durante a caminhada matinal ouvi este vídeo: 

Peterson refere a experiência e chama a atenção para um ponto importante:

"half the people who watch the video; don't see the gorilla, which is absolutely shocking, and what that means is that your ambitions blind you to the nature of the reality. Now they illuminate some reality, but they blind you to most of it, and that's fine because you're not; there's not a lot of you in some ways, you're a very pinpoint thing like a laser beam, and so so you just can't be attending to everything all the time but one of the things that you might ask yourself once you know that is that if you're suffering dreadfully then one possibility is that the fact that you're so fixed on the point that you're fixed on might be integrally related to why things are going so catastrophically wrong."

Eu gosto de ver estas reflexões aplicadas às pessoas que lideram as empresas. As empresas, porque lideradas por pessoas, acabam por evidenciar estes comportamentos. As empresas, tal como as pessoas, tendem a fixar-se num objectivo de sucesso e constroem todo o seu modelo em torno desse objectivo. Mas esse foco intenso, essa ‘visão de túnel’, impede-as de ver mudanças no mercado, novas ameaças e oportunidades emergentes. Quando finalmente percebem que o mundo mudou, já estão tão enraizadas no modelo antigo que se torna quase impossível adaptarem-se sem um choque profundo.

Durante anos, muitos gestores acreditam que a sua abordagem funciona porque continuam a gerar receita, a crescer, a conquistar mercados. Mas o sucesso cria a ilusão de que o contexto é estático e que basta continuar a fazer ‘mais do mesmo’ para perpetuar esse crescimento. Até que um dia, os alicerces mudam e, de repente, já não há mercado para o que sempre funcionou. O que antes era uma fortaleza transforma-se numa prisão.

No final do vídeo, algo que se aplica a humanos, que se aplica a empresas, que se aplica à economia, e que está intimamente ligado ao que Phill Mullan escreveu em "Creative Destruction" e que tanto critico em muitos apoios comunitários ao "DVD leadership team". Depois, pedimos aos Draghis deste mundo que elaborem relatórios que indiquem o caminho para o "streaming" à custa de ... mais apoio ao "DVD leadership team."

Isto é tão metaforicamente verdade para a zombificação da economia:
"you know, you can compare yourself in some sense to a forest fire, to a forest, you know. A forest has to burn now and then for the deadwood to clear so that the forest can actually maintain its continued existence, [Moi ici: Continuar a apoiar o "DVD leadership team" é promover a acumulação de deadwood até que se torna tóxica e mortal] and if you stop the forest from burning for a long period of time which happened in the United States when they were trying to manage the forest fires too tightly, then all that happens is the deadwood accumulates and accumulates and accumulates and accumulates and accumulates until the whole damn forest is deadwood, and then lightning hits it, and it burns so hot that it burns the top soil off and then there's nothing left nothing grows, and so that's a good moral lesson which is don't wait too long to let the damn deadwood burn off you know maybe a little self immolation on a daily basis might be preferable to burning yourself all the way down to the bedrock you know once every 20 years or so because maybe there won't be anything left of you when you do that and you know that happens to people all the time"

 

Quando uma empresa começa a falhar, a tendência natural dos políticos e das instituições é tentar salvá-la com subsídios, incentivos e medidas de protecção. Mas, muitas vezes, isto não passa de um prolongamento artificial da vida de algo que já deveria ter sido renovado ou substituído. Em vez de permitir que o ‘deadwood’ seja queimado e dê espaço para algo novo crescer, continuamos a alimentar estruturas obsoletas, tornando a economia menos dinâmica e mais dependente de apoio externo. A acumulação de ‘deadwood’ – empresas que já não inovam, que sobrevivem apenas à custa de apoios, que não têm futuro mas recusam morrer – é um fardo para o ecossistema económico. Quanto mais tempo adiamos essa renovação, mais catastrófica será a próxima crise.

Se evitamos a mudança e bloqueamos a destruição criativa, criamos um sistema rígido e ineficiente. Quando finalmente chega a crise inevitável, a devastação é total. É como impedir pequenos incêndios na floresta durante anos, até que um dia tudo arde de forma descontrolada. Os políticos, em vez de facilitarem a renovação, perpetuam o problema ao injectar dinheiro em estruturas falidas, enquanto novas ideias e modelos de negócio lutam para emergir.

sexta-feira, janeiro 03, 2025

Famosos? Em Mongo é diferente!

No FT de ontem apanhei "One hundred million fans cannot make you famous", mais um texto sobre aquilo que há muitos anos chamo aqui no blogue de Mongo (primeira referência é de 2007). Algo que depois encontrei em Seth Godin com o nome de Estranhistão (BTW, em 2018 Fukuyama alertou-me para o impacte de Mongo na política e coesão das sociedades).

"The inability to identify new pop culture heroes has long been a signifier of middle age. But there is usually a point at which these stars break through to a broader audience. In the past decade, however, this broader audience has become harder to find. [Moi ici: A fama está atomizada, com as celebridades a serem famosas em nichos específicos, mas desconhecidas por uma audiência mais ampla. Uma sociedade de mundos isolados que se tocam pontualmente] As viewers are funnelled towards content they will like, fame has been atomised. It is possible to have a hundred million online fans and still be unrecognisable to people in your home town. [Moi ici: Mesmo estrelas com milhões de seguidores podem ser irrelevantes fora dos seus nichos. A incapacidade de grandes plataformas unirem públicos reflecte essa ideia]

This fracturing of fame is heightened by the fact that even viewers on the same platform won’t necessarily see the same content. [Moi ici: O "planeta Mongo" simboliza uma sociedade onde não há mais narrativas ou figuras unificadoras. O texto destaca que mesmo sucessos de grande audiência, como filmes populares, não conseguem penetrar em todos os algoritmos ou contextos culturais]

...

Screens still exist. But the mass audience has dispersed. 

...

In the past, Cameo had to agree someone was famous enough to be on the platform. Admittedly the bar was fairly low. But CameoX drops it to the floor. Chief executive Steven Galanis says the change had to happen because the amount of fame in the world is "exponentially increasing." That's true. It is easier than ever to be seen by a large number of people online. But it's also true that it is more difficult to be seen by a truly global audience. Without that, there is no such thing as fame.  [Moi ici: Interessante, a proliferação de indivíduos que competem por atenção, a grande quantidade de criadores e plataformas impede que figuras centrais emerjam como no passado]

Comparar a situação actual com os anos 50 do século passado é impressionante: I Love Lucy era assistido regularmente por mais de 60% das famílias americanas com televisores, atingindo quase toda a população com acesso à TV. Os episódios frequentemente uniam o país em torno de uma experiência comum. Em 2024 o programa mais visto na TV provavelmente terá uma audiência bem menor em termos percentuais, reflectindo a fragmentação das plataformas e a competição com serviços de streaming, redes sociais e outras formas de entretenimento. Mesmo sendo um "hit", será apenas um de muitos conteúdos num vasto ecossistema.

E mais, mesmo quando um programa de televisão chega a um público mais vasto, é-o muitas vezes "on-demand", perde-se o efeito de acontecimento colectivo.

quinta-feira, dezembro 19, 2024

"This is strategy"

O último livro de Seth Godin, "This Is Strategy" começa da seguinte forma:

Who will we become, [Moi ici: "Who ... we" É acerca de nós, da nossa organização. "Will ... become" é acerca de transição, de mudança, de transformação, de aspiração para o futuro]

who will we be of service to, [Moi ici: "of service to" As organizações existem para servir outros. Quem são esses outros? E esses outros não podem, não devem ser um substantivo colectivo genérico, indefenido, devemos ser claros sobre quem são e quem não são]

and who will they help others to become [Moi ici: A ideia de ecossistema, de constelação de partes interessadas. Ir para além da simples relação diádica. Criar relações ganhar-ganhar-ganhar]

This is strategy.

A strategy isn’t a map—it’s a compass. [Moi ici: Uma estratégia não é um mapa com um caminho fixo, é uma bússola que aponta a direcção. O mapa limita; a bússola guia. O mundo muda, os obstáculos aparecem, e os planos rígidos ficam obsoletos. Com uma bússola, ajustamos a rota sem perder o norte. Estratégia é flexibilidade com propósito] Strategy is a better plan.

It’s the hard work of choosing what to do today to make tomorrow better. [Moi ici: "choosing" Escolher implica renunciar; ao decidir por um caminho, fechamos portas para outras possibilidades. E isso custa muito, e isso para muitos é impossível. "to make tomorrow betterInvestir hoje é arriscar; mesmo com esforço, o futuro permanece incerto devido a factores fora do nosso controlo. A escolha consciente requer coragem porque é uma aposta no potencial do amanhã, mesmo diante das dúvidas do presente, e das incertezas do caminho.]

This is the point. This is at the heart of our work and the challenge of our days.

Toward better.”

quinta-feira, dezembro 05, 2024

Fugir do confronto directo com o gigante

O FT de ontem trazia um artigo intitulado "An audacious gamble in semiconductors" sobre o projecto Rapidus no Japão.

O projecto Rapidus é uma ambiciosa iniciativa do Japão para revitalizar a sua indústria de semicondutores e posicionar-se como um líder global na produção de chips de topo. Lançada em 2020, a Rapidus é uma empresa de fabricação de semicondutores que conta com o apoio do governo japonês e de grandes empresas, como a Toyota, a Sony e a NTT.

Não sei nada de semicondutores, por norma torço o nariz a intervenções dos governos na criação de "campeões nacionais", mas resolvi escrever sobre ele e sobre a sua mensagem acerca de estratégia empresarial.

A certa altura lê-se:

"Ever since TSMC was founded by Morris Chang in 1987, it has been all about scale and Rapidus is really something nobody has ever attempted before."

E pelo que pesquisei a estratégia da TSMC assenta numa abordagem clássica:

  • Fabrico de alto volume: O modelo de negócio da TSMC assenta a produção em grande escala para servir gigantes tecnológicos globais como a Apple, Nvidia e AMD.
  • Chips padronizados de última geração: A TSMC é especializada na produção em massa de chips padronizados, como os nós avançados de 3nm e 5nm, atendendo à procura em grande escala.
  • Economias de Escala: A escala da TSMC permite reduzir custos e manter rendimentos elevados, o que é fundamental para o seu domínio na indústria. 
O que é que o projecto Rapidus pretende? Fugir de um confronto directo e ir para o lado oposto:
  • Chips personalizados e de pequenos lotes: A Rapidus pretende servir nichos de mercado que exigem chips especializados e personalizados, em vez dos chips padronizados de alto volume que a TSMC produz.
  • Flexibilidade e Especialização: Esta estratégia permite à Rapidus alcançar indústrias ou aplicações que necessitem de designs personalizados, como IA, veículos autónomos ou robótica avançada.
  • Inovação localizada: Ao trabalhar com mercados ou sectores específicos, a Rapidus pode potencialmente preencher uma lacuna no ecossistema de semicondutores que a abordagem de alto volume da TSMC pode não resolver. Lembro-me disto na última empresa que trabalhei como funcionário, a produzir circuitos impressos (postal de 2015 e postal de 2012).
Esta abordagem de nicho pode permitir à Rapidus construir uma reputação em tecnologias de ponta e de alto valor acrescentado, sem competir frontalmente com a TSMC. O grande desafio, e daí talvez o título do artigo, a produção de pequenos lotes tem, geralmente, custos por unidade mais elevados, dificultando a obtenção de rentabilidade, a não ser que a Rapidus consiga estabelecer uma posição sólida em mercados com margens elevadas. Claro que outros desafios, mencionados no artigo incluem o recrutamento de pessoal qualificado, a gestão de elevados custos de produção e a obtenção de taxas de rendimento/eficiência competitivas.

Este exemplo do Projecto Rapidus é uma lição valiosa para as PMEs que enfrentam gigantes em mercados dominados por economias de escala. Em vez de tentarem um confronto directo, que muitas vezes resulta numa batalha perdida à partida, as PMEs podem adoptar uma abordagem estratégica semelhante a esta: encontrar um "bypass", uma obliquidade que as permita prosperar em nichos que os players grandes dificilmente conseguem servir.

Ao focarem-se em necessidades específicas e subatendidas, como produtos personalizados, serviços flexíveis ou soluções inovadoras e adaptadas a mercados específicos, as PMEs podem criar valor onde os modelos tradicionais das empresas grandes não conseguem chegar. Esta estratégia não só evita uma competição desleal, como também posiciona as PMEs como parceiros indispensáveis em cadeias de valor que precisam de agilidade e especialização. Ou seja bolas azuis versus bolas pretas.

O exemplo do Rapidus é um bom lembrete de que nem sempre é necessário jogar o mesmo jogo para ser bem-sucedido. Por isso, cuidado com os artigos das revistas com entrevistas a CEOs das empresas grandes e que são promovidos como tendo lições para aplicação directa nas PMEs. Muitas vezes, redefinir as regras ou criar um caminho alternativo é a chave para abrir novas oportunidades e prosperar mesmo em mercados altamente competitivos. Afinal, ser pequeno também pode significar ser ágil, inovador e mais próximo das reais necessidades dos clientes. Que mais PMEs se inspirem neste tipo de visão estratégica!

segunda-feira, novembro 11, 2024

"Kaput: The End of the German Miracle"

No FT de Sábado 9 de Novembro passado li o artigo "The giant humbled" sobre o livro que já tinha encomendado durante a semana, "Kaput: The End of the German Miracle" de Wolfgang Münchau.

A indústria automóvel alemã, particularmente a Volkswagen, é utilizada como metáfora para os desafios económicos e políticos mais vastos do país. Os sucessos históricos e os fracassos recentes realçam questões sistémicas. A Volkswagen, outrora um símbolo da eficiência alemã e das proezas de engenharia, esteve envolvida em escândalos significativos (por exemplo, emissões de diesel) e mostrou fraquezas estratégicas na transição para veículos eléctricos.

Wolfgang Münchau critica as estruturas políticas, económicas e sociais da Alemanha, retratando-as como disfuncionais e resistentes à mudança.

A Alemanha enfrenta desafios como modelos industriais ultrapassados, subinvestimento em tecnologia, um preconceito anti-técnico na educação e ineficiência burocrática. Embora o chanceler Olaf Scholz tenha anunciado um Zeitenwende (um importante ponto de viragem) em resposta às mudanças geopolíticas, Münchau está céptico quanto ao seu impacte.

A influência da Alemanha nas políticas da UE pode ser restritiva, sufocando potencialmente o crescimento e a inovação nos estados membros. Verifica-se um dinamismo crescente noutras partes da Europa, como a Dinamarca e a Polónia, apresentando novos modelos de crescimento económico. Os desafios que a Alemanha enfrenta reflectem-se noutros países que se têm centrado em modelos orientados para a exportação, como o Japão e a China.

E Portugal no meio disto?

Será que pode capitalizar o seu crescente ecossistema tecnológico e atrair investimento em novas tecnologias, aprendendo com as oportunidades perdidas pela Alemanha em áreas como os veículos eléctricos e semicondutores. Será que pode concentrar-se em indústrias especializadas de menor escala que oferecem produtos de elevado valor, evitando as armadilhas da dependência excessiva de um único sector.

Se a Alemanha, enquanto maior economia da Europa, enfrentar uma recessão prolongada, toda a UE poderá registar um crescimento lento, afectando potencialmente as exportações portuguesas e a estabilidade económica. A saúde económica de Portugal está parcialmente ligada ao quadro mais vasto da UE. Um declínio da influência económica alemã poderá reduzir o financiamento ou o apoio a determinadas iniciativas a nível da UE.

Qual a relevância para as PME?

As PME podem capitalizar o fracasso das grandes empresas na adaptação rápida, posicionando-se em nichos de mercado, especialmente em sectores emergentes como as tecnologias verdes e as soluções digitais. As PME podem construir parcerias com instituições académicas e de investigação para promover a inovação, aprendendo com as oportunidades perdidas pela Alemanha na integração dos avanços tecnológicos.

Uma base industrial alemã enfraquecida poderá levar a perturbações nas cadeias de abastecimento europeias, afetando as PME portuguesas que dependem de importações ou componentes alemães.

A instabilidade económica num grande parceiro europeu como a Alemanha pode levar a uma incerteza mais ampla, afectando a procura, o investimento e a estabilidade financeira, que são fundamentais para as PME.

quarta-feira, junho 26, 2024

Estarei a ser cínico-pessimista?

Taleb diz: "No stability without volatility" 

"São necessários mais estimulos financeiros, sobretudo públicos?
O financiamento é necessário mas não pode ser o único instrumento. Os empresários têm que fazer a sua parte. Ser empresário é assumir o risco e a responsabilidade de investir o seu próprio capital ou capital alheio sobre o qual assume a responsabilidade. E este programa de financiamento que está a ser desenhado faz com que os empresários assumam a responsabilidade por este investimento, não é dinheiro grátis. É dinheiro que exige responsabilidade.[Moi ici: Eu traduzo... dinheiro fácil para fogo de artifício ao estilo da Overcube. Quem pode estar contra o investimento no digital? É o futuro, assegurarão os gurus. Só que se calhar ainda precisam de fazer pequenas experiências para descobrir o modelo de negócio. Aposto que suportados no dinheiro do estado vão actuar ao estilo da Webvan]

E para onde deve ser canalizado esse investimento?
Tem que ser feito em áreas que, sobretudo, permitam beneficiar deste mundo digital em que hoje vivemos. Num mundo digital não há países periféricos. Isso significa que, com mais qualificação, com o arrojo dos nossos empresários que pensam num mundo global, é possível conseguirmos, seja nas áreas dos serviços ou do produto, efetivamente, estar no mundo. Nós, em 50 anos não conseguimos construir uma única marca global e paises da dimensao do nosso tem várias. Está na altura de o conseguirmos. E é importante que consigamos que essa marca global, ou essas marcas globais, possam servir de âncora para todo um ecossistema de outras empresas que possam acompanhar essa marca na sua internacionalização." [Moi ici: Eu traduzo, não tem qualquer pista, mas tem de dizer algo e, por isso, fala de marcas. Oh! Não temos uma marca! Vamos construir uma. Só precisamos de investimento suportado pelo estado]

Trecho retirado do JdN de ontem, em ""Num mundo digital não há países periféricos"". 

Entretanto no WSJ de ontem apanhei, "Bosses Know Al Is Big But That's About All":

"The potential of artificial intelligence isn't just flummoxing technology entrepreneurs. Chances are that your boss is standing at the base of the learning curve, too - right next to you. Rarely has such a transformative, new technology spread and evolved so quickly, even before business leaders have grasped its basics.

No wonder that in a recent survey of 2,000 C-suite executives, 61% said AI would be a "game-changer." Yet nearly the same share said they lacked confidence in their leadership teams' AI skills or knowledge, according to staffing company Adecco and Oxford Economics, which conducted the survey.

The upshot: Many chief executives and other senior managers are talking a visionary game about AI's promise to their staff-while trying to learn exactly what it can do.

...

A spring survey of 10,000 workers and executives by organizational consulting and executive search firm Korn Ferry also cited Al as a reason 71% of CEOs and two thirds of other senior leaders said they had "impostor syndrome" in their positions.

"They're uncertain about the impact, they're grappling with how not to fall behind," says Mark Arian, CEO of Korn Ferry's consulting business. "It's hard not to feel like an impostor.""

A história mostra-nos que injecções de capital público frequentemente resultam em desperdício e fracassos retumbantes onde o dinheiro é queimado em projectos sem solidez. Como aquelas pessoas que compram um bruto carrão, mas depois não têm dinheiro para manter o carro. Aparentemente, esse padrão repetir-se-á quando se fala em fomentar a criação de marcas globais a partir de uma visão superficial e sem uma estratégia clara, apenas com o suporte financeiro estatal. 

Não estou a falar de crime, estou a falar de dinheiro fácil.

sábado, agosto 27, 2022

Tanta estupefacção, tantas questões ...


Não há maneira desta aberração sair da minha cabeça este Verão, "Norte da Europa vive à custa da agricultura intensiva portuguesa". Um produto típico do ecossistema coordenado pelos Desventuras e Zés Reis da academiade Coimbra.

Este texto gera-me tanta estupefacção, tantas questões. Vamos à primeira:

  • O sentimento de locus de controlo no exterior
Há anos que milito contra a floresta intensiva, por isso, fui fundador da Quercus (outra Quercus mais ingénua e ligada à Natureza e não o actual lobby político), contra a agricultura intensiva (basta pesquisar aqui no blogue o que escrevi acerca do azeite, das amêndoas, da agricultura de joalharia... até o que escrevi acerca de Jaime Silva, ministro da Agricultura de Sócrates e detestado por todos, a começar pelos socialistas, mas defendido aqui: Ter razão antes do mainstream é tramado. Recordo o que escrevi aqui acerca da destruição da marca Portugal no que à agricultura diz respeito, com a construção do Mar de Plástico do lado de cá da fronteira. Ver A marca Portugal.

O meu ponto aqui é: as asneiras são nossas.

A académica posiciona o problema como se fôssemos escravos sem vontade própria, obrigados pelos orcs do Norte da Europa a produzir estes produtos. 

Não! Nós é que somos os responsáveis por destruir a nossa terra, por abastardar a marca Portugal -Todos vão perder - A má moeda expulsa a boa moeda

Ter o locus de controlo no exterior é típico das so-called elites tugas. Nunca é nada com elas, é sempre culpa dos outros. Assim, nunca precisam de fazer um acto de contricção. No entanto, assim, nunca aprendem com os erros que cometemos como sociedade. Há sempre um Passos a quem atribuir as culpas.

segunda-feira, março 14, 2022

Subir na escala de valor, um exemplo


Ontem no postal "Olhar o touro de frente" escrevi acerca do futuro para as explorações leiteiras:
"Trabalha-se o numerador. Segue-se a lição de Marn e Rosiello, há que subir preços da única forma que um mercado competitivo permite, apostando em produtos de maior valor acrescentado, apostando na concorrência imperfeita. Não sei, confesso a minha ignorância, mas talvez criando experiências empresariais que desenvolvam produtos tecnológicos ou farmacêuticos à custa do leite, não necessariamente alimentares. Recordo as escamas do bacalhau islandês e as folhas das videiras."

Sim, eu sei o que costumo escrever aqui: os macacos não voam, trepam às árvores!

Entretanto, estava a preparar-me para sair para a Missa de Domingo quando deparo com este texto, "Kirin looks beyond beer with $870mn push into healthcare and pharma". Um produtor de cerveja, a braços com a quebra do consumo decorrente do Inverno demográfico e da crescente imagem negativa das bebidas alcoólicas no Japão, quer usar a techmogia e know-how sobre o processo de fermentação alcoólica em experiências biotecnológicas, para dar um novo rumo à empresa.

"Kirin will invest about ¥100bn ($870mn) in its healthcare and pharmaceutical businesses over the next three years, as the Japanese brewer pushes beyond the shrinking beer market at home and setbacks to its core businesses in Asia.

...

'If the beer segment would grow forever, it would've been better for us to focus on it, because making a challenge in a new business is very tough," he said.

...

'We want to turn Kirin into a fermentation biotechnology company. We need to grow a new business while the beer segment is still healthy," he added.

...

Kirin wants to use the technology of the beer-making process, in which sugars are converted by yeast to alcohol, in its biotech ventures."

Suspeito que uma abordagem destas, "making a challenge in a new business is very tough", nunca será seguida numa cooperativa sujeita a um processo eleitoral periódico. Uma abordagem destas é arriscada, não garante sucesso, e requer pensamento no longo prazo, disciplina e sangue frio. Uma abordagem destas requer passar poder, gradualmente, para outros "nerds", requer abertura a outro tipo de ecossistema de partes interessadas. Claro que os poderes estabelecidos reagirão, não por maldade, mas porque são humanos. Recordar:
"I'd argue that processes critically important for an organization's existence define its evolution. If something is existentially important, those providing it will have more leverage. And former strongmen become irrelevant. ...

Ergo. Economic processes aren't neutral power-wise. That's a major factor in the evolution of power structures. That would also explain why many in power would sabotage economic development. If it's too complex for them to administer, it will change the power balance, not in their favor."

 

terça-feira, dezembro 28, 2021

"esta obsessão dos cêntimos"

No livro, "Strategy Pathfinder" encontrei esta imagem:
Ainda acrescentaria algumas entidades a este ecossistema. Por exemplo, os influenciadores, ou os prescritores.

Voltei a recordar-me desta imagem ao ler, "Fábricas cortam intermediários para chegar ao consumidor", um tema já tratado recentemente em "É preciso trabalhar na originação de valor.". Uma evolução positiva, mas que me deixa com algumas reticências. Sorrio porque esta gente está a seguir um conselho antigo deste blogue, "Outra forma de David bater Golias". 

No entanto, o tema que queria sublinhar neste postal é outro:
"“Como conseguimos mais do que vender produtos, vender conceitos, estatuto. Qualquer coisa mais que nos preencha, além do produto. E não tenhamos medo de falar do preço. Em Portugal há sempre um bicho papão quando chegamos a esse momento. Se andamos com esta obsessão dos cêntimos, não vamos sair do mesmo lugar. Portugal vive aprisionado no preço”, desabafa."

Sim, a concentração no denominador, na eficiência, no custo, em vez da concentração no numerador, no valor:

Enquanto esta revolução mental não for feita por uma massa crítica ...

BTW, não esquecer o conselho dos velhos estóicos, nunca apostar mais do que se pode perder sem arruinar o empreendimento, "Tail risks can screw you up".

domingo, novembro 28, 2021

O momento...

O Miguel Pires recomendou-me a leitura de "The software engineer will fix your car now".

Numa primeira leitura, o que me chamou a atenção, foi o momento de oportunidade ou ameaça para os muitos intervenientes no ecossistema do automóvel à base de combustíveis fósseis:
  • fabricantes de componentes;
  • fabricantes de bateris;
  • fabricantes de interiores;
  • oficinas;
  • postos de abastecimento;
  • software,
  • ...
Seria interessante ver as análises de contexto nas empresas deste ecossistema.

Quantas se focam nas oportunidades? Quantas se focam nas ameaças? Quantas estão distraídas?

quinta-feira, novembro 25, 2021

Trabalhar com ecossistemas

Um excelente webinar sobre o tema dos ecossistemas. Ouvi-lo, e recordar projectos bons que deram resultados fantásticos, mas também os projectos que nunca ganharam luz verde para arrancar ... como o da imagem daqui.


Se não tiver muito tempo, veja pelo menos o trecho entre os 23 e os 33 minutos. Ás tantas o autor diz algo que há muito tempo penso: desenvolver um ecossistema é sobretudo desenvolver uma estratégia de alinhamento.

quarta-feira, setembro 01, 2021

Clientes versus concorrentes

Há dias citei aqui e comentei:

It is axiomatic that a first step in a firm's formulation of competitive strategy is the identification of its major competitors (e.g., Porter, 1980). [Moi ici: Não penso assim, não sigo este axioma. Tenho receio dos Dick Dastardly desta vida, e dos motards. Prefiro imaginar uma paisagem competitiva cheia de picos. Prefiro começar por determinar quem são os clientes-alvo e qual o ecossistema que deve ser mobilizado para os seduzir, satisfazer e desenvolver]

Entretanto, ontem li "Research in Cognition and Strategy: Reflections on Two Decades of Progress and a Look to the Future" de Sarah Kaplan e publicado no Journal of Management Studies 48:3 May 2011, e voltei a pensar no mesmo tema. A autora faz um trabalho muito interessante a descrever a evolução da investigação sobre as categorias de conhecimento. Outra vez um foco na categorização dos concorrentes. Por exemplo:

"Firms from other parts of the UK and other countries, even if they produced fully-fashioned knitwear at similar price points, were seen as being in different businesses or only ‘somewhat’ competitors

...

‘Cognitive oligopolies’ exist because competitors define each other as such.

...

They showed that managers based their categorization of competitors on a hierarchical understanding of the product offerings

...

Managers of larger hotels categorized competitors over a wider range of prices than did those of small hotels

...

The Scottish knitwear study showed how the categorization of different competitors as direct rivals affected the strategic choices and actions of firms."

Enquanto lia isto pensava em como seria se os autores citados tivesse optado por trabalhar com base na categorização dos clientes. À noite fui à minha biblioteca e saquei o meu velho "Managing for Results" de Peter Drucker, publicado em 1986 e fui ao capítulo 6, "The Customer Is the Business" ... continua tão actual e tão fresco:

"Business is a process which converts a resource, distinct knowledge, into a contribution of economic value in the marketplace. The purpose of a business is to create a customer. [Moi ici: O propósito não é o de ganhar aos concorrentes] The purpose is to provide something for which an independent outsider, who can choose not to buy, is willing to exchange his purchasing power. And knowledge alone  (excepting only the case of the complete monopoly) gives the products of any business that leadership position on which success and survival ultimately depend.

...

1. What the people in the business think they know about customer and market is more likely to be wrong than right. There is only one person who really knows: the customer. Only by asking the customer, by watching him, by trying to understand his behavior can one find out who he is, what he does, how he buys, how he uses what he buys, what he expects, what he values, and so on.

2. The customer rarely buys what the business thinks it sells him. One reason for this is, of course, that nobody pays for a “product.” What is paid for is satisfactions. But nobody can make or supply satisfactions as such—at best, only the means to attaining them can be sold and delivered.

...

3. A corollary is that the goods or services which the manufacturer sees as direct competitors rarely adequately define what and whom he is really competing with. They cover both too much and too little.

...

Because the customer buys satisfaction, all goods and services compete intensively with goods and services that look quite different, seem to serve entirely different functions, are made, distributed, sold differently—but are alternative means for the customer to obtain the same satisfaction.

...

5. The customers have to be assumed to be rational. But their rationality is not necessarily that of the manufacturer; it is that of their own situation."

sábado, agosto 28, 2021

Vivemos neste fluido de percepções

Atrai-me esta percepção que vivemos num mundo assente neste fluido de percepções resultantes de interpretações subjectivas que se objectificam através de acções e comportamentos. Abre muito mais alternativas, aliás, há sempre alternativas. Nós é que podemos não querer tentar algumas delas, mesmo quando as outras falham. No caso das empresas, o dinheiro pode acabar antes de termos tentado a que ia transitoriamente resultar. Já não sei se foi com Kahneman ou Gigerenzer que li sobre como dois adeptos de clubes diferentes, de boa-fé, conseguem olhar para a mesma realidade e ver coisas diferentes. Por isso, um deles escreveu: a realidade é o que vemos, nada mais! 

E o que vemos é o que o nosso trajecto de vida nos permite ver. Se estivermos abertos e atentos, podemos intuir novas possibilidades de interpretar a realidade e reformular a actuação.

"In this article we argue that one important link between group-level and firm-level competitive phenomena are the mental models used by key decision makers to interpret the task environment of their organization.

...

material decisions ultimately reflect the intuition and cognitive constructions of decision-makers. At a cognitive level, business competition must be analysed in terms of the mental models of decision-makers and how such mental models lead to a particular interpretation of the competitive milieu.

...

The interpretive approach rests upon four long-standing assumptions. First, activities and structures of organizations are assumed to be determined in part by the micro-momentary actions of their members. Second, such actions are assumed to be based upon an information-processing sequence in which individuals attend to cues in the environment, interpret the meaning of such cues, and then externalize these interpretations via concrete activities. Third, it is assumed that 'meaning' is problematic, and that individuals must construct actively an interpretation by linking received cues with well-learned and/or developing cognitive structures. Finally, individuals are assumed to possess a reflective capability such that they are able to verbalize at least the contents of their interpretations if not the processes through which such interpretations were generated. Taken together, these four assumptions portray human activity as an ongoing input-output cycle in which subjective interpretations of externally situated information become themselves objectified via behaviour.

...

Through processes of induction, problem-solving, and reasoning, decision-makers construct a mental model of the competitive environment which consists minimally of two types of beliefs; beliefs about the identity of the firm, its competitors, suppliers and customers, and causal beliefs about what it takes to compete successfully within the environment which has been identified. 

...

Just as mental models are determined by cues from transactions within the value chain, such transactions are themselves partially determined by the cognitive constructions of organizational decision-makers. Beliefs about the identity of competitors, suppliers, and customers focus the limited attentional resources of decision-makers on some transactional partners to the exclusion of others.

...

the strategic choices of individual firms take place within the context of many shared beliefs about how and with whom to engage in transactions in the marketplace.

...

It is axiomatic that a first step in a firm's formulation of competitive strategy is the identification of its major competitors (e.g., Porter, 1980). [Moi ici: Não penso assim, não sigo este axioma. Tenho receio dos Dick Dastardly desta vida, e dos motards. Prefiro imaginar uma paisagem competitiva cheia de picos. Prefiro começar por determinar quem são os clientes-alvo e qual o ecossistema que deve ser mobilizado para os seduzir, satisfazer e desenvolver]

Trechos retirados de "Competitive Groups as Cognitive Communities: The Case of Scottish Knitwear Manufacturers" publicado no Journal of Management Studies em Julho de 1989.



segunda-feira, agosto 09, 2021

Recordar que o seu campeonato tem de ser outro

Antes de avançar neste postal duas ressalvas:

  • Não tenho qualquer informação do terreno, esta experiência de 1987 já estará desactualizada, ou não. 
  • Uma boa estratégia tem de ser uma estratégia e ser boa. Ser uma estratégia é mais fácil de testar. Basta recordar o clássico "Mais vale ser rico e com saúde do que pobre e doentio". Assim, se outros olhando para uma estratégia são capazes de visualizar uma alternativa, quer dizer que estamos perante uma estratégia. Saber se essa estratégia é boa ou não, já depende da capacidade de execução e da resposta do mercado.

Ao longo dos anos, aqui e na minha vida profissional, abordo com frequência alguns temas:

  • o ecossistema da procura
  • os clientes-alvo
  • Mongo versus a comoditização.
Este fim de semana li "Imperial e Valor ambicionam ser o "maior player ibérico de chocolate"" e ficou-me um travo amargo na boca. Nem uma vez li "consumidores", "paixão por chocolate", e mesmo "clientes" aparece uma vez como substantivo colectivo escrito pelo autor do artigo. O negócio são números e quota de mercado. 

Pela leitura do artigo percebe-se que o modelo de negócio está focado nos donos das prateleiras, são esses o cliente-alvo. Fair enough, escolha legítima. Neste postal de 2017 anotei que até a Nestlé deitou a toalha ao chão nos EUA. As empresas que querem liderar via quota de mercado precisam de apontar ao cliente menos exigente, menos conhecedor, precisam que o cliente seja plancton. 

O que é que eu prego às PMEs desde 2006? Volume is Vanity, Profit is Sanity.

Talvez esta organização tenha acesso a fundos que financiem o crescimento necessário para combater no negócio do preço. Os decisores de PMEs que leiam este artigo devem recordar que o seu campeonato tem de ser outro. BTW, não esquecer aquela frase na coluna das citações:
"When something is commoditized, an adjacent market becomes valuable"

terça-feira, julho 06, 2021

"the need to consider the interests of a broader range of stakeholders"

"respondents indicated which stakeholders were explicitly considered during the strategic planning process. We presented them with a list that included five specific groups — customers, employees, partners, communities, investors — and also invited them to name any other stakeholders (such as regulators) relevant to their specific business.

It was surprising that only 11% of respondents indicated that their strategic planning process explicitly considered the perspective of all the identified stakeholder groups. While consideration of customer needs was nearly universal, only 58% of respondents said that the needs of employees were explicitly considered, 35% said that partners were considered, and 27% considered their communities.

...

Restricting your focus solely to the needs of customers is like trying to solve a puzzle with many of the key pieces missing. A strategy development process that overlooks the interests of all relevant stakeholders creates blind spots about the viability of your strategy

...

The goal of strategy has always been to create value for customers and investors in a way that cannot be easily copied and that enables a business to earn an attractive margin. But business leaders now face two additional requirements: the need to consider the interests of a broader range of stakeholders, and the ability to do so under conditions of change rather than stability

Our research indicates that the majority of companies should ignore the siren voices urging them to either double down or to pivot. For these companies, the priority is rather to focus their innovation and leadership efforts on reimagining the activities used to deliver value to customers and other stakeholders in order to improve the relevance and distinctiveness of their strategy. Then do it again."

Algo estranho para quem há anos que promove os ecossistemas da procura:

Trechos retirados de "Most Businesses Should Neither ‘Pivot’ nor ‘Double Down’


sexta-feira, maio 21, 2021

O ponto âncora

Já em tempos publiquei esta imagem:

Agora acrescentei-lhe o foco nas estruturas, sistemas e cultura.

Ao reler “What's Your Competitive Advantage?” de Paul Raspin a minha mente continua a concordar com a leitura de 2019, uma estratégia que não se traduz em acções é treta. Contudo, agora emergiu-me outra perspectiva, a associada a um postal de 2015, "Do concreto para o abstracto e não o contrário".

Trabalho para PMEs!
A PME típica não pode começar pelo abstracto, pela estratégia.
A PME típica tem de começar pelo que tem à mão.

Tendo em conta as actuais estruturas, sistemas e cultura da PME o que é que resulta? Há alguma parte do negócio que já seja competitiva, ou tenha potencial para o ser?


Esse é o ponto âncora!!!
Já escrevi sobre isto: nascemos e algures tomamos consciência que existimos:
"só depois de existirmos é que tomamos consciência que existimos.

O que quero dizer com isto?

Quero dizer que muitas empresas simplesmente existem. A vida a algumas até lhes corre bem, outras vivem aquilo que Thoreau descreveu como "lives of quiet desperation". Muito trabalho e pouca margem, muito esforço e pouco retorno.

A dor do fracasso faz com que uma minoria, páre, reflicta sobre o que lhe está a acontecer, e procure subir na escala de abstracção para arranjar uma alternativa que melhore os resultados, que aumente o retorno do esforço. Outros, têm empresas que estão a resultar, que até estão a ter bons resultados, mas conseguem que dentro deles emirja a questão: Por estamos a ter sucesso? A estes chamo de 'batoteiros'. Os 'batoteiros' são os que reconhecem que até têm uma receita que está a resultar mas não percebem porquê. E, porque querem sentir o controlo sobre a coisa, porque querem fazer aumentar o rendimento do que fazem, procuram tomar consciência do que é que está a resultar.

Acredito que muitas empresas não tem consciência de qual é, ou qual deve ser a sua 'receita' para o sucesso. Não há que ter vergonha dessa tomada de consciência. Afinal não é o que acontece connosco como seres humanos? Primeiro existimos e só depois tomamos consciência que existimos."
A partir do que está a resultar, vê-se pelos resultados. Ou a partir do que tenho, não tenho mais nada, o que poderá dar-me resultados?

Olhar para o que suporta ou pode suportar:
Subir na escala de abstracção para perceber o que está na base do sucesso actual ou poderá estar na base de um sucesso futuro assente no que tenho. Olhar para o contexto e para o ecossistema de um ponto de vista sistémico para perceber as "leis" que devem ser seguidas: reforçando o que já se faz (o meu clássico fazer batota), ou mudando a agulha para passar a fazer.

Agora, ciente do universo onde se está e das suas "leis" olhar para a frente, para o concreto, para o que precisa de ser feito, para o que precisa de ser transformado:
O ponto de partida é o ponto âncora. O que tenho? O ponto de partida da "effectuation":
"Bird in Hand Principle – Start with your means. Entrepreneurs start with what they have: Who they are, what they know and who they know."


sábado, março 06, 2021

Lucro? E para quê e para quem?

O amigo João mandou-me este vídeo por Messenger.


Comentar vídeos destes numa rede social é meio caminho andado para equívocos e extremar de posições. Meia dúzia de caracteres de cada vez não chegam. Assim, aqui vai via blog uma tentativa de expressar a minha opinião.

1º O lucro é vital para as empresas. As empresas têm de ter lucro, ponto!!!
Não é só no Portugal socialista que esta ideia tem de ser defendida e proclamada. Até na Alemanha é preciso fazê-lo. Daí que está agora a fazer um ano que um dos meus heróis, Hermann Simon, publicou um livro com o título "Am Gewinn ist noch keine Firma kaputtgegangen". Já li algures Hermann Simon, numa entrevista, referir que o título tem a ver com um ditado alemão. Algo como, nunca ninguém ficou pobre por ganhar dinheiro.

Quantas vezes, desde 30 de Julho de 2006,  já escrevi aqui no blogue aquela expressão?

"Volume is Vanity
Profit is Sanity"

Por exemplo, em Portugal os economistas estão sempre a falar na necessidade imperiosa das empresas crescerem, para serem mais rentáveis, para serem mais produtivas. Hermann Simon diz-nos:
"In Germany people believe that the net profit margin, after all costs and all taxes, is 23%. The real margin over many years is 3.4%. Similar in the US. The believe is 32% net profit margin, the reality is 4.9%. The record holders are the Italians. They think that the margin is 38%, the reality is 5%. There are two messages: Real net margins are 5% or less, typically. Furthermore, people overestimate profit margins by 600%. That’s unbelievable."
E:
"large corporations are not more profitable. The median of the net margin of the Fortune Global 500 is 4.49%. This tells us that half of these giants earn less than 4.5%. Most likely they don’t make an economic profit, meaning that they don’t recover their cost of capital. That’s the case for half of the Fortune Global 500. The public perception is misguided by a few profit stars.
...
profit always depends on the combination of three profit drivers and there are only those three: price, volume and cost." 

Sem lucro as empresas são como Portugal, um país sem autonomia, sempre a passear-se pelos areópagos internacionais como pedinte profissional.

2º Para que servem os lucros?

A maior parte das pessoas pensa que o lucro é importante para remunerar os accionistas. Sim, o lucro serve para remunerar o risco de quem empreende. No entanto, as empresas que se ficam por isso não têm futuro.

Final dos anos 80(?) estava eu em Valongo, numa sala à espera de uma entrevista de emprego na UTA e lia um dos livros de Peter Drucker. Não recordo o título, tenho e li tudo o que encontrei dele, mas nesse livro Drucker apresentou-me a mim, engenheiro com formação básica de gestão, mais um austríaco que eu não conhecia: Joseph Schumpeter.

Com Schumpeter aprendi que o lucro é fundamental para pagar os custos do futuro! Ainda esta semana sorri e recordei esta ideia. A trabalhar numa empresa, estivemos a sistematizar a metodologia de qualificação inicial de subcontratados. A empresa referia-se a eles como fábricas, contudo também recorrem a outros subcontratados que não podem ser apelidados de "fábricas". Então, apostarm no termo "unidade de produção". Gente mais nova não tem essa memória, mas eu tinha mais de 10 anos quando foi o 25 de Abril de 1974, na minha cabeça apareceu logo a expressão "unidade colectiva de produção". Tinham um pecado original, focavam-se na gratificação imediata e nunca acumulavam capital para pagar os custos do futuro. Recordar que este Schumpeter é o mesmo que nos apresentou a destruição criativa. Quem não quer ser destruído tem de investir no seu futuro.

3º Como se obtém o lucro?

Associada a esta pergunta está uma outra: A parte do lucro que se distribui, por quem sem se distribui? Pelos accionistas ou pelos stakeholders (partes interessadas)?

E aqui, no vídeo, refere-se a ideia do Milton Friedman sobre a importância do lucro e da sua maximização. Esta ideia de Milton Friedman expressa em “The Social Responsibility of Business is to Increase its Profits” está ultrapassada. Ao longo dos anos que escrevo sobre isso, mas sem criticar Friedman. Há muitos anos que uso esta imagem aqui no blogue:

A economia é muito diferente da física ou da química. Acho que Friedman escrevia para um tempo que já passou. Recordo que a Economia não é como a Física newtoniana ou galilaica.

Começo o meu livro:
Com uma explicação sobre a grande revolução ocorrida no mundo ocidental algures na década de 70 do século passado. Por essa altura, a oferta passou a ser maior que a procura. E quando isso aconteceu... foi mesmo uma revolução.

Quando a procura é maior do que a oferta quem manda é quem produz. Quem produz pode concentrar-se em ser eficiente porque tudo o que "vomitar" tem saída garantida.

Quando a procura é menor do que a oferta quem manda é quem compra. Então, não basta produzir! Há que orquestrar um ecossistema de parcerias, de partes interessadas, para que todos ganhem:
"Quanto mais crescer o interesse e vantagem em trabalhar a nível de ecossistema, em que os ecossistemas que ganham são os que maximizam o valor a ser criado pelo conjunto dos actores, e não por um em particular."

Acredito que Friedman hoje pensaria de forma diferente. Hoje, o lucro tem de ser visto como um objectivo obliquo. É tão absurdo, aos meus olhos, eleger o lucro como um objectivo directo como ouvir um político eleger como objectivo directo a redução do desemprego. Dá sempre asneira.

Como objectivos oblíquos, o lucro ou a redução do desemprego são consequências de outras coisas. O lucro é uma consequência de clientes que se ganham, clientes satisfeitos e de clientes que continuam a trabalhar connosco. 

Ganhar, satisfazer e desenvolver a relação com os clientes é fruto de se trabalhar bem a montante: E quem trabalha?

"Cada vez mais, o sucesso de uma empresa exige que se tenha em consideração as necessidades e expectativas de outras partes interessadas que podem contribuir para a sustentabilidade do desempenho. É claro que os clientes são uma parte interessada, afinal são eles que nos dão o dinheiro com que pagamos as contas, preparamos o futuro e suportamos a impostagem. No entanto, podemos identificar outras partes interessadas:" 


O conceito de ecossistema é-me muito caro, uso-o na consultoria desde 2004, não porque li, mas porque emergiu no meu trabalho.
Primeiro postal sobre o tema em Março de 2007

Afinal sou um arquitecto de paisagens competitivas.

Portanto, concluo que o vídeo acaba por ter uma mensagem demasiado simplificada, talvez mesmo simplista.




sábado, fevereiro 20, 2021

"You'll walk alone!"

"António Saraiva pede estratégia ao Governo “para lá da crise”"

Este é o título que o caderno de Economia do Expresso de ontem usa num comentário a uma carta do líder da CIP aos empresários associados. Portanto, é o governo que tem que dar a estratégia às empresas para que elas encontrem o El Dorado?

"“Portugal não pode conformar-se com o crescimento anémico das últimas duas décadas, em que ano após ano somos ultrapassados no ranking europeu do produto interno bruto (PIB) per capita.” [Moi ici: Nunca o ouvi comentar as proclamações do governo com a baboseira de que estávamos a crescer mais do que a média europeia] Por isso, defende que 2021 “é a oportunidade para darmos um ‘abanão’ ao nosso modelo de crescimento, à forma como é visto o mundo dos negócios e nos tornarmos um país mais competitivo”, [Moi ici: Será que ele faz ideia do que é isto de um país mais competitivo? Os países não competem, escrevia o velho e são Krugman. As empresas é que competem. Como é que a economia de um país (somatório das suas empresas) fica mais competitiva? Ah! Se Saraiva estudasse o ressurgimento finlandês após a queda da União Soviética... aprenderia aquela frase na coluna das citações ali ao lado "In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants."  Imaginam Saraiva dizer aos associados da CIP que um país mais competitivo significa que alguns, (Poucos? Muitos?) dos associados têm de ser expulsos do mercado por concorrentes mais competitivos. Imaginam mesmo?] frisando que “a ambição está  muito longe de ser o regresso ao passado: o objetivo é um novo ciclo de desenvolvimento sustentado”,

...

“Tão ou mais importante do que avaliar a situação e propor medidas no imediato é o futuro. É preciso ter uma estratégia de desenvolvimento [Moi ici: Portanto, uma estratégia de desenvolvimento para o país tem de ser top down, uma espécie de master plan elaborado por uns iluminados lesboetas, sem contacto com a realidade para lá do ecossistema das carpetes e biombos dos escritórios. E tem de ser um documento único? ... E o que é válido para o sector A também é válido para o sector B? E dentro do sector C, o que é válido para a empresa i também é válido para a empresa ii e para a empresa iii? Isto parece-me conversa de gente perdida que não tem a minima noção de como sair do buraco e pede a outrém uma corda para o tirar de lá] e olhar o país para lá da crise”"

...

"a CIP está a “preparar um documento estratégico que convoque a todos para a necessidade de  assumirmos, de uma vez por todas, a necessidade de o país ganhar competitividade, prosseguir o desenvolvimento, ter mais e melhor investimento e emprego”, [Moi ici: Catequese... prometer um mar de rosas... e os sacrifícios? Toda a gente quer ser rica e ter saúde, ninguém quer ser pobre e doentio. Azar, ter estratégia é fazer sacrifícios. Onde é que Saraiva escreve sobre a necessidade de os fazer? Onde escreve sobre a necessidade de fazer escolhas dolorosas?] escreve na missiva aos empresários. 

...

Saraiva defende “um pacto social para o crescimento, que inclua a política de rendimentos, os eixos da competitividade a política fiscal, revisitando a política fiscal e dando-lhe previsibilidade”.[Moi ici: Às segundas, terças e quartas pede apoios ao governo, às quintas, sextas e sábados protesta contra o nível da carga fiscal. Blahblahblahblah só lugares comuns. Por que terá escrito a carta? Para comunicar estes lugares comuns?]  E remata: “Temos de fazer o caminho de uma nova especialização do nosso modelo de desenvolvimento. Isto exige estratégia e a aposta na diversificação de sectores. Não podemos assentar num único sector, como tem acontecido com o turismo. Queremos que o ministro da Economia seja o arquiteto da recuperação e as empresas farão, como têm feito, o seu trabalho.”" [Moi ici: O quê? O ministro da Economia? Arquitecto da recuperação? E o trabalho das empresas é seguir as orientações desse suposto iluminado? Acham isto normal? O que é isto? É isto a liderança da CIP? Portanto, o que as empresas precisam é de pactos... Eu tenho uma visão muito mais cínica da coisa. As empresas têm de se amanhar elas próprias. Os governos são como os Hunos, uma incomodidade que se traduz no pagamento forçado de um tributo. Até podemos pedir aos Hunos que baixem o tributo porque o ano foi mau, mas não esperem que sejam eles a arquitectar a recuperação de coisa nenhum. O negócio deles é extrair, não é criar.]

Eu se fosse jornalista, depois de ler a carta, perguntaria a António Saraiva que vestisse o papel de arquitecto da recuperação e que listasse três medidas concretas que ajudassem o país a ser mais competitivo.

Aposto que não conseguiria fugir de generalidades. 

Não! Por favor, ponha o trem de aterragem, quero sentir o chiar dos pneus, quero sentir o cheiro da borracha dos pneus a tocar na pista do aeroporto. Três medidas concretas que supostamente ajudem o país a ser mais competitivo.

Lamento, a minha missiva para os empresários seria outra. Até podia começar com a canção dos adeptos do Liverpool:

"When you walk through a storm

Hold your head up high

And don't be afraid of the dark

At the end of the storm

There's a golden sky

And the sweet silver song of a lark"

Mas o refrão seria outro: "You'll walk alone!" 

Não confiem em apoios pedo-mafiosos do governo de turno. Não confiem em estratégias elaboradas por quem não vos conhece, nem conhece os vossos clientes, não externalizem a tomada de decisões sobre o futuro da vossa empresa. 

O quanto António Saraiva podia aprender com as toutinegras de MacArthur ou as paramécias de Gause.