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segunda-feira, março 22, 2021

Subir na escala de valor e calçar os sapatos do outro (parte I)

Vamos lá tentar relacionar uma série de textos publicados no blogue ao longo das últimas semanas, e ao longo dos anos. Comecemos por este texto de Maio de 2011 sobre o “Vocabulário do valor” (BTW, Nuno, este texto foi pensado aqui), onde se pode visualizar esta figura:

Vamos simplificá-la desta forma:

Vamos considerar a situação de uma empresa “instalada”, preguiçosa, confiante no direito ao seu queijo.

Se nada for feito, a WTP (willingness to pay) baixa, o produto ou serviço deixa de ser novidade, outros conseguem apresentar alternativas mais baratas, logo o preço praticado baixa, ao mesmo tempo que os custos aumentam (vejo muitas vezes na análise de contexto da ISO 9001 a inclusão do aumento do salário mínimo como um exemplo de factor externo negativo 🙏). Ou seja, se nada for feito, o “valor líquido co-criado” (ver primeira figura acima) encolhe.

 

Quando ao longo dos anos aqui no blogue escrevo sobre a subida na escala de valor, (BTW, caro Pedro a caixa de que falo neste link foi-me oferecida por si) escrevo sobre o aumento do valor líquido co-criado:

Vamos chamar a esta empresa preguiçosa, empresa A. 

Vamos chamar de empresa B a uma empresa que segue o truque alemão e aposta na inovação para aumentar a WTP dos clientes, não segue a religião dos Muggles. Reinveste grande parte do lucro (ou seja, aposta forte nos custos do futuro).

Vamos chamar de empresa C a uma empresa que não conhece o Evangelho do Valor e, por isso, faz um grande esforço a tentar melhorar a eficiência.

 

Vamos agora simular a evolução do “valor líquido co-criado” ao longo tempo:

A empresa C faz lembrar a Rainha Vermelha, corre o risco de morrer de anorexia, sempre em pânico com o jogo do gato e do rato.


Diferentes empresas terão diferentes velocidades de criação ou destruição de “Valor líquido co-criado”. Acabarão a trabalhar para diferentes tipos de clientes.

Uma lição que aprendi em 2008(?):


Uma das coisas que aprendi em 2008 foi a da variabilidade da distribuição de produtividades. Existe mais variabilidade da produtividade entre as empresas de um mesmo sector de actividade económica do que entre sectores de actividade económica.

Por que existe esta dispersão de produtividades? Porque as empresas são compostas por humanos, humanos diferentes, com vontades diferentes, com conhecimentos diferentes, com motivações diferentes. Sim, é verdade, por mais que o know-how esteja disponível nem todos o usam. Ou porque não têm recursos (porque desviam poucos lucros para os custos do futuro, ou porque não conseguem capitalizar o suficiente), ou porque preferem a gratificação imediata da exploitation, ou porque têm medo do alto-mar e preferem a cabotagem.


Por isso Maliranta e Nassim Taleb escreveram o que escreveram. A produtividade não sobe porque as empresas sobem na escala de valor, mas porque são eliminadas por concorrentes mais novos.

Agora imaginem que este pacato universo:

É perturbado pela chegada de estranhos.

 

Continua com a chegada da China e os Peter Pans.

sábado, dezembro 05, 2009

Tiro completamente ao lado

Este título "Calçado português custa o dobro do asiático" representa um tiro completamente ao lado.
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Até parece que esta marca portuguesa de calçado está preocupada com os custos do calçado asiático.
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Os números já os repeti várias vezes neste blogue. No entanto, aqui vão outra vez: o preço médio de um par de sapatos asiático que entra na Europa é de 3 euros. O preço médio de um par de sapatos português exportado é de... 19 euros. Portugal exporta mais de 90% da sua produção de calçado (dados da APICCAPS relativos a 2008).
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O calçado português que se preocupa com os custos da Ásia é o que não tem futuro, é o que vive tempo emprestado, é o que há-de acabar morto de anorexia depois de uma correria desenfreada para redução de custos até ao impossível.
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É a velha querela que me separa do mainestream acerca da produtividade. Uns apostam no denominador obcecados pelos custos, por mim dou prioridade ao valor criado no numerador.

quinta-feira, junho 13, 2013

A mensagem mais antiga e mais corrente neste blogue

Já em 2007 por aqui se falava do "Red Queen effect", "Correr, correr, correr, só para não sair do sítio...".
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A maioria das pessoas e das empresas fica, está, prisioneira do "Red Queen effect". Farta-se de correr cada vez mais depressa para, simplesmente, conseguir ficar no mesmo sítio.
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E claro, como explica o dilema do prisioneiro, (2006) quanto mais correm pior ficam... e como esta prova não é para quem quer mas para quem pode... a maioria morre de anorexia.
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Há aqueles que aprendem a sair do filme!
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Há os que se apercebem da superioridade da eficácia sobre a eficiência!
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Esta é a mensagem mais antiga e mais corrente neste blogue: por favor, tentem o caminho menos percorrido!
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Assim, foi com um gosto enorme que li e saboreei "You can do anything if you stop trying to do everything":
"Productivity porn, that is. How to get more hours from your day.
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It's actually quite simple. The most accomplished people (Moi ici: E empresas) are simply experts at what they choose to do, not how they do it. Spend most of your time on the right things and the rest takes care of itself.
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DO NOT FOR A SECOND believe it is enough to ‘work hard’. Hard work is not inherently a good thing. Hard work is a disgusting waste of your life when it’s thrown at the wrong things.
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Spend most of your time on the right things. Don’t wait for permission. And get comfortable with declining everything by default."

domingo, novembro 23, 2014

E quem puder dar esse acompanhamento superior (parte I)

Um leitor deste blogue, o Ricardo Proença, apontou-me para este texto "Portugal é paraíso para designers de moda internacionais".
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Antes da análise de um texto tão rico, proponho reflectir sobre uma conversa que tive esta semana numa fábrica.
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Em tempos escrevi sobre esta relação:
"Um par de sapatos sai de uma fábrica no Brasil a custar 10€ (fase da extracção de valor).
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O mesmo par de sapatos é vendido pela marca às lojas a 30€ (fase da captura de valor).
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O mesmo par de sapatos é vendido ao consumidor na loja a 90€ (fase da originação de valor)."
Na fábrica falaram-me sobre a necessidade de subir em 5 euros o preço do produto que fabricam em regime de private label. Subir o preço médio em 5 euros não significa aumentar o preço para os produtos que fabricam para os clientes actuais. Significa procurar, migrar para outro segmento de clientes e fabricar outro tipo de produtos.
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Assim, um aumento de 5 euros na fábrica é o mesmo que falar de um produto na prateleira da loja que custa mais cerca de 45 euros:
O produto que é fabricado e vendido por 45 euros mais, precisa de um tempo de produção superior, precisa de um acabamento superior, precisa de um cuidado, de uma atenção e de um mimo superior.
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E quem puder dar esse acompanhamento superior tem uma vantagem competitiva.
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E volto ao tema da produtividade. O eficientismo vê o aumento da produtividade como fruto do aumento do ritmo produtivo, produz-se cada vez mais quantidade em menos tempo.
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A nossa proposta para o aumento da produtividade, na maioria das PME, passa pelo caminho oposto. Menos anorexia na passadeira de corrida e, mais tempo para produzir algo que tem um valor potencial muito superior.
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E vamos ligar isto ao texto que o Ricardo Proença enviou.
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Continua.

sexta-feira, dezembro 28, 2007

O nosso Eu em construção, em função do futuro que desenhamos e visualizamos

As empresas podem ter estratégias explícitas ou implícitas (uma empresa pode nunca ter verbalizado a sua estratégia).
Possuir uma estratégia, e estar ciente dela e da sua existência, permite que as organizações se concentrem, e se alinhem no que é essencial. Quando se assume uma estratégia, assume-se uma certa visão da realidade, simplifica-se a realidade.

Simplificar a realidade tem o seu lado positivo, podemos ser mais rápidos, podemos filtrar a realidade e explicá-la à luz do modelo subjacente a uma estratégia. Não precisamos de estar constantemente a sondar o mundo em detalhe, e a avaliar todos os prós e contras antes de tomar uma decisão.

Henry Mintzberg compara a adopção de uma estratégia à colocação de palas nos cavalos.




Colocando palas nos cavalos, estes perdem a visão periférica e só vêem em frente. Assim, quem comanda, quem guia o cavalo é o cavaleiro, ou o cocheiro, ou, no caso das empresas, a estratégia.

Qual é o perigo da estratégia?
É a de nos isolar da realidade. É a de nos cegar e impedir de ver, de perceber, o que se está a passar, quando o mundo sofre um corte epistemológico, e passa por uma rotura.

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Porque quando uma rotura acontece no mundo, o mais certo é que aquilo que funcionava antes, a estratégia anterior, deixe de ser a melhor explicação, ou o melhor modelo para enfrentar a nova realidade.

Assim, podemos cair num pântano onde continuamos a recorrer a velhas receitas. Contudo, tempos novos exigem receitas novas, estratégias novas.

Entretanto encontrei um artigo especial, um artigo que merecia ser traduzido, divulgado, dramatizado e explicado, para que a micro-economia ousasse fazer a rotura que os novos tempos exigem.

O artigo chama-se “Escaping the Red Queen Effect in Competitive Strategy – How managers Can Change Industry Rules by Sense-Testing their Business Models”, da autoria de Sven Voelpel, Marius Leibold, Eden Tekie e George von Krogh.

A introdução do artigo diz logo ao que vem:

“Despite increasingly fierce landscapes, most managers assume that cost-cutting and other forms of improving efficiency will help them to counter direct competitiveness challenges. Thus, their first reaction to discontinuous competition is to “work harder”, when what they need to do is “work differently”. Several observers have commented that even though many companies work harder to improve themselves in increasingly competitive environments, results improve slowly or not at all. This is a characteristic situation described as the “Red Queen effect”. It is a “comfort trap” where “running harder” is easier to do, it is of an analytic-benchmark nature, it shows short-term success and is less risky in the near horizon, but ultimately holds long-term downfall.”




Este filme exemplifica, caricaturando, o que se passa na realidade, quando se espreme a aplicação de velhas receitas em novos contextos, corre-se cada vez mais, só para não sair do sítio. Tanta correria só dá em anorexia, empresas raquíticas, trabalhadores pobres, país pobre.

“In hard times, most companies fail because managers and executives focus on only squeezing out efficiencies and working harder while our research revealed that, especially in a discontinuous (fast-changing, disruptive) environment, managers ensure survival or even prosperity if they work different with their business model.”

E ainda esta “The conventional process of environmental analysis, generating strategy options, formulating and implementing strategy, and gearing for contingencies, encourages businesses to adjust to the future they anticipate rather than proactively reshaping and building the future they aspire.”

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Aquele “building the future they aspire” é algo que eu desejava que em 2008 mais empresas descobrissem. O poder de criar o seu próprio futuro, em vez de esperarem por ele. Em vez de depositarem as suas esperanças num D. Sebastião, agarrarem o touro pelos cornos.

Ortega Y Gasset levou-me a isto e a isto.

Peter F. Drucker ensinou-me “The best way to predict the future is to create it.”

Qual não é o meu espanto quando encontro um casamento entre José Mourinho e Martin Heidegger, que prega uma praxis semelhante:

“O futuro é primária e decisivamente o que nos faz ser o que somos (eu diria antes, o que vamos sendo). É essa força constitutiva do futuro que Mourinho utiliza para motivar os seus jogadores. Para ele, o que fizemos, ou as estrelas que somos, não é o mais importante – Mourinho diz repetidamente isso aos seus jogadores: “o futuro é o que importa”. O futuro é a base do significado, é de onde vem o projecto que alguém tem para si próprio.”

“Do ponto de vista heideggeriano, o mais importante para entendermos o que nos trouxe até ao presente é a projecção que corporizadamente somos para o futuro. Mourinho projecta constantemente o futuro, sobretudo o futuro da sua equipa.

“o futuro, o projecto que temos de futuro, o entendimento genuíno, instintivo, intuitivo que dele fazemos é o que nos faz ser o que somos hoje.”

E por fim: “Com base no que escolhemos e acreditamos genuinamente, para nós próprios enquanto projecção de futuro, assim determinamos as nossas acções de hoje.”

Trechos retirados do livro “Liderança: As Lições de Mourinho”, de Luís Lourenço e Fermando Ilharco.

Voltando ao artigo e para terminar: “Hence, for companies locked in a “Red Queen” race, involving a head-to-head competitive pack, sustainable competitive advantage comes to those who move beyond improving efficiencies/performance (daí esta discussão ser triste e desoladoramente reveladora) to radically changing their business models to stay ahead.”

“Creating and offering new customer value proposition is the basis from which viable and successful business models can be created.”

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Porque outra coisa que aprendi com Peter Drucker, tão fundamental e verdadeira na velha economia, como na economia do futuro, é “The only profit center is the customer. Until the customer has paid his bill, there are only costs, and until the customer has come back with a repeat order there is no customer.”



Votos de um 2008 a agarrar o touro pelos cornos, de frente, de menina-do-olho, para menina-do-olho.

quinta-feira, dezembro 29, 2011

Cuide do seu queijo

"Most companies I know have been running pretty hard lately. And, like the White Rabbit in Alice in Wonderland, many feel that the faster they go, the behinder they get."
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O famoso Red Queen effect que mata as empresas através da anorexia.
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Quem está entre a manada tem de correr mais sob pena de não ter ração para viver mais um dia, como todos correm mais ou menos juntos, quanto mais um corre mais os outros correm também... até ao esgotamento, quando já não há músculo e é só osso. Nessa altura ficam apenas aqueles que desde o princípio estavam destinados a vencer, não pela sorte mas pela análise fria dos números, como Cornuallis.
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Cornuallis tinha um exército mais experiente, mais disciplinado, mais bem armado e mais numeroso. Ganhou enquanto os revolucionários lutaram seguindo as mesmas regras... começou a perder e perdeu a guerra da independência quando os revolucionários mudaram as regras do jogo.
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"Especially after the last few years, when chasing business has sometimes been frantic, this is a good moment to stand back and ask yourself some hard questions. One of them might be: What's most important now: growth or consolidation?"
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Um das mensagens que continuo a considerar válida, ano após ano, é: impaciente com os lucros e paciente com a quota de mercado, com o volume. É uma vacina contra a comoditização e uma forma de apostar constantemente na subida na escala de valor potencial.
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Talvez 2012, com o choque que o meio abiótico vai proporcionar às empresas, seja um bom ano para reflectir sobre quem tirou o meu queijo:
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"1. Poor strategic focus.
When you take any business you can find, it's easy to discover that your positioning is now way off course–or non-existent." (Moi ici: Em que é que são bons? Em que é que se podem especializar e fazer a diferença? O que é que os apaixona?)
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"2. Bad customers.
Not all customers are equal. Some are demanding and that helps you become better at your job. But others are demanding just for the sake of it. They Drain your time, attention, and patience, and, in essence, they take far more than they will ever pay for. Pure pursuit of revenue says that you have to keep pleasing them. A more analytic approach would highlight the degree to which some customers are unprofitable and therefore need to be fired."  (Moi ici: Quem são os clientes-alvo? Talvez a pergunta mais vezes colocada neste blogue e nas empresas com que contacto. As empresas deviam ser "obrigadas" a fazer as suas curvas de Stobachoff para terem umas surpresas e descobrirem formas simples de aumentarem o lucro)
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"3. Expensive footprint.
It's tempting to take business wherever you can find it. But a very broad geographical spread can cost you a fortune in time and travel. While it may look as though that customer on the other coast takes just a day's work, in reality getting there takes one day and getting back takes another. Does the income justify that expense?"  (Moi ici: Ghemawat em "World 3.0" visualiza como isto é importante. As relações comerciais são sobretudo com os "vizinhos", a importância da proximidade. Mais perto mais flexibilidade, mais relação e menos probabilidade do preço ser o order winner)
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"4. Valuable time.
Many businesses fall into what I call the revenue/time trap. They are so busy chasing cash that they don't have the time to sit down and invest the time and resources required to develop new products or new markets. Impulsive and energetic, they work hard but never attain momentum." (Moi ici: Aquilo a que chamo drenagem do presente, motivo pelo qual falo não de uma empresa mas de 4 em simultâneo e como isso requer jongleurs nas empresas)

sábado, fevereiro 20, 2010

Hello!?!?!


"Qual a razão por que ninguém assume publicamente a verdade e diz, preto no branco, que “a iniciativa privada falhou”?"
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"Há uns dias, em conversa com uma personalidade de topo da vida política portuguesa, esta, visivelmente preocupada e indignada, questionava-se sobre qual a razão por que ninguém assume publicamente a verdade e diz, preto no branco, que “a iniciativa privada falhou”? Esta afirmação parece uma heresia em relação ao discurso político vulgarmente ouvido em Portugal, mas era importante que a classe política e as aristocracias do poder político e económico começassem a assumir que faliu o projecto de sociedade, o modelo económico que foi ensaiado e construído no pós-25 de Abril, sobretudo, desde o cavaquismo."
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Hello!!!
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Essa é a lógica da sociedade capitalista!!! A destruição schumpeteriana!!! Umas empresas surgem, captam as preferências dos clientes e enviam os incumbentes para o caixote do lixo da história. Sempre foi assim e sempre assim será.
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O problema é quando o Estado, quando os políticos se entretêm a apoiar, a tentar salvar empresas que já perderam as preferências dos clientes.
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O problema é quando os políticos acreditam que existe um modelo único, uma estratégia única, para todas as empresas, para uma economia. Lá se vai a resiliência:
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Gary Hamel e Liisa Valikangas redigiram “The Quest for Resilience.” Publicado pela Harvard Business Review ( Setembro de 2003) onde chamavam a importância da diversidade para fazer face aos cataclismos, à mudança. Recordo este trecho de autêntica poesia:
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“Life is the most resilient thing on the planet. It has survived meteor showers, seismic upheavals, and radical climate shifts. And yet it does not plan, it does not forecast, and, except when manifested in human beings, it possesses no foresight. So what is the essential thing that life teaches us about resilience? Just this: Variety matters.”
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O problema é quando os políticos se entretêm a fazer engenharia social e criam leis e regulamentos que privilegiam as rendas e a produção de bens não transaccionáveis e dificultam a vida a quem pensa em apostar na indústria.
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Trecho retirado de "Os cadáveres adiados" de São José Almeida no Público de hoje.
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BTW, este postal "A morte lenta".
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BTW, de onde é que São José Almeida pensa que vem a riqueza que sustenta este país? Do Estado? Do Governo? Das Câmaras? Das empresas públicas? Das empresas do regime?
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Adenda:
Diz o cuco (uma personalidade de topo da vida política portuguesa) indignado, aborrecido, preocupado:
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- Ingrato!!! Maldito verdelhão, que deixou de me alimentar!
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Pudera, o desgraçado do verdelhão, no frenesim de alimentar um cuco cada vez maior, acabou por morrer de anorexia.

domingo, outubro 09, 2011

Quando as galinhas tiverem dentes (parte V)

Parte I.
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Outro exemplo em "Wal-Mart Brings in Consultants to Stock Shelves".
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A corrida cada vez mais acelerada na passadeira só leva à anorexia. O efeito da Rainha Vermelha, levado ao extremo, deteriora a capacidade de um sistema cumprir a missão básica que justifica a sua existência.
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A Wal-Mart é a Wal-Mart, símbolo máximo de uma organização eficiente que compete com sucesso no negócio do preço... talvez esteja a preocupar-se demasiado com a concorrência, talvez o modelo Aldi seja ainda mais eficiente (de certeza que é).
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Por cá, não é difícil encontrar exemplos do mesmo tipo de falha... por exemplo, ovos esgotados numa loja Continente às 16 horas de uma sexta-feira de Agosto, ou excesso de fruta estragada na secção de frutas frescas, falta de iogurtes numa loja Pingo Doce

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Apostar no numerador, no valor e não no lápis vermelho (parte III)

Somos muito bons a detectar eventos que emergem e parecem isolados. Normalmente falhamos a perceber a evolução do comportamento que sub jaz a esses eventos.
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Assim, tenho a ideia, eu e alguns grupos políticos de esquerda, que quando uma empresa anuncia despedimentos e reestruturações as suas cotações sobem.
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Não me interpretem mal, a maior parte das vezes associo esses despedimentos e reestruturações a uma actuação à la Lanchester, de gente que não percebendo as oportunidades do mercado, pois falta-lhes conhecimento e relações amorosas com clientes, produtos e fornecedores, só vê uma alternativa, defender o que já tem.
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Uma coisa é a nossa percepção da realidade, outra é a realidade:
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"Restructuring seldom results in fundamental improvement in the business. At best it buys time. One study of 16 large U.S. companies with at least three years of restructuring experience found that although restructuring usually did improve a firm's share price, the improvement was almost always temporary. Three years into restructuring, the share prices of the companies surveyed were, on average, lagging even farther behind index growth rates than they had been when the restructuring began. The study concluded that a savvy investor should look at a restructuring announcement as a signal to sell rather than buy.' Downsizing belatedly attempts to correct the mistakes of the past; it is not about creating the markets of the future. (Moi ici: Drucker tinha aquela tirada fantástica, não se concentrem nos problemas mas nas oportunidades) The simple point is that getting smaller is not enough. Downsizing, the equivalent of corporate anorexia, can make a company thinner; it doesn't necessarily make it healthier.(Moi ici: até tremo com a coincidência de opiniões... uso tantas vezes esta imagem, correr, correr, correr, e ganhar negócios com margens cada vez mais apertadas até morrer anoréctico... hei-de procurar esta palavra neste blogue.)
Any company that is better at denominator management than numerator management-any company that doesn't have a track record of ambitious, profitable, organic growth-shouldn't expect Wall Street to cut it much slack. What Wall Street says to such companies is, "Go ahead, squeeze the lemon, get the inefficiencies out, but give us the juice (i.e., the dividends). We'll take that juice and give it to companies that are better at making lemonade." The financial community knows that a management team that is good at denominator reduction may not be good at numerator growth." (Moi ici: normalmente não é, porque ao concentrar-se na redução de custos não lhe sobra tempo de qualidade para ter atenção e trabalhar o aproveitamento das oportunidades)
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Trecho retirado de "Competing for the Future" de Gary Hamel e C. K. Prahalad.

sábado, junho 29, 2013

O desafio da Bimbo

Um artigo interessante "Bimbo baixa preços em Portugal para combater marcas próprias" no JdN de ontem. Primeiro qual é o problema da empresa:
"A Bimbo terá como uma das linhas estratégicas em Portugal, para combater as marcas próprias, a descida dos preços dos seus produtos.
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A garantia foi dada ao Negócios pelo director financeiro da multinacional mexicana, Francisco Avelar Casillas, como forma a evitar o ganho de quota de mercado que estes produtos estão a conquistar na Península Ibérica."
O problema  que a Bimbo sente, neste contexto particularmente recessivo na Península Ibérica, é o do crescimento das marcas próprias, o crescimento das marcas dos donos das prateleiras.
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Quem escolhe o que aparece nas prateleiras?
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O dono das prateleiras!
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E quem manda no dono das prateleiras?
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O agregado dos clientes do dono das prateleiras. O dono das prateleiras pode ter todo o interesse em ter nas prateleiras um certo produto por causa da margem que lhe dá ; contudo, se os clientes não lhe derem a rotação adequada, o dono das prateleiras tem de repensar a cena.
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O que é que a Bimbo vai fazer para combater as marcas próprias?
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Vai baixar os preços!
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Vai combater no terreno onde o dono das prateleiras tem vantagem...
"A subida de vendas das marcas próprias é evidente em várias áreas do sector alimentar e está a obrigar as empresas a reequacionar estratégias."Estamos a decrescer em termos de quotas de mercado por causa do crescimento das marcas brancas", assumiu Avelar Casillas"
O que é que é fundamental, o lucro ou a quota de mercado?
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Recordar o que acontece às curvas de isolucro, quando se entra no campeonato dos descontos para ganhar ou manter quotas de mercado, em "Pregarás o Evangelho do Valor". Houve um tempo em que a quota de mercado era uma condição necessária para ter lucro, a esse tempo chamo de "século XX" com a sua economia de Magnitogorsk ou Magnitograd, ou mesmo Metropolis. Só que hoje já existe mais gente fora da caixa "normal" do que dentro dela, hoje estamos a entranharmos-nos em Mongo, no Estranhistão.
"Em Portugal e Espanha, a Bimbo vai tentar cornbater o fenómeno [do crescimento das marcas brancas] de duas formas. "Uma das nossas estratégias é baixar os preços", avança Avelar Casillas. Mas como? "Através da criação de linhas de alto rendimento. (Moi ici: Ou seja através de produção em grandes quantidades e a um elevado ritmo, de um pequeno número de referências de baixo custo e baixo preço, para competir com as das marcas brancas num choque frontal) Outra das nossas apostas é a inovação. Acreditamos que só assim podemos combater as marcas brancas",explica o director financeiro do grupo Bimbo. Se os dois objectivos forem conseguidos, então Casillas acredita que terá uma consequência no público alvo. "Se tivermos um produto competitivo com as marcas próprias, as pessoas vão-nos escolher porque a nossa qualidade é muito melhor", sintetizou."
Esta última afirmação parece-me, com todo o respeito, algo ingénua. O palato do cliente que compra o produto mais barato está suficientemente trabalhado, é suficientemente exigente, para distinguir uma eventual diferença na qualidade? Se o cliente não distinguir essa diferença, ela até pode existir, admitamos de barato que sim, mas se ele não a distinguir, ou se ele der preferência ao factor preço mais baixo, a última palavra continua a ser a do dono das prateleiras. Aí, a forma de chegar às prateleiras seria "subornando" o dono das prateleiras dando-lhe condições muito boas, tão boas que ele não conseguiria melhor com os produtores das suas marcas brancas. Aí, a Bimbo estará a correr desalmadamente numa passadeira de ginásio, correrá, correrá mas não sairá do sítio. Terá quota mas não terá lucro decente. Resultado, anorexia.
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Pessoalmente, ouso especular, eu que não conheço nada do sector, que faria de outra forma. Não me preocuparia com a quota de mercado ponto. Olharia seriamente para o panorama competitivo e perguntaria internamente com o máximo de honestidade e clareza: Onde podemos fazer a diferença? Onde podemos ditar as regras? Onde podemos ter margens interessantes? Onde podemos continuar a crescer com margens que remunerem condignamente o negócio?
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Os mexicanos compraram o negócio da Bimbo à multinacional Sara Lee há cerca de 2 anos... por isso, aposto que este tipo de análise não tem tradição na empresa. Multinacional americana tem no seu ADN a vantagem competitiva da escala e não está habituada a competir em Mongo.
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Convidava os decisores da Bimbo a visitarem as prateleiras dos pontos de venda do azeite, do sal, das bolachas, das conservas, dos congelados, dos iogurtes... e a apreciarem a diferença.
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Convidava os decisores da Bimbo a identificarem os problemas e desafios de quem vive em Mongo, convidava-os a estudarem a explosão de gostos, a ligação à saúde, a identificarem algumas tribos que poderão ser seduzidas para o consumo de variedades mais caras, porque diferentes.
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Trabalhar em simultâneo nos dois extremos do mercado pode facilmente degenerar em stuck-in-the-middle... os argumentos da venda da inovação e do preço são muito diferentes... e vão ter os mesmos comerciais? Não? E como vão distribuir esses custos extra? E a equipa de gestão conseguirá às segundas, terças e quartas pensar em volume, para às quintas, sextas e sábados pensar em requinte e diferenciação?

sexta-feira, novembro 05, 2010

Quem com ferros mata... com ferros morre

"Price is no safe harbor against the constant pressure of competition. Everyone is vulnerable to it, both the innovators of yesterday and the big businesses of today, because price knows no brand. It is not loyal to a community or a company or a history. That means that price is no real friend of distinction."
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Trecho retirado de "The Collapse of Distinction" de Scott McKain.
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O preço é o reino da corrida permanente, da anorexia asfixiante...
da correria incessante só para não sair do local.

terça-feira, agosto 02, 2011

Cartão de visita

Facilitador de reflexões estratégicas, para que as empresas identifiquem os seus clientes-alvo e se concentrem neles.
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Promotor da concorrência imperfeita e dos monopólios informais.
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Num cenário de concorrência perfeita o preço é rei, o fornecedor com o preço mais baixo ganha. Pois bem, a PME típica não pode ter sucesso e prosperar competindo pelo preço mais baixo. Normalmente o preço mais baixo é uma vantagem competitiva que resulta da aposta na escala, no volume, nos salários baixos, em países com poucos constrangimentos legais.
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No entanto, por instinto, por tradição, a maior parte das PMEs só conhece o preço como variável a manipular para ganhar encomendas. Só que o preço mais baixo, no curto médio-prazo, neste mundo globalizado, leva as PMEs à morte por anorexia.
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A solução que proponho é apostar na destruição do cenário da concorrência perfeita!!!
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Como? Através da diferenciação, através dos nichos, através do desenvolvimento de um modelo de negócio dedicado a servir os clientes-alvo com as experiências que eles procuram e valorizam.
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Assim que uma empresa consegue diferenciar-se e perturbar o fenómeno da concorrência perfeita encontra o ponto de apoio para iterar e voltar a explorar o tema até que cria o seu monopólio.
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Não um monopólio legal protegido pelo Estado ou por patentes, ou por mafiosos, mas um monopólio informal instalado na mente dos clientes.
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Esta semana alguém na rádio, referindo-se à história da tipografia que fazia os trabalhos para o BPA e que faliu, quando o BPA foi engolido pelo BCP, dizia:
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"Os empresários das PMEs têm o direito a existir!"
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Treta!!!
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O direito a existir?! Que direito?
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A graça de existir conquista-se diariamente seduzindo e satisfazendo os clientes, tudo o resta é treta!

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Subir na cadeia de valor

Ainda a propósito do postal de 8 de Janeiro, sobre o acesso ao espaço mediático, de quem anda a construir o futuro, e sobre o artigo, assinado por Hélder Robalo, ontem no DN, acerca de despedimentos na Yazaki Saltano em Ovar.

Propomos a análise do interessante artigo, de antologia mesmo, “Suleve torna-se “Asterix” do sector das cablagens”, assinado por Abílio Ferreira, no caderno de Economia do Expresso do passado dia 6 de Janeiro. Do artigo selecciono 5 excertos, não pela mesma ordem com que aparecem no jornal:

“Num segmento da indústria automóvel marcado pelos despedimentos e transferências de unidades – as cablagens – há um pequeno grupo de Gaia que resiste ao cerco da crise”

“No início, a Suleve era uma subcontratada da vizinha Yazaki Saltano.”


No início, tínhamos uma empresa subcontratada, o negócio é preço e volume. A proposta de valor é: a que se propõe entregar um produto sem defeitos, dentro do prazo, sem “espinhas” a um preço muito competitivo.

“O plano de redução fabril da companhia japonesa conduziu aos cortes de encomendas.”

Aqui, onde muitos falham, onde a muitos falta uma capacidade de pensamento estratégico. Lembram-se do arroz?. Ou, nas palavras poéticas de Weick: “an organization as “a series of interlocking routines, habituated action patterns that bring the same people together around the same activities in the same time and places.”

“People, act as if events cohere in time and space and that change unfolds in an orderly manner. These everyday cosmologies are subject to disruption. And when they are severely disrupted, I call this a cosmology episode. A cosmology episode occurs when people suddenly and deeply feel that the universe is no longer a rational, orderly system. What makes such an episode so shattering is that both the sense of what is occurring and the means to rebuild that sense collapse together.
Stated more informally, as cosmology episode feels like a vu jàdé – the opposite of déjá vu: I’ve never been here before, I have no idea where I am, and I have no idea who can help me.”

“As they lost structure they became more anxious and found it harder to make sense of what was happening, until they finally were unable to make any sense whatsoever of the one thing that would have saved their lives…”


Karl Weick in “The Collapse of Sensemaking in Organizations: The Mann Gulch Disaster”, publicado por Administrative Science Quarterly Volume 38 (1993)

A Suleve agiu estrategicamente…

”A Suleve foi forçada a evoluir na cadeia de valor, passando da montagem para a produção completa de cablagens.”

“A aposta foi na flexibilidade e nas pequenas séries de cablagens com menos circuitos, evitando a concorrência das multinacionais e atacando nichos de mercado em Espanha e França.”


Onde podemos combater? Onde podemos adquirir vantagens competitivas? Qual o terreno que nos é mais favorável?
Uma mudança de proposta de valor, do preço e volume, para o serviço à medida, para a intimidade com o cliente. Menores quantidades e maiores margens.

Ainda ontem abordava o assunto numa visita a uma empresa, o negócio do preço é terrível. Cada ano que passa, há que correr cada vez mais depressa, só para conseguir ficar no mesmo sítio. Repito: só para conseguir ficar no mesmo sítio. As empresas ficam tão magras que acabam por morrer de anorexia. Um dos filmes que quero arranjar, para ilustrar este efeito: “uma banheira velha cheia de água. Uma mão retira a tampa do ralo, e ouve-se o barulho da água a ser sugada, o vortex a formar-se e a levar tudo consigo. Depois, no final, aquele velho som das últimas águas a escoarem-se pelo cano.” No negócio do preço somos sugados até ao tutano.

“A empresa esgotou a sua capacidade para 2007 (negoceia já encomendas para os anos seguintes) e vai participar no desenvolvimento das cablagens dos 37 protótipos do novo Seat Ibiza.”

As capacidades, as valências, o conhecimento adquirido ao longo da prestação do serviço à medida, a flexibilidade da produção, quando chegam ao ponto de rebuçado… colocam a empresa noutro patamar, permitem-lhe subir ainda mais na cadeia de valor e avançar, para uma proposta de valor assente na inovação, na liderança do produto.

Esta receita da Suleve, pode também aplicar-se a empresas que forneçam hoje, pelo preço, marcas como a Decathlon, Toys-R-Us, … . Preço, depois serviço, depois inovação.

quinta-feira, julho 08, 2010

Produtividade e salários ou O jogo do gato e do rato (parte VI)

"Setting aside whether or not such programs would be effective, an implicit assumption is that higher productivity will turn into higher wages. However, although this relationship was once fairly solid -- changes in productivity translated into real wage gains -- it has not held up in recent decades. The growth in wages has lagged behind the growth in productivity:
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productivity growth is supposed to yield improved economic outcomes via higher real wages. Yet ... labor's share of output has been steadily decreasing since the early 1980s. This downward trend was interrupted by gains evident during the tech bubble of the mid-1990s. Apparently, only during that brief, shining moment of generational technological change did the productivity story work as we believe it should, at least since the early 1980's.
Gains in productivity won't work the wonders described above if they don't translate into gains in real income for the working class. The fact that wages are not keeping up with productivity, something that should happen when markets function well, indicates something is awry in the distribution of gains in the economy. The cause of this is the source of much controversy, and some say nothing is awry at all -- it's just that the "skill premium" has increased substantially causing the distribution of income to become more skewed. But some of the highest rewards for increases in productivity went to people in the financial industry, and we know now that those productivity gains weren't really there -- the rewards were based on an illusion rather than something real. And I don't think the change in the skill premium is the whole story in any case. The reduction in the ability of labor to bargain on an equal footing with employers due to the decline in unions and other forces also played an important role in holding down real wages in recent decades." (daqui)
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Voltemos à figura:
Antigamente, o aumento da produtividade acontecia sobretudo à custa da diminuição dos custos, do aumento da eficiência. No entanto, nesse tempo, não só a concorrência não era tão forte e tão omnipresente, como a globalização não tinha chegado aos Low-Cost-Manufacturing-Countries (LCMC). Assim, nesses tempos, os ganhos de produtividade podiam ser distribuídos entre o capital e o trabalho de forma mais equitativa.
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Ainda, nesses tempos, como se pode aprender no livro "The Lords of Strategy" de Walter Kiechel III o mundo competitivo era muito mais infantil, mais naíve e carregado de mistério (na linha do que Roger Martin define no seu livro "The Design of Business")
Hoje, o que antes era um mistério, foi traduzido, e transformado em linhas de código de um qualquer algoritmo.
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Assim, hoje, perante um excesso de capacidade produtiva e perante a inexistência de mistérios, é a própria sobrevivência das empresas que é posta em causa ao canalizar as magras e raquíticas décimas de ponto percentual de aumento da produtividade para salários. Basta atentar nesta série recente "O jogo do gato e do rato" (especial a parte IV e a parte I, com a tirada do ministro TdS.)
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Voltando à primeira figura deste postal... quem me conhece já sabe qual a receita que proponho para vencer este paradoxo... fujam da guerra dos custos que só vos levará à anorexia da Red Queen.
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Só a concentração na criação de valor, só a concentração no numerador da equação da produtividade permitirá compensar melhor os trabalhadores, sem pôr em causa a competitividade das empresas.

quinta-feira, outubro 16, 2008

Cuidado (parte II)

Em Março passado escrevemos neste blogue:
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"No limite pode acontecer, sair duma crise estrutural e cair numa crise conjuntural."
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Nos tempos que correm, algumas empresas ainda estarão a definhar em virtude de um desajustamento estrutural: ausência de estratégia; proposta de valor aleatória; produtos errados para os clientes errados; ... se ainda não morreram, vão morrer de anorexia, vítimas do Red Queen Effect.
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Acredito que muitas mais estarão em crise, também, mas por efeito da conjuntura que estamos/vamos atravessar.
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Por exemplo no artigo "Hello, customers. Are you out there?":
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"Several retailers said sales of expensive fashion, especially clothes, had come to a standstill at the end of September. At the shows in Paris, some executives said spring orders would be cut by as much as 10 percent overall,"... E se os nossos clientes (as lojas) não vendem...
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No entanto, há que continuar a procurar soluções: "While retailers acknowledged that they were likely to place smaller orders this season, several said they were at the same time looking for directional fashion — something that will appeal to customers' emotions — rather than making safe choices that may not even inspire them to walk into a store"
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Isto a propósito do artigo "Exportações no sector têxtil caem a pique", assinado por Jennifer Mota e incluído no último número do semanário Sol.
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"O mercado espanhol, que vale um quarto das exportações nacionais, é o que mais se tem retraído, 'arrastando' as vendas da indústria portuguesa."
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"Depois de o sector se ter remodelado para ser mais competitivo e minimizar o impacto da concorrência asiática, em 2007 a ITV portuguesa conseguiu um desempenho positivo, com um crescimento das exportações de 4.2% para os 4.3 mil milhões de euros (mais de 70% da produção). Agora, debate-se com a retracção do consumo."
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Quando se secreve um artigo sobre a realidade têxtil nacional tem de se ter o cuidado de não misturar as duas realidades, crise estrutural e crise conjuntural.
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Não é coerente escrever um artigo que refere o sucesso da reconversão do têxtil português (70% da produção para exportação é obra) com base em dados estatísticos, e depois, quando se dá a palavra, quando se refere o discurso directo dos industriais, tudo indica que é de representantes das empresas que não se reconverteram. Por exemplo:
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"Estamos a trabalhar cada vez mais e a ganhar cada vez menos, porque o preço é definido à partida pelo cliente, que está disposto a pagar cada vez menos." (Eis o Red Queen Effect em todo o seu esplendor)
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Preço é uma coisa, valor é outra coisa muito diferente. Uma empresa que não consegue vender valor está refém do preço. Empresas que se reconverteram não se queixam do preço, queixam-se de encomendas mais magras.
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E ainda, em Portugal é impossível ter uma discussão de negócios em que o elemento étnico não entre:
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"bastava que houvesse um verdadeiro controlo de qualidade aos produtos que a Europa importa para percebermos que não estamos a competir de igual para igual"
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Ou seja, só em Portugal é que temos empresas que produzem bem, é que temos empresas que fabricam, por exemplo, malhas que não encolhem dramaticamente após a 1ª lavagem. Faz lembrar o leite, os ganadeiros portugueses dizem que o leite importado de Espanha não presta, os galegos retribuem e dizem que o leite importado de Portugal não presta, e para a pesca é a mesma coisa, e...

segunda-feira, janeiro 20, 2020

"o tempo das marcas tradicionais terminou"

Ao longo dos anos tenho escrito aqui no blogue sobre Mongo e sobre a suckiness dos gigantes. Apesar disso foi com alguma surpresa que li "Época dos construtores tradicionais acabou, diz CEO da VW":
"Foi num discurso duro e com um conjunto de mensagens alarmantes que o CEO do Grupo Volkswagen se dirigiu aos seus colegas seniores da administração, após a reunião global do conglomerado que dirige. Referindo-se ao futuro de um grupo que nos últimos anos liderou o mercado mundial em vendas, Herbert Diess avisou, segundo a Reuters, que o tempo das marcas tradicionais terminou e que a empresa que dirige tem de acelerar a sua remodelação para evitar transformar-se na nova Nokia,
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Para Diess, os objectivos a curto prazo passam por cortar nos custos e incrementar as receitas
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Para o CEO, a receita para atingir os fins passa reduzir a complexidade, incrementar a produtividade, especialmente na Alemanha, concluindo que, acima de tudo, o grupo tem de se concentrar mais no lucro e menos nos volumes de vendas. [Moi ici: Como não recordar o velho slogan deste blogue "Volume is Vanity, Profit is Sanity", como não recordar a "anorexia empresarial"]"
O que vai minorando a queda das empresas grandes é a protecção de Bruxelas e dos governos dos estados com regulação e legislação. Estamos algures naqueles dias incipientes numa evolução exponencial de nenúfares, antes do dia 47. Que milhares de Local Motors floresçam.