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terça-feira, dezembro 10, 2024

Muddling through ou, não há almoços grátis!

Quase a acabar de ler "Creative Destruction - How to Start an Economic Renaissance" de Phil Mullan. Os capítulos 11 ("The appeal of muddling through") e 12 ("The limits of muddling through") são sobre os esforços dos governos para manter o status quo económico. No fundo, não há dinamismo económico, mas também não há choques económicos.

"Muddling through", segundo Phil Mullan no seu livro, refere-se a uma abordagem reactiva e de curto prazo na gestão económica e política adoptada pelos governos ocidentais nas últimas décadas. Afinal não é só em Portugal!!! Este método caracteriza-se por pragmatismo, miopia e indecisão, sendo utilizado para implementar medidas paliativas que mantêm a estabilidade aparente e evitam crises imediatas, sem abordar as causas profundas da estagnação ou do declínio económico, enquanto os alicerces vão-se corroendo. Este processo envolve frequentemente a utilização de mecanismos de financeirização, quadros regulamentares e intervenções estatais, muitas vezes sem a devida responsabilidade democrática, para aliviar pressões económicas de curto prazo.

A principal característica desta abordagem é a gestão pragmática dos problemas, onde os governos actuam apenas quando as questões se tornam incontornáveis, evitando, no entanto, resolver problemas sistémicos. Isso perpetua uma estabilidade superficial, enquanto questões estruturais continuam a agravar-se. Ao mesmo tempo, as decisões económicas são cada vez mais retiradas do debate público, sendo entregues a tecnocratas, o que distancia os processos de decisão dos cidadãos. Recordar o postal recente, "Os artistas". A eficácia temporária destas medidas gera, ainda, uma sensação ilusória de segurança entre as elites, atrasando as acções transformadoras necessárias para revitalizar a produtividade e a inovação. Embora esta abordagem previna colapsos catastróficos, ela reforça o declínio a longo prazo, limita o dinamismo produtivo e restringe a reestruturação económica.

Nos capítulos 11 e 12 do livro Mullan explora as razões para a adopção deste método e as suas limitações. O capítulo 11 explica que a prática de "muddling through" tornou-se atraente devido à sua capacidade de evitar riscos políticos e económicos imediatos, preservando uma aparente ordem económica e social. No entanto, esta estratégia mascara problemas subjacentes, como a estagnação da produtividade, e cria uma dependência de intervenções estatais, que sustentam sectores obsoletos sem estimular mudanças produtivas. Já o capítulo 12 discute as limitações desta abordagem, destacando que medidas paliativas não podem ser sustentadas indefinidamente, já que não resolvem os problemas estruturais subjacentes, levando ao esgotamento da resiliência do sistema. A manutenção de empresas "zombies" e a preservação de estruturas económicas ultrapassadas impedem a renovação e a inovação, bloqueando o aparecimento de sectores dinâmicos.

Os dois capítulos juntos denunciam a falta de ambição dos governos e elites económicas, mostrando que "muddling through" é apenas uma estratégia temporária que adia, mas não resolve, os desafios fundamentais que afectam o crescimento e a transformação económica.

sexta-feira, dezembro 06, 2024

Vamos repetir outra vez: Um oxímoro!

Ando a ler "Creative Destruction - How to Start an Economic Renaissance" de Phil Mullan (vou no décimo segundo de treze capítulos). Brevemento vou escrever algo sobre os capítulos 11 e 12, uma desilusão (afinal o problema das TAPS e EFACECS não é específico de Portugal, segundo o autor).

O livro é sobre a destruição criativa e os capítulos 11 ("The appeal of muddling through") e 12 ("The limits of muddling through") são sobre os esforços dos governos para manter o status quo económico. No fundo, não há dinamismo económico, mas também não há choques económicos.

Por uma combinação de acasos (embora eles não existam) recordei este postal de 2021, "Preservação versus destruição":

"Leio que "as duas preocupações são, no imediato, a preservação do tecido produtivo existente e, numa visão de médio e longo prazo, enfrentar os problemas que travam a produtividade, a competitividade e o crescimento das empresas."


A preservação do tecido produtivo existente ... onde isto nos pode levar. Levantar barreiras à entrada, como o apoio do governo de turno? Apoios e subsídios?

Depois, relaciono "que travam a produtividade" e "preservação do tecido produtivo existente" e penso que é, em certa medida um oxímoro, se eu confiar nas ideias de Taleb e de Maliranta. Depois, relaciono "preservação do tecido produtivo existente" com o meu grito "DEIXEM AS EMPRESAS MORRER!" como condição indispensável para aumentar a produtividade. Relaciono também a preservação com o dilema entre resistir ou abraçar a mudança."

Postal que termina assim:

"No dia em que assumirem objectivos, metas e janelas temporais podemos avaliar quem tem razão, até lá é retórica e oratória.

Até lá continuo a preferir a destruição criativa."

Portanto, querer "preservação do tecido produtivo existente" e "aumento a sério da produtividade" é como:






sexta-feira, novembro 29, 2024

Em vez de abraçar a destruição criativa ...

O capítulo 9, "The intellectual crisis of capitalism", do livro de Phil Mullan "Creative Destruction", explora como a mudança na atitude das elites ocidentais contribuiu para aquilo a que o autor chama de "Longa Depressão". Após a Segunda Guerra Mundial, o optimismo em relação ao capitalismo diminuiu à medida que as elites começaram a questionar a sua capacidade de gerar progresso. Esse pessimismo foi agravado pelo colapso da União Soviética, que deixou o capitalismo sem um inimigo claro e exposto às suas próprias falhas.

"The reorientation of state institutions from growth to stabilisation is mostly implicit. Governments continue to pay lip service to the objective of economic growth. Doubtless many establishment politicians would like to have both stability and a bit more growth. However, there is a big gap between this latent attachment to growth and embracing the level of social dislocation needed to bring it about. In practice the policy inclination towards stability is at the expense of sustained growth. Economic dynamism is not restorable except through disruptive destabilisation involving the widespread destruction of old capital values.

The precondition for escaping the Long Depression is to challenge and overturn the conservator activities of the state."

Os governos têm dado prioridade à estabilidade em detrimento do crescimento económico, evitando as políticas disruptivas que seriam necessárias para revitalizar a economia. Este foco conservador limita o progresso e reflecte uma perda de confiança na capacidade humana de liderar transformações significativas.

"Uncertainty is now widely regarded as a constraint on the economy. In fact, the perception of uncertainty is more important for what it says about the intellectual climate than for the economic one.

Viewing uncertainty as detrimental represents a turnabout in social attitudes. For most of the history of capitalism, uncertainty was regarded neutrally or positively: it was sometimes embraced as an opportunity for gain and advancement. Businesses in the past were not deterred by future uncertainty, but accumulated capital to secure increased means to control the future. The classic financial investment advice to 'buy when there's blood in the streets' revelled in periods of acute political uncertainty.' In contrast, it is now a cliché to say that business and markets 'hate uncertainty'. 

Business leaders, as well as many pundits, attribute uncertainty as the reason for putting off investment decisions. A frequent survey finding is that business is not investing because of its lack of confidence in the face of an uncertain future.

...

As Mazzucato later put it, echoing his sentiments: 'Without uncertainty there would be no point in even trying to form competitive strategies.'& If everything were predictable there would be a limited possibility of gaining competitive advantage. Uncertainty provides the terrain for individual businesses to make superprofits, when they risk their capital to get ahead of competitors by deploying the latest innovations and cutting prices.

Uncertainty was for a long time recognised as the basis for markets to function. This refutes the assertion that markets 'hate uncertainty': they need uncertainty."

A incerteza, que historicamente era vista como uma oportunidade para inovação e lucro, passou a ser percebida como um obstáculo às decisões económicas. Esta mudança espelha um desconforto generalizado da sociedade com o risco e a transformação.

"Today's greater anxieties about uncertainty are driven by a loss of belief in the benefits of progress and of humanity's ability to make a better world

The humanist pursuit of progress is now seen by many across the political spectrum to cause problems and, sometimes, to be downright destructive: socially, environmentally, materially, and morally. 

As a society we have become reluctant to validate and promote the active, positive side of humanity to change things for the better. This represents a turn against a central Enlightenment perspective: seeing man as rationally capable of making a better future. Instead individuals these days are frequently presented as weak, sometimes irrational, and often requiring restraint from above. The humanist essence of Enlightenment thought has lost its appeal. The potential for meaningful, purposeful human intervention is frequently doubted and questioned.

Hence, the disposition for extending regulation, not just of the economy, but of all areas of human life."

A crítica crescente ao empreendedorismo tradicional e à tomada de riscos, frequentemente rotulados como irresponsáveis ou perigosos, reforça a predominância da regulamentação e da gestão de riscos. Estas abordagens sufocam o dinamismo essencial ao crescimento económico.

Culturalmente, há um declínio na crença nos benefícios do progresso, o que reduz as aspirações e alimenta expectativas mais baixas. A sociedade tende a considerar a mudança conduzida por humanos como problemática, incentivando o excesso de regulamentação e uma visão pessimista das capacidades humanas.

Este desconforto com a mudança contradiz a necessidade do capitalismo por "destruição criativa" - o processo de eliminar sistemas obsoletos para abrir espaço à inovação. A resistência das elites e dos decisores políticos às disrupções necessárias perpetua a estagnação económica. Por fim, o receio do desconhecido desincentiva investimentos ousados, reforçando um ciclo de baixo crescimento. O espírito cultural atual privilegia a conservação em vez da transformação, dificultando a revitalização económica.

"The enlightened humanist view of the relationship between the state and the public has become reversed. The state is no longer an institution that needs to be controlled by people. It is now the state's role to judge what is good for people, to raise public awareness, and to socially engineer people to do the right thing'. The earlier emphasis on the importance of human agency has been replaced by an emphasis on human vulnerability and powerlessness. And because people are so powerless and vulnerable this is seen to justify that we need the support of public institutions.

Just as the ascent of Enlightenment ideas informed the economic advances of industrial capitalism, so the reverse applies with today's slow-drift capitalism. Discomfort with change is antithetical to the business dynamism that the market system relies on to move forward. Cultural uneasiness with disruptive change runs counter to the creative destruction that is essential for capitalist growth and economic progress. This discomfiture informs the mainstream political inclination for stability over disorder."

A incapacidade das elites de articular uma visão positiva para o futuro do capitalismo prejudicou a sua capacidade de implementar as reformas necessárias para restaurar o crescimento económico. Em vez de abraçar a destruição criativa como um motor de progresso, as elites tornaram-se mais avessas ao risco e mais focadas na preservação do status quo. 

Em suma, o capítulo 9 argumenta que a crise intelectual do capitalismo é um factor fundamental na perpetuação da Longa Depressão. A falta de fé no capitalismo e o medo da mudança criaram um ambiente onde a estagnação económica se tornou a norma.

quinta-feira, novembro 21, 2024

Criar zombies e estagnar a economia


Esta semana umas viagens de comboio permitiram avançar na leitura dos capítulos sete "Contained Depression" e oito "The Zombie Economy" do livro de Phil Mullan, "Creative Destruction".

Nada de verdadeiramente novo nas conclusões face ao que se defende aqui no blogue há anos e anos. O que é verdadeiramente interessante são os gráficos a suportar as afirmações. Por exemplo, só relativamente aos Estados Unidos. O gráfico 7.1 ilustra a redução progressiva, recessão após recessão, da quebra do PIB (A volatilidade dos ciclos económicos tem-se vindo a reduzir desde os anos 1980, devido ao crescente controlo estatal e às políticas de estabilização. Isso diminuiu os efeitos disruptivos das crises, mas também retarda as transformações económicas necessárias para o crescimento), e o gráfico 7.5 que ilustra como, em cada ciclo económico, cada vez se perdem menos empregos mas também se criam menos novos empregos. 

A "estabilização" resulta num status quo de estagnação, no qual a capacidade produtiva e os empregos bem remunerados se deterioram lentamente. Esse modelo troca a possibilidade de disrupção económica por uma estagnação prolongada. Esta depressão contida, daí o título do capítulo, facilita a aceitação política e social de um "novo normal", onde crises contínuas são toleradas em troca de estabilidade imediata. Isso torna mais difícil superar o estado actual de estagnação económica

Estabilidade é obtida à custa de dinamismo económico. Uma das secções do capítulo é "The atrophy of economic dynamism": Taxas mais baixas de rotatividade de empresas, menos startups e um foco na estabilização em vez do crescimento levaram a uma estrutura económica ossificada que carece de vitalidade e inovação.

No capítulo 8 descreve-se a economia zombie. Uma economia onde empresas improdutivas continuam a operar devido a apoio estatal, como taxas de juros extremamente baixas e políticas que evitam falências. Isso impede o processo de destruição criativa necessário para revitalizar a economia. Como consequência as empresas mais produtivas enfrentam dificuldades para crescer, enquanto os novos negócios encontram barreiras à entrada devido à concorrência artificialmente mantida por empresas zombies.

A estagnação na criação de empregos e na adopção de tecnologias avançadas é exacerbada por esta dinâmica.

As políticas estatais contemporâneas dão prioridade à estabilização económica ao invés do crescimento, perpetuando uma economia estagnada. Essas intervenções, muitas vezes bem-intencionadas, inadvertidamente bloqueiam a renovação económica. E novidades aqui neste blogue? Esta abordagem sacrifica o crescimento e o progresso económico futuros por uma estabilidade superficial no presente. A zombificação económica, além de reduzir a produtividade, dificulta a criação de empregos de alta qualidade e bem remunerados.

A excessiva intervenção estatal, destinada a estabilizar as economias, levou à proliferação de “empresas zombie” – empresas improdutivas sustentadas por taxas de juro artificialmente baixas e políticas de tolerância. Estas empresas afastam concorrentes mais eficientes, retardando a inovação e a renovação económica. Embora estas políticas possam proteger os empregos a curto prazo, trocam o crescimento e a produtividade a longo prazo pela estagnação. Uma "economia zombie" suprime a reestruturação dinâmica, levando a um investimento mais fraco e à não criação de emprego.


Zombies

dolorosa

morrer empresas

apoios comunitários

sexta-feira, novembro 15, 2024

"The End of Growth"

Esta semana o trabalho não tem deixado muito tempo para caminhadas e, por isso, a leitura do capítulo seis, "The End of Growth," do livro de Phil Mullan, "Creative Destruction" tem-se arrastado.

Do que li até agora destaco duas secções super-interessantes, "How the crisis of profitability curtails business investment" e "Investment languishes despite rising individual company profits".

Na primeira secção descreve-se como a economia atinge por vezes um estado em que as empresas têm mais dificuldade em obter bons lucros em comparação com a quantidade de dinheiro já investida na economia. Esta situação é como ter muitos investimentos antigos ou desactualizados que já não trazem retorno suficiente. Por causa disto, as empresas hesitam em investir em grandes novos projectos porque temem que não recebam o retorno suficiente dos mesmos. O autor dá o exemplo de uma empresa que possui máquinas que ainda funcionam, mas não são tão eficientes como as novas. Para comprar máquinas novas, a empresa pode ter de se livrar das antigas ou reduzir o seu valor, o que parece uma perda. Isto pode desencorajá-los de actualizar. Além disso, toda a economia pode ficar presa neste padrão: com menos investimento, há um crescimento mais lento e, com um crescimento mais lento, as empresas sentem-se ainda menos confiantes em investir em novos projectos. É como um ciclo que mantém a economia a andar a um ritmo mais lento.

Na segunda secção o autor refere que, embora algumas empresas ainda obtenham bons lucros, não estão a investir esse dinheiro de volta na economia. As empresas podem ter muito dinheiro, mas em vez de construírem novas fábricas, mantêm-no, compram activos financeiros ou devolvem-no aos accionistas. Isto é surpreendente para algumas pessoas porque lucros fortes significariam normalmente que as empresas deveriam estar mais dispostas a investir.

Por exemplo, uma empresa como a Apple pode ganhar muito dinheiro, mas em vez de usar tudo para fabricar mais produtos, pode recomprar ações ou pagar aos accionistas. Esta abordagem cautelosa é um sinal de que as empresas estão a agir de forma segura devido às incertezas económicas mais amplas. Assim, embora exista dinheiro disponível, as empresas hesitam em utilizá-lo para crescimento ou novos projectos, o que abranda ainda mais o desenvolvimento económico.

Uma empresa continua a comprar máquinas novas e caras para fabricar mais produtos mais rapidamente. Mas de cada vez que isso acontece, o aumento do lucro obtido com estas máquinas torna-se menor do que anteriormente. Com o tempo, esta empresa e outras semelhantes chegam a um ponto em que não conseguem obter lucro suficiente para justificar a compra de ainda mais máquinas ou tecnologias novas. Este processo abranda toda a economia porque menos empresas estão dispostas a assumir os custos e os riscos de grandes investimentos, com um impacte muito grande na evolução da produtividade. Para uma mudança significativa, é necessária uma reestruturação extensa, como durante o pós-Segunda Guerra Mundial, quando a destruição e a reconstrução levaram à recuperação económica. Sem alterações comparáveis ​​em grande escala, a baixa rentabilidade persiste.



quinta-feira, novembro 07, 2024

Inovação versus produtividade

Um mundo de fantasia criado pela manipulação de indicadores ao estilo de "wag the dog".

Acabei a leitura do capítulo 3, "Innovation Puzzles" do livro "Creative Destruction", de Phil Mullan, que explora as complexidades e os desafios que rodeiam o conceito de inovação, particularmente nas economias ocidentais, e avalia criticamente pressupostos e medições comuns a ele associados. Algumas das ideias:

Mullan defende que a inovação foi elevada a um estatuto quase sagrado, muitas vezes aplicada de forma ampla a conceitos muito distantes dos avanços tecnológicos reais na produção. Isto levou ao que ele chama de “exagero da inovação”, onde até mesmo pequenas atualizações, como atualizações de software, são celebradas como inovações significativas​.

O capítulo diferencia entre inovação de processo (melhorar os métodos de produção para aumentar a produtividade física) e inovação de produto (criação de novos produtos). Mullan sublinha que, embora ambas sejam essenciais, a inovação de processos desempenha um papel fundamental na condução do crescimento económico, aumentando a produtividade e reduzindo custos. A inovação ocidental recente inclinou-se fortemente para os produtos de consumo em vez dos avanços produtivos​. Talvez este possa ser o ponto de vista de quem está a comentar a partir de uma economia avançada. Eu, a comentar a partir de Portugal, penso que precisamos de mais inovação concentrada na subida na escala de valor (eficácia), que permite preços mais altos, do que focada na melhoria de processos (eficiência), que permite ou melhoria ou manutenção de margens. Recordar Marn e Rosiello e o que significa aumentar preços versus reduzir custos.

Métricas como as despesas em I&D, a contagem de patentes e a frequência das citações são frequentemente utilizadas para avaliar a inovação, mas são indicadores defeituosos. Por exemplo, as despesas em I&D não garantem resultados bem-sucedidos e a contagem de patentes pode refletir estratégias jurídicas ou financeiras, em vez de inovação genuína. Estas métricas centram-se mais nos inputs da inovação do que nos seus impactes qualitativos na produtividade e no crescimento económico​.

Existem evidências de que a inovação não tem tido os efeitos transformadores esperados na produtividade, especialmente desde a década de 1970. Apesar dos avanços nas tecnologias de informação e comunicação, o crescimento da produtividade nas economias ocidentais abrandou. Esta estagnação é atribuída a investimentos insuficientes em capital transformador e a inovações de processos que melhorem genuinamente as capacidades de produção​.

Mullan sublinha que a difusão da inovação – através da qual os avanços tecnológicos se espalham pela economia – é crucial para o crescimento global da produtividade. No entanto, muitas economias ocidentais sofrem de baixo dinamismo económico, com recursos retidos em áreas de baixa produtividade, limitando os benefícios generalizados da inovação. Esta quebra da “máquina de difusão” exacerbou a estagnação da produtividade​.

domingo, novembro 03, 2024

Acerca da importância da destruição criativa (parte III)


Parte I e parte II.

Ainda no segundo capítulo de "Creative destruction" de Phil Mullan, intitulado "Productivity in Decline", o autor aborda o tema da divergência entre os Estados Unidos e a Europa relativamente à evolução da produtividade, encontrando uma explicação diferente da avançada por Drahgi:

Em Creative Destruction, o autor atribui a falta de aumento da produtividade na Europa, em comparação com os Estados Unidos, a vários factores-chave:
  • Apesar da adopção generalizada das tecnologias de informação e comunicação (TIC) em ambos os lados do Atlântico, o crescimento da produtividade europeia continuou a abrandar. Robert Gordon defendeu que o aumento da produtividade nos EUA resultou de mais do que apenas as TIC, uma vez que as empresas europeias também utilizavam tecnologias semelhantes, como os PCs e os telefones móveis. De facto, a Europa estava à frente dos EUA em algumas áreas de adopção das TIC, como as redes de telefones móveis
  • Os EUA tinham uma maior dependência do consumo, particularmente impulsionada pelos gastos das famílias suportados em dívida. Esta economia centrada no consumo, especialmente no sector do retalho, contribuiu para uma parte substancial do diferencial de produtividade entre os EUA e a Europa.
  • O crescimento da produtividade nos EUA esteve fortemente concentrado em sectores específicos como o comércio grossista, retalhista e financeiro, onde as TIC foram amplamente utilizadas. No entanto, estes sectores tiveram um alcance limitado na economia em geral, indicando que o aumento da produtividade não foi tão generalizado ou transformador em todas as indústrias. 
Estas observações sugerem que as diferenças de produtividade têm menos a ver com as disparidades tecnológicas e mais com as diferenças estruturais e económicas entre os EUA e a Europa.

quinta-feira, outubro 31, 2024

Acerca da importância da destruição criativa

 
"As Martin Wolf put it: 'the financially-driven capitalism that emerged after the market-orientated counter-revolution has proved too much of a good thing'. From this perspective, unrestrained market forces, expressed in diverse forms of speculation, lavish executive bonuses and increasing social inequalities, led inexorably to the crash.
...
we question this consensus, which is often proclaimed mistakenly as the triumph of 'neoliberalism'. Rather, markets are even less free than they used to be. The state did not retreat from economic life in the 1980s. Under the banner of deregulation', the form of state intervention changed significantly. While retreating from the traditions of economic policy aiming to encourage growth, the state offered subsidies to sustain industry and encouragements to the financial sector. Nor was there much evidence of an unleashed entrepreneurial spirit among capitalists. They preferred to avoid the risk of investment in new technologies or new areas of production, in pursuit of quick returns through financialised activities.
Policymakers have generally stumbled into solutions for immediate problems when they could no longer evade them.
...
Government policies have attempted to restore economic stability at the expense of establishing a solid dynamic for growth. Yet such state-led measures are ultimately counterproductive. Trying to stabilise the economy in its current state has the perverse effect of preserving its moribund features and stunting its development. While state intervention has moderated the worst features of decay, the economy has become increasingly sclerotic.
Short-term expedients have brought temporary respite while allowing deeper problems to fester. These policies have ultimately made the slump worse. By sustaining a stagnant productive base, the state has forestalled the process that Joseph Schumpeter named 'creative destruction'. Instead of encouraging the replacement of ailing companies by more dynamic enterprises, the government has opted to maintain a 'zombie' economy. Various forms of state support prop up firms that are incapable of boosting productivity through investing in new technologies. A dead economy is thus given the semblance of life and the appearance of resilience disguises a continuing process of decay. It will not be easy to escape the grip of the Long Depression. Though a comprehensive restructuring of production is needed to restore capitalism's value-creating capacity, the default option is always to avoid disruption. But 'creative destruction' on a significant scale is essential to restore growth. Older, less productive capital assets will have to be written off and replaced by a wave of transformative outlays on the latest technologies in newly emerging sectors of production."
Total alinhamento com o que aprendi com Maliranta em 2007:
"It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled."
Mas, e como isto é profundo:
"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants."
Trechos retirados de "Creative destruction" de Phil Mullan.