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sexta-feira, dezembro 12, 2025

Em Portugal, a conversa de café é a norma (parte V)

No passado dia 4 de Dezembro último, o FT publicou um artigo muito relevante para um certo tipo de conversas que costumamos ter aqui no blogue, "Traditional industries trail in Taiwan's AI boom".

O artigo descreve a profunda divergência económica dentro de Taiwan: enquanto o sector tecnológico — especialmente semicondutores e hardware ligados à inteligência artificial — impulsiona um crescimento económico impressionante e exportações recorde, as indústrias tradicionais enfrentam uma crise silenciosa.

"Taiwan is enjoying an artificial-intelligence-fuelled boom that pushed GDP growth above 8 per cent in the third quarter."

"Demand for Al hardware and electronics sent Taiwan's exports soaring 23 per cent year on year in the three months from July to September."

"But machinery and other traditional manufacturers have not been feeling much benefit."

Empresas de maquinaria, componentes mecânicos, têxteis, metalomecânica e outros sectores “não-tech” sofrem com três pressões simultâneas: custos em alta, encomendas em queda e competição feroz da China.

"All of our costs are going up. A lot of our customers have gone out of business."

"Higher input prices imposed by US president Donald Trump have eroded profitability."

"Some buyers of metal and electronics goods who previously showed strong demand... have paused forecasts."

"Traditional manufacturers... are suffering increasing competition from lower-cost rivals in China."

"Taiwanese manufacturers are facing rising competition from China."

Apesar de o PIB ter crescido mais de 8% no terceiro trimestre, muitos industriais afirmam que “a economia está má”porque não sentem qualquer benefício deste boom tecnológico. Os lucros concentram-se numa minoria de empresas de semicondutores, enquanto milhares de PME tradicionais atravessam um período de margens comprimidas, falta de investimento e deslocalização de clientes.

"The economy's pretty bad," Chung said recently in the packed, dusty aisles of his factory. 

"We don't feel any benefit."

"Taiwan's economy grew... 8.21 per cent year on year... but many manufacturers say they are struggling."

Por um lado, o desempenho dos líderes da formação de Flying Geeses:

"Taiwan's tech industry has proved a global powerhouse... TSMC produces almost 90 per cent of the world's most advanced semiconductors."

"Profit margins for Taiwanese tech companies are usually quite high..."

Por outro, o desempenho dos sectores tradicionais:

"Profit margins for Taiwanese manufacturers are usually quite low," Kan said.

"Our customers have gone out of business." 

"Manufacturers... are suffering increasing competition from lower-cost rivals in China."

"Some buyers... have paused forecasts, fearing that traditional manufacturers' difficulties... might weigh heavily."

"Taiwan's non-finance, non-technology business confidence index has fallen more than 53 per cent this year."

Há tantos ângulos para poder abordar este artigo e sobre o que ele significa. Por exemplo:

  • A divergência entre sectores de baixa e alta produtividade (Parte I)
  • A importância dos sectores estrangeiros e o efeito de spillover (Parte II)
  • A mudança da composição dos sectores e o papel do IDE (Parte III)
  • Os riscos de “zombies”, proteccionismo e apoios que atrasam a economia (Parte IV)
  • O papel do investimento estrangeiro transformacional - volto a 2022 ou a 2024.
Continua.

terça-feira, outubro 28, 2025

TSMC Plans to Start Construction of 1.4nm Fab on November 5

Mão amiga mandou-me "TSMC to Begin Construction of 1.4nm Fab on November 5".

A TSMC vai iniciar a construção da sua fábrica de 1,4 nm em Taichung, Taiwan, no dia 5 de novembro de 2025. Este projeto envolve um investimento de cerca de 49 mil milhões de dólares e será um dos maiores da empresa até hoje. A fábrica deverá iniciar a produção em 2028, marcando a liderança da TSMC na corrida global pelos nós mais avançados da indústria de semicondutores, essenciais para aplicações como inteligência artificial, computação de alto desempenho e dispositivos móveis de última geração.

"The expansion takes place against the backdrop of intensified competitive pressure. Intel is advancing its 18A processes in Arizona, while Samsung is investing in High -NA EUV for its 2 nm line in South Korea. Additionally, NVIDIA and SoftBank have invested in Intel to accelerate its process development - a signal to the market that TSMC does not leave unanswered

With this move, TSMC pursues a clear strategy: to maintain its technological leadership in high-performance processors. Concentrating 1.4 nm production in Taiwan underscores its aim to combine production security and innovation dynamics at its home base. However, the international competition forces continuous adaptation-both technologically and geographically."

Imagino o impacte na produtividade agregada de Taiwan e nos salários. Recordo, "A dolorosa transição ao vivo e a cores".




sexta-feira, outubro 03, 2025

Tratados como Figos (parte II)

Parte I.

Como é que uma empresa têxtil consegue operar no Japão? Olhemos para a imagem do Flying Geese:


O Japão é o país A. Em 1950 era o maior exportador mundial de têxteis.

Nas décadas de 1950 e 1960, o Japão tornou-se o maior exportador mundial de têxteis, empregando mais de 1,3 milhão de trabalhadores em dezenas de milhares de fábricas. A proposta de valor era simples e directa: produção em massa a baixo custo, assente no algodão, na seda e, cada vez mais, em fibras sintéticas como o nylon e o poliéster. O grande objectivo era exportar para os Estados Unidos e para a Europa, ao mesmo tempo que o consumo interno aumentava com a prosperidade do pós-guerra.

Nos anos 1970 e 1980, o sector entrou em fase de maturidade, com cerca de 60 mil empresas e 1,1 milhão de trabalhadores. Perante a concorrência crescente da Coreia do Sul e de Taiwan, o Japão reposicionou-se: deixou de apostar apenas no volume e procurou competir pela qualidade e pela diferenciação. Investiu em fibras químicas e tecidos técnicos, manteve a liderança em inovação, mas começou a sentir o peso das restrições comerciais impostas pelo Ocidente. Uma Nota: O "ataque" às empresas do sector têxtil é feito em duas frentes: a externa com a concorrência de países mais baratos; e a interna com a concorrência de outros sectores para "roubar" trabalhadores. E esse é o significado da evolução horizontal para cada país no esquema dos Flying Geese. A concorrência internacional não permite a um sector acompanhar os outros nos salários porque não consegue aumentos de produtividade que os sustentem. O sector encolhe porque perde mercado com a concorrência internacional e porque perde trabalhadores.

A partir da década de 1990, com o colapso da bolha económica e a aceleração da globalização, o sector entrou em crise profunda. O número de trabalhadores caiu para 600 mil em 1999 e para menos de 250 mil em 2015. A maior parte da produção em massa foi deslocalizada para outros países da Ásia, e o Japão passou a ser importador líquido de vestuário. Para sobreviver, as empresas que resistiram tiveram de apostar em produtos de alto valor acrescentado: fibras especiais, tecidos antirugas, têxteis técnicos para o automóvel e para a medicina, bem como nichos da moda de luxo.

Hoje, o sector representa cerca de 3,5 mil milhões de ienes (dados de 2015), com cerca de 15 mil empresas e aproximadamente 250 mil trabalhadores, (segundo o Ministério da Economia, Comércio e Indústria do Japão existem cerca de 9,4 mil empresas fabricantes de vestuário e cerca de 5,2 mil fabricantes de tecidos e fibras). A proposta de valor assenta na inovação tecnológica, mas também na tradição e na sustentabilidade. O Japão é uma referência em fibras de alta performance — poliéster avançado, fibra de carbono, nanofibras, têxteis inteligentes — e, ao mesmo tempo, valoriza a sua herança cultural, com o renascimento de tecidos artesanais e a reinvenção do quimono como peça de design.

Em poucas décadas, o Japão passou de campeão da produção em massa nos anos 1950 para especialista em inovação e tradição no século XXI. Perdeu escala, mas manteve relevância mundial graças à tecnologia, à qualidade e à diferenciação.

Em linha com o que escrevo aqui há anos: anichar, anichar, anichar.

Se recordarmos o que escrevi recentemente sobre a evolução do têxtil em Portugal, Se unirmos os pontos que imagem aparece?

Na parte III vamos ver o que faz a Matsukawa Rapyarn em concreto.

Na parte IV vamos fazer a comparação entre Portugal e o Japão.

 

segunda-feira, setembro 29, 2025

Se unirmos os pontos que imagem aparece?

No JN de ontem o artigo "Confiberica fecha e manda mais 160 para o desemprego no Ave." Depois, o subtítulo que me intriga:
"Empresa que trabalha para o grupo da Zara tem uma filial em Marrocos que vai continuar a laborar."

E ainda mais alguns sublinhados:

"As associações do setor querem medidas para enfrentar a falta de encomendas.

...

Segundo Francisco Vieira, a Confiberica trabalhava para a Inditex (detentora de marcas como a Zara, Pull & Bear, Massimo Dutti, Bershka, entre outras), e tinha 160 trabalhadores.

...

Segundo o sindicato, esta têxtil tem também uma unidade em Marrocos a produzir igualmente para o grupo Inditex, que não vai encerrar. 

...

As associações do setor queixam-se de falta de encomendas e pedem medidas de apoio: lay-off simplificado, apoios à tesouraria, e maior flexibilidade para reestruturar as empresas."

Comecemos pelo fim "As associações do setor queixam-se de falta de encomendas" ... não é absurdo? Queixam-se a quem? Ao governo? Se não têm clientes a pedir-lhes trabalho, a culpa é de quem? Quem tem a missão de ganhar clientes? O governo? Os trabalhadores?

Ou seja, é uma forma de pressionar o governo para obter protecção pública face a um problema de mercado. Os contribuintes que paguem.

Cliente Inditex e unidade em Marrocos. Aquele subtítulo... estavam à espera que fechasse a unidade em Marrocos? Come on. São os Flying Geese ao vivo e a cores a funcionar. 

No artigo ainda pode ler-se:

"As situações de empresas têxteis com problemas financeiros, após o verão, têm sido recorrentes: Polopiqué, Stampdyeing (grupo Mabera - Coelima), J.F. Almeida."

Se juntarmos os pontos:


Se nos abstraímos dos casos particulares e subirmos na escala de abstracção para ver as forças de fundo, vemos o estertor (já há muito anunciado aqui no blogue) de um modelo de negócio. 

Ainda recentemente escrevi sobre o futuro de quem trabalha no fast-fashion:

"Proibição do fast/fashion como modelo dominante: pressão regulatória contra ciclos curtos de produção/consumo."

Não adianta pôr sal na ferida. Sim, eu sei, costuma resultar, os tótós do governo de turno libertam uns milhões cobradas aos impostos sobre os saxões, e as empresas comatosas, verdadeiras zombies, em vez de mudar de vida, ou fecharem, sobrevivem até à próxima injecção de capital à custa dos impostos.

quinta-feira, setembro 11, 2025

e coragem para dizer a verdade?


Li no JN da passada terça-feira, "Indústria do calçado aposta na formação de jovens e reforça presença nos EUA."

O artigo sobre a indústria do calçado centra-se no défice de mão de obra jovem, na formação e na atracção de talento, mas quando refere “competitividade” não fala em produtividade. O discurso gira em torno de tornar o sector atractivo e de preservar o saber artesanal, mas não em como produzir mais valor com os mesmos recursos. E sem mais valor ... não há jovens, ponto.

Em Falta a parte dolorosa da transição mostro que, sem aumentos de produtividade, apoiar empresas e sectores para "serem competitivos" apenas prolonga o problema: salários baixos, dependência de mão de obra barata e ausência de investimento em tecnologia.

Em Competitividade, absurdo, lerolero e contranatura denuncio como o termo competitividade foi/é deturpado: 
  • pode significar enriquecer via produtividade, 
  • mas também pode servir para justificar cortes salariais, como no Uganda, onde "competitividade" se tornou sinónimo de empobrecimento
Em Competitiveness compass. Be careful what you wish for explico que países como a Alemanha e o Japão caíram no mesmo erro: usar "competitividade" como dogma, confundindo-a com cortes de custos, em vez de investir no numerador da equação da produtividade

Quando um artigo, ou pior um sector económico, fala de competitividade e ignora a produtividade, está na prática a referir-se apenas ao denominador da equação da produtividade - isto é, reduzir custos, salários ou expectativas. Isto conduz a um ciclo de empobrecimento:
  • salários baixos passam a ser vistos como condição de sobrevivência;
  • como não há ganhos de produtividade, bons salários parecem incompatíveis com a competitividade;
  • o sector deixa de atrair talento jovem, reforçando o círculo vicioso.
O discurso da competitividade no calçado, se fosse só no calçado ..., sem referência explícita à produtividade, repete o erro que não me canso de denunciar no blog:
  • Competitividade sem produtividade = empobrecimento.
  • Para pagar bons salários é preciso atacar o numerador (inovação, tecnologia, novos modelos de negócio, produtos de maior valor acrescentado).
  • Se se insiste no denominador, Portugal arrisca transformar a "força" do calçado (artesanato + tradição) numa armadilha de baixos salários e envelhecimento da força de trabalho.
E volto aos números de Priestley, e volto ao anichar e volto à festa de Natal do filho de 5 anos, aka DVD leadership team. Qual é o governo ou associação com coragem para dizer a verdade?


Enterrar a cabeça na areia não resolve ...

Quando escrevo aqui sobre os Flying Geese:
explico por que é que o Japão deixou de ser uma potência no têxtil... ainda é, mas para nichos, ou porque St. Louis já não tem calçado. Acham mesmo que o calçado ou têxtil português consegue fazer melhor do que o Japão ou os Estados Unidos? Só vão sobreviver as empresas que anicharem. Isso só não acontece mais rapidamente porque os governos, estribados nos fundos da UE, vão atrasando o inevitável.
"A indústria é forte, mas precisamos de começar pela educação e formação. É fundamental tornar este setor atrativo para as camadas mais jovens..."
"Portugal tem um problema crónico de recursos humanos. A pirâmide etária está invertida e sem jovens a renovação torna-se difícil."
"O grande problema é não conseguir que os funcionários atuais, cada vez mais próximos da reforma, tenham seguidores na empresa, porque os admitidos não estão disponíveis para aprender o ofício."
"Alguém convencionou que era duro e mal pago... O ofício é nobre."

Aquele "Alguém convencionou que era duro e mal pago" tira-me do sério... e como é que as pessoas pagam a renda ou o empréstimo da casa? 

terça-feira, setembro 02, 2025

O que antes era vanguarda acaba por se tornar ultrapassado

No Público do passado dia 28 li "Produtividade: assim não vai dar". Torci o nariz a:

"Portugal não pode contentar-se com a mediocridade nem com desculpas baseadas em comparações pouco exigentes. O país precisa de uma estratégia clara para aumentar a produtividade, assente em três pilares fundamentais: educação e qualificação; inovação e tecnologia; e reformas estruturais que melhorem a eficiência do Estado e da economia."

Nunca irá resultar para colmatar esta lacuna:

"Finalmente, é importante sublinhar que outros países têm conseguido ganhos de produtividade bastante superiores. Em Portugal tende-se a comparar apenas com a média da União Europeia (e mesmo assim Portugal tem cerca de 30% abaixo da média)"

No passado Sábado em casa da minha mãe vi a capa do caderno de Economia so semanário Expresso e fixei esta notícia "Novo modelo garante mais oito anos à fábrica da Autoeuropa."

Lembram-se da primeira metade dos anos 90 do século passado? Lembram-se do impacte da Autoeuropa na economia do país? Lembram-se do impacte da Autoeupropa na produtividade?

Entretanto, o que aconteceu? Dois subsídios:

A Autoeuropa, já era. 

Recordo a formação dos gansos a voar:


O que antes era vanguarda acaba por se tornar ultrapassado.

Basta olhar para os nomes das empresas que eram a jóia da coroa da bolsa de Nova lorque há 30 anos e compará-los com os que o são hoje.

BTW, isto também está relacionado com "Estrangeiros: nove em cada dez empregos só pagam até mil euros." Para colmatar aqueles 30% mencionados no segundo trecho lá em cima, devíamos estar a trabalhar para atrair as empresas das gerações seguintes de produtividade. Entretanto, festejamos a chegada de fabricantes de peúgas.  



quarta-feira, agosto 20, 2025

Melhorar o retorno da certificação ISO 9001 (parte IX)


A última imagem da Parte VIII pode ser melhorada acrescentando a satisfação, só por causa disso vamos conseguir (?) orquestrar um ecossistema em favor de todos, incluindo a nossa organização. E já agora, sublinhamos os tópicos que incluímos na politica e que caracterizam o nosso alvo (desta vez não escrevi cliente-alvo porque o arquitecto não compra os materiais à Vitrumo, mas prescreve-os ao empreiteiro):

Recordo o trecho da política retirado da Parte VII:
Relaciono também os trechos da política sobre os compromissos, a resposta a pergunta: em que é que temos de ser bons com a satisfação das partes interessadas (a figura acima não inclui todas, por exemplo faltam os centros de saber):

Recordo que queremos desenvolver objectivos relevantes para o negócio.

Pergunto: qual é o teste do ácido para sabermos se uma estratégia resulta ou não? 

Resposta: Resultados financeiros positivos! Lucro!

O lucro, a rentabilidade resulta de dois vectores:
Gastar menos significa ter mais produtividade:
Ter mais produtividade significa ter margem mais elevada:
A margem pode ser aumentada através da oferta de produtos/serviços de maior valor acrescentado, ou através do aumento da eficiência.
A maior parte das pessoas quando pensa em aumento da produtividade olha para a equação da produtividade e parte do princípio que o numerador, o que se oferece, é uma constante e que só se pode aumentar a produtividade actuando sobre o denominador. Nada mais errado!

Para leitura futura recomendo aqui no blogue dois temas:
BTW, aquele ou (V) na figura acima é essencialmente exclusivo. É claro que uma empresa pode e deve actuar no numerador e denominador, mas um será sempre preponderante em termos estratégicos. Por exemplo, gosto da citação: 
"If the customer doesn't care about the price, then the retailer shouldn't care about the cost."
É bom que a Ferrari trabalhe para ser eficiente, mas esse não será um objectivo da gestão de topo que deve antes ocupar a escassa banda de atenção na criação de valor. 

O teste do ácido para sabermos se uma estratégia resulta ou não é dado pelos resultados financeiros. Contudo, os resultados financeiros não devem ser vistos como um objectivo directo, mas como uma consequência de outras acções. Estamos a falar do tema da obliquidade:
Uma estratégia nunca é eterna, por isso devemos estar sempre atentos a objectivos na vertente financeira. Objectivos de rentabilidade, objectivos de vendas, objectivos de custos ou objectivos de margens. 

De onde é que o dinheiro vem?


Resultados financeiros são uma consequência natural de servir, satisfazer e manter clientes:

Assim, faz todo o sentido seguir objectivos sobre clientes ganhos (clientes novos e recorrentes), sobre clientes satisfeitos e clientes insatisfeitos (satisfação de clientes e reclamações), e sobre clientes mantidos (clientes perdidos, clientes recorrentes, clientes ganhos por word-of-mouth, ...). 

Aqui convém recordar o tema dos clientes-alvo. Para isso recomendo:
Na próxima reflexão vamos desenvolver os objectivos estratégicos para os processos da empresa.

sexta-feira, julho 04, 2025

Afinal o governo de Leitão Amaro sempre vai socializar perdas



Mão amiga fez-me chegar este artigo "Sem transição verde, Portugal pode perder até uma em cada 4 fábricas de têxtil e vestuário até 2050".

O envio deste artigo quase pode ser visto como uma provocação. Há tantos ângulos de análise possíveis e sobre alguns deles ... é  melhor nem escrever.

Quando os "especialistas", quando os membros da tríade (expressão que usava no tempo da troika para incluir políticos, comentadores e economistas), se juntam para debater o tema da baixa produtividade nunca descem ao terreno da realidade. O artigo acima é sobre esta realidade do empobrecimento e da zombificação da economia.

Será que o artigo é sobre sacar dinheiros aos contribuintes? A bandeira da descarbonização serve de justificação moralmente inatacável para transferir dinheiro público para empresas privadas. Descarbonizar é bonito — sobretudo quando alguém paga por isso. Um clássico: vestir a esmola com roupagens verdes.

Será que o artigo é uma operação de lobby para manter vivas empresas com baixa produtividade? Muitas empresas do sector têxtil em Portugal operam com margens mínimas e produtividade estagnada. A ameaça de encerramento é instrumentalizada para obter subsídios, evitando enfrentar a necessidade de reestruturação ou consolidação. Em vez de "transição verde", temos manutenção do status quo travestida de inovação.

Será que o artigo é uma tentativa de eternizar sectores obsoletos através de retórica moderna? Usa-se vocabulário de futuro (digitalização, circularidade, ecodesign), mas os problemas são os de sempre: fábricas pequenas, mal capitalizadas, sem escala nem capacidade de investimento. Só que agora embrulha-se tudo em linguagem ESG para parecer que estamos na vanguarda.

A velha lógica do "se não nos derem dinheiro, vai tudo abaixo". A chantagem emocional industrial: "vamos perder milhares de empregos, centenas de empresas... a menos que intervenham." A habitual encenação em três actos: catástrofe anunciada, apelo à salvação, plano de financiamento.

O artigo parece escrito pela "DVD leasdership team". 

O artigo do DN é o equivalente a manter a equipa de DVDs na sala de reuniões da Netflix. Com uma diferença: eles não estão apenas presentes — estão a pedir aumentos e a exigir lugares cativos. É como se Portugal olhasse para as suas empresas têxteis mais frágeis, pouco produtivas, dependentes de mão-de-obra barata e dissesse:

- "Sim, claro, vamos salvá-las todas, pintando as máquinas de verde e dando workshops de sustentabilidade — e vamos chamar a isso política industrial!"

É a festa de Natal do jardim-escola. Todos batem palmas, ninguém quer magoar ninguém, e a festa continua... mesmo que o Pai Natal se tenha esquecido dos brinquedos e os miúdos estejam aos berros.

Se lermos o artigo à luz da metáfora da coragem estratégica da Netflix, ele é um case-study sobre o que não fazer:
  • Em vez de excluir a "leadership team" das fábricas zombies, o relatório dá-lhes o palco e oferece bolos.
  • Em vez de dizer "é altura de mudar de rumo", diz "se nos derem mais dinheiro, prometemos mudar... um bocadinho".
  • Em vez de alocar recursos ao futuro, quer perpetuar o passado - com metas "verdes" para disfarçar o imobilismo.
Acham que é mesmo optimista um cenário em que o número de empresas e de trabalhadores se mantém? Optimista para quem? Para o país? Para os trabalhadores cada vez mais pobres? St Louis não faz soar nenhuma campainha?

É mesmo a festa de Natal do jardim-escola... ninguém tem coragem de dizer que a festa foi uma valente porcaria.

É à luz destas cenas que o governo de Leitão Amaro vai socializar perdas (ver número 4).

A sobrevivência empresarial não é obrigatória. Deixem as empresas morrer. Porra!

Um título alternativo para o artigo do DN poderá ser:  "Sem transição de produtividade, Portugal pode manter até 4 em cada 4 fábricas de têxtil e vestuário até 2050".

terça-feira, junho 24, 2025

Porque empobrecemos

Li de Seth Godin Ecosystems come and go:

"Your project doesn't exist in a vacuum. Your company wouldn't exist if it weren't for the customers, competitors, marketplaces, systems and tech that make it all work.

...

The ecosystem for board games was large, steady and profitable. The combination of toy stores and TV ads made it sustainable. And then, for most providers, it wasn't.

The telegraph employed tens of thousands of people... and then it didn't.

...

We can lament the end of an ecosystem. After all, we worked hard to get here and we counted on it. We're comfortable with it and we understand it.

Or, we can accept that ecosystems come and go, and focus our energy on how the next ecosystem gives us a chance to do our work, new work, different work, but work that matters, for people who care."

E recordo Phil Mullan em "Em vez de abraçar a destruição criativa ...". Os governos, mesmo quando falam de crescimento, agem em função da estabilidade. Evitam qualquer política que implique disrupção — mesmo sabendo que é a única forma de restaurar o dinamismo económico. O resultado é uma economia gerida como um sistema de manutenção, não de renovação. A “Longa Depressão” que vivemos actualmente de que fala Mullan não é só económica — é intelectual. Perdeu-se a fé na capacidade humana de liderar mudanças significativas. O progresso tornou-se suspeito, e o risco passou a ser tratado como um erro, não como uma condição da inovação

E recordo Reinert em "The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!". Reinert fornece um exemplo histórico que ilustra a tese de Godin: St. Louis, outrora rica pela produção de sapatos e cerveja, entrou em declínio quando a curva de aprendizagem da produção de calçado se esgotou. O know-how deixou de evoluir, os salários estagnaram, a produção mudou-se para zonas mais pobres. A lição? Quando já não há mais nada a aprender, a vantagem desaparece. O ecossistema morre — e se uma cidade, uma indústria ou um país não mudar a tempo, morre com ele.

Seth Godin aponta-nos o dedo quando diz que a questão é: como reagimos? Ou nos queixamos da erosão do ecossistema antigo, fazendo uma "perrice de adulto" ou reconhecemos que cada fim é também uma abertura — para criar algo novo, diferente, mas que importa.

Quando recusamos a mudança e optamos pela ilusão da estabilidade recebemos o que queremos e não o que precisamos (isto é Coldplay). O resultado é uma economia gerida como um sistema de manutenção, não de renovação. 

O que vejo nas PME: o medo de reconhecer que o mundo mudou. As empresas resistem a uma mudança imposta pelo mercado ou por um cliente — tentam adaptá-la à sua lógica interna, em vez de reconhecer que está perante um novo ecossistema.

Eu costumo perguntar-lhes: "Esta mudança é pontual ou é sinal de MUDANÇA a sério?"

Se for passageira, há que acomodá-la. Mas se for estrutural, então tem de ser integrada o quanto antes. Só assim se transforma um incómodo em vantagem competitiva. O problema, como expõe Mullan, é que as nossas sociedades perderam a coragem para dar esse salto. A cultura dominante prefere conservar o velho a criar o novo. E isso é exactamente o oposto do que o capitalismo precisa para viver: destruição criativa.

Quando vemos uma empresa a contorcer-se para adaptar uma mudança a um modelo que já não serve, estamos a ver um ecossistema em negação da sua própria morte.

Seth Godin diz que os ecossistemas vêm e vão. Reinert mostra como eles morrem. Mullan explica porque não os deixamos morrer — e o que isso nos custa: o empobrecimento.

Mas há sempre uma escolha: ou ficamos presos à estabilidade do que conhecemos, ou corremos atrás da aprendizagem que ainda não fizemos. O que morre é a curva antiga. O que vive é a vontade de saltar para a nova. 


sábado, abril 26, 2025

"Trump's Protectionist Bunker"

A fazer lembrar o velho @anticomuna 

"Focus on the margin of the products flowing cross-border. Apple has 34% operating margins. Foxconn, which assembles trade-deficit-boosting iPhones, has operating margins of 3%. Which would you prefer?
TVs, cars, clothes, toys and lumber that we import are all low-margin and usually labor intensive businesses. We export high-margin software, financial services, drugs and AI applications, all intelligence-intensive businesses. I like to say, "We think, they sweat." Meanwhile, Commerce Secretary Howard Lutnick says, "Human beings screwing in little screws to make iPhones, that kind of thing is going to come to America." You first, Howard.

Note to Trump yes-men: Low-wage jobs aren't the American dream either. Populist protectionism, worsened by tariffs, has been shown to destroy more jobs than it creates. Even the lower-valued jobs that the Trump administration hopes will return may not exist. Most machine and metalworking shops now use programmable machine tools. Factory jobs will require proficiency in operating robots. Fixing education is critical.

"Boo hoo," one can almost hear, "collapsing stocks only hurt the rich." Yeah, but it also severely limits access to capital for U.S. companies to fund growth and create better jobs-let alone build new factories. Do we really want that? America can stay first only by sitting on top of a horizontal empire, not by reconstructing a retro isolated vertical island. Going backward is a meathead move. Stop trying to bring back the "All in the Family" nostalgia: "Those were the days!""

Lembrei-me daqueles vídeos que chineses colocaram no Twitter sobre o regresso da manufactura à China:

Portanto, o que está a ser proposto é regredir na cadeia de valor, um erro estratégico que subverte a lógica da teoria dos Flying Geese.

Enquanto a teoria sugere que o desenvolvimento saudável depende de subir progressivamente em direcção a sectores mais sofisticados, o proteccionismo descrito no texto quer trazer de volta o passado — um voo ao contrário, onde os gansos líderes tentam aterrar de novo nos campos que já deviam ter deixado para trás.

A evolução natural de uma economia saudável não é o regresso à produção de bens baratos, mas sim a subida na cadeia de valor: é o abandono progressivo de actividades que não geram margens suficientes para sustentar níveis salariais atractivos. Reindustrializar pode ser necessário em certos sectores estratégicos, mas é ilusório pensar que se pode reconstruir a base industrial do passado sem custos económicos e sociais profundos.

Trechos retirados do WSJ de 14.04.2025 do artigo "Trump's Protectionist Bunker".  

sábado, março 22, 2025

Não devia ser um drama, quase que podia ser celebrado

Não devia ser um drama, quase que podia ser celebrado. A menos que seja resultado de uma evolução artificial de custos da mão de obra, não suportada por procura.

Drama mesmo é quando a chegada de algumas empresas é celebrada.

O caderno de Economia do semanário Expresso do passado dia 21 traz um artigo intitulado, "Yazaki Custo da mão de obra penaliza Portugal".

O artigo discute o despedimento de 364 trabalhadores da fábrica da Yazaki Saltano em Ovar, justificado pelo elevado custo da mão de obra em Portugal e pela crise do sector automóvel europeu. A empresa japonesa destaca a concorrência de países com custos mais baixos, como o Egipto, a Roménia, a Bulgária e a Tunísia, onde os salários são significativamente inferiores.

A Yazaki compara os custos salariais entre diferentes países e conclui que a produção no Egipto custa apenas 10% do custo de produção em Portugal. O artigo menciona ainda que a crise no sector automóvel já levou a outros encerramentos e despedimentos em Portugal:

"O custo da mão de obra "está a comprometer a sustentabilidade da produção em Portugal", afirma a Yazaki Saltano na mensagem que justifica o despedimento coletivo de 364 pessoas na sua fábrica de Ovar. 

...

o documento que fundamenta a decisão de despedir 364 dos 2100 trabalhadores da maior empresa de Ovar também refere a crescente "sensibilidade ao preço" das construtoras automóveis. E afirma que "o custo de produção em Portugal faz com que a YSE (Yazaki Saltano EMEA) não seja selecionada para os projetos a que se candidata por uma questão de preço".

E a empresa faz contas relativamente à perda de competitividade do país para concluir que "o mesmo projeto produzido no Egito representa somente 10% do custo de mão de obra de Portugal. Ou seja, um trabalhador em Ovar custa 9 vezes mais do que outro trabalhador no Egito. Portugal também fica a perder face à concorrência da Roménia (38% abaixo), Marrocos, com 27,57% do custo de Portugal, Bulgária (44,4%) ou Tunísia (21,57%), indica o documento a que o Expresso teve acesso. São diferenças "impossíveis de cobrir por via do aumento da produtividade", assume a administração, depois de comparar o salário bruto médio mensal nas suas fábricas nestes países e a respetiva evolução desde 2019. Em Ovar, o valor passou de €808 para €1303, enquanto a Roménia apresenta valores de €464 em 2019 e de €821 em 2025. Na Bulgária, o salário subiu de €361 para €583, em Marrocos saltou dos €284 para os €362, e na Tunísia aumentou dos €163 para os €284. No Egito, onde só há dados do atual exercício, o valor é de €136."

Sabem o que é andragogia?

Vou procurar demonstrar.

A notícia do despedimento colectivo de 364 trabalhadores na fábrica da Yazaki Saltano em Ovar gera previsíveis reacções de preocupação e pessimismo. Afinal, trata-se de um encerramento que afecta directamente centenas de famílias e um reflexo de uma perda de competitividade do país face a mercados onde os custos salariais são significativamente mais baixos. [Moi ici: Recordar a bússola da competitividade e como esta conversa é perigosa para o que realmente interessa, o aumento da produtividade] Contudo, num olhar mais amplo e menos imediatista, este tipo de eventos não deve ser encarado como um drama. Pelo contrário, fazem parte do mecanismo que impulsiona as economias para patamares mais elevados. No postal sobre a bússola da competitividade usei esta imagem:


Reparem que o caminho para "+ produtividade" tem um cemitério de empresas. Já o caminho da "+ competitividade" é o caminho do empobrecimento, das empresas zombies suportadas em subsídios pagos pelo estado com dinheiro dos contribuintes.

A Yazaki opera num sector onde o factor preço é determinante, e os seus clientes têm alternativas mais baratas.

Uma economia saudável e dinâmica não se constrói protegendo indefinidamente empregos de baixo valor acrescentado, mas sim permitindo que sectores mais antigos cedam espaço para novos sectores emergirem. Este é o motor que impulsiona o desenvolvimento económico: quando uma empresa já não consegue operar num determinado contexto, a resposta não deve ser o lamento, mas sim a criação de condições para que novas indústrias, mais produtivas e com maior capacidade de pagar melhores salários, ocupem o espaço deixado vago.

Isto remete para o modelo dos Flying Geese. Os países menos desenvolvidos começam por atrair indústrias intensivas em mão de obra, com baixos salários. Com o tempo, essas indústrias crescem, os salários aumentam, e a produção desses sectores migra para países mais baratos. O país de origem, em vez de colapsar, sobe na cadeia de valor, investindo em sectores mais sofisticados, com melhores salários e maior especialização.

Portugal tem de aceitar que não pode, nem deve, competir apenas pelo factor custo. Se quisermos manter empregos industriais, esses empregos terão de ser sustentados por inovação, automação e produção de bens de maior valor acrescentado. O drama da saída da Yazaki não é que uma empresa de componentes automóveis está a fechar postos de trabalho. O verdadeiro drama será se Portugal não estiver a criar novas oportunidades para absorver essa mão de obra em sectores de maior valor. Recordam-se de "não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas"?

Em vez de lamentarmos a saída de empresas que só conseguem competir com baixos salários, [Moi ici: E isto não é uma crítica, é um facto da vida. Como os produtores de sapatos de St. Louis, foi bom enquanto durou] devemos concentrar-nos em criar um ecossistema onde outras possam pagar melhor. Se a economia funcionar correctamente, no lugar da Yazaki surgirão empresas mais inovadoras, com produtos diferenciados e margens que permitam pagar salários mais elevados. É assim que se sobe na escala de valor, é assim que as sociedades prosperam.

Só que isto implica deixar as empresas morrer!


Nota: No artigo pode ler-se "São diferenças "impossíveis de cobrir por via do aumento da produtividade"" isto é sobre trabalhar o denominador porque o numerador está a diminuir. Recordar os números de Rosiello.

domingo, março 16, 2025

Paletes e falta de trabalhadores

A revista The Economist do passado Sábado inclui este artigo interessante "Why "labour shortages" don't really exist".

Um artigo bem alinhado com o que tenho aqui escrito sobre as paletes de imigrantes. Por exemplo: "O que existe é falta mão-de-obra barata."

"The story is consistent over time. When jobs are plentiful, people say there is a labour shortage. It is hard for bosses to find staff. But when unemployment is high, people still say there is a shortage. [Moi ici: A ideia de escassez de mão de obra é recorrente, independentemente do contexto económico]

...

a labour shortage is a question of price and distribution, rather than scarcity. If a company complains about a shortage of vegetable-pickers, what it really means is that it cannot hire them at the wage it would like to pay. The term "labour shortage" thus implies a normative claim-that there "should" be more workers at the prevailing wage rather than describing an economic reality.

When you dig into the data, evidence of shortages often melts away. [Moi ici: A escassez de trabalhadores muitas vezes resulta mais de questões salariais do que de uma verdadeira falta de profissionais. O problema não é a inexistência de trabalhadores, mas sim o facto de as empresas quererem pagar menos do que o necessário para atrair candidatos]

Recognising the truth of labour shortages has important policy implications. At present officials are afflicted by shortage-itis. Australia maintains an "occupation shortage list" to monitor which industries need state assistance. Germany maintains a similar list and gives people in these professions preferential migration treatment. In America Joe Biden tried to tackle a perceived labour shortage in certain industries via apprenticeships. Sir Keir Starmer, Britain's prime minister, wants to boost spending on training British-born workers to alleviate his country's labour shortage.

Businesspeople bleat so much about labour shortages in part because hefty subsidies are up for grabs." [Moi ici: Empresas e políticos frequentemente enfatizam a falta de mão de obra para justificar medidas como subsídios ou programas de formação financiados pelo Estado]

A escassez de trabalhadores pode ser mais uma questão de preço e distribuição do que de falta real de mão de obra. 

Como ouvi aqui:

quinta-feira, março 06, 2025

A China e a receita Irlandesa


Mão amiga mandou-me uma cópia de um artigo que vai merecer mais do que um postal aqui no blogue, "China has embraced creative destruction, says Tom Orlik" publicado no número de Março de 2025 da Bloomberg Businessweek.

Primeiro, recordar estes números sobre algumas produtividades por hora em euros:
No artigo da Bloomberg Businessweek encontramos este gráfico eloquente:


O gráfico mostra a evolução da contribuição de dois sectores para o PIB da China: o sector imobiliário (linha preta, em queda) e o sector de alta tecnologia (linha vermelha, em crescimento). Prevê-se que, por volta de 2026, o sector de alta tecnologia ultrapasse o imobiliário em termos de contribuição para o PIB.

E de que é que falamos quando falamos em Teoria dos Flying Geese?

A Teoria dos Flying Geese descreve um padrão em que países seguem uma sequência de industrialização, movendo-se de sectores menos sofisticados para sectores mais avançados. O gráfico acima ilustra como a China está a migrar de uma economia baseada na construção civil, no betão tão querido dos nossos políticos, para uma economia mais tecnológica, seguindo os passos de países como o Japão e a Coreia do Sul.

A China já terceiriza parte da sua produção de baixo valor (como têxteis e manufactura simples) para alguns países do Sudeste Asiático, como o Vietname, Bangladesh e Indonésia. Enquanto isso, foca-se cada vez mais na produção de chips, inteligência artificial, eletrónica avançada e robótica, subindo na hierarquia global da inovação.

O gráfico acima ilustra a Teoria dos Flying Geese e também ilustra como se aumenta a sério a produtividade de um país.

O crescimento do sector de alta tecnologia implica maior produtividade, pois esse sector gera muito mais valor acrescentado por trabalhador e por unidade de capital investido. Enquanto a construção civil depende de grandes volumes de matéria-prima e mão de obra intensiva, o sector de tecnologia avança com inovação e eficiência. Isso reflecte uma mudança estrutural na economia chinesa, orientada para indústrias mais avançadas.

"O Japão não ficou rico a produzir vestuário de forma muito, muito eficiente. Taiwan não ficou rica a produzir rádios de bolso de forma muito, muito eficiente."

Qual o impacte da evolução do gráfico acima nos salários e nível de vida dos chineses? O sector de alta tecnologia paga salários mais elevados do que o sector imobiliário e a manufactura tradicional, pois exige trabalhadores mais qualificados. A crescente procura por engenheiros, programadores e cientistas de dados impulsiona os rendimentos dessas profissões.

Que melhor ilustração para a frase ""It's no longer about how you do it; it's about what you do.""? Que melhor ilustração para a diferença entre trabalhar o denominador (melhorar a eficiência) ou trabalhar o numerador da equação da produtividade:


Por que nos admiramos? É a mesma receita que a seguida pela Irlanda. Acham que a "DVD leadership team" tem voto na matéria?

Por cá temos um gráfico semelhante para o turismo, por exemplo. Acham que é um sector que contribui para o aumento da produtividade agregada do país? Acham mesmo? Mas atenção, as pessoas do turismo estão a fazer a sua parte, o problema são os ausentes, os mastins dos Baskerville.

Finalizo com uma citação de 2007:

"It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled."

Mas, e como isto é profundo:

"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants."