Mostrar mensagens com a etiqueta zombies. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta zombies. Mostrar todas as mensagens

sábado, março 22, 2025

Não devia ser um drama, quase que podia ser celebrado

Não devia ser um drama, quase que podia ser celebrado. A menos que seja resultado de uma evolução artificial de custos da mão de obra, não suportada por procura.

Drama mesmo é quando a chegada de algumas empresas é celebrada.

O caderno de Economia do semanário Expresso do passado dia 21 traz um artigo intitulado, "Yazaki Custo da mão de obra penaliza Portugal".

O artigo discute o despedimento de 364 trabalhadores da fábrica da Yazaki Saltano em Ovar, justificado pelo elevado custo da mão de obra em Portugal e pela crise do sector automóvel europeu. A empresa japonesa destaca a concorrência de países com custos mais baixos, como o Egipto, a Roménia, a Bulgária e a Tunísia, onde os salários são significativamente inferiores.

A Yazaki compara os custos salariais entre diferentes países e conclui que a produção no Egipto custa apenas 10% do custo de produção em Portugal. O artigo menciona ainda que a crise no sector automóvel já levou a outros encerramentos e despedimentos em Portugal:

"O custo da mão de obra "está a comprometer a sustentabilidade da produção em Portugal", afirma a Yazaki Saltano na mensagem que justifica o despedimento coletivo de 364 pessoas na sua fábrica de Ovar. 

...

o documento que fundamenta a decisão de despedir 364 dos 2100 trabalhadores da maior empresa de Ovar também refere a crescente "sensibilidade ao preço" das construtoras automóveis. E afirma que "o custo de produção em Portugal faz com que a YSE (Yazaki Saltano EMEA) não seja selecionada para os projetos a que se candidata por uma questão de preço".

E a empresa faz contas relativamente à perda de competitividade do país para concluir que "o mesmo projeto produzido no Egito representa somente 10% do custo de mão de obra de Portugal. Ou seja, um trabalhador em Ovar custa 9 vezes mais do que outro trabalhador no Egito. Portugal também fica a perder face à concorrência da Roménia (38% abaixo), Marrocos, com 27,57% do custo de Portugal, Bulgária (44,4%) ou Tunísia (21,57%), indica o documento a que o Expresso teve acesso. São diferenças "impossíveis de cobrir por via do aumento da produtividade", assume a administração, depois de comparar o salário bruto médio mensal nas suas fábricas nestes países e a respetiva evolução desde 2019. Em Ovar, o valor passou de €808 para €1303, enquanto a Roménia apresenta valores de €464 em 2019 e de €821 em 2025. Na Bulgária, o salário subiu de €361 para €583, em Marrocos saltou dos €284 para os €362, e na Tunísia aumentou dos €163 para os €284. No Egito, onde só há dados do atual exercício, o valor é de €136."

Sabem o que é andragogia?

Vou procurar demonstrar.

A notícia do despedimento colectivo de 364 trabalhadores na fábrica da Yazaki Saltano em Ovar gera previsíveis reacções de preocupação e pessimismo. Afinal, trata-se de um encerramento que afecta directamente centenas de famílias e um reflexo de uma perda de competitividade do país face a mercados onde os custos salariais são significativamente mais baixos. [Moi ici: Recordar a bússola da competitividade e como esta conversa é perigosa para o que realmente interessa, o aumento da produtividade] Contudo, num olhar mais amplo e menos imediatista, este tipo de eventos não deve ser encarado como um drama. Pelo contrário, fazem parte do mecanismo que impulsiona as economias para patamares mais elevados. No postal sobre a bússola da competitividade usei esta imagem:


Reparem que o caminho para "+ produtividade" tem um cemitério de empresas. Já o caminho da "+ competitividade" é o caminho do empobrecimento, das empresas zombies suportadas em subsídios pagos pelo estado com dinheiro dos contribuintes.

A Yazaki opera num sector onde o factor preço é determinante, e os seus clientes têm alternativas mais baratas.

Uma economia saudável e dinâmica não se constrói protegendo indefinidamente empregos de baixo valor acrescentado, mas sim permitindo que sectores mais antigos cedam espaço para novos sectores emergirem. Este é o motor que impulsiona o desenvolvimento económico: quando uma empresa já não consegue operar num determinado contexto, a resposta não deve ser o lamento, mas sim a criação de condições para que novas indústrias, mais produtivas e com maior capacidade de pagar melhores salários, ocupem o espaço deixado vago.

Isto remete para o modelo dos Flying Geese. Os países menos desenvolvidos começam por atrair indústrias intensivas em mão de obra, com baixos salários. Com o tempo, essas indústrias crescem, os salários aumentam, e a produção desses sectores migra para países mais baratos. O país de origem, em vez de colapsar, sobe na cadeia de valor, investindo em sectores mais sofisticados, com melhores salários e maior especialização.

Portugal tem de aceitar que não pode, nem deve, competir apenas pelo factor custo. Se quisermos manter empregos industriais, esses empregos terão de ser sustentados por inovação, automação e produção de bens de maior valor acrescentado. O drama da saída da Yazaki não é que uma empresa de componentes automóveis está a fechar postos de trabalho. O verdadeiro drama será se Portugal não estiver a criar novas oportunidades para absorver essa mão de obra em sectores de maior valor. Recordam-se de "não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas"?

Em vez de lamentarmos a saída de empresas que só conseguem competir com baixos salários, [Moi ici: E isto não é uma crítica, é um facto da vida. Como os produtores de sapatos de St. Louis, foi bom enquanto durou] devemos concentrar-nos em criar um ecossistema onde outras possam pagar melhor. Se a economia funcionar correctamente, no lugar da Yazaki surgirão empresas mais inovadoras, com produtos diferenciados e margens que permitam pagar salários mais elevados. É assim que se sobe na escala de valor, é assim que as sociedades prosperam.

Só que isto implica deixar as empresas morrer!


Nota: No artigo pode ler-se "São diferenças "impossíveis de cobrir por via do aumento da produtividade"" isto é sobre trabalhar o denominador porque o numerador está a diminuir. Recordar os números de Rosiello.

sexta-feira, março 07, 2025

Schumpeter, China e nós



E volto a "China has embraced creative destruction, says Tom Orlik" publicado no número de Março de 2025 da Bloomberg Businessweek.

Não sei até que ponto o autor é isento, mas fica o aviso.

"National People's Congress? Don't count on it. After decades following British economist John Maynard Keynes and his doctrine of demand management, China's leadership is taking a lesson from US economist Joseph Schumpeter and his creed of creative destruction.
...
The rest of the world had moved on from Keynes and his great insight-born of the Great Depression of the 1930s—that in a downturn the government should pay people to dig holes in the ground and then fill them in. But until pretty recently, roads to nowhere, desolate airports and vacant apartment towers showed China was sticking to the Keynes playbook.

This resolve was great for growth. In the years after the global financial crisis of 2008, China's economy continued to hum, while self-imposed austerity delayed recoveries in the US and Europe. All that stimulus, though, left China laboring under a heavy burden of overcapacity. In the end, too many idle factories, too many empty apartments and too many unpaid real estate loans resulted in an economic malaise not dissimilar to the one that afflicted Western economies in the 1970s after their decades of following Keynes' recipe.

What's the solution? Whether by choice or necessity, Keynes is out and China is now following the precepts of another great economist: Schumpeter. In Capitalism, Socialism, and Democracy, his magnum opus, Schumpeter argues that the power of the capitalist system came from a "perennial gale of creative destruction" blowing through the economy. New technologies displace old technologies. New companies displace old companies. For the losers, it's painful. But it drives progress.

Schumpeter made the case that creative destruction was unique to capitalism. China is demonstrating it can work in its hybrid state-plus-market system, too. Exhibit A is the property sector, where after years of backstopping developers, the government is allowing them to face the consequences of their excesses. The shakeout has been savage for all those involved, from bondholders to homebuyers who made down payments on apartments that will never be built. But it also means capital and labor are freed up for more productive purposes.
...
Is the transition from Keynes to Schumpeter going to be smooth? No. ... the country is moving from a diet of cheesecake to a diet of broccoli-less tasty but more healthy.
...
It was as an immigrant to the US-and professor at Harvard-that Schumpeter developed his theory of creative destruction. If the US is to stay ahead in the global economic race, it would be wise not to forget his wisdom, especially as China has just learned it."
Há anos que defendo aqui no blogue a necessidade de deixar as empresas morrer, de apoiar as pessoas, não as empresas, durante a transição dolorosa. Por cá sempre ouvi o choradinho, o peditório dos que à segunda, terça e quarta querem apoios para as empresas, para depois à quinta, sexta e Sábado clamar por menos impostos. Agora, é ainda mais impressionante, leio a mesma conversa a nível da União Europeia.

Não vamos ficar todos bem!

Este artigo "»Es geht ums nackte Überleben der energieintensiven Industrie"" é impressionante. A loucura dos governos ao longo dos anos, o locus de controlo no exterior do CEO ... aqui até o percebo é uma loucura quase maquiavélica. Será que a Alemanha teve um cavalo de Tróia nos seus governos?

sexta-feira, fevereiro 28, 2025

Quem tem coragem para ter esta conversa olhos nos olhos?


Mão amiga fez-me chegar às mãos recorte do jornal "Barcelos Popular" com o artigo "Rombo no sector têxtil faz exportações reduzirem 12% em Barcelos" onde basicamente se repete o comunicado da Associação Comercial e Industrial de Barcelos (ACIB).

Recordo os temas:
Com base no conteúdo das páginas 2 e 3 do Barcelos Popular, fica evidente que a ACIB enfatiza a necessidade de intervenção pública para sustentar um sector têxtil em declínio. Enquanto a narrativa enaltece a região como um motor de empreendedorismo e capacidade industrial, paradoxalmente, reivindica subsídios para manter empresas cuja produtividade e competitividade são questionáveis.

A questão central reside na incoerência entre o discurso e a acção: defende-se o aumento da produtividade e da inovação, mas, simultaneamente, solicita-se financiamento público para sustentar empresas que, por razões estruturais ou de modelo de negócio ultrapassado, não conseguem manter a sua viabilidade. No contexto de uma União Europeia que privilegia a sustentabilidade económica e boas condições de vida, insistir na manutenção de um sector pouco competitivo à custa dos contribuintes parece ser uma estratégia míope.

Resta saber se a associação tem uma visão de futuro que vá além da dependência do Estado ou se continuará a perpetuar um ciclo de subsidiação sem uma estratégia real de adaptação e modernização. O locus de controlo está, claramente, no exterior, mas é crucial que se invista em soluções de longo prazo em vez de insistir numa lógica de curto prazo que já demonstrou falhas.

A forte dependência de subsídios e apoios públicos pode ter implicações sérias na produtividade e competitividade de longo prazo da economia de Barcelos. Se as empresas locais se habituarem a recorrer a ajudas externas sempre que enfrentam dificuldades, corre-se o risco de enfraquecer os incentivos à eficiência e à inovação. Uma economia que sobrevive à base de subsídios pode cair na armadilha de adiar ajustes necessários, criando empresas menos produtivas ou "zombies" mantidas artificialmente. 

No caso em análise, a ACIB insiste que as "empresas precisam de apoios, infraestruturas e acções colectivas bem executadas" para enfrentar a crise. Sem dúvida, infraestruturas melhores e colaboração podem aumentar a competitividade (por exemplo, melhor logística e cooperação sectorial). No entanto, se os apoios financeiros servirem apenas para cobrir prejuízos ou prolongar a vida de modelos de negócio ultrapassados, a competitividade e produtividade estrutural da região tende a estagnar ou deteriorar-se. É duro, mas aquele título de há dias, "It's no longer about how you do it; it's about what you do," mostra como é difícil ou quase impossível que os apoios pedidos ajudem a resolver a situação.

Quem tem coragem para ter esta conversa olhos nos olhos?

Ontem de manhã vi este tweet na mouche:

A Teoria do Cavalo Morto é uma metáfora que se refere ao acto de continuar a investir tempo, esforço ou recursos em algo que claramente já falhou ou não tem mais hipóteses de sucesso. A expressão vem do ditado:

"When you discover that you are riding a dead horse, the best strategy is to dismount."

Ou seja, se um cavalo está morto, não adianta continuar a montá-lo – o mais lógico é aceitar a realidade e seguir em frente. No contexto empresarial, a metáfora é usada para descrever situações onde empresas, governos ou pessoas insistem em estratégias, projectos ou modelos de negócios falidos em vez de mudarem de abordagem.

sábado, fevereiro 01, 2025

Zombies à espera de um qualquer Milei num futuro ainda distante mas certo

Primeiro, recordo aqui do blogue (Setembro de 2024) acerca da diferença entre a produtividade americana e europeia:

Segundo, recordo aqui do blogue (Agosto de 2024) o que os predadores do estado gostam mesmo:
Há dias no Twitter Nassim Taleb ilustrou bem o que se passa na Europa:

Ainda no Twitter, este túnel é uma metáfora do que se passa na Europa (aka planeta LV-426). A sério, que melhor ilustração para a frase memorável de Hudson:

"That's it, man. Game over, man! Game over!" 

Terceiro, a Comissão Europeia é como muitas empresas, perante um problema saltam dos sintomas para um plano, um plano grandioso apresentado com fanfarra. O mito do grande planeador, do grande geometra. Roger Martin disse tudo neste tweet:

Sim, é verdade a melhoria segue o ciclo PDCA, mas antes dele há outro ciclo, o ciclo SDCA. É preciso perceber a situação antes de saltar para uma solução miraculosa ... e errada.

Quarto, falarem-me em competitividade quando o problema é produtividade, faz-me suspeitar que os incumbentes do DVD leadership team da Netflix estão à mesa a garantir que recebem uma fatia generosa do bolo. Focar na competitividade é focar no empobrecimento se não trabalharmos a produtividade. Há anos que uso este esquema:


BTW, Mullan descreve bem esta economia zombie que vai ter de apodrecer mais e mais até chegarmos a um momento Milei. 


Empobrecimento é isto, "Há 900 mil trabalhadores em pobreza absoluta em Portugal".  Acho graça, até começar a chorar, quando leio:
"As associações defendem mais apoios do Governo, principalmente para as famílias carenciadas."
Ou seja, apoios indirectos às empresas para continuarem a manter o status-quo. Impressionante, tudo podre. Lembrem-se das paletes de imigrantes.


Acham que isto acontece por acaso?

Ah, sim! Mais apoios indiretos às empresas para manterem este magnífico status quo. E ainda nos perguntamos porque é que até os imigrantes paquistaneses decidem que Portugal não é assim tão encantador? Deve ser do clima...

Extraordinário:


quinta-feira, janeiro 09, 2025

Outra vez a destruição criativa, ou a sua ausência


Li no FT de 8 de Janeiro passado, "The forces of preservation are limiting growth" algo em linha com o que escrevemos aqui no blogue há anos e anos:
"Creative destruction is central to long-term economic growth as it enables people, capital and other resources to be continuously better deployed. [Moi ici: A "destruição criativa" é essencial para o crescimento económico de longo prazo]
...
But pan out and it is not so obvious. 't is hard to measure directly, said Michael Peters, an associate professor of economics at Yale University. 'But, in America, if you look at entry rates, exit rates or the frequency of job-to-job transitions — which are proxies for business dynamism — they have been falling in the last decade.' [Moi ici: A concentração de mercado e o apoio estatal excessivo a empresas incumbentes podem limitar a dinâmica dos negócios e a inovação]
...
Protectionism is another growth-suppressive force. Tariffs and non-tariff barriers prop up domestic producers, stymying the innovative pressure of competitive forces. [Moi ici: Tarifas e barreiras regulamentares dificultam a entrada de novas empresas e limitam a disseminação de novas ideias]
...
A greater policy focus on economic agility would help. Trade and competition regimes should lower barriers to market entry. National retraining schemes need to support industrial transformation. [Moi ici: Reformas fiscais e regulamentares são necessárias para impedir a manutenção de "empresas zombi" e estimular um mercado mais competitivo]
...
Nimbysm, industrial lobbies and regulatory burdens are all examples. Red tape is a reason why California has the highest outflow of companies of any US state."  [Moi ici: O impacte do poder corporativo no atraso da inovação e no bloqueio da alocação eficiente de recursos através do conluio com os poderes instituídos]

No livro de Phill Mullan, "Creative Destruction", ele escreve sobre isto (no DN de ontem) "BCE estima que impacto económico dos PRR vai ser mais fraco do que o previsto":

"Williams calculated that the increase in US real GDP for every incremental dollar of debt was $4.61 between 1947 and 1952, falling to $0.63 between 1953 and 1984. This period ended with the takeoff of debt-fuelled activity. Between 1985 and 2000 the additional value per dollar fell further to $0.24, declining by another two-thirds to $0.08 between 2001 and 2012.

...

"Zombification is more serious than the proliferation of zombie businesses. It promotes a broader economy that obstructs economic restructuring. State measures to artificially boost economic output and maintain higher employment levels obscure the urgency of restructuring and block the potential allocation of resources to more productive purposes.

...

Over time even the surface-level benefits from coping measures fade. This is not immediately apparent because the exhaustion of uplifting effects rarely leads to the particular support mechanism being openly abandoned. On the contrary, it usually prompts more of the same treatment. Efforts are redoubled on the presumption that there has not been enough of it."

O epitáfio:

"Accepting more dependency on state intervention to cope with sluggish economic conditions becomes the default position for individual business. This takes over from engaging in the risk and disruption involved in carrying out their own technological revolutions. Better to prosper in an environment of silent corporate dependency on the state, than risk all on a new entrepreneurial venture.

Individual businesses and their workforces may enjoy the immediate benefit of stability and continuity, but over the longer term the economy and all the people who rely on that economy for their livelihood and incomes will suffer. A zombie economy becomes a black hole that sucks in and dampens all activity, and frustrates creative impulses. It represents a 'trap'"

quarta-feira, dezembro 18, 2024

Não alimentem zombies...


 Ontem no JdN, "Um quarto das empresas está em falência técnica":

"Das mais de 500 mil sociedades em Portugal, mais de 25% têm capital próprio negativo. PME são as que mais pesam no valor negativo global. Baixo nível de autonomia financeira agrava riscos associados à descapitalização das empresas."

Deixem as empresas morrer! Não alimentem zombies porque eles acabam por infectar quem os alimenta. 

sexta-feira, novembro 29, 2024

Em vez de abraçar a destruição criativa ...

O capítulo 9, "The intellectual crisis of capitalism", do livro de Phil Mullan "Creative Destruction", explora como a mudança na atitude das elites ocidentais contribuiu para aquilo a que o autor chama de "Longa Depressão". Após a Segunda Guerra Mundial, o optimismo em relação ao capitalismo diminuiu à medida que as elites começaram a questionar a sua capacidade de gerar progresso. Esse pessimismo foi agravado pelo colapso da União Soviética, que deixou o capitalismo sem um inimigo claro e exposto às suas próprias falhas.

"The reorientation of state institutions from growth to stabilisation is mostly implicit. Governments continue to pay lip service to the objective of economic growth. Doubtless many establishment politicians would like to have both stability and a bit more growth. However, there is a big gap between this latent attachment to growth and embracing the level of social dislocation needed to bring it about. In practice the policy inclination towards stability is at the expense of sustained growth. Economic dynamism is not restorable except through disruptive destabilisation involving the widespread destruction of old capital values.

The precondition for escaping the Long Depression is to challenge and overturn the conservator activities of the state."

Os governos têm dado prioridade à estabilidade em detrimento do crescimento económico, evitando as políticas disruptivas que seriam necessárias para revitalizar a economia. Este foco conservador limita o progresso e reflecte uma perda de confiança na capacidade humana de liderar transformações significativas.

"Uncertainty is now widely regarded as a constraint on the economy. In fact, the perception of uncertainty is more important for what it says about the intellectual climate than for the economic one.

Viewing uncertainty as detrimental represents a turnabout in social attitudes. For most of the history of capitalism, uncertainty was regarded neutrally or positively: it was sometimes embraced as an opportunity for gain and advancement. Businesses in the past were not deterred by future uncertainty, but accumulated capital to secure increased means to control the future. The classic financial investment advice to 'buy when there's blood in the streets' revelled in periods of acute political uncertainty.' In contrast, it is now a cliché to say that business and markets 'hate uncertainty'. 

Business leaders, as well as many pundits, attribute uncertainty as the reason for putting off investment decisions. A frequent survey finding is that business is not investing because of its lack of confidence in the face of an uncertain future.

...

As Mazzucato later put it, echoing his sentiments: 'Without uncertainty there would be no point in even trying to form competitive strategies.'& If everything were predictable there would be a limited possibility of gaining competitive advantage. Uncertainty provides the terrain for individual businesses to make superprofits, when they risk their capital to get ahead of competitors by deploying the latest innovations and cutting prices.

Uncertainty was for a long time recognised as the basis for markets to function. This refutes the assertion that markets 'hate uncertainty': they need uncertainty."

A incerteza, que historicamente era vista como uma oportunidade para inovação e lucro, passou a ser percebida como um obstáculo às decisões económicas. Esta mudança espelha um desconforto generalizado da sociedade com o risco e a transformação.

"Today's greater anxieties about uncertainty are driven by a loss of belief in the benefits of progress and of humanity's ability to make a better world

The humanist pursuit of progress is now seen by many across the political spectrum to cause problems and, sometimes, to be downright destructive: socially, environmentally, materially, and morally. 

As a society we have become reluctant to validate and promote the active, positive side of humanity to change things for the better. This represents a turn against a central Enlightenment perspective: seeing man as rationally capable of making a better future. Instead individuals these days are frequently presented as weak, sometimes irrational, and often requiring restraint from above. The humanist essence of Enlightenment thought has lost its appeal. The potential for meaningful, purposeful human intervention is frequently doubted and questioned.

Hence, the disposition for extending regulation, not just of the economy, but of all areas of human life."

A crítica crescente ao empreendedorismo tradicional e à tomada de riscos, frequentemente rotulados como irresponsáveis ou perigosos, reforça a predominância da regulamentação e da gestão de riscos. Estas abordagens sufocam o dinamismo essencial ao crescimento económico.

Culturalmente, há um declínio na crença nos benefícios do progresso, o que reduz as aspirações e alimenta expectativas mais baixas. A sociedade tende a considerar a mudança conduzida por humanos como problemática, incentivando o excesso de regulamentação e uma visão pessimista das capacidades humanas.

Este desconforto com a mudança contradiz a necessidade do capitalismo por "destruição criativa" - o processo de eliminar sistemas obsoletos para abrir espaço à inovação. A resistência das elites e dos decisores políticos às disrupções necessárias perpetua a estagnação económica. Por fim, o receio do desconhecido desincentiva investimentos ousados, reforçando um ciclo de baixo crescimento. O espírito cultural atual privilegia a conservação em vez da transformação, dificultando a revitalização económica.

"The enlightened humanist view of the relationship between the state and the public has become reversed. The state is no longer an institution that needs to be controlled by people. It is now the state's role to judge what is good for people, to raise public awareness, and to socially engineer people to do the right thing'. The earlier emphasis on the importance of human agency has been replaced by an emphasis on human vulnerability and powerlessness. And because people are so powerless and vulnerable this is seen to justify that we need the support of public institutions.

Just as the ascent of Enlightenment ideas informed the economic advances of industrial capitalism, so the reverse applies with today's slow-drift capitalism. Discomfort with change is antithetical to the business dynamism that the market system relies on to move forward. Cultural uneasiness with disruptive change runs counter to the creative destruction that is essential for capitalist growth and economic progress. This discomfiture informs the mainstream political inclination for stability over disorder."

A incapacidade das elites de articular uma visão positiva para o futuro do capitalismo prejudicou a sua capacidade de implementar as reformas necessárias para restaurar o crescimento económico. Em vez de abraçar a destruição criativa como um motor de progresso, as elites tornaram-se mais avessas ao risco e mais focadas na preservação do status quo. 

Em suma, o capítulo 9 argumenta que a crise intelectual do capitalismo é um factor fundamental na perpetuação da Longa Depressão. A falta de fé no capitalismo e o medo da mudança criaram um ambiente onde a estagnação económica se tornou a norma.

quinta-feira, novembro 21, 2024

Criar zombies e estagnar a economia


Esta semana umas viagens de comboio permitiram avançar na leitura dos capítulos sete "Contained Depression" e oito "The Zombie Economy" do livro de Phil Mullan, "Creative Destruction".

Nada de verdadeiramente novo nas conclusões face ao que se defende aqui no blogue há anos e anos. O que é verdadeiramente interessante são os gráficos a suportar as afirmações. Por exemplo, só relativamente aos Estados Unidos. O gráfico 7.1 ilustra a redução progressiva, recessão após recessão, da quebra do PIB (A volatilidade dos ciclos económicos tem-se vindo a reduzir desde os anos 1980, devido ao crescente controlo estatal e às políticas de estabilização. Isso diminuiu os efeitos disruptivos das crises, mas também retarda as transformações económicas necessárias para o crescimento), e o gráfico 7.5 que ilustra como, em cada ciclo económico, cada vez se perdem menos empregos mas também se criam menos novos empregos. 

A "estabilização" resulta num status quo de estagnação, no qual a capacidade produtiva e os empregos bem remunerados se deterioram lentamente. Esse modelo troca a possibilidade de disrupção económica por uma estagnação prolongada. Esta depressão contida, daí o título do capítulo, facilita a aceitação política e social de um "novo normal", onde crises contínuas são toleradas em troca de estabilidade imediata. Isso torna mais difícil superar o estado actual de estagnação económica

Estabilidade é obtida à custa de dinamismo económico. Uma das secções do capítulo é "The atrophy of economic dynamism": Taxas mais baixas de rotatividade de empresas, menos startups e um foco na estabilização em vez do crescimento levaram a uma estrutura económica ossificada que carece de vitalidade e inovação.

No capítulo 8 descreve-se a economia zombie. Uma economia onde empresas improdutivas continuam a operar devido a apoio estatal, como taxas de juros extremamente baixas e políticas que evitam falências. Isso impede o processo de destruição criativa necessário para revitalizar a economia. Como consequência as empresas mais produtivas enfrentam dificuldades para crescer, enquanto os novos negócios encontram barreiras à entrada devido à concorrência artificialmente mantida por empresas zombies.

A estagnação na criação de empregos e na adopção de tecnologias avançadas é exacerbada por esta dinâmica.

As políticas estatais contemporâneas dão prioridade à estabilização económica ao invés do crescimento, perpetuando uma economia estagnada. Essas intervenções, muitas vezes bem-intencionadas, inadvertidamente bloqueiam a renovação económica. E novidades aqui neste blogue? Esta abordagem sacrifica o crescimento e o progresso económico futuros por uma estabilidade superficial no presente. A zombificação económica, além de reduzir a produtividade, dificulta a criação de empregos de alta qualidade e bem remunerados.

A excessiva intervenção estatal, destinada a estabilizar as economias, levou à proliferação de “empresas zombie” – empresas improdutivas sustentadas por taxas de juro artificialmente baixas e políticas de tolerância. Estas empresas afastam concorrentes mais eficientes, retardando a inovação e a renovação económica. Embora estas políticas possam proteger os empregos a curto prazo, trocam o crescimento e a produtividade a longo prazo pela estagnação. Uma "economia zombie" suprime a reestruturação dinâmica, levando a um investimento mais fraco e à não criação de emprego.


Zombies

dolorosa

morrer empresas

apoios comunitários

sexta-feira, novembro 01, 2024

Acerca da importância da destruição criativa (parte II)


O segundo capítulo de "Creative destruction" de Phil Mullan, intitulado "Productivity in Decline" discute o papel crítico da produtividade como motor central do progresso económico e a sua recente estagnação nas economias avançadas. 

O capítulo sublinha que o crescimento da produtividade impulsionou historicamente o progresso social através da criação de riqueza e da elevação dos níveis de vida. Esta tendência ascendente definiu em grande parte as fases de expansão capitalista, mas desde a década de 1970, o crescimento da produtividade abrandou, sinalizando uma contínua estagnação económica, ou o que o autor designa por “Longa Depressão”.
"Productivity tells us two main things about what an economy can provide. Its absolute level tells us how wealthy we are today. Its pace of change tells us how much wealthier we could be tomorrow.
Increasing productivity means an increasing amount of goods or services produced in a given time. A doubling of productivity should mean a doubling of wealth as expressed in double the volume of units produced.
...
The power of productivity is enhanced because its growth is cumulative: productivity growth begets more productivity growth. It generates the extra resources that can be devoted to the next round of productivity-enhancing investments. Also more productively created, lower-cost goods or services feed back into production by stimulating productivity improvements to bring costs down in other areas.
...
Unfortunately this virtuous cycle turns into the opposite when productivity slows: weak productivity also becomes self-reinforcing. Productivity sclerosis also diffuses."
O capítulo examina vários padrões e causas por detrás deste declínio da produtividade. Em primeiro lugar, os países que sofreram destruição de infra-estruturas durante a guerra, como a Alemanha e o Japão, conseguiram reestruturar eficazmente as suas economias e, assim, registaram ganhos robustos de produtividade no pós-guerra. Contudo, esta dinâmica vacilou na década de 1970 e o crescimento da produtividade tem registado uma trajetória descendente, especialmente depois de booms temporários, como a revolução das tecnologias de informação e comunicação no final da década de 1990, não terem conseguido sustentar o crescimento a longo prazo. Os esforços para aumentar temporariamente a produtividade, tais como medidas de redução de custos, expansão do crédito e financeirização, muitas vezes inflacionavam os ganhos de curto prazo, mas careciam de impacto sustentável, deixando as economias vulneráveis ​​uma vez dissipados estes efeitos temporários. Assim, o declínio da produtividade tornou-se auto-perpetuante, influenciando a estagnação dos salários, a melhoria limitada do nível de vida e o aumento da insegurança económica. Sem um foco renovado na inovação e no investimento sustentado em tecnologia e investigação, é pouco provável que o crescimento da produtividade recupere de forma significativa, afectando a saúde económica a longo prazo dos países desenvolvidos.

Um ponto importante, em linha com o que este blogue refere sob o lema "Deixem as empresas morrer!":
"Complementing the technological upgrading of existing businesses, sustained productivity growth therefore requires having a sufficient degree of turnover of businesses. Healthy business dynamism, in the sense of businesses closing and opening, is necessary to facilitate a continuing shift of resources from low productivity to higher productivity areas. Unless resources of people and capital can move out of less productive areas to allow more productive ones to establish and expand then economy-wide productivity languishes."

E mais à frente:

"the major economic problem of the Long Depression is not an absolute disappearance of investment and innovation but the wider economic atrophy that hinders their spread. When too many resources are stuck in low productivity areas and in zombie businesses - businesses that are too weak to invest in their underlying operations but have enough income from somewhere to survive - then the potential for the wider positive impact of particular innovative business investments will be frustrated."

 

sábado, fevereiro 10, 2024

Mais um retrato do Reino do Absurdo

Mais um retrato do Reino do Absurdo:

""O Chega propõe um aumento faseado do salário mínimo que possa chegar em 2026 ao valor de mil euros, mas com uma condição, com a criação de um fundo de apoio às empresas que tenham custos fixos operacionais superiores a 30% para apoiar ao pagamento deste salário mínimo", afirmou esta quinta-feira o presidente do partido."

Como não recuar à primeira década deste século, a 2009, "Acham isto normal? Ou a inconsistência estratégica! Ou jogar bilhador como um amador!":

"Assim, os políticos tomam as decisões que levam a isto “Novo salário mínimo impôs aumentos de 5% para operários do têxtil”

Aumentos de 5% impostos numa época de crise, com as encomendas a baixar e as empresas a fechar (já em Novembro do ano passado se escrevia isto: “Indústria têxtil já perdeu 170 milhões em 2008”

A altura pode não ser a melhor, mas ao promover e incentivar o encerramento das empresas estaremos certamente a contribuir para premiar as empresas mais bem geridas e para fechar as empresas que seguem estratégias ultrapassadas “Têxtil e vestuário: Maioria continua a "trabalhar a feitio" (no JN de ontem)

Contudo, depois, vem aquela impressão na barriga dos políticos, aquele tremer das pernas, quando percebem, só então é que percebem, as consequências das suas decisões. E, em vez de constância… começam a remendar e remendar e remendar.

Assim, no Público de ontem: ” Parlamento pede política fiscal "especial" para o sector têxtil”

Como é que querem ter estratégia se não têm coragem de assumir o lado negativo das opções que tomam?"

Mais recentemente: