sábado, fevereiro 28, 2009

A Guerra da Prateleira (I Acto)

Chamo a atenção para este artigo no jornal EL País de hoje "La marca blanca se impone en la guerra del súper".
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O sub-título, na minha opinião, revela todo um mundo de incompreensão para o fenómeno de migração em curso.
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"La retirada de productos para colocar los de la propia cadena deja menos elección al consumidor - Los fabricantes se rebelan"
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Quando não se percebe o que está a acontecer, não se consegue agir!
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"Los detractores se quejan de una menor calidad y libertad de elección para el cliente, además de que resta recursos a las primeras marcas, que son las que más invierten en I+D." (como se isto fosse argumento. O investimento em I&D não é um fim em si mesmo, é um instrumento para criar mais oportunidades de criar valor para os clientes. Se os clientes optam pelas Private Labels em detrimento das marcas próprias isso é a prova provada que o investimento em I&D foi um desperdício.)
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"La enésima mecha la acaba de encender Mercadona: la cadena ha decidido eliminar de sus estantes hasta 800 referencias, la mitad de ellas marcas propias (Hacendado, Bosque Verde y Deliplus) y el resto de otros fabricantes, por considerar que no tienen suficiente rotación, es decir, que se compran poco, y con el fin de poder reducir los precios hasta un 10%. "En la época de la abundancia nos hemos pasado con el número de referencias e inventando opciones que no satisfacen verdaderamente una necesidad... Llegamos a tener tomate frito con calcio. Para bajar precios, hay que volver a la sencillez", dicen fuentes de la cadena valenciana." (Como já escrevemos aqui esta semana, o mercado do meio-termo, da mediocridade, do baixo retorno, alargou as suas fronteiras.)
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"Porque una marca líder, como Actimel, demandada por los consumidores, tiene plaza asegurada en los supermercados si éstos pretenden contentar a sus clientes, pero las segundas y terceras marcas lo tienen crudo con este modelo. "Es que las marcas del distribuidor se han sabido posicionar muy bien, han creado una imagen propia de prestigio, así que el resto de marcas, que cobran un sobreprecio y no aportan valor, lo tiene mal. " (Cá está o segredo, fazer o by-pass ao distribuidor e pôr na mente dos clientes a marca e o valor que ela carreia. Em vez de torrar valor em promoções, investir na imagem e no produto, para que o distribuidor, sob pressão dos seus clientes, tenha de ter a marca na prateleira. After all, o negócio do distribuidor não é vender a sua marca, é vender as marcas e produtos que lhe dão mais contribuição).
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Espero continuar num II Acto.

Standardisar a flexibilidade

Ontem numa PME, ao fim de algum tempo de entrevista conjunta a vários dos seus colaboradores, um deles proferiu a seguinte afirmação:
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- O que nós precisamos é de standardizar a flexibilidade!
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Stop!!! Freeze!!!
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Standardizar a flexibilidade ... para algum purista da linguagem estamos perante uma contradição! Padronizar é tornar igual (ver O perigo da cristalização), flexibilidade é paleta de opções, é disponibilidade para ouvir e acolher.
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Quem conhece o conceito de proposta de valor (e conhece a minha figura 12), quem recorda os quadros, baseados nos textos de Hill, que publiquei neste postal Flexigurança, fiscalidade e competitividade facilmente constata que standardizar a flexibilidade é uma contradição.
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Mas quanto sumo, quanto essência está concentrada na frase 'Standardizar a flexibilidade'.
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Apesar de ser uma contradição ambulante há uma forma de a ultrapassar: unidades de negócio dedicadas a cada uma das propostas de valor... mesmo que estejam debaixo do mesmo tecto (plant-within-the-plant de Skinner) por exemplo aqui.

A Grande Repressão

Recorro outra vez a Niall Ferguson:
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"There were the people calling the bottom of the recession by the middle of this year. There were the people claiming India and China would be the engines of recovery. There were the people more worried about inflation than deflation. And, above all, there were the people trusting John Maynard Keynes would save us. ... The general assumption seemed to be that practically any kind of government expenditure would be beneficial, provided it was financed by a big deficit.
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There is something desperate about the way people on both sides of the Atlantic are clinging to their dog-eared copies of Keynes's General Theory. Uneasily aware that their discipline almost entirely failed to anticipate the crisis, economists seem to be regressing to macro-economic childhood, clutching the multiplier like an old teddy bear.
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The harsh reality that is being repressed is this: the Western world is suffering a crisis of excessive indebtedness. Many governments are too highly leveraged, as are many corporations. More important, households are groaning under unprecedented debt burdens. Average household sector debt has reached 141per cent of disposable income in the US, 156per cent in Australia and 177 per cent in Britain. Worst of all are the banks in the US and Europe. Some of the best-known names in American and European finance have balance sheets 40, 60 or even 100 times the size of their capital. Average US investment bank leverage was above 25 to 1 at the end of 2008. Eurozone bank leverage was more than 30 to 1. British bank balance sheets are equal to a staggering 440 per cent of gross domestic product.
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The delusion that a crisis of excess debt can be solved by creating more debt is at the heart of the Great Repression. Yet that is precisely what most governments propose to do. "
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Trecho retirado de "The great repression" (via: Bravo Niall Ferguson)

Acordar as moscas que estão a dormir (parte IX)

Foi interessante ouver, ontem à noite no "Expresso da meia-noite" na SIC-N, os participantes muito incomodados com a actuação do directório da UE que está a ignorar os pequenos países na preparção da reunião do G20.
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Os pequenos (Portugal, Irlanda, Estados Bálticos) e os não tão pequenos (Itália, Grécia, Espanha, Hungria, ...) contam com o bail-out dos grandes.
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Apetece dizer quem tem dívidas não deve ter vícios, ou quem paga pode escolher o menu.
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"The bill that could break up Europe"
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"Europe's reluctant paymaster"

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Um mapa muito útil!

O jornal económico holandês NRC Handelsblad publicou um interessante mapa com informação económica sobre cada um dos 27.

Jornal do Incrível (parte II)

É a isto que eu chamo a derrocada, o colapso da procura.
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Quem produz bens de equipamento está no centro da migração.
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ADENDA das 9h42 de 28Fev: CAPEX cuts - Credit Suisse warns steelmakers to shelve all plans

Mais crítico que nunca: Quem são os clientes-alvo?

"Ask any CEO if he has a target customer group and he will most likely nod in the affirmative, but dig a little deeper by examining actual practices and you may witness another story altogether. Many companies pursue am all things to all customers strategy, failing to differentiate themselves from the pack and earning mediocre returns as a result. This herding behavior among competitors not only injures individual company profitability but also significantly weakens the profit margins of the industry as a whole."
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A resposta à pergunta é cada vez mais importante. Quem são os clientes-alvo da sua empresa?
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Como é que adquirem o produto ou serviço?
Por que é que compram?
Que necessidades pretendem satisfazer recorrendo ao produto ou serviço?
O que fazem os concorrentes?
Qual a disciplina interna seguida para os servir com proveito?
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Trecho retirado de "Balanced Scorecard Diagnostics" de Paul Niven.

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Acordar as moscas que estão a dormir (parte VIII)

Enquanto por cá se continua nas discussões ôcas do costume, estilo marcação de território por machas-alfa:
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"The difference between German and Italian benchmark bond yields widened to the most in almost 12 years as Italy sold 10 billion euros ($12.8 billion) of government securities.
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The spread between the 10-year note yields increased as much as four basis points to 161 basis points today, the widest since May 1997, based on generic Bloomberg prices. It was at 155 basis points as of 12:05 p.m. in London. The average in the past 10 years is 31 basis points.
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Concern the weakest European economies will have difficulty paying debt as they borrow record amounts to finance stimulus packages is deepening disparities within the region’s bond market.
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The spread between 10-year German and Greek bonds widened on Feb. 17 to the most since the euro’s debut, while the equivalent spread for Austria reached a record a day later. The 16 euro nations will borrow about $1.1 trillion in 2009."
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"Germany or the International Monetary Fund may be forced to rescue members of the euro bloc that struggle to refinance debt, former Bundesbank President Karl Otto Poehl said today.
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“The first will certainly be a small country, so that can be managed by the bigger countries or the IMF,” he said in an interview with Sky News. “There are countries in Europe which are considering the possibility to leave the eurozone. But this is practically not possible. It would be very expensive.” "

Trechos retirados daqui.

'There will be blood'

Muita gente acredita que esta crise não passa de uma constipação forte e que depois da tempestade voltaremos ao que era normal.
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E se esta crise não se tratar de um constipação passageira?
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E se esta crise provocar uma diminuição duradoura da procura?
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E se esta crise gerar uma espécie de recalibração, o equivalente a um novo nível de um jogo informático, em que a procura não voltará a ser a mesma?
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Se uma crise é passageira, um empreendedor com visão, que acredita na sua proposta, e que tem capital, pode decidir mergulhar na piscina e esperar debaixo de água sustendo a respiração.
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Mas e se a crise não é passageira... quanto tempo é que vai aguentar sem respirar debaixo de água?
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E se o colapso na procura durar 2/3 anos, quem é que aguenta sem fazer re-organizações?
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Praticamente todos os dias visito PME's que estão a procurar sobreviver a esta crise.
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A manter-se o colapso na procura, já nem falo no seu agravamento, quantas empresas industriais vão conseguir manter-se à tona?
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Uma boa empresa, com uma boa ideia, com vantagens competitivas, pode não ter arcaboiço financeiro para aguentar 2/3 anos de prejuízos. Não será preferível fechar ou reduzir a actividade e ter capital para recomeçar daqui a 3 anos?
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E porquê 3 anos? Se atendermos às palavras de Niall Ferguson... muita água vai passar por debaixo das pontes e não vai voltar a ser o que era.
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Harvard economic historian Niall Ferguson predicts prolonged financial hardship, even civil war, before the ‘Great Recession' ends ...Read the full article
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"Policy makers and forecasters who see a recovery next year are probably lying to boost public confidence, he said. (Têm medo de serem apelidados de Cassandra. No entanto, as pessoas não acreditam em histórias sem face negra) And the crisis will eventually provoke political conflict, albeit not on the scale of a world war, but violent all the same (basta recordar a situação italiana ou o que já se diz sobre a saúde financeira dos 'lander' alemães)."
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"Abu Dhabi buying Nova Chemicals at bargain-basement prices on Monday is a sign of things to come, with financial power quickly being transferred over to the world's creditors – namely sovereign wealth funds – and away from the world's debtors.
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And much of today's mess is the fault of central bankers who targeted consumer-price inflation but purposefully turned a blind eye to asset inflation."
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"Will globalization survive this crisis?
Niall Ferguson:
It's a question that's well worth asking. Because when you look at the way trade has collapsed in the world in the last quarter of 2008 – countries like Taiwan saw their exports fall 45 per cent – that is a depression-style contraction, and we're in quite early stages of the game at this point. This is before the shock has really played out politically. Before protectionist slogans have really established themselves in the public debate. Buy America is the beginning of something I think we'll see a lot more of. So I think there's a real danger that globalization could unravel.
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Is a violent resolution to this crisis inevitable?
Niall Ferguson:There will be blood, in the sense that a crisis of this magnitude is bound to increase political as well as economic [conflict]. It is bound to destabilize some countries. It will cause civil wars to break out, that have been dormant. It will topple governments that were moderate and bring in governments that are extreme. These things are pretty predictable. The question is whether the general destabilization, the return of, if you like, political risk, ultimately leads to something really big in the realm of geopolitics.
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You speak about the crisis being in its early days, but most policy makers and the International Monetary Fund are predicting a quick end to it. Where do you differ with them?
Niall Ferguson:
“I do think they're wrong. I think the IMF has been consistently wrong in its projections year after year. Most projections are wrong, because they're based on models that don't really correspond to the real world. If anything good comes of crisis, I hope it will be to discredit these ridiculous models that people rely on, and a return to something more like a historical understanding about the way the world works.”
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“It's obvious, surely we know by now, that this is something quite different. It's a crisis of excessive debt, the deleveraging process has barely begun, the U.S. consumers are not going to suddenly bounce back and hit the shopping malls just because they get a tax cut. The savings rate is going to continue to rise (A já famosa derrocada da procura, a incrível recalibração em curso).
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The world divides in two, the debtors and the creditors. The debtors … (U.S., Europe) ... are going to have to sell of their assets. Call it the global foreclosure. They're going to be selling their assets cheaply to those who have the surpluses. This is not going to be like the Chinese buying Blackstone at the top of the market.
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“European banks are far more leveraged than American banks. I don't see Europe as offering up any particularly good model in any respect. In fact, I think Europe's prospects could get a whole lot worse this year, to the extent that it could be very, very hard indeed to keep the Euro zone together. I think it will be possible because the costs of leaving will be so high."

Acordar as moscas que estão a dormir (parte VII)

Continuado daqui e daqui.
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Como disse Joaquim Aguiar na terça-feira à noite na RTP-N os políticos (da oposição e da situação) ainda não perceberam bem o que está a acontecer.
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O DN dá-nos um exemplo, a propósito do debate parlamentar de ontem "Governo não vai alterar subsídio de desemprego" onde se pode ler:
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"Primeiro foi Jerónimo de Sousa. Depois Paulo Rangel. Seguiram-se Paulo Portas, Francisco Louçã e Madeira Lopes. Para todos, José Sócrates teve uma única resposta: Portugal tem um dos subsídios de desemprego mais longos da Europa, a taxa de substituição é das mais altas da OCDE. Tradução: o Governo não vai mexer no subsídio de desemprego."
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Pois bem, o discurso em Itália é outro:
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"Italian Labor Minister Maurizio Sacconi said the government can’t provide unlimited unemployment benefits, La Stampa reported. The government is concerned about unemployment and has freed up about 8 billion euros ($10.3 billion) in regional aid that local entities can tap into, Sacconi told La Stampa in an interview. Still, “we cannot leave the taps running,” Sacconi was also cited as saying."
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Com a descida das receitas fiscais, com a voracidade do monstro e com a dificuldade em obter crédito no exterior, a par do prolongamento da crise com o consequente aumento do desemprego e em paralelo com o deboche de gastos em obras da treta, por que é que os políticos não usam a linguagem da verdade?
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Vai ser possível manter o estado social como o conhecemos em Portugal?
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Se não, por quanto tempo ainda?
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Se sim, à custa de quê?

Re-pensar, reflectir sobre o que resulta e continuará a resultar

Se o pântano traiçoeiro do middle-market se está a alargar na sequência da migração de valor em curso, talvez faça sentido re-pensar o que sempre se fez.
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Será que é adequado continuar a usar os mecanismos de promoção do passado?
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A promoção das marcas é mais importante do que nunca, por isso faz todo o sentido olhar para o exemplo dos excêntricos que vão à frente, talvez se possa aprender com as suas experiências.
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Assim, a revista The Economist publica o artigo "A new look - Creative destruction meets haute couture".
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Alguns trechos:
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"This season many designers chose to abandon the catwalk, the very symbol of fashion.
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some designers ... decided to cut costs by holding smaller spectaculars at their own showrooms. Others opted for even thriftier “presentations”, where models were hired to stand on podiums like mannequins for a few hours, or to mingle with the ordinary mortals in the crowd.
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The collections were also smaller, a sign of the reduced demand for luxury clothing. Department stores have already said they will curb buying, reining in designers who used to make the same dress in a dozen hues.
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a popular French designer, has spent the past three months reworking her website to make it more “human and interactive”. Fashion, she points out, was historically sold through intimate salons. She wants to re-establish that accessibility—and the internet allows her, and others, to do it cheaply."
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No Público de hoje, na mesma onda, o artigo "Crise já chegou às feiras organizadas pela Exponor":
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"O número de expositores e visitantes das feiras da Exponor, em Matosinhos, está a diminuir "10 a 15 por cento" devido ao clima de crise, disse à agência Lusa fonte do parque de exposições. "O clima recessivo está a ter efeitos nas feiras. Há empresas que estão a fechar e outras que deixam de vir às feiras","
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Todos têm de reflectir, quer os expositores, quer os organizadores dos eventos.

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

O desafio

No DN de hoje: "Marcas brancas representam já um terço das compras"
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"Os portugueses estão a comprar cada vez mais produtos das marcas próprias dos supermercados. Em 2008, estes artigos representaram 32% das vendas totais, registando um crescimento em valor de 21% em relação ao ano anterior, segundo dados da TNS Worldpanel
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As marcas próprias (brancas) dos supermercados estão a ganhar terreno com a crise. Em 2008, estes artigos registaram um crescimento em valor de 21% face ao ano anterior. Segundo dados da TNS Worldpanel, estes produtos representam já 32% das vendas de artigos de grande consumo. Do lado contrário, as marcas de fabricantes registaram uma queda de 3%.
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O preço é, assim, um dos principais factores que os portugueses têm em conta quando fazem as suas compras."
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Julgo que podemos conciliar estes factos com com a migração de valor em curso.
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Julgo, igualmente que podemos conciliar estes factos com as palavras de Kjell Nordstrom no Público de hoje no artigo "A inovação e a emoção vão resistir à crise" assinado por Ana Rita Faria:
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"Numa crise como a actual, fazer o mesmo que todos os outros fazem é uma má ideia. Ninguém quer pagar mais por uma cópia ou por algo que se parece como outra coisa qualquer.
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Mas será que as empresas vão arriscar e inovar? Não será mais seguro continuar a imitar?
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Quem o fizer está a cair numa armadilha. Claro que é mais barato e conveniente copiar do que inovar. Mas, em contrapartida, acaba por ser ainda mais arriscado porque a empresa se coloca a si mesma numa situação em que, mais tarde ou mais cedo, vai perder. Crises como a actual mostram que realmente temos de fazer as coisas de um modo diferente." (Daí o meu sublinhado para aquelo trecho "as marcas de fabricantes registaram uma queda de 3%")
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"Que tipo de companhias vão sobreviver à crise?
Há dois tipos: as grandes multinacionais como a Siemens, ou as pequenas empresas especializadas como a Apple. No fundo, serão as companhias inovadoras e que, simultaneamente, têm uma relação muito próxima com o consumidor e são capazes de o seduzir."
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IMHO responderia:
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No fundo serão as companhias inovadoras, nos seus processos de fabrico e logística (para o negócio do preço-baixo) e as que se viram para o exterior e apostam na sedução do consumidor (para o negócio da marca).
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Se não for através da sedução do consumidor como é que as marcas dos fabricantes vão conseguir espaço na prateleira da distribuição? Quando a distribuição também tem as suas marcas (brancas ou próprias)?
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ADENDA (9h00): Durante o meu jogging matinal reflecti mais um pouco sobre o que está em causa.
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A crise em curso, em boa verdade, não veio trazer novos factores ao cenário.
A crise em curso apenas veio exacerbar as forças, as correntes que já estavam em curso e alterar as fronteiras do meio-termo.
A crise em curso veio alargar as fronteiras do que é o meio-termo pantanoso e traiçoeiro.
A crise em curso veio reforçar a polarização do mercado que já estava em curso, basta recordar The vanishing middle-market.

Jornal do Incrível

Notícias dignas de aparecer na capa do Jornal do Incrível:
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"Japan Exports Plummet 45.7%, Deficit Widens to Record"
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"Japan’s exports plunged 45.7 percent in January from a year earlier, resulting in a record trade deficit, as recessions in the U.S. and Europe smothered demand for the country’s cars and electronics." (We can no longer look at the "LY" column on reports to use last year as a benchmark for what will happen this year.")
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E "German CDS debt spreads hit record as economy crumbles"
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"the premier of Schleswig Holstein. He denied press reports that his own state was facing bankruptcy. (quando se começa a negar... Quando se afirma algo, pode estar a afirmar-se exactamente o contrário)
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There are eleven state-owned Landesbanken in Germany and most are in trouble. While their mission is to boost regional industry and finance the family Mittelstand firms, they strayed disastrously into almost every form of leveraged excess through off-books `conduits’, many based in Dublin.
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The entire Landesbanken system is rotten,” said Hans Redeker, currency chief at BNP Paribas.”Credit will collapse if they are allowed to fail so they have to be recapitalized. But it is not just the banks in trouble: Germany’s entire export structure has been hit drastically.” "
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Trecho retirado de "German CDS debt spreads hit record as economy crumbles"

A migração de valor e a crise actual

“A generation ago, there was no Great mystery to profitability. A seller offered a product, and a customer bought it. If the selling price was greater than the seller’s cost to serve that customer, the transaction was profitable.
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In today’s environment, that traditional mindset constitutes very dangerous thinking. In many markets, not all customers are profitable. An intense examination of true pricing and the true costs of serving customers may reveal that a company is actually losing money on many customers accounts. In such a case, the company would be better off if it proactively channeled those customers to a competitor. (como ainda recente conta Seth Godin em Sorry, you can't be our customer, ou como tão bem expuseram Gertz e Baptista como referimos aqui))
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The shift from “all customers are profitable” to “many are not” has been triggered by declining gross margins and increasing variability in the cost to serve customers. Suppliers will be rewarded for being much more rigorous in (1) measuring current and potential profit customer by customer, (2) selecting the promising customers, and (3) choosing how much to invest in those customers.”
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É na sequência desta evolução que surge o conceito de proposta de valor e que faz sentido falar de clientes-alvo.
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Nestes tempos em que a presente crise está a gerar:
  • A migração de valor por parte dos clientes;
  • A dificuldade em aceder a capital;
  • O aumento das taxas de juro sobre o capital;
  • A dificuldade em aceder a seguro de crédito;
  • A diminuição do poder compra;
  • O aumento do desemprego;
  • A diminuição da confiança;
  • A diminuição do consumo;
  • O aumento da poupança;
  • O aumento da incapacidade de pagar dívidas;
  • O aumento da contestação social por parte de quem perdeu tudo;
  • O aumento da pequena criminalidade;
A classificação e a dimensão de quem são os clientes-alvo está a ser alterada. Há que re-pensar: Quem são os nossos clientes-alvo? Onde podemos competir de forma sustentada? Qual a proposta de valor a oferecer?
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Julgo que a crise vai acentuar ainda mais a necessidade de fazer esta reflexão e de a manter actualizada. As empresas vão ter de aprender a viver concentradas mais na rentabilidade do que na sua dimensão. As empresas vão ter de afinar a sua estratégia, mais pura ou mais híbrida? Julgo que evoluirão para estratégias mais puras, para poderem ter rentabilidades compatíveis com as novas exigências de acesso ao capital. Mas estratégias mais puras estão associadas a mais risco.

Trecho de Adrian Slywotzky e David Morrison in "Profit Patterns".

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Mais um factor a contribuir para a mudança

"Number of Britons taking holidays in Spain plummets by 20% as the pound tumbles" (onde se lê Spain pode ler-se Portugal).
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Mais um sector em apuros.

As moscas continuam a dormir ...

... as térmitas continuam a roer as fundações:
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Estamos à rasca!
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à beira?

Reflexão em curso

Se estamos perante uma recalibração, perante uma mudança de nível, perante um estilhaçar de paradigma, para onde vamos?
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Como será o mundo em construção para onde caminhamos?
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Factores a considerar:
  • falta de capital para investir;
  • aumento da importância da proximidade entre produção e consumo;
  • migração em massa dos clientes / consumidores para o preço?
  • dimensão das empresas?
  • concentração na rentabilidade ou no volume de facturação?
  • desemprego a nível alto;
  • ???
  • ???
Que outros factores?

Irracionalidade na 'no profit zone'

Algures no tempo alguma coisa se partiu e se perdeu.
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Doug Merril no A Fistful of Euros chama a atenção para o seguinte sintoma:
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"Let’s take Bob Lutz, the vice-Chairman of General Motors. In the Jan. 31 Economist, we find him saying GM held on to SAAB for nineteen unprofitable years out of twenty, for a $5 billion loss, selling car after car at a loss of $5K each because … wait for it … “it loved the marque and the cars.”
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I had to read it again: they flushed five billion dollars of their shareholders’ money down the toilet for the personal amusement of the executives, and went on doing it for two decades. More amazing still, Lutz is dumb enough, or arrogant enough, or both to tell exactly that story to a reporter. Most amazing, he seems to still be vice-Chairman!"
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"In the "no profit pattern," once profitable businesses become profitless. There is no profit in the industry, no value to be captured.
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The no profit pattern is not established by one bad year. It is established when the sum of profits from the "good" years in an industry minus the sum of losses in the "bad" years yields zero or negative profit.
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... an overabundance of the same business design within an industry. Every player competes the same way, leading to deteriorating economics and commoditization. Because everyone is competing in the same way, the only abenue left open for differentiation is through price. Each playr tries to lower product to increase market share. Competitors, rather than doing the hard work of business design innovation, return the favor."
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Trecho de Adrian Slywotzky e David Morrison in "Profit Patterns".
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Como é possível persistir na 'no profit zone' por tantos anos?

Proposta de valor e marca

Foi interessante ouvir João Ermida ontem à noite, no programa de Camilo Lourenço na RTP-N 'A cor do dinheiro' afirmar qualquer coisa como:
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- É uma pena o BCP não ter as multimarcas. Seria muito mais fácil se tivess as multimarcas.
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Pois Qual será a actual proposta de valor do Millennium BCP?

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Old and wise

Cheira a Primavera




O poder da checklist

Depois de Uma simples checklist... "Já lavou as mãos?" e de O erro em medicina volto a encontrar no Financial Times uma referência ao poder das checklists:
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"Lists of repetitive yet critical steps in stressful situations are familiar to airline pilots, firefighters and wedding planners. But managers in sectors including finance and healthcare are also beginning to be persuaded of the merit of low-tech prompts that require no more than a sheet of A4 and a pencil."
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"Mr Klein, chief scientist of Applied Research Associates, a software supplier to the US military, says checklists are more than just a memory aid. “They are a safeguard against interruptions and they help teams co-ordinate. If you can trust everyone on your team or crew to follow the checklist, it makes everyone’s actions predictable.”"
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Como o mundo é mesmo pequeno, este Kleine é Gary Kleine que referimos várias vezes ao longo da vida deste blogue.

Choque de culturas

“Genetically, [westerners] are pre-programmed not to apologise unless you are guilty.”
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"The lack of an immediate apology constituted a gross misjudgment in a culture in which corporate executives are expected to apologise swiftly and quibble over fault later. Showing re­­m­orse is not taken as a legal ad­mission of guilt, as in the west. "
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"Case of the ‘killer elevator’"

Pensar antes de agir...

Lincoln, tão em voga nos tempos que correm, dizia que se tivesse de serrar uma árvore em seis horas, investiria quatro dessas horas a afiar a serra. Ou seja, é importante pensar antes de agir, sob pena de se despejar dinheiro em cima dos problemas.
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Isto ocorre-me por causa deste artigo de hoje no DN "Governo atento aos componentes automóveis"
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Percebo que se queira apoiar as pessoas, continuo sem perceber por que apoiar empresas sem equacionar a dimensão da recalibração em curso e quais as suas consequências. After all 27 milhões são 27 milhões, muitas empresas vão ter de fechar ou de diversificar a sua actividade.
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Apoios sem mais, apenas vão adiar o inevitável, transferir a mudança para mais tarde, meses depois e milhões de euros de impostos sacados e a sacar futuramente aos saxões depois.

Não culpem a caneta quando a culpa é de quem escreve! (parte II)

Há cerca de ano e meio escrevemos o postal Não culpem a caneta quando a culpa é de quem escreve! acerca do perigo de aplicar receitas válidas para uma proposta de valor destinadas a um certo tipo de clientes-alvo, a qualquer organização independentemente da sua proposta de valor.
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Não faz sentido querer aplicar o lean six sigma a um conjunto de processos relevantes para a liderança pela inovação, como o artigo da Business Week referido no postal faz suspeitar.
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Pois bem, a revista Harvard Business Review de Março de 2009 volta de certa forma ao tema com o artigo "When Should a Process Be Art, Not Science?" assinado por Joseph M. Hall e M. Eric Johnson.
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"The idea that some processes should be allowed to vary flies in the face of the century-old movement toward standardization. Process standardization is taught to MBAs, embedded in Six Sigma programs, and practiced by managers and consultants worldwide. Thousands of manufacturing companies have achieved tremendous improvements in quality and efficiency by copying the Toyota Production System, which combines rigorous work standardization with approaches such as just-in-time delivery of components and the use of visual controls to highlight deviations. Process standardization also has permeated nearly every service industry, generating impressive gains.
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With success, though, has come overuse. Process standardization has been pushed too far, with little regard for where it does and does not make sense. We aim to rescue artistic processes from the tide of scientific standardization by offering a three-step approach to identifying and successfully integrating them into any business.
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We argue that artistic and scientific approaches need not be at odds but must be carefully harmonized."
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Criar um vinho, ano após ano, passa por fazer sobressair o melhor de cada um desses anos.
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Receber e servir os hóspedes na recepção e um hotel, passa por criar experiências únicas para pessoas únicas.
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E como o mundo é pequeno:
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"Artists, of course, must learn the skills of their trade. They often have to undergo a formal apprenticeship or informal mentoring and a probationary period during which their freedom is curtailed. They might even have to pass a formal exam to be certified.
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But whether the artists are insurance claims adjusters, civil engineers, or software architects, their training entails more than just mastering new skills. It also involves developing an understanding of customer needs, the judgment required to act without perfect information, and the ability and willingness to learn from both good and bad outcomes.
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Companies can employ a variety of methods to instill their culture in new artists. One we’ve already mentioned: an apprenticeship with a master. Another is storytelling. Ritz-Carlton regularly shares stories of outstanding customer service to inspire its frontline employees."
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Por fim, o artigo termina com a caixa "Science as a Platform for Art"
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"The creation of many products and services involves both artistic and scientific processes. In such cases, the output of the scientific processes should provide a stable platform on which artists can then apply their craft."
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Pessoalmente, estou neste momento a trabalhar com uma empresa que quer fazer precisamente o contrário. Tem uma unidade de negócio que baseada na arte serve os visionários do lado de cá do 'chasm' e quer desenvolver outra unidade de negócio, em que os produtos da arte servem de plataforma para, após autópsia e reformulação, através da padronização dos processos e componentes, servir os pragmáticos do lado de lá do 'chasm'.

domingo, fevereiro 22, 2009

Paraíso dos Cavalos

Há milhões de anos que não ouvia esta melodia...
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Nas costas dos outros...

No Público de hoje "Cenário sombrio na Argentina, um país com duas taxas de inflação":
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"A Argentina representa um estranho caso em que, em plena crise financeira internacional, o Governo aceita aumentos salariais de cinco pontos percentuais acima da taxa de inflação oficial
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O método governamental de estatísticas está sob suspeita de manipulação de dados desde Janeiro de 2007, quando o então Presidente, Néstor Kirchner, marido da actual Presidente, promoveu mudanças na estrutura do Instituto Nacional de Estatísticas e de Censos da Argentina (Indec).Há poucos dias, o instituto oficial anunciou que a inflação em 2008 foi de 7,2 por cento. Para a consultora Ecolatina, fundada pelo ex-ministro de Economia Roberto Lavagna, o valor ultrapassa os 23 por cento. A discrepância é especialmente acentuada no que toca ao preço dos alimentos: o Governo assegura que não chegou a seis, a Ecolatina garante que alcançou os 29 por cento.
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No início deste mês, numa primeira abordagem pública ao tema, a Presidente Cristina Kirchner tentou preparar a população para as dificuldades que se avizinham: "Estávamos a ter o maior crescimento dos últimos 200 anos quando, de repente, apareceu o mundo. E o mundo complicou a vida dos argentinos."" (uma sensação de dejá vu).

The collapse of manufacturing

A revista The Economist do próximo dia 27 de Fevereiro inclui um artigo que espelha bem a situação que vivemos "The collapse of manufacturing"
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Julgo que quem trabalha no estado não faz ideia da dimensão do tsunami que está a varrer a indústria em Portugal e no resto do mundo. As notícias de encerramento de fábricas e de novos desempregados que surgem todos dias nos jornais e televisões são um pálido reflexo do que está a acontecer.
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O colapso da procura está a gerar o colapso da Indústria a nível mundial:
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"$0.00, not counting fuel and handling: that is the cheapest quote right now if you want to ship a container from southern China to Europe. Back in the summer of 2007 the shipper would have charged $1,400. Half-empty freighters are just one sign of a worldwide collapse in manufacturing.
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In Germany December’s machine-tool orders were 40% lower than a year earlier. (aqui é que se nota a influência do credit-crunch, quanto maior ou mais complexa a máquina, mais cara. Quanto mais cara maior a necessidade de recorrer ao crédito se não há crédito... ) Half of China’s 9,000 or so toy exporters have gone bust.
Taiwan’s shipments of notebook computers fell by a third in the month of January.
The number of cars being assembled in America was 60% below January 2008."
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"Industrial production fell in the latest three months by 3.6% and 4.4% respectively in America and Britain (equivalent to annual declines of 13.8% and 16.4%). Some locals blame that on Wall Street and the City. But the collapse is much worse in countries more dependent on manufacturing exports, which have come to rely on consumers in debtor countries (isto é motivo para reflexão a seguir). Germany’s industrial production in the fourth quarter fell by 6.8%; Taiwan’s by 21.7%; Japan’s by 12%—which helps to explain why GDP is falling even faster there than it did in the early 1990s. Industrial production is volatile, but the world has not seen a contraction like this since the first oil shock in the 1970s—and even that was not so widespread. Industry is collapsing in eastern Europe, as it is in Brazil, Malaysia and Turkey. Thousands of factories in southern China are now abandoned. Their workers went home to the countryside for the new year in January. Millions never came back."
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Gary Klein no seu livro "Sources of Power" tem um capítulo intitulado "The Power of Rational Analysis and the Problem of Hyperrationality". A racionalidade é preciosa mas tem limites. Os humanos usam a racionalidade para perceber a realidade que os rodeia, só que a racionalidade não apanha a verdadeira realidade, apenas capta um reflexo da realidade e, por isso, ao usarmos a racionalidade devemos ter sempre em conta que ela pode dar-nos respostas incorrectas ou imperfeitas quando a tentamos aplicar a contextos cheios de ambiguidade, a contextos que requerem cálculos assentes em julgamentos subjectivos, a contextos com uma explosão de combinações entre factores. Daí que ao longo da minha vida vá respeitando cada vez mais a tradição, porque percebo que a tradição resulta do teste da realidade ao longo de gerações e é meta-racional, ora está em consonância ou em dissonância com a racionalidade, por que aos antigos de pouco interessava o politicamente correcto, o que eles queriam era algo que fosse eficaz, racional ou mágico, algo que funcionasse.
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Por que escrevo isto?
Racionalmente sou contra o proteccionismo. Para mim o proteccionismo é uma espécie de racismo de mercado, que premeia uns concorrentes em detrimento de outros, não com base na sua capacidade de satisfazer os clientes mas com base em factores como a sua localização geográfica.
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Mas será que a ausência de proteccionismo vai gerar sempre estes desiqulibrios relatados no artigo? Uns países transformam-se em grandes exportadores (por concorrência limpa ou não - quando nós portugueses desvalorizávamos o escudo para nos tornarmos mais competitivos estávamos a fazer concorrência limpa?) outros países transformam-se em grandes importadores, depois, os exportadores começam a financiar as sociedades importadoras com as suas poupanças para que elas continuem a importar apesar da diminuição da sua capacidade de criar riqueza (isto faz-me lembrar as estórias dos colonos que obrigavam os trabalhadores da sanzala a comprar os bens para a sua subsistência na sanzala e que acabavam mais pobres, ou com pior vida do que os escravos) até que as sociedades importadoras, endividadas até à medula colapsam. Como as sociedades exportadoras vivem à custa das sociedades importadoras o seu colapso vem a seguir e ainda é pior.
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Será que temos de abandonar o racional que nos diz que o proteccionismo é mau? Será que estou a falar de proteccionismo? Sinto é que é preciso aqui um certo equilibrio dinâmico entre consumo ou nível de vida e riqueza efectivamente produzida, consumo baseado em poupança não em crédito fornecido pelas sociedades exportadoras. Será que passará pelo limite à obtenção de crédito extra bloco económico? Será que passará pela indústria ter de fazer by-pass aos grandes distribuidores para evitar o aperto que faz deslocalizar as produções? (algo na sequência disto Whoever owns the job... mas não para o posto de trabalho mas para a cadeia de valor... quer dizer... este by-pass nos dias que correm tem um nome, chama-se 'marca'. Mas para quem não a tem ...
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Não tenho respostas, só dúvidas e questões.
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Depois, durante o colapso da procura e da indústria, durante o percurso da vaga do tsunami, muitas vozes na indústria levantam-se a exigir apoios aos estados.
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"Having bailed out the financial system, governments are now being called on to save industry, too. Next to scheming bankers, factory workers look positively deserving. Manufacturing is still a big employer and it tends to be a very visible one, concentrated in places like Detroit, Stuttgart and Guangzhou. The failure of a famous manufacturer like General Motors (GM) would be a severe blow to people’s faith in their own prospects when a lack of confidence is already dragging down the economy. So surely it is right to give industry special support?
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Despite manufacturing’s woes, the answer is no.
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There are no painless choices, but industrial aid suffers from two big drawbacks. One is that government programmes, which are slow to design and amend, are too cumbersome to deal with the varied, constantly changing difficulties of the world’s manufacturing industries. Part of the problem has been a drying-up of trade finance. Nobody knows how long that will last. Another part has come as firms have run down their inventories (in China some of these were stockpiles amassed before the Beijing Olympics). The inventory effect should be temporary, but, again, nobody knows how big or lasting it will be.
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The other drawback is that sectoral aid does not address the underlying cause of the crisis—a fall in demand, not just for manufactured goods, but for everything. Because there is too much capacity (far too much in the car industry), some businesses must close however much aid the government pumps in. How can governments know which firms to save or the “right” size of any industry? That is for consumers to decide. Giving money to the industries with the loudest voices and cleverest lobbyists would be unjust and wasteful. Shifting demand to the fortunate sector that has won aid from the unfortunate one that has not will only exacerbate the upheaval. One country’s preference for a given industry risks provoking a protectionist backlash abroad and will slow the long-run growth rate at home by locking up resources in inefficient firms."
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O artigo termina com uma entoação que não aprecio... em vez de poupança, com a natural quebra no consumo, um apelo ao crédito...

Já esteve mais longe

"The hour that one country declares, they will use gold as their basis, this nation will then slowly and finally, very swiftly, take over as the world’s fiat trade currency."
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Aqui.

sábado, fevereiro 21, 2009

Estado de negação

Há dias referi aqui (Enquanto uns entram em estado de erecção psicológica... ) que já se fala no bail-out de países, depois o João Miranda no Portugal Contemporâneo também abordou o tema (Boas notícias ) partindo do princípio que os alemães se chegarão à frente quando for preciso.
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Logo os alemães vieram chamar a atenção para que os PIIGS tirassem o cavalinho da chuva Germany denies rescue plan in works for troubled euro states.
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Interessante incluir nesta sequência, a comparação entre a falência de um estado da zona euro e a falência da Lehman Brothers:
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"Let one of the profligate government default
Much as it was necessary to let Lehman Brothers go down the pipe before bailing out the remaining banks, it may be necessary to let a profligate government default and ask for IMF assistance before punching a hole in the no-bailout clause."
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Aqui Should the EU Let a Member Government Default?
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Por que é que este tema, como o das moscas que estão a dormir não é abordado por oposição e situação?
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Talvez porque a sua concretização representaria o fim do sistema político tal como ele existe hoje em Portugal. A narrativa que suporta o regime seria rasgada...

Contar estórias (parte I)

Durante milhões de anos à noite os nossos antepassados, em volta de uma fogueira, trocavam experiências, contavam estórias e passavam conhecimento uns aos outros, cimentavam a união do grupo ou, muito simplesmente, divertiam-se.
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Esse passado não foi apagado e, por isso, gostamos todos de ouvir e de contar estórias.
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Nas empresas, nas oganizações, as estórias continuam a ser um factor de integração, de socialização, de transmissão de conhecimentos, de criação de uma cultura própria.
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Gary Klein no seu livro "Sources of Power - How People Make Decisions" escreve:
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"We would be dazzled if we had to treat everything we saw, every visual input, as a separate element, and had to figure out the connections anew each time we opened our eyes or moved them from one fixation point to another. Fortunately, that is not necessary. We see the world as patterns. Many of these patterns seem to be built into the way our eyes work. We have detectors to notice lines and boundaries. The world is organized in our eyes to highlight contrasts, before any information reaches our brains. We have other powerful organizers to frame the visual world into Gestalts, so we naturally group things together that are close to each other.

we similarly organize the cognitive world – the world of ideas, concepts, objects, and relationships. We link these up into stories.

A good story is a package of different causal relationships – what factors resulted in what effects. The more complexity and subtlety, the more there is to be learned. If the story gets too confusing, though, it stops working. It has to draw together different components clearly and memorably and show their connection.

… a story, where the outcome is affected by many important variables or causal factors, each of which needs to be described and to have its influence traced. The story is a package for describing the important causes and allowing the listener to think of other possible causes for the events.
Perhaps we value stories because they are like reports of research projects, only easier to understand, remember, and use.


The method we have found most powerful for eliciting knowledge is to use stories."
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Quais as características de uma boa estória? Já escrevemos sobre isso aqui Persuasão mas na segunda parte a opinião de Klein.

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

A confiança

O ouro hoje dançou acima dos 1000 dolares a onça.
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"Je dunkler die Zeiten, desto heller glänzt Gold."

O melhor exemplo ...

... da recalibração em curso passa, talvez, pela indústria automóvel.
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Os números são impressionantes. É o fim de uma era, de um tipo de civilização.
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E só de pensar que 10% dos trabalhadores franceses estão no sector automóvel, makes me wonder wht will comes next.
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In the meantime no Reino Unido "Car industry in meltdown as plant faces 'imminent' closure with loss of 100,000 jobs and production plunges by 58%" e sobretudo "Borrowing to save the economy is like trying to sober up a drunk by giving him a large whisky":
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"These latest official figures show that Britain’s financial state is now far, far worse than countries such as Greece or Italy, which we have traditionally looked down upon and sneered at for their profligacy."
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A minha mente viaja no tempo e recua até 1977 (anos pré-Tatcher) em que o meu professor de História na Oliveira Martins, o padre Reinaldo, referia-se a Inglaterra como um país da treta, uma família arruinada que teimava em manter os costumes de outros tempos.
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Nós por cá ... continuamos onde sempre estivemos, mais ou menos encoberto..

A batota... uma aposta certa

A batota, ainda e sempre a batota é uma abordagem cada vez mais urgente.
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Quando isto está a acontecer "Retalho é o sector mais afectado pela crise económica":
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"O sector do retalho surge como o mais afectado pela crise. Quem o diz é o director de Reward Information Services do Hay Group, Rui Luz,"
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Quando isto está a acontecer:

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A batalha pelas percepções é fundamental.

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Parabéns

Parabéns sinceros para Luís Osório à minutos no Rádio Clube sobre a rábula relativa a Simone de Oliveira.

Valor vs preço

Os hoteis de luxo em Portugal têm a mania de vir para os jornais discutir os preços, acenar com os preços (Hotelaria e pensamento estratégico)... ainda não perceberam que o seu negócio não é o preço mas o valor.
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Têm de competir no valor, na criação e na oferta de valor, não no preço.
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A propósito do artigo do DN de hoje, assinado por António Rodrigues "Crise chega a hoteis de luxo"
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Um trecho: "Perante a descida da oferta, os hotéis responderam com descidas de preços e pacotes promocionais, "sobretudo para o turismo interno", adiantou Elidérico Viegas: "Não sei se são saldos ou pior do que saldos. É natural que perante a situação se façam preços mais atractivos", não querendo, contudo, quantificar a descida em termos de preço médio dos quartos."
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Um conselho para o sector, a leitura e a interpretação para transposição:
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" The right objectives for health care is to increase value for patients, which is the quality of patient outcomes relative to the dollars expended. Minimizing costs is simply the wrong goal, and will lead to counterproductive results. Eliminating waste and unnecessary services is beneficial, but cost savings must arise from true efficiencies, not from cost shifting, restricting care (rationing), or reducing quality. Every policy and practice in health care must be tested against the objective of patitent value. The current system fails this test again and again.
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When measuring value, patient outcomes are multidimensonal, and far more complex than whether the patient survives. Recovery time, quality of life (e.g., independence, pain, range of movement), and emotional well-being during the process of care all matter. The relative importance of different outcomes will vary for different individuals. In a system of value-based competition on results, each provider and health plan may excel in different ways and serve different groups of patients. This is one of the benefits of a competition-based system relative to a top-down or centrally managed system, which assumes one size fits all.
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Value must be measured for the patient, not the health plan, hospital, doctor, or employer. This is an important distinction in practice."
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Onde está healthcare pensem em hotelaria.
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Do you get it? É preciso fazer um desenho? Pensem valor não em preço e custo, senão para quê quatro e cinco estrelas?
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Trecho retirado de "Redefining Health Care- Creating Value-Based Competition on Results" de Michael Porter e Elizabeth Teiberg

Sempre a aprender

"... a pensar no quanto as empresas e instituições em geral deixam de aprender por simplesmente não recolherem informação ou por não estarem disponíveis para experiências. E muitas vezes as estratégias são implementadas apenas com base em intuições, que valem o que valem sem informação objectiva, e frequentemente se prova estarem erradas."
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Trecho retirado de "Sempre a aprender" assinado por Sandra Maximiano.

Espanha: Depois da fiesta...

"David Villa, scorer of Spain’s first goal in the victory last week over England in Seville, is a member of the Valencia squad whose latest salary payment has been delayed indefinitely by the heavily indebted club."
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Retirado de "Spain’s recession: After the fiesta"

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Enquanto uns entram em estado de erecção psicológica...

... só de pensar nos grandes investimentos públicos, outros já escrevem sobre o bail-out de países na Europa (países, já não é sobre bancos), entre os quais Portugal:
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"The European Union’s executive arm forecasts a deficit of 11 percent in Ireland, 6.2 percent in Spain and 4.6 percent in Portugal this year. The euro region’s average budget gap was just 0.6 percent in 2007.
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European officials have already expressed concern that their bond market could potentially face a crisis similar to that unleashed by the collapse of Lehman Brothers Holdings Inc. in September. .
ECB board member Lorenzo Bini Smaghi said Feb. 12 there’s a “risk that the mistrust that there is today in financial markets” is “transformed into mistrust in states.”
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The gap between the interest rates Greece, Austria and Spain must pay investors to borrow for 10 years and the rate charged Germany yesterday rose to the widest since before they adopted the euro. Credit-default swaps on Ireland rose to a record on Feb. 16, climbing to 378.4 points.
Greek credit-default swaps, 270 points on Feb. 16, show a 4.5 percent chance that the country will default in the next 12 months, according to ING Bank NV.
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Eddington Capital’s Allen, who runs a fund of hedge funds, says the market currently “vastly underestimates” the risks and expects credit-default swaps for Greece, Italy, Spain and Portugal to double in the next 12 months."
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Trechos de "Germany, France May Face Bailout of Nations, Not Just Banks"
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Ver também: "Germany may rescue debt-laden EU members"

Confiança

Ouro acima dos 980 dolares a onça.
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Euro perdeu 10% face ao dolar nos últimos dias.

A doença nacional

O primeiro dos 14 princípios de Deming assenta na constância de propósito, numa orientação que não muda a cada golpe de vento, na selecção de um conjunto de prioridades que não são trocadas a cada nova maré.
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Pois bem depois do monumento à treta de que falamos aqui Programas versus Objectivos e metas e sobretudo aqui, qual não é o meu espanto quando no Público de hoje encontro outra encarnação, com diferentes actores...
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"Segundo um estudo coordenado pelo economista Ernâni Lopes, a pedido da Associação Comercial, a economia do mar pode duplicar o seu peso no PIB caso Portugal consiga tornar-se num actor marítimo relevante a nível global. Para o conseguir, o ex-ministro das Finanças sugere várias prioridades que poderão ser um catalisador "capaz de organizar e dinamizar um conjunto de sectores com elevado potencial de crescimento, inovação e capacidade para atraírem recursos e investimentos, nomeadamente externos, de qualidade".
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O estudo, realizado durante um ano, foi patrocinado por 15 empresas. "Não é um estudo estratégico, é um plano concreto para concretizar nos próximos 25 anos", adiantou Bruno Bobone, da Associação Comercial. Neste documento, que será amplamente divulgado nas próximas semanas, apontam-se, além de acções específicas em diversos sectores, as fontes de financiamento possíveis. No entanto, não são avançados números concretos, dependentes de avaliações mais aprofundadas sector a sector, adiantou Bobone."
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Mas o trabalho da equipa coordenada por Tiago Pitta e Cunha valeu a pena? Deu origem a alguma coisa de concreto? O que é que este novo trabalho acrescenta? O que o habilitará a ter um destino diferente(s) do anterior(es)?
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Hoje em dia, com o Google e a wikipedia, qualquer conjunto de alunos pode arregimentar grupos de acções específicas sobre qualquer área e transformá-las em documentos estratégicos, sem qualquer compromisso com os resultados... enfim, depois da violência da doméstica e da Sida (aqui e aqui) mais um monumento à treta.

Trecho retirado do artigo "Mar poderá vir a alimentar cinco por cento do PIB nacional" no Público de hoje.

Alguns subsídios para a reflexão sobre o futuro da Gestão das Pessoas

"HR is summoned to redundancy negotiations but may then be ignored. And now questions are being asked about what HR did or did not do to help avert this crisis in the first place."
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"HR must raise its game " de Stefan Stern no Financial Times.

A tentação é grande mas...

... é nestas decisões que se alicerça uma estratégia. Pensar no que fica para lá da espuma e turbulência do dia-a-dia, apostar no médio-longo prazo para criar uma imagem, para alavancar um posicionamento, um reconhecimento.
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"Diverting money from communicating with customers to retailer support is the beginning of a vicious cycle for manufacturer brands. As manufacturer brands spend less building their brands with end customers, they lose brand equity with the ultimate arbiter in the marketplace. This increases the relative power of retailers and their negotiating power. As a result, manufacturer brands are subject to even greater concessions by retailers. In order to fund these concessions to retailers, manufacturer brands divert more money from consumer communications to retailers." (1).
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Tema mais importante que nunca, o investimento nas percepções e no seu suporte em algo mais, basta olhar para o Diário Económico de hoje "vendas de marcas brancas crescerem mais de 40% no último ano."



(1) Trecho retirado de "Private Label Strategy - How to Meet the Store Brand Challenge" de Nirmalya Kumar e Jan-Benedict E. M. Steenkamp.

terça-feira, fevereiro 17, 2009

"Ou seja, concorrem nas percepções e não na substância."

A propósito de mais um postal de Pedro Arroja no Portugal Contemporâneo "os advogados" apanhei num comentário a seguinte pérola :
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(Os fabricantes) "Ou seja, concorrem nas percepções e não na substância."
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Mas num mundo com excesso de oferta face à procura, num mundo em que a qualquer hora a oferta pode aumentar, num mundo em que os compradores (clientes) podem mudar de opção de compra, só há duas formas de competir:
  • apostar na substância e combater no impiedoso mundo da guerra do preço, onde normalmente quem ganha são os maiores que ficam maiores;
  • apostar na percepção e combater no universo da diversidade e da diferenciação;
Quando uma empresa de calçado portuguesa tem os seus sapatos, com a sua marca, em exposição para venda a cerca de 2000€ o par, nas montras de lojas da Ghinza em Tóquio de que é que falamos?
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Pessoalmente, acredito que o nosso problema com a baixa produtividade reside, em grande parte, na incapacidade de abraçar a competição pelas percepções, pelo valor.
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Preço é aquilo que o cliente paga, valor é aquilo que ele atribui ao que recebe.
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A mentalidade concentrada naquilo que é mais fácil - produzir, a fábrica - convida a pensar nos custos e na sua redução e, impede a concentração na criação de valor.

The tipping point (parte II)

Depois do que escrevemos ontem... nem de propósito "Staring into the Abyss"
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ADENDA das 14h10: Santander's Banif Fund Suspends Payments

Acordar as moscas que estão a dormir (parte VI)

"Negócios de pequena dimensão, vão revelando flexibilidade e capacidade de adaptação. O problema está em saber o que restará depois de se esgotarem os efeitos da crise internacional e a economia portuguesa acordar mais endividada, com um Estado mais pesado e ávido por receitas, devido aos remédios que estão a ser aplicados."(1)
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Quando acabar a crise internacional vamos ficar com um monstro (cuco) ainda maior e mais sequioso... pobres saxões!
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(1) Trecho retirado de "Ovo, salsichas e batatas fritas" assinado por João Cândido da Silva.
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Uma simulação aqui "Requiem por um empresário" assinada por Tiago Caiado Guerreiro.
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Continuado daqui.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

The tipping point

Há um livrinho de Malcolm Gladwell sobre o qual já aqui escrevi que se chama "The Tipping Point".
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'tipping pint' ou ponto de viragem.
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Para alguém como eu, com formação de base na área da química, e que tive a sorte de ter uma disciplina como Quimicotecnia numa escola como o Liceu António Nobre no Porto, onde tinha a possibilidade de realizar muito trabalho laboratorial, ponto de viragem faz logo lembrar uma titulação e a respectiva curva:
Se temos uma solução ácida, com um pH muito baixo, e adicionamos gota a gota uma solução básica (alcalina), o pH vai começar a subir, primeiro de forma lenta, quase imperceptível e depois, de repente, no ponto de viragem, dá um salto quase vertical, com uma primeira derivada com um declive a tender para infinito.
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Pois bem, receio que estejamos a caminho de um ponto de viragem... será uma apreciação objectiva? Ou uma projecção da minha vontade irracional?
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Há duas semanas em Cádiz (Espanha) terão sido lançadas pedras a um banco, ainda em Espanha foi preso um construtor que em três meses assaltou cinco bancos. Tinha uma vida estável, deixaram de pagar-lhe e ele começou a roubar para... pagar as dívidas.
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O Reino Unido está à beira da bancarrota: "Obduracy, incompetence and the week I became convinced Britain faces national bankruptcy"
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Muitos falam em copiar a receita sueca e em nacionalizar os bancos... só que a seguir os suecos desvalorizaram fortemente a moeda e iniciaram uma recuperação baseada nas exportações. Mas agora, quem é que vai exportar e para onde? Os americanos, os japoneses, os chineses, os europeus, ... estão todos a contar com o ovo no sim senhor do vizinho.
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Discursos de gabinete e alcatifas

No passado dia 11 de Fevereiro o governador do banco de Espanha fez este discurso "La economía española después de la crisis".
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A certa altura o governador diz:
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"En esta situación, la única fórmula posible para recuperar la competitividad perdida frente al exterior después del último ciclo expansivo es aumentar nuestra productividad. Y el aumento de la productividad, además de requerir prestar la máxima atención a la educación y la formación, pasa inevitablemente por llevar a cabo reformas estructurales en numerosos campos. Hoy, por razones de tiempo, dedicaré exclusivamente mi intervención a la reforma de las instituciones laborales,"
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Bastou-me ler este trecho para começar a imaginar o que é que vem a seguir... o mesmo tipo de propostas que costumo ouvir de políticos e empresários portugueses. A grange responsável pela nossa baixa produtividade é... a legislação laboral.
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Portugal e Espanha não precisam de aumentos incrementais da produtividade conseguidos à custa de migalhas obtidas via denominador da equação da produtividade, reduzindo custos.
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Portugal e Espanha precisam de saltos de aumento da produtividade. Ora isso só se consegue actuando sobre o numerador da equação da produtividade, criando mais valor acrescentado.
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Para que isso aconteça há que deixar de produzir produtos velhos, batidos e commoditizados e apostar em produtos com muito mais valor acrescentado.
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Como escrevi num blogue inglês sobre a economia espanhola:
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Quantum jumps of productivity are not the result of shrinking companies or reducing salaries, they are the natural outcome of improving the value of what is produced.
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Mr Miguel Fernández Ordóñez has not yet learned something that took me 8 years to learn, when a country joins the eurozone there is only one healthy way of leaving in it: become economically similar to Germany. Work, think and invest as Germans, that is the only way of improving productivity and the level of living when your currency is strong.
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Mr. Miguel Fernández Ordóñez says "Esta relación entre formación y salarios se explica porque los trabajadores más formados son más eficientes y, por tanto, obtienen unos salarios más elevados y porque los empresarios siempre prefieren despedir a los trabajadores menos productivos." These are the words of a beaurocrat, these are the words of someone that does'nt know the reality of a plant...
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Portuguese and Spanish workers with very little academic instruction are very productive when they work in a German plant, because what matters is what people produce, the value that they create, plant work is repetitive.
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I would like to send to Mr Miguel Fernández Ordóñez this message:."It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled." But look how this is deep:"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants." Please turn back and read it again.
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I invite Mr Mguel Fernández Ordóñez to read the article from September-October 1992 from Harvard Business Review "Managing Price, Gaining Profit" from Robert Rosiello et al. To see how different is to increase value instead of reducing fix cost.
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E estamos, Portugal e Espanha, condenados a isto, a estes discursos de gabinete, de corredores, de alcatifas, longe da realidade, longe de um minimo de aderência à realidade.

Qual é a estratégia?

""Salientando que, por exemplo, na Alemanha, os efeitos da crise estão a ser ainda «mais gravosos» que em Portugal, o presidente da AEP defende que a única saída é «trabalhar».
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«A crise é mais profunda do que pensávamos. Perante isto, só posso dizer uma coisa: temos que trabalhar», afirmou Barros. ""
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Trecho retirado de "Associação Empresarial: única saída da crise «é trabalhar»"
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A única saída é trabalhar!
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Verdade mas incompleto. Perigosamente incompleto. Basta recordar Hayek:
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" Never will a man penetrate deeper into error than when he is continuing on a road that has led him to great success."
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Não basta trabalhar, há que reflectir sobre as mudanças em curso e reformular as apostas estratégicas, sob pena de se gastarem recursos, sob pena de se continuar a trabalhar em apostas que deixaram de funcionar.
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Primeiro: Back to the basics.
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Antes de trabalhar, reflectir:
  • Para quem podemos vender?
  • Quem pode ser o nosso cliente-alvo?
  • Podemos vender com vantagem sobre eventuais concorrentes?
  • Em que é que temos de ser bons?
  • Em que factores devemos abusar?
Os clientes para quem vendíamos vão continuar a comprar? E no mesmo volume? Qual a migração em curso?
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Como fazer face a esta evolução? Como responder à mudança? Qual a estratégia?

domingo, fevereiro 15, 2009

Outra vez aquele sentimento...

... da calma enganadora que precede a tempestade.
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"IMF chief Dominique Strauss-Kahn warns second wave of countries will require bail-out"
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"Some have speculated that the UK may have to seek IMF support if capital markets become frightened of the size of its foreign financial liabilities, which increasingly appear to have become supported by the state. But there are a swathe of Eastern European countries which appear particularly vulnerable and may need IMF support.
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With the Fund's warchest expected to run dry later this year, the Japanese confirmed in Rome that they would supply an extra $200bn of capital to the Washington-based institution.
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Mr Strauss-Kahn, who warned recently that his resources could run dry within six months, said: "This is the largest loan ever made in the history of humanity."
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"Failure to save East Europe will lead to worldwide meltdown"
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"Not even Russia can easily cover the $500bn dollar debts of its oligarchs while oil remains near $33 a barrel. The budget is based on Urals crude at $95. Russia has bled 36pc of its foreign reserves since August defending the rouble.
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In Poland, 60pc of mortgages are in Swiss francs. The zloty has just halved against the franc. Hungary, the Balkans, the Baltics, and Ukraine are all suffering variants of this story. As an act of collective folly – by lenders and borrowers – it matches America's sub-prime debacle. There is a crucial difference, however. European banks are on the hook for both. US banks are not.
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Almost all East bloc debts are owed to West Europe, especially Austrian, Swedish, Greek, Italian, and Belgian banks. En plus, Europeans account for an astonishing 74pc of the entire $4.9 trillion portfolio of loans to emerging markets.
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They are five times more exposed to this latest bust than American or Japanese banks, and they are 50pc more leveraged (IMF data).
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Spain is up to its neck in Latin America, which has belatedly joined the slump (Mexico's car output fell 51pc in January, and Brazil lost 650,000 jobs in one month). Britain and Switzerland are up to their necks in Asia.
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Whether it takes months, or just weeks, the world is going to discover that Europe's financial system is sunk, and that there is no EU Federal Reserve yet ready to act as a lender of last resort or to flood the markets with emergency stimulus."
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""There are accidents waiting to happen across the region, but the EU institutions don't have any framework for dealing with this. The day they decide not to save one of these one countries will be the trigger for a massive crisis with contagion spreading into the EU."
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Europe is already in deeper trouble than the ECB or EU leaders ever expected. Germany contracted at an annual rate of 8.4pc in the fourth quarter.
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If Deutsche Bank is correct, the economy will have shrunk by nearly 9pc before the end of this year. This is the sort of level that stokes popular revolt.
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The implications are obvious. Berlin is not going to rescue Ireland, Spain, Greece and Portugal as the collapse of their credit bubbles leads to rising defaults, or rescue Italy by accepting plans for EU "union bonds" should the debt markets take fright at the rocketing trajectory of Italy's public debt (hitting 112pc of GDP next year, just revised up from 101pc – big change), or rescue Austria from its Habsburg adventurism.
So we watch and wait as the lethal brush fires move closer.
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If one spark jumps across the eurozone line, we will have global systemic crisis within days. Are the firemen ready?"

Diversidade um seguro comunitário para fazer face ao futuro

Várias vezes recordo neste espaço um trecho de poesia, saído do número de Setembro de 2003 da revista Harvard Business Review e da autoria Gary Hamel e Liisa Valikangas no artigo "The quest for resilience":
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"Life is the most resilient thing on the planet. I has survived meteor showers, seismic upheavals, and radical climate shifts. And yet it does not plan, it does not forecast, and, except when manifested in human beings, it possesses no foresight. So what is the essential thing that life teaches us about resilience?
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Just this: Variety matters. Genetic variety, within and across species, is nature's insurance policy against the unexpected. A high degree of biological diversity ensures that no matter what particular future unfolds, there will be at least some organisms that are well-suited to the new circumstances."
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Como é impossível prever o futuro, o melhor seguro para uma comunidade é apostar na diversidade. Quando o futuro chega e premeia uns e cobra a outros, a diversidade permite a sobrevivência estatística da comunidade e a transmissão e evolução de ADN para novas experiências.
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Os crentes no Grande Planeador acreditam que entidades únicas, os governos ou as oposições, têm o dom de adivinhar o futuro e determinar que apostas vão ter sucesso no futuro... pois, fiem-se na Virgem e não corram!
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Foi deste tema que me recordei quando descobri este artigo "A Villacanas, haut lieu castillan de la filière bois, le "miracle des portes" est fini" no Le monde na internet.
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"Bienvenue à Villacanas, 11 000 habitants, capitale de la menuiserie industrielle. Hier encore, ce gros bourg prospérait grâce à la spécialité locale : la porte en bois. Ses dix usines produisaient plus de 70 % des huisseries traditionnelles de toute l'Espagne.
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Depuis l'éclatement de la bulle immobilière, la ville paie son hyper-spécialisation : deux entreprises ont fermé en 2008, deux autres sont en cessation de paiement, toutes tournent au ralenti après avoir dégraissé. En 2006, sept millions de portes sortaient annuellement des ateliers de Villacañas. Dans le pays, on mettait alors en chantier quelque 800 000 logements, plus qu'en Allemagne, au Royaume-Uni et en France réunis.
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Cette mono-industrie offrait alors 5 650 emplois aux habitants de la région. Aujourd'hui, à peine 3 000 personnes ont conservé leur poste. Et pour combien de temps ? L'Espagne devrait construire moins de 200 000 logements en 2009. Dans son bureau, le maire socialiste de Villacañas tient les comptes du chômage. "En janvier, il y a eu 80 demandeurs d'emploi de plus, ce qui met notre taux de chômage à 14 %, pile dans la moyenne nationale, commente Santiago Garcia Aranda. Mais depuis une semaine, il y a 250 chômeurs de plus et, fin février, on atteindra 17 % ou 18 %."
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Regiões que apostam tudo no têxtil, tudo no calçado, tudo no turismo, tudo no... tornam-se mais rentáveis enquanto a economia desse sector cresce, todavia, tornam-se muito mais vulneráveis durante as situações de revés, pois a mono-cultura coloca todos no mesmo saco não há distribuição de risco (engraçado estou a escrever isto sobre regiões e estou a dectectar um fractal, vou procurá-lo ... O paradoxo da estratégia (parte I: Compromissos) e Não há almoços grátis: Há que optar ... estratégias puras versus híbridas e a sua relação com o retorno e com a taxa de sobrevivência).
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Aviso para os crentes no Grande Planeador: a humildade é muito importante.

sábado, fevereiro 14, 2009

No ordinary recession

No Público de hoje, entrevista de Augusto Mateus, ""Estados devem ter a coragem de aumentar o défice público"" assinado por Lurdes Ferreira e Graça Franco.
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Diz Augusto Mateus:
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"Podemos ajudar a que a crise seja menos intensa se nos focalizarmos não tanto em consumir menos e poupar mais, mas em consumir melhor e poupar melhor. Os consumidores individualmente não têm muito a ganhar em reduzir o seu consumo, desde que tenham a expectativa de que vão manter a sua actividade."
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Só que consumidores e empresas não estão a poupar. Quem pode, está a limpar o seu balanço, está a pagar dívidas.
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A economia estava a consumir com base no crédito e não com base na poupança. Vivemos agora o 'pay-back' time.
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No artigo "No ordinary recession" assinado por Axel Leijonhufvud pode ler-se:
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"What is the difference? It resides in the state of balance sheets. The financial crisis has put much of the banking system on the edge – or beyond -- of insolvency. Large segments of the business sector are saddled with much short-term debt that is difficult or impossible to roll over in the current market. After years of near zero saving, American households are heavily indebted."
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"So the private sector as a whole is bent on reducing debt. Businesses will use depreciation charges and sell off inventories to do so. Households are trying once more to save. Less investment and more saving spell declining incomes. The cash flows supporting the servicing of debts are dwindling. This is a destabilising process but one that works relatively slowly. The efforts by financial firms to deleverage are the more dangerous because they can trigger a rapid avalanche of defaults"

A Grande Importância das Pequenas Coisas

O Aranha chamou-me a atenção para este texto "A Grande Importância das Pequenas Coisas" de Carlos Marques da Silva.
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Trata-se de poesia pura e cheia de significado profundo.
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Ontem à tarde no decurso de uma reunião, por causa de um comentário do Raul acerca das pequenas coisas, lembrei-me logo deste texto:
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"Tomados isoladamente, esses pormenores poderiam afigurar-se insignificantes, negligenciáveis, prescindíveis… Um fóssil aqui, um tipo particular de rocha ornamental ali, uns azulejos mimetizando aspectos geológicos acolá… Mas, no conjunto do percurso, esses pequenos nadas fazem falta."
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"O que ressalta destes exemplos é a negligência com que são tratadas as pequenas coisas, os detalhes, os pormenores. Frequentemente, justifica-se a eliminação destes elementos com a circunstância de serem apenas coisas pequenas, sem grande significado, apenas uma entre muitas. Contudo um conjunto coerente, articulado, de pequenas coisas é muito mais que a simples soma dos seus modestos elementos." (a este último pormenor chama-se a propriedade da emergência de um sistema: o todo é mais do que a soma das partes, acrescento eu)
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E por fim este trecho profundo que despertou logo a minha atenção:
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"Perder diversidade é como arrancar páginas de um livro. Quantas páginas poderemos arrancar até deixar de compreender o enredo?"

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

O ministro Pinho precisa de ajuda

A propósito do ministro Pinho na SIC-N agora mesmo:
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O ministro Pinho ainda não percebeu que está em curso uma recalibração geral!!!!!!!!!!!
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O ministro ainda não percebeu que existe um excesso de capacidade instalada na indústria automóvel e que nada vai ficar como dantes!!!!!!!!!!
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Isto de financiar o status-quo, o de ajudar as empresas da fileira automóvel a suster temporariamente a respiração debaixo de água à espera da retoma... vai atrasar a reconversão necessária, vai torrar dinheiro e...

Acordar as moscas que estão a dormir (parte V)

Chamem-me bruxo, depois desta sequência: parte I, parte II, parte III e Parte IV
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Basta ouvir o que disse Daniel Bessa sobre a redução de salários (a partir do segundo 50)
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Não sou bruxo nenhum, basta olhar para os factos, pensar no futuro e não acreditar no Pai Natal.

Não está tudo mal

"Portugal entrou em recessão pela primeira vez em cinco anos, depois do PIB se ter contraído 2% no quarto trimestre, revelou o INE."
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Este mês já visitei várias empresas das fileiras tradicionais em Portugal que só sabem que existe crise por que ouvem falar dela nas notícias.
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Por que é que os media não falam dessas empresas que não precisam do estado, que não precisam de apoios? Será por não serem sexy?

Acordar as moscas que estão a dormir (parte IV)

Na sequência de Acordar as moscas que estão a dormir (parte II) e de Acordar as moscas que estão a dormir (parte III) agora temos:
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"Portugueses vão pagar mais 320 milhões em impostos em 2010"
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"O Governo prometeu à Comissão Europeia aumentar os impostos em 2010 e 2011.
A decomposição da receita fiscal, prevista no Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) aprovado no final de Janeiro no Parlamento e já entregue em Bruxelas, deixa claro que os impostos directos e indirectos vão aumentar nos próximos dois anos, avança o «Correio da Manhã». "
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"Carga fiscal sobe de novo em 2010"
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"320 milhões de euros será o impacto do aumento de 0,2 pontos percentuais na carga fiscal em 2010, se o PIB rondar os 160 mil milhões de euros.
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480 milhões de euros será o impacto da subida da carga fiscal em 0,1 pontos percentuais, em 2011, caso o PIB seja próximo dos 160 mil milhões de euros."
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Ah monstro insaciável, Ah cuco ganancioso, estás quase a matar o hospedeiro. E depois, como viverás?
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Será que este aumento fará parte das promessas bandeira durante a próxima campanha eleitoral?
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Depois, algumas comentadoras deste blogue ainda acreditam no Pai Natal ...

Amor e sedução

Eu falo de amor pelos produtos, clientes, negócio. Descobri que Jeanne Liedtka usa a palavra sedução: "Seduction and the Art of Seduction".
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“If you want to achieve strategic success, use strategy to treat employees like lovers instead of prostitutes.”
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“… leaders see the strategies that they invent as “real” and “true.” But because they see these strategies as “real” and “true” rather than as products of their own invention, they believe that if they merely (and, of course, one should not underestimate the difficulty of even this) communicate it clearly, others will also see it as real and true, and work to implement it. But this assumption cannot be supported.
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No strategy is ever “true” – all strategies are inventions. They are man-made designs. Business is not governed by natural laws – our strategies are not “discovered” truths, like e = mc2.
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Business leaders make them up because they want the future to be different than the past. This is good, and such inventions play a useful purpose – something else that we also know from change theory. But because leaders are so close to their own inventions, and because these inventions flow out of the way they see the world, leaders believe that their strategies are as compelling to others as they are to them. After all, leaders normally have analysis to “prove” that their inventions are true. But you can never “prove” that an invented design for a possible future is “true” – especially using a rationale that flows out of a single view of “reality.”

Successful strategies are compelling and persuasive in the eye of the beholder – put more vividly, they are seductive. The real power of any strategy is the opportunity it affords to entice people into sharing an image of the future. Notice that I said entice – not delude or manipulate.

Second, not just any conversation will do – we need a conversation that starts with a focus on the possibilities, rather than the risks, constraints, or uncertainties.
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We also know that chemistry matters. Look for the sparks, the passion. If your pulse does't quicken any point in the conversation, something is wrong.”
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É muito mais fácil criar, sentir e transmitir a paixão, a sedução necessária para energizar uma transformação estratégica, quando se conhece o 'milieu', quando se vê para lá da superfície das coisas e das relações.