O que escrevi sobre sociedades que evitam dor e economias que evitam recessões encaixa-se na perfeição na lógica de Joaquim Aguiar sobre o campo de possibilidades.
A sua teoria dá, aliás, a estrutura conceptual que explica por que caímos nessa espiral. Segundo Aguiar, o campo de possibilidades de um país define-se pelos seus constrangimentos estruturais. Quando uma sociedade rejeita desconforto, reformas, ajustamentos, rupturas curtas para evitar colapsos longos — o campo não se mantém estático: estreita-se. Perdem-se graus de liberdade.
A cada ciclo político que promete aliviar a dor:
- mantém-se dívida,
- congelam-se privilégios,
- adia-se investimento produtivo,
- impede-se destruição criativa, e
- ganha força quem depende do status quo.
Resultado: há cada vez menos a escolher e cada vez menos a mudar.
A democracia anestesiada produz um campo de possibilidades cada vez mais pobre.
Aguiar dizia que o campo de possibilidades é sempre menor do que parece. A estabilidade artificial — económica e política — reduz ainda mais esse campo.
Ao evitarmos recessões (Parte I) e dor política (Parte II), ficamos com:
- menos margem orçamental,
- menos produtividade,
- menos capacidade de ajustamento,
- menos legitimidade para contrariar interesses instalados,
- mais actores capazes de vetar qualquer reforma.
É o que Aguiar chamaria de um campo bloqueado.
A aparência de tranquilidade é, de facto, a acumulação silenciosa de impossibilidades.
Nos sistemas sociais e económicos, os choques funcionam como resets que alargam o campo de possibilidades.
Aguiar diria que:
- uma crise abre alternativas;
- um ajustamento redefine prioridades;
- um colapso parcial elimina actores que bloqueavam caminhos;
- uma ruptura revela escolhas escondidas.
Sem estas descargas:
- o campo não se expande,
- cristaliza-se, e
- torna-se regressivamente mais estreito.
A paz prolongada e a ausência de recessões não geram liberdade — geram estreitamento estrutural do possível.
Aguiar era implacável com esta falha: os actores políticos anunciam fins que o campo de possibilidades não permite realizar.
O evitar da dor redefine esse campo de forma tão restritiva que:
- as reformas necessárias não cabem nele,
- as promessas necessárias não são viáveis,
- e o sistema torna-se refém das suas próprias ilusões.
É aqui que o FT e a The Economist convergem com Aguiar: ao evitarmos dor durante décadas, criámos um campo de possibilidades tão pequeno que já quase nada cabe lá dentro — excepto mais estímulos, mais apoios, mais adiamentos.
Aguiar diria: "Ao eliminar os mecanismos de dor, eliminamos os mecanismos que criam possibilidades."
Ou, dito de outra forma: evitar todos os sobressaltos não amplia as escolhas — destrói-as.
Está decidido, vou reler:
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