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sábado, março 22, 2025

Não devia ser um drama, quase que podia ser celebrado

Não devia ser um drama, quase que podia ser celebrado. A menos que seja resultado de uma evolução artificial de custos da mão de obra, não suportada por procura.

Drama mesmo é quando a chegada de algumas empresas é celebrada.

O caderno de Economia do semanário Expresso do passado dia 21 traz um artigo intitulado, "Yazaki Custo da mão de obra penaliza Portugal".

O artigo discute o despedimento de 364 trabalhadores da fábrica da Yazaki Saltano em Ovar, justificado pelo elevado custo da mão de obra em Portugal e pela crise do sector automóvel europeu. A empresa japonesa destaca a concorrência de países com custos mais baixos, como o Egipto, a Roménia, a Bulgária e a Tunísia, onde os salários são significativamente inferiores.

A Yazaki compara os custos salariais entre diferentes países e conclui que a produção no Egipto custa apenas 10% do custo de produção em Portugal. O artigo menciona ainda que a crise no sector automóvel já levou a outros encerramentos e despedimentos em Portugal:

"O custo da mão de obra "está a comprometer a sustentabilidade da produção em Portugal", afirma a Yazaki Saltano na mensagem que justifica o despedimento coletivo de 364 pessoas na sua fábrica de Ovar. 

...

o documento que fundamenta a decisão de despedir 364 dos 2100 trabalhadores da maior empresa de Ovar também refere a crescente "sensibilidade ao preço" das construtoras automóveis. E afirma que "o custo de produção em Portugal faz com que a YSE (Yazaki Saltano EMEA) não seja selecionada para os projetos a que se candidata por uma questão de preço".

E a empresa faz contas relativamente à perda de competitividade do país para concluir que "o mesmo projeto produzido no Egito representa somente 10% do custo de mão de obra de Portugal. Ou seja, um trabalhador em Ovar custa 9 vezes mais do que outro trabalhador no Egito. Portugal também fica a perder face à concorrência da Roménia (38% abaixo), Marrocos, com 27,57% do custo de Portugal, Bulgária (44,4%) ou Tunísia (21,57%), indica o documento a que o Expresso teve acesso. São diferenças "impossíveis de cobrir por via do aumento da produtividade", assume a administração, depois de comparar o salário bruto médio mensal nas suas fábricas nestes países e a respetiva evolução desde 2019. Em Ovar, o valor passou de €808 para €1303, enquanto a Roménia apresenta valores de €464 em 2019 e de €821 em 2025. Na Bulgária, o salário subiu de €361 para €583, em Marrocos saltou dos €284 para os €362, e na Tunísia aumentou dos €163 para os €284. No Egito, onde só há dados do atual exercício, o valor é de €136."

Sabem o que é andragogia?

Vou procurar demonstrar.

A notícia do despedimento colectivo de 364 trabalhadores na fábrica da Yazaki Saltano em Ovar gera previsíveis reacções de preocupação e pessimismo. Afinal, trata-se de um encerramento que afecta directamente centenas de famílias e um reflexo de uma perda de competitividade do país face a mercados onde os custos salariais são significativamente mais baixos. [Moi ici: Recordar a bússola da competitividade e como esta conversa é perigosa para o que realmente interessa, o aumento da produtividade] Contudo, num olhar mais amplo e menos imediatista, este tipo de eventos não deve ser encarado como um drama. Pelo contrário, fazem parte do mecanismo que impulsiona as economias para patamares mais elevados. No postal sobre a bússola da competitividade usei esta imagem:


Reparem que o caminho para "+ produtividade" tem um cemitério de empresas. Já o caminho da "+ competitividade" é o caminho do empobrecimento, das empresas zombies suportadas em subsídios pagos pelo estado com dinheiro dos contribuintes.

A Yazaki opera num sector onde o factor preço é determinante, e os seus clientes têm alternativas mais baratas.

Uma economia saudável e dinâmica não se constrói protegendo indefinidamente empregos de baixo valor acrescentado, mas sim permitindo que sectores mais antigos cedam espaço para novos sectores emergirem. Este é o motor que impulsiona o desenvolvimento económico: quando uma empresa já não consegue operar num determinado contexto, a resposta não deve ser o lamento, mas sim a criação de condições para que novas indústrias, mais produtivas e com maior capacidade de pagar melhores salários, ocupem o espaço deixado vago.

Isto remete para o modelo dos Flying Geese. Os países menos desenvolvidos começam por atrair indústrias intensivas em mão de obra, com baixos salários. Com o tempo, essas indústrias crescem, os salários aumentam, e a produção desses sectores migra para países mais baratos. O país de origem, em vez de colapsar, sobe na cadeia de valor, investindo em sectores mais sofisticados, com melhores salários e maior especialização.

Portugal tem de aceitar que não pode, nem deve, competir apenas pelo factor custo. Se quisermos manter empregos industriais, esses empregos terão de ser sustentados por inovação, automação e produção de bens de maior valor acrescentado. O drama da saída da Yazaki não é que uma empresa de componentes automóveis está a fechar postos de trabalho. O verdadeiro drama será se Portugal não estiver a criar novas oportunidades para absorver essa mão de obra em sectores de maior valor. Recordam-se de "não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas"?

Em vez de lamentarmos a saída de empresas que só conseguem competir com baixos salários, [Moi ici: E isto não é uma crítica, é um facto da vida. Como os produtores de sapatos de St. Louis, foi bom enquanto durou] devemos concentrar-nos em criar um ecossistema onde outras possam pagar melhor. Se a economia funcionar correctamente, no lugar da Yazaki surgirão empresas mais inovadoras, com produtos diferenciados e margens que permitam pagar salários mais elevados. É assim que se sobe na escala de valor, é assim que as sociedades prosperam.

Só que isto implica deixar as empresas morrer!


Nota: No artigo pode ler-se "São diferenças "impossíveis de cobrir por via do aumento da produtividade"" isto é sobre trabalhar o denominador porque o numerador está a diminuir. Recordar os números de Rosiello.

domingo, março 16, 2025

Paletes e falta de trabalhadores

A revista The Economist do passado Sábado inclui este artigo interessante "Why "labour shortages" don't really exist".

Um artigo bem alinhado com o que tenho aqui escrito sobre as paletes de imigrantes. Por exemplo: "O que existe é falta mão-de-obra barata."

"The story is consistent over time. When jobs are plentiful, people say there is a labour shortage. It is hard for bosses to find staff. But when unemployment is high, people still say there is a shortage. [Moi ici: A ideia de escassez de mão de obra é recorrente, independentemente do contexto económico]

...

a labour shortage is a question of price and distribution, rather than scarcity. If a company complains about a shortage of vegetable-pickers, what it really means is that it cannot hire them at the wage it would like to pay. The term "labour shortage" thus implies a normative claim-that there "should" be more workers at the prevailing wage rather than describing an economic reality.

When you dig into the data, evidence of shortages often melts away. [Moi ici: A escassez de trabalhadores muitas vezes resulta mais de questões salariais do que de uma verdadeira falta de profissionais. O problema não é a inexistência de trabalhadores, mas sim o facto de as empresas quererem pagar menos do que o necessário para atrair candidatos]

Recognising the truth of labour shortages has important policy implications. At present officials are afflicted by shortage-itis. Australia maintains an "occupation shortage list" to monitor which industries need state assistance. Germany maintains a similar list and gives people in these professions preferential migration treatment. In America Joe Biden tried to tackle a perceived labour shortage in certain industries via apprenticeships. Sir Keir Starmer, Britain's prime minister, wants to boost spending on training British-born workers to alleviate his country's labour shortage.

Businesspeople bleat so much about labour shortages in part because hefty subsidies are up for grabs." [Moi ici: Empresas e políticos frequentemente enfatizam a falta de mão de obra para justificar medidas como subsídios ou programas de formação financiados pelo Estado]

A escassez de trabalhadores pode ser mais uma questão de preço e distribuição do que de falta real de mão de obra. 

Como ouvi aqui:

sexta-feira, fevereiro 28, 2025

Quem tem coragem para ter esta conversa olhos nos olhos?


Mão amiga fez-me chegar às mãos recorte do jornal "Barcelos Popular" com o artigo "Rombo no sector têxtil faz exportações reduzirem 12% em Barcelos" onde basicamente se repete o comunicado da Associação Comercial e Industrial de Barcelos (ACIB).

Recordo os temas:
Com base no conteúdo das páginas 2 e 3 do Barcelos Popular, fica evidente que a ACIB enfatiza a necessidade de intervenção pública para sustentar um sector têxtil em declínio. Enquanto a narrativa enaltece a região como um motor de empreendedorismo e capacidade industrial, paradoxalmente, reivindica subsídios para manter empresas cuja produtividade e competitividade são questionáveis.

A questão central reside na incoerência entre o discurso e a acção: defende-se o aumento da produtividade e da inovação, mas, simultaneamente, solicita-se financiamento público para sustentar empresas que, por razões estruturais ou de modelo de negócio ultrapassado, não conseguem manter a sua viabilidade. No contexto de uma União Europeia que privilegia a sustentabilidade económica e boas condições de vida, insistir na manutenção de um sector pouco competitivo à custa dos contribuintes parece ser uma estratégia míope.

Resta saber se a associação tem uma visão de futuro que vá além da dependência do Estado ou se continuará a perpetuar um ciclo de subsidiação sem uma estratégia real de adaptação e modernização. O locus de controlo está, claramente, no exterior, mas é crucial que se invista em soluções de longo prazo em vez de insistir numa lógica de curto prazo que já demonstrou falhas.

A forte dependência de subsídios e apoios públicos pode ter implicações sérias na produtividade e competitividade de longo prazo da economia de Barcelos. Se as empresas locais se habituarem a recorrer a ajudas externas sempre que enfrentam dificuldades, corre-se o risco de enfraquecer os incentivos à eficiência e à inovação. Uma economia que sobrevive à base de subsídios pode cair na armadilha de adiar ajustes necessários, criando empresas menos produtivas ou "zombies" mantidas artificialmente. 

No caso em análise, a ACIB insiste que as "empresas precisam de apoios, infraestruturas e acções colectivas bem executadas" para enfrentar a crise. Sem dúvida, infraestruturas melhores e colaboração podem aumentar a competitividade (por exemplo, melhor logística e cooperação sectorial). No entanto, se os apoios financeiros servirem apenas para cobrir prejuízos ou prolongar a vida de modelos de negócio ultrapassados, a competitividade e produtividade estrutural da região tende a estagnar ou deteriorar-se. É duro, mas aquele título de há dias, "It's no longer about how you do it; it's about what you do," mostra como é difícil ou quase impossível que os apoios pedidos ajudem a resolver a situação.

Quem tem coragem para ter esta conversa olhos nos olhos?

Ontem de manhã vi este tweet na mouche:

A Teoria do Cavalo Morto é uma metáfora que se refere ao acto de continuar a investir tempo, esforço ou recursos em algo que claramente já falhou ou não tem mais hipóteses de sucesso. A expressão vem do ditado:

"When you discover that you are riding a dead horse, the best strategy is to dismount."

Ou seja, se um cavalo está morto, não adianta continuar a montá-lo – o mais lógico é aceitar a realidade e seguir em frente. No contexto empresarial, a metáfora é usada para descrever situações onde empresas, governos ou pessoas insistem em estratégias, projectos ou modelos de negócios falidos em vez de mudarem de abordagem.

sexta-feira, fevereiro 21, 2025

Competitiveness compass? Be careful what you wish for

"The refusal to adopt modern technologies is, in many ways, the original sin. As time went on, German CEOs and political leaders continued to double down with poor technological, geopolitical and economic bets - and with an economic ideology that equated the economy at large with industry. This is why the biggest concept in the entire German economic debate is competitiveness, something of huge importance for companies, but a concept rarely used for countries. You hardly hear about it in economic debates in the UK or the US. You hear about almost nothing else in Germany.
I recently came across a book written by Hans-Olaf Henkel, a former president of the Federation of German Industry lobby group, who in later life became a member of the European Parliament for the far-right AfD. One of Henkel's big complaints was that Germany had lost the textile industry; he failed to mention that this was the case for every other country in the Western world, too. If he had understood David Ricardo's theory of relative comparative advantage, he would have known that it is perfectly normal for advanced nations to lose certain sectors to developing countries. But Henkel's narrative is the one that stuck in Germany. It is the fight against Ricardo. More competitiveness became the answer to every economic crisis.
In the period from 2005 until about 2015, this focus on competitiveness appeared to work. This is the story of the modern German miracle - the story that got a lot of people confused. Germany managed to prolong an outdated industrial model for a few more years due to a series of fortuitous accidents. At a superficial level, that decade seems to be the counter-narrative to my story. At a deeper level, it is not. That decade is not so much the exception that proves the rule, but a period that laid the foundations for a future crisis."

Trecho retirado de "Kaput - The End of the German Miracle" de Wolfgang Munchau  

Recomendo a leitura dos comentários ao postal "Curiosidade do dia" de 7 de Fevereiro passado.

Recordo o tema da competitividade no Uganda - Competitividade, absurdo, lerolero e contranatura e a relação entre competitividade e empobrecimento.

Os três textos (o de Munchau, os comentários ao postal, e o do Uganda de Reinert) convergem para uma crítica comum ao uso do conceito de competitividade como um dogma económico que, sem um foco real na produtividade, pode levar ao empobrecimento. 

Münchau critica o dogmatismo alemão em relação à competitividade, o que ecoa a análise de Reinert sobre como o termo se tornou um conceito vago e manipulável.

Reinert mostra como competitividade surgiu como um conceito confuso e controverso nos anos 1990. Ele aponta que economistas como Paul Krugman rejeitavam a noção de "competitividade nacional", pois isso poderia justificar políticas que não necessariamente levavam ao aumento da produtividade e do rendimento real. Reinert também destaca que, em alguns contextos (como no Uganda), "competitividade" foi utilizada para justificar a redução de salários e condições de vida, em vez de promover crescimento real. O diagnóstico de Reinert sobre a confusão em torno da competitividade encaixa-se perfeitamente na narrativa de Münchau sobre a Alemanha. O que aconteceu na Alemanha foi exactamente isso: uma busca por competitividade sem inovação estrutural, o que resultou em estagnação. E interrogo-me se não foi isso também que aconteceu no Japão, com base no artigo de Michael Porter, "What is Strategy?"

A frase de João Rocha: "competitividade sem produtividade é igual a pobreza" resume bem a crítica de Münchau e Reinert e é um tema crítico deste blogue.

O facto da Comissão Europeia ter substituído "produtividade" por "competitividade" é preocupante, pois sugere que a UE pode estar a adoptar um discurso similar ao alemão, onde a busca por competitividade pode estar a mascarar a ausência de inovação real.

(imagem daqui)

No fundo, a grande questão aqui é: se um país procura ser "competitivo" apenas reduzindo custos (salários, regulamentações, direitos sociais), ele empobrece. A verdadeira competitividade precisa vir da produtividade, da inovação e da criação de valor.

Neste postal escrevi:

"O Carlos cidadão, preocupa-se com o empobrecimento generalizado da sociedade por causa da aposta na competitividade pelos custos, por causa do apoio a empresas que deviam morrer naturalmente e não serem mantidas ligadas à máquina com apoios e subsídios vários como os do Chapeleiro Louco"

É preocupante como a União Europeia segue os mesmos passos de Portugal ... a doença dos subsídios é tramada. Não porque os subsídios sejam intrinsecamente maus, mas porque (e volto a Munchau):

"Subsidies are geared towards large companies with legal departments, not to entrepreneurs whose mind is focused on their business." 

Para rematar, estão todos com medo da transição: Falta a parte dolorosa da transição.








sábado, fevereiro 01, 2025

Zombies à espera de um qualquer Milei num futuro ainda distante mas certo

Primeiro, recordo aqui do blogue (Setembro de 2024) acerca da diferença entre a produtividade americana e europeia:

Segundo, recordo aqui do blogue (Agosto de 2024) o que os predadores do estado gostam mesmo:
Há dias no Twitter Nassim Taleb ilustrou bem o que se passa na Europa:

Ainda no Twitter, este túnel é uma metáfora do que se passa na Europa (aka planeta LV-426). A sério, que melhor ilustração para a frase memorável de Hudson:

"That's it, man. Game over, man! Game over!" 

Terceiro, a Comissão Europeia é como muitas empresas, perante um problema saltam dos sintomas para um plano, um plano grandioso apresentado com fanfarra. O mito do grande planeador, do grande geometra. Roger Martin disse tudo neste tweet:

Sim, é verdade a melhoria segue o ciclo PDCA, mas antes dele há outro ciclo, o ciclo SDCA. É preciso perceber a situação antes de saltar para uma solução miraculosa ... e errada.

Quarto, falarem-me em competitividade quando o problema é produtividade, faz-me suspeitar que os incumbentes do DVD leadership team da Netflix estão à mesa a garantir que recebem uma fatia generosa do bolo. Focar na competitividade é focar no empobrecimento se não trabalharmos a produtividade. Há anos que uso este esquema:


BTW, Mullan descreve bem esta economia zombie que vai ter de apodrecer mais e mais até chegarmos a um momento Milei. 


Empobrecimento é isto, "Há 900 mil trabalhadores em pobreza absoluta em Portugal".  Acho graça, até começar a chorar, quando leio:
"As associações defendem mais apoios do Governo, principalmente para as famílias carenciadas."
Ou seja, apoios indirectos às empresas para continuarem a manter o status-quo. Impressionante, tudo podre. Lembrem-se das paletes de imigrantes.


Acham que isto acontece por acaso?

Ah, sim! Mais apoios indiretos às empresas para manterem este magnífico status quo. E ainda nos perguntamos porque é que até os imigrantes paquistaneses decidem que Portugal não é assim tão encantador? Deve ser do clima...

Extraordinário:


domingo, dezembro 29, 2024

Se jogasse bilhar como uma profissional ...

Como é que se cria a economia do futuro?

Primeiro, deixar as empresas do passado morrer! 

Mas como se sabe quais são as empresas do passado? Os gestores não sabem, os governos não sabem, é deixar que o mercado faça a triagem sem beneficiar amigos. Por isso, o meu grito de há muito: 

- DEIXEM AS EMPRESAS MORRER!

Quando as empresas morrem, no curto prazo geram desemprego. 

Este gráfico publicado há dias pelo IEFP mostra o panorama:

Entretanto, os jogadores amadores de bilhar empertigam-se, ""Até agora não ouvimos nada do Governo sobre transição ou despedimentos"":
"Pensar quais são os setores estratégicos e ambientais e ambientalmente sustentáveis que Portugal pode desenvolver."
Mariana Mortágua acha que os governos de turno sabem ler o futuro e definir quais são os sectores estratégicos que o país pode desenvolver!!!! Extraordinário.

Agora, Mariana Mortágua está preocupada com os despedimentos no sector têxtil!!! Aumentos do salário minímo acima do aumento da produtividade vários anos a fio geram ... falta de competitividade. A velha estória de 2009 sobre a incongruência estratégica em Acham isto normal? Ou a inconsistência estratégica! Ou jogar bilhador como um amador! Se Mariana Mortágua jogasse bilhar como uma profissional não se ficaria pela peça de dominó imediata, veria as peças seguintes e talvez percebesse a teoria dos flying geese.

O desemprego para alguns é uma benesse, para muitos é uma tragédia pessoal. Por isso, as pessoas nessa situação devem ser apoiadas. Por isso, falo de dor na transição, tema que deu origem a uma série de postais: Falta a parte dolorosa da transição (Parte VI). Como é que se minimiza a dor e se cria a economia do futuro? Há pouco mais de um ano escrevi: Menos dor na transição.

Isto está tudo encadeado. Precisamos de empresas da economia do futuro, com produtividades elevadas. Por isso:


sábado, dezembro 28, 2024

É assim que se consegue ser competitivo sem ser produtivo


Em "O que existe é falta mão-de-obra barata" de Novembro passado citei um artigo de Eric Weinstein, "How and Why Government, Universities, and Industry Create Domestic Labor Shortages of Scientists and High-Tech Workers".

Entretanto na capa do DN do passado dia 24:

O artigo é mais um monumento à ... externalização dos custos para os contribuintes:
"A Confederação Empresarial de Portugal (CIP) defende que seja garantido um tempo de permanência mínima dos trabalhadores estrangeiros no país, de forma a evitar que estes profissionais migrem para outras geografias na Europa. "Este visto não será apenas válido para Portugal, é válido para o Espaço Schengen, do qual fazemos parte. Não faz sentido que sejam as empresas portuguesas a custear a formação, a deslocação para Portugal e os custos de estadia e que, depois, Portugal seja uma porta aberta para a Europa à custa do investimento das empresas portuguesas. Precisamos de encontrar soluções que não violem as regras comunitárias de circulação de pessoas e que acomodem essa circunstância para que as empresas não estejam a investir correndo depois o risco de perderem os trabalhadores", explica ao DN o presidente da CIP.
...
O líder da CIP sugere que os contratos laborais celebrados definam um período mínimo de permanência ou, em alternativa, que o Governo garanta um mecanismo de reembolso dos custos contraídos com os trabalhadores. ... As empresas não podem ter as responsabilidades todas, é preciso que exista uma garantia caso as coisas corram mal", aponta."
Pode a proposta de um "período de lealdade" ou vinculação obrigatória dos trabalhadores imigrantes aos seus empregadores ser equiparada a uma forma de exploração moderna, suscitando comparações com a escravatura sob o disfarce de política?

Por que raio há-de o ónus financeiro ser transferido para os contribuintes para pagar a empresas que não sabem ou não conseguem manter trabalhadores ao seu serviço?

Ao impor contratos de lealdade, os empregadores e o Estado criam um desequilíbrio de poder onde os migrantes têm pouco ou nenhum poder negocial. Isto compromete a sua autonomia, tornando-os dependentes dos seus empregadores para o seu estatuto legal e necessidades básicas. Isto assemelha-se aos sistemas de servidão por contrato historicamente utilizados, onde os trabalhadores eram obrigados a servir por um período fixo, frequentemente sob condições adversas, em troca de transporte ou outros benefícios. O enquadramento moderno disto como política incentiva a exploração sistémica.

No artigo, Weinstein defende que o conluio entre governo e empresas manipula o mercado de trabalho criando escassez artificial ou controlando a mobilidade dos trabalhadores para manter os custos baixos. Tais políticas não visam o bem-estar dos trabalhadores, mas sim optimizar os lucros dos empregadores através do aproveitamento de mão-de-obra barata e controlável.

Não esquecer:

"In such a market economy, employers signal a need for domestic talent through improving wages, benefits, and terms of employment. They signal a desire to avoid the high prices for domestic talent by turning to government in search of visas."

"A tight labor market, when unemployment is low, may be awkward for some employers, but it does wonders for workers, particularly disadvantaged ones. In a tight labor market, as in World War II, women got good blue collar jobs in factories; in tight labor markets the old and the young are courted, racial prejudices forgotten, and employers make efforts to improve wages and working conditions. 

We should be extremely hesitant about using immigrant visas to loosen labor markets. As we all learned in college economics, when a supply increases, its value decreases."

-David North, Director of the Center for Labor and Migration Studies in testimony concerning the Immigration Act of 1990.

...a tight labor market is the best friend of the underclass. I guess that's the way that I feel, that we should worship a tight labor market for the underclass because it really requires employers to reach down and train and retrain people and give them the jobs that they have."

-Governor Richard Lamm in testimony concerning the Immigration Act of 1990.

"I believe strongly that labor shortages are wonderful, and we should never do anything to eliminate that pressure, because it is forcing us to ask all the right questions about education and health, antidiscrimination policy, all the right policies are in place. In many ways, the whole idea of trying to get our nation to full employment was exactly to get itself in a state of perpetual concern about the readiness of our labor force. That is what tight labor markets mean."

-Vernon Briggs in testimony concerning the Immigration Act of 1990. (pg. 289) 

Não percebo como a esquerda se aliou ao patronato.

Depois não se venham queixar que a produtividade não sobe. É assim que se consegue ser competitivo sem ser produtivo. A mobilidade laboral permite que os trabalhadores se desloquem para regiões ou indústrias onde as suas competências são mais necessárias, aumentando a produtividade económica, reduzindo as ineficiências e deixando morrer as empresas que não evoluem.

sexta-feira, dezembro 20, 2024

Produtividades: europeia versus americana

No WSJ do passado dia 17.12 este texto "Why the U.S. Is Trouncing Europe" com um tema interessante e de esfregar na cara aos adeptos da caridadezinha:

O velho tema da "caridadezinha" aqui no blogue. Recordo:

Primeiro os ingredientes:
 
"Economists never cite one of the most significant statistics about the U.S. economy. According to data released last week by the Organization for Economic Cooperation and Development, only about 12% of Americans score at the highest levels on internationally administered academic tests, while 34% score at the lowest levels - nearly three low scorers for every high scorer. Germany's figures are nearly even: 18% score at the highest levels and 20% at the lowest. Put another way, Germany's ratio of high to low scorers is almost three times America's. Scandinavia's is five times; Japan's, seven.
These enormous differences have profound economic implications.
...
Yet America excels relative to Europe despite these enormous differences. While Europe has created 14 companies worth more than $10 billion in the past 50 years, with about $400 billion of market value in total, Americans have created nearly 250 such companies, worth $30 trillion. That success has driven up America's middle-class incomes. The median disposable U.S. household income, according to the OECD, is now 25% greater than the median German household and 60% greater than the median household in Italy.
...
The belief that taxing success more heavily will scarcely slow inevitable progress ignores the importance of being first to market and founding successful companies in America rather than the rest of the world, the enormous difference in the training and expected payoffs for successful risk-taking that it creates for America's talented workers, and the motivational effect higher expected payoffs for successful risk-taking have on our talented workers."
Se os economistas europeus realmente acreditam que o "Relatório Draghi" será a varinha mágica que tornará a Europa mais rica que os Estados Unidos, talvez estejam a subestimar a essência do sucesso americano: uma mistura de inovação à solta, tolerância face ao fracasso e uma boa dose de audácia que transforma ideias malucas em empresas bilionárias. Enquanto a Europa redige relatórios de 300 páginas, os americanos já lançaram três startups e uma criptomoeda. Portanto, se o plano europeu é ultrapassar os EUA apenas com novas regulamentações e ajustes fiscais, talvez seja melhor preparar um "Relatório Draghi 2.0" - desta vez com capítulos sobre como adoptar uma mentalidade mais empreendedora, com um anexo explicando como transformar burocratas em visionários e professores de economia em investidores de capital de risco. Afinal, quem sabe? Se o próximo relatório tiver menos fórmulas e mais fé no imprevisível, talvez a Europa tenha sua chance.

segunda-feira, novembro 18, 2024

"O que existe é falta mão-de-obra barata"

Primeiro: 

Segundo:

Terceiro:

Sublinho "They don’t want wages to rise."

Ou seja: Não existe falta de mão-de-obra. O que existe é falta mão-de-obra barata. Não percebo como a esquerda não percebe isto.

"To get an idea of expert opinion on this topic, consider the 1990 testimony of Dr. Michael S. Teitelbaum, later to become Vice-Chairman of the U.S. Commission on Immigration Reform and considered by many, the foremost expert on the migration of the highly skilled:

"...the very phrase itself, "labor shortage" provokes puzzlement or amazement among most informed analysts of U.S. labor markets. "

"[To attract] workers, the employer may have to increase his wage offer. ... So when you hear an employer saying he needs immigrants to fill a "labor shortage", remember what you are hearing: a cry for a labor subsidy to allow the employer to avoid the normal functioning of the labor market." (fonte)

-1990 Congressional Testimony of Dr. Michael S. Teitelbaum"

Recordo:

sábado, outubro 05, 2024

Unreasonable hospitality - parte IV

Há dias encontrei esta citação no livro "Unreasonable hospitality: the remarkable power of giving people more than they expect" de Will Guidara.

No capítulo 18, "Improvisational Hospitality" o autor descreve como nasceu e se desenvolveu o programa Legends. Um programa dedicado a criar experiências que ficam na memória dos clientes. 

"I hear this a lot: "Well, of course you could afford to pull those tricks at an expensive restaurant."

And I always think: Are you sure you can afford not to?

It's true-these gifts cost money, in labor if nothing else. But I'm my dad's son, and I reviewed the Dreamweaver line item in the P&L every month with an eagle eye. There was never any question: given the word-of-mouth marketing this bought us with our guests and the excitement this kind of gift-giving created among the team, the program was worth every penny.

[Moi ici: Segue-se agora o trecho que merece reflexão. É disto que falo quando penso na doença anglo-saxónica, quando menciono os Muggles, quando penso em "optimismo não documentado"] Anyway, as a leader, you can't rely solely on your spreadsheets. You have to trust your gut-and what you feel when you're in the room with people, giving and receiving these gifts. Is there a traditional return on investment with a program like this? No. Am I confident that each dollar I spent here did as much or more than the ones I spent on traditional marketing? Absolutely."

Um convite para:

  • Confiar na importância de criar experiências memoráveis para os clientes.
  • Pensar para além das folhas de cálculo para não perder a visão geral. Uma dependência excessiva da análise pode levar a decisões que reduzam os custos em detrimento da satisfação dos clientes ou da motivação dos trabalhadores, o que pode prejudicar o negócio a longo prazo.
  • Pensar em evitar decisões tomadas unicamente com base em projecções financeiras, sob pena dos líderes tornarem-se avessos ao risco, evitando abordagens inovadoras que podem produzir ganhos a longo prazo. As PME, em particular, precisam de se manter flexíveis e abertas a estratégias criativas que as possam ajudar a competir e a crescer.

Recordo este postal sobre a Viarco - "Nós fazemos as contas ao contrário"


Parte IIIParte II e Parte I.

terça-feira, junho 25, 2024

Quando a produtividade estagna ou baixa... (parte IV)

Parte I, parte II e parte III.

Por que é que isto acontece ""Políticas europeias têm ficado para trás no apoio à indústria", diz. Mário Jorge Machado, o português que vai liderar o setor têxtil europeu"? 

Porque ninguém tem coragem de dizer:

"Alguém diz ao filho com 5 anos?

- A actuação do vosso ano na Festa de Natal do jardim-escola foi uma valente porcaria!"

Por exemplo, neste outro texto "ATP apoia Manifesto da EURATEX" é interessante que a palavra "produtividade" não seja  mencionada nem uma vez. Já a palavra "competitividade" é referida 4 vezes. 

Já sabem qual o resultado de competitividade sem produtividade?

Pois...

Com falinhas mansas e impostos altos não vamos lá.



sábado, maio 11, 2024

Emprego e imigração - produtividade versus competitividade

Primeiro a provocação:

Notar a diferença entre a produtividade e competitividade:

O tweet acima refere o aumento da competitividade da economia norte-americana, e ainda na quinta-feira passada referimos a quebra na produtividade.

A esquerda protectora da classe trabalhadora. torna-se na sua maior inimiga. Recordar porque é que os ex-comunistas italianos começaram a votar no Chega lá do sítio.

Entretanto, no DN do dia 9 de Maio, "80% do brilharete do emprego assenta em trabalhos pouco ou nada qualificados":

"Cerca de 80% da criação de emprego dos últimos dois anos, em Portugal, isto é, desde que começoua crise inflacionista (acelerada pela guerra da Rússia contra a Ucrânia), é explicada pela criação de postos de trabalho pouco ou nada qualificados.

A "resiliência" e a "força" do emprego, que tantas vezes tem sido destacada por políticos e decisores, é afinal pouco rica em qualificações e está associada a salários normalmente muito baixos, o que também pode ajudar a explicar a baixa produtividade da economia portuguesa.

...

Problema: mais de 78% (122 mil indivíduos) desta criação líquida de emprego ficou concentrada em duas profissões onde imperam baixas qualificações e baixos ordenados.

...

Os dois setores juntos representam quase metade da criação de emprego desde o início de 2022."

Entretanto, mão amiga mandou-me esta imagem:



terça-feira, abril 23, 2024

Um balanço

Mão amiga fez-me chegar uma entrevista a Fortunato Federico, "Presidente do Grupo Kyaia", publicada no semanário Nascer do Sol no passado dia 19 de Abril.

Algumas notas. Primeiro o lado positivo:

"Não precisávamos de produzir mais. Nós precisávamos de produzir com valor acrescentado. Não é produtividade, mas valorização do produto. Fala-se muito em produtividade, é um termo dos economistas, [Moi ici: Eu aqui no blogue culpo os engenheiros] mas cheira a escravatura.[Moi ici: O problema é confundir competitividade com produtividade]

Não é produzir, é valorizar.

Valorizar é com pensamento, com lentidão, com menos consumo.

Fazer um sapato à mão é muito mais bonito e muito mais prático para a formação humana do que fazê-lo à máquina.[Moi ici: Ao longo dos anos quanto do investimento foi no sentido das máquinas para apoiar a produtividade física?]"

Depois o óbvio:

"FF - Há quatro anos, montámos o meu sonho para a indústria: uma pequena Amazon. Portugal faz 80-90 milhões e eu pensei em vender pela minha plataforma digital, que era a Overcube. A minha ideia era ter uma pequena Amazon que escoasse a nossa produção e escoaria também partes das marcas portuguesas que iam para o mercado internacional.

Se nós vendêssemos 10% dos sapatos que exportavamos, era um negocio da China, um bom negócio. Mas também não funcionou, devido, primeiro, à mão-de-obra caríssima; segundo, uma mobilidade terrível. Era uma movimentação que não permitia estabilidade nenhuma.

A Overcube tinha lá 30 engenheiros a trabalhar, hoje tem 3 ou 4."[Moi ici: Recuo a 2018 e ao que escrevi em Como se compete num mundo de Amazons e Zalandos et al? Querer um negócio da China e sem mão-de-obra de qualidade ... come on]

Depois o lado humano, perder um filho deve ser, é um choque brutal.

terça-feira, abril 16, 2024

Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas (parte II)

Em "Libertar a economia do colete de forças fiscal" sublinhei:

"O investimento privado reflete a saúde das economias. Se as expectativas e se o contexto são favoráveis, este indicador rapidamente espelha essa confiança. É por esse motivo que a decisão, tomada por este Governo, de acelerar o desagravamento fiscal sobre o trabalho, duplicando, até ao verão, a descida que estava prevista no Orçamento do Estado, tem de ser sublinhada e valorizada. As famílias precisam de espaço de manobra - já. A redução do IRC ao longo da legislatura também contribuirá para libertar recursos financeiros, permitindo finalmente a sua aplicação em fatores produtivos que puxem os negócios e a economia para a frente.

O aumento da produtividade está diretamente ligada ao investimento. Se o nosso pais tem hoje trabalhadores mais qualificados e empresários igualmente mais preparados, o que nos tem faltado é precisamente capital para investir. Passo a passo, com políticas públicas coerentes e com o propósito de criar riqueza e não apenas redistribuir o pouco que existe, Portugal tem hipóteses de crescer mais, desenvolver-se mais e, deste modo, fazer subir a maré para todos - isto é, aumentar os rendimentos das pessoas, aproximando os salários dos valores que são pagos nas economias europeias mais desenvolvidas."

É pena o jornalismo não ter gente dedicada ao tema da produtividade. Perceberia esta frase:

Mais uma vez:

"Alguém diz ao filho com 5 anos?

- A actuação do vosso ano na Festa de Natal do jardim-escola foi uma valente porcaria!" 

Perceberia que isto que se segue não faz qualquer sentido:

"aumentar os rendimentos das pessoas, aproximando os salários dos valores que são pagos nas economias europeias mais desenvolvidas"

Nunca será possível chegar ao nível dos salários das economias europeias mais desenvolvidas a produzir com o mesmo perfil de economia que temos. Isto é duro de ouvir. Por isso é que ninguém tem coragem de o dizer. Por mais que a produtividade na produção de [colocar aqui um exemplo] aumente, o limite para os salários é o preço a que se consegue vender (não pensem que o conseguem pelo aumento da produtividade física).

Assim, continuam alegremente neste jogo de sombras: A produtividade não aumenta porque [colocar aqui um culpado externo que sirva de bode expiatório]. Esta postura desculpa os intervenientes, pobres vítimas dos governos de turno... 

Imaginem um governo ter a coragem de dizer isto Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas e de explicar porquê.

quinta-feira, março 21, 2024

Por que é que continuamos tão dependentes de fundos europeus?

Este é mais um postal que me faz perder clientes, porque distingo o Carlos consultor do Carlos cidadão.

Ontem no seu programa matinal, "A Cor do Dinheiro", Camilo Lourenço disse que o sector têxtil é um sector de excelência. 


Sabem o que visualizei? 

Isto:
Poucos minutos depois, na rádio Observador, no programa "E o vencedor é...", ao minuto 08:07, José Manuel Fernandes disse:
"Por que é que continuamos tão dependentes de fundos europeus?
Neste caso, pelo que estamos a perceber, toda uma operação [Moi ici: Promoção internacional das empresas] que devia ser suportada por uma indústria, a indústria têxtil e de lanifícios do Norte, toda essa operação era paga em 50%, talvez mais, por fundos europeus."
Confesso que já pensei nisto várias vezes. Dão-se apoios para as empresas participarem em feiras, as organizações empresariais do sector informam-nos que essas feiras foram um sucesso, mas as empresas raramente se tornam independentes e continuam a precisar de doses futuras de apoios.

Porquê?

Por causa da figura acima? 



É-se competitivo sem se ser produtivo? Assim, ganham-se encomendas, mas não se acumula capital... o bom velho Schumpeter. Pagam-se os custos do passado, mas não se pagam os custos do futuro, a tal espécie de esquema Ponzi.

Outro exemplo sobre o qual já escrevi é o do tomate: uma produção tão competitiva, tão competitiva, tão competitiva, que sem apoios de fundos europeus, se afundará.

Remato esta reflexão com um postal que costumo citar aqui:

sábado, março 09, 2024

Por que se pedem paletes de mão de obra estrangeira barata? (parte III)

Há dias li no WSJ este longo artigo, "Rich Countries Are Becoming Addicted to Cheap Labor".

Entretanto, ontem li "The Cheap Labor Addiction?". Interessante, quer o texto do artigo, quer a troca de comentários. Julgo que se trata do tema que tenho abordado aqui no blogue acerca dos "Flying Geese" e também do tema desta semana sobre o papel dos empresários e da produtividade do país.

Por exemplo, acerca deste trecho no jornal:

"In Canada, economists say the government has cast aside a carefully managed immigration system that gave priority to highly skilled workers, and ramped up significantly the intake of foreign students and other low-skilled temporary workers. By flooding the market with cheap labor, Ottawa may be propping up uncompetitive businesses and ultimately damaging productivity (1), according to a December report co-written by former Canadian central-bank governor David Dodge."

Leio:

"Notice the strange use of the word "uncompetitive." If those businesses are able to do well and maybe even thrive, how are they uncompetitive? (2) In fact, they are quite competitive.

And how would hiring more workers reduce productivity? (3) Are the employers stupid? Do they want to pay people who not only don't produce but also reduce production?

Of course not. It's clear what Dodge means. He means that hiring low-skilled workers could easily reduce average productivity.

Indeed, the very next paragraph of the news story makes my point:

Economic output per capita is lower than it was in 2018 following years of record immigration (4), notes Mikal Skuterud, an economist at Waterloo University in Ontario. Canada has been bringing in so many low-skilled workers that it lowers the country's productivity overall (5), he says.

Skuterud is pointing to average productivity even though he blows it at the end by equating that to the "country's productivity overall.""

 (1) e (2) - Já abordamos este tema aqui, misturar e fundir produtividade e competitividade dá asneira. Daí esta imagem que uso há anos:

É possível ser muito competitivo e empobrecer porque se é pouco produtivo e, por isso, apesar da subida do custo de vida os salários não são capazes de acompanhar porque a organização não liberta margem suficiente. 

Recordo:

(3) - Produtividade de empresas versus produtividade agregada de um país. Recordo Salário mínimo, produtividade, motivação/malandragem e desemprego (parte II)

(4) e (5) - Recordo Falta a parte dolorosa da transição

Podem querer o que quiserem, mas a opção que tomarem tem custos.

domingo, fevereiro 11, 2024

Coisas que me fazem espécie

Encontrei um artigo com este título, "Indústria de madeira e mobiliário tem falta de mão de obra qualificada". Vejamos algumas citações:

"Vida Económica - Qual a atual situação geral do mercado da madeira e do mobiliário?

Vitor Poças - A evolução do mercado da madeira e mobiliário tem sido muito positiva, sobretudo no que diz respeito ao volume de exportações do setor que, nos últimos 12 anos, apresentou um crescimento verdadeiramente notável, passando de 1,5 mil milhões em 2010 para mais de três mil milhões em 2022. Num panorama mais recente, ainda só temos dados oficiais até novembro de 2023, o setor apresenta um crescimento global das suas exportações de 4,6% em comparação com o mesmo período do ano anterior, sendo que esperamos alcançar um record histórico de 3170 milhões de euros no final do ano. ...

VE - Quais os principais problemas que se colocam às empresas do setor?

VP - O setor tem desafios, alguns deles específicos do setor da madeira e mobiliário e/ou dos seus sub-setores, muito concretamente no que diz respeito à escassez de matéria-prima de origem nacional e de mão de obra qualificada, bem como dos custos de contexto para um setor industrial que, do nosso ponto de vista, o país teima em não acarinhar transversalmente, como a carga fiscal desproporcional sobre os rendimentos de quem trabalha, problemas de licenciamento industrial, burocracias, ineficiência de funcionamento do Estado em razão de celeridade de processos, desmotivação das pessoas, escassez de meios e ausência de proximidade para resolução de problemas concretos das pessoas e das empresas que poderiam catapultar o crescimento económico. 

...

VE - As empresas estão a fazer um esforço no sentido da internacionalização?

VP - Sim, sem dúvida. Portugal é um mercado de pequena dimensão pelo que o crescimento das empresas passa pelo aumento das exportações, ... Por outro lado, normalmente a exportação e a internacionalização permitem às empresas uma maior rentabilidade associada a uma maior valorização do produto, pelo que esta estratégia é seguida e constitui uma aposta das empresas nacionais e do setor.

...

VE - Tem havido problemas no fornecimento das matérias-primas?

VP - Sim, a questão da matéria-prima é crítica e penaliza a competitividade das nossas empresas. Portugal teima em não promover a exploração profissional da nossa floresta, fazendo uma gestão quase ruinosa da mesma e isso, obviamente, obriga à importação de enormes quantidades de matérias-primas, com todos os custos de transporte e de logística implícitos, e isso sem dúvida que afeta toda a fileira."

Portanto, primeiro:

  • crescimento significativo das exportações
  • a internacionalização é vista como uma forma de aumentar a rentabilidade e a valorização dos produtos
Seria interessante saber qual o aumento médio do preço de venda, e qual o aumento da rentabilidade média.

Segundo:
  • há uma crítica à gestão da floresta em Portugal, que é considerada quase ruinosa, levando à necessidade de importar grandes quantidades de matérias-primas. Isso implica custos adicionais de transporte e logística, afectando a competitividade das empresas portuguesas no setor.
Este trecho faz-me espécie, "Portugal teima em não promover a exploração profissional da nossa floresta,".

Portugal? Quem é Portugal? Típico de quem tem o locus de controlo no exterior. Quem tem mais a lucrar com uma boa gestão da floresta portuguesa? As empresas que fazem parte da Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP). Assim, a AIMMP é que devia tudo fazer para que os proprietários vissem como uma boa opção evoluir para uma exploração profissional das suas propriedades florestais.

Terceiro:
  • escassez de mão-de-obra qualificada
Então, tanto sucesso a exportar e a aumentar a rentabilidade e os preços e não se consegue seduzir mão-de-obra qualificada, por que será?

A minha resposta é; não há falta de mão-de-obra qualificada, há sim incapacidade de pagar salários suficientemente atractivos. Por causa da carga fiscal e por causa do valor acrescentado que o sector consegue gerar. Não digo que seja o caso aqui, mas recordo que é possível ser competitivo, aumentar as exportações e ir empobrecendo. Recordar também Explicar o mais importante.


sexta-feira, dezembro 08, 2023

Acerca da evolução de Portugal e da Roménia (parte II)

Ontem publiquei Acerca da evolução de Portugal e da Roménia. Também ontem li no JdN, "Peso dos bens transacionáveis na riqueza produzida quase estagnado".

Reparem no texto inicial do artigo:

"Valor acrescentado gerado pela produção de setores de bens transacionáveis atingiu mínimos em 2010 e desde então está quase estagnado. Perda de competitividade da indústria explica panorama. Valor acrescentado das exportações no PIB abranda."

Agora vamos à minha matriz produtividade versus competitividade:

Não devemos confundir produtividade com competitividade.

Não devemos cair no erro de ignorar a lição japonesa. 

Falta a parte dolorosa da transição. O aumento do valor acrescentado que é preciso tem de ser obtido à custa da evolução na horizontal para actividades com mais valor acrescentado. Não podemos esperar que a evolução desejada seja consequência de continuar a exportar o que já exportamos. O peso dos bens transaccionáveis não cresce por causa do mastim dos Baskerville, por causa do que falta. Já me repito: Depois do hype: O mastim dos Baskerville! 

No artigo pode ler-se:

"A diminuição do peso do VAB gerado pelos setores produtores de bens transacionáveis é explicada pela alteração do modelo de especialização produtiva da economia portuguesa, com os serviços a ganharem destaque nos últimos anos, a que se junta "a perda de competitividade de alguns dos principais setores de bens transacionáveis" em Portugal, com destaque para a indústria."

Na Parte I pode ver-se a evolução dos serviços em Portugal e Roménia, agora acrescento a Dinamarca:

É claro que a exportação de serviços tem muito mais potencial de valor acrescentado que as exportações da indústria. Não percebo esta argumentação.

Agora segue-se um momento de catequese. Uso esta palavra como um substantivo para nomear afirmações que ninguém contesta, mas que não são suportadas num plano verosímil:

"Carlos Tavares defende, por isso, que o objetivo central de Portugal "deve ser produzir mais e mais valiosos bens transacionáveis internacionalmente do que simplesmente aumentar o volume das exportações."

Quantos mais anos vão laborar no mesmo erro em que eu laborei por tanto tempo? Recordar: A brutal realidade de uma foto. E não, não é criando empresas maiores a produzir o mesmo que já se produz, é arranjar outros protagonistas para produzir coisas diferentes. Não cometam o erro de Relvas - Tamanho, produtividade e a receita irlandesa

terça-feira, novembro 07, 2023

Cuidado com as generalizações

No JdN de ontem o patrão do jornal, alguém com experiência numa empresa de pasta de papel, uma commodity em que o custo é que manda, disse:

"Para o presidente da Cofina as empresas portuguesas enfrentam dois desafios. 0 primeiro é o da otimização e eficiência. A escalada de preços tornou os "custos de produção muito mais elevados, alguns deles não voltarão a níveis que tínhamos no passado, obrigando as empresas a otimização dos processos, tornando-se mais eficientes", aponta Paulo Fernandes."

Para as empresas que competem no quadrante do empobrecimento:

Esse é o desafio de sempre, não por causa da escalada de preços, mas por causa da redução de preços praticados por concorrentes em países ainda mais baratos que Portugal.


 

quarta-feira, outubro 04, 2023

"Os Anos do Absurdo" (parte II)

 Há dias escrevi sobre o tempo que vivemos e como pode ser apelidado de “Os anos do absurdo”.

Por exemplo, conciliar o querer um novo aeroporto em Lisboa, quando ao mesmo tempo se está contra o consumo de combustíveis fósseis, quando ao mesmo tempo se está contra o excesso de turismo, quando ao mesmo tempo se está contra a gentrificação.

Hoje o JdN traz um conjunto de entrevistas com responsáveis de associações empresariais. Um tema recorrente entre os vários entrevistados, e que é sintoma de mais um absurdo que os jornalistas são incapazes de questionarem, é o tema do sector que “bomba”, do sector que tem falta de trabalhadores, mas ao mesmo tempo não consegue acumular capital.

Não há ninguém que se questione como é que a maioria das empresas num sector económico estão cheias de trabalho e, no entanto, não ganham dinheiro?

Como é que se consegue ser competitivo

Pelo preço ou pelo valor. Quando só se consegue ser competitivo pelo preço e não se ganha escala, porque não faz sentido, porque não é possível, o resultado garantido é o empobrecimento. O sucesso comercial não se traduz em sucesso financeiro. Assim, até se podem pagar os custos do passado, mas não se conseguem pagar os custos do futuro. 

Costa disse que a realidade anda mais depressa que a capacidade do governo legislar. Isso fez-me lembrar os ciclos viciosos que se autocatalizam. Já aqui relacionei esta situação com o esquema Ponzi invertido, os clientes actuais são servidos à custa dos clientes futuros, até que deixa de ser possível manter o esquema.