sábado, dezembro 13, 2008

Para onde nos leva o deboche

O deboche leva-nos para os braços da deflação:
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"Deflation has become inevitable" no Naked Capitalism ...

"Now to my doubts about the proposed remedies, namely monster stimulus and monetary easing. First, as mentioned before, the analogy is to the US in the Depression, which we have said repeatedly before is questionable. The US in the 1920s was the world's biggest creditor, exporter, and manufacturer. Our position then is analogous to China's now. Indeed, Keynes in the 1930s urged America to take even more aggressive measures, and argued that it was not reasonable for the US to expect over-consuming, debt-burdened countries like the UK and France to take up the demand slack. So even though most economists are invoking Keynes, it isn't clear he's prescribe such aggressive stimulus for the US and UK now."
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(Pois em Maio deste ano "Os impostados que paguem a crise")
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... por causa deste postal "Deflation has become inevitable no London Banker.
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"The result of discouraging domestic and foreign creditors and investors must be inevitable deflation as debt levels become increasingly hard to finance and ultimately contract. Irresponsible central banks and governments can try to bail out the failed banks, businesses and municipalities at the centre of every popped bubble, but the bubble economies are ever more certain to deflate with each bailout. Each bailout further undermines the market discipline which is bedrock to a saver or investor’s decision to part with hard-earned cash by trusting it to the intermediation of the management of a bank or business."
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Ainda acerca da deflação "Humpty Dumpty On Inflation" no Mish's Global Economic Trend Analysis.
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"It's Not Disinflation
It's Not Stagflation
It's Not Inflation
It's Not Hyperinflation
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What's left looks like a duck, walks like a duck, flies like a duck, and squawks like a duck. And that duck is deflation no matter what Humpty Dumpty suggests."

O que não chega aos jornais

No Telegraph de hoje:
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"Improbable though it may seem, the wrecked financial system and burnt-out economy are regarded by Gordon Brown not as shackles on his electability, but an opportunity to bamboozle voters. Having boasted in the Commons this week, "We not only saved the world..." the Prime Minister's logical next step is to invite the country to demonstrate its gratitude."
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Lets make an arrangement:
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: "Improbable though it may seem, the wrecked financial system and burnt-out economy are regarded by _______________ not as shackles on his electability, but an opportunity to bamboozle voters. Having boasted in the _______________ this week, "We not only saved the world..." the Prime Minister's logical next step is to invite the country to demonstrate its gratitude."
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Ainda ontem no Expresso da meia-noite se defendia o contrário disto:
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"Labour spin doctors finally accepted, albeit privately, that the game was up earlier this year when a Lords inquiry into immigration demolished the economic case, too. It concluded that waves of new arrivals had produced a negative impact on the low paid and on training for young UK workers."
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"Willingness to help the unfortunate is a mark of a decent society. But for many who prefer not to work, incapacity benefit is nothing more than a rewarding and easily secured alternative to the Jobseeker's Allowance." e algo que todos conheecemos do dia-a-dia:
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"If anything good can be extracted from the harrowing tale of Shannon Matthews, it is that a veil was lifted on the degrading impact of irresponsible handouts to morally bankrupt parasites. This cannot be allowed to go on. In the turpitude of her broken home, we reached the end of the road.
On my way to work, during rush hour, I often see a blind woman commuting into the City with her guide dog. The effort she makes to hold down a 9-to-5 job in London's hurly burly is little short of heroic. No reasonable person could blame her for staying at home on benefits. Instead, she battles on.
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It is a sick society in which a woman such as this works and pays taxes so that Karen Matthews and her ilk can draw £300-£400 a week, producing children only for the purpose of guaranteeing yet more freebies."

Migração de valor (parte XII) ou Ersatz (parte III)

"The recession will create a new breed of (UK) consumer focused on thrift and a return to "traditional values" that will survive for half a century, according to one of the UK's most senior food retailers."
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"Asda chief executive Andy Bond predicted that there would be a long-term shift from "frivolous to frugal where frugal is cool", even among people who are well off, similar to the way post-World War II attitudes remained among those who lived through rationing.
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"I make the analogy that my Mum and Dad are old enough to remember after the end of the war and the way they are now was defined by that. There is a type of consumer that will behave differently for 40 or 50 years after what they learn and how they change now," he said."
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Isto lembra-me o que ouvi numa conferência do IPAM em Lisboa em Novembro de 2007, pela boca de Charles Schewe:
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"Geoffrey Meredith and Charles Schewe define a cohort as 'a group of people united in an effort or difficulty,' or as 'companions or associates.' In demographic terms, a birth cohort is a group of people born during a given time period who share the same historic environment and many of the same life experiences, including tastes and preferences.""

Nós em Portugal sabemos resolver os problemas dos outros

O país de papagaios.

O deboche

Ontem à noite quando cheguei a casa ainda tive tempo de 'ouver' grande parte do programa da SIC-N "Expresso da meia-noite", depois assisti aos primeiros 10 minutos do noticiário da meia-noite.
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A sensação que ficou, e que continua, é a de aparvalhamento primeiro e de querer chorar pelo futuro deste país depois.
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Como diz o Homer Simpson para os seus comparsas da central nuclear de Springfield "You watch my back... I'll watch yours!" (Vocês sabem do que eu estou a falar... BPP? Que ideia!)
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Será que não há vozes discordantes? Será que toda a gente alinha na continuação e no reforço do deboche de endividamento? Será que toda a gente acredita que é possível adiar o "day of reckoning" eternamente?
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12% do PIB é quanto vale o nosso défice de transacções com o exterior (os tais 2 milhões de euros por hora, a taxa a que nos endividamos como país) ... onde é que o governo, apoiado pelos media, vai enterrar mais uns milhões no próximo ano?
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Na indústria de bens não-transaccionáveis do betão!!!
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Adenda das 7h25: Afinal ainda há gente que me acompanha ... o meu primeiro patrão. "Belmiro quer grandes projectos congelados" (no Público de hoje).
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"O empresário Belmiro de Azevedo defendeu ontem, num seminário realizado no Porto, o congelamento de boa parte dos grandes investimentos previstos pelo Governo em infra-estruturas, como o TGV, sustentando que "quem não tem dinheiro não tem vícios". Para Belmiro de Azevedo, a actual situação de crise mundial é "uma oportunidade óptima" para o Governo "se desprender de compromissos" relativamente a muitos dos grandes projectos. Essencial é, para o empresário, a aposta no empreendedorismo e em "actividades económicas-chave" onde o país tem "muito potencial", como a fileira da floresta, do mar, do turismo e da agricultura. "
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E remata com uma grande verdade, como o José Silva do Norteamos costuma explicar:
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""Adivinho que as medidas anunciadas amanhã [hoje, após o Conselho de Ministros extraordinário] vão ser fundamentalmente para o sistema financeiro", antecipou, reafirmando "não saber para o que este serve sem actividade económica""
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Porque factos são factos:
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"Convicto de que a actividade industrial "gera a maior parte do emprego, directa e indirectamente, e ainda é responsável pela liderança da Europa face às economias emergentes", o patrão da Sonae criticou o "orçamento irrelevante alocado" a esta área face ao atribuído aos bancos."
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Se por hipótese a grande crise acabar daqui a 3 anos como vamos estar em termos competitivos face ao exterior?
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Como vai ser o "Day-After"?
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Se Jonas odiásse Portugal tanto quanto odiava Nínive não tinha problema nenhum em vir cá pregar o arrependimento e a mudança de vida... ele saberia que esta gente não é como os nínivitas.
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Nota: Reparar no comentário de Mário Crespo a prever aquilo que já hoje escrevi neste blogue, a islandificação de Portugal: "há-de haver uma fase em que os de fora não nos emprestam mais dinheiro".

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Tapar o sol com uma peneira (parte II)

À atenção de Camilo Lourenço!
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Para a próxima escolha melhor os seus interlocutores, a missão é informar!
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Se escolher mal as pessoas, pessoas que confundem informação com publicidade ou relações públicas... quem fica mal é o jornalista.
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A propósito de "Preços das casas caem mais em Portugal" artigo de Elisabete Soares no Diário Económico de hoje.
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"Face à outros países da Europa, o mercado imobiliário português é o que sofre maiores quedas."
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A propósito de: Tapar o sol com uma peneira

Este é o meu pensamento...

... mas eu sou um conservador financeiro, neto de lavradores, e respeitador dos saberes dos Antigos:
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"For the next 12 months I would stay away from risky assets. I would stay away from the stock market. I would stay away from commodities. I would stay away from credit, both high-yield and high-grade. I would stay in cash or cashlike instruments such as short-term or longer-term government bonds. It's better to stay in things with low returns rather than to lose 50% of your wealth. You should preserve capital. It'll be hard and challenging enough."
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Roubini em "8 really, really scary predictions"
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Por que:
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"Things are going to be awful for everyday people. U.S. GDP growth is going to be negative through the end of 2009. And the recovery in 2010 and 2011, if there is one, is going to be so weak - with a growth rate of 1% to 1.5% - that it's going to feel like a recession. I see the unemployment rate peaking at around 9% by 2010. The value of homes has already fallen 25%. In my view, home prices are going to fall by another 15% before bottoming out in 2010."
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Por cá não será um oásis I can assure you!!!

89

Há momentos um dolar valia menos de 90 yenes!
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O pesadelo de muito boa gente.
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Não admira que o Nikkei tenha caído mais de 5%.

O negócio do luxo

Houve um tempo em que a única "estratégia" para um negócio era produzir. Produzir muito e barato, para isso, era preciso ser eficiente, muito eficiente.
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Eficiência leva quase de imediato, de forma instintiva, a pensar em poupanças conseguidas à custa de economias de escala, grandes séries de produção e mercado de massas.
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Desde então muita água correu debaixo das pontes, o excesso de oferta face à procura engendrou, nos últimos anos, uma crescente diversidade de estratégias de diferenciação destinadas a distintos nichos de clientes-alvo.
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A forma como os outsiders (políticos, jornalistas e comentadores, por exemplo) vêem os negócios foi formatada nos quase 100 anos que se seguiram à Revolução Industrial, época em que a procura foi superior à oferta, pensamentos, "leis", rules of thumb, foram definidas e moldaram as mentes dessa gente.
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O mundo em que vivemos já não é explicado e gerido com, e por essas ideias e modelos.
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Daí que para muito boa gente continue a ser motivo de admiração coisas como esta no Público de hoje:
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"Negócio do luxo é dos que menos sofre com a crise em Portugal"
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O subtítulo "Apesar da contenção generalizada, os consumidores nacionais continuam a comprar artigos mais caros, desde que signifiquem um bom investimento" é ilustrativo do que escrevi.
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"Os consumidores nacionais"... não estamos a falar da massa, aquilo que se passa com a massa não é o que se pasa com os nichos!
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Os nichos não são alvo para a produção em massa.
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"O negócio do luxo parece estar imune à conjuntura económica e o mercado nacional não é excepção."
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""o aumento da facturação é praticamente o mesmo desde 2002", não se notando "uma oscilação negativa por causa da situação económica do país"."
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""Quando há uma crise, o luxo é o último a ser atingido." Primeiro, porque "quem geralmente compra este tipo de artigos mantém o poder de compra". Segundo, porque "muitos destes bens, especialmente as jóias e os relógios, são interpretados como um investimento para o futuro"."
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Um dos senão que me lembro, para este ramo de negócio, nesta altura do campeonato, não é mencionado no texto: a segurança.
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Procurei, mas não consegui encontrar, um artigo que li na semana passada no Telegraph sobre a segurança e os artigos de luxo. Não me refiro à segurança em caso de roubo.
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Em tempos de crise grave, com milhares de pessoas nas ruas a passarem dificuldades, a simples observação de um templo do luxo reservado só a alguns (uma loja de artigos de luxo), pode desencadear uma acção directa da multidão-matilha... assim, segundo o Telegraph, em Inglaterra, este tipo de artigos é, cada vez mais, exposto e vendido em mansões de particulares, longe do alcance e sobretudo do escrutínio de quem passa na rua, do outro lado da montra e que pode dar azo à sensação de inveja.
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Trechos retirados de "Negócio do luxo é dos que menos sofre com a crise em Portugal", artigo no Público de hoje assinado por Raquel Almeida Correia.

O dilema... ou o rastilho para a parte XI...

... desta série.
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Há meses um empresário pediu a minha opinião relativamente a um dilema que o preocupava.
Tinha uma família de produtos maduros que ainda gerava dinheiro, apesar das margens serem muito baixas. Eram o passado, mais tarde ou mais cedo acabariam por ficar definitivamente obsoletos e teriam de ser descontinuados. No entanto, tal cenário extremo ainda poderia demorar alguns anos a consolidar-se.
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Tinha uma outra família de produtos. Produtos novos, inovadores, com margens interessantes e ainda em fase de expansão.
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- Devo descontinuar a produção dos produtos envelhecidos e concentrar todos os recursos nos novos?
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A resposta devia ser fácil… fazendo fé na figura 12 deste documento.
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Não devemos misturar diferentes propostas de valor, as opções que somos obrigados a tomar para optimizar o desempenho para uma, contradizem as opções que devemos tomar para optimizar o desempenho para a outra.
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Então, se é assim tão claro… onde está o dilema?
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O dilema residia na dificuldade em abdicar de um produto rentável, ainda que com margens reduzidas, e assim, alimentar, fomentar, subsidiar futuros concorrentes, abandonando terrenos ainda com potencial.
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Continua.

SPC (parte VI) - Que limites de controlo usar?

Os limites de uma carta de controlo são colocados a mais ou menos 3 vezes o desvio padrão em torno da média.
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Qualquer que seja a distribuição, podemos seguir a regra empírica de que entre esses dois limites teremos entre 99 a 100% dos pontos que pertencem a uma dada distribuição.
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No caso da distribuição normal o que se assegura é que entre esses dois limites estarão 99,27% dos pontos que pertencem à distribuição.
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Até aqui tudo pacífico. O problema é: como calcular os limites?
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Consideremos o seguinte conjunto de dados e as fórmulas para cálculo dos limites, tal como podem ser recolhidas em livros sobre o tema:Neste caso as cartas de controlo são:Perante estas imagens podemos concluir que o processo em causa não está sob controlo estatístico.
No entanto, o cálculo dos limites não é pacífico. Há quem, erradamente, calcule o desvio padrão das 24 observações e chegue aos limites desta forma:O que leva aos limites seguintes:Há que reparar na inflação dos limites que aconteceu ao trabalhar desta forma.
Não podemos partir do princípio que as 24 observações pertencem à mesma distribuição. Fazemos as cartas de controlo para testar essa hipótese!!! Não podemos agir como se esse dado à partida fosse aceite.
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Outra abordagem errada (e usada sobretudo por quem quer branquear situações...) é a de trabalhar com as médias, e como as médias amortecem e escondem a variabilidade temos outra inflação dos limites, mascarando qualquer flutuação.O que dá:Quem usa software para apresentar as cartas de controlo e calcular os limites já fez o teste para saber qual é a formula utilizada?
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Quando surgiram as primeiras bases de dados havia um teste simples para avaliar a qualidade do software na óptica do utilizador, verificar se a data de 30 de Fevereiro era aceite.
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Já fez o seu teste? Já validou as fórmulas utilizadas pelo software?

quinta-feira, dezembro 11, 2008

É por isto que a Alemanha é a Alemanha

Por cá conhecemos a gestão das expectativas que nos assegura que 2009 vai ser bom para as famílias.
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Vejamos o que outros dizem: "‘It Doesn’t Exist!’"
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"I say we should be honest to our citizens. Policies can take some of the sharpness out of it, but no matter how much any government does, the recession we are in now is unavoidable. (Não há sissy talk) When I look at the chaotic and volatile debate right now, both in Germany and around the world, my impression and concern is that the daily barrage of proposals and political statements is making markets and consumers even more nervous"
...
" When I ask about the origins of the crisis, economists I respect tell me it is the credit-financed growth of recent years and decades. Isn't this the same mistake everyone is suddenly making again, under all the public pressure?" (curar uma ressaca com mais álcool)
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"When in doubt, I'd say the risk is greater of burning money without significant effects and in the end having a budget weighed down with even more debt"
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Just for the record...

... se até os alemães têm problemas com as emissões de divida pública "German bond sale struggles to hit target", que dizer dos PIGS!

O mais importante

Estes três artigos do Jornal de Notícias chamam a atenção para o mesmo:
O mais importante são os clientes. Cada vez mais a restrição de um negócio são os clientes.
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Os tempos de crise devem alertar-nos e marcar na carne que devemos regressar ao básico, ao fundamental, à essência.
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Os políticos que na Europa e América andam a brincar ao mercado, querem ajudar as empresas esquecendo-se que estas sem clientes não têm saída.
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A imagem cássica para representar a cadeia de valor para um negócio é:
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A imagem, e a mentalidade correspondente, que Slywotzky propunha em 1997 no livro "The Profit Zone" já era:

Sem clientes tudo o resto não faz sentido, tudo o resto é secundário.

O ponto (2ª parte)


O ponto é o nosso défice externo de 12% do PIB.
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Pior do que nós no gráfico só a Grécia.
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Com o fim do cash carry trade japonês (o dolar já vale menos de 93 yenes, há cerca de um ano valia mais de 114 yenes) e o esboroar da civilização assente no crédito fácil há que olhar com cuidado para a Grécia.
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Portugal e a Grécia foram os irmãos siameses que ainda há quatro anos torraram e enterraram milhões de euros em estádios e orgulho nacional.
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À cerca de 20 dias (a 20 de Novembro) chamei a atenção para a Grécia e para o caso grego apelidando-a de "canário" (o canário que era usado nas minas para detectar gases venenosos ou explosivos). A Grécia é a candeia que vai à frente, é o membro dos PIGS mais fraco, mais vulnerável (no final de Outubro, Ambrose Evans-Pritchard no artigo "Investors shun Greek debt as shipping crisis deepens" chamou a atenção para o PIGS mais fraco, a Grécia.)
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Hoje, o mesmo Ambrose Evans-Pritchard faz a ligação que interessa, a relação com o euro "Greek fighting: the eurozone's weakest link starts to crack", pertencer ao euro, fazer parte do pelotão da frente não é só para a fotografia, não traz só vantagens... traz também deveres, mandamentos.
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O primeiro mandamento é "Somos todos alemães!"
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Evans-Pritchard relata o estertor de um modelo esgotado...
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"That said, these riots are roughly what eurosceptics expected to see, at some point, at the periphery of the euro-zone as the slow-burn effects (excuse the pun) of Europe's monetary union begin to corrode the democratic legitimacy of governments." (eu sei que Evans-Pritchard é anti-moeda única, mas o que ele escreve é o que nós pensamos e defendemos neste espaço desde sempre, não se pode ter uma moeda forte e em simultâneo não querer disciplina no trabalho e pensamento estratégico, muito pensamento estratégico..., pois só a paciência e a orientação que ele traz é que permite alimentar a esperança e vencer os detractores durante a travessia do deserto, como aqui, por exemplo. By the way, a Alemanha não deu a volta por cima à absorção da ex-RDA? Foi rápido? Foi fácil? Foi a fazer o mesmo que sempre faziam?)
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"Without wanting to rehearse all the pros and cons of euro membership yet again, or debate whether EMU is a "optimal currency area", there is obviously a problem for countries like Greece that were let into EMU for political reasons before their economies had been reformed enough to cope with the rigours of euro life - over the long run."
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"Greece has a public debt of 93 per cent of GDP, well above the Maastricht limit. This did not matter in 2007 when bond spreads over German Bunds were around 26 basis points, meaning that investors were willing to treat all eurozone debt as more or less equivalent.
It matters now. The credit default swaps on Greek sovereign debt were trading around 250 today (compared to 52 for Germany, 62 for the US, 120 for the UK, and 178 for Italy). It has moved into a class of its own.
This is potentially dangerous because Greece needs to tap the capital markets for 40bn euros next year to roll over debt and fund the budget deficit, as well as 15bn euros or so in bond issuance by banks under the state's new guarantee. This is a lot of money.
The Greek government will need budgetary discipline to convince markets that it has matters under control. But governments facing riots and imminent defenestration are not good bets for fiscal discipline. There is a general strike in any case on Thursday."
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"At some stage a major political party - perhaps PASOK - will start to reflect whether it can carry out its spending and economic revival plans under the constraints of a chronically over-valued currency (for Greek needs). Then there will be a problem."
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Pois... já estão a ver o filme. De manhã ao acordar a surpresa na rádio (em Julho deste ano) ...
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Agora, ao exemplo grego acrescentemos as nossas estórias cá do burgo:
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Ontem, no Jornal de Negócios esta entrevista inexplicável, intolerável, ... "Corremos o risco de destruição das elites como no 25 de Abril", sintoma do apodrecimento do sistema? (Marcelo em Hamlet, 1º Acto, no final da cena 4)
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Ontem, ainda no Jornal de Negócios, a crónica de Helena Garrido "Brincadeiras com o fogo":
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"O fim do crédito fácil e barato está a fazer cair a classe média na sua realidade, um mundo menos próspero do que pensava, com menos casas e menos automóveis e menos férias. Ao mesmo tempo que lhe cai a realidade em cima, sem compreender, assiste ao desfilar de apoios aos bancos, aqueles que a convidaram a entrar naquela vida virtual que prometiam sem problemas.
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Aquilo a que assistimos em Portugal – e também noutros países – revela uma falta de compreensão do papel de quem dirige quando estão pela frente tempos difíceis."
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Os únicos que parecem manter a cabeça fria no sítio são...
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... os alemães:
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E se esta crise não passar de uma correcção, grande, mas uma correcção inevitável?
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O melhor não é deixar o mercado corrigir o que está a mais, o que está sobredimensionado?
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ADENDA das 7h59 . Imperdível a leitura deste artigo de Martin Wolf está lá tudo, desde o garrote do deboche do endividamento público e privado (eu gostava de escrever "after the" mas não, ele vai continuar) até aos alemães. (O original em inglês tem uns gráficos elucidativos)

O lado soft dos resultados

Neste blogue costumamos aplicar o adjectivo treta para qualificar as situações em que se sobrevalorizam as actividades em detrimento dos resultados.
Os resultados são o mais importante ponto.
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Para atingir resultados, na base da cadeia de valor, encontramos o tema da cultura organizacional "Que cultura, que ambiente precisamos de encorajar para que os nossos colaboradores sejam mais produtivos?"
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Estamos no domínio do "soft" puro.
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Daí que sublinhe as palavras de João Duque no Caderno de Economia do semanário Expresso do passado Sábado.
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"Acabar com as festas de Natal das empresas? Para Quê? Qual o seu peso na estrutura de custos da organização? Mesmo em épocas em que há razão para que os índices de confiança estejam em baixo, os eventos natalícios empresariais são excelentes oportunidades para construir ou consolidar a cultura empresarial. Nalguns casos, infelizmente, são das poucas ocasiões em que a administração contacta directamente com os níveis mais baixos da hierarquia empresarial, ou em que se estabelecem relações informais horizontais e diagonais. Acabar com oportunidades destas é destruir um excelente veículo para divulgar notícias relevantes, para relembrar a missão da empresa, para fazer balanços, premiar os que se distinguiram ou incentivar ao desempenho futuro."
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Foi destas palavras que me lembrei ontem, ao passar ao lado de um monumento aos Mortos da Grande Guerra no centro da cidade de Estarreja.
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O valor individual mais importante que cada um de nós tem é a sua Vida. E perder a vida quando ela ainda está a começar, longe dos entes queridos, no meio da lama e do frio das trincheiras... é um senhor sacrifício, é o sacrifício último!
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Por isso, pessoalmente, tenho uma relação muito especial com estes monumentos como posso exemplificar com o terceiro comentário a este postal do meu amigo Trevor. Os ingleses são exímios neste respeito pelos que tombam em nome do seu país.
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Por mais de uma vez senti-me tentado a colocar umas fotos do monumento aos Mortos da Grande Guerra no centro da cidade de Estarreja para ilustrar a vergonha da sua degradação... vários nomes ilegíves à medida que a tinta se perdeu... essa degradação transmite valores negativos.
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Então, ontem, ao passar ao lado do monumento a esses Mortos da Grande Guerra no centro da cidade de Estarreja, noto que o monumento estava todo enfaixado e rodeado por andaimes. Aproximo-me e questiono um jovem que descia do andaime:
- Estão a recuperar o monumento?
- Sim!
Ao retomar a marcha tive oportunidade de espreitar por entre as faixas e verificar que os nomes estavam novamente bem nítidos com a tinta bem negra.
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Obrigado pela mensagem.

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Mudam as roupas, muda a geografia, mudam os nomes, ... tudo o resto mantém-se na mesma.

A minha amiga Teresa convidou-me a comentar este postal "Socialism's comeback".
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Teresa leia por favor esta passagem do livro do Génesis 47, vv 13-24.
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Quando os banqueiros primeiro, e os industriais depois, se colocam debaixo da asa dos governos...

Que dizer... já não é só o software para dashboards

A propósito da ideia de um Scorecard para a Workforce (Scorecard de Capital Humano) há uma ideia importante a reter:
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“Em muitas empresas, os gestores querem acreditar que “as pessoas são o nosso activo mais importante,” mas simplesmente não sabem, ou não percebem, como é que a função de Gestor dos RH pode tornar essa visão uma realidade.”

The HR Scorecard – Linking People, Strategy, and Performance
Brian E. Becker; Mark A. Huselid e Dave Ulrich
Harvard Business School Press
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“A maioria dos gestores sabe que apesar das proclamações de que “as pessoas são o nosso mais importante activo,” as suas organizações lutam para tornar esse slogan uma realidade.”
The Workforce Scorecard – Managing Human Capital to Execute Strategy
Brian E. Becker; Mark A. Huselid e Richard W. Beatty
Harvard Business School Press
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Para ultrapassar esta dificuldade:
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“Os gestores de RH têm de perceber a estratégia da organização; ou seja, o seu plano para desenvolver e manter uma vantagem competitiva no mercado. Depois, têm de descobrir as implicações dessa estratégia para os RH. Em suma, devem abandonar uma perspectiva de “baixo-para-cima” (que enfatiza a conformidade e a tradição) e abraçar uma perspectiva de “cima-para-baixo” (que enfatiza a implementação da estratégia).”

The HR Scorecard – Linking People, Strategy, and Performance
Brian E. Becker; Mark A. Huselid e Dave Ulrich
Harvard Business School Press
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E,
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“Se o foco da estratégia corporativa é o de criar uma vantagem competitiva sustentável, o foco da estratégia da Gestão dos RH é igualmente claro e directo. Maximizar a contribuição dos RH para esse mesmo propósito, criando assim valor para os accionistas.”

The HR Scorecard – Linking People, Strategy, and Performance
Brian E. Becker; Mark A. Huselid e Dave Ulrich
Harvard Business School Press
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Ou seja, para criar um WFS (WorkForce Scorecard) é preciso começar pela estratégia da organização para o negócio (o mapa da estratégia e o respectivo balanced scorecard) e, a partir daí, recuar para as pessoas. Identificar as funções críticas para a execução da estratégia e concretizar o que será o sucesso dessas funções.
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Depois, identificar os comportamentos que contribuem para o sucesso das funções.
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De seguida, identificar as competências que quem desempenha essas funções-chave tem de possuir.
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Por fim, identificar a cultura e a sintonização mental que quem desempenha essas funções-chave tem de partilhar e viver.
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Ou seja, daqui:
Tendo em conta, a parte dos Recursos & Infraestruturas que diz respeiito às pessoas:
Passamos a:
E daí:
Tudo começa com a estratégia, os indicadores sobre a cultura, as competências, os comportamentos e o sucesso da WorkForce, decorrem de uma relação de causa-efeito.
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Que dizer quando, apesar de tudo o que se reflecte por esse mundo fora sobre a monitorização da Workforce, encontramos uma proposta de indicadores para as pessoas sem qualquer relação com a estratégia de uma organização... é a famosa "pen" em que só é preciso mudar o nome da empresa e o seu logtipo. Os indicadores são bons para benchmarking mas não servem para nada mais... não há nenhum sinal de pensamento estratégico.
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Ver a página 3 desta brochura.

A homilia de Metelo e o que chega aos jornais

A homilia de Peres Metelo hoje na TSF está em linha com as palavras de António Barreto no postal "O que chega aos jornais".
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É preciso salvar a construção....
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Por que é que não o ouvi a dizer o mesmo quando, com a entrada de Portugal na então CEE, se "descobriu" que tinhamos agricultores a mais?
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Não teremos demasiadas empresas, pessoas, dinheiro, ilusões enterrados num modelo e num sector sem pernas para continuar?
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Não é preciso consolidar?

O ponto


Eis um ponto importante, talvez mesmo o ponto principal da nossa economia, um défice externo de 12% e a subir.
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Off-topic
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"Também Daniel Bessa apontou a situação espanhola, considerando que o país vizinho vai viver "a recessão mais violenta da zona Euro, para não dizer da União Europeia (UE)"."A Espanha, por razões estruturais, tinha anunciada há muito tempo a mais violenta de todas as recessões na UE", defendeu o economista, sublinhando que o país tem "o segundo maior défice corrente do mundo" e "encareceu estupidamente." "A Espanha não exporta nada, a Espanha só importa e portanto para ser sincero não sei como é que a Espanha vai sair daqui", prosseguiu. "Mas sei que era o único dos nossos mercados que estava a crescer e essa almofada que a Espanha desempenhou durante estes últimos anos está esgotada", referiu. "Portugal precisa como do pão para a boca de encontrar novos mercados de exportação,"
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O que chega aos jornais... (parte II)

Este artigo no DN de hoje "Constâncio aconselha subida do défice orçamental" é um exemplo do que chega aos jornais:
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"A meio de 2009, os preços podem baixar e as famílias portuguesas vão auferir aumentos nos rendimentos."
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""A inflação vai descer, felizmente", diz Constâncio, admitindo um aumento do rendimento disponível (salários, descontados os impostos), por esta via, em 2009. No espaço europeu e mesmo em Portugal "é possível a inflação negativa" - um recuo dos preços ao consumidor, provocado pela queda da procura e dos preços das matérias primas - "a meio do próximo ano". Com a Função Pública a obter aumentos salariais de 2,9% será um cenário idílico."
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Só que everything is connected... cuidado com a segunda rodada.
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"Mas para uma parte das famílias portuguesas, 2009 poderá ser negro. É que a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) estima um aumento de 55 mil desempregados e o próprio Governo admite um acréscimo de pelo menos 20 mil desempregados. Se a incapacidade de o sistema financeiro em "obter capital continuar", refere o governador do banco central, a "economia real terá uma evolução muito complicada". "
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São estes e as empresas onde estes trabalham que geram o acréscimo de impostos para pagar os salários, as pensões e os aprovisionamentos da Função Pública...

terça-feira, dezembro 09, 2008

Scorecard Capital Humano (parte I)

Pós-Graduação em Gestão Estratégica de Recursos Humanos da APG-GRN.
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Acetatos podem ser obtidos digitando os números que se seguem (sem esquecer a palavra-passe):
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1 Arranque - Capital Humano - Viajar para o futuro.
2 Não há acasos.
3 Por que é preciso uma estratégia para o negócio
4 A evolução do BSC
5 Quem são os clientes-alvo?
6 Desenhar um mapa da estratégia
7 Definir indicadores
8 Determinar as iniciativas estratégicas

Continua

SPC (parte V) - As quatro possibilidades de um processo

Continuação de: parte zero; parte I; parte II ; parte III e parte IV.
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Para acabar de vez com a colagem das especificações aos limites de controlo de uma carta de Shewhart esta reflexão de Donald Wheeler e David Chambers retirada do livro "Understanding Statistical Process Control).
Um processo no estado ideal é um processo sob controlo estatístico e que só produz produto conforme.
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Um processo no estado limiar é um processo sob controlo estatístico mas que, apesar disso, produz algum produto não-conforme. Confiar no controlo "fronteiriço" feito por guardas da qualidade é muito caro, pois o defeito já ocorreu. Há que procurar melhorar o processo, reduzindo a dispersão, ou mexendo na média, ou... mudando as especificações.
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No estado à beira do caos, apesar do sistema não estar sob controlo estatístico só produz produto conforme. Muito provavelmente vivemos tempo emprestado e dominado por circunstâncias que fogem do nosso domínio. A qualquer altura (and Murphy rules) e no momento menos esperado e menos próprio a deriva entrópica pode levar o processo para o estado caótico.
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No estado caótico nem se tem o processo sob controlo estatístico, nem se deixa de produzir produto não-conforme. As caprichosas causas assinaláveis dominam estes dois últimos estados.
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Para vencer a entropia, temos de melhorar os processos.

Deflação

"The further fall in UK producer prices in November provides more evidence that deflation is now becoming the greatest policy concern,"
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Retirado de "Producer prices tumble in November as inflation falls sharply"
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"Debt deflation is tightening its grip over the entire global system. Interest rates are creeping towards zero in Japan, America, and now across most of Europe"
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Retirado de "Deflation virus is moving the policy test beyond the 1930s extremes"

Sinais dos tempos

No JN de hoje "EUA: Norte-americanos utilizam transportes públicos como nunca"
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segunda-feira, dezembro 08, 2008

O que chega aos jornais

Juntem-se estas reflexões sobre o poder e o jornalismo:
E analisem-se alguns exemplos do que chega aos jornais: O meu baú de tesourinhos deprimentes (parte II) de onde retiro este pormenor (o artigo do jornal é de ir às lágrimas num primeiro momento e de preocupação num segundo... pois começamos lgo a imaginar quem terá dado a ordem de pagamento e quem terá encomendado tais pérolas de ignorância).
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"A acumulação de capital por parte dos sectores produtores de bens ou serviços não transaccionáveis, como a construção, as telecomunicações ou a energia, criou as condições que podem permitir a alavancagem de um novo modelo de desenvolvimento económico"
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"É também nestes sectores que existe maior acumulação de capital em termos absolutos. Destacam-se, em particular, cinco áreas - construção e imobiliário, banca e seguros, comércio, telecomunicações e ainda electricidade e gás - que representaram mais de 50 por cento dos lucros de toda a economia no período em análise e que se caracterizam pelo facto de as grandes empresas ocuparem lugares de destaque ou de crescente preponderância."
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Para rematar, o artigo de António Barreto no Público de ontem que roubei ao autor aqui e do qual saliento este pormaior:
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"Banca, energia, obras públicas e telecomunicações: parecem ser estes os territórios preferidos dos grandes partidos do regime. É possível que a maior parte dos homens de que se fala hoje não tenha cometido um só crime. É possível que não tenham tido, jamais, um comportamento ilícito. Mas tal se deve ao facto de as leis permitirem que se faça o que se faz. Até porque foram eles que as fizeram."
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Não há acasos... todas as coincidências são significativas.

Divagações religiosas

Associo estas notícias "Words associated with Christianity and British history taken out of children's dictionary" e "Traditional subjects go in schools shake-up" e esta opinião "Cardinal Cormac Murphy O'Connor: Britain is 'unfriendly' for religious people" à seguinte teoria da conspiração:
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Nos tempos de vacas não tão magras (por cá) e gordas (noutras paragens) o que querem os governos? Mais consumo, mais crescimento, mesmo que não haja poupança précia. Mais consumo significa mais impostos, mais empregos, mais crescimento, mais votos (saber se isso é sustentável não conta).
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Quando se dá o estouro da bolha consumista e chega o tempo das vacas anoréxicas o que querem os governos?
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Que o deboche de endividamento pessoal continue para reanimar a economia a todo o custo.
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O que é que todas as religiões propõem?
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Gn 41, 1-36. A interpretação do sonho do Faraó pelo hebreu José. Depois de anos de abundância sempre virão anos de escassez, convém poupar nos anos bons para precaver e suavizar os anos maus. Esta mensagem é subversiva para os governos actuais sejam eles de Brown, Sarkozy ou Sócrates.
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Mc 1, 3. Associo sempre a imagem do actor Charlton Heston com uma pele de camelo e uma vara na mão a gritar no deserto "Repent!" ("Esta é a voz daquele que grita no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas!" - chega-se ao deserto porque se agiu por caminhos tortos, se se quer sair do deserto... há que mudar de vida)
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Se eu tivesse 7 vidas e algum dinheiro, talvez dedicasse algum tempo a realizar um filme estilo "A Vida de Brian" em que num plano colocaria uma espécie de leilão de pregadores, de um lado um sósia de Charlton Heston, João Baptista, gritando "Repent!!!", do outro Brown/Sarkozy/Zapatero/Sócrates/... gritando "Spend!!!"
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Daí que seja sempre um bom investimento para os governos eliminar ou reduzir o poder do megafone destes emissores de ruído que turvam a cristalinidade da mensagem que interessa.

Nicolas G. Hayek

Slywotzky (é obra! num nome conseguir colocar um y, um w, um z, k e outro y e manter o nome pronunciável ) no seu "The Profit Zone" (este livro é um must, pode ter 11/12 anos mas continua actual... se quem enterrou literalmente milhões aqui tivesse lido o capítulo 5 e tivesse percebido a mensagem, veria como uma congénere americana deixou de ser product-centric para passar a ser customer-centric e deixou de ter concorrência) dedica o capítulo 6 a Nicolas G. Hayek, o nome por detrás do renascimento da indústria de relógios suiça nos anos 90 do século passado, apesar das marcas japonesas (Seiko, Timex, Casio, Citizen, ...). Este capítulo é um "case-study" que deveria ser obrigatório estudar nas universidades e sobretudo nas associações empresariais.
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"In a business where the brand is the basis for strategic control, protecting the brand can be the difference between success and failure. The brand impacts both the differentiation and value capture (through price premium) dimensions of a business design. Brand can be an extremely powerful way to make a product stand out against its competitors, but a powerful brand must be carefully cultivated and maintained."

Macro-economia versus micro-economia: once again

O que dizem os macro-economistas?
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"Krugman: US Auto Industry Will Probably Disappear"
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Aqui Krugman tem um poderoso aliado... o mercado bolsista. O mercado bolsista quer resultados e resultados rápidos, é impaciente quanto ao crescimento das vendas e da quota de mercado.
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Por cá, quando outros vaticinaram o mesmo para o calçado, por exemplo, os micro-economistas porque não estavam sujeitos à pressão dos accionistas para resultados rápidos, tiveram tempo para fazer das tripas coração, para queimar as pestanas e, como a filha da história, desenhar uma janela, construir uma alternativa.
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domingo, dezembro 07, 2008

Não podemos ser pessimistas (parte II)

You naugthy girl!!!
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Continuado daqui.
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A rapariga esticou-se, colocou a mão na bolsa e retirou um seixo. No entanto, antes de olhá-lo deixou-o cair no chão, onde logo se misturou no meio dos outros seixos da estrada.
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- Oh que desastrada que eu sou! Bom, mas não há problema, se espreitarmos para dentro da bolsa poderemos saber que cor tirei por exclusão de partes.
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Claro que o seixo que se encontrava dentro da bolsa era de cor preta. Assim, facilmente se concluía que ela tinha retirado e deixado cair “sem querer” o seixo de cor branca.
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O velho agiota para não revelar a sua falta de honestidade, aceitou. Assim, pai comerciante e filha livraram-se do agiota.
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Teresa veja o segundo comentário do aranha: "Migração de valor = uma face do espelho;
Novas necessidades e benefícios, logo novas oportunidades, logo novas estratégias = a outra face."
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Conhece esta frase atribuída a Friedrich von Hayek?
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" Never will a man penetrate deeper into error than when he is continuing on a road that has led him to great success."
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Quando o mundo muda é preciso perceber que ele mudou, porque aquilo que resultava no mundo anterior deixa de resultar no mundo novo, e quem não percebe isso, quem não sabe que a mudança aconteceu, quem tenta esconder que a mudança aconteceu, ou quais são as consequências da mudança, vai gerar sarilhos, vai fazer grades estragos.
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“Despite increasingly fierce landscapes, most managers assume that cost-cutting and other forms of improving efficiency will help them to counter direct competitiveness challenges. Thus, their first reaction to discontinuous competition is to “work harder”, when what they need to do is “work differently”.
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Work harder e efficiency pressupõem que o que resultava no passado vai continuar a resultar no futuro. (esta citação foi retirada de “Escaping the Red Queen Effect in Competitive Strategy – How managers Can Change Industry Rules by Sense-Testing their Business Models”, da autoria de Sven Voelpel, Marius Leibold, Eden Tekie e George von Krogh. Neste postal pode ver-se um pequeno filme japonês que retrata o Red Queen Effect).
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Voltemos então ao princípio:
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"Penso, no entanto, que nao podemos ser péssimistas e temos de encarar estes factos, mas olhando sempre para a frente."
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200% de acordo. Não podemos ser pessimistas. Não podemos desistir, não podemos voltar a viver em cavernas e segundo a lei do mais forte (poder podemos, como nos lembrava Popper: Hoje vivemos melhor que há 100 anos, mas não há nenhuma lei inexorável que assegure que os humanos daqui a 100 anos viverão melhor que os de hoje. Já agora, os netos da geração mimada do pós-guerra que fez o Maio de 68 vivem e vão viver muito pior porque têm de suportar as benesses dos avós, benesses que eles nunca terão).
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Não ser pessimista é uma questão de postura mental!
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"temos de encarar estes factos". Esta é a chave da questão, não sermos enganados nem nos enganar-mos a nós próprios. Há que recolher e analisar os factos, ainda que eles nos doam, ainda que eles sejam feios (daí estas notas que arquivei nestes comentários, por exemplo).
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Não podemos é esconder os factos ou pintá-los com tons cor-de-rosa como fez este senhor (atenção o senhor Roubini não é nenhum ignorante, só o escrevi para reforçar a ironia sobre as palavras do ex-futuro chanceler, já que não o quis para aí).
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"temos de encarar estes factos, mas olhando sempre para a frente."
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Objectivamente de pouco serve saber e encarar os factos se for para aguardarmos passivamente o que se vai tornar inevitável.
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Não, queremos saber a verdade (ai Popper, Popper... saber a verdade), queremos conhecer os factos para agir, para actuar. Não para fazer mais do mesmo, não para repetir o que resultou no passado.
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Mas para, como fez a filha da estória, queimarmos as pestanas a pensar em alternativas. Sempre que se fecha uma porta, algures há a possibilidade de se abrir uma janela. Só que essa janela está dissimulada, ou está em fase de projecto, ou está esquecida... há que a procurar, há que a desenhar, há que a construir. Isso só se faz estando ciente dos factos.
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Quando se escondem os factos, quando se iludem os factos, quando se torcem os factos argumentam que é para não gerar o pânico, que é para dar esperança às pessoas, que é para ...
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TRETA!!!
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Prefiro encarar o touro bem de frente, olhos nos olhos, custe o que custar, com as minhas ilusões deliberadamente criadas por mim e com o meu conhecimento - a esperança que resulta de conhecer a realidade e de ter desenhado um plano para fazer coisas diferentes.
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Ando a ler um livro que já aqui mencionei várias vezes. No último capítulo que li o autor conta a história do aparecimento da Swatch e do ressurgimento da indústria de relógios suiços. Não foi a continuar a fazer o que faziam no passado pois a Timex (lembra-se? O meu primeiro relógio aos 10 anos era desta marca), a Casio, a Citizen e a Seiko não deixavam... a Omega esteve para ser vendida aos japoneses por 400 milhões de francos suiços.
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Os relógios suiços acabaram? As marcas caras de relógios suiços acabaram? Não há relógios suiços baratos à venda no mercado?
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Não podemos ser pessimistas, nem podemos ser quadrados que esperam que aquilo que resultou no passado continue a resultar no futuro... para isso precisamos de ser honestos. Com os outros e sobretudo connosco próprios.

sábado, dezembro 06, 2008

Não podemos ser pessimistas (parte I)

A minha amiga Teresa, em comentário a este postal escreveu:
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"Penso, no entanto, que nao podemos ser péssimistas e temos de encarar estes factos, mas olhando sempre para a frente."
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Este trecho fez-me recordar uma estória que ainda ontem (ou hoje?) usei durante uma acção de formação.
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Quando eu frequentava o 10º ano de escolaridade (no tempo em que ainda havia dinossauros na Terra), apesar de ser um aluno dedicado e mergulhado na área científica, escolhi a disciplina de Psicologia, em detrimento de Zoologia e Geologia, como disciplina opcional.
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E foi no livro de Psicologia dessa disciplina que encontrei esta fabulosa estória sobre o pessimismo e sobre as opções fechadas, sobre a ausência de saídas, sobre o bloqueio, sobre a capitulação e a desistência.
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Era uma vez um comerciante que viu o seu negócio passar por graves problemas pelo que ficou a dever uma enorme soma de dinheiro a um velho mesquinho e desprezível agiota. O agiota ao ver o tempo passar e os juros a crescerem sem que o comerciante tivesse a possibilidade de lhe pagar a dívida propôs, com indisfarçável água na boca, o seguinte acordo:
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A dívida fica saldada se me deres a tua jovem e bela filha em casamento.
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Tanto o comerciante quanto sua filha ficaram horrorizados.
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Então o agiota, para amenizar a situação e vencer a resistência de pai e filha, propôs que a sorte resolvesse o problema.
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Assim, o agiota propôs que se colocassem dentro de uma bolsa vazia dois seixos da estrada, um branco e um preto. Se a filha retirasse o seixo branco a dívida seria saldada e continuaria a viver com o pai. No entanto, se retirasse o seixo preto… a dívida seria cancelada e a moça teria de casar com o agiota.
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Se a filha se recusasse a retirar um dos seixos do saco o agiota chamaria a polícia e o pai iria para a cadeia.
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O pai e a filha tiveram de concordar com a proposta do agiota.
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Então, o agiota inclinou-se para a estrada cheia de seixos, e sorrateiramente apanhou do chão dois seixos pretos e meteu-os no saco.

Isto foi casualmente observado pela filha do comerciante.
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O agiota, então, pediu à moça que retirasse um seixo do saco. Um seixo que ditaria não só sua sorte como a do seu pai.

A mente da moça era um turbilhão de ideias… o que fazer? O que fazer? O que fazer?
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Recusar-se a retirar um seixo e ver o seu querido pai ser preso?
Expor o agiota como um impostor, um intrujão sem escrúpulos? E ver o pai ser preso…
Sacrificar-se para salvar o pai da cadeia.
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O que fazer? O que fazer? Qual a saída? Não há saída!!!!

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Continua.

O nosso Momento Zen

Esta fim-de-semana ainda não tive oportunidade de comprar o semanário Expresso e por isso não sei como será esta semana.
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Pero todavia, na revista Única, que acompanha o jornal, do passado dia 29 de Novembro de 2008, nas páginas 4 e 5 encontramos um anúncio do...








Banco Privado Português!!!!!!!!!!!!!!!!
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Na coluna da esquerda podemos encontrar umas interessantes notas, por exemplo:
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Nota 3: "O Banco Privado Português não recebeu nenhuma herança mas mesmo assim é um dos Bancos mais capitalizados do mundo no seu segmento, com capitais próprios de cerca de 200 milhões de euros."
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Nota 4: "Já o Banco Privado Português não é dado a fantasias. Prova disso é a Estratégia de Retorno Absoluto que garante aos seus clientes não só valorizações reais e potenciais competitivas, como a conservação do capital investido."
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Comentários para quê?!?!

Cuidado com a segunda rodada...

Segredou-me a minha amiga Teresa lá da longínqua e gélida Dusseldorfia:
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“Vou ser sincera, meu caro ccz., ainda nao notei nada desta crise de que tanto se fala, nos jornais, na TV etc...”
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Olhemos então para a figura que se segue: Teresa vá, por favor, para o ponto 1.
Trabalha para o Estado alemão? Sim ou não.
Se sim, pergunte: "De onde vem o dinheiro com que o Estado alemão paga os salários dos funcionários públicos e as pensões e subsídios?"
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Mesmo que trabalhe para o Estado, peça a conhecidos ou familiares que trabalham na economia privada que lhe contem o que se está a passar em todo o mundo.
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Perante a incerteza quanto ao futuro, as pessoas, que têm receio de perder o seu emprego, reduzem o seu consumo familiar, a começar pela compra de bens duradouros (carros, casas,...). Esse receio não é infundado, basta pensar nisto:
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"No mês de Novembro, registou-se a maior destruição de emprego desde 1974. A maior economia do mundo perdeu 533.000 postos de trabalho no sector secundário e terciário."
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"Key Plastics Portugal despede 220 trabalhadores"
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"Têxtil fecha e deixa 44 no desemprego"
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"Fábrica da PSA Citroën em Mangualde suspende produção em Dezembro "
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Só coloquei notícias de ontem, só de ontem.
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Se não há consumo, as empresas perdem facturação e podem fechar ou ter de despedir pessoal.
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Se fecham ou despedem pessoal, aumentam os desempregados e os gastos sociais.
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Se fecham ou baixam a facturação, baixa a cobrança de impostos.
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Com as receitas a diminuir e as despesas a aumentar... lá se vai o orçamento do Estado alemão.
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Quem é pago directamente pelo Estado alemão numa primeira fase não nota nada, e se não houver uma catástrofe talvez não chegue a sentir nada.
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Mas imagine se isto se prolonga:
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"Em Novembro, a Ford vendeu 123.222 veículos, o que representa menos 30,6% do que em igual período do ano passado. A GM, a maior fabricante do país, perdeu 41% em vendas. A Chrysler foi a mais penalizada das três marcas com uma redução de 47% no mesmo período em análise. As gigantes asiáticas Toyota e Honda também venderam menos 34 e 32%, respectivamente."
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Agora imagine que há um colapso da economia, que as pessoas deixam de comprar com medo e com falta de dinheiro, porque enquanto falamos milhares de pessoas em todo o mundo estão a ficar desempregadas...
Nesse cenário... de onde virá o dinheiro para manter operacional o Estado alemão?
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OK, o Estado alemão pode pedir dinheiro emprestado!
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Até quanto, a quem?

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Estratégia

Já aqui escrevemos sobre o que é estratégia e o que é ser coerente estrategicamente, por isso é que se fala em alinhamento, em sintonia estratégica e em cinismo organizacional quando tal não se verifica.
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Apoios às empresas? Salvar o emprego?
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Talk, just talk ... where is your agenda, what is really important?
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"Governo antecipa 3º pagamento por conta de IRC de 2008
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As empresas vão ter que efectuar até ao próximo dia 15 de Dezembro o 3º pagamento por conta de IRC. Tal resulta da alteração que foi hoje introduzida pela Lei nº 64/2008 (Medidas fiscais anticíclicas) ao artigo 96º do Código do IRC, sendo que, de acordo com o artigo 5º desta lei, esta alteração retroage os seus efeitos a 1 de Janeiro de 2008.
Esta alteração é uma má notícia para as empresas, porquanto vai fazer coincidir a realização deste 3º pagamento por conta com o pagamento do subsídio de Natal, sendo que esta antecipação não estava prevista na proposta de lei que o Governo havia apresentado à Assembleia da República."
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No Boletim do (saxão impostado) Contribuinte.

Teresa, não precisam aí de um novo chanceler?

No Público de hoje "O Produto Interno Bruto (PIB) alemão poderá contrair-se quatro por cento no próximo ano, alerta Norbert Walter, economista-chefe do maior banco do país, o Deutsche Bank, numa entrevista hoje ao jornal "Bild", citada pela agência France Presse."
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Previsão da evolução do PIB português, feita pelo governo de Portugal, na proposta de orçamento para 2009: + 0.6%
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Assim, cara Teresa tenha inveja, roa-se de inveja.
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Ou pensando melhor, não precisam aí de um novo chanceler?
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Para o Reino Unido circulam estes números "we currently forecast UK GDP to contract by 1.6% in 2009".
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"O principal objectivo em 2009 vai ser salvar empregos"

O título deste postal ouvi-o da boca do primeiro-ministro no noticiário radiofónico da TSF às 7h30.
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Porque se desencadeou uma crise como a que vivemos?
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Acredito que em grande parte por causa de ausência de poupança, algo que gerou um excesso de consumo suportado em crédito.
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Agora, e se as pessoas finalmente derem ouvidos ás proclamações dos ecologistas? E reduzirem o seu nível de consumo no futuro?
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E se as pessoas finalmente derem ouvidos a quem defendia que estávamos todos sobre-endividados? E reduzirem o seu nível de consumo no futuro?
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E se as pessoas e os governos após tratamento psiquiátrico aderirem aos grupos de Sobre-endividados Anónimos e optarem pela via da frugalidade, a via espartana?
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Assistiremos a uma redução drástica do consumo.
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Assim, quem nos garante que quando a economia começar a recuperar não se descobre que muitas empresas estão sobredimensionadas? Que têm excesso de capacidade instalada?
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Se assim for, há que adequar a capacidade ao mercado ou procurar novos clientes, talvez em sectores distintos, para ocupar a capacidade em excesso.
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Se as empresas estiverem ligadas a uma máquina de soro, se tiverem a mão-do-governo por baixo, o que é que as acicatará a procurarem e a lutarem pela sua re-estruturação?
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Se as empresas não tiverem a mão-do-governo por baixo o que é que lhes acontece?
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Ou se re-estruturam ou... fecham
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Com a economia mundial em recuperação, deixa-se de dar o soro... como as empresas estão sobredimensionadas, têm de despedir... lá se vai outra vez a confiança e o resto...
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No artigo do DN ""Vamos lutar para manter postos de trabalho"", assinado por Leonor Matias e Tiago Melo pode ler-se:
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"Em sua opinião, como pode resolver-se o problema?
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Só existe uma forma: olharmos para a estrutura que temos, reduzir o seu impacto, compactá-las, tirar todas as gorduras que houver e criar valor naquilo que estamos a fazer.
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O Grupo Luís Simões tem gorduras para tirar?
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Todas as organizações têm.
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Onde podem tirar-se essas gorduras de que falou?
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Em tudo o que estivermos a contratar. Temos contratado muitos camiões na Península Ibérica, podemos contratar ainda menos. Depois há que optimizar todos os processos, um por um. Nós somos gestores, estamos aqui para gerir uma empresa que tem responsabilidade social, temos mais de 1600 pessoas a trabalhar connosco, cumpre-nos encontrar soluções. Uma coisa é a redução da actividade, outra é reduzirmos a actividade. Podemos procurar novos clientes, novos mercados e estamos a trabalhar nesse sentido. O novo centro logístico, inaugurado há semanas, é a prova disso. É nossa obrigação fazer com que não tenhamos de reduzir. Vamos tentar não regredir e lutar para ter margens positivas, nem que sejam imateriais. Vamos lutar para manter postos de trabalho.
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Está em causa a manutenção de postos de trabalho?
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A única coisa que posso dizer é que existe uma determinação em manter postos de trabalho e, mesmo que em algum segmento possa haver alguma redução, há claramente a intenção de aumentar postos de trabalho, mas também vai haver sítios onde vamos a proceder a ajustamentos. Mas não quer dizer que reduzamos emprego."
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Sem o risco de queda quem é que vai queimar pestanas enquanto a mão do governo estiver por baixo?

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Quem tem a mão por baixo como é que vai ter acicate para procurar e criar o futuro?

SPC (parte IV) - Tamanho das amostras e erro tipo I e tipo II

Continuação de: parte zero; parte I; parte II e parte III
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Consideremos uma amostra de tamanho 5 retirada de um processo produtivo.
A partir dessa amostra calcula-se a média e o desvio padrão.Se recolhermos amostras de tamanho 5 ao longo do tempo como é que se vai comportar a média e o desvio padrão?
Será que se mantêm constantes? Ou será que vão andar à deriva?Ao usarmos uma carta de controlo estamos na realidade a aplicar constantemente um teste de hipóteses:
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H0: O processo está a operar num estado de controlo estatístico (manutenção da média e do desvio padrão)
H1: O processo não está a operar num estado de controlo estatístico
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Se um ponto registado na carta de controlo não denotar nenhuma das situações que indicam a presença de causas especiais ou assinaláveis no processo, então, poderemos dizer que o processo está a operar num estado de controlo estatístico.
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No mundo real o estado do processo é desconhecido, não se sabe se H0 é verdadeira ou falsa. Se se tiver de tomar a decisão de aceitar ou não H0, na presença de incerteza, temos de aceitar correr riscos, tanto maior quanto maior a largura entre os limites de controlo.
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Consideremos um processo de produção que produz vários milhões de peças, com um tempo de vida médio miú= 1200 h e um desvio padrão sigma = 300 h.
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Para aplicar o teste de hipóteses na avaliação de um novo processo, para saber se é melhor ou pior que o existente, actuaremos da seguinte forma:
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1. A hipótese nula é formalizada (H0: miú= 1200). Ao mesmo tempo, indicamos o tamanho da amostra (por exemplo n=100), e o erro alfa admitido (5%, ou seja em cada 100 vezes que o teste seja efectuado aceitamos correr o risco de em 5 vezes rejeitar a hipótese nula quando na realidade ela é verdadeira).
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2. Assumimos, temporariamente, que a hipótese nula é verdadeira. E colocamos a questão: o que poderemos esperar de uma média amostral retirada deste universo?A área sombreada da curva normal representa a gama de valores para a média em que a hipótese nula é rejeitada.
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3. Recolhendo a amostra, calcula-se a média. Se a média observada Xmed cai dentro da área de rejeição, considera-se que existe um conflito suficientemente grande entre a realidade e a hipótese nula, de forma que se rejeita a hipótese nula. Caso a média não caia dentro da área de rejeição a hipótese nula não pode ser rejeitada.
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O valor crítico Xmed crítico = 1249 para este teste foi calculado a partir da área alfa sombreado de uma curva normal para o valor a=5%
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Uma outra forma de “ajuizar” a ocorrência de uma média superior a 1249 é:
H0 é verdadeira, mas tivemos um tal azar que recolhemos uma amostra muito pouco provável. Ou:
H0 não é verdadeira, daí não ser surpresa o valor alto obtido para a média.
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No processo de decisão, perante as duas opções (aceitar ou não H0) corremos o risco de cometer dois tipos diferentes de erros.
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O primeiro apresenta-se na figura:Esta figura mostra-nos o mundo na condição de H0 ser verdadeira. Nesta hipótese, existe um risco de 5% de observarmos Xmed na região sombreada, nesse caso erradamente rejeitaremos a hipótese verdadeira H0. Rejeitar H0 quando é verdadeira corresponde ao chamado erro tipo I, com a sua probabilidade de ocorrência igual a alfa.
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Mas suponhamos que a hipótese nula H0 é falsa – isto é, que a hipótese alternativa H1 é verdadeira – e, para concretizar, suponhamos que miú= 1240. Nesse caso estaremos a viver num mundo diferente. Agora Xmed distribui-se em torno de miú= 1240 como se mostra na figura:A decisão correcta, neste caso, seria rejeitar a falsa hipótese nula H0.
Cometeríamos um erro se Xmed caísse na zona de aceitação da hipótese nula H0. A aceitação de H0 quando na realidade H0 é falsa é chamada de erro tipo II. A sua probabilidade de ocorrência é beta e corresponde À área a sombreado da figura anterior.
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No mundo real o estado do mundo é desconhecido, não se sabe se H0 é verdadeira ou falsa. Se se tiver de tomar a decisão de aceitar ou não H0, na presença da incerteza, temos de aceitar correr riscos de um tipo ou de outro.
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Na figura:Ilustra-se mais uma vez as probabilidades de cada um dos tipos de erro, alfa se H0 é verdadeira, e beta se H0 é falsa.
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Na figura: Ilustra-se como a redução de alfa (movendo o ponto crítico para a direita, por exemplo para 1270) aumentará ao mesmo tempo beta. Ou seja, a mexida em alfa afectará beta automaticamente em sentido contrário.Teremos sempre de optar por um compromisso entre alfa e beta.
A única forma de reduzir um erro sem aumentar o outro passa por aumentar o tamanho da amostra.
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Por exemplo:A figura mostra como, aumentando o tamanho da amostra, a diminuição do desvio padrão (dividido por raiz de n), torna a distribuição mais precisa, possibilitando que beta se reduza sem aumentar alfa.
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Por isso, devemos procurar trabalhar sempre com tamanhos de amostra superiores.

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Quem com ferros ferros, com ferros ferros!

"Associação do Têxtil e Vestuário pede medidas semelhantes às do sector automóvel"
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É a caixa de Pandora que se abre...
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Portugal pode vir a tornar-se um paraíso na Terra, à semelhança da União Soviética, toda a estrutura produtiva suportada pelo estado. Todo o empresário, todo o trabalhador com uma remuneração garantida pelo orçamento de estado.
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Convém é lembrar que depois da queda do futuro novo paraíso na Terra, não teremos nem petróleo nem gás natural para nos ajudar a pagar as dívidas.

Exemplo de balanced scorecard (parte X)

Continuado daqui: parte zero; parte I; parte II; parte III; parte IV; parte V; parte VI; parte VII; parte VIII e parte IX.
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Escrevemos até agora uma série de postais sobre o uso do balanced scorecard (BSC) em empresas que coincidem com uma unidade de negócio.
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E que tal usar o BSC para apoiar a gestão de um departamento? Por exemplo, a gestão de pessoas, a gestão dos aprovisionamentos ou a gestão financeira.
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Consideremos o caso de um BSC aplicado à gestão dos aprovisionamentos de uma empresa.
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Os gestores de aprovisionamentos têm de perceber a estratégia da organização; ou seja, o seu plano para desenvolver e manter uma vantagem competitiva no mercado. Depois, têm de descobrir as implicações dessa estratégia para os aprovisionamentos.
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Se o foco da estratégia da organização é o de criar uma vantagem competitiva sustentável, o foco da estratégia da Gestão dos Aprovisionamentos é igualmente claro e directo. Maximizar a contribuição dos Aprovisionamentos para esse mesmo propósito, criando assim valor para os accionistas.
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Da estratégia da organização retira-se a proposta de valor.
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À luz da proposta de valor qual é a missão dos Aprovisionamentos?
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Os Aprovisionamentos não vendem, não facturam, não existem para ganhar dinheiro. Os Aprovisionamentos existem para servir, para suportar, para apoiar, para contribuir para a execução estratégica, para a disciplina interna que produz a proposta de valor.
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Assim, no topo de um BSC do Departamento de Aprovisionamentos devemos colocar a missão do departamento.
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Se a missão for cumprida, quais são as principais partes interessadas?
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Se a missão for cumprida, essas partes interessadas hão-de ficar satisfeitas. Porquê?
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As partes interessadas não ficam satisfeitas por acaso, hão-de ficar satisfeitas porque verão cumpridos uma série de atributos. Quais?
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Que desafios, que objectivos, devem ser perseguidos pelo departamento de Aprovisionamentos, para que sejam produzidos de forma natural os atributos que fazem com que as partes interessadas fiquem satisfeitas?
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Que investimentos em competências, equipamentos e/ou sistemas de informação devem ser feitos para que os objectivos estratégicos internos do departamento sejam atingidos?
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Que cultura desenvolver no departamento para que as pessoas estejam alinhadas e sintonizadas com a produção da proposta de valor?
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Que orçamento tem o departamento de Aprovisionamentos à sua disposição? Como avaliar a boa gestão desse dinheiro na criação, desenvolvimento e manutenção de um departamento capaz de cumprir a sua missão.
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Falta agora colocar estes objectivos ao longo de uma relação de causa-efeito que ligue desempenho financeiro, investimentos em recursos e infra-estruturas, objectivos internos, partes interessdas e missão.
Consideremos um exemplo simplificado para um Departamento de Manutenção de uma empresa industrial que tem uma proposta de valor assente no preço.
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Primeiro a missão e as partes interessadas (clientes internos e accionistas) e o que querem acima de tudo:
A satisfação das partes interessadas, tradução de um desempenho claro face a metas claras (é muito mais linear do que trabalhar para o mercado) é conseguida à custa de objectivos internos perseguidos pelo departamento.
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Estes objectivos não são actividades, são resultados concretos, são mesmo desafios.
Onde é que o departamento vai investir para poder 'sonhar' com os níveis de desempenho futuro desejados?
A partir dos níveis de desempenho futuro desejados e a partir dos investimentos estratégicos que se pretendem fazer chega-se ao orçamento. Aqui o objectivo é ser eficiente, cumprir o orçamento sem derrapagens. O orçamento não é o ponto de partida, é o ponto de chegada coerente com o desempenho anterior e com as alterações e tácticas que nos propomos desenvolver para chegar ao desempenho futuro desejado.Daqui saem os indicadores e daqui saem as iniciativas estratégicas, não adianta fechar os olhos, fazer figas e esperar que a energia positiva resolva tudo.
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Só pelos investimentos, dá para perceber que o departamento quer melhorar a manutenção preventiva, quer agilizar a manutenção curativa, quer melhorar o planeamento e a gestão das paragens programadas, quer introduzir a manutenção condicionada e aumentar as competências dos colaboradores. Só conversa... para que não seja treta: planos de acção. Quem faz o quê e até quando com acompanhamento periódico

ADENDA
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Ver também: