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sábado, agosto 09, 2025

Milei e as consequências

Estou a torcer pelo sucesso das ideias de Milei.

O que vou escrever aqui já partilhei em pelo menos duas conversas este ano.

Julgo que foi no final do ano passado que ouvi um discurso de Milei nas Nações Unidas. O discurso não tinha nenhuma novidade. No entanto, ao ouvir de forma clara e crua as ideias sobre liberdade de comércio internacional que ele preconizava e preconiza para a Argentina pensei para comigo: espero que estejas preparado para as consequências. 

Encerramento de empresas sem vantagem competitiva. Sectores que só sobrevivem devido a barreiras alfandegárias ou subsídios tenderão a desaparecer rapidamente. 

Reorientação da estrutura produtiva do país. A economia terá de concentrar recursos nos sectores onde possa competir globalmente com base em custo, qualidade, inovação ou especialização.

Aumento das importações. Os produtos estrangeiros mais baratos e de melhor qualidade ocuparão espaço no mercado interno, pressionando ainda mais as empresas locais.

Pressão para ganhos de produtividade. As empresas sobreviventes terão de inovar, adoptar tecnologia e melhorar processos para se manterem no mercado.

Ao nível dos trabalhadores teremos um aumento do desemprego nos sectores não competitivos. Haverá pressão para migrar para sectores competitivos ou não transaccionáveis (como serviços locais)(como aconteceu em Portugal com o choque chinês). As regiões dependentes de indústrias protegidas podem sofrer colapsos económicos e sociais mais acentuados. Por fim, o que também tem acontecido na Europa: nos sectores expostos à concorrência internacional, a pressão para reduzir custos poderá afectar salários e condições laborais.

Escrevo tudo isto porque ontem o FT trazia um editorial, "Lessons and limits from Milei's shock therapy" onde se podia ler:

"Milei swiftly proved his critics wrong, slashing spending to achieve one of the most dramatic budget turnarounds in emerging market history. Inflation plunged and confidence in the peso - famously described by the new president as "worth less than excrement" - was restored.

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Yet as he approaches the halfway point of his four-year term in December; the economic and political limits of Milei's shock therapy are becoming clearer. The government has relied too much to fight inflation on an overvalued exchange rate, which is draining reserves, sucking in imports and hurting domestic industry.

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There has been little consideration, too, of measures the state could usefully take to mitigate the damage of spending cuts and to help the real economy. 

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Important reforms, such as an overhaul of the country's hidebound labour laws and major privatisations, have not happened because there is no congressional majority for them."

O último parágrafo é fatal. Milei só salva a Argentina se conseguir tornar mais fácil o aparecimento das novas empresas que constituirão a nova economia baseada nas vantagens competitivas do país.

domingo, fevereiro 22, 2009

Nas costas dos outros...

No Público de hoje "Cenário sombrio na Argentina, um país com duas taxas de inflação":
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"A Argentina representa um estranho caso em que, em plena crise financeira internacional, o Governo aceita aumentos salariais de cinco pontos percentuais acima da taxa de inflação oficial
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O método governamental de estatísticas está sob suspeita de manipulação de dados desde Janeiro de 2007, quando o então Presidente, Néstor Kirchner, marido da actual Presidente, promoveu mudanças na estrutura do Instituto Nacional de Estatísticas e de Censos da Argentina (Indec).Há poucos dias, o instituto oficial anunciou que a inflação em 2008 foi de 7,2 por cento. Para a consultora Ecolatina, fundada pelo ex-ministro de Economia Roberto Lavagna, o valor ultrapassa os 23 por cento. A discrepância é especialmente acentuada no que toca ao preço dos alimentos: o Governo assegura que não chegou a seis, a Ecolatina garante que alcançou os 29 por cento.
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No início deste mês, numa primeira abordagem pública ao tema, a Presidente Cristina Kirchner tentou preparar a população para as dificuldades que se avizinham: "Estávamos a ter o maior crescimento dos últimos 200 anos quando, de repente, apareceu o mundo. E o mundo complicou a vida dos argentinos."" (uma sensação de dejá vu).