sexta-feira, fevereiro 21, 2025

Curiosidade do dia

Mão amiga fez-me chegar este artigo "These are the most brazen product counterfeits of 2025

"This year, the Plagiarius campaign intends to draw attention to the issue again by awarding the dreaded negative award "Plagiarius." The prize is meant to highlight brazen one-to-one imitations "that deliberately look deceptively similar to the original product, are reckless and morally reprehensible, and lead to stagnation instead of progress and diversity." Although the award does not specify whether an imitated product is legally permissible or unlawful, it represents an expression of the association's opinion."

Não apoio de forma alguma a cópia descarada de produtos, especialmente quando prejudica empresas inovadoras e engana consumidores. No entanto, questiono a afirmação de que as imitações "lead to stagnation instead of progress and diversity". No sector da moda e da marroquinaria, onde a ausência de patentes permite a livre replicação e adaptação de designs, vemos precisamente o oposto: uma constante renovação, diversidade e inovação. A cada estação surgem novas tendências, muitas vezes inspiradas em criações anteriores, o que impulsiona a criatividade e mantém o mercado dinâmico. Claro, há uma diferença entre inspiração e cópia directa, mas generalizar que todas as imitações travam o progresso parece um exagero.

Recordo agora outro postal "Num mundo sem patentes... tudo é acelerado" acerca do impacte do fenómeno da cópia na cerâmica.

O mundo do Red Queen Effect:

No mundo do Red Queen Effect, a sobrevivência exige movimento constante—não basta inovar uma vez, é preciso correr para se manter relevante. Assim como na biologia, onde as espécies devem evoluir continuamente para não serem ultrapassadas pelos concorrentes e pelo ambiente em mudança, o mercado funciona de forma semelhante. A cópia e a adaptação forçam as empresas a reinventarem-se sem cessar, impulsionando ciclos de inovação cada vez mais rápidos. No fundo, o progresso não estagna por causa das imitações; pelo contrário, elas obrigam os verdadeiros inovadores a manterem-se sempre um passo à frente.

BTW, no JdN de hoje pode ler-se:

"Birkenstock "não são obras de arte", diz tribunal alemão
A Birkenstock recorreu aos tribunais para travar a cópia das suas famosas sandálias por outros fabricantes. Para se proteger, defendeu junto das instâncias judiciais que a sandálias com sola de cortiça e tiras de látex são obras de arte, mas o tribunal não tem a mesma opinião. Para o serem, "os produtos têm de ter algum tipo de característica única" diz a justiça alemã."

Competitiveness compass? Be careful what you wish for

"The refusal to adopt modern technologies is, in many ways, the original sin. As time went on, German CEOs and political leaders continued to double down with poor technological, geopolitical and economic bets - and with an economic ideology that equated the economy at large with industry. This is why the biggest concept in the entire German economic debate is competitiveness, something of huge importance for companies, but a concept rarely used for countries. You hardly hear about it in economic debates in the UK or the US. You hear about almost nothing else in Germany.
I recently came across a book written by Hans-Olaf Henkel, a former president of the Federation of German Industry lobby group, who in later life became a member of the European Parliament for the far-right AfD. One of Henkel's big complaints was that Germany had lost the textile industry; he failed to mention that this was the case for every other country in the Western world, too. If he had understood David Ricardo's theory of relative comparative advantage, he would have known that it is perfectly normal for advanced nations to lose certain sectors to developing countries. But Henkel's narrative is the one that stuck in Germany. It is the fight against Ricardo. More competitiveness became the answer to every economic crisis.
In the period from 2005 until about 2015, this focus on competitiveness appeared to work. This is the story of the modern German miracle - the story that got a lot of people confused. Germany managed to prolong an outdated industrial model for a few more years due to a series of fortuitous accidents. At a superficial level, that decade seems to be the counter-narrative to my story. At a deeper level, it is not. That decade is not so much the exception that proves the rule, but a period that laid the foundations for a future crisis."

Trecho retirado de "Kaput - The End of the German Miracle" de Wolfgang Munchau  

Recomendo a leitura dos comentários ao postal "Curiosidade do dia" de 7 de Fevereiro passado.

Recordo o tema da competitividade no Uganda - Competitividade, absurdo, lerolero e contranatura e a relação entre competitividade e empobrecimento.

Os três textos (o de Munchau, os comentários ao postal, e o do Uganda de Reinert) convergem para uma crítica comum ao uso do conceito de competitividade como um dogma económico que, sem um foco real na produtividade, pode levar ao empobrecimento. 

Münchau critica o dogmatismo alemão em relação à competitividade, o que ecoa a análise de Reinert sobre como o termo se tornou um conceito vago e manipulável.

Reinert mostra como competitividade surgiu como um conceito confuso e controverso nos anos 1990. Ele aponta que economistas como Paul Krugman rejeitavam a noção de "competitividade nacional", pois isso poderia justificar políticas que não necessariamente levavam ao aumento da produtividade e do rendimento real. Reinert também destaca que, em alguns contextos (como no Uganda), "competitividade" foi utilizada para justificar a redução de salários e condições de vida, em vez de promover crescimento real. O diagnóstico de Reinert sobre a confusão em torno da competitividade encaixa-se perfeitamente na narrativa de Münchau sobre a Alemanha. O que aconteceu na Alemanha foi exactamente isso: uma busca por competitividade sem inovação estrutural, o que resultou em estagnação. E interrogo-me se não foi isso também que aconteceu no Japão, com base no artigo de Michael Porter, "What is Strategy?"

A frase de João Rocha: "competitividade sem produtividade é igual a pobreza" resume bem a crítica de Münchau e Reinert e é um tema crítico deste blogue.

O facto da Comissão Europeia ter substituído "produtividade" por "competitividade" é preocupante, pois sugere que a UE pode estar a adoptar um discurso similar ao alemão, onde a busca por competitividade pode estar a mascarar a ausência de inovação real.

(imagem daqui)

No fundo, a grande questão aqui é: se um país procura ser "competitivo" apenas reduzindo custos (salários, regulamentações, direitos sociais), ele empobrece. A verdadeira competitividade precisa vir da produtividade, da inovação e da criação de valor.

Neste postal escrevi:

"O Carlos cidadão, preocupa-se com o empobrecimento generalizado da sociedade por causa da aposta na competitividade pelos custos, por causa do apoio a empresas que deviam morrer naturalmente e não serem mantidas ligadas à máquina com apoios e subsídios vários como os do Chapeleiro Louco"

É preocupante como a União Europeia segue os mesmos passos de Portugal ... a doença dos subsídios é tramada. Não porque os subsídios sejam intrinsecamente maus, mas porque (e volto a Munchau):

"Subsidies are geared towards large companies with legal departments, not to entrepreneurs whose mind is focused on their business." 

Para rematar, estão todos com medo da transição: Falta a parte dolorosa da transição.








quinta-feira, fevereiro 20, 2025

Curiosidade do dia

No JdN de hoje num texto assinado por Luís Todo Bom, "A competitividade da Europa", sublinhei:

"Na minha visão, a partir do relacionamento que mantenho com o mundo empresarial, a entidade responsável máxima por esta perda de competitividade é a Comissão Europeia. Constituída, não só ao nível dos comissários, mas também, e sobretudo, ao nível dos dirigentes intermédios dos vários departamentos, por quadros ligados aos vários partidos políticos, sem qualquer experiência e sensibilidade empresarial, vão produzindo legislação abundante, que condiciona a capacidade das empresas europeias de competirem nos mercados globais."

Interessante, no livro "Kaput - The End of the German Miracle" de Wolfgang Munchau ele queixa-se do contrário:

"The domestic-policy counterpart to neo-mercantilism is corporatism. For a country to pursue mercantilist policies, it needs to work hand in hand with the corporate sector. For decades, governments of the left and right subordinated national politics in the interest of specific champion industries. The CEOs of those chosen industries in turn had special access to government - unlike Karl Albrecht, the entrepreneurial anti-hero of my home town. It felt at times as though the car industry chiefs had their own private keys to the chancellery in Berlin.

This is why errors of judgement in the corporate sector get amplified. Everybody hangs together. Everybody believes in the old industrial model.

...

This is why Germany's economic problems are a 'structural slump', an expression invented by the American economist Edmund Phelps. The structure part in this slump relates to the economic model which Germany has clung on to for far too long. The cycle of good times and bad will repeat, but the structural slump will persist - unless you change the model. And change would have to begin with an economic narrative that is not reduced to competitiveness."

No final de um jogo de futebol, muitas vezes o treinador da equipa derrotada queixa-se que perdeu por causa do árbitro... às vezes a equipa até devia ter sido expulsa.  



Again, perceber a necessidade de sair do carreiro

No JN do passado dia 17 de Fevereiro encontrei o artigo ""A flor da amendoeira é festa que não chega ao bolso dos agricultores"".

Interessante, fez-me recuar à transição para este século e ao impacte do choque da China no mundo das PME portuguesas.
"O baixo preço da amêndoa pago ao produtor está a desmotivar muitos agricultores transmontanos de continuarem a manter esta cultura, que é uma das mais emblemáticas dos concelhos do Douro Superior, no distrito de Bragança. A região, até março, enche-se de turistas ansiosos por se deslumbrarem com as encostas pintadas de branco, repletas de amendoeiras floridas.
"É bom que venham visitantes, mas, ao bolso dos produtores, não chega o dinheiro que cá gastam", garante Jorge Sousa, produtor de amêndoa na aldeia de Felgar, em Torre de Moncorvo."

Imagino o impacte da recente produção alentejana nos circuitos de comércio regional Portugal-Espanha.

 ""Tenho três hectares de amendoal, que já foram rentáveis. Agora não são. O preço do miolo de amêndoa baixou para menos de metade em meia dúzia de anos. Passou de sete para cerca de três euros por quilo"

...

O valor da amêndoa é definido pela produção da Califórnia. Flutua em função de haver muita ou pouca quantidade nos Estados Unidos da América, bem como pelo consumo do produto.

...

nos últimos anos, o Alentejo equiparou-se com um grande investimento em amendoais de cultura intensiva, graças à rega da barragem do Alqueva.

... 

O amendoal intensivo tem um potencial produtivo elevado. No Alentejo, 100% dos pomares são regados.

...

Pedro Ricardo entende que é preciso promover o que distingue a amêndoa transmontana das restantes. "Tem mais qualidade do que a do Alentejo e a estrangeira, porque é toda produzida em modo biológico", afiança."

Há dias escrevi este título, ""It's no longer about how you do it; it's about what you do."" No entanto, como neste caso, às vezes não é possível mudar o que se faz (bom, na verdade é, basta seguir as pegadas do velho canadiano conhecido deste blogue). Então, é altura de mudar de mercado. Recordar a artesã de Bragança ou o burel de Manteigas.

Como poderiam os produtores de amêndoa aumentar o seu rendimento?

  • Criar produtos derivados da amêndoa. Eu sou um grande adepto da manteiga de amêndoa que faço em casa. Será que faz sentido? Será que não há mercado, não para o produto comoditizado da Prozis, mas para o produto com marcação da região, marcação da quinta, marcação do produtor?
  • Criar certificação da região. Promover a diferenciação. Ainda há tempos li e escrevi sobre o stress das oliveiras.
  • Apostar na certificação biológica feita por entidades espanholas.
  • Criar experiências turísticas, visitas a pomares e degustações para aumentar os rendimentos com a presença de visitantes. E depois, vender os produtos derivados da amêndoa. Algures no blogue está um artigo sobre explorações pecuárias nos Estados Unidos que fazem mais dinheiro com a venda de produtos e restauração do que com a produção de leite. Fazer um modelo deste tipo
Imaginem se eles trabalhassem o posicionamento... BTW as câmaras parece que estão cheias de dinheiro, porque não lideram um projecto para este tipo de marketing comunitário?
  • Diferenciação pela qualidade - Valorizar a amêndoa transmontana como um produto de qualidade superior, promovendo-a como biológica e tradicional.
  • Marketing territorial: Vincular a amêndoa ao turismo da floração e a um estilo de vida saudável, promovendo-a como um produto premium. 
  • Sustentabilidade e inovação: Apostar em práticas sustentáveis para atrair consumidores preocupados com o meio ambiente.
  • Venda directa ao consumidor: Criar canais de venda online ou em mercados locais não tanto para reduzir a dependência de intermediários, mas para chegar a consumidores em busca de outra proposta de valor que não o preço mais baixo.
Mais uma vez, é preciso pensar como David junto ao ribeiro de Elah (ribeiro dos Pistácios), quando mirou o gigante e se abaixou para colher uns seixos rolados.


Convido a ler o significado de David aqui: Perceber a necessidade de sair do carreiro

quarta-feira, fevereiro 19, 2025

Curiosidade do dia

Lembram-se desta Curiosidade do dia onde se podia ler:

"Sindicatos saíram da reunião com a garantia de que não haverá redução do número de trabalhadores" 

Hoje o DN traz um artigo, "Mais funcionários e mais burocracia eletrónica nos tribunais?", que ilustra porque é que o estado é irreformável:

"It is difficult to get a man to understand something when his salary depends upon his not understanding it" 

O artigo aborda a transição digital nos tribunais, destacando que essa mudança tem sido, em grande parte, uma mera migração da burocracia do papel para o digital, sem explorar plenamente as vantagens que o ambiente digital oferece. 

"A transição digital nos tribunais tem sido, em grande parte, uma migração da burocracia em papel para uma burocracia eletrónica, sem que se explorem plenamente as possibilidades que o digital oferece. 

A verdadeira digitalização vai além da simples substituição de arquivos físicos por imagens digitais, pois implica uma transformação mais profunda na forma como se processa, acede e partilha a informação [Moi ici: A Justiça tem simplesmente transferido processos físicos para o digital sem modificar a estrutura burocrática, resultando numaa "burocracia eletrónica" em vez de uma verdadeira modernização]

...

Em vez de desmaterializar, automatizar e desintermediar, os tribunais continuam a replicar a lógica do papel no mundo digital. Processos que poderiam ser fluidos e automatizados mantêm-se presos a liturgias pseudodigitais, com batalhões de funcionários a digitalizar, imprimir, assinar e arquivar documentos manualmente, num ciclo interminável que consome tempo e recursos. A impressão de resmas de papel e a dependência excessiva de intervenções humanas mostram que a transição digital ainda não atingiu o seu potencial. [Moi ici: Apesar da digitalização, os processos judiciais continuam a seguir a mesma lógica do mundo analógico, com funcionários dedicados a digitalizar, imprimir e arquivar documentos manualmente, o que gera morosidade. Extraordinário!!! ... Bom, na verdade nem sei como me surpreendo]

...

No entanto, a resistência cultural e o apego aos métodos tradicionais impedem que essas tecnologias sejam adotadas em larga escala. Muitos ainda preferem revirar processos físicos, como se a minúcia manual fosse sinónimo de rigor, ignorando que a tecnologia pode aumentar a precisão e a rapidez. [Moi ici: A mentalidade tradicional e a estrutura corporativa do sector jurídico impedem uma digitalização eficiente. Muitos profissionais ainda preferem lidar com processos físicos, acreditando que a análise manual garante maior precisão]

...

Enquanto os tribunais continuarem a replicar no digital os mesmos processos morosos do mundo analógico, o progresso será ilusório. A verdadeira transformação digital na Justiça só ocorrerá quando se abandonar a lógica do papel e se abraçar plenamente as possibilidades do digital, tornando os processos mais ágeis, acessíveis e eficientes para todos os intervenientes." [Moi ici: O verdadeiro avanço só ocorrerá quando os tribunais abandonarem a lógica do papel e adoptarem totalmente as possibilidades do digital, tornando os processos mais ágeis, acessíveis e eficientes.]

A "DVD leadership team" a funcionar em todo o seu esplendor e glória.

Qual o serviço do estado que não é gerido assim?

A enxurrada

O artigo "A tidal wave of trade" publicado na revista The Economist no passado dia 15 discute o aumento brutal das exportações chinesas para as economias do Sudeste Asiático, particularmente para os países da ASEAN. 

A desaceleração da procura interna na China e as tensões comerciais com o Ocidente estão a gerar uma enxurrada de produtos chineses para os mercados emergentes da região, desafiando as indústrias locais. 

"In the past three years, the value of Chinese exports to the Association of South-East Asian Nations (ASEAN) has risen by 24%. Imports flowing the other way have not grown. As a result, China's trade surplus with ASEAN has doubled." [Moi ici: OK, mas há que descontar o peso das exportações provenientes da China para serem processadas nesses países, numa tentativa de fazer o by pass a tarifas]

A enxurrada:

"To some extent, rising Chinese exports to ASEAN reflect how firms have adjusted to trade tensions between America and China. [Moi ici: Cá está] Many have added production nodes outside China, particularly in South East Asia. But this is not the whole story. Several lower-value-added sectors in the region have seen a rush of Chinese import competition

...

In two years the Chinese share of plastics imports across Indonesia, Malaysia, the Philippines, Thailand and Vietnam has risen by six percentage points; for iron and steel, the increase was 12 percentage points. Meanwhile the Chinese import surge is happening while ASEAN's exports to the world stagnate. ... In Thailand manufacturing production has fallen by 11% since December 2021. In Indonesia fears of mass layoffs in labour-intensive textiles abound. The industry lost 80,000 jobs in 2024, according to the country's manpower ministry. The government thinks 280,000 textile jobs are at risk this year."

Alguns países têm imposto barreiras comerciais para conter a avalanche de produtos chineses, mas com pouco sucesso.

"Since the start of 2021, ASEAN has introduced 104 new trade restrictions on Chinese goods, including both tariffs and subsidies to offset import competition,

...

In June Indonesia's then-trade minister announced plans to slap 100-200% acrossthe-board tariffs on Chinese goods, but a week later it was walked back." 

A enxurrada de produtos chineses para a ASEAN pode ser um prenúncio de desafios para as empresas europeias, mas também pode criar oportunidades para quem souber adaptar-se e encontrar nichos estratégicos.



terça-feira, fevereiro 18, 2025

Curiosidade do dia

"The digital giants of today are companies that were founded relatively recently. It was not Smith Corona, the US typewriter company, that invented the PC. Smith Corona tried to integrate the computer into its typewriters and was rather good at it. But it could not think beyond the typewriter. [Moi ici: Quando se convida a "DVD leadership team" para as reuniões sobre o futuro do negócio ... fica-se preso ao passado] Its strategy worked well, up to the late 1980s - until it didn't.

Germany has a Smith Corona problem. It has been hanging on to old technologies and old companies for too long. Innovation was inextricably linked to existing companies. [Moi ici: O que relato para Portugal quando escrevo sobre os ausentes, os mastins dos Baskerville, que não ladram] Innovation was defined by what VW, BMW and Mercedes decide to innovate. That, too, worked until it didn't.

The digital world, by contrast, is a world of start-ups. Start-ups need support - in the form of a strong capital market - and mostly need to be left alone and not encumbered by bureaucracy. Germany offers a great support network for existing companies, but not for start-ups. It lacks a modern venture capital industry. Subsidies are geared towards large companies with legal departments, not to entrepreneurs whose mind is focused on their business. The problem with bureaucracy is that large companies find ways to manage it. Small companies do not."[Moi ici: E agora regressem à Junqueira e à fixação com as empresas grandes só porque sim. BTW, eu em 2013 ainda não tinha descoberto a teoria dos Flying Geese. Eu ainda acreditava que os Geese podiam ser a solução. E são se pensarmos em competitividade, não são se pensarmos em produtividade. E competitividade sem produtividade é ... empobrecimento]




Aviões e clientes que não regressam

"272. Survivors are Noteworthy

During World War II, a lot of airplanes were shot down. The army hired Abraham Wald to inspect the planes that had made it back to base to suggest how they should increase their armor to improve their odds.

The planes Wald reviewed had bullet holes throughout their wing area. The conventional approach was to add more armor there, where the holes were.

He pointed out the counterintuitive truth: The fact that these planes made it safely home meant that the wings were fine. Put the armor where there weren't holes, because the planes that got shot in the fuselage were the ones that never made it back.

Another example: A company works hard to fix the things that lead customers to call in and complain. That's fine, but it ignores the customers that aren't bothering to call in but who are just walking away or badmouthing you to others.

Figure out what those things are and you'll make an even bigger impact on your long-term success."

A analogia entre os aviões que regressavam à base e os clientes que reclamam é extremamente pertinente para as PME. Muitas empresas focam-se excessivamente nas queixas dos clientes que dão feedback explícito, mas ignoram aqueles que simplesmente deixam de comprar sem dizer nada. O problema? Esses clientes "silenciosos" podem representar uma perda muito maior do que os que reclamam.

Ouvir o silêncio é tão importante como ouvir as queixas. Se um cliente reclama, significa que ainda tem interesse na empresa. Quer que o problema seja resolvido e está disposto a dar feedback. Mas os clientes que desaparecem sem avisar podem ser os mais críticos para o negócio - e nunca se saberá porquê, a menos que se investigue. 

As PME devem olhar para os clientes que deixam de comprar e tentar perceber o que os afastou. Foi o preço? O atendimento? A concorrência? Se apenas se focarem nos problemas levantados pelos que reclamam, podem estar a corrigir pormenoress que não são os verdadeiros responsáveis pela perda de clientes. O desafio é identificar os "buracos invisíveis" que realmente fazem os clientes desistirem. Não basta esperar que os clientes se queixem. Criar inquéritos, fazer follow-ups, analisar comentários em redes sociais e observar mudanças no comportamento de compra pode revelar problemas que nunca chegam a ser reportados.

Qual o propósito dos inquéritos que criamos? Picar o cartão ou procurar pistas sobre o que não sabemos que não sabemos?

Trecho retirado de "What is Strategy" de Seth Godin.


segunda-feira, fevereiro 17, 2025

WTF


Pejados de Boabdils


"Não chores como mulher pelo que não soubeste defender como homem." 


Curiosidade do dia


O artigo "Sunburst", publicado na revista The Economist a 15 de fevereiro de 2025, discute como a energia solar barata está a desestabilizar as redes eléctricas em vários países. Embora a disseminação da energia solar traga benefícios ambientais e económicos, ela também traz um ciclo vicioso que ameaça a sustentabilidade das concessionárias eléctricas.

O artigo começa por contar a estória de como surgiu o modelo "energy as a service" que se espalhou pelo mundo. Depois:
"But cheap solar power is now breaking the model. Last year Pakistan became the world's third-biggest importer of Chinese solar panels. Many were destined for the roofs of commercial and industrial outfits or farms, to replace diesel generators. Pakistan has sky-high energy prices, a legacy of expensive contracts to pay for capacity from often Chinese-built coal plants. The adoption of cheaper, cleaner solar power is a welcome development. At the same time, however, it leads to a vicious cycle. The costs of running the grid and paying for coal power fall on fewer people, who then have more reason to opt out, undermining the economics of the whole enterprise."

O artigo continua com exemplos semelhantes na África do Sul, no Líbano e mesmo em regiões dos Estados Unidos mais sujeitas a furações e apagões. A leitura fez-me logo soar as campaínhas para os arquétipos de Peter Senge:

Primeiro: Limits to growth


O crescimento da energia solar descentralizada ao reduzir a base de consumidores da rede eléctrica, cria um limite estrutural que enfraquece as concessionárias, gerando crises de fornecimento e, paradoxalmente, mais incentivo para que os consumidores adoptem a energia solar.

Segundo: Success to the successful


Consumidores mais ricos conseguem pagar por sistemas solares próprios, reduzindo a sua dependência da rede, enquanto os mais pobres ficam presos a um sistema cada vez mais caro e instável.

Terceiro: Shifting the burden



Em vez de melhorar a infraestrutura eléctrica, governos e consumidores recorrem à energia solar como solução imediata. No entanto, essa alternativa enfraquece ainda mais as redes públicas, agravando o problema a longo prazo.



Crescimento e sustentabilidade

No WSJ do passado dia 15 de Fevereiro encontrei, "Chefs Say No Thanks To Michelin Star Rating".

O artigo aborda o impacte de ganhar uma estrela Michelin e porque alguns chefs optam por recusar esse reconhecimento.

Ganham pressão e expectativas elevadas:

"The Tuscan eatery had been awarded the star in 2019 for its traditional Italian food with a modern flair, such as potatoes with squid sauce, chanterelles and spicy parsley. Then came new clientele with heightened expectations. The owners, who desired a more relaxed environment, had come to think of the award as a burden."

 Aumenta o desafio financeiro:

"Although the Michelin Guide says that only factors such as quality of cooking and mastery of technique are considered, some restaurant owners including Olesen feel they would need to maintain perfection at every level in exchange for a star, down to the ply of the toilet paper in the bathrooms.

This can make it hard to run a restaurant, owners said. A star can lead to an uptick in business and sales, but a slump almost inevitably follows, according to a 2021 report on the impact of the Michelin star on restaurants in New York City published in the Strategic Management Journal, a research publication. For some places, this can be a fatal blow, as they struggle to sustain new costs such as higher-quality ingredients, rising rents from landlords who re-evaluate their property and staff who demand pay commensurate with their perceived newfound value, the report said."

Aparece a censura criativa e o medo de falhar:

"In some respects [a star] can be a little stifling," said Scott Nishiyama, the chef and owner at Ethel's Fancy in Palo Alto, Calif., who trained under Michelin-star chefs before opening his own restaurant. He said the possibility of a Michelin inspector walking through the door at any moment could be unnerving: "You don't have that necessary freedom or joy to make discoveries and to make mistakes because you're simply worried about losing that star, or trying to achieve that first star.""

A reavaliação dos objectivos de vida:

"Such recognition represents the highest achievement a young chef can aspire to," said Stefano Terigi, a chef at Giglio. "We didn't have time to figure out if it was truly our path; we didn't seek it out."

...

"If I wanted to get myself to that caliber [of a star], it would require a lot more time and energy on my end to put that together," said Justin Kent, a U.S. chef who trained with the esteemed David Toutain and Alain Passard before opening his own Paris eatery, Milagro, which was featured without a star in France's 2024 guide.

...

"I'm very happy with my life the way it is," he said. Kent regularly brings his tiny dog Tofu to work, delighting the customers."

E o extraordinário impacte no imobiliário e no custo do pessoal. Os proprietários reavaliam o valor do espaço e aumentam as rendas e os trabalhadores esperam/exigem aumentos dado o valor da estrela.

Assim:

"Last fall, the restaurant Giglio in Lucca, Italy, made a surprising request: to have its Michelin star removed from the 2025 guide."

O artigo pode ser utilizado para discutir estratégia para PME, especialmente em sectores onde a reputação e a qualidade são factores críticos. Algumas lições podem ser:

Tal como um restaurante pode decidir entre procurar ou evitar uma estrela Michelin, as PME devem definir se querem competir por um estatuto de alta qualidade/prestígio ou priorizar um modelo de negócio mais sustentável e acessível. Ou seja, a importância de escolher um posicionamento. 

Recordar a lição das salamandras de Estarreja, espelhada nas dificuldades das Orsted e das Vale da Rosa. O crescimento rápido pode gerar desafios financeiros e operacionais. As empresas precisam avaliar se estão preparadas para lidar com custos crescentes e expectativas mais elevadas antes de procurarem reconhecimento no mercado.

Para algumas PME, um grande reconhecimento pode aumentar a procura, mas também gerar pressões que dificultam a operação eficiente. Ter um crescimento controlado pode ser mais vantajoso do que um sucesso instantâneo.

Tal como alguns chefes preferem manter um restaurante com ambiente descontraído, os empresários devem refletir sobre o impacte do crescimento na sua qualidade de vida e bem-estar. Há muitos anos aprendi o que era um "life style business". Um tipo de empresa criada principalmente para sustentar o estilo de vida desejado pelo proprietário, em vez de focar exclusivamente o crescimento máximo ou a maximização dos lucros. 

Por vezes, menos pode ser mais. Para as PME, isto significa que a procura incessante por prémios, estatuto e crescimento pode ser prejudicial se não estiver alinhada com a visão e a sustentabilidade do negócio.

domingo, fevereiro 16, 2025

Curiosidade do dia

 

 "In the Old Testament, there is a series of very impressive testimonies to the truth that the liturgy is not a matter of "what you please". Nowhere is this more dramatically evident than in the narrative of the golden calf (strictly speaking, "bull calf"). The cult conducted by the high priest Aaron is not meant to serve any of the false gods of the heathen. The apostasy is more subtle. There is no obvious turning away from God to the false gods. Outwardly, the people remain completely attached to the same God. They want to glorify the God who led Israel out of Egypt and believe that they may very properly represent his mysterious power in the image of a bull calf. Everything seems to be in order. Presumably even the ritual is in complete conformity to the rubrics. And yet it is a falling away from the worship of God to idolatry. This apostasy, which outwardly is scarcely perceptible, has two causes. First, there is a violation of the prohibition of images. The people cannot cope with the invisible, remote, and mysterious God. They want to bring him down into their own world, into what they can see and understand. Worship is no longer going up to God, but drawing God down into one's own world. He must be there when he is needed, and he must be the kind of God that is needed. Man is using God, and in reality, even if it is not outwardly discernible, he is placing himself above God. This gives us a clue to the second point. The worship of the golden calf is a self-generated cult. When Moses stays away for too long, and God himself becomes inaccessible, the people just fetch him back. Worship becomes a feast that the community gives itself, a festival of self-affirmation. Instead of being worship of God, it becomes a circle closed in on itself: eating, drinking, and making merry. The dance around the golden calf is an image of this self-seeking worship. It is a kind of banal self gratification. The narrative of the golden calf is a warning about any kind of self-initiated and self seeking worship. Ultimately, it is no longer concerned with God but is concerned only with giving oneself a nice little alternative world, manufactured from one's own resources." 

Trecho retirado de "The Spirit of Liturgy" de Joseph Cardinal Ratzinger. 

Dedicado a Macron et al.

 
"in 1960, Penn Central railroad missed their chance to build a successful airline. Trains had been the dominant form of long-haul travel for a century, but the airplane was now arriving as a faster, higher-status form of connection and transport.
Like Western Union before it, dominant companies like Penn Central could have made the move to the new wave. But, as Ted Levitt helped us understand in Marketing Myopia, they thought they were in the business of trains, not transportation.
They defended the system they were familiar with instead of building a system for the future.
In all of these cases, the bullies aren't being irrational. They're simply having trouble expressing what they actually want. They mistakenly believe that what they do is more important than why they do it."
Recordar de 2011: "Engaging emergence"

Muitas pequenas e médias empresas (PME) sucumbem a um erro fatal: a resistência à mudança. Presas a modelos mentais ultrapassados e a um apego emocional ao "modo como sempre fizemos as coisas", acabam por defender um sistema obsoleto em vez de abraçar o futuro. 

O mercado muda, os clientes evoluem, e as empresas que insistem em ignorar estes sinais acabam por ser esmagadas. A mudança pode ser dolorosa, mas fugir dela é suicídio empresarial.

Muitas PME enfrentam mudanças forçadas pelo mercado ou por grandes clientes e encaram isso como um obstáculo, em vez de uma oportunidade. Mas há uma questão essencial que os gestores precisam de colocar:

  • Esta mudança é passageira ou veio para ficar?

Se for pontual, pode ser tratada como um contratempo. Mas se for estrutural, resistir é inútil. Em vez de lutar contra o inevitável, a empresa deve adaptar-se rapidamente e transformar o que parecia uma ameaça numa vantagem competitiva. Empresas que abraçam a mudança crescem; as que resistem definham.

As empresas que prosperam são aquelas que compreendem que a mudança não é um fardo, mas uma vantagem. O sucesso não vem de evitar dificuldades, mas de as usar como trampolins para o crescimento. Evitar desafios apenas gera frustração; enfrentá-los com estratégia transforma obstáculos em degraus rumo ao sucesso.

O mundo não vai abrandar para esperar pelas PME que se recusam a evoluir. O cliente não tem pena de empresas ultrapassadas. Quem insiste em proteger o passado, em vez de construir o futuro, está fadado a desaparecer. Quem abraça a mudança, encontra nela a sua maior força.

A escolha está nas mãos dos gestores: adaptar-se e prosperar ou resistir e desaparecer.

Recordar os recentes:

Trecho retirado de "What is Strategy" de Seth Godin.

sábado, fevereiro 15, 2025

Curiosidade do dia

A propósito de "Número de funcionários públicos bate recorde no primeiro ano de Montenegro":

"A Administração Pública terminou o ano de 2024 com quase 754 mil postos de trabalho, de acordo com a síntese estatística divulgada esta sexta-feira. É o valor mais elevado desde, pelo menos, 2011. Tanto em cadeia, como em termos homólogos, registou-se um aumento de 1%.

"A 31 de dezembro de 2024, o emprego no setor das administrações públicas situou-se em 753.850 postos de trabalho, o que representou um aumento de 1,0% (+7.581 postos de trabalho) face ao trimestre anterior. Em relação ao trimestre homólogo, o aumento foi de 1,0% (+7.476 postos de trabalho)", informa a Direção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP), numa síntese divulgada esta sexta-feira."

O número de funcionários públicos atingiu um novo recorde! Quem diria? Apesar da inteligência artificial, do digital, da internet, dos automatismos, do Simplex, e até da esperança de um dia vivermos numa administração pública mais eficiente... o monstro continua a crescer, imparável, insaciável, inabalável.

Enquanto no sector privado se pede "fazer mais com menos", no estado o lema parece ser "fazer o mesmo, ou menos, com mais". Mais funcionários, mais impostos, mais despesa, mais burocracia, mais departamentos inúteis, mais papelada carimbada por três chefes e cinco adjuntos de coordenador principal.

E nós, os contribuintes líquidos? Continuamos a patrocinar a festa, mas sem convite. 

Daqui a uns anos, quando o próximo governo anunciar um novo "choque tecnológico", podemos ter esperança de que… contratem ainda mais gente para "implementar a digitalização".

Portugal: um país onde até a simplificação se faz com um departamento novo e mais uns quantos assessores.

🥂 Brindemos à eficiência do sector público! (Mas pagamos nós, claro.) 

"a problem money may be unable to solve"

A propósito de "It's no longer about how you do it; it's about what you do" mão amiga fez-me chegar cópia do artigo "Money Alone Can't Stop Europe's Industrial Twilight" publicado no passado dia 13 na revista "Politico Europe".

O exemplo do encerramento de uma fábrica da Michelin em Cholet é apresentado no artigo como exemplo. Apesar dos milhões de euros em subsídios e incentivos fiscais, empresas como a Michelin continuam a encerrar fábricas na Europa e a transferir a produção para países com menores custos. O encerramento da fábrica da Michelin em Cholet é um sintoma da desindustrialização europeia, que não é resolvida apenas com incentivos financeiros.

"Despite Michelin receiving millions of euros in government assistance, management said the factory in this small French city could no longer compete with its Asian rivals."

O governo francês gastou milhares de milhões de euros para apoiar a indústria, mas os resultados são decepcionantes. Entre 2020 e 2022, a França gastou 27 mil milhões de euros por ano em apoio financeiro ao sector industrial, o desemprego parou de cair e estabilizou nos 7%, mas as fábricas continuam a encerrar.

"Between 2020 and 2022, France spent approximately €27 billion per year in financial support to the industrial sector, according to a recent report by France's court of auditors."

O problema central não é a falta de subsídios, mas sim a dificuldade estrutural da Europa em competir globalmente, especialmente em sectores de baixo valor acrescentado. Macron prometeu revitalizar a indústria, mas os empregos continuam a desaparecer porque a Europa não resolve os desafios de produtividade e inovação.

"The fate of the workers in Cholet, one of two factories Michelin closed in France last year, offers an illustration of a problem money may be unable to solve."

Este "a problem money may be unable to solve" tem tudo a ver com o "It's no longer about how you do it; it's about what you do." Enquanto a Europa tenta proteger indústrias tradicionais, Taiwan e outras economias asiáticas investem fortemente em inovação e tecnologia de ponta. Empresas como a Michelin alegam que não podem competir porque produzem bens pouco diferenciados e enfrentam concorrência feroz da Ásia.

"They told us that the Chinese are stealing our jobs, but this is totally false," said Jacques Roux, a Michelin worker and the picket line."

A União Europeia continua a apostar em subsídios generosos e regras proteccionistas para tentar salvar sectores industriais tradicionais. Um novo pacote de estímulos planeado para Fevereiro inclui o relaxamento de regras de ajuda estatal, mostrando que Bruxelas ainda acredita que a solução é apenas financeira, e não estrutural. 

"As Brussels launches an effort to make the European economy more competitive by slashing regulation and ramping up public spending - a new package of measures is due on Feb. 26."

No entanto, como o artigo mostra, o encerramento da Michelin e a crise industrial na Europa demonstram que despejar dinheiro não resolve a falta de competitividade global da indústria europeia. O que é necessário não é mais subsídios, mas sim uma estratégia clara para reposicionar a Europa em sectores de alto valor acrescentado, como Taiwan faz com a TSMC.

Ou seja, Bruxelas está como Portugal. Os salários dos trabalhadores dos sectores tradicionais só podem aumentar se houver novos sectores a reformular a média, basta recordar o exemplo do barbeiro de Londres.

Entretanto, outra mão amiga ontem fez-me chegar "TSMC plans to build a 1-nm gigafab in Taiwan". É outro campeonato.

Enquanto a França e o resto da Europa tenta manter empregos em indústrias que já não são competitivas, Taiwan está focada no que faz a diferença na economia global - semicondutores de última geração.

A TSMC, ao investir no fabrico de chips de 1 nm, está a consolidar a sua posição como insubstituível na cadeia de valor global. Isto não é apenas sobre como produzir chips, mas sobre o que está a ser produzido. Do you get the point?

O sucesso de Taiwan não vem de subsídios sem estratégia, mas de investimento pesado em I&D, talento e tecnologia de ponta.

O artigo sobre a Michelin mostra que a Europa está encalhada numa lógica de subsídios que não aumenta a produtividade, não cria empregos sustentáveis e atrasa a evolução porque o subsídio vai resolvendo, vai zombificando mais e mais.

A França e a Europa está a tentar proteger o passado; Taiwan está a construir o futuro. Again: "It's no longer about how you do it; it's about what you do".

Tudo a ver com os gansos voadores.

sexta-feira, fevereiro 14, 2025

Curiosidade do dia

Está tudo ligado!

Na última página do JN de ontem aparece um daqueles barómetros que mede a percepção da redação sobre algumas pessoas. Este barómetro chama-se "Sobe e Desce".

Quem é que aparece a subir? Pedro Duarte, ministro dos assuntos parlamentares.

Estranho, um jornal mainstream a avaliar positivamente um ministro do lado direito do parlamento!

Ah! Não deve ter nada a ver com "Governo desembolsa 55 milhões de euros com pacote para a comunicação social"

You scratch my back, I'll scratch yours?




"It's no longer about how you do it; it's about what you do."

 
"Germany's current economic malaise differs in one important respect from those of previous periods. If companies become uncompetitive, the government can cut taxes, introduce labour reforms or manipulate the exchange rate. But if you are a specialist in making gas heaters or diesel engines, your problem today is not cost, but the product itself. If people are forced to install heat pumps instead of gas heaters, or forced to buy electric cars after the 2035 cut-off for the production of fuel-driven cars in the EU, you have a different problem. While German car makers are still competitive in their classic product range, they cannot compete against the Chinese in electric cars. It's no longer about how you do it; it's about what you do."

Peço desculpa por me repetir. 

"it's about what you do" ... isto tem tudo a ver com o não convidar a "DVD leadership team" para as reuniões sobre o futuro. Tem um papel a desempenhar no presente, mas não pode ser o motor do futuro. Convidá-la para as reuniões sobre o futuro é correr o risco da preocupação ser sobre como manter o status da "DVD leadership team", como proteger os postos de trabalho, como partilhar recursos escassos para construir o futuro com a "DVD leadership team".

Por isso aquele postal de Janeiro de 2022, "Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas." Por isso a referência aos mastins dos Baskerville. Os ausentes, os que não aparecem, quando o mainstream pede às empresas existentes, uma espécie de "DVD leadership team", que tragam o desempenho do futuro desejado (salto de produtividade).

Por exemplo, no JdN de 12 de Fevereiro de 2025 encontrei "Armindo Monteiro "O mundo está a mudar e cada bloco económico está a pensar em si"":

À pergunta: "E porque é que os salários não sobem?" a resposta termina assim:

"Com as taxas de IRC que temos, com o investimento público que não acontece - só ocorre à custa do PRR -, não há investimento em Portugal.

Tem de haver investimento público." 

Sem comentários.

À pergunta: "Quais seriam as 3 medidas que podiam fazer mexer o ponteiro na produtividade, o segredo para salários mais altos e mais crescimento?" leio:

"...

Investimento. A segunda é a qualificação. Precisamos de projetos empresariais que cativem, sobretudo os mais jovens, para viverem em Portugal. É importante que os empresários consigam oferecer não apenas postos de trabalho, mas projetos de carreira. A nossa economia ainda não fez essa alteração que permite oferecer empregos em que as pessoas se sintam realizadas.

Mas isso não é bem uma medida. É um sonho...

Mas há soluções, como ligar as universidades às empresas e vice-versa. As boas empresas e as boas universidades já conseguiram quebrar essas barreiras, mas ainda não são a globalidade. Ainda continua a haver [essa barreira], sobretudo nas empresas de reduzida dimensão, sem capacidade de inovação. São estas que nós temos de motivar e conseguir que invistam no seu "core business," em vez de estarem a olhar para a carga burocrática."

O foco nas empresas existentes, na "DVD leadership team". Quando é que vão perceber que elas não podem fazer essa entrega? E não é porque os empresários sejam burros... voltar ao texto inicial sobre a Alemanha - "It's no longer about how you do it; it's about what you do."

BTW, quanto à imigração, algo mencionado por Armindo Monteiro, gostava de poder publicar aqui os tweets que andam a ser publicados com os esquemas usados para contratar na restauração. Ilustram muito bem porque tem de haver um caudal permanente de imigrantes iludidos, segundo os empregadores.

Trecho inicial retirado de "Kaput - The End of the German Miracle" de Wolfgang Munchau 

quinta-feira, fevereiro 13, 2025

Curiosidade do dia

"Quis custodiet ipsos custodes?" nunca fez tanto sentido. 

No jornal The Guardian do passado dia 10 encontrei "Watchdog chief spent public cash on luxury hotels while on business courses in France"

"The CCRC says Kneller, as chief executive and accounting officer, is "responsible for safeguarding the public funds allocated to us, and for ensuring propriety and regularity in the handling of those public funds". One staff member said there was a clear "conflict of interest" in Kneller being sent on courses at an institution that Pitcher was involved in "at a location that is vastly more expensive than very similar courses available in the UK"."

O Criminal Cases Review Commission (CCRC), é uma entidade que deveria zelar pelo uso correcto dos fundos públicos e pela justiça, está a ser acusada de permitir que seu próprio chefe, Helen Kneller, gastasse dinheiro público em hotéis de luxo enquanto participava em cursos em França. A ironia fica ainda mais evidente porque Kneller, como chefe-executiva e responsável pelas contas da CCRC, tinha a obrigação de proteger esses fundos e garantir que fossem usados de forma ética e regular.

Parece que em vez de combater desperdício e incompetência, os próprios líderes da CCRC estariam envolvidos nesses problemas. 

Nem de propósito no JdN de hoje:

"funcionários públicos transformaram-se numa classe que se serve a si própria às custas dos impostos dos trabalhadores do setor privado."

Trecho retirado de "Quando é que começamos a falar da burocracia estatal?

Nota: Os que não metem baixa e têm de manter a burocracia à tona têm a minha solidariedade.

Qual é mesmo a missão?



Este artigo publicado pelo ECO, "Tarifas de Trump 'ceifam' produtores de milho em Portugal" deixou-me a matutar. Há algumas coisas que não batem certo.

Logo no começo do artigo temos:
"A imposição de tarifas aduaneiras por parte da nova administração americana, liderada por Donald Trump, é uma nova ameaça para o negócio dos produtores de milho em Portugal, que falam num "fator potenciador de enorme instabilidade e volatilidade nos mercados mundiais de commodities agrícolas."

Pergunto com sinceridade: Um aumento de instabilidade e volatilidade nos mercados mundiais de commodities agrícolas não é positivo para os produtores portugueses? Pode ser negativo para quem importa e comercializa, mas para quem produz, é uma oportunidade para ter um preço mais elevado.

Durante o artigo temos:

"Portugal tem um grau de autoaprovisionamento em milho de cerca de 25%, o que coloca o país entre os Estados-membros da União Europeia mais desprotegidos - só os Países Baixos, Chipre e Malta têm uma percentagem inferior. E igualmente "face à situação geopolítica que se vive em certas latitudes, algumas das quais na fronteira do espaço europeu", ", como é o caso da guerra na Ucrânia, o presidente da Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo (ANPROMIS) alerta que é "extremamente perigosa esta excessiva exposição face ao exterior"."

Pergunto com sinceridade: Qual é o papel da ANPROMIS, procurar o melhor para os seus sócios ou estar preocupada com o grau de autoaprovisionamento em milho? Ou será que o que quer é apoios comunitários  para os produtores? Será que o modelo da UE baseado nos contribuintes alemães tem pernas para continuar a andar? Recordo o que escrevo aqui no blogue há vários anos:

"os agricultores têm de deixar de se ver como os responsáveis por alimentar o mundo, têm sim de se ver como responsáveis pela alimentação dos seus clientes."

No final do artigo temos:

"Questionado sobre a capacidade exportadora dos produtores portugueses, o presidente da ANPROMIS reconhece que apenas existe um “limitado número de negócios com Espanha” no milho para a alimentação humana (gritz). Precisamente um segmento de “produtos com mais qualidade e para novos mercados” que Jorge Neves destaca como tendo maior potencial para os produtores nacionais em resposta à “conjuntura atual [que] exige cada vez mais uma adaptação constante”."

Durante grande parte do artigo, a ANPROMIS e os produtores defendem a necessidade de apoiar a produção de milho commodity (um produto de baixa margem e alta concorrência internacional), argumentando que a dependência externa é arriscada. No entanto, no final, o próprio presidente da associação admite que há maior potencial no milho de mais qualidade e para novos mercados.

Isto sugere um possível conflito de interesses ou falta de clareza na estratégia do sector:

  • Por um lado, pede-se subsídios e apoios para a produção de milho commodity, uma cultura altamente volátil e sujeita à concorrência global.
  • Por outro, reconhece-se que o futuro pode estar em nichos de maior valor acrescentado.

Se os produtores portugueses têm dificuldades em competir no mercado de milho commodity, talvez fosse mais estratégico apostar desde já em produtos diferenciados em vez de tentar sustentar artificialmente um sector que enfrenta tantas dificuldades.

Qual é mesmo a missão da ANPROMIS?

Depois de escrever isto e de dar o título fui fazer uma caminhada, e voltei a pensar nesta tensão entre manter o negócio como está e esperar que os alemães paguem a conta, ou mudar de vida.

Claro que é mais cómodo esperar que os alemães paguem a conta do que enveredar pela incerteza da mudança. 

O problema é que os alemães vão deixar de pagar a conta, é inevitável:

A Alemanha está a enfrentar uma grave crise demográfica. A sua taxa de natalidade tem vindo a diminuir e está abaixo do nível de substituição há quase 70 anos. Isto significa que, durante décadas, não nasceram jovens suficientes para sustentar a força de trabalho.

Agora, ao entrarmos na próxima década, a situação está a atingir um ponto crítico. A última geração considerável de trabalhadores na Alemanha está prestes a reformar-se em grande número. Como resultado, a Alemanha, que tem sido há muito tempo a espinha dorsal financeira da União Europeia, poderá já não conseguir apoiar a economia europeia como fez no passado. Em vez de contribuir com fundos, a Alemanha poderá tornar-se num país que necessita de apoio financeiro da União Europeia. Se isto acontecer, mudará significativamente o panorama económico da Europa.

quarta-feira, fevereiro 12, 2025

Curiosidade do dia

""É muito importante aquilo que está na cabeça dos portugueses, porque aqui, como na segurança, o que interessa não é a segurança em abstracto, nem a corrupção que existe ou não existe, é qual é a imagem que as pessoas têm acerca da corrupção e acerca da segurança, porque é essa percepção que gera insegurança e é essa percepção que gera maior ou menor confiança no combate à corrupção", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa."

Humm!


Marcelo numa fase Potemkin?

A frase dita por Marcelo Rebelo de Sousa parece sublinhar que a percepção das pessoas sobre a corrupção e a segurança é mais importante do que a realidade objectiva desses problemas. E este tipo de racional levanta algumas questões:

  • Ao afirmar que o que importa não é a segurança "em abstracto" nem a corrupção "que existe ou não existe", mas sim a imagem que as pessoas têm sobre esses temas, pode parecer que a realidade concreta desses problemas é secundária. No entanto, a corrupção e a insegurança são problemas reais, independentemente da percepção popular.
  • A ideia de que a insegurança e a confiança no combate à corrupção derivam mais da percepção do que dos factos pode ser interpretada como uma forma de desviar a atenção da acção concreta necessária para resolver esses problemas. É evidente que a percepção pública tem um impacte na sociedade, mas essa percepção deve basear-se em factos reais, e não o contrário.

Por vezes, estas figuras descuidam-se e revelam mais do que queriam ou gostariam. Se o que realmente importa é a percepção das pessoas, e não a realidade objectiva, então há uma abertura para que a estratégia do regime se concentre mais em moldar a opinião pública do que em resolver problemas concretos. Isso pode ser visto como uma forma de governar através da narrativa, em vez de através de políticas eficazes. 

E o que temos vivido ao longo dos anos?

Balanço das exportações de 2024

Cá vai a minha tabela para o ano de 2024.


O panorama ao fim dos 12 meses acabou muito melhor do que eu pensava no final do primeiro semestre. No entanto, 


Interessante o crescimento das exportações para a Alemanha, apesar desta estar em recessão. Será que estamos a ganhar quota de mercado à custa de preços mais baixos que outros países?
"O mercado que mais contribuiu para o acréscimo global das exportações de bens em 2024 foi a Alemanha, que passou de terceiro para segundo principal destino dos bens nacionais. Conquistou um peso de 12,3% no total exportado, face aos 10,7% de 2023. As exportações para a Alemanha aumentaram 17,8% (mais 1.478 milhões), devido sobretudo a "fornecimentos industriais, material de transporte e máquinas e aparelhos".

Não acham interessante o elevado crescimento do desemprego nos sectores do têxtil e do calçado para afinal terem uma quebra só à volta dos 5%? Fico com a pulga atrás da orelha com:

"Do total de 79.285 milhões de euros em exportações de bens em 2024, 75.912 milhões resultaram ocorreram com transferência de propriedade. Em comparação com o ano anterior, foram mais 1,7%. Já as exportações com vista a ou na sequência de trabalhos por encomenda (sem transferência de propriedade) representaram 4,3% do total das exportações, o que corresponde a um acréscimo de 26,7% face ao ano anterior."  

Estas exportações sem transferência de propriedade acontecem quando um produto é enviado para outro país para ser transformado, montado ou finalizado, mas a posse continua na empresa portuguesa que a enviou. Julgo que isto significa subcontratação, talvez em Marrocos.

Já agora, a propósito deste artigo "Exportações de calçado deverão ter caído 6,5% em 2024 para 1.702 milhões de euros":

"O ano que terminou foi muito difícil no plano externo. Por um lado, é notório um abrandamento dos principais mercados internacionais, nomeadamente Alemanha e França, que afetou os principais protagonistas do setor, e as nossas empresas. Depois, começa a ser percetível a estratégia do setor de diversificar a oferta de produtos, ainda que muitas vezes recorrendo à subcontratação no exterior, a exemplo do que já fazem os nossos principais concorrentes internacionais”, afirma, citado em comunicado, o presidente da APICCAPS, Luís Onofre."

 

 

terça-feira, fevereiro 11, 2025

Curiosidade do dia

 
"Of all the entrepreneurs in Germany, Mülheim was the home of the country's most successful - and most secretive. Karl Albrecht was the elder of two brothers who, in 1946, took over their mother's grocery store in the neighbouring city of Essen. After the introduction of the Deutschmark in 1948, the two brothers invented a new retail concept - the discount store, with a limited range and very low prices. They called it Aldi, which stood for Albrecht Discount.
...
The Albrechts never gave interviews. By the time Karl died, at the age of ninety-four, in 2014, he was not only the richest man in Germany, and number twenty in the world, he had also never met a German chancellor in his lifetime. He, like much of his generation of entrepreneurs, did not owe his success to politics."

Sublinhar isto no prólogo de um livro não augura nada de bom. 

Trechos retirados de "Kaput - The End of the German Miracle" de Wolfgang Munchau 


Coragem para enfrentar a realidade

A ISO 9001 determina que as organizações sigam a abordagem por processos. Quantas empresas a seguem realmente? Quantas empresas apenas se limitam a desenhar um "boneco" com uns processos manhosos para meter no manual da qualidade, mostrar ao auditor e nunca mais o usar? 

A implementação de um modelo baseado na abordagem por processos é, em teoria, um caminho natural para a melhoria organizacional. No entanto, na prática, a esmagadora maioria das empresas e consultores enfrentam desafios que transformam essa potencial melhoria numa mera promessa por cumprir.

A experiência de um consultor na implementação da ISO 9001 pode assemelhar-se à parábola do semeador (Mt 13, 1-9):

  • Uma minoria das empresas - talvez menos de 10% - representa o solo fértil — gestores verdadeiramente comprometidos, vontade genuína de melhorar, métricas levadas a sério. Só aqui o trabalho do consultor faz verdadeira diferença.
  • A maioria das empresas apenas pretende o "papel" — o certificado — e isso é legítimo. Afinal, a ISO 9001 também é um requisito comercial. Mas sem uma cultura de melhoria, os processos permanecem no papel e as mudanças estruturais jamais se concretizam.
  • E depois também há os consultores que, por falta de conhecimento ou tempo, fazem apenas o mínimo indispensável, entregando um sistema concebido para passar auditorias, mas sem qualquer impacte real no desempenho de uma organização. 

Raramente um consultor ISO 9001 tem a sorte de encontrar uma empresa predisposta a melhorar a sério. 

A abordagem por processos é uma alavanca para a melhoria que, lamentavelmente, em 90% dos casos, não chega sequer a ser accionada. A vasta maioria das empresas desenha um mapa de processos e elabora fluxogramas porque pensa que a norma exige, e não porque pretende utilizá-los para optimizar as operações.

A melhoria não acontece só porque existe um modelo. Ela exige algo mais: análise rigorosa dos problemas, medição efectiva do desempenho e, acima de tudo, uma vontade de enfrentar os desafios identificados.

A ISO 9001 fala em medição e monitorização, mas que destino se dá a essa informação? KPIs são registados religiosamente, mas raramente alguém actua sobre os números.

  • O prazo médio de entrega aumentou? "A culpa é do mercado."
  • A taxa de devoluções disparou? "A culpa é dos clientes que estão mais exigentes."
  • Os custos operacionais subiram? "A culpa é da inflação."

O diagnóstico está feito, mas as desculpas servem de escudo. Identificam-se sintomas, mas raramente se atacam as causas. 

Raramente um consultor tem a sorte de encontrar uma empresa verdadeiramente predisposta a melhorar que pergunta: porquê? 

Porquê o desempenho actual? 

É extraordinariamente aliciante, é profundamente motivador quando se chega a esta fase. Analisamos os números do desempenho, examinamos os sintomas, debruçamo-nos sobre as dores, escrutinamos as queixas e procuramos causas.

Depois, analisamos o(s) processo(s) onde esses sintomas se manifestam e essas causas têm origem. Não há acasos, os resultados indesejados são um produto perfeitamente natural decorrente da forma como se trabalha. Se não se gosta dos resultados, tem de se mudar o que se faz. Assim, determinamos acções para atacar esses sintomas e eliminar essas causas. Definimos as alterações necessárias no(s) processo(s), ou seja, onde actuar e qual o impacte esperado.

Preparamos um projecto com um plano claro de implementação. Quem faz o quê, até quando e com que recursos. Defendemos um pitch junto de quem tem autoridade e pode validar a mudança proposta. E avançamos para a mudança da realidade (esperemos!).

O grande problema? A esmagadora maioria das empresas e gestores esconde-se atrás da burocracia. Até há quem desconfie que os esforços de melhoria são uma espécie de "Cavalo de Tróia" que abre uma "Caixa de Pandora" plena de consequências difíceis de controlar. As mudanças implicam esforço, riscos e, em alguns casos, confronto com hábitos profundamente enraizados. Mas sem acção concreta, a melhoria é impossível. A abordagem por processos não pode ser um mero exercício de estilo ou um conjunto de documentos elaborados para agradar ao auditor. A missão é clara:

  • Este é o problema → Diagnóstico real e fundamentado em factos.
  • Aqui está a prova → KPIs e dados concretos que demonstram a necessidade de mudança. 
  • Este é o critério de sucesso → Como vamos medir se a mudança trouxe melhorias efectivas (KPIs).
  • Mãos à obra.

Se isto for bem executado, então sim, a abordagem por processos deixa de ser uma exigência normativa e transforma-se num verdadeiro motor de melhoria. Mas para isso, é preciso muito mais do que relatórios e reuniões. É preciso coragem para enfrentar a realidade e, acima de tudo, agir.

BTW, viram os Super-Dragões encostados à parede? Não acham revelador o silêncio dos histéricos de há dias apenas? Nas empresas, como na política há gente que tem medo dos factos, pode-se descobrir que afinal não são perfeitos, gente que prefere o domínio da retórica e da oratória.