sexta-feira, março 31, 2023

A mudança bottom-up!

Flying geese!
Descobri esta expressão há poucos anos, mas foi com Reinert que percebi o seu significado profundo e as suas implicações para a produtividade agregada dos países.

Em tempos de inflação elevada toda a gente quer ver o seu salário aumentado. Qual o problema disso? O nosso tradicional progresso de caracol no aumento da produtividade que gera a famosa guerra do gato e do rato. O pouco que se aumenta em produtividade é comido pelo magro aumento dos salários e "rouba" o capital para pagar os custos do futuro (segundo Schumpeter).
 
Por exemplo, hoje no JN aparece um artigo sobre a guerra entre as vacarias e a indústria de lacticínios, "Indústria desce preço do leite e coloca vacarias em risco":
"A dona dos queijos Limiano e Terra Nostra já anunciou uma descida de 7,8 cêntimos no preço do leite pago à produção. A Penlac vai baixar cinco. Os produtores acusam a indústria de estar "aproveitar-se" das ajudas anunciadas pelo Governo para "esmagar a produção" , garantem que vai voltar a haver fecho de vacarias e falta de leite nos supermercados. Exigem a intervenção do Executivo de António Costa.
"As indústrias pretendem aproveitar-se das ajudas anunciadas para voltar a espremer a margem dos produtores. Qualquer descida no preço do leite levará ao abate de animais, abandono da produção e à falta de leite nas prateleiras", afirma, em comunicado, a Aprolep -Associação dos Produtores de Leite de Portugal."

Agora vou ironizar: Malditas vacarias que esquecem o seu papel social (apesar dos impostos, taxas e taxinhas ainda têm de ser Misericórdias) 

Por alguma razão associo os flying geese ao meu tradicional grito aqui no blogue "The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!"

Se uma vacaria não consegue ser competitiva ou muda de vida ou tem de fechar. As pessoas não estão dispostas a pagar mais ou, simplesmente não podem pagar mais. Os recursos aplicados numa vacaria que fecha vão para outra aposta mais produtiva.

Voltemos à produtividade agregada de um país. Como aumenta? Volto sempre a Maliranta. Na imagem dos flying geese:
O Japão deixou de produzir vestuário porque as empresas produtoras de vestuário deixaram de poder gerar rendimento suficiente que pagasse salários competitivos aos seus trabalhares. Por isso, esses trabalhadores migraram, primeiro para a metalomecânica, depois para a electrónica e assim sucessivamente. 

Há dias no Eco li um artigo que ilustra a mudança que o país precisa de ver acontecer, "De estofador a programador. Eles (re)programaram as suas carreiras para a indústria tecnológica":
"Em comum têm a decisão de reconverter as suas carreiras. Hoje em dia, são os quatro programadores em empresas de diferentes setores. Ganharam em salário e qualidade de vida. São mais valorizados e respeitados profissionalmente do que nunca, dizem."

A mudança bottom-up! Uns mudam de carreira, outros mudam de país. A maioria definha a proteger o passado. 



1 comentário:

CCz disse...

https://www.rtp.pt/noticias/economia/centeno-aponta-responsabilidade-social-das-empresas-na-resposta-a-subida-dos-precos_v1476694