terça-feira, outubro 20, 2015

No entretanto

Sinto que estes textos:
São um sintoma de duas forças:
  • Explosão câmbrica em sectores que ainda estão em turbulência, os habitats são demasiado jovens para que as espécies presentes tenham explorado os limites e tenham começado a competir entre si sem quartel, ainda se testam os limites do campo de possibilidades;
  • Dinheiro fácil e barato

"Going head-to-head with some of the world's biggest tech companies over 25 percent of a $4 burrito delivery sounds like insanity. It's exactly because Uber's ambition is so big, though, that it deems no opportunity too small.
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Uber Everything isn't just a name; it's also a strategy. And maybe it's just the start."
Mais tarde ou mais cedo alguém vai querer ver a cor do dinheiro de volta, vai ter que haver estratégia.
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Não acredito nisto "The Best Digital Strategists Don’t Think in Terms of Either/Or" para lá deste período de explosão câmbrica.
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BTW, sinto que isto também está relacionado "The Age of the Cockroach"

Tão século XX

"As with all mergers and acquisitions, the idea is that by joining forces the new bigger-and-better company can implement economies of scale and scope, as well as increasing its market share - all resulting in greater profits. But there are no guarantees.
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In major manufacturing operations economies of scale can be enormous, which means breweries will be streamlined to focus on the largest and most modern. Economies of scope - where it’s cheaper to produce a range of products together than individually - will be substantial too. In terms of personnel, for example, head offices and country management teams are likely to be integrated. Plus, the combined purchasing power of the new bigger company should also realize substantial savings.
...
But if drinkers are hoping the cost savings will be passed on to them I feel they will be sorely disappointed. They will probably find that choice will diminish as well. Indeed greater market power arising from mergers usually results in higher prices.
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It is also probable that product ranges will be reviewed and reduced to allow for greater investment in marketing the retained brands.
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The market is largely flat and in some regions is declining as other beverages such as wine continue to penetrate. Micro-brewers and their highly differentiated craft ales also continue to make progress. As a consequence cost, product and distribution rationalization become an attractive way of increasing shareholder returns."
Em lado nenhum se fala na relação com os clientes, em lado nenhum se fala sobre interacção, sobre co-criação de valor. Tudo aponta para esforços de redução do break-even e aumento do retorno para os accionistas.
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Tão século XX.
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Trechos retirados de "The Big Beer Merger Won’t Bring Down the Price of a Pint"

BTW, "Why Craft Brewers Are Winning the Beer Wars"


Quando a concorrência mete medo


- Como se aumenta a produtividade?
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Para poder responder a esta pergunta há que, primeiro, responder a uma outra pergunta:

- Como se mede a produtividade?

A produtividade é um rácio:
A produtividade pode ser aumentada por uma de três vias:

  1. aumentando o "valor originado";
  2. reduzindo os "custos incorridos"; ou
  3. uma mistura de 1 e 2
Acontece que a esmagadora maioria das pessoas só conhece uma via, a número 2. A via da redução dos custos, a via do aumento da eficiência, a via que tantas e tantas vezes degenera no eficientismo doentio.
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Quando só se conhece a via 2 a concorrência é vista desta forma:

Quando só se conhece a via 2 defende-se que a concorrência tem de parar, diz-se, que os governos têm de controlar o status-quo, que os tribunais têm de dar provimento a providências cautelares, ...
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Quando só se conhece a via 2 escrevem-se artigos como "A ineficiência da eficiência":
"Sem regulamentação e um muito necessário enquadramento legal global, as empresas continuarão a procurar persistentemente um nível de eficiência que lhes confira uma vantagem competitiva face às suas concorrentes, obrigando as demais a seguir o mesmo caminho. O ciclo reinicia-se num processo que, em termos teóricos, só terminará quando não for possível reduzir mais os custos salariais, ou seja, quando tendencialmente caminhem para zero."

Em Junho de 2010 escrevi o primeiro postal com o marcador "gato vs rato", em Janeiro de 2011 escrevi a parte VII.

McDonald's - As minhas cartas em cima da mesa (parte III)

Parte I e parte II.
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A parte I já dava para intuir algumas das afirmações deste texto "McDonald's franchisees say the brand is in a 'deep depression' and 'facing its final days'":
""The CEO is sowing the seeds of our demise. We are a quick-serve fast-food restaurant, not a fast casual like Five Guys or Chipotle.
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"The lack of consistent leadership from Oak Brook is frightening, we continue to jump from one failed initiative to another," one franchisee wrote.
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"The system is very lost at the moment," one franchisee wrote. "Our menu boards are still bloated, and we are still trying to be too many things to too many people.
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Franchisees also criticized the "Create Your Taste" program, which allows people to customize their burgers with premium ingredients.
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"They are throwing everything they can against the wall to see what will stick," one franchisee wrote."
 Recordar conceitos como mosaico de valor, como "activity-systems maps" ..., para chamar a atenção para o perigo destas derivas que não estão alinhadas com o ADN da empresa.

segunda-feira, outubro 19, 2015

Curiosidade do dia

Oh, wait... deflação não é sinónimo de desgraça como defende o mainstream!
"Country shows falling consumer prices can go hand in hand with steady growth, low unemployment
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It’s as close to an economic consensus as you can get: Deflation is bad for an economy, and central bankers should avoid it at all costs.
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Then there’s Switzerland, whose steady growth and rock-bottom unemployment is chipping away at that wisdom.
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At a time of lively global debate about low inflation and its ill effects, tiny Switzerland—with an economy 4% the size of the U.S.—offers a fascinating counterpoint, with some even pointing to what they call “good deflation.”
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Consumer prices in Switzerland have fallen on an annual basis for most of the past four years
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And yet evidence of deflation’s pernicious side effects—recession, weak employment, rising debt burdens—is pretty much nonexistent in Switzerland. Its economy is expected to expand this year and next, albeit slowly, in the 1% to 1.5% range. Unemployment was just 3.4% in September. Government debt is low.
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“Usually people associate deflation with depression,” said Charles Wyplosz, a professor at the Graduate Institute in Geneva. “In the Swiss case, the economy is doing OK.”
Trechos retirados de "Switzerland Offers Counterpoint on Deflation’s Ills"
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Por cá também vi mais efeitos positivos do que negativos com a deflação do ano passado.

"um atestado de desconhecimento da realidade" (parte IV)

Parte Iparte IIe parte III.
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No mesmo programa o ex-ministro Teixeira dos Santos também resolveu secundar uma posição que já ouvi Paulo Portas defender: muito preocupado com as importações convida as empresas portuguesas a trabalhar para as substituir (minuto X a Y)
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Vejamos o exemplo do mobiliário português.
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Em 2010 [Moi ici: Estava na moda nesse ano, como não recordar Nuno Melo, a ATP e os paquistaneses] uma das associações do sector tinha esta opinião "Indústria declara 'guerra' aos móveis oriundos da Ásia":
"A Associação das Indústrias da Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP) está preocupada com as crescentes importações de móveis do Sudeste asiático, em especial de países como a China, as Filipinas, a Tailândia e o Vietname. Apesar de a produção nacional ser excedentária em 300 milhões de euros, 67% do consumo nacional de mobiliário já é importado, 30% do qual do Sudeste asiático. Produto mais barato, reconhece o presidente da AIMMP, Fernando Rolin, mas que alerta para os custos na competitividade nacional: "Quanto mais móveis asiáticos se venderem, mais gente se põe no desemprego, que depois não terá dinheiro para comprar nem produtos chineses nem portugueses."
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A indústria do sector produziu 900 milhões de euros e exportou 690 milhões em 2009.
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"Para exportar 690 milhões de euros, andamos a vender uma cadeira no Japão, uma mesa em Singapura, um aparador no Egipto, um toucador e uma cama em Nova Iorque, um psiché em São Francisco e sabe-se lá o quê atrás do sol-posto e, em contrapartida, quando queremos vender mobiliário à loja do lado, onde quase podíamos entregar os móveis à cabeça, ela está cheia de produto asiático", diz o presidente da AIMMP. Rolin admite que em condições normais "esta seria uma situação que teríamos de resolver à custa da nossa competitividade", mas o problema, salienta, reside nas razões de base, que permitem "que o móvel asiático chegue ao retalhista, em média, 40% mais barato que o nacional"."
Depois disto o que é que aconteceu?


  • as exportações cresceram acima de 9% em 2011;
  • as exportações cresceram acima de 6% em 2012;
  • as exportações cresceram 11% em 2013;
  • as exportações cresceram 13% em 2014;
  • as exportações cresceram cerca de 12% nos primeiros 6 meses de 2015.

  • Acaso a indústria portuguesa de mobiliário pode competir, num mercado aberto, com os preços do mobiliário asiático?
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    E, no entanto:
    "A taxa de cobertura das exportações pelas importações do período em referência é de 235%."
    David não pode competir de igual para igual com Golias. David, o melhor que tem a fazer é esquecer Golias e os que preferem Golias e, concentrarem-se em quem prefere David, estejam eles onde estiverem.
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    E Teixeira dos Santos não sabe o que são Custos de oportunidade?

    Bem vindos ao Estranhistão!

    Em 2006, por aqui escrevia-se:
    Em 2008, intuíamos que o código tinha sido decifrado em "Cuidado":
    "Como temos referido aqui no blogue, vários sectores industriais estão a dar a volta, a micro economia está a resolver os seus problemas concretos.
    ...
    No limite pode acontecer, sair duma crise estrutural e cair numa crise conjuntural."[Moi ici: O desastre de 2009 foi o conjuntural que previa. BTW, reparar na última linha deste postal, o que escreviam os gurus na mesma altura... o anónimo da província marca outra vez ;-)))]
    Em 2009, chamávamos a atenção em "Desemprego: por que não investigar estes oásis?"

    Agora, até os laggards mais laggards descobrem:


    O que pensarão Daniel Bessa e André Macedo de tudo isto?

    A imagem

    A imagem escolhida para ilustrar este artigo "Três mil trabalhadores vão ser despedidos" é tão reveladora...
    "A Air France vai despedir cerca de mil trabalhadores em 2016, no âmbito do plano de reestruturação social da transportadora aérea, disse hoje o presidente do Conselho de Administração do grupo Air France-KLM, Alexandre de Juniac.
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    o plano de reestruturação social prevê que sejam despedidos no total 2.900 trabalhadores nos próximos dois anos."
    É a concorrência, traduzida na opção individual dos passageiros perante as várias possibilidades que têm pela sua frente, a pensar no melhor para a sua vida, que determina a cascata de causalidade que leva a este resultado.
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    É a mesma concorrência que leva este bastião ao mesmo tipo de medida:
    "O "The Guardian" vai avançar com "cortes editoriais profundos", na sequência de uma quebra significativa das vendas de publicidade. A saída de trabalhadores é "altamente provável", avançou a edição europeia do ‘site' Politico, que teve acesso a um documento em que David Pemsel, administrador-executivo do Guardian Media Group, admite que este poderá ser um dos períodos mais difíceis que o grupo enfrentou nos últimos anos. Para reduzir os custos, o grupo está a estudar cortes nas contratações, salários, viagens e noutras despesas."

    Acerca da cegueira

    Há fragmentos do mundo que me assaltam no dia-a-dia e me surpreendem porque ilustram como vejo, imagino, vislumbro um mundo muito diferente daquele que outros humanos vêem ou imaginam, enquanto partilhamos o mesmo mundo separados por tão poucos metros.
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    Uma dessas situações aconteceu em Outubro de 2011 e relatei-a em "Tão novos e já tão velhos..."
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    Aqui no blogue, nas conferências, nas empresas, muitas vezes uso três imagens em sequência:

    Esta é a minha alternativa, é a alternativa que vejo na cerveja artesanal, que vejo na Viarco, que vejo em tantas empresas de calçado, que vejo em tantas e tantas empresas que perceberam que só têm futuro se não forem pela via do eficientismo, se apostarem na ARTE, na diferenciação.
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    Dois artigos a elaborar sobre o tema:
    "Gone are the days of industrial thinking and mass marketing, of average products that everybody owns, of limited choices and saturated messages. We have entered the age of the ‘connection’ or ‘experience’ economy whereby being remarkable, new and unique is valued over repetitiveness or proven effectiveness.
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    With such a paradigm shift comes opportunities for artists and creatives.
    ...
    ‘It is almost as if the world has completely changed and the balance of power has shifted from the industrial powers, to the artist. It’s going to be a golden age for artists.’
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    ‘People aren’t buying things because they need things anymore – they are buying because there is a human connection that subconsciously they are yearning for. That’s the thing that art presents, and the value is only going to go up over time,’
    ...
    Where scale used to be important in an industrial economy, a connection economy is about finding a niche and communicating how you will enable connection. Put simply, niche trumps scale.
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    ‘Finding the small group of people who are just as weird as you are, that is what is important now,’" 

    Como é possível tanto atraso a perceber a Idade de Ouro para os designers?
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    O que é que a escola lhes ensina?
    "A cegueira que cega cerrando os olhos, não é a maior cegueira; a que cega deixando os olhos abertos, essa é a mais cega de todas."

    domingo, outubro 18, 2015

    Curiosidade do dia

    Há por aí algum birdwatcher que me ajude a identificar esta ave?
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    Julgo que se trata de uma ave exótica que terá fugido de alguma gaiola. Observada numa estrada secundária em Estarreja esta tarde.

    A cauda é muito desproporcionada em relação ao corpo

    Universidades privadas e estratégia

    Este texto inconclusivo "Privadas fazem descontos nas propinas para atrair candidatos" fez-me recuar a 2006, 2007 e a 2008 e a:

    E a 2011 ao Evangelho do Valor sobre o poder corrosivo dos descontos.
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    O título refere um vector, o desconto; o texto refere que esse vector não é relevante.
    "E se os últimos anos de crise foram difíceis para as instituições de ensino superior privadas, este ano, o cenário parece ter-se alterado: em média, a procura subiu cerca de 30% nestas instituições, que dizem apostar na qualidade dos seus alunos."
    A ser verdade seria interessante perceber o porquê, a causalidade. Sabendo qual a causalidade poderia estabelecer-se, poderia tomar consciência de uma vantagem competitiva e poderia construir-se uma estratégia deliberada.
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    Em que escolas, em que cursos, em que localidades, qual o perfil dos alunos...

    "um atestado de desconhecimento da realidade" (parte III)

    Parte I e parte II.
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    Na parte II o Bruno Fonseca fez um comentário acerca das diferenças entre o calçado e o têxtil:
    "concordo, mas temos que ter em atenção que o calçado é um sector sui generis. é um mercado onde, com relativa facilidade, se consegue criar uma marca, ou pelo menos, consumindo muito menos recursos quando comparando com o têxtil por exemplo. nem há comparação.
    ...
    tendo uma indústria forte, não conseguimos criar e desenvolver marcas, e uma grande parte da indústria está concentrada e sobrevive graças a salários baixos."
    Infelizmente o calçado não tem assim tantas marcas bem sucedidas quanto isso, ainda estão a fazer o seu caminho. O sector faz uma boa promoção da dinâmica mas há que não esquecer que muitas marcas acabam por não ganhar tracção e fecham ao fim de 3/4 anos. Além disso, mesmo as que vingam acabam por não representar a maioria da produção. Como dizia um administrador que tive no final dos anos 80, adaptando para o calçado, o private label dá-nos o pão com manteiga, a marca própria permite acrescentar o fiambre.
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    Quando escrevo sobre o desconhecimento da realidade, escrevo sobre a ilusão de que as PME industriais podem praticar preços mais altos no mercado nacional do que nos mercados externos. O meu ponto é que o mercado interno não tem dimensão nem poder de compra para comprar os mesmos produtos que são exportados ao preço a que são exportados.
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    O meu ponto é que o "bicicletas", como marxista (tão muggle como o Kevin O'Leary), acredita em todos os modelos económicos forjados no século XX e baseados no volume, na escala, na eficiência, no custo. Por isso, acrescentei a tabela dos custos de mão-de-obra.
    O "bicicletas" ainda está no campeonato da extracção de valor... recordar "Temos de actuar na originação do valor, não na extração do valor."

    A experiência, o JTBD

    Interessante este trecho acerca do JTBD de um charuto premium:
    “The premium cigar world is about pleasure, [smoking a Davidoff] is a ceremony, an excuse or a catalyst for taking time out,” explains Hoejsgaard before adding, “it’s a degustation, like wine.” 
    O produto, carregado de magia subjectiva, é contratado para realizar um trabalho, proporcionar uma experiência.
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    E a sua PME, aposta na magia ou também vai na conversa dos muggles?
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    Trecho retirado de "Davidoff's Global Dominance And The Future Of The Luxury Cigar Market As Cuba Opens Up"

    Mongo na medicina / farmácia

    Em todo o lado esta explosão câmbrica de opções, de individualização, até na medicina.
    Como será a customização do medicamento? 
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    Haverá uma base de produção industrializada e haverá uma fase de afinação e personalização. Quem e como será feita?

    BTW, estranho que esta tendência para a medicina de precisão não apareça nesta lista "The Future Of Aging Care: Today's 10 Biggest Innovations Driving Change"

    sábado, outubro 17, 2015

    Curiosidade do dia

    Para consulta futura:

    Value-based pricing e B2B

    "The value perception in B2B is often driven by factors that are different from those in B2C. This is because the products supplied in B2B are normally intermediate elements in a value chain from which a final product is produced the consumer. Therefore, in B2B, customers will assess a product in terms of the value it can add to their value chain. As a result, buying decisions in B2B are more objective and fact-based. Product specifications are often measurable, and customers will try to translate them into the value they can add to their value chain.
    ...
    But how to communicate value in B2B, where the product is an element in the customer value chain? Customers will try to compare a product with its competitors, evaluating the potential savings or additional values they can achieve. Therefore, you need to evaluate the contribution of your product to the customer’s value chain. Cost of ownership analysis and ROI are therefore critical in B2B price negotiations. ... When margins are rich, incentives based on growth are appropriate, but in cost plus, margins are small. In this case, a company’s sales incentives should be based on margin. If its sells at a 10 per cent margin on average and, thanks to negotiation, a sales representative is able to achieve a 1 per cent higher price, the company’s margin increases by 10 per cent, and this achievement can be rewarded."

    Trechos retirados de "Optimal pricing models in B2B organizations" publicado em Journal of Revenue and Pricing Management Vol. 11, 1, 35–39 (2012).

    Cuidado com os muggles (parte II)

    Parte I.
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    E volto ao artigo do Expresso, agora por causa da Viarco.

    O tema não é novo, já o abordámos em "Nós fazemos as contas ao contrário" e tem tudo a ver com o value-based pricing
    ""Na indústria o que acontece é o seguinte: apuramos um custo e percebemos qual vai ser a margem de lucro. [Moi ici: O modelo cost plus pricing, a fórmula dos muggles que leva inexoravelmente à radioclubização] Quando fazemos o processo ao contrário, como nós, que queremos perceber qual o valor perceptível do produto, acontece uma coisa muito interessante: temos a ideia, desenvolvemos o produto, pedimos para o experimentarem (temos uma rede muito generosa de artistas com quem trabalhamos) e perguntamos quanto estariam dispostos a pagar. Fazemos as nossas contas a partir daí. [Moi ici: O modelo seguido por quem acredita e potencia a magia, o value-based pricing] Normalmente, ficamos com uma margem de mais de 20% ou 30%, o que é muito, muito mais interessante", [Moi ici: Como eu o entendo, alguém que conhece o Evangelho do Valor] explica. E desta forma deixa de competir diretamente nos lápis de cor com multinacionais como a Faber-Castell, a  Staedtler, a Caran d'Ache, "o chinês, o indiano, o paquistanês"."
    No postal de 2014 que referimos acima vejam a surpresa dos muggles com esta abordagem ao preço e com a produtividade que não é conseguida à custa do eficientismo.

    Radioclubização parte III (outra vez Mongo e mais do que a cerveja)

    Parte I e parte II.
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    Começámos a parte I com:
    "Millennials would rather support small, local brewers, even if they have to spend a little more money,"[Moi ici: Porquê? Ver a parte II e o "just enough"]
    Anteriormente em "O que a Unicer estará a fazer" escrevemos:
    "O que a Unicer estará a fazer é a livrar-se das interrupções para produzir pequenas séries e que disrupcionam o modelo das bolas azuis da figura.
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    Não sei se é a melhor opção estratégica, contudo; é perfeitamente defensável. Claro que isto abre o flanco a futuras marcas "artesanais" de sumos e refrigerantes."
    Quando escrevi isto estava a pensar em abstracto, estava longe de descobrir, via "Eating the Big Fish" de Adam Morgan, um exemplo concreto, a marca inglesa innocent.
    Fundada por 3 amadores em Inglaterra em 1999, em 2014 era já a bebida fria mais vendida na Alemanha, Áustria e Dinamarca. (Marca entretanto comprada pela Coca-Cola).
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    Entretanto descubro isto "California distilleries get into spirits of handcrafting":
    "In the midst of a Renaissance for carefully crafted spirits, artisan distilleries like Greenbar have boomed in California and across the nation — there are now nearly 800, up from only about a dozen in 2000.
    ...
    These pricier artisan spirits are a growing niche of the $60-billion U.S. spirits market, with 2% of sales last year, according to the American Craft Spirits Assn. The volume of craft spirits produced has nearly doubled in the last two years, the trade group said.
    ...
    "There will be an explosion of more and more small distillers," said Lance Winters, master distiller at Alameda, Calif.-based St. George Spirits, the first craft distillery in the nation. "Hopefully because of the fact that there will be a lot of competition, people will be really working hard to differentiate themselves from one another.""[Moi ici: Interessante e lógico que o factor competitivo aqui não é o preço mais baixo]
    Mais uma série de exemplos sobre o Estranhistão em que nos estamos a entranhar, um mundo económico com lógicas competitivas diferentes, capazes de fazer encalhar qualquer membro da tríade.
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    Enquanto as marcas velhas continuam focadas numa vantagem competitiva baseada na eficiência, vão surgindo cada vez mais nichos para servir os que procuram uma experiência diferenciada.


    sexta-feira, outubro 16, 2015

    Curiosidade do dia

    Este tweet do Hélder levou-me até um artigo muito interessante:
    Recomendo a sua leitura. Game changer.

    Cuidado com os muggles!


    Este artigo, "Empresas familiares que sobrevivem: os casos da Viarco e da Ach Brito", publicado no site do semanário Expresso tem matéria para 3 postais. Vamos ao primeiro.
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    Quando salientamos aqui as vantagens em trabalhar com o anónimo da província pode achar que é treta. Como é que um anónimo da província pode fazer melhor que a malta da cidade grande, que a malta das empresas grandes? O tipo nem usa gravata!
    "Estudava Marketing, "tinha vida boa", passeava, mas, confrontado com a vontade do tio em alienar a sua participação, Aquiles e a irmã Sónia (que, em conjunto, detinham 50% da Ach Brito) decidiram avançar. "Na altura ganhou o coração e não a cabeça. Foi uma atitude emocional. É verdade que gostava de ter feito outras coisas. Não as fiz e não é agora que as vou fazer. Mas consegui provar que era possível fazer algo de uma marca portuguesa, fabricante de produtos tradicionais, numa altura em que se dizia que era preciso destruir a produção." Aliás, o empresário lembra-se bem de um relatório encomendado pela empresa que aconselhava a Ach Brito a encerrar ou, em alternativa, a produzir em massa para outras marcas. "Se tivéssemos feito isso, penso que nos teríamos endividado imenso e já cá não estávamos."" 
    Recordar o que recentemente escrevemos em "Do concreto para o abstracto e não o contrário". Nós não partimos do abstracto, não partimos de análises de mercado. Pensamos como David, ajudamos a procurar e a construir o caminho menos percorrido. Não partimos de folhas em branco, não somos muggles que só conhecem o eficientismo... reparem, qual a alternativa proposta ao deitar a toalha ao chão? A aposta na produção em massa para outras marcas, a aposta no plankton... um clássico dos muggles!!!
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    Uns apostam na concorrência perfeita, nós somos uns desavergonhados promotores da concorrência imperfeita.
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    BTW, após a leitura do trecho salientado e da reacção do empresário ao relatório, percebi porque é que ele tinha conseguido ver para lá do relatório, para lá da folha de cálculo.
    "apesar de o falecimento do pai quando tinha apenas 10 anos ter ditado uma separação forçada do dia a dia na fábrica. A gestão da Ach Brito, depois da posterior morte do avô de Aquiles, ficou a cargo do tio."
    Especulo que ele só foi capaz de se distanciar do relatório porque viveu vários anos distanciado da fábrica. Foi esse distanciamento que permitiu a tal Ingenuidade Inteligente.

    Propaganda libertária

    Estamos sempre a ouvir a propaganda: os humanos se não tiverem chefes, se não tiverem líderes, se não tiverem pastores não se governam, e nesse caso seria o caos, seria o fim do mundo, a anarquia.
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    Por isso, nem sei como deixam passar este tipo de notícias subversivas para os jornais, "Should we scrap every traffic light in Britain? After 42 lights at one of Britain's most complicated junctions fail and flow improves critics call for a signal free system":
    "Something very strange has been happening in Beverley, East Yorkshire. Last week, the 42 traffic lights at the busy Grovehill junction in the east of the town stopped working.
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    The reason had something to do with the bewildering nest of wires in a control box, and so the repair took a few days.
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    You would have thought that chaos and lengthy tailbacks would have ensued. After all, the lights manage 20 different traffic flows and nine pedestrian crossings in a fiendishly complex pattern that’s become notorious as one of Britain’s most complicated junctions.
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    Doubtless, there must have been more than a few accidents — shunts, head-on collisions, perhaps the odd pedestrian sprawled on a bonnet. However, much to the bewilderment of traffic experts, the absence of the lights had the very opposite effect.
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    The traffic flowed far more quickly and smoothly. And what’s more, there were no accidents."
    Como não recordar o filme em "O vector tempo não é irrelevante"

    Radioclubização parte II

    Em sintonia com o postal de ontem "Consequências da radioclubização ou os muggles à solta":
    "Built on Rock...
    There are, broadly speaking, two kinds of rock available to us: a brand (or company) truth and/or a product truth.
    ...
    Knowing that our brand is different - better than the Establishment brand we are taking on in some key dimension - affects not simply our own performance and attitude, but the relationship with our customers. Brand Leaders operate a ‘‘just enough’’ strategy. Just enough mushrooms in the sauce, just enough thoughtfulness in the ergonomics of the bottle, just enough quality control in the product sourcing, just enough courtesy at the check-in desk—and only one packet of peanuts per passenger per flight. There is a story about Henry Ford that dramatizes the ‘‘just enough’’ philosophy nicely: Ford used to send his people out to scour the scrap heaps of America looking for old Ford engines. Dragging them back to Detroit, they would look for the parts that hadn’t worn out and then downgrade the specifications to save money.
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    Yet while ‘‘just enough’’ is at some level simply good commercial sense for a Brand Leader, it creates an opportunity for the Challenger to create product enthusiasm, not just product satisfaction. Robin Wight has observed that brands that enjoy an iconic status in consumers’ minds are not so much engineered (in the broadest sense of the word) as overengineered: They offer not just product performance but product overperformance - that is, they honor the brand promise by offering the consumer in their product dramatically superior performance on some dimension chosen by the Challenger."
    E para temperar as interpretações sobre o que pode ser esta "overperformance:
    "Many of the Challengers we are discussing reflect Wight’s concept of overperformance - indeed, they parade it. They are more deliberately extreme than the Brand Leader not simply in the emotion and intensity of the way they talk about themselves, but also in the product performance they offer.
    ...
    Does overperformance mean premium, or quality? Not necessarily.
    ...
    (Even Southwest Airlines, in its own way, overperforms—it overperforms on enthusiasm and friendliness. It may not be to everyone’s taste, but it is very engaging to those who like it.)
    ...
    Its other value is to create supreme self-belief and conviction within the company, and this is something that can be detected by those outside the company. Overperformance shows the company really cares about the product, which in turn means it is committed to delivering on the brand promise. And it gives the company the confidence to be a Lighthouse."
    Trechos retirados de "Eating the big fish : how challenger brands can compete against brand leaders" de Adam Morgan.

    "percentagem versus ppm"

    Não ponho em causa a qualidade da água da torneira referida em "Água da torneira com níveis de qualidade próximos da perfeição".
    .
    Ainda me lembro de ter recebido na cozinha um vendedor de filtros de água que queria demonstrar a falta de qualidade da água da torneira em Estarreja. Deixei-o falar e fazer as experiências que quis. Depois, juro que foi mesmo assim, o engenheiro químico da província, com especialização em Poluição (que era uma especialização mais de 50% sobre a qualidade das águas), levou-o a concluir que a água era boa. Confesso que os resultados até a mim me surpreenderam, a água era ainda melhor do que eu pensava.
    .
    O que é que ponho em causa naquele texto?
    "A qualidade da água da torneira continua elevada, com níveis "próximos da perfeição", nos 98,4% e o incumprimento é "baixíssimo", ficando em 1,5%, segundo um responsável da entidade reguladora, a ERSAR.
    ...
    o indicador água segura voltou a subir mais um bocadinho, dos 98,2% de 2013 passamos para os 98,4% em 2014", disse o director do Departamento da Qualidade da Água da ERSAR.
    ...
    "Portanto, há valores baixíssimos que estão abaixo de 1,5% de incumprimento no país que continuam a precisar de pequenas afinações"
    Quantas torneiras há em Portugal?
    .
    Vamos admitir que são 10 milhões.
    .
    Quantas torneiras são afectadas por aquele incumprimento "baixíssimo", até diria "poucochinho" de 1,5%?
    .
    .
    .
    Se não me enganei nas contas são "só" 150 mil torneiras a incumprir...
    .
    Quando se trabalha com números grandes é incorrecto trabalhar com percentagens. O que é que usa a indústria automóvel?
    .
    Recomendo a leitura de "Unidades que enganam" de Agosto de 2009

    quinta-feira, outubro 15, 2015

    Curiosidade do dia

    Ainda me lembro de ouvir Ana Sá Lopes entusiasmada com a decisão do BCE começar com o QE:

    Imagem retirada de "My diamond shoes are too tight, the QE story"

    Para reflexão


    Excelente regra:
    "A rule-of-thumb I give managers is that if your sustainability performance indicators only improve when customers use your product less often, it means you’re in trouble. Cigarette and alcohol companies, for example, now report the number of kids that don’t smoke or drink thanks to their public campaigns. Junk food purveyors improve their sustainability performance by shrinking the serving size. Sustainable paper products perform better the less virgin pulp they contain. And so on. A business model that meets ever-higher standards of sustainability only when customers reduce consumption of the product is by definition unsustainable."
    Trecho retirado de "The Changing Business Climate Is Causing Product Die-Offs"

    Consequências da radioclubização ou os muggles à solta

    No postal anterior terminámos com a citação:
    "Millennials would rather support small, local brewers, even if they have to spend a little more money,"
    Os muggles não só não acreditam na magia como a destroem quando ela existe.
    .
    Ao longo dos anos através dos marcadores:
    • radio clube;
    • hollowing
    • centromarca
    E em postais como:
    Fomos aqui testemunhando a destruição de valor provocada por muggles à frente de empresas que um dia tiveram e faziam magia, através daquilo a que metaforicamente chamo de "hollowing" e de "radioclubização". Quando uma marca, outrora poderosa e querida pelos seus clientes ou aspirantes a isso, optou algures por deixar de apostar na criação de magia, de interacção, de co-criação de valor e começou a dar prioridade à redução de custos, começou a descurar o cuidado naquilo que a fazia diferente. Com o tempo, a erosão acaba por transformar essa marca numa espécie de aristocrata arruinado, habituado a boa-vida mas já sem os recursos para a suportar. Assim, acaba por ser uma carapaça enganadora por fora e oca por dentro.
    .
    Já aqui referi um americano, Chamberlin, um verdadeiro promotor da concorrência perfeita. O académico era tão defensor da concorrência perfeita que advogava o fim de todos os monopólios, mesmo dos informais. As empresas não deveriam, segundo ele, poder usar marca comercial ou outras ferramentas de marketing e de identidade que permitissem criar diferenciação. A diferenciação cria um campo de possibilidades que se alimenta e gera novas formas de promover a concorrência imperfeita e os tais monopólios informais.
    .
    Já aqui referi por várias vezes o marxianismo, a crença de que o valor de um produto reside no trabalho que nele foi incorporado até ao momento da transacção. A maior parte das empresas segue este pensamento, ainda que não o reconheça, quando, por exemplo, pratica o cost+plus pricing.
    .
    Sem magia, os clientes concentram-se nas funcionalidades do produto e aí, começam a interrogar-se sobre se o preço que pagam é justo face ao valor que recebem...
    .
    Sintomática e previsível esta evolução "An emerging trend in retail should scare everyone from Michael Kors to Macy's"
    "Consumers are increasingly questioning the prices behind the products they buy — and this trend is challenging some of retail's biggest heavyweights.
    .
    Retail startup Everlane, which claims to offer better prices on clothing, encourages consumers not to shell out at department and specialty mall stores.
    .
    "Know your factories. Know your costs. Always ask why," the company's "about" page reads."

    Isto faz-me recordar este postal "O marxianismo entranhado (parte II)" de Outubro de 2009 mas tão actual:
    ""The relative values of commodities are, therefore, determined by the respective quantities or amounts of labour, worked up, realized, fixed in them"... à posteriori até sinto algum embaraço... esta visão marxiana ignora o cliente, o consumidor, que é quem atribui o valor.
    .
    O valor não é algo de intrínseco às coisas, aos produtos e não tem nada a ver com a quantidade de trabalho que foi necessária para a sua produção. O valor é atribuído por quem compra."
    Qual a alternativa que proponho às PME?
    .
    .
    .
    Que pensem nisto: "Value it's a feeling, not a calculation"
    .
    Que pensem nisto: O valor é uma classificação subjectiva, muito pessoal, que alguém, o cliente, atribui não a um produto, mas à experiência que esse produto permitiu sensoriar.
    .
    Os muggles apoucam, erosionam a experiência e acabam por remeter a questão do preço para o lado objectivo, para o lado matemático e aí é uma corrida para o fundo... tablets a $50 USD quem vai ter medo? Quem vai aproveitar?
    .
    Que viajem é que a sua PME pode iniciar para se entranhar de magia, para apostar no valor durante o uso e não só no valor na transacção?
    .
    Fará sentido co-construirmos juntos esse caminho?

    Mongo na cerveja

    Um texto tão ao jeito deste blogue. Um texto sobre Mongo e o triunfo dos artesãos sobre os eficientistas "Why Craft Brewers Are Winning the Beer Wars".
    "While Anheuser-Busch InBev's proposed $104 billion acquisition of SABMiller would undeniably create a behemoth in the highly consolidated beer market, the potential merger can also be viewed as a victory for the craft beer industry. Why? The move comes as both companies have lost market share to craft brewers. Here's why craft breweries have an edge over the big guys."
    O consumo de cerveja artesanal continua a crescer de forma robusta
    "Craft brewers accounted for 11 percent of U.S. beer production volume in 2014, up from 5 percent in 2010,
    ...
    Craft brewers also grew annual sales to $19.6 billion last year, a 22 percent increase between 2013 and 2014.
    .
    What accounts for this growth? Millennials would rather support small, local brewers, even if they have to spend a little more money,"


    "um atestado de desconhecimento da realidade" (parte II)

    Parte I.
    .
    A APICCAPS tem o cuidado de preparar e disponibilizar rapidamente informação estatística sobre o sector do calçado.

    Se consultarmos o último World Footwear Yearbok, o de 2015, podemos encontrar, relativamente a Portugal, esta tabela:
    Qual o preço médio de um par de sapatos fabricado em Portugal em 2014 e exportado?
    .
    $31.88 USD
    .
    Qual o preço médio de um par de sapatos importado por Portugal em 2014?
    .
    $11.09 USD
    .
    Quem acredita que Portugal exporta mais porque baixa preços e tem salários baixos ainda tem na cabeça um modelo mental da economia mundial onde a Ásia e a África não entravam como produtoras.
    .
    Quem está a par da realidade da economia globalizada conhece estes números:

    E percebe logo como a afirmação do doutorado não resiste a um teste simples de confronto com a realidade elementar dos factos.


    quarta-feira, outubro 14, 2015

    Curiosidade do dia

    "de rir ouvir hoje a Helena Garrido a falar.
    disse que, basicamente, os portugueses têm baixa produtividade apesar de trabalharem imenso, porque quase "distraiam-se" com tantas horas.
    .
    deu o caso de França vs USA, onde nos USA trabalhavam mais horas mas com uma produtividade menor que os franceses, e portanto, grosso modo, a solução seria os portugueses trabalharem menos horas mas mais focados.
    .
    questões como o tipo de produtos fabricados, preços, tecnologia, tudo isso passou ao lado.
    .
    como é possível? ainda para mais quando falamos de alguém que é directora de um jornal económico?"
    Sem comentários
    .
    Texto recebido hoje aqui no blogue na caixa de comentários.

    Setters vs Takers


    Imagem retirada de "5 Differences Between Price Setters and Price Takers"

    "O que a Unicer estará a fazer"

    A propósito deste trecho:
    "“Uma vez que a Unicer assume que não está a sair do mercado dos sumos e dos refrigerantes não faz sentido nenhum entregar essa operação a um concorrente. O que os trabalhadores disseram também foi que, dada a reestruturação que tem vindo a ser feita desde 2006, não faz sentido nenhum a dispensa de 70 trabalhadores em Leça do Balio e por isso se opõem totalmente a esta decisão”"
    Para uma empresa mergulhada no modelo do custo mais baixo, na competição pelo preço, para aumentar a produtividade, no limite chega-se a este ponto o outsourcing da produção. A empresa confia na capacidade de dominar o acesso às prateleiras e desvaloriza a capacidade produtiva. Presumo que estejam a fazer o outsourcing das marcas que vendem menos e que provocam distúrbios na produção. Recordar o esquema de Terry Hill:

    O que a Unicer estará a fazer é a livrar-se das interrupções para produzir pequenas séries e que disrupcionam o modelo das bolas azuis da figura.
    .
    Não sei se é a melhor opção estratégica, contudo; é perfeitamente defensável. Claro que isto abre o flanco a futuras marcas "artesanais" de sumos e refrigerantes.


    Trecho retirado de "Trabalhadores da Unicer procuram soluções contra despedimentos"

    Ameaças à farmácia do futuro

    Há anos que reflicto e escrevo sobre o futuro da farmácia.
    .
    Ainda recentemente escrevi aqui:
    O meu conselho passa por um reforço da vertente de serviço, de interacção, de co-criação de valor entre a farmácia e os seus clientes.
    .
    A alternativa é tentar competir pelo preço mais baixo, apostando na redução de custos e no eficientismo. Até que entram os concorrentes "chineses", aqueles que, sem cometer ilegalidades, apresentam uma oferta alternativa a um preço imbatível baseado num modelo de negócio diferente.
    .
    A legislação em Portugal pode ser diferente da americana mas é uma questão de tempo, a pressão sobre os depauperados cofres do Estado com a evolução demográfica e a pressão de companhias de seguros trans-europeias talvez levem a isto "Will CVS And Walgreens Go The Way Of Blockbuster Or Netflix?":
    "One recent savings trend has been a push by major insurance companies to divert members from going to brick and mortar pharmacies like CVS Health Corporation (CVS) and Walgreens Boots Alliance , Inc. (WBA) and place them into mail-order pharmacies. By having drugs delivered to doorsteps instead of picked up at pharmacies, insurance companies can leverage their buying power and exercise even better control over what brands of drugs are utilized through a single, preferred distribution network. This could result in hundreds of millions of dollars in savings, cutting out countless middlemen who all play transactional roles in a fractured healthcare system. It could also tear the foundations of traditional brick and mortar pharmacies around the nation.
    ...
    Insurance companies have long tried to convert as many members as possible to the mail order model to achieve true scale, but many people today still prefer the brick and mortar experience, even though it’s outdated and inefficient."

    "um atestado de desconhecimento da realidade"

    Ontem à noite vi uma parte do programa "Números do Dinheiro" na nova RTP3.
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    Recomendo a visualização do programa entre os minutos 17 e 18 aqui, para ver como um teórico envia levianamente para o caixote do lixo a importância das exportações portuguesas.
    .
    Como é que o investigador Ricardo Mamede, doutorado em Economia, explica o sucesso das exportações portuguesas?
    "Como é que se resolve o desafio das exportações?
    Baixam-se os preços e os salários"
    Por duas vezes o doutorado afirma que as exportações são feitas à custa da redução dos preços e salários. Outro encalhado que aprendeu as regras da competição no século XX e que ficará agarrado a elas até ao fim da vida, contaminando muitos outros pelo caminho.
    .
    Este anónimo da província não pode estar mais em desacordo, por exemplo, em Setembro último escrevi:
    "As empresas nacionais têm de continuar a apostar nas exportações mas não por causa da baixa procura interna.
    .
    O nível de vida em Portugal não é alto. Por isso, os portugueses optam por comprar bens transaccionáveis baratos. Esses bens entram em Portugal, importados da Ásia a preços muito baixos, e levam a melhor sobre o "Made in Portugal". Por exemplo, Portugal exporta sapatos caros e importa sapatos asiáticos para consumo interno. Portugal exporta mobiliário caro e importa mobiliário asiático para consumo interno."
    É um atestado de desconhecimento da realidade, sistematicamente as empresas portuguesas não conseguem competir, têm dificuldades em competir no mercado interno com os concorrentes asiáticos ou do leste europeu que conseguem colocar aqui produtos muito mais baratos. Recomendo ao doutorado que compare:

    • preço médio das exportações de calçado com o preço médio das importações de calçado;
    • preço médio das exportações de vestuário com o preço médio das importações de vestuário;
    • preço médio das exportações de mobiliário com o preço médio das importações de mobiliário;
    • ...

    Entretanto, depois de ouvir Paes Mamede tive a resposta à pergunta encerrada na aparente contradição que referi aqui:
    "Já repararam que os mais sonoros defensores de que o futuro da economia portuguesa não passa por salários baixos, são os mais sonoros defensores da saída de Portugal do euro.
    .
    Por que será?"
    Porque querem "proíbir" sem proíbir as importações e estão-se a marimbar para as exportações. Querem fechar o país.
    .

    terça-feira, outubro 13, 2015

    Curiosidade do dia


    Quando é que vão aprender que independência não rima bem com endividamento?
    .
    Imagem retirada de "What Country has the Most Unsustainable Debt? (hint: not Greece)"

    "these patterns of disruption actually create opportunity"

    "Deloitte’s Center for the Edge research has identified three broad groupings of disruption. One focuses on the supply side in terms of fragmenting the vendors and producers that customers deal with; where scale was once the key driver of success, increasingly there are diseconomies of scale in certain areas. [Moi ici: Um escândalo, uma blasfémia para os encalhados no que aprenderam quando tinham 20 anos e o século XX económico, o Normalistão, imperava]
    .
    The second category concerns strengthening the power of the customer, helping customers to choose and co-create the best options for themselves. “One of the implications of the increasing power of customers is that they are no longer willing to settle for the mass-market item produced for everybody. Instead, they want something tailored to their specific need and context—and, in many cases, a relationship with the provider of that product or service,” [Moi ici: Outro ponto corrente neste blogue, a co-criação, a customização, a interacção]
    ...
    The third group of disruption is often triggered by inflated profit pools, and takes shape in the form of approaches to pricing and ways of designing and configuring products. The marketplace is increasingly driven by powerful customers, and they want the best product at the lowest price feasible. “Anytime a profit pool is accumulating in a market or industry that isn’t providing direct value to the customer, it sits vulnerable to attack,” [Moi ici: Outro tema, o pricing]
    ...
    The inability to manage those risks is a contributor to the increasing topple rate. At the same time, “these patterns of disruption actually create opportunity: They are going to be someone’s business. Organizations are leveraging these opportunities and using them as building blocks for new and more effective businesses,”  [Moi ici: Uma verdade muitas vezes esquecida pelos defensores do passado. As providências cautelares já não chegam]"

    Trechos retirados de "Turning Disruptive Trends into Opportunity"

    Demografia e novos negócios

    A quantidade de novos negócios que vão ter de aparecer para dar resposta a JTBD de uma sociedade demograficamente diferente do que alguma vez se viveu no passado.
    .
    Penso que acontecerá o mesmo que no digital. Numa fase inicial muitas acreditam que isto é possível para sempre "The Best Digital Strategists Don’t Think in Terms of Either/Or". É o mesmo que aconteceu em Portugal com o aparecimento das universidades privadas juntamente com a onda demográfica e a inércia das universidades do Estado. Não era preciso ter uma estratégia, bastava abrir as portas e os clientes vinham. Depois, com a passagem do pico da onda demográfica e a melhoria da resposta das universidades do Estado, foi a mortandade que se conhece.

    A minha aposta: "make local for local"


    A propósito da evolução relatada em ""se calhar o essencial é haver mais do que uma voz..." o Bruno Fonseca recomendou-me a leitura de "China's export story is stronger than headlines suggest".
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    Trata-se de um texto que continua optimista quanto à capacidade exportadora da China:
    "So, the fear of Chinese exports losing competitiveness is in our view misplaced. The most compelling question for China and indeed, the global economy, continues to be one of demand. Export growth cannot charge ahead when recovery in much of the world economy remains fragile. Once things get back on track, China has what it takes to continue its dynamic export story."
    Situando-nos no campo do têxtil e vestuário não sou tão optimista assim. Acredito muito mais na narrativa que há anos desenvolvo aqui no blogue: o poder da proximidade; o poder da flexibilidade; as pequenas séries; e as "52 épocas por ano". Narrativa que encontro em força em "Under Armour's vision for future manufacturing: make local for local":
    "a project launching next year to make products in local markets.
    ...
    The long-term goal is for Under Armour products to be made closer to the markets where they're sold, for instance in the U.S. for U.S. consumers, in Brazil for South American buyers, in Europe for European shoppers and in China for the Chinese market.
    ...
    Some apparel companies, in particular, are starting to look at "not mass production, but mass customization,"
    ...
    "Everything we're surrounded with is almost completely mass-produced," Fuchs said. "But modern technology is making it possible to change that and change the economics of production and make it possible to provide customers with uniquely tailored products ... and do that in an efficient way."
    ...
    Making goods locally makes companies not only more nimble in supplying inventory and reacting more quickly to changing tastes, but better able to respond market by market and to customize merchandise, he said."
    Quanto aos chineses passarem de produtores a motores de exportação, recordo-me logo das muitas PME portuguesas que fecharam quando as suas prateleiras fecharam, não por causa do preço mas por causa do desaparecimento das prateleiras, quando os centros comerciais chegaram e deram uma machadada no comércio tradicional. Não basta produzir, é preciso dominar a distribuição.


    Por que falha o value-based pricing?

    Principais obstáculos à aplicação do value-based pricing:
    Imagem retirada de "Profiting When Customers Choose Value Over Price" de Andreas Hinterhuber e Marco Bertini, publicado na revista Business Strategy Review 1-2011.

    segunda-feira, outubro 12, 2015

    Curiosidade do dia

    Disponibilizo para uso futuro, sem direitos de autor:

    Ainda acerca do Evangelho do Valor

    Quando era engenheiro-criança e consultor-criança chamava burros aos outros.
    .
    Agora que sou mais adulto e abracei o Evangelho do Valor percebi que o burro era eu (aqui também).
    .
    O Evangelho do Valor terá sido percepcionado por mim há cerca de 10 anos, não por causa da pouca teoria que tinha lido sobre o tema ( o mainstream continua a não acreditar nele) mas por causa dos exemplos concretos com que chocava na realidade das empresas.
    .
    Desde então, aquele gráfico de Marn e Rosiello,
    publicado neste blogue pela primeira vez em 2008 em "Mudar é muito mais difícil do que os consultores pensam", não mais deixou de me acompanhar.
    .
    Este fim de semana li um artigo que sublinha que o efeito do preço na margem operacional é muito maior do que os 11% quando a empresa em causa trabalha com margens muito apertadas:
    Por exemplo, um aumento do preço em 2% gera um aumento de 46% no lucro operacional da Amazon ou de 48% no lucro operacional da Dell.
    .
    Imagem retirada de "Profiting When Customers Choose Value Over Price" de Andreas Hinterhuber e Marco Bertini, publicado na revista Business Strategy Review 1-2011.

    O pós-Uber(ismo)

    Começam a aparecer as plataformas que ligam directamente os produtores aos consumidores ou utilizadores, algo a que já aqui chamei o pós-uberismo. Recordar:
    Exemplos recentes:

    Sobretudo acho que este ponto:
    "I like the idea that there's 100% traceability,"
    Vai ter um peso cada vez maior, o potencial de proximidade, de autenticidade, de comunidade:
    "He's convinced that knowing those details actually makes the fish taste better. "People kept telling us, 'I've never had fish like that before,'" [Moi ici: O que importa cada vez mais é a experiência] he says. "We realized it was a combination of two things: People are having extraordinarily high-quality, fresh seafood. But when they know the name of the fisherman and they're seeing pictures, that helps their minds reconnect to the actual food source."" 

    Acerca da incerteza

    "How much uncertainty does your industry face? Ask yourself the following questions:
    • Have new technologies or startups started to threaten my company or my industry?
    • Over the past five years have new competitors entered the market and captured 10% share by targeting our customers with a different value proposition than what we offer? 
    • Over the past five years have we begun to see customer preferences change, resulting in a different mix of products and services being demanded? 
    • Have you recently started offering (or are planning to offer) a product or service that has never been offered before?
    If you answered “yes” to the first two questions, you’re likely sitting in a business with high technological uncertainty; if “yes” to the last two questions, you’re probably dealing with high demand uncertainty."
    Trecho retirado de "The Industries Plagued by the Most Uncertainty"

    "Not twilight, but sunrise"

    Ontem à tarde, num programa televisivo falou-se da Majora.
    .
    A antiga empresa portuguesa de jogos de tabuleiro que fechou em 2013:
    "Ao fim de 74 anos a fabricar diversões para a família, a Majora encerrou a produção. Para trás ficam mais de 300 jogos"
    Foi adquirida por um fundo de investimento em 2014:
    "Marca portuguesa de jogos adquirida pela holding, através da participada Edge Ventures. O negócio inclui não só a compra da Majora e respetivo museu, como de todo o mundo de entretenimento associado à marca, o qual abrange jogos como o Sabichão, o Mikado e o Jogo da Glória, entre outros." 
    Como é que o fundo pretende dar a volta?
    "A Majora, que encerrou a produção em Fevereiro do ano passado, foi comprada por um fundo de investimento que pretende relançar a marca no mundo inteiro, através de uma aposta nos meios digitais." 
    Entretanto, umas horas antes tinham-me mandado esta provocação pelo Twitter:
    Por um lado, uma ligação a este postal de 2008 "Cuidado com as generalizações, não há "sunset industries" e, por outro, mais um peça a juntar para as muitas que ajudam a desenhar Mongo, o mundo da diversidade. É o regresso do vinil, é o regresso da cassete e, agora, neste mundo digital, de tablets e smartphones e regresso dos jogos de tabuleiro, segundo este artigo da revista The Economist "Board games - Not twilight, but sunrise".
    .
    Interessante como este regresso não é pela ligação ao digital, é pelo que o faz diferente do digital:
    "The market for such “hobby games” is booming.
    ...
    Meanwhile bricks-and-mortar game stores have adapted, running tournaments and providing the face-to-face sociability that online gaming lacks. ... Not every analogue pastime is suffering in the digital age."



    domingo, outubro 11, 2015

    Curiosidade do dia

    Gentrificação é isto "Cais do Sodré visto pela Bloomberg".
    .
    Faz-me lembrar aqueles betos que vão fazer campismo para um parque e de noite desprezam quem quer dormir e tocam viola até às 5 da manhã.
    .
    À segunda noite pedi ao guarda do parque para intervir, como não o fez, peguei numa mangueira e manguei-rei-os a todos. Fui salvo pelos vizinhos e o taralhoco do guarda teve de intervir e explicar aos betos que há uma regra de silêncio após a meia-noite.

    Eppur si muove

    Só para que não passe em claro por entre a espuma dos dias.
    .
    Dada a evolução do preço do petróleo, com as consequentes repercussões na economia angolana, as exportações para Angola nos primeiros sete meses do ano caíram, face ao valor de 2014, cerca de 36%. Só no mês de Agosto a queda foi de 27%.
    .
    Nos primeiros sete meses de 2015 as exportações para Angola caíram o equivalente a 0,89 pontos percentuais:
    E apesar de tudo isso:

    • as exportações cresceram, nos primeiros 8 meses do ano, 5.4%;
    • as exportações para a UE cresceram 6.6%; e
    • as exportações para fora da UE cresceram 2.2%
    Entre 1986 e 2008, o aumento do peso das exportações no PIB (7,8 pontos percentuais) foi cerca de metade do aumento registado pelas importações (15 p.p.). 
    .
    Desde 2008, o peso das exportações aumentou oito pontos percentuais, enquanto o das importações recuou mais de três, sendo 2013 o primeiro ano em que o saldo comercial foi positivo.
    O Banco de Portugal prevê que as exportações representem 46% do PIB em 2017.
    .
    Apesar de tudo isto, a tríade continua a achar que sem uma saída do euro o país não é competitivo, basta ler "É possível Portugal ser competitivo no euro?"

    Relação é muito mais do que simpatia

    "Relationship in business is not about brand value, brand awareness, linkages on social media or knowing the name of your customer’s dog. Relationship in this context is knowing what makes your customer successful in terms of positive outcomes when they engage your company and how you contribute to the value outcome. Customer’s purchase things to achieve particular outcomes that drive value. Relationship in business is about knowing what those desired outcomes may be even before the customer knows it themselves. Relationship building is about more than just one customer at a time. It is about the aggregation of knowledge that can be achieved by direct participation in post-sale activities with a broad array of customers.
    ...
    We found that companies who valued having customer success-based or outcome-based relationships with their customers came to understand their customer’s markets better. They were better able to anticipate needs and react to market changes more rapidly than their competitors."

    Trechos retirados de "Powered by Customers: Relationship Is Key to Surviving 100 Years in Business" de Douglas Morse e publicado por Journal of Creating Value 1(1) 101 –107