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domingo, outubro 31, 2021

Mea culpa

O postal de ontem, "Subam os preços!", gerou alguma troca de comentários no Facebook. A certa altura prometi este postal com alguma dose de "mea-culpa".

Existe a Microeconomia e a Macroeconomia.

O meu mundo é o mundo da Micreconomia, é nele que trabalho a apoiar empresas e, ao desenvolver esse trabalho, quase sempre visto a camisola e sinto-me parte da equipa. Nutro simpatia por quem não se encosta, por quem não opta pelo mais fácil e luta pela sua independência. Como a larga maioria dos licenciados e doutorados não empreende, quem está à frente destas empresas é, normalmente, alguém que deixou os estudos cedo e começou a trabalhar e algures avançou para a criação de uma empresa. 

O meu mundo é, muitas vezes, o mundo dos sectores tradicionais. Um mundo sistematicamente condenado à morte pela Academia, pelos jornalistas e comentadores económicos, mas que teima em resistir. PMEs que segundo as sebentas das universidades deviam estar mortas, mas que continuam vivas e a maioria não são zombies, para ser zombie é preciso ter acesso aos corredores e carpetes do poder. Julgo que a Academia falha nas suas previsões porque parte do principio que para ser competitivo há que ser produtivo, ideia que vem da economia do século XX. No entanto, porque existe a concorrência imperfeita, é possível ser competitivo, ainda que pouco produtivo.

Porque acredito na concorrência imperfeita, porque estou solidário com esta raça de gente, sempre aqui combati os que nos media dizem que estas empresas "são de segunda".

No entanto, nos últimos anos alguns factores têm-se conjugado para aumentar a minha preocupação acerca das PMEs:

  • o aumento do salário mínimo 
  • a pressão demográfica
  • a sereia da emigração

Neste postal de Dezembro de 2018 escrevi sobre o uso do salário mínimo para matar as empresas competitivas, mas não produtivas. Quanto mais PMEs competitivas mas não produtivas morrerem mais cresce a produtividade agregada do país. E foi no final de 2018 que comecei a ler nos media tradicionais uma versão diferente do jogo do gato e do rato, o jogo da produtividade e salários. Até aí o canon era o citado pelo então ministro Teixeira dos Santos:

"Temos de melhorar a produtividade do trabalho (com formação, inovações, melhoria na gestão), mas também a disciplina salarial com a fixação dos salários para que acompanhe a produtividade”, resumiu o titular da pasta das Finanças."(Junho de 2010)

A partir de 2018, comecei a ler, sobretudo via Avelino de Jesus, uma outra versão:

"A melhoria da produtividade (de que depende o crescimento da economia) está muito dependente da melhoria dos salários, pelo impulso que imprimem à eliminação das empresas e sectores menos produtivos e ao triunfo dos mais eficientes. Nas economias dinâmicas são os salários que empurram a produtividade e não o contrário como - com demasiada frequência - se ouve dizer.

...

A ideia de que há um bolo que se produz e que depois se distribui (sendo que o salário está rigidamente limitado pelo tamanho do bolo produzido) pulula com vigor esmagador pela economia vulgar; é a alquimia que se apresenta para justificar a moderação das exigências salariais.

Mas, na verdade, o salário e o produto mantêm uma relação dinâmica. O salário determina a formação do produto, tanto na sua dimensão como na estrutura. A pressão salarial tem importantes e virtuosos efeitos sobre a produtividade e o crescimento, criando estímulos imprescindíveis para os empresários efectuarem as escolhas mais virtuosas sobre as tecnologias e os sectores de investimento."

Isto na altura senti como um virar da maré. Por isso, na passada sexta-feira quando ouvi as palavras do presidente da CIP sobre salários e produtividade na rádio Observador confesso que sorri com a ingenuidade dele perante esta corrente. Ainda está em 2010 e com Teixeira dos Santos. Será que não se apercebeu da nova fase?

Claro que a teoria de Avelino de Jesus tem um ponto fraco: "nas economias dinâmicas". A economia portuguesa não é dinâmica. Lembram-se da chapada? E volto ao pensamento sistémico e ao arquétipo da "corrida ao armamento". Aumenta-se o salário mínimo? Recorre-se à contratação de serviços ao Bangladesh!!! Viva Odemira.

Por um lado, esta pressão do salário mínimo e, por outro lado, a crescente pressão emigratória em busca de melhores salários (vejo-a todas as semanas num local de pleno emprego como é Felgueiras. Agora até a França está com"labour supply bottlenecks" o que é um sorvedouro para quem tem familiares por lá), tornam o desafio do aumento da produtividade cada vez mais importante e urgente. O impacte da Macroeconomia.

No entanto, o desafio do aumento da produtividade não passa pelas lições das sebentas de Economia, baseadas no século XX, como tão bem escreveu Esko Kilpi em 2015 e registei aqui. Por isso, não concordei com os economistas do encontro na Junqueira, pregados à sebenta do século XX. Aumentar a produtividade com a receita do século XX é possível? Sim, é seguir a lição irlandesa para captar investimento estrangeiro e queimar etapas, porque "os macacos não voam" e não têm capital.

Não subir preços é acelerar o encerramento das empresas dos sectores tradicionais. Agora trata-se de aproveitar a conjuntura, mas é preciso trabalhar para os aumentar de forma estrutural, sob pena de não conseguir contratar ninguém daqui a 10 anos, a não ser operários bangladeshis ao serviço de empresa bangladeshi a prestar serviço numa empresa portuguesa.

Entretanto, Reinert veio chamar-me a atenção para isto tudo de uma forma pragmática:

"As private citizens, economists realize that the choice of economic activity will largely determine the living standard of their children. On an international level, the same economists are unable to sustain that same opinion because their toolbox is pitched at such a high level of abstraction that virtually no tools are available to distinguish qualitatively between economic activities. At this level, standard economic theory `proves' that an imaginary nation of shoeshine boys and people washing dishes will achieve the same wealth as a nation consisting of lawyers and stockbrokers."

Não precisamos de fazer destas PMEs párias a abater, como tantas vezes académicos sem skin-in-the-game proclamam, mas temos de perceber que a produtividade vai ser fundamental para a sobrevivência. Não por causa do mercado, mas dos governos, da demografia e da emigração.

Trecho retirado de "How Rich Countries Got Rich and Why Poor Countries Stay Poor" de Erik S. Reinert.

sábado, abril 03, 2021

A ratoeira

Imaginem um país em que a política tem como prioridade a distribuição em vez da criação de riqueza e, ao mesmo tempo, preso nesta ratoeira.


Aquele segundo passo: "Perfect International Competition, Reversible Wages, Productivity Increases Taken Out As Lowered Prices" é letal. A paranóia da concorrência perfeita e o jogo do gato e do rato. E não é porque um governo decide aumentar o salário mínimo que o ciclo vicioso se quebra, apenas serve para mandar mais gente para o desemprego porque as empresas fecham. Só a aposta na concorrência imperfeita serve de activador de uma nova realidade.

Recordar o Evangelho do Valor, o gráfico de Marn e Rosiello. Estar atento ao texto de Ricardo Reis na Caderno de Economia do Expresso desta semana, "O sucesso das empresas"... parece que finalmente viu a luz... quem terá sido o seu Ananias?

Sim, há a via do valor, a via da concorrência imperfeita, o truque alemão.

Imagens retiradas de "The Visionary Realism of German Economics: From the Thirty Years' War to the Cold War". 

sexta-feira, janeiro 11, 2019

Vai ser lindo... schadenfreude

É nestas alturas que o meu lado cínico vem ao de cima e me encho de um profundo sentimento de schadenfreude.

Vivemos num país onde os políticos vivem numa redoma e não têm qualquer noção do que é viver e competir num mercado mundial. Nunca queimaram pestanas a pensar como arranjarão dinheiro para pagar salários, ou para comprar matérias-primas. São capazes de legislar que a força da gravidade é inconstitucional, já que para eles a transmutação é uma coisa corriqueira.

Os políticos, engenheiros sociais incapazes de prever as consequências dos seus actos, tomam decisões e, depois, perante os resultados, ou inventam inimigos, ou começam a tremer das pernas.

Em "Patrões do têxtil: “Setor paga o que pode pagar para se manter competitivo”" pode ler-se:
"A indústria portuguesa do têxtil e de vestuário exportou 4.935 milhões de euros nos 11 primeiros meses de 2018, registando assim um crescimento de 1,8% face ao mesmo período do ano passado, deixando antever um novo recorde nas vendas ao exterior.
.
Estes valores levaram a deputada comunista, Carla Cruz, citada pela Lusa, a insistir que "o país não pode continuar a apostar num modelo de baixos salários" e que "os trabalhadores, aqueles que realmente produzem a riqueza, veem sucessivamente adiados os aumentos reais de salários".
...
O porta-voz dos patrões desta indústria ... respondeu ... "o sector pagou e paga aquilo que pode pagar para se manter competitivo"
...
"Os aumentos do salário mínimo nos últimos quatro anos obrigaram a maioria das empresas a crescimentos de mais de 20% na massa salarial, sem sequer verem compensado este incremento com a produtividade""
Agora reparem em "Dona da Zara encolhe confecções no Vale do Ave" no mesmo dia, no mesmo jornal lê-se que a Inditex está a retirar encomendas para produção em Portugal, que há empresas a fechar nos concelhos de Fafe, Guimarães e Vizela, que há fornecedores de primeira linha da Inditex que em vez de subcontratar em Portugal subcontratam em Marrocos. Então, entra o PCP:
"Este retrato na confecção Já levou o PCP a interpelar o ministro da Economia. Ao Negócios, o deputado Bruno Dias argumentou que nesta relação com os grupos da moda "não pode [vigorar] simplesmente a lei do mais forte" e sugeriu, "do ponto de vista regulamentar e de organização do sector, colocar algum equilíbrio e critério"."
Atentemos neste exemplo internacional, "Sneakernomics: All change in the trainer business":
"According to his calculations, the final sale price is made up of:
manufacturing costs: 22%
staff, warehousing, office rents and patents: 11%
marketing and advertising: 5%
freight and insurance: 5%
taxes: 2%
shoemaker's profit: 5%
retailer's share: 50%"

Produzir é o mais fácil! Quem manda na cadeia de valor é o dono da prateleira onde os clientes/consumidores compram e ponto.

E volto a "Admiram-se de quê?" uma multinacional que compete legitimamente pelo preço, o grupo Inditex, está a deixar de colocar encomendas em Portugal porque arranja alternativas de produção mais baratas. E depois? O que é que o PCP quer, obrigar a Inditex a comprar em Portugal? Então não é o PCP que diz "o país não pode continuar a apostar num modelo de baixos salários"? Então, devia alegrar-se com a saída de uma empresa que compete pelo preço e que não permite praticar salários mais baixos. Já lhes começam a tremer as pernas!!!

Outra cena, o porta-voz dos patrões, como o apelida o Jornal de Negócios, ainda não percebeu o filme que se está a preparar e que ainda há dias apareceu no Jornal de Negócio em "Greves, salários e produtividade". O que diz o senhor:
""o sector pagou e paga aquilo que pode pagar para se manter competitivo"
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"Os aumentos do salário mínimo nos últimos quatro anos obrigaram a maioria das empresas a crescimentos de mais de 20% na massa salarial, sem sequer verem compensado este incremento com a produtividade""
Ele ainda está na guerra anterior, ainda relaciona salário, competitividade e produtividade. Ainda está no discurso que aqui no blogue chamo de gato vs rato (ver marcador):
+ produtividade pode ser distribuída por + salário sem prejudicar a competitividade se o aumento salarial for moderado 
Na guerra anterior tínhamos o ministro socialista das finanças a dizer:
“os ganhos de produtividade devem reforçar a competitividade e não ser ultrapassados pela evolução de salários”. 
Qual é a próxima guerra, a que não foi ainda declarada e que se antevê em "Greves, salários e produtividade"?

Reparem no racional, como a ordem dos factores se altera:
- Os salários têm de aumentar, para obrigar as empresas a aumentar a sua produtividade. Perceberam? Não é do aumento da produtividade que se vão retirar ganhos para distribuir pelos trabalhadores. Começa-se por aumentar os trabalhadores e obrigar as empresas a desunharem-se para aumentar a produtividade para continuarem a ser competitivas. Quem não for capaz de acompanhar a pedalada terá de fechar a porta, ou bater à porta do PCP a pedir ao partido que arranje um apoio, um subsidio, ou outra cena qualquer.
Esta gente não percebe é que não se pode pôr todo o país com o mesmo modelo de vida da quase totalidade do interior. O interior não tem economia para suportar os custos de contexto do litoral. Assim, fica sem empresas e desertifica-se, quem lá trabalha é funcionário camarário ou do estado.

Vai ser lindo... schadenfreude.

Vejam os textos que citei em "Espero que não vos tremam as pernas quando as empresas começarem a cair como tordos" de "Gabiche (parte III)" e "Especulação perigosa"

segunda-feira, setembro 04, 2017

Assumir a consequência

Ontem no Twitter apanhei um tweet do @pedroprola que citava o tweet de um terceiro que brincava (gozava?) com Pedro Ferraz da Costa ainda por causa desta entrevista de Dezembro de 2011, "Ferraz da Costa: Eliminar férias, a par de outras reformas, aumenta produtividade".

Quem lê este blogue sabe que não aprecio as opiniões de Ferraz da Costa sobre macroeconomia. Ferraz da Costa é um dos encalhados no século XX, um dos membros da tal tríade de que tantas vezes escrevo aqui. Basta recordar um postal de Junho de 2011 acerca destas reformas para aumentar a produtividade ou a competitividade.

Não me interpretem mal, estas reformas contribuem para aumentar a produtividade. Mantendo tudo o resto constante é aumentado o tempo de produção, logo aumenta a quantidade produzida. Só que estas reformas dão um sinal errado. Dão o sinal de que a responsabilidade por aumentar a produtividade é do papá-Estado: locus de controlo externo a funcionar.

Roger Martin num artigo recente escreve:
"The imagination of new possibilities first requires an act of unframing. The status quo often appears to be the only way things can be, a perception that’s hard to shake.
...
Science explains the world as it is; a story imagines the world as it could be."[Moi ici: Isto é engraçado porque faz-me recordar outra entrevista de Ferraz da Costa, uma entrevista onde eele se orgulhava de nunca ter lido um romance. Como será a sua criatividade? No mesmo artigo Roger Martin diz "Innovators will push that boundary more than most, challenging the cannot."]"
Num artigo que sempre irei recordar, Christensen distingue vários tipos de produtividade/inovação, algo que escrevo aqui desde o princípio deste blogue. A produtividade é um rácio:

Ferraz da Costa quando pensa em aumentar a produtividade só foca o denominador, só pensa nos custos. Pensar no numerador é sinónimo de imaginar um produto diferente, é apostar em diferenciar.(BTW, façam um esforço para não serem muito rigorosos para com Ferraz da Costa, lembrem-se desta jornalista de economia)

Por que escrevo sobre isto?

Quando alguém como @pedroprola goza com Ferraz da Costa por ele ser incapaz de sair da armadilha da produtividade (uma perseguição de gato e rato como costumo referir aqui no marcador do blogue) deve ser capaz de assumir uma consequência: se o aumento da produtividade decorre sobretudo da inovação e da capacidade de gestão (como refere hoje o governador do BdP - recordar a distribuição de produtividade intrasectorial), então, não faz sentido que o retorno dessa maior produtividade seja distribuído pelos trabalhadores com a mesma proporção que era quando a produtividade crescia só com base no denominador.

Ontem li "The Rise of Market Power and the Macroeconomic Implications" de Jan De Loecker e Jan Eeckhout, publicado a 4 de Agosto último.
"We document the evolution of markups based on firm-level data for the US economy since 1950. Initially, markups are stable, even slightly decreasing. In 1980, average markups start to rise from 18% above marginal cost to 67% now. There is no strong pattern across industries, though markups tend to be higher, across all sectors of the economy, in smaller firms and most of the increase is due to an increase within industry. We do see a notable change in the distribution of markups with the increase exclusively due to a sharp increase in high markup firms.
We then evaluate the macroeconomic implications of an increase in average market power, which can account for a number of secular trends in the last 3 decades: 1. decrease in labor share; 2. increase in capital share; 3. decrease in low skill wages; 4. decrease in labor force participation; 5. decrease in labor flows; 6. decrease in migration rates; 7. slowdown in aggregate output."
A consequência natural é o aumento da desigualdade salarial entre os que contribuem para a diferença (inovação e capacidade de gestão) versus os que recebem ordens e produzem. Mais uma razão para quem sabe produzir e tem paixão, se aliar a quem é criativo e tem paixão em cooperativas que tiram partido da democratização da produção, da explosão de tribos e das redes sociais.

quarta-feira, abril 26, 2017

Produtividade para o século XXI (parte IV)

Parte Iparte II e parte III.
"According to the traditional manufacturing-related productivity concept, productivity is defined as the ratio between outputs produced and inputs used, given that the quality of the outputs is kept constant (the constant quality assumption), or
Only if the quality of the production output is constant and there is no significant variation in the ratio between inputs used and outputs produced with these inputs, productivity can be measured with traditional methods. The constant quality assumption is normally taken for granted and not explicitly expressed. Therefore, the critical importance of this assumption is easily forgotten. [Moi ici: Forgotten por todos este pormaior fundamental. Subir na escala de valor é uma forma de dinamitar a constant quality assumption. É ela que gera o fenómeno da perseguição entre  gato e o rato (salário e produtividade)However, in most service processes it does not apply.
In services, it is not only the inputs that are difficult to calculate, it is also difficult to get a useful measurement of the outputs. Output measured as volumes is useful only if customers are willing to buy this output. In manufacturing, where the constant quality assumption applies, customers can be expected to buy an output produced with an altered input or resource structure. However, in services we do not know whether customers indeed will purchase the output produced with a different input structure or not. It depends on the effects of the new resources or inputs used on perceived process-related and outcome-related quality. Hence, productivity cannot be understood without taking into account the interrelationship between the use of inputs or production resources and the perceived quality of the output produced with these resources. The interrelationship between internal efficiency and external efficiency is crucial for understanding and managing service productivity."









domingo, janeiro 01, 2017

Uma das minhas missões


Uma das minhas missões profissionais passa por pregar o Evangelho do Valor aos líderes das empresas.

A figura mostra o quanto essa missão é necessária e urgente.

Como se mede a produtividade?
Nota: A figura é de 2006 e hoje usaria outra linguagem. Uma empresa não produz valor. Uma empresa produz valor potencial. Valor é criado pelos clientes quando experienciam progresso na sua vida.

As respostas denunciam uma visão incompleta da produtividade. A produtividade de que os economistas e os engenheiros falam é uma herdada da Revolução Industrial e atingiu o seu apogeu no século XX, com a produção em massa, com a vantagem baseada na escala e crença na eficiência acima de tudo.

Nessa visão a produtividade resume-se a isto:

E como é que se aumenta a produtividade, como é que se aumenta a eficiência (nesta visão as palavras são sinónimas)?

  • reduzindo a burocracia e a ineficiência, simplificando procedimentos e processos. E voltamos aos anos 90 e à reengenharia e voltamos à Redsigma;
  • automatizando, para reduzir trabalhadores e/ou reduzir o tempo de ciclo;
Quando as empresas reconhecem que não têm competências internas para desenvolver as duas medidas anteriores, muitas recorrem à terceira:
  • investir em formação em liderança e gestão
Qual o risco deste investimento? O dessa formação ser dada por membros da tríade, gente com a cabeça no século XX. Basta recordar os profetas da desgraça que diziam em 2011 que as PME portuguesas só poderiam aumentar a sua competitividade se os salários baixassem. Outra designação que dou a essa gente é a de Muggles, gente que só conhece o poder das folhas de cálculo e que sonha com custos e não sabe nem pressente que existe a magia do valor. Gente que está tão concentrada naquele denominador da equação que nem percebe que a solução é o numerador:
Gente que não percebe que o truque, quando não se conseguem vender sapatos a 20€ por serem muito caros, é produzir outro tipo de sapatos e vendê-los a 230€ para outro tipo de clientes noutros tipos de canais ou com outros modelos de negócio.

Reparem se o modelo de aumento da produtividade for concentrado nos custos, no denominador, cada euro poupado terá de ser regateado para aumento de salários. No entanto, se o modelo de aumento da produtividade for concentrado no valor, no numerador, e tendo em conta o Evangelho do Valor, deixa de haver essa guerra do gato e do rato entre produtividade e salários.

Assim, respostas que me satisfariam passariam por exemplo por:
  • aumentar preços por subida na escala do valor;
  • desenvolver novos produtos/serviços;
  • desenvolver novos modelos de negócio;
  • aumentar a diferenciação;
  • ...
As respostas do artigo do jornal passam por manter constantes as saídas e alterar a forma de as produzir. A minha pregação convida os líderes a alterarem as saídas ou a mudarem a proposta de valor vendendo o mesmo produto noutros mercados.




Imagem retirada de "O que dizem os líderes sobre a economia, o Governo e as suas empresas"

quinta-feira, maio 12, 2016

CUT, produtividade, competitividade e gato e rato

Recomendo a leitura de "Acima da produtividade" e dos textos com o marcador CUT.
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Depois, recordar sobre os CUT postais como:
Por fim, sobre o jogo do gato e do rato recordar este postal de Janeiro de 2011 e o primeiro, de Junho de 2010.

terça-feira, fevereiro 09, 2016

Produtividade? Há muitas! (parte II)

Parte I.
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O @miguelppires ontem chamou-me a atenção para "The secular slowdown in European productivity" onde se pode encontrar uns trechos a suportar o que aqui se escreve no blogue há muitos e muitos anos, sempre à revelia do mainstream da tríade, e dos governos (recordar o marcador do gato e do rato):
"Narrow focus on cost competitiveness can impede productivity growth
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Much of the policy focus since the crisis has been on increasing the cost competitiveness of exports. However, lower labour costs do not necessarily lead to better productivity, and too narrow a focus on cost competitiveness carries risks: firstly, as it may neglect the supply-side measures necessary to boost productivity; and secondly, because keeping wages low risks depressing domestic demand, with a knock-on effect on GDP."

Recuar a 2006 e recordar a diferença entre o numerador e o denominador nesta narrativa da produtividade em "Ainda a produtividade". Recuar a Novembro de 2012 a "Sobre a paranóia da eficiência e do eficientismo". E recuar a ontem e a uma lição do calçado português: se não se consegue vender a 20€, vende-se a 200€". Parem aqui!!!
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Perceberam bem o que acabaram de ler? Leiam devagar, por favor:
"se não se consegue vender um tipo de sapatos a 20€, arranja-se maneira de vender outro tipo de sapatos a 200€"
Pensem na galeria de membros da tríade que ao longo dos anos tenho aqui mencionado: João Ferreira do Amaral, Daniel Amaral, Daniel Bessa, João Duque, Vítor Bento, Manuela Ferreira Leite, Bagão Felix, Augusto Mateus e mais dois ou três que me estou a esquecer. Todos eles só conhecem uma forma de competir, a do bicicletas: baixar o preço. Seja reduzindo custos nominais, seja através da desvalorização cambial. Ainda estão no registo que funcionou aquando da entrada na CEE que decapitou a nata das empresas portuguesas que competiam internamente pelo mercado mais caro. O que aconteceu esta década foi uma competição com a China, pela fatia mais barata, logo, a resposta teria de ser outra.
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Já num outro registo:
"The outlook suggested by the data analysed here—of mild but sustained productivity growth in Belgium, France, Germany and the Netherlands; a slowly strengthening recovery in the UK; and a much weaker pick-up in Austria—is in this context far from a failure.
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Downside risks stem from slower progress than we currently expect in any of these areas, and also from the structural shift under way in China away from industry and towards consumption, given the possible fall in demand for European industrial goods that this may cause."[Moi ici: É impressão minha ou alguém está a esquecer-se do potencial de consumo da China e do poder do glamour das marcas europeias]

quarta-feira, fevereiro 03, 2016

A seu tempo será outro testemunho, outra prova do tempo

Ainda recentemente em "A fazer sombra aos alemães!" escrevi:
"Ainda ontem à noite ao fazer zapping pelos canais apanhei a ex-ministra, julgo que ainda eurodeputada, Maria João Rodrigues, em plena lengalenga que eu já julgava obsoleta.
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Dizia a técnica que os alemães tinham de aumentar os seus salários para que os europeus do sul pudessem exportar mais para a Alemanha."
 Lembrem-se que para este anónimo da província a causa raiz dos problemas portugueses que levaram ao descalabro das contas públicas tiveram origem na entrada da China no comércio mundial e não no fim do escudo:

Outra guerra deste blogue e deste consultor é a de aumentar preços, para baixar os custos unitários do trabalho enquanto se aumentam salários. Recordar:
Ontem, descobri este texto "Why the Neoclassical Story About German Wage “Moderation” Causing the Eurozone Crisis is Wrong". Um artigo longo e que merece uma leitura atenta. Sublinho estes trechos:
"German firms, producing high-tech, high value-added, high-priced and mostly very complex manufacturing goods, do not directly compete with Spanish, Portuguese, Greek or even most Italian firms, which are specializing in lower-tech, lower value-added, low-price and less complex goods (Simonazzi et al. 2013). German firms are price-setters and dominate their niche markets, while Greek and Portuguese firms instead compete with low-cost Asian producers - on costs (but not just labor costs) - and get pushed out from their markets by their Chinese competitors (Straca 2013). [Moi ici: Segue-se algo que só vi escrito por mim e ao arrepio dos gurus tugas... lembrem-se do meu marcador gato vs rato] The upshot is that real-life competition in oligopolistic markets cannot be reduced to just unit-labor-cost competition - whatever the textbooks want us to believe. And if one insists on focusing on unit labor costs, then there is no reason why one should not also look at unit capital costs (or profit margins), as is argued by Felipe and Kumar (2011); oligopolistic firms might as well compete on profit margins."
E ainda:
"Flassbeck and Lapavitsas argue in favor of higher German wages (and higher German inflation), just like Wren-Lewis (2016), in the mistaken belief that this will lower Germany’s cost competitiveness, reduce its trade surplus, and thereby rebalance the Eurozone as a whole. German exports and imports, as I argued above, are not very sensitive to changes in relative unit labor costs, however, and hence there will be only a limited amount of expenditure switching (away from German products and toward foreign goods), as has also been convincingly shown by Schröder (2015). Let me repeat for clarity’s sake that I am strongly in favor of higher nominal wage growth (in excess of labor productivity growth plus 2%) in Germany. It will definitely help Germany. But it will not help the crisis-countries of the Eurozone." 

terça-feira, outubro 20, 2015

Quando a concorrência mete medo


- Como se aumenta a produtividade?
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Para poder responder a esta pergunta há que, primeiro, responder a uma outra pergunta:

- Como se mede a produtividade?

A produtividade é um rácio:
A produtividade pode ser aumentada por uma de três vias:

  1. aumentando o "valor originado";
  2. reduzindo os "custos incorridos"; ou
  3. uma mistura de 1 e 2
Acontece que a esmagadora maioria das pessoas só conhece uma via, a número 2. A via da redução dos custos, a via do aumento da eficiência, a via que tantas e tantas vezes degenera no eficientismo doentio.
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Quando só se conhece a via 2 a concorrência é vista desta forma:

Quando só se conhece a via 2 defende-se que a concorrência tem de parar, diz-se, que os governos têm de controlar o status-quo, que os tribunais têm de dar provimento a providências cautelares, ...
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Quando só se conhece a via 2 escrevem-se artigos como "A ineficiência da eficiência":
"Sem regulamentação e um muito necessário enquadramento legal global, as empresas continuarão a procurar persistentemente um nível de eficiência que lhes confira uma vantagem competitiva face às suas concorrentes, obrigando as demais a seguir o mesmo caminho. O ciclo reinicia-se num processo que, em termos teóricos, só terminará quando não for possível reduzir mais os custos salariais, ou seja, quando tendencialmente caminhem para zero."

Em Junho de 2010 escrevi o primeiro postal com o marcador "gato vs rato", em Janeiro de 2011 escrevi a parte VII.

quarta-feira, setembro 16, 2015

Acerca do Evangelho do Valor

Há alturas em que até um anónimo engenheiro de província sente inveja de quem vive em outros continentes e tem a arte e o engenho de conseguir transmitir a sua mensagem.
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Neste blogue tento chegar com a minha mensagem e as minhas reflexões um pouco mais longe. Contudo, ás vezes interrogo-me e martirizo-me por não ser melhor comunicador.
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Vejam bem este exemplo. Em Julho de 2006, há quase 10 anos, escrevi neste blogue um postal intitulado "Redução dos salários em Portugal". 
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Na minha forma desajeitada de engenheiro pragmático e pouco convencional procurei rebater um texto e uma abordagem que ainda hoje tem muitos partidários. O que é que eu propunha?
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Propunha que os decisores olhassem para a equação da produtividade:

E pensassem de uma forma diferente da tradicional:
"O grande desafio é o de aumentar a produtividade, o que o FMI e outros sugerem, é baixar o valor do denominador da equação.
...
Uma actuação tendo em vista o médio/longo prazo tem de actuar no numerador, na capacidade, na quantidade de valor criado.
...
Assim, em vez de andar às voltas em torno do denominador, porque não apostar no aumento do numerador?"
Em Outubro desse mesmo ano voltei à carga com "Ainda a produtividade" onde expus as minhas ideias com mais pormenor.
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De lá para cá tenho voltado ao tema da produtividade, do numerador versus o denominador, ao jogo do rato e do gato (salários e produtividade), ao tema da eficiência e eficientismo. Depois, com o meu mau carácter habitual, criei o termo "tríade" para designar o grupo de paineleiros, académicos e políticos, gente com amplo acesso aos media mas que continua a seguir as fórmulas que aprendeu quando tinha 20 anos e o mundo era o Normalistão do século XX.
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Não tem conta o número de conversas e discussões em que já entrei nas redes sociais para tentar explicar, mostrar, demonstrar que o numerador é muito mais importante que o denominador. Confesso que já tive alguns casos de sucesso, sobretudo quando lhes falo do Evangelho do Valor. Contudo, a minha mensagem continua a ser uma espécie de ruído imperceptível.
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Ontem de manhã muito cedo, em São João da Madeira, enquanto corria para fugir da chuva, ia ouvindo uma versão audio deste artigo "What Economists Get Wrong About Measuring Productivity" e, incrédulo, murmurei:
- Parece que leu o blogue!
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Por isso, convido-os a ler o artigo de Roger Martin, de 14 de Setembro último. Está lá tudo! Tudo o que pregamos aqui e nas PME há mais de 10 anos!!!
"As I read all the productivity analyses and commentary, including the recent one on these pages by the clever folks at the OECD, I am struck that in trying to understand productivity, economists exclusively look at only one half of the productivity equation — literally not figuratively. That impedes their ability to understand what is really going on with productivity in the modern economy.
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Most people instinctively think of productivity as a quotient:
...
So far, so reasonable, but when figuring out how to improve productivity, researchers almost always focus on the direct determinants of the denominator — they think about how to use technology, training, re-engineering of work processes, and automation in order to reduce the number of labor hours required to produce a given product or service.
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The numerator is entirely ignored as if the value of the output was fixed and immutable. However, as any student of strategy knows very well, the dollar value-added that a firm generates is directly proportional to what it can charge in the marketplace for its products or services. And that price is, in turn, highly sensitive to the competitive dynamics of the firm’s industry and the strategic decisions it makes. Given the basic dynamics of a quotient, changes to the numerator are equally important to results as changes to the denominator.[Moi ici: Aqui, sou mais radical do que Roger Martin e estribado em Rosiello, Marn, Simon e Dolan ouso escrever que o efeito do numerador é muito mais importante que o denominador]
Roger Martin vai ainda mais longe e vem corroborar o que aqui defendo há anos e anos, o problema não foi o euro, o problema foi o choque chinês. A tríade, como se pode ler aqui "Inside the Fight Over Productivity and Wages" continua a ignorar a variável China nas discussões da produtividade.


quinta-feira, abril 09, 2015

Acerca do choque de gestão

E volto ao editorial "Choque de gestão precisa-se" como referi aqui.
"E se a baixa produtividade dos trabalhadores portugueses for explicada pela falta de qualidade e também pela baixa produtividade dos empresários e gestores? Há estudos que apontam para essas explicações, assim como trabalhos baseados em casos. [Moi ici: Estudos? Para que são precisos estudos, basta aplicar a razão ao problema "Ainda a produtividade luxemburguesa vs a portuguesa". Já desde Abril de 2006, um tema deste blogue. Basta escolher o marcador produtividade, por exemplo "Salários e produtividade"]
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Em Portugal, tal como na Irlanda, os casos das multinacionais podem ser usados para considerar que a legislação laboral não prejudica a gestão, não impede níveis elevados de produtividade nem um ambiente de paz social. [Moi ici: É absurdo comparar a forma de competir e actuar das multinacionais com as formas de competir e actuar das PME. Quem aposta na flexibilidade e na rapidez? Quem aposta no volume e na escala? É como regressar ao vale do Elah e pensar que só se pode competir com Golias de igual para igual. BTW, Recordar "Não me admira". BTW, a legislação laboral alemã é mais rígida que a portuguesa, a legislação laboral polaca é menos rígida; com qual dos países competimos? ]
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Os salários baixos de quem ganha menos não são apenas explicados pela produtividade individual. Reflectem em parte a baixa produtividade de quem lidera. Mais educação e formação é a solução para este problema, [Moi ici: Chego a achar comovente a crença no pensamento analítico e na educação/formação para mudar as pessoas. Convido a ler "Nós fazemos as contas ao contrário". Como se os Muggles da academia tivessem o passe de mágica escondido numa folha de excel... Recordar "O dia da expiação"] medindo obviamente os resultados. Não basta ter dinheiro europeu e atirá-lo para dentro das associações empresariais. Disso já vimos e foi muito mau. Uma boa ideia em ano de eleições seria recuperar o "choque de gestão" com um plano sério de formação para a liderança de empresas." [Moi ici: Eu tenho uma proposta mais ousada, barata, simples e eficaz, "É deixá-las morrer", é deixar de proteger empresas, é deixar o mercado resolver o problema.]
BTW, talvez Zeinal Bava esteja disponível para dar formação.


quarta-feira, setembro 17, 2014

A habitual conversa da treta

Ainda não li o artigo mas o título é tão verdadeiro "Produtividade: todos falam mas ninguém sabe o que é":
"A produtividade tem sido apresentada como a chave para o aumento de salários em Portugal. Mas de que estamos a falar? Governo não responde e parceiros dizem que a discussão em concertação social tem sido "abstracta"."
Aquele "a discussão em concertação social tem sido "abstracta" é tão típico!!!
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Conversa de café, cheia de generalidades, palco de oratória e retórica... a conversa da treta, capaz de provar por a+b que a água do mar é doce e que é inconstitucional não o ser.
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Aqui no blogue, o marcador produtividade tem sido muito utilizado ao longo dos anos. Já sabem o que penso sobre trabalhar o numerador versus trabalhar o denominador.

sábado, maio 31, 2014

SMN e produtividade

Nos últimos tempos tenho lido e ouvido muitas referências ao salário mínimo nacional (SMN) e à necessidade de o aumentar.
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Na última semana apareceu uma palavra nova associada ao SMN, a palavra produtividade:
""O Governo quer com os parceiros sociais discutir um aumento do salário mínimo que não fique num só ano, que seja plurianual e que tenha também um conjunto de elementos ligados à produtividade. O aumento da produtividade é o critério mais justo do ponto de vista social mas também o que mais protege a criação de emprego e a competitividade da economia portuguesa", afirmou Pedro Mota Soares, à saída da primeira reunião de um grupo de trabalho sobre este assunto."
Há tantas conversas que se poderiam iniciar a partir daqui dado que tantos são os temas ...
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Se o Governo quer um acordo, então, temos de ser claros, temos de usar termos e definições que signifiquem o mesmo para todos, temos de ser profundos na análise, temos de ancorar as coisas em alicerces resistentes.
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Relacionar salário mínimo e produtividade faz sentido?
Aumentar a produtividade faz sentido?
Mais produtividade gera criação de emprego?
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Fiquemos por aqui, pois mais questões se podiam colocar...
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Aumentar a produtividade faz sentido?
O Paulo Peres há dias mandou-me este vídeo:

Percebo a mensagem do autor, até concordo com a mensagem do autor.
Algumas coisas que ele diz:
"In manufacturing you're trying to do everything the same ... standardization will decrease costs. But in service, tipicamente não é isso que queremos, não queremos tudo igual. Cada cliente é diferente e tem necessidades diferentes. Nesse caso queremos que a empresa personalize e não padronize.
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[Ao minuto 6:30] "Na produção de coisas, produtividade e satisfação dos clientes estão alinhadas. Nos serviços isso não acontece, as empresas têm de escolher entre produtividade e satisfação, quanto maior a produtividade menor a satisfação dos clientes"
Segundo ele, nos serviços não faz sentido aumentar a produtividade, pois vai prejudicar a satisfação e, por tabela, a rentabilidade!
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Engraçado é que aqui no blogue já por várias vezes manifestamos o nosso acordo com Dave Gray e o seu:
"Everything is Service!"
E também o seu:
"In the same way, a product can be considered as a physical manifestation of a service or set of services: a service avatar." 
Estão a ver a implicação disto?
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O Governo propõe: vamos relacionar produtividade com o SMN.
Entretanto, assistimos à implementação da service-dominant logic no mundo dos negócios que nos diz que tudo é serviço.
E assistimos a quem afirme que nos serviços, cuidado com o aumento da produtividade!!!
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Perdidos?
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Sinto-me como alguns deputados da oposição; a falar sobre um tema só revelando uma perspectiva e escondendo outras.
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Vamos pôr ordem na narrativa. Neste blogue defende-se o aumento da produtividade?
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Sim, claro que sim!!!
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Neste blogue concorda-se com a mensagem do vídeo? Sim, claro que sim!!!
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Como conciliar as duas posições? Definimos e medimos a produtividade de forma diferente!
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Outro artigo que o Paulo Peres me fez chegar foi "Innovation in Services: A Literature Review" de Rabeh Morrar e publicado em Abril passado pela Technology Innovation Management Review. Nele pode ler-se como não há formas estabelecidas de medir a produtividade nos serviços:
"the intangibility of service products hinder the measurement of the service output
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the link between innovation in services and economic variables such as productivity should be clarified. Indeed, in the service economy, the innovation gap is associated with a performance gap.
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Conceptually, there is no specific answer to the question of the degree and sign of the relationship between innovation in services and productivity, but it is related to the service specificities that “influence the definition and measurement of productivity”.
Mas se nos concentrarmos só na produção de coisas:

  • Em 1994 a produção de calçado quase chegou aos 110 milhões de pares;
  • Em 2012 a produção de calçado chegou aos 65 milhões de pares.
Em qual dos anos a produtividade foi mais alta?
  • Em 1994 a produção de calçado chegou quase aos 67 mil pares de sapatos por empresa
  • Em 2010 a produção de calçado chegou quase aos 45,5 mil pares de sapatos por empresa
Em qual dos anos a produtividade foi mais alta?
  • Em 1994 a produção de calçado por trabalhador foi um pouco acima dos 1840 pares
  • Em 2010 a produção de calçado por trabalhador quase chegou aos 1880 pares

Em qual dos anos a produtividade foi mais alta?
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Qual o erro desta abordagem?
Estamos a comparar quantidades, assumindo que os pares têm todos o mesmo valor...

  • Em 1994 o preço médio de um par de sapatos à saída de uma fábrica portuguesa foi de 14,88€
  • Em 2013 o preço médio de um par de sapatos à saída de uma fábrica portuguesa foi de 23,45€
O indicador produtividade foi criado num tempo em que a economia girava em torno de commodities:
Hoje, num mesmo sector de actividade temos empresas que podem produzir o mesmo output estatístico para o Fisco e; no entanto:
  • umas produzem commodities;
  • outras produzem produtos;
  • outras fornecem um serviço, ainda que embebido em produtos;
  • outras produzem experiências; e
  • outras ainda, transformam vidas.
Portanto, para relacionar produtividade com SMN, era importante que primeiro se definisse o que se entende por produtividade.
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BTW, o Governo podia ler o que Clayton Christensen e Jeremy Rifkin, por exemplo, escrevem sobre a relação entre aumento da produtividade e emprego... pelo menos emprego no sentido clássico, aquele que conta para as estatísticas. Estão a ver o destino dos portageiros da Brisa...
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BTW2, o que me tira do sério é os Governos aumentarem o SMN e, depois, torrarem dinheiro dos contribuintes para ajudar as empresas a contratar os trabalhadores que não conseguem contratar, pois estes estão demasiado caros para a riqueza que vão gerar.
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BTW3, claro que um bom exemplo do calibre do políticos a falar de produtividade é este: 
  • "Pires de Lima: "Com meia hora a mais aumentava 7% a produtividade"" (Dezembro de 2011);
  • "O ministro da Economia, António Pires de Lima, disse hoje que não quer que os trabalhadores do sector privado trabalhem mais horas para aumentar a produtividade em Portugal." (Maio de 2014)

Se quiserem um exemplo da oposição sobre o mesmo tema é pesquisar aqui no blogue as declarações de Vieira da Silva e Teixeira dos Santos, ao tempo ministros, na Autoeuropa sobre o gato-e-o-rato (salários e produtividade)


sábado, setembro 21, 2013

A alternativa (parte I)

Há anos que escrevo e falo sobre o jogo do "gato e do rato" (ver marcador), um é o salário e o outro é a produtividade.
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A tríade proclama sem pestanejar, sem hesitar:
"Só uma produtividade elevada permite salários mais elevados"
Só que neste mundo em que vivemos, em que a oferta é superior à procura, subir salários, diz a tríade:
"Salários mais elevados reduzem a competitividade"
Assim, o valor gerado pelo aumento da produtividade é quase todo capturado pelo cliente, depois pelo capital e, por fim, pelo trabalho.
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Claro que os salários podem aumentar, com o aumento da produtividade, basta reduzir o emprego! E é precisamente sobre isso que se escreve aqui "High Unemployment Makes Productivity A Job Destroyer":
"Productivity growth is essential to the well-being of workers. Sustained improvement in productivity is a necessary condition for growing wages and raising the standard of living. But high unemployment during the recession and weak recovery has turned productivity growth into a job-destroyer."
Como é que a tríade, o mainstream, explica a relação entre aumento de produtividade e aumento de desemprego?
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Estão a ver o filme? O que significa aumentar a produtividade para uma mente da tríade?
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Significa reduzir desperdício!
Significa reduzir tempo de ciclo!
Significa ser mais eficiente!
Significa que um trabalhador consegue produzir mais frigoríficos por unidade de tempo!!!
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Se um trabalhador consegue produzir mais frigoríficos por unidade de tempo, então, para a procura que tenho, já não preciso de ter 100 trabalhadores, basta-me ter 98, primeiro. Depois, 96. Depois, 95. Depois, ...
"Productivity growth is not the problem. As new research shows, workers have suffered because high unemployment has turned productivity increases into a substitute for job growth rather than a complement to it. The weak job market induces those who have jobs to live in fear, and their efforts to keep their jobs displace others."
Típico raciocínio da tríade... a produtividade aumenta porque os trabalhadores correm mais depressa, ou porque estão motivados pelo prazer ou pela dor.
"There is a logic that links productivity to job creation. If workers increase their individual output when demand for output is not growing, then fewer workers are needed. The reduced demand for labor puts pressure on workers and reinforces their willingness to do the work of those who have been laid off.
During periods and in places when the unemployment rate is high, workers are naturally more concerned that losing their jobs might result in long periods of unemployment. That is especially true in the current economic environment that can barely be labeled a recovery."
Este último sublinhado, em minha opinião, explica tudo isto:
"Nº trabalhadores" x "Output individual" = "Produção"
If "Procura" não sobe THEN "Produção" tem de se manter
If "Produção" tem de se manter AND "Output individual" aumenta THEN "Nº trabalhadores" desce 
Há ainda os que pensam que podem aumentar quota de mercado, reduzindo preços, os que não conhecem o Evangelho do Valor e julgam que a quota de mercado é mais importante que o lucro... esses, apesar do aumento do "Output individual" propõe que se reduzam salários ...
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Qual é a falha em todo este racional?
Há alternativa? Qual?

domingo, setembro 01, 2013

Ter memória... é um fardo

Julgo que os antigos tinham um ditado qualquer acerca de se ter memória e das implicações dessa posse.
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Primeiro - Pensem no que se pode dizer acerca da evolução das exportações portuguesas nos últimos anos após 2009. Lembrem-se o quanto elas têm crescido e, sobretudo, ganho quota de mercado.
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Segundo - Pensem na evolução das exportações portuguesas no período 2005-2010, "Portugal foi o 3º país da UE a 15 em que as exportações mais cresceram no período 2005-2010".
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Terceiro - Recuemos a Outubro de 2011 e recordemos a receita de Daniel Bessa para o aumento das exportações "Daniel Bessa sugere mais horas de trabalho sem aumento de salários":
"“Acho que nas empresas viradas para os mercados exteriores, para serem capazes de produzir e vender mais barato aqui e ali, era vantajoso e um estímulo ser-lhes dada a possibilidade de aumentar o horário de trabalho até uma hora a mais, por exemplo”, afirma à Renascença, adiantando que esse aumento horário não seria acompanhado de um aumento de salário."
Como se pudéssemos competir com a China nos custos... como se a exportação das PMEs se baseasse em commodities.
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Sempre a mesma treta!

sábado, março 02, 2013

Preço, valor e a Sildávia do Ocidente

Recordo esta imagem:

A maior parte da riqueza criada vai para salários...
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No entanto, esta imagem:

Diz-nos que os salários são baixos.
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Se os salários são baixos e, mesmo assim, já comem grande parte da riqueza gerada, então, a conclusão é óbvia:

Cada hora trabalhada gera muito pouca riqueza.
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Pergunta: se queremos um futuro onde empresas saudáveis, economia saudável e salários mais elevados se compatibilizem, onde temos de actuar?
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Na criação de riqueza!
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Num futuro desejado, cada hora trabalhada terá de gerar mais riqueza! Ou seja, cada hora trabalhada tem de contribuir para facilitar mais valor percepcionado, mais valor criado pelos clientes. Quanto mais valor for criado pelos clientes na sua vida com um artigo ou serviço que compram, mais elevado será o preço que estão dispostos a pagar por esse artigo ou serviço. E quanto mais elevado o preço, mais riqueza é criada, mais a produtividade sobe a sério e mais os salários podem subir sem entrar na guerra do gato e do rato (salários vs produtividade) (recordar Rosiello e Marn)
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Isto que acabei de escrever é desconhecido da maioria dos decisores, por isso, continuam presos a velhos modelos. Ontem, no Jornal de Negócios, apesar de Portugal ter um desempenho no crescimento das exportações superior ao alemão desde 2007, no artigo "Há indicadores que já dão como recuperada a competitividade perdida" pode ler-se a receita do BCE:
"Aquele que é talvez o principal indicador de competitividade do País, que considera a evolução do euro, dos custos do trabalho e da produtividade, já está em melhor nível que antes do euro. Ainda é pouco, dizem alguns. O Norte da Europa tem de ajudar, reforçam outros. As empresas têm mesmo de baixar preços, diz BCE."
Que idade terão os decisores do BCE? O que aprenderam e moldou e enformou os seus modelos mentais? Quando o aprenderam? E como era o mundo quando o aprenderam? Normalistão ou Estranhistão?
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Diga-se de passagem que o Rui Peres Jorge também não ajuda ao meter no mesmo texto corrido a competitividade e as exportações com:
" "reflecte a falta de concorrência na economia interna", e afirmando que "impõe-se que exista uma grande determinação para reduzir as margens de lucro excessivas resultantes de uma concorrência monopolista, em particular em sectores protegidos da concorrência internacional""
 O mesmo Jornal de Negócios, no mesmo dia, já não na página 4 mas na página 23 traz este artigo "Portugal vende sapatos 15% mais caros e reforça segundo lugar mundial" onde se pode ler:
"A indústria portuguesa de calçado nunca exportou tanto, tendo fechado o último ano acima dos 1,6 mil milhões de euros de vendas ao exterior. o que traduz um crescimento  de 4,5% em relação ao ano anterior. E reforçou a sua segunda posição no "ranking" dos sapatos mais caros do inundo, ao conseguir vender 71 milhões de pares de calçado a 22.71 euros o par, um preço 15% superior ao atingido em 2011."Conseguimos assim distanciarmos-nos ainda mais da França, cujo preço médio subiu 7%, e aproximarmos-nos mais da Itália, que apresentou um crescimento de 10%", adiantou ao Negócios Paulo Gonçalves, porta-voz da associação do sector (AP1CCAPS). A taxa de crescimento do preço médio do calçado é o dado mais relevante na validação da performance comparativa dos sapatos portugueses com os seus mais directos concorrentes."
Qual é o segredo?
""É o resultado da aposta do sector na valorização dos seus produtos. Por um lado, as empresas apresentam colecções cada vez mais sofisticadas, e, por outro lado, a aposta na valorização da imagem do calçado português atrai um conjunto de potenciais novos clientes", frisou Paulo Gonçalves."
Será que o calçado é uma indústria com barreiras que impeçam a entrada de concorrentes asiáticos?
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O futuro desejado, para um país pequeno como o nosso, conquista-se não à custa da venda de quantidade de artigos com baixo valor unitário, mas à custa de artigos com cada vez maior valor unitário. Não perceber isto é condenar-nos a ser uma Sildávia do Ocidente:

Os senhores do BCE querem o nosso mal? Não, simplesmente seguem uma cartilha que funcionava quando não havia globalização e quando o Normalistão era a norma.
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O mundo mudou e, como dizia Max Planck:

“A Ciência avança um funeral de cada vez”.
ou
“Uma verdade científica não triunfa porque convenceu seus oponentes e os fez ver a luz, mas sim porque os seus oponentes eventualmente morrem, e uma nova geração cresce familiarizada com ela.”
Só quando os decisores do BCE forem substituídos por novos decisores ... duvido que um Ananias lhes abra os olhos.

quinta-feira, dezembro 13, 2012

Parabéns ao ministro!!!!

Este discurso de Álvaro Santos Pereira "Santos Pereira: "Salários em Portugal são demasiado baixos"" deve pôr a cabeça dos eficientistas em água:
"Afirmando que “os salários em Portugal são demasiados baixos”, Santos Pereira justificou esta tendência pelo facto de no passado Portugal “não ter conseguido ter taxas de crescimento da produtividade a níveis que devíamos ter”."
Os eficientistas, como o Forum para a Competitividade estão prisioneiros do jogo do gato e do rato, ver aqui e sobretudo aqui, de onde recupero a ligação para este título "Salário mínimo sobe e país perde competitividade". Como é que os eficientistas ligam a mensagem do artigo do JN:
"Nas décadas e anos em que o salário mínimo nacional aumentou, Portugal perdeu competitividade. Esta é a conclusão de um estudo publicado pelo Ministério das Finanças" (Moi ici: Na altura em que o Ministério das Finanças era comandado pelo perigoso direitista Teixeira dos Santos - Janeiro de 2011)
Com esta passagem do discurso, da narrativa de Álvaro Santos Pereira:
“Não vamos ganhar competitividade pensado que vamos ter um país de salários baixos”, afirmou o ministro"
Poucos se interrogam porque poucos reflectem e vão ao fundo. O livro do Eclesiastes devia ter um capítulo em que em vez de vaidade devia estar "espuma", "É tudo espuma":
"Espuma  de espumas, diz o pregador, espuma de espumas! Tudo é espuma." 
 Parabéns ao ministro por atacar o mito do gato e do rato.

sexta-feira, outubro 19, 2012

Por que é que?

A propósito de "Produtividade ainda é o maior problema em Portugal":
""A produtividade é o problema base" do País, garante José Gonzaga Rosa, na Conferência Portugal - Desafios para 2013 que ontem se realizou em Lisboa. "Produzimos a um custo de 19 euros por hora, o que equivale a 57% da média europeia", acrescenta."
É sempre a mesma coisa... outro exemplo:
"o aumento deve-se ao facto de o ritmo de aumento do desemprego estar a ser superior ao ritmo de quebra no PIB. "Ou seja, estamos a fazer um bocado menos, mas ainda com menos pessoas""
Olhem para a fórmula da produtividade:

A primeira citação preocupa-se com o denominador, com os custos.
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A segunda citação justifica o aumento da produtividade da seguinte forma: o valor gerado baixou, mas os custos baixaram ainda mais.
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Por que é que num mundo em mudança acelerada as conferências económicas continuam a pensar à moda antiga? Por que é que só pensam no denominador? Por que é que partem do princípio que se mantém a "qualidade" do que se produz? Essa é a via, a médio prazo, da redução dos salários e do emprego.
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Por que é que nunca abordam a perspectiva do aumento da produtividade via aumento do valor? Não necessariamente por causa de um aumento da frequência de produção, mas por causa da subida na escala do valor.


segunda-feira, outubro 15, 2012

Perdidos e a espalhar a confusão

Na senda de um tema que temos aqui desenvolvido no blogue há vários anos, o da guerra entre o gato e o rato, o da eficácia versus a eficiência, o da massa versus a arte, este texto de Seth Godin "Redefining productivity".

"Lowering labor costs is the goal of the competitive industrialist, because in the short run, cutting wages increases productivity. (Moi ici: Basta procurar o marcador sobre a guerra do gato e do rato)
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This is a race to the bottom, (Moi ici: A única forma de aumentar a produtividade que os académicos e outros membros da tríade conhecem) with the goal of cutting costs as low as possible as your competitors work to do the same.
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The new high productivity calculation, though, is very different:
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Decide what you're going to do next, and then do it. Make good decisions about what's next and you thrive.
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Innovation drives the connection economy, not low cost.
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The decision about what to do next is even more important than the labor spent executing it. (Moi ici: Como repito sem nunca me cansar "O mais fácil é produzir, difícil é decidir o que produzir para quem)  A modern productive worker is someone who does a great job in figuring out what to do next."
Seth termina o artigo com a frase "the sort of high-productivity work we create today, but would make no sense at all just a generation ago", por isso, os académicos andam perdidos e a espalhar a confusão. Os modelos e fórmulas que têm ainda não estão adaptados à realidade desta geração.