quarta-feira, novembro 20, 2024

Curiosidade do dia

O calçado e a cartilha do luxo

Há muitos anos que aqui no blogue celebrei um ditado que considero fundamental para as PMEs:

Volume is vanity.

Profit is sanity.

Ontem recordei-o por causa de quem o esquece, ou desconhece.

Hoje, recordo-o por causa de quem o aplica. No WSJ do passado dia 12 de Novembro li  "Shoe Brands' Secret to Success: Going Slow."

O artigo refere como marcas como Hoka, On, Ugg e Birkenstock estão a alcançar o sucesso seguindo uma página da cartilha do luxo – dar prioridade ao crescimento controlado e deliberado em vez da expansão rápida. Estas marcas limitam a distribuição a determinados retalhistas que trabalham como parceiros, vendendo principalmente em lojas próprias e seleccionando canais de alta qualidade para manter o prestígio da marca [Moi ici: Recordo de Maio passado "criarem uma marca sem pressas, à la Purdue]. 

"Birkenstock is another example: The brand typically ships retailers about 75% of what they would like to order, according to a research note from Evercore.

At a September industry conference, Birkenstock Americas President David Kahan said the scarcity model drives consumers' "urgency to buy.""

Ao limitar a disponibilidade e ao concentrarem-se na qualidade do produto, estas marcas alcançam margens brutas elevadas (por exemplo, margens de 60%, próximas de marcas de luxo como a LVMH) e criam uma forte procura. A escassez ajuda a manter a imagem e a atractividade da marca.

O artigo refere que marcas como a Under Armour sofreram ao tentar despachar stock de forma demasiado agressiva para os canais de desconto, o que prejudicou a imagem da marca. Em contraste, a Hoka, a On e a Birkenstock evitam inundar o mercado ou fazer descontos, preservando assim uma imagem premium.

"Retail is littered with examples in which brands' desire for rapid growth backfired. Under Armour was the subject of an accounting probe a few years back, after it was accused of trying to inflate quarterly sales numbers by urging retailers to take products early and redirecting goods to off-price chains like T.J. Maxx in the final days of a quarter. The company settled those claims without admitting or denying wrongdoing. Whether or not those claims were true, Under Armour's overexposure to discount sellers cheapened the brand's image, which it is still trying to recover."

O artigo sugere que estas empresas privilegiam o valor da marca a longo prazo em detrimento do crescimento das vendas a curto prazo, aprendendo com outras marcas que cresceram demasiado rápido e acabaram a diluir o apelo da sua marca.

terça-feira, novembro 19, 2024

Curiosidade do dia


Destruir o futuro dos pensionistas de amanhã para atender a interesses eleitorais de curto prazo é um acto de irresponsabilidade geracional. Essa miopia compromete a sustentabilidade do sistema e penaliza aqueles que, mesmo contribuindo por décadas, receberão apenas uma fracção do que deveriam. Governar (e fazer oposição à séria) exige visão de longo prazo, não medidas populistas que sacrifiquem a segurança financeira das próximas gerações.

A incapacidade de calçar os sapatos do outro


Li no DN do passado Domingo, "Indústria conserveira quer faturar mil milhões até 2030". Entretanto, ontem no JdN li "Conservas querem dobrar o cabo dos mil milhões, mas temem "gigante" Tailândia".

Lembram-se do karma e o leite? 
Não?! 

Lembrei-me do karma do leite ao ler a conversa do presidente da Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP), José Maria Freitas. 

Qual o maior mercado de exportação para as conservas de peixe? Espanha!
O que quer a ANICP fazer? Reduzir as importações de conserva de Espanha!

Pena que em vez de crescimento canceroso, a ANICP não faça o trabalho de missionar o sector para: Em vez de tentar limitar as importações, a indústria conserveira portuguesa deve continuar a apostar em diferenciação da qualidade, sustentabilidade e inovação, que são as suas vantagens competitivas.
Essa estratégia já está em andamento, como exemplificado pela certificação "PT" e pela aposta em mercados premium como os Estados Unidos.

Fujam do objectivo de aumentar vendas e foquem-se no objetivo de subir vendas ao mesmo tempo que se aumenta a margem, o valor acrescentado integrado no produto. Não percam tempo com produtos baratos e comoditizados, façam como o alvarinho diferenciem-se.

A ideia de crescer em valor, em vez de volume, permite um desenvolvimento mais sustentável da indústria:
  • Menos pressão sobre os recursos naturais e humanos.
  • Incentivo a práticas produtivas mais sustentáveis.
  • Maior atractividade para consumidores que valorizam produtos de alta qualidade, mesmo que mais caros.
Produtos comoditizados, que competem apenas no preço, colocam a indústria em concorrência directa com países onde os custos de produção são muito mais baixos. Isso perpetua uma dinâmica de baixos lucros e dependência do volume.
O foco em produtos diferenciados, como conservas gourmet, orgânicas, com sabores únicos ou combinações inovadoras, ajuda a posicionar o sector num patamar superior.

Volume is vanity.

Profit is sanity.

segunda-feira, novembro 18, 2024

Curiosidade do dia

Há dias recebi um e-mail com esta mensagem que subscrevo:

"Como é que se consegue que um curso destes seja financiado pelo PRR?

Há coisas que não dá para entender..."

Acompanhada deste conteúdo:

"Car@ Alumnus / Alumna U.Porto

A pedido do Núcleo de Educação Contínua da Faculdade de Ciências da U.Porto, divulgamos a formação Vinhos de Categorias Especiais de Portugal e do Mundo, que poderá ser de interesse para a comunidade alumni da U.Porto.

Com esta formação vai poder conhecer e diferenciar uma diversidade de vinhos produzidos em diferentes regiões Portuguesas e do Mundo!

Vamos compreender as diferenças e semelhanças entre os vinhos do Porto, Xerez, Madeira, Champagne, Espumantes Portugueses, Proseco, Sauternes, Tokay, Portugal.

Viaje nesta aventura cultural e tecnológica.


Até dia 17 de dezembro encontram-se abertas candidaturas para a nova formação “Vinhos de Categorias Especiais de Portugal e do Mundo”.

Existem 20 bolsas de incentivo no valor total ao da propina do curso."

O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) foi concebido para impulsionar a recuperação económica e a resiliência de Portugal através de investimentos estratégicos em áreas cruciais para o desenvolvimento do país. No entanto, a alocação de fundos para um curso sobre vinhos especiais parece-me desalinhada com esses objectivos primordiais.

O PRR visa principalmente apoiar iniciativas que aumentem a formação superior em áreas STEAM (Ciências, Tecnologias, Engenharias, Artes e Matemáticas) e a conversão e actualização de competências de adultos activos em sectores considerados estratégicos para a economia. Um curso sobre vinhos, embora possa ter algum valor cultural, dificilmente se enquadra nessas prioridades.

Esta situação levanta questões sobre a eficácia na alocação dos recursos do PRR. Quando fundos destinados a impulsionar a produtividade e competitividade do país são direccionados para formações que não parecem contribuir directamente para esses objectivos, é natural que surjam dúvidas sobre o impacte real desses investimentos no crescimento económico de longo prazo.

"O que existe é falta mão-de-obra barata"

Primeiro: 

Segundo:

Terceiro:

Sublinho "They don’t want wages to rise."

Ou seja: Não existe falta de mão-de-obra. O que existe é falta mão-de-obra barata. Não percebo como a esquerda não percebe isto.

"To get an idea of expert opinion on this topic, consider the 1990 testimony of Dr. Michael S. Teitelbaum, later to become Vice-Chairman of the U.S. Commission on Immigration Reform and considered by many, the foremost expert on the migration of the highly skilled:

"...the very phrase itself, "labor shortage" provokes puzzlement or amazement among most informed analysts of U.S. labor markets. "

"[To attract] workers, the employer may have to increase his wage offer. ... So when you hear an employer saying he needs immigrants to fill a "labor shortage", remember what you are hearing: a cry for a labor subsidy to allow the employer to avoid the normal functioning of the labor market." (fonte)

-1990 Congressional Testimony of Dr. Michael S. Teitelbaum"

Recordo:

domingo, novembro 17, 2024

Curiosidade do dia

Que seja um sinal. 

Estratégia em Mongo

Há dias Roger Martin publicou mais um texto, "Strategy on Rugged Landscapes". Há anos que aprecio o uso da metáfora das paisagens enrugadas para ilustrar o desafio da estratégia em Mongo versus aquele que era o desafio no século XX.

No texto, a Tanzânia (um planicie com um único pico, o Kilimanjaro) representa o século XX. Há uma estratégia simples. Já o Tibete (um país com muitos picos) representa Mongo. Não há uma estratégia única e fórmula-la não é fácil. 

"That is the difference between a smooth and a rugged landscape. In a smooth landscape, there is a singular peak and a simple rule for getting there. The more rugged, the more peaks - and no simple rule.

The central determinant of the ruggedness of a landscape is interdependence of variables in the system that produces the landscape. A landscape gets complex very quickly as variables interact. A landscape can have one million possible peaks (i.e. distinct outcomes) when there are only twenty interdependent variables. Such highly interdependent landscapes are what complexity theorists and evolutionary biologists call complex adaptive systems"

"There is even a more elusive form of problem — an undecidable one. These are problems that algorithms can never solve because they feature characteristics such as subjective variables, circumstances that vary faster than any algorithm can run, and/or the necessary data is simply unavailable.

Even though theorists place intractable and undecidable in different categories, I am simplifying them by referring to both as intractable, by which I mean that humans do not have access to an algorithmic approach — a formula — for reaching a solution in which they can be confident is optimal in the circumstance.

The stakes can be very high for humans with respect to such problems, as emphasized by evolutionary biologists who study landscapes and the fitness of species for the nature of the landscape on which they exist. To survive, a species needs to find the proverbial high ground of a safe peak on the ‘fitness landscape.’ It doesn’t have to be the tallest peak — i.e. a set of characteristics and behaviors that makes the species perfect for the landscape. But the fitness has to be pretty strong."

Quais as implicações para a formulação de estratégias para as empresas?

"The context for strategy is a rugged landscape. There are clearly many interdependent variables in strategy. 

...

The fundamental strategy question is what is the strongest competitive position — metaphorically, the tallest peak — you can occupy? As with most highly rugged landscapes, that is an intractable question — if you insist on an algorithmic solution (that is, you can reason algorithmically to a correct and verifiable solution). Managers in modern business are overwhelmingly from the educational fields of business, engineering and/or economics, and there they are taught that to be a noble, effective manager, you must calculate your way to any decision you make. Anything else is unbecoming.

This puts modern managers in a bind with respect to strategy. They have been taught a methodology — even a way of being — that is only good for smooth terrains, but they need to make the most important decisions for their companies on rugged terrains. The bind is pretty much as straightforward as that.

...

The key to avoiding these unproductive modes is to focus on human tractability in strategy. That is, one must take the algorithmically intractable task of setting strategy on a rugged landscape and make the task tractable for human managers."

Martin identifica três características heurísticas principais para tornar a estratégia mais tratável:

  • Imagine um futuro desejado feliz: Prever um resultado positivo ajuda a motivar e orientar as equipas estratégicas, concentrando-se num futuro desejável, em vez de ficarem sobrecarregadas pela complexidade dos desafios actuais. Ajuda a manter o moral e a clarificar os objectivos.
  • Manter uma competição de possibilidades: Em vez de procurar uma única “melhor” estratégia, Martin sugere avaliar múltiplas estratégias “plausivelmente elevadas” numa comparação competitiva. Esta abordagem reduz a pressão para encontrar a solução singularmente perfeita e incentiva a geração de opções diversas e criativas. Como aprendi aqui, julgo que o essencial é ter um mapa inicial no qual se acredita e, depois, meter os pés ao caminho e estar atento ao contexto e aos seus sinais para ir afinando a caminhada. O que liga perfeitamente com a seguinte:
  • Concentre-se na lógica das possibilidades, não nos dados: como não existem dados sobre o futuro, confiar fortemente nos dados pode enganar os estrategas em paisagens enrugadas. Em vez disso, concentrar-se na lógica subjacente de cada estratégia (por exemplo, considerar o que precisaria de ser verdade para uma estratégia ter sucesso) permite uma tomada de decisão mais clara e adaptável.

Esta abordagem centrada no ser humano e orientada pela heurística não só aborda os desafios únicos da estratégia complexa, como também garante que os estrategas mantêm-se relevantes e insubstituíveis numa era cada vez mais dominada pela inteligência artificial.

Agora surge-me a ligação a este postal bem recente, "Quando os clientes mudam".

  • Onde alocar recursos escassos? Como as PME têm recursos limitados, necessitam de identificar e focar-se nos principais pontos fortes e nas áreas onde se podem diferenciar de forma realista dos concorrentes.
  • Dado o ritmo acelerado das mudanças em paisagens enrugadas, as PME devem incluir flexibilidade nas suas estratégias. Rever e ajustar regularmente a abordagem estratégica permite-lhes responder mais rapidamente do que os concorrentes de maior dimensão, que podem demorar mais tempo a dinamizar.
  • As PME podem compensar a sua menor escala construindo parcerias com outras empresas, organizações locais ou grupos industriais. Isto ajuda as PME a obter acesso a recursos, conhecimentos e oportunidades de mercado que talvez não tivessem sozinhas.

Para as PME, o sucesso em paisagens enrugadas (aka Mongo) depende muitas vezes da capacidade de combinar a heurística de Martin com uma mentalidade prática e ágil que enfatiza a experimentação, a flexibilidade e a interacção próxima com o cliente. Esta abordagem diferenciada e adaptativa pode permitir às PME competir de forma eficaz sem exigir um planeamento estratégico de grande escala e com utilização intensiva de recursos.

sábado, novembro 16, 2024

Curiosidade do dia

"Criticando que "o país viva focado numa realidade descrita com números enganadores", o governador do Banco de Portugal (BdP) afirmou que Portugal tem recebido mais imigrantes com ensino superior, que entram no mercado de trabalho, do que perdido." 

Os reformados franceses de 70 anos em São João da Madeira e os reformados neerlandeses do Pinhal Interior também contam para as estatísticas.

Trecho retirado de "Centeno: "Portugal tem sido um recetor líquido de diplomados"" publicado pelo JdN. 

Exportações - primeiros 9 meses de 2024

 



O número de setas para cima aumentou bastante. Sinal de esperança?

Melhoria interessante (inversão de tendência) no calçado e nos automóveis. O vestuário continua a cair, ainda não bateu no fundo.

A variabilidade das exportações trimestrais a notarem-se nos produtos farmacêuticos.

Exportações de fruta a atingirem o valor mais alto dos últimos mais de 20 meses.


sexta-feira, novembro 15, 2024

Curiosidade do dia




"the ethos upon which society has founded is the prime natural resource, and so there was a reason it was the Americans that got to the moon, and part of the reason for that was the nature of the American social contract. Then the question is, what's that social contract predicated on? It's like, well, we hold these truths to be self-evident right, and what constitutes the self-evidence and what's underneath that, well, the entire judeo-christian."

Na semana da proposta do imposto "Elon Musk"... os descendentes de Caim não aprendem. 

"The End of Growth"

Esta semana o trabalho não tem deixado muito tempo para caminhadas e, por isso, a leitura do capítulo seis, "The End of Growth," do livro de Phil Mullan, "Creative Destruction" tem-se arrastado.

Do que li até agora destaco duas secções super-interessantes, "How the crisis of profitability curtails business investment" e "Investment languishes despite rising individual company profits".

Na primeira secção descreve-se como a economia atinge por vezes um estado em que as empresas têm mais dificuldade em obter bons lucros em comparação com a quantidade de dinheiro já investida na economia. Esta situação é como ter muitos investimentos antigos ou desactualizados que já não trazem retorno suficiente. Por causa disto, as empresas hesitam em investir em grandes novos projectos porque temem que não recebam o retorno suficiente dos mesmos. O autor dá o exemplo de uma empresa que possui máquinas que ainda funcionam, mas não são tão eficientes como as novas. Para comprar máquinas novas, a empresa pode ter de se livrar das antigas ou reduzir o seu valor, o que parece uma perda. Isto pode desencorajá-los de actualizar. Além disso, toda a economia pode ficar presa neste padrão: com menos investimento, há um crescimento mais lento e, com um crescimento mais lento, as empresas sentem-se ainda menos confiantes em investir em novos projectos. É como um ciclo que mantém a economia a andar a um ritmo mais lento.

Na segunda secção o autor refere que, embora algumas empresas ainda obtenham bons lucros, não estão a investir esse dinheiro de volta na economia. As empresas podem ter muito dinheiro, mas em vez de construírem novas fábricas, mantêm-no, compram activos financeiros ou devolvem-no aos accionistas. Isto é surpreendente para algumas pessoas porque lucros fortes significariam normalmente que as empresas deveriam estar mais dispostas a investir.

Por exemplo, uma empresa como a Apple pode ganhar muito dinheiro, mas em vez de usar tudo para fabricar mais produtos, pode recomprar ações ou pagar aos accionistas. Esta abordagem cautelosa é um sinal de que as empresas estão a agir de forma segura devido às incertezas económicas mais amplas. Assim, embora exista dinheiro disponível, as empresas hesitam em utilizá-lo para crescimento ou novos projectos, o que abranda ainda mais o desenvolvimento económico.

Uma empresa continua a comprar máquinas novas e caras para fabricar mais produtos mais rapidamente. Mas de cada vez que isso acontece, o aumento do lucro obtido com estas máquinas torna-se menor do que anteriormente. Com o tempo, esta empresa e outras semelhantes chegam a um ponto em que não conseguem obter lucro suficiente para justificar a compra de ainda mais máquinas ou tecnologias novas. Este processo abranda toda a economia porque menos empresas estão dispostas a assumir os custos e os riscos de grandes investimentos, com um impacte muito grande na evolução da produtividade. Para uma mudança significativa, é necessária uma reestruturação extensa, como durante o pós-Segunda Guerra Mundial, quando a destruição e a reconstrução levaram à recuperação económica. Sem alterações comparáveis ​​em grande escala, a baixa rentabilidade persiste.



quinta-feira, novembro 14, 2024

Curiosidade do dia

A propósito de:


Este texto fez-me lembrar a "Parábola do Menino e das Estrelas-do-mar". 

Um homem caminhava pela praia e observou um miúdo que, ao amanhecer, recolhia estrelas-do-mar da areia e as devolvia ao oceano. Intrigado, o homem perguntou por que é que o menino fazia isso, já que havia milhares de estrelas-do-mar e seria impossível salvar todas. O menino respondeu que, para cada estrela que ele devolvia ao mar, fazia toda a diferença.

A Digi pode vir a fazer o jogo das restantes, mas até lá faz toda a diferença.



So it begins

Primeiro, o que é a Chegg? 

A Chegg é uma empresa americana de tecnologia educacional que oferece aluguer de livros físicos e digitais, tutoria online, ajuda com trabalhos de casa e outros serviços para estudantes. Começou como uma empresa de aluguer de livros, mas evoluiu para uma plataforma de aprendizagem mais abrangente, oferecendo diversos serviços para apoiar os estudantes nas suas necessidades educativas. O modelo de subscrição da Chegg disponibiliza soluções para exercícios, respostas detalhadas de manuais, tutoria e preparação para exames.

Entretanto, encontrei este artigo no WSJ, "How ChatGPT Brought Down an Online Education Giant":

"While many companies are figuring out how artificial intelligence will change the way they do business, Chegg is trying to avoid becoming its first major victim.

The online-education company was for many years the go-to source for students who wanted help with their homework, or a potential tool for plagiarism. The shift to virtual learning during the pandemic sent subscriptions and its stock price to record highs.

Then came ChatGPT. Suddenly students had a free alternative to the answers Chegg spent years developing with thousands of contractors in India. Instead of "Chegging" the solution, they began canceling their subscriptions and plugging questions into chatbots. Since ChatGPT's launch,

Chegg has lost more than half a million subscribers who pay up to $19.95 a month for prewritten answers to textbook questions and on-demand help from experts. Its stock is down 99% from early 2021, erasing some $14.5 billion of market value. Bond traders have doubts the company will continue bringing in enough cash to pay its debts."

O ChatGPT oferece respostas instantâneas, personalizadas e de baixo custo ou gratuitas para as dúvidas académicas dos estudantes. Ao contrário do modelo de subscrição da Chegg, os estudantes podem usar o ChatGPT sem custos, eliminando as barreiras financeiras e reduzindo a atractividade de pagar por uma subscrição da Chegg.

Modelos de inteligência artificial como o ChatGPT estão disponíveis a qualquer hora e podem ajudar com uma variedade de questões académicas, desde apoio na redacção de ensaios até à resolução passo a passo de problemas de matemática e ciências. Este nível de versatilidade está, muitas vezes, além do alcance das soluções mais específicas da Chegg.

Um exemplo interessante das disrupções a caminho por causa da inteligência artificial.

O que me vem logo à cabeça é a frase da coluna ao lado:

"When something is commoditized, an adjacent market becomes valuable"

Qual o mercado adjacente? O que precisa? Que preços podem ser praticados?  

quarta-feira, novembro 13, 2024

Curiosidade do dia

Mão amiga fez-me chegar este artigo, "E-Mobility: Japanese Association Dismantles Chinese Electric Cars, Revealing Surprising Insights".

O artigo corrobora uma conversa com o amigo Nuno no almoço de segunda-feira passada em Bragança

Associação japonesa desmonta carros chineses e ficou espantada após uma análise detalhada dos veículos. Ao desmontar estes carros, a associação terá ficado surpreendida com a tecnologia avançada e os componentes de alta qualidade utilizados na sua construção. Esta revelação desafia as percepções anteriores sobre a produção automóvel chinesa e sugere que os fabricantes de automóveis chineses fizeram progressos significativos na produção de veículos que cumprem ou excedem as normas internacionais. O artigo destaca o cenário em evolução da indústria automóvel global, onde os fabricantes chineses estão a emergir como concorrentes formidáveis.

Quando os clientes mudam...

À atenção dos fabricantes de calçado em Portugal:

"Macy's has a fix for its shoe department: fewer shoes. Display tables at some stores now showcase about 15 pairs of shoes, half of which were previously on view. Overall, the shoe departments in these stores are carrying 300 fewer styles and colors than before the changes were introduced this year.

"We don't want an endless aisle," said Tony Spring, chief executive officer of Macy's, on a recent afternoon inside a Macy's store in Paramus, N.J. "We want to double down on the bestselling styles."

The new look is part of Spring's strategy to overhaul 50 top stores this year, with plans to roll out the changes to the wider fleet. Other initiatives include adding more staff in the fitting rooms and at checkout counters as well as in the handbag and women's clothing departments."

Será que esta actuação da Macy's é um sinal do que pode estar a acontecer no mercado do calçado?

Como o espaço de exposição e a variedade de estilos estão a ficar mais limitados, apenas os produtos de maior saída e maior apelo comercial terão prioridade nas prateleiras. Isso pode reduzir drasticamente a procura por marcas e modelos que não lideram o ranking de vendas. Aliás o tema ao longo dos anos tem sido objecto de conversa com fabricantes desde que em 1997, a trabalhar com uma empresa têxtil com marca própria, percebi que desenhavam 250 modelos numa época e depois, 5 ou 6 modelos representavam 70 ou 80% das vendas e o resto era um cauda longa de ineficiência a vários níveis.

Para reagir a esta mudança, fabricantes de calçado sem marca própria devem focar-se na diferenciação e na inovação para que seus produtos se destaquem no mercado: estilos que têm maior potencial de venda. Para isso têm de identificar tendências e ajustar o seu portfólio para se alinharem com o que é mais procurado pelos consumidores.  

Isso requer sair da fábrica, e procurar perceber melhor o mercado.

Trecho retirado de "Macy's Gives Shoe Unit Fresh Shine" publicado pelo WSJ de 12 de Novembro passado. 

terça-feira, novembro 12, 2024

Curiosidade do dia


Recentemente, realizei uma auditoria interna numa empresa que trabalha com gases fluorados, os quais contribuem para o efeito de estufa ou afectam a camada de ozono. Devido a isso, a empresa é obrigada a cumprir requisitos rigorosos para garantir a rastreabilidade dos gases que adquire e aplica nas instalações dos seus clientes.

No início deste ano, um dos trabalhadores deixou o caderno numerado — necessário para assegurar a rastreabilidade e que, no fim do seu uso, deve ser enviado à entidade estatal X — em cima do tejadilho do carro. Arrancou com o carro e, quando se deu conta, o caderno já tinha desaparecido (aconteceu-me o mesmo com uns óculos). Em Janeiro ou Fevereiro, a empresa contactou a entidade X por e-mail, comunicou o extravio e solicitou um novo caderno.

Em Outubro, durante a auditoria, alertei para a gravidade da situação, sublinhando o facto de não estarem a usar o caderno oficial.

A empresa voltou a contactar a entidade X, agora por telefone e recebeu como resposta que, devido ao funcionamento a tempo parcial, era natural que houvesse algum atraso nas respostas.

Portugal no seu ... habitat natural.

"We don't need fashion"

Volto a Junho de 2023 e a "Are you prepared to walk the talk? (parte Il)" após ler "'We don't need fashion: Sewing Bee judge tears a strip off Burberry" publicado no The Guardian.

Patrick Grant (um designer de roupa e apresentador do "The Great British Sewing Bee", um reality show britânico de competição onde participantes, geralmente costureiros amadores, enfrentam desafios semanais de costura) critica duramente a baixa qualidade dos produtos de moda e utensílios domésticos modernos, exemplificando com a marca Burberry e produtos de baixo custo como os da Tesco. 

"“Most people who sell you clothes do not give a stuff about the quality.”

...

“Fifty years ago most people trying to sell you clothes would describe their purpose and quality in their advertising,” he said. 

...

Almost all the [fashion] businesses only exist if we continue to buy more stuff,” he said. “We don’t need fashion – if they all disappeared tomorrow we’d be just fine and we’d save 10% of the world’s carbon emissions.”"

Ele destaca como as empresas de moda priorizam o consumo excessivo em detrimento da qualidade e da longevidade, contrastando com práticas antigas onde o foco era produzir peças duráveis e de alta qualidade. Ainda ao princípio da tarde de Sábado passado a minha mulher me apontou vários exemplos de falta de qualidade nos acabamentos de peças de roupa em três lojas.

Grant também enfatiza a importância de ensinar artesanato nas escolas para que as pessoas entendam a qualidade, a habilidade e a alegria de criar coisas. Ele critica a ironia dos hobbies da classe média que imitam trabalhos antigos de forma amadora, sugerindo que a sociedade deveria valorizar e incorporar essas atividades como parte da vida cotidiana para promover um senso de comunidade e respeito pelas tradições manuais.

segunda-feira, novembro 11, 2024

Curiosidade do dia

Os jornais ingleses estão cheios de notícias sobre a revolta dos agricultores que está a fermentar, o encerramento de fábricas com o aumento do salário mínimo e da contribuição para a segurança social, o encerramento de escolas por causa da aplicação do IVA e do aumento da contribuição para a segurança social. O estado inglês está sem dinheiro e precisa de aumentar impostos para se sustentar. 

Entretanto:

"Labour's decision to clear the way for a four-day week in the public sector without corresponding reductions in pay or improvements in productivity speaks volumes as to the party's priorities.
Angela Rayner, the Local Government Secretary, has withdrawn opposition to South Cambridgeshire council's plan to switch to a four-day week. Sadiq Khan, meanwhile, has offered Tube drivers an identical reduction in working days alongside a 3.8 per cent pay rise.
These moves follow on from the decision to award above-inflation pay rises to workers in the NHS without accompanying reforms to improve the woeful performance of the health service. Indeed, across the public sector, productivity today is lower than it was in 1997. Forget benefiting from AI; the workers of the British state have yet to catch up to the advent of broadband internet.
It is a potent illustration that, left to its own devices, the public sector will do what is best for itself: deliver minimal performance and minimal effort for maximal pay, insulated from the consequences of failure and cost pressures by its ability to simply extort more money from the taxpayer. The role of elected politicians should be to constrain this self-serving behaviour. With Labour in thrall to its public sector voters, however, any desire to reduce the burden of taxes is of little concern relative to the need to reward its core constituency. The contrast with events unfolding in the United States could not be more marked."

Trecho retirado do Daily Telegraph no dia 10 de Novembro. 

"Kaput: The End of the German Miracle"

No FT de Sábado 9 de Novembro passado li o artigo "The giant humbled" sobre o livro que já tinha encomendado durante a semana, "Kaput: The End of the German Miracle" de Wolfgang Münchau.

A indústria automóvel alemã, particularmente a Volkswagen, é utilizada como metáfora para os desafios económicos e políticos mais vastos do país. Os sucessos históricos e os fracassos recentes realçam questões sistémicas. A Volkswagen, outrora um símbolo da eficiência alemã e das proezas de engenharia, esteve envolvida em escândalos significativos (por exemplo, emissões de diesel) e mostrou fraquezas estratégicas na transição para veículos eléctricos.

Wolfgang Münchau critica as estruturas políticas, económicas e sociais da Alemanha, retratando-as como disfuncionais e resistentes à mudança.

A Alemanha enfrenta desafios como modelos industriais ultrapassados, subinvestimento em tecnologia, um preconceito anti-técnico na educação e ineficiência burocrática. Embora o chanceler Olaf Scholz tenha anunciado um Zeitenwende (um importante ponto de viragem) em resposta às mudanças geopolíticas, Münchau está céptico quanto ao seu impacte.

A influência da Alemanha nas políticas da UE pode ser restritiva, sufocando potencialmente o crescimento e a inovação nos estados membros. Verifica-se um dinamismo crescente noutras partes da Europa, como a Dinamarca e a Polónia, apresentando novos modelos de crescimento económico. Os desafios que a Alemanha enfrenta reflectem-se noutros países que se têm centrado em modelos orientados para a exportação, como o Japão e a China.

E Portugal no meio disto?

Será que pode capitalizar o seu crescente ecossistema tecnológico e atrair investimento em novas tecnologias, aprendendo com as oportunidades perdidas pela Alemanha em áreas como os veículos eléctricos e semicondutores. Será que pode concentrar-se em indústrias especializadas de menor escala que oferecem produtos de elevado valor, evitando as armadilhas da dependência excessiva de um único sector.

Se a Alemanha, enquanto maior economia da Europa, enfrentar uma recessão prolongada, toda a UE poderá registar um crescimento lento, afectando potencialmente as exportações portuguesas e a estabilidade económica. A saúde económica de Portugal está parcialmente ligada ao quadro mais vasto da UE. Um declínio da influência económica alemã poderá reduzir o financiamento ou o apoio a determinadas iniciativas a nível da UE.

Qual a relevância para as PME?

As PME podem capitalizar o fracasso das grandes empresas na adaptação rápida, posicionando-se em nichos de mercado, especialmente em sectores emergentes como as tecnologias verdes e as soluções digitais. As PME podem construir parcerias com instituições académicas e de investigação para promover a inovação, aprendendo com as oportunidades perdidas pela Alemanha na integração dos avanços tecnológicos.

Uma base industrial alemã enfraquecida poderá levar a perturbações nas cadeias de abastecimento europeias, afetando as PME portuguesas que dependem de importações ou componentes alemães.

A instabilidade económica num grande parceiro europeu como a Alemanha pode levar a uma incerteza mais ampla, afectando a procura, o investimento e a estabilidade financeira, que são fundamentais para as PME.

domingo, novembro 10, 2024

Curiosidade do dia

Confesso a minha surpresa:

""Tem-se falado muito de levar a água do norte para o sul, de transvases. Julgo que isso é uma matéria muito delicada, porque estamos a falar de investimentos que ninguém sabe exatamente de que números é que estamos a falar, e às vezes falamos destas coisas com alguma ligeireza e sem a profundidade que um assunto desta dimensão merece", afirmou."

É tão raro ouvir um membro do governo falar assim. É muito mais fácil gastar milhões e depois, perante o preço exorbitante da água, em vez de cobrar o preço justo aos criadores de amêndoas e abacates, pôr o contribuinte a pagar. 

Trecho retirado de "Seca: Governo diz que transvases são solução "pouco prudente e excessiva"

Fugir da comoditização

No DN do passado dia 8 li "Crescimento das marcas "brancas" retirou dois mil milhões às de fabricante"

O texto destaca que, em cinco anos, as marcas próprias da distribuição passaram de uma quota de 32% para mais de 45% do mercado. Esse crescimento significativo mostra como os consumidores têm optado cada vez mais por produtos de marca branca, em parte devido ao preço mais baixo.

Esse crescimento das marcas brancas resultou numa perda de cerca de dois mil milhões de euros para as marcas de fabricantes, refletindo o impacte directo que as escolhas dos consumidores têm na rentabilidade das marcas tradicionais.

O artigo aponta que, com a inflação a subir, os consumidores começaram a mudar as suas escolhas, favorecendo produtos mais económicos, como as marcas brancas.

Os fabricantes tentam estratégias para reconquistar a preferência dos consumidores, mas enfrentam dificuldades significativas devido ao poder de mercado e à competitividade das marcas brancas.

E as PMEs como devem actuar?

  • Devem destacar a qualidade, exclusividade e benefícios adicionais dos seus produtos em vez de competir apenas pelo preço. Investir em produtos que proporcionem experiências superiores ou que se diferenciem de marcas brancas pode ajudar a justificar um preço mais alto e criar lealdade à marca.
  • Têm de inovar e diferenciar os produtos para que os consumidores vejam valor em escolher a marca, mesmo que o preço seja mais elevado. O texto indica que as marcas brancas ganharam terreno, em parte, devido a uma busca por alternativas mais baratas; assim, oferecer algo que estas marcas não consigam replicar facilmente pode ser uma vantagem. Por exemplo, ainda ontem naveguei por uma prateleira com umas dez opções de diferentes marcas de maionese. Desisti, estava interessado numa com azeite e não no que me era oferecido com óleo de girassol ou óleo de colza.
  • Devem investir em estratégias de branding que reforcem a imagem da marca como uma opção premium ou com características únicas e desviar a atenção da comparação de preços e criar uma percepção de valor superior.

Evitar a competição pelo preço mais baixo e criar um nicho próprio que se baseia em qualidade e características únicas, afastando-se da dependência do mercado dominado pelas marcas brancas é fundamental.

sábado, novembro 09, 2024

Curiosidade do dia

Li uma entrevisa ao vice-presidente da CAP (Confederação dos Agricultores Portugueses) onde a propósito do azeite disse:

"É sempre bom aprendermos com os bons exemplos de outras fileiras e/ ou outros países que desenvolvem a sua atividade em prol do desenvolvimento integrado de um produto. Em Espanha, a Interprofissional do Azeite foi constituída em 2002, tendo sido aprovada em 2008 a extensão da norma, o que lhe permitiu desenvolver atividades de inovação e, sobretudo, de promoção dos azeites de Espanha nos mercados internacionais. Em Itália a situação é análoga."

Entretanto, uma pesquisa na internet permite concluir:

  • Entre 2015 e 2021, Portugal apresentou um preço médio de exportação de 3,42 euros por quilograma, enquanto Espanha registou 3,22 euros por quilograma.
Pena que o senhor vice-presidente, apesar de presidente da APPITAD – Associação dos Produtores em Proteção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro, não aposte na joalharia e se deixe cativar pelo Mar del Plástico.

Lucro, investimento e produtividade

Acabei a leitura do capítulo 5, "The problem of profitability" do livro "Creative Destruction", de Phil Mullan, mais uma boa leitura.

O autor discute o declínio persistente da taxa de rentabilidade como uma questão crítica que afecta as economias modernas. Este problema é visto como intrínseco ao processo capitalista, ligado à necessidade de aumentar o investimento de capital para aumentar a produtividade. A taxa de rentabilidade diminui geralmente à medida que se aplica mais capital, o que coloca desafios ao crescimento sustentado e ao investimento. Interessante como o autor cita Marx longamente.

A diminuição da rentabilidade prejudica o investimento empresarial, que é um motor fundamental da expansão económica. Quando os lucros descem em relação ao capital investido, as empresas estão menos inclinadas a investir noutras actividades produtivas. Esta situação leva à estagnação económica ou a uma depressão prolongada, como se verifica nas análises históricas.

O capítulo identifica um declínio secular e de longo prazo da rentabilidade desde o boom pós-Segunda Guerra Mundial. As taxas de lucro atingiram o pico na década de 1950, mas diminuíram nas décadas seguintes, com algumas estabilizações e pequenas recuperações após recessões. A tendência tem sido uma trajetória descendente da taxa de lucro ao longo do tempo nas principais economias industriais.

O paradoxo destacado neste capítulo é que os períodos de expansão económica podem acelerar o declínio da rentabilidade. Este declínio ocorre porque a rápida expansão económica requer um investimento de capital substancial, o que aumenta a produtividade mas reduz a taxa de lucro global à medida que se investe mais capital em comparação com os retornos. Esta relação leva à redução da rentabilidade durante períodos de crescimento.

Estão a ver para onde isto nos leva?



A diminuição da rentabilidade desencoraja o investimento empresarial. Esta relutância em investir perpetua a estagnação económica, uma vez que o investimento é crucial para o crescimento e o avanço tecnológico. Por sua vez, o investimento é o motor essencial da produtividade. Contudo, à medida que a rentabilidade cai, o incentivo para investir diminui, o que prejudica o crescimento da produtividade. Isto cria um ciclo de feedback em que a baixa rentabilidade limita o investimento, resultando num crescimento estagnado ou baixo da produtividade. 

Aquele sinal mais quer dizer que o feedback loop é positivo, ou seja, é auto-catalítico, auto-reforça-se a cada volta que dá. Por isso, amplifica os seus próprios efeitos, transformando pequenos problemas em grandes crises. Sem intervenção, cada ciclo piora o resultado, criando uma espiral descendente da qual é difícil escapar.

sexta-feira, novembro 08, 2024

Curiosidade do dia

 

"O nosso modelo de distribuição não é entre os mais ricos e os mais pobres. É entre os mais jovens e os mais velhos. A AD tentou uma solução absurda, tecnicamente inviável com a proposta de IRS jovem, mas tinha um diagnóstico claro: os mais novos não podem pagar mais. Mesmo que não gostemos da solução há uma pergunta que temos de responder: quanto mais podemos exigir aos mais jovens?

Ao longo da vida cada geração recupera na velhice, através da reforma, aquilo que descontou. Porém, esta geração de jovens vai receber relativamente menos do que os seus pais e avós descontaram e pagar mais por benefícios que não gozará."

Trecho retirado de "Até onde vai o egoísmo?"

Sem investimento a produtividade não cresce

Acabei a leitura do capítulo 4, "Why investment matters" do livro "Creative Destruction", de Phil Mullan. 

O capítulo começa com:

"The prolonged weakness of capital investment is the main explanation for the perpetuation of the Long Depression. Without the transforming investments that embody technological advances, innovation will remain deficient, sustained productivity growth will not occur and stagnation will continue. The research and science that come up with new ideas are insufficient to bring about progress on their own. They only acquire social value through the investment that realises them in innovating ways that add to human pleasure or prosperity."

Tal como no capítulo 3 o autor dedica parte importante do capítulo a ilustrar como um mundo de fantasia é criado com a manipulação dos indicadores, alargando o âmbito daquilo a que se chama de investimento.

No entanto, gostava de focar a atenção em dois tópicos:

"The more relevant economic proportionality for assessing investment needs is not between manufacturing and services, but between low value adding and high value adding sectors. Generally it is the low value activities, whether making goods or providing services, that are of low capital intensity. This applies to simple manufacturing assembly operations, as it does to serving food and drink, cleaning, personal care, or shelf stacking.

High value industries, in contrast, whether manufacturing, extractive or services, are more likely to require capital investment to increase their capacity to produce at high levels of productivity. This applies as much to a modern transport system or a communications network as it does to advanced manufacturing. Even agricultural activities like dairy production - traditionally regarded as low-tech and labour intensive - are becoming much more automated and capital intensive: robots now milk cows. A return to durable economic growth will require continuing levels of investment in higher value sectors - services or goods based - to expand, maintain and upgrade capital assets."

Algo que permeia este blogue frequentemente: a importância de subir na escala de valor para aumentar a produtividade à custa da eficácia e não da eficiência. Recordar o que significam as imagens e a sua sequência na figura que ilustra os Fliyng Geese.

"Calling spending on workers' skills 'intangible investment' while downplaying the role of capital investment again mystifies the production process. Production brings workers and tangible capital together; neither is effective on their own. A machine is just an inert piece of kit until humans activate it. A person can work just with their hands without any tangible capital but their activities will remain primitive: crop picking by hand, or a home-visiting masseur. Not much else is possible for humans without some tools, or premises, or raw materials to work with.

Prioritising the role of human capital can divert from the requirement for much more tangible, innovation-carrying, capital investment. Too little of the latter has been undermining effective production, thereby holding back the productivity of the workers who make up the human capital. People who do not have the opportunity of working with modern technology are not that productive, and most do not have fulfilling work experiences either.

...

Increasing workforce skills are of no value economically in the absence of the capital investment, technology and jobs to use them. Devoting extra resources to training will not produce economic benefits if there are insufficient high-skill, high productivity jobs for the workforce. A supply of skilled people does not create a demand for them, and skills that are not used are rapidly lost. To be effective, skills need to combine with other factors in production, especially those deriving from adequate amounts of capital investment in innovation."

O velho tema da "caridadezinha" aqui no blogue. Recordo:

Mas há muito mais.

quinta-feira, novembro 07, 2024

Curiosidade do dia

A propósito de "Não se deixem surpreender" sobre a situação da economia alemã, convém perceber que a coisa não fica por aí.

Ontem no WSJ, "Outlook Is Gloomier For French Factories":

"French manufacturers produced less in September, threatening a bleak end to the year for a European manufacturing sector suffering from high energy bills and tougher competition from China.

...

As the European auto sector shifts to electric vehicles, it suffers from increased competition from abroad, notably China. On Tuesday, French tiremaker Michelin said it would close two plants and German auto supplier Schaeffler said it would reduce operations at some factories, jointly putting more than 5,000 workers in line for layoffs. 

...

Survey data this week suggests France's manufacturing sector is primed for its weakest month since the beginning of the year in October. That is contributing to a continued decline in the wider eurozone, similar surveys show.

Sliding exports remain a major problem for French manufacturers, and October's international sales marked the fastest drop on record, according to survey compiler S&P Global."

Também "French industry stuck in recession and outlook stays bleak, survey finds "

Uns vão olhar para isto e pensar:
  • À medida que as empresas francesas e alemãs procuram deslocalizar ou diversificar as operações devido aos elevados custos energéticos e à concorrência, Portugal pode posicionar-se como um destino atractivo. 
Outros vão olhar para isto e pensar:
  • O declínio da indústria transformadora francesa e alemã poderá levar a uma concorrência mais intensa entre os países europeus para atrair empresas, sobrecarregando potencialmente os recursos e os incentivos de Portugal.

Inovação versus produtividade

Um mundo de fantasia criado pela manipulação de indicadores ao estilo de "wag the dog".

Acabei a leitura do capítulo 3, "Innovation Puzzles" do livro "Creative Destruction", de Phil Mullan, que explora as complexidades e os desafios que rodeiam o conceito de inovação, particularmente nas economias ocidentais, e avalia criticamente pressupostos e medições comuns a ele associados. Algumas das ideias:

Mullan defende que a inovação foi elevada a um estatuto quase sagrado, muitas vezes aplicada de forma ampla a conceitos muito distantes dos avanços tecnológicos reais na produção. Isto levou ao que ele chama de “exagero da inovação”, onde até mesmo pequenas atualizações, como atualizações de software, são celebradas como inovações significativas​.

O capítulo diferencia entre inovação de processo (melhorar os métodos de produção para aumentar a produtividade física) e inovação de produto (criação de novos produtos). Mullan sublinha que, embora ambas sejam essenciais, a inovação de processos desempenha um papel fundamental na condução do crescimento económico, aumentando a produtividade e reduzindo custos. A inovação ocidental recente inclinou-se fortemente para os produtos de consumo em vez dos avanços produtivos​. Talvez este possa ser o ponto de vista de quem está a comentar a partir de uma economia avançada. Eu, a comentar a partir de Portugal, penso que precisamos de mais inovação concentrada na subida na escala de valor (eficácia), que permite preços mais altos, do que focada na melhoria de processos (eficiência), que permite ou melhoria ou manutenção de margens. Recordar Marn e Rosiello e o que significa aumentar preços versus reduzir custos.

Métricas como as despesas em I&D, a contagem de patentes e a frequência das citações são frequentemente utilizadas para avaliar a inovação, mas são indicadores defeituosos. Por exemplo, as despesas em I&D não garantem resultados bem-sucedidos e a contagem de patentes pode refletir estratégias jurídicas ou financeiras, em vez de inovação genuína. Estas métricas centram-se mais nos inputs da inovação do que nos seus impactes qualitativos na produtividade e no crescimento económico​.

Existem evidências de que a inovação não tem tido os efeitos transformadores esperados na produtividade, especialmente desde a década de 1970. Apesar dos avanços nas tecnologias de informação e comunicação, o crescimento da produtividade nas economias ocidentais abrandou. Esta estagnação é atribuída a investimentos insuficientes em capital transformador e a inovações de processos que melhorem genuinamente as capacidades de produção​.

Mullan sublinha que a difusão da inovação – através da qual os avanços tecnológicos se espalham pela economia – é crucial para o crescimento global da produtividade. No entanto, muitas economias ocidentais sofrem de baixo dinamismo económico, com recursos retidos em áreas de baixa produtividade, limitando os benefícios generalizados da inovação. Esta quebra da “máquina de difusão” exacerbou a estagnação da produtividade​.

quarta-feira, novembro 06, 2024

Curiosidade do dia

A propósito da vitimização: 

Recordar o termo "priming" (ou pré-activação):

Daí o tweet:



Não se deixem surpreender

Não se deixem surpreender:


No FT de ontem um artigo interessante na coluna "FT BIG READ" intitulado "A broken business model?" acerca da situação da economia alemã:

  • Dependência energética: O sucesso industrial da Alemanha tem dependido fortemente do gás russo barato. As tensões geopolíticas e a subsequente redução do fornecimento de gás levaram ao aumento dos custos energéticos, impactando a produção industrial.
  • Declínio industrial: Sectores como o automóvel, o químico e o da engenharia estão a atravessar crises. A produção industrial tem vindo a diminuir desde 2017 e a Alemanha regista um crescimento mínimo do PIB desde finais de 2021.
  • Desafios do sector automóvel: A mudança para veículos eléctricos e a concorrência dos fabricantes chineses afectaram negativamente a indústria automóvel da Alemanha, tradicionalmente uma pedra angular da sua economia.
  • Alterações geopolíticas: As alterações na dinâmica do comércio global, especialmente no que diz respeito à China, perturbaram o modelo orientado para as exportações da Alemanha, necessitando de uma reavaliação das relações comerciais.
  • Instabilidade política: O governo de coligação liderado pelo Chanceler Olaf Scholz enfrenta dificuldades em lidar eficazmente com estes desafios económicos, conduzindo à instabilidade política. Isto resultou num crescente apoio aos partidos da oposição que defendem reformas económicas.
Fico a pensar nas consequências do pântano alemão na economia portuguesa ...

  • Redução dos fundos europeus, e toda a gente sabe o quanto este país vive da poupança dos frugais com a Alemanha à cabeça.
  • A queda da procura alemã pode afectar as exportações portuguesas, especialmente industriais, impactando a produção e o emprego.
  • Menor consumo alemão pode reduzir o turismo em Portugal, prejudicando o sector turístico.
  • Empresas alemãs podem suspender ou reduzir investimentos em Portugal, afetando o crescimento e o emprego local.
  • A crise pode levar o BCE a ajustar as taxas de juro, elevando o custo da dívida para Portugal e limitando o orçamento do governo.
  • A UE pode exigir reformas em Portugal para aumentar sua resiliência económica e reduzir a dependência de subsídios.
  • A crise alemã pode abalar a confiança na zona euro, afectando empresas portuguesas que dependem de mercados externos e financiamento estrangeiro.
Mas, por outro lado, a crise também pode levar empresas alemãs a procurar parcerias em energias renováveis, onde Portugal, com o seu potencial em energia solar e eólica, pode atrair novos investimentos.

BTW, o artigo começa asim:
"I an 30-plus-year career in corporate restructuring, consultant Andreas Rüter has seen it all: the dotcom bust, September 11, the global financial meltdown, the euro crisis, Covid-19. But what's happening right now in corporate Germany is "unprecedented" and "of a completely different order of magnitude", says Rüter, the country head of AlixPartners.
The federal republic's all-important automotive sector, chemical industry and engineering sector are all in a slump at the same time. Rüter's firm is so overwhelmed by demand for restructuring that it's turning potential clients away." 

terça-feira, novembro 05, 2024

Curiosidade do dia

Há quase um ano escrevi isto "Menos dor na transição" acerca da Coloplast. 

Agora, mão amiga manda-me "Nova empresa a 10 minutos de Vizela quer contratar 1000 pessoas e vai esclarecer interessados":

"Inicialmente, a dinamarquesa está à procura de operadores de produção, técnicos de manutenção e outros qualificados técnicos, todos com formação ao integrarem a empresa. A experiência não é, por isso, um requisito obrigatório."

BTW, a primeira vez que escrevi sobre a Coloplast foi em 2014.

Anichar

Faz hoje uma semana que li no WSJ em "Hectic Is Normal for Whirlpool Factory Boss" este trecho:

"CLYDE, Ohio - Ryan DeLand arrives at Whirlpool's washing-machine factory at 6:53 a.m., not long after dayshift workers have settled into their stations.

He steps into his office and is greeted by a whiteboard that bears the motto "stable and predictable."

He will spend the day chasing that goal despite a never-ending stream of complications in a plant that 1s as big as 30 football fields put together.

A lot can go wrong. The plant has more than 25 miles of conveyors and uses more than 2,000 parts. Robotic and human-piloted vehicles zip through its aisles, while an overhead crane carries huge coils of steel.

Going full blast, the factory can pump out 22,000 washing machines in a day, but even a brief mishap can stop production cold."

22 mil máquinas de lavar roupa por dia ... fiquei a pensar no que o número representa em termos de filosofia de produção e de comercialização.

Entretanto, ontem no FT li "Niche bike makers bank on quality to ride out dip":

"They work for Moulton Bicycle Company, a maker of small-wheeled bikes with distinctive steel-lattice frames that is one of several specialist UK manufacturers betting on quality, design and customer service to help withstand brutal conditions in the global market.

...

Carlton Reid, an author on cycling issues and close observer of the sector, said the "cottage industry" of niche operators was less focused on meeting sales and revenue targets than the dominant bike brands Trek and Specialized of the US and Taiwan's Giant.

Manufacturers such as Moulton differentiate themselves by offering unique designs. Others offer products made with unusual materials such as titanium or that are personalised to individual customers' requirements.

...

Dan Farrell, Moulton's technical director, said it was relying on selling its bikes in small volumes but at high prices. It sells about 700 units a year, ranging from a £2,100 entry-level machine to a £21,950 "double-pylon" model made of stainless steel.

...

The approach of Atherton Bikes, based in Machynlleth, west Wales, is still more personalised, with each of the company's premium mountain bikes built to order. For its top-end "A" range, it uses 3D printers to produce titanium and carbon-fibre frame parts tailored to users' needs.

...

Reid said such an approach had proved successful for many high-value

UK bike brands. "They all have a certain price point where they're immune from the bottom-feeding," he said. "They have good margins and some of them have been going for a while."

Farrell agreed. There was enough demand for highly specialised bikes to keep operations like Moulton's going, he said. "Providing you're not thinking that you're going to sell millions of these things, you can charge a premium for it," he added. "So you can manufacture in what is a relatively expensive area.""

PMEs que se concentram em qualidade, personalização e design, com preços elevados para mercados de nicho, têm um caminho promissor, especialmente em países onde o custo de vida é alto e quase impossibilita a produção. Este modelo permite que as PMEs diferenciem os seus produtos e serviços, escapando da pressão dos preços baixos e das estratégias de volume que predominam entre os fabricantes grandes. Enquanto gigantes como Whirlpool apostam em alta produção e eficiência para manter competitividade, as empresas mais pequenas, como a Moulton Bicycle Company, vêem o nicho como uma oportunidade para se posicionarem com produtos de qualidade e exclusividade.

O foco em nichos de mercado significa investir em algo que o consumidor médio não está nem à procura nem disposto a pagar, mas que um público específico e exigente valoriza profundamente. Para esses clientes, o valor do produto está não apenas na sua função, mas também em aspectos como o design, a durabilidade, a personalização e até a experiência de compra. Isso permite que este tipo de PMEs trabalhem com margens mais altas e construam uma reputação de exclusividade e inovação.

Contudo, existem erros comuns que muitas PMEs cometem ao tentar trabalhar para nichos e que podem comprometer o sucesso da estratégia. Um dos principais é subestimar o custo e a complexidade de manter uma produção de alta qualidade e personalizada. Produtos de nicho exigem atenção ao detalhe e flexibilidade na cadeia de fornecimento, o que requer investimentos robustos e processos bem estruturados. Sem uma infraestrutura adequada, a empresa corre o risco de comprometer prazos e qualidade, frustrando os clientes.

Outro erro recorrente é a falta de compreensão do cliente-alvo. As PMEs de sucesso em nichos conhecem profundamente o seu público, mas muitas acabam por adoptar uma abordagem mais genérica, acreditando que qualidade é suficiente para atrair clientes. Esse desconhecimento leva a falhas em marketing, preço e distribuição. Para que um produto de nicho seja realmente valorizado, ele tem de estar alinhado com as necessidades e desejos específicos do cliente-alvo.

Além disso, algumas PMEs tentam crescer rapidamente para maximizar vendas, mas expandir sem uma base de clientes sólida e leal pode ser arriscado. Para essas empresas, aumentar a produção pode significar abrir mão da exclusividade e da personalização, pontos-chave para sua proposta de valor. Em vez de procurar volumes maiores, PMEs de nicho devem focar-se na construção de um relacionamento de longo prazo com os clientes, apostando na inovação e lealdade. Recordo sempre o exemplo da Frank Perdue Chicken Farms que recusou vender através da distribuição grande para poder criar a sua marca e manter margens. O contrário da Raporal.