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domingo, janeiro 28, 2024

Planear capacidade, ou como nem todos estão no mesmo caldo, ou análise do contexto (parte VIII)

 Parte VII.

Gosto sempre de recordar a origem da Escola Comercial Oliveira Martins no Porto.

Em Por que é que os jornalistas não colocam perguntas impertinentes? escrevi acerca de "Indústria apela a plano “maciço” de requalificação de trabalhadores":

"Julgo que esta gente não valoriza a formação, e que isto não passa de "conversa da treta". Se valorizassem a formação tratavam-na como algo estratégico sobre o qual querem deter o controlo e não algo que tentam externalizar e pôr o contribuinte a pagar. Outros que continuam "in the last industrial revolution"."

Ainda recentemente o CEO de uma empresa com marca de luxo dizia numa entrevista:

"A falta de mão-de-obra ainda é um problema?

A especializada, sim. Eu tenho um défice de quase uma dúzia de pessoas na minha empresa e não consigo arranjá-las. E para a conseguirmos especializar um trabalhador é muito complicado, as pessoas acabam por desistir e preferem ir para restauração e o turismo. Precisávamos que o IEFP funcionasse de outra forma, tentando perceber junto das empresas quais são as suas necessidades em termos de formação, fazendo o levantamento da situação das empresas e das suas disponibilidades ou necessidades em termos de trabalhadores. Se calhar há empresas que têm gente a mais, pessoas que são válidas e que poderiam ser úteis noutros setores."

As pessoas particulares já perceberam que têm de ter um seguro de saúde porque o SNS não responde, e os empresários ainda acham que o IEFP lhes vai resolver os problemas de formação? Come on! 

Entretanto, ontem li no FT outro exemplo da parte VII, "Jewellery brands enter the classroom to help shape the next generation of craftspeople":

"Jewellery has long been an art form passed down the generations but, now, some brands are looking to broaden that transmission of skills — ensuring that it is as wide as it is deep.

Many brands incorporate organisational-level, practical training for the next generation, often alongside local institutions and labour departments."

quarta-feira, outubro 18, 2023

Planear capacidade, ou como nem todos estão no mesmo caldo, ou análise do contexto (parte VII)

Parte VI.

No domingo passado escrevi este postal "Regressar ao século XIX" elogiando a actuação de uma associação empresarial na área da joalharia. No final não resisti a uma tirada cínica:

"O meu lado cínico sorri e pensa nos que emigram para França para receber muito mais, depois do curso tirado."

Entretanto, ontem li:

"Fashion is in need of new talent in technical areas which take time to master - including leatherwork, tailoring and jewellery-making."

Pesquisando um pouco encontrei:

  • "A central pillar of the academy will be a comprehensive training program for 50 students a year, with guaranteed employment at Bottega Veneta on completion of the course." (Fonte
  • Bottega Veneta Establishes New Academy
Na semana passada numa empresa discutia-se "Capacity Planning". Se uma fábrica demora 5 anos a entrar em funcionamento, então convém estar atento aos sinais do mercado.

O chatGPT diz que que capacity planning é:

"um processo de gestão e planeamento que as organizações utilizam para determinar a capacidade necessária para satisfazer as suas necessidades futuras. Envolve a avaliação e o dimensionamento dos recursos necessários, como mão de obra, equipamentos, instalações e tecnologia, para satisfazer os objetivos operacionais e estratégicos.

O objetivo do planeamento de capacidade é garantir que uma organização tenha recursos adequados para satisfazer a procura do negócio de forma eficaz e eficiente. Isso envolve equilibrar a capacidade disponível com as necessidades projetadas, evitando tanto a subutilização quanto a superutilização de recursos."
Como ler isto sem pensar em António Costa com as calças na mão:

""Temos uma realidade objetiva que é termos um conjunto de profissionais de saúde com um nível etário onde já estão dispensados de fazer urgências", sinalizou António Costa, apontando para o facto de a lei estabelecer que a partir dos 50 anos os médicos estão dispensados de fazer urgência noturna e a partir dos 55 anos estão dispensados de fazer urgência, quer de noite quer de dia. "Por outro lado, "a formação de novos profissionais leva tempo", pelo que nesta "substituição" deverão continuar a existir alguns constrangimentos. "Vão ser dois anos onde vai haver sempre tensão", alertou o primeiro-ministro, em declarações transmitidas pela RTP3, no final da reunião com a Direção Executiva do SNS"

Afinal Todos nascidos do mesmo caldo não é bem verdade, há empresas mais bem geridas que se destacam da mediania. 

Ou como diria o ICI-man (Sir John Harvey-Jones):

"Planning is an unnatural process; it is much more fun to do something. And the nicest thing about not planning is that failure comes as a complete surprise rather than being preceded by a period of worry and depression."

O mesmo ICI-man dizia:

"There are no bad troops, only bad leaders."

domingo, outubro 15, 2023

Regressar ao século XIX

 No JN do passado dia 11, "Uma escola para servir a região que mais produz joalharia".

15 valores! Só não dou mais por causa da dependência dos apoios. De resto, um retorno ao século XIX:

BTW, a propósito de:
"AQUI NÃO HÁ DESEMPREGO 
Os cursos ficarão a cargo do CINDOR, um centro de formação, sediado em Gondomar, com cerca de 600 alunos. "Nenhum jovem de Guimarães procura formação em Gondomar diretamente. Há falta de mão de obra no setor, que até paga acima da média, portanto, esperamos aumentar o interesse das pessoas pela área", aponta João Faria. "Não há nenhum técnico de ourivesaria ou cravador desempregado", acrescenta."

O meu lado cínico sorri e pensa nos que emigram para França para receber muito mais, depois do curso tirado. 

sexta-feira, junho 21, 2019

Optimista? Realista? Pessimista?

Há pessoas que quando escrevem sobre determinados assuntos ... recorrem acriticamente às estatísticas e nem se interrogam sobre o que elas querem dizer, ou o que está por detrás desses números. Por exemplo:
"Apesar da procura nos mercados internacionais não ser muito dinâmica, as exportações de bens e serviços apresentaram um crescimento homólogo de 3,4%, e continuam a demonstrar a capacidade das empresas portuguesas ganharem quotas de mercado nos principais destinos das exportações portuguesas: Espanha, Alemanha, França e Reino Unido" 
Alguém foi aos números do INE e sacou aquele 3,4% para poder escorar a afirmação seguinte "demonstrar a capacidade das empresas portuguesas".

Se estudassem os números por detrás do número, podiam perceber o que venho relatando há cerca de um ano, a mudança de panorama das exportações portuguesas e a sua crescente fragilização: "What a difference a year makes! (parte II)"

Outro exemplo:
"Hoje, o made in Portugal é um importante ativo concorrencial."
Todos os dias vejo exemplos do que está a ser feito para dar cabo desse activo. Ainda ontem li esta aberração louca "Empresa espanhola arrasou ponte e villa romanas em Beja para plantar amendoeiras" e recordei o que se está a esvair ao copiar o modelo canceroso espanhol: "Todos vão perder".

Outro exemplo:
"A transformação digital da economia, que motivou o lançamento do Programa Indústria 4.0, cada vez mais presente na economia mundial, irá ser decisiva para alinhar as tendências do mercado com a oferta de produtos, ajustando os mecanismos de produção (aumentando a automatização dos processos, substituindo tarefas com valor reduzido, exigindo novas competências e mais qualificações aos trabalhadores) e estimulando novos modelos de negócio."
Relacionar o impacte da Indústria 4.0 na economia portuguesa é ainda mais caricato que esperar que os migrantes resolvam o problema de falta de mão-de-obra em Portugal. BTW, recordar que os macacos não voam.

Outro exemplo:
"Hoje, com taxas de desemprego baixas e uma perspetiva de evolução demográfica difícil, a sustentabilidade do crescimento tem na produtividade um eixo central."
Não sei se estou a ser pessimista, realista ... ou optimista, ao acreditar cinicamente nas palavras de Maliranta e Taleb. Nas últimas semanas tive oportunidade de contactar várias empresas pressionadas por um importante cliente para mudar de paradigma de trabalho, e esta reflexão não me sai da cabeça: Quanto tempo?

Trechos retirados de "Produtividade – o desafio essencial para sustentar o crescimento numa economia virada para o futuro"

sexta-feira, junho 29, 2018

"porque o mundo está a mudar "

Interessante:
"No âmbito desta aposta nas exportações, a AORP acaba de lançar uma nova campanha de promoção internacional da joalharia portuguesa - intitulada "Portuguese Jewellery À La Carte" -- cujo objetivo é "criar um formato de promoção paralelo ao das feiras", mais "intimista", e através do qual "se consegue transmitir mais eficazmente a essência e o universo de valores que distinguem a joalharia portuguesa, como a manualidade".
...
Segundo Fátima Santos, "a China revelou-se interessante porque, apesar daqueles chavões de produto massificado, de copiadores e de baixo preço e baixa qualidade, o setor está a fazer vendas para galerias e lojas de posicionamento muito elevado de Xangai e da China continental, que procuram um produto de excelência e encontram-no no mercado português".
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Os planos da associação passam depois por replicar este modelo em França, um dos principais mercados de exportação do setor, nos EUA (onde tem também em curso "uma investida interessante"), na Holanda e em Espanha.
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"Sentimos que há esta necessidade porque o mundo está a mudar e as feiras cada vez mais resultam menos. São momentos mais difíceis, que requerem investimentos muito grandes e têm uma lógica mais passiva, de esperar pelo contacto do comprador, e muitas vezes o sucesso de uma empresa é determinado por um comprador que conseguiu seduzir num ambiente mais intimista através de uma abordagem direta ao consumidor final", afirmou a responsável."

Trechos retirados de "Exportações portuguesas de ourivesaria e joalharia atingem os 100 ME em 2017"

sábado, setembro 06, 2014

"coisas boas que estão a acontecer de forma anónima"

Porque não percebi a frase:
"Entre 2004 e 2012, Portugal perdeu 43% do emprego industrial no setor da joalharia. Em contrapartida, a produção de relojoaria aumentou o emprego em 176% e o volume de negócios em 233%."
Fui à procura da fonte. Encontrei-a neste estudo "Joalharia, Ourivesaria e Relojoaria no Contexto Nacional e Internacional".
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É impressionante descobrir as coisas boas que estão a acontecer de forma anónima:
"as atividades ligadas à fabricação de relojoaria afirmam-se claramente como emergentes, registando um crescimento absolutamente extraordinário em anos recentes. Com efeito, entre 2004 e 2012, o volume de negócios na indústria de produção de relógios e suas partes observou um crescimento de 233%, ao passo que o VAB trilhou um aumento de 324% e o emprego de 176%
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Esta interessante dinâmica na fabricação de relojoaria em Portugal decorre, em grande medida, de investimento direto estrangeiro feito em Portugal por multinacionais de origem suíça, francesa e alemã especializadas na produção de relógios ou suas partes, do aumento do nível de atividade de empresas existentes
a produzir peças em subcontratação e a trabalhar em processos de assemblagem de caixas de relógio e, ainda, de fenómenos recentes de empreendedorismo."
Em 2008, 20% da produção de joalharia era exportada. Hoje, essa percentagem chega aos 60%.
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O meu erro lá em cima, é que eu lia isto:
"Entre 2004 e 2012, Portugal perdeu 43% do emprego industrial no setor da joalharia. Em contrapartida, a produção de relojoaria joalharia aumentou o emprego em 176% e o volume de negócios em 233%."