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sábado, maio 27, 2023

Palco e bastidores

Muita conversa no palco sobre economia, mas nos bastidores a fuga continua, "Endividamento da economia aumenta para 335% do PIB. Atinge o valor mais elevado de sempre":

"Em março, o endividamento do setor não financeiro (administrações públicas, empresas e particulares) aumentou 99,29 milhões de euros, para o valor recorde de 802,1 mil milhões de euros, o equivalente a 335% do PIB. Há um ano, esse rácio era de 329%; em dezembro era de 332%."

Recuo a 2013:

"A luz que ilumina também produz a sombra que oculta. Esta não é a primeira crise de dívida da História, mas terá uma resolução mais complexa e demorada porque tanto as taxas de crescimento do produto como as taxas de inflação são agora muito baixas, não favorecendo o resgate da dívida pelo crescimento, nem a desvalorização da dívida pela ilusão monetária. É o paradoxo da luz e da sombra: a dívida que foi contraída para estimular o crescimento é o que se traduz agora em aumento de impostos, em aumento de encargos financeiros e em impossibilidade de crescimento. E não se quis ver que o credor ocupa sem precisar de combater." 

ADENDA das 10h30:


 

domingo, março 05, 2023

Condenados a repeti-los

"So when we use the word myth we tend to mean a falsehood that is widely believed. And that's unfortunate because we've lost the term for what I want to talk about. See myths aren't false stories about the ancient past. They're symbolic stories about perennial patterns that are always with us. That's a very different thing! So a lot of what's going on in myth is an attempt to take these intuitive, implicitly learned patterns and put them into some form that is sharable with ourselves and with each other." (fonte)

Ontem fui ao Antigo Testamento e li o Livro de Ezequiel e ... continua actual.

Por que é que os israelitas foram derrotados pelos babilónios? Porque deixaram o seu sistema político (e religioso, Israel nunca os separou) se corromper de muitas e variadas formas. E mais, e isto faz-me pensar no 25 de Abril - reformar um sistema doente não gera nenhuma sociedade nova; apenas reanima o velho sistema que, cedo ou tarde, acabará sempre nos mesmos vícios. Tão em linha com a mensagem recorrente de Joaquim Aguiar: quem não reconhece os seus erros está condenado a repeti-los.

sábado, janeiro 07, 2023

Clientelas

"A sociedade portuguesa é clientelar e dependente das políticas distributivas controladas pelo poder político. Quanto mais se alarga o campo das funções do Estado, mais se reforçam as redes clientelares e mais dependentes ficam os resultados eleitorais da satisfação dessas redes clientelares - o que conduz diretamente ao crescimento do endividamento. Na política portuguesa e na sua sociedade clientelar, a maioria absoluta de um só partido é a entrada num elevador que só desce: quando se entra, porque se ganhou, está-se no melhor andar, mas a partir daí será sempre a descer. E é assim porque a maioria absoluta de um só partido atrai as redes clientelares que parasitam esse poder político: vivem dele, mas acabam por o matar."


Joaquim Aguiar no passado dia 5 de Janeiro no JdN em "Sem desculpa"

sexta-feira, dezembro 30, 2022

Mitos - estórias simbólicas sobre padrões perpétuos


Saturno (Chronos para os gregos) devorando um dos seus filhos, segundo Goya.

Os gregos foram fantásticos a desenvolver mitos, como John Vervaeke diz nesta série:
"The mythological framework created by people starts to change, the myths they use to frame their world (myth not in the modern sense of ‘a falsehood that is widely believed’ but rather symbolic stories about perennial patterns that are always with us.)
Creation of myth is an attempt to take intuitive, implicitly learned patterns and put them in some form that is shareable."

Por exemplo, o mito de Anteu. Tanta sabedoria numa estória como esta.

Esta semana, no Think Tank, Joaquim Aguiar usou a metáfora de Saturno:

"Saturno a devorar os seus filhos.

E nós, até demograficamente, somos a ilustração desse quadro de Goya porque estamos a devorar os filhos que não vão ter capacidade para acumular aquilo que vamos distribuir para sustentar uma geração que desistiu de competir."

Recordo: Não devia ser cosmética!!! 


Adenda: Captei na internet a imagem da capa da revista que à sexta-feira acompanha o JdN:

Associar esperança a um conjunto de sumidades todas com 60 ou mais anos é paradigmático daquilo em que este país de Saturnos se transformou.

Jovens, continuem a emigrar e deixem os velhos pagarem o preço do seu egocentrismo.




segunda-feira, setembro 05, 2022

O regime dos padrinhos

Joaquim Aguiar no último Think Tank. 

"É um partido distributivo.
Portanto, toda a sua estruturação mental é para distribuir.
Nesse sentido, para percebermos qual é a diferença do ponto de vista de condução de uma sociedade, é diferença entre um padrinho e um pai. O padrinho distribui brinquedos e ofertas porque não tem obrigação de educar a criança. Um pai tem a obrigação de educar a criança para que quando ela for adulta não esteja dependente da miséria, e portanto tem de a treinar com hábitos de trabalho, de competição, de comparação com o que outros fazem. Neste sentido o padrinho é aquele que protege os mais desfavorecidos, mas o pai é aquele que prepara os competitivos.
Por que é muito importante esta diferença? Porque na moeda única o que se comparam são competitividades não são capacidades reivindicativas nem potencial distributivo. Com a mesma moeda os melhores vão ganhar as melhores actividades e, portanto vão ser mais ricos do que os piores. E isso não tem nada a ver com a distribuição ou justiça social tem a ver com uma regra elementar, se a métrica de comparação é igual a todos, então quem é melhor vai revelar-se rapidamente. E tão rapidamente que nem sequer é um problema de ideologia, é um problema de eficácia.
Ora, o que se percebeu com esta crise no Serviço Nacional de Saúde é que um mecanismo distributivo típico dos padrinhos atinge o limite. E portanto, revelou a sua incapacidade de regeneração para que, pela via competitiva, pudesse melhorar em qualidade e eficiência de serviços. E portanto, reduzimos essa atividade uma atividade de funcionários públicos, mas os funcionários públicos têm o grande problema de não conseguirem inventar um novo estado. Por que só conseguem trabalhar no estado que os recrutou."
Entretanto, ontem via Twitter tive conhecimento deste artigo, "Persistence Despite Revolutions"
Alguns trechos:
"general pattern across China: despite extraordinary repression, the descendants of the prerevolution elite are significantly and substantially better off today than those from the non-elite households.
...
We first document that after the Communist and Cultural Revolutions, the parents generation of the pre-revolution elite enjoyed no more tangible advantages in wealth and formal educational attainment than their non-elite peers. In the immediate aftermath of the Communist Revolution, the pre-revolution elite, who used to own six times more land per household than the rest of the population, no longer owned more land than the poor peasants. The county-level Gini coefficient in land ownership decreased from 0.5 before the revolution to under 0.1 right afterwards. The Cultural Revolution also effectively leveled the educational advantage of the former elite houseolds. If anything, the parents generation of the pre-revolution elite received less formal education than their non-elite peers, as individuals with elite background were discriminated against in their access to formal education throughout the Cultural Revolution.
However, the immediate and immense impact of the revolutions felt by the parents generation is no longer present among the third, children generation. The patterns of inequality that characterized the grandparents generation re-emerges. By 2010, individuals whose grandparents were part of the pre-revolution elite earned a 16 percent higher income each year, have completed more than 11 percent additional years of schooling, and hold more prestigious and demanding jobs than those from the non-elite households. In other words, while the revolutions explicitly aimed to reverse the rankings of socioeconomic status between the elite and non-elite households, they did not manage to do so beyond one generation.
...
What explains the resurgence of the pre-revolution elite among the children generation? In particular, could the resurgence be accounted for by the greater physical capital, human capital, or social capital that may have been transmitted among the pre-revolution elite? We begin by ruling out a number of potential explanations for rebound. The revolutions' effective effort to shut down land inheritance - the most important asset in rural areas - and access to secondary and higher education as observed among the parents generation indicates that physical capital and human capital acquired through formal channels of schooling cannot play a key role in driving the rebound.
...
Moreover, the pre-revolution elite exhibit systematically different values and attitudes today: in particular, they are more likely to consider effort as important to success, and such differences in expressed work ethics is evident even among adolescents who have not completed formal schooling or participated in the labor market. These values and titudes are reflected in their behavior: the pre-revolution elite work longer hours during workdays and spend less time on leisure during weekends. These patterns are much stronger for those among the children generation who co-live with their parents, and absent for those whose parents have passed away prematurely, consistent with the ideas that vertical transmissions of values (and human capital in general) require time spent together across generations."

domingo, setembro 12, 2021

A memória é um guia

Ainda há dias escrevi:

"Joaquim Aguiar costuma escrever que não se pode seguir em frente sem primeiro reconhecer os erros do passado. Por isso, ele usa a metáfora das rotundas. O país está numa rotunda há mais de 20 anos, focado na distribuição de riqueza que é gerada por outros povos e que se transforma em dívida para as gerações de escravos no futuro."

Fez ontem um mês que escrevi:

"Joaquim Aguiar costuma falar e escrever acerca da necessidade imperiosa de reconhecer e falar a verdade acerca do que nos levou a um desastre, para podermos ultrapassar esse desastre. Quando se mascara e maquilha a realidade, para evitar falar do que nos levou ao desastre, não conseguimos seguir em frente, ficamos condenados a dar voltas a uma rotunda que nos traz empobrecimento, apesar dos amanhãs que cantam segundo os chefes e seus acólitos."

 O postal de ontem levou-me a rever os meus sublinhados de "12 Rules for Life: An Antidote to Chaos" de Jordan Peterson.

"Who are you? What did you do? What happened?” What was the objective truth? There was no way of knowing the objective truth. And there never would be. There was no objective observer, and there never would be. There was no complete and accurate story. Such a thing did not and could not exist. There were, and are, only partial accounts and fragmentary viewpoints. But some are still better than others. Memory is not a description of the objective past. Memory is a tool. Memory is the past’s guide to the future. If you remember that something bad happened, and you can figure out why, then you can try to avoid that bad thing happening again. That’s the purpose of memory. It’s not “to remember the past.” It’s to stop the same damn thing from happening over and over."

Imagem daqui


sexta-feira, março 12, 2021

"um poder sem política"

"O poder aritmético que se forma por adição e subtracção de votos parlamentares é um poder sem política, é uma sucessão de oportunismos, sem estratégia, sem crescimento económico e sem justiça social, tendo de recorrer à hipoteca do futuro através do endividamento para encobrir a sua incapacidade para construir e concretizar uma estratégia para o futuro, que é a condição de legitimação do poder político."

Trecho retirado de "Poder e política"

terça-feira, dezembro 29, 2020

"todos têm de mudar (porque mudou o campo de possibilidades)"

Interessante traduzir este texto de Joaquim Aguiar no Jornal de Negócios de ontem para o mundo das empresas. 

"E se a política [estratégia] for entendida como a articulação sustentada entre as possibilidades e os interesses, a estabilidade política [de gestão] não poderá ser concebida como a eterna repetição do mesmo. A estabilidade política [de gestão] só existe se houver o permanente ajustamento dos interesses às possibilidades.

E se as possibilidades mudam (estão sempre a mudar), os interesses também terão de mudar (mas resistem sempre à mudança, mesmo quando se trata apenas de mudar o modo de realizar interesses que persistem na sua forma inicial apesar do que já mudou). 

As crises políticas surgem quando todos têm de mudar (porque mudou o campo de possibilidades) mas há muitos que não querem mudar (nem se resignam a reconhecer que a realidade efectiva das coisas já não é o que costumava ser). E a crise é política [de estratégia], porque é a política [estratégia] que tem a função de articular as possibilidades com os interesses, configurando as expectativas e os comportamentos sociais em função do que é a alteração das circunstâncias.

Numa crise política [empresarial] provocada pelo desajustamento dos interesses às possibilidades, a resposta dos políticos [líderes] reformistas consiste na reconfiguração dos interesses para os tornar compatíveis com as possibilidades realmente existentes, mas a resposta dos políticos reversionistas [espertos] insiste na conservação dos interesses mesmo que tenham de impor a redefinição do que são as possibilidades e procurem ocultar quem teve responsabilidades na alteração das circunstâncias que reduziu o campo de possibilidades."


quinta-feira, agosto 13, 2020

Este país ainda não está maduro

Joaquim Aguiar escreveu mais um artigo interessante. Sim, mais um.

Na semana passada foi "Veteranos e iludidos":
"Foram muitos os planos que se propuseram modernizar Portugal, só faltou mesmo mudar Portugal. Os planos fracassaram porque as preferências dos portugueses pelas políticas distributivas e pelas promessas de protecção do Estado não mudaram. Os regimes políticos em Portugal - monárquicos ou republicanos, autoritários ou liberais, clericais ou seculares, corporativistas ou democráticos -, são apenas modalidades diferentes de organizar redes de clientelas, estabelecendo a circularidade das rotundas, em que os que mandam e os que obedecem precisam uns dos outros para poderem existir. Os regimes políticos em Portugal mudam quando os que mandam se cansam e quando os que obedecem acreditam que beneficiam com a substituição dos que mandam.
...
Até que um acidente da natureza, na modalidade de um vírus, recoloca tudo no ponto de origem: Portugal vai continuar a fazer rotundas (que os veteranos já conhecem, mas os iludidos imaginam que são estradas) ou vai assumir o seu destino de construir a sua escala no exterior?"
Hoje temos "O contágio na política":
"O que está a acontecer é a conversão do capital acumulado em dívida, que terá de ser paga - o que só será possível através de elevadas taxas de crescimento e uma forte valorização dos activos através de altos níveis de produtividade e de ganhos de competitividade. Como todas as sociedades e todas as economias têm de procurar o seu ajustamento a esta nova realidade ao mesmo tempo, fica criado um contexto conjuntural (de duração dependente da duração da peste) de luta de todos contra todos, em que perdem e são sacrificados os mais fracos, os que estão mais vulneráveis por efeito dos desequilíbrios que acumularam no passado e os mais hesitantes na interiorização do que tem de ser feito.
...
mesmo que se consiga que a dívida seja perpétua e os juros sejam reprimidos na vizinhança do zero, os encargos com a gestão dessa dívida perpétua estarão a prejudicar a acumulação de capital, o investimento e o financiamento das políticas distributivas.
...
A política depois da peste não poderá pretender retomar os padrões de orientação, os confrontos e as métricas do passado. Terá de ter a humildade e o sentido de convergência de quem avança para um mundo novo - e tendo de pagar os erros cometidos no mundo antigo."
Ouvi-o ontem no Think Tank onde bateu nesta tecla, mas confesso que acredito que ele, apesar da idade e da experiência, está a ser vítima de uma grande dose de optimismo. Este país ainda não está maduro para a mudança. Precisa de sofrer ainda mais empobrecimento, precisa de sifonar ainda mais recursos da economia privada para distribuir pela rede clientelar. Precisa de ir para o último lugar e sofrer por lá até que a geração Tu-Tu-Tu esteja morta e enterrada e os seus cúmplices passem a ser uma minoria:




quinta-feira, julho 23, 2020

Curiosidade do dia

"Políticos e banqueiros trabalham com o dinheiro dos outros, uns extraindo os impostos da sociedade, outros aplicando os depósitos dos clientes. Se os primeiros não conseguem formular políticas de crescimento económico e políticas sociais que sejam financiadas sem terem de recorrer ao endividamento e se os segundos não conseguem gerar margem financeira sustentada no tempo, haverá sempre o risco do abraço de cumplicidade entre a dívida pública e a dívida privada, uma circularidade que é uma ilusão de desesperados."
Trecho retirado de "Revisão da matéria dada" no JdN de hoje. 

quinta-feira, dezembro 19, 2019

"o possível é o que respeita a necessidade"

Sou um fã de Joaquim Aguiar há muitos anos, por exemplo "Fim das Ilusões, Ilusões do Fim". O texto que se segue é um exemplo do porque gosto de o ler. E isto não se aplica só à política. Uma auditoria interna realizada por estes dias pôs-me a ter uma conversa, com a Administração de uma PME, que não anda longe disto. A diferença entre os sonhos que tardam a gerar facturação e a necessidade de dinheiro para comprar melões, deixem-se de tretas e concentrem-se no que pode não ser sexy, mas dá o pão com manteiga. Até sugeri a criação de um grupo desgarrado para aproveitar essa via:
"A política [Moi ici: A gestão] é a arte do possível, e o talento do político está na sua capacidade para identificar a realidade efectiva das coisas. A qualidade do político [Moi ici: gestor] avalia-se no modo como traduz, tanto para os seus apoiantes como para os seus opositores, a linha da necessidade, para que os apoiantes não se afastem do campo das possibilidades e para que os opositores sejam forçados a reconhecer que não podem escapar à força gravitacional da necessidade. Na estratégia eleitoral, o possível é o que conquistar votos. Mas em termos de governação, o possível é o que respeita a necessidade - há quem ganhe eleições para começar a perder o que ganhou logo que governa. Há vitórias que são apenas o prefácio da derrota.
.
Em política, o confronto com realidade exige o reconhecimento das mudanças das circunstâncias, e isso implica aceitar e vencer o confronto com os que, por fixação na memória ou por recearem perder posição no processo de mudança, recusam reconhecer que as circunstâncias mudaram."
Trecho retirado de "O possível e o necessário"

sábado, novembro 09, 2019

Salário mínimo, produtividade, motivação/malandragem e desemprego (parte II)

Parte I.

Como referi no final da parte I vou comentar a segunda parte do último "Think Tank" dedicado ao tema da produtividade (a partir do minuto 33).

A conversa começa com Jorge Marrão a dar um exemplo que não é nenhuma mentira, mas é tipo: com a verdade me enganas. A maioria das empresas em Portugal já não está aí.

Jorge Marrão conta que há anos foi à China e, esteve num hotel que pertence a uma cadeia de hotéis que também está em Portugal. Uma mesa para almoçar era servida por 5 funcionários na China e por 1 funcionário em Portugal. Claro que a produtividade em Portugal era muito superior à chinesa. Admitindo que o numerador era o mesmo nos dois países, o valor ganho com a venda do serviço de almoço, e que o denominador era mais pequeno em Portugal do que na China porque só se pagava um salário e não cinco, admitindo que o salário chinês não fosse demasiado baixo. Jorge Marrão explica que na China eram 5 funcionários porque tinham pouca formação.

Ao minuto 36'37'' Jorge Marrão volta a enganar-nos com a verdade (e atenção eu gosto de o ouvir e comungo de muitas das suas ideias, embora ele sofra um pouco da doença anglo-saxã, a mesma da tríade) - aumentar a produtividade traz um problema para a sociedade porque mais produtividade requer menos gente.

Qual é o problema deste argumento de Jorge Marrão? É o famoso, aqui no blogue, argumento dos engenheiros, quem o usa assume uma constante, algo que não pode mexer, algo em que nem pensa mexer, o numerador, assume que o que se faz é constante. Assim, a única opção que há é mexer no que é variável, ou seja, no denominador. Por exemplo, no número de trabalhadores necessários para produzir a mesma quantidade de output. Esta abordagem não está errada. No entanto, condena-nos a melhorias da produtividade de caca. Por causa do gráfico de Marn e Rosiello:


E por causa dos low hanging fruits já terem sido todos colhidos.

Acham que é assim que colmatamos este gap brutal com o resto da Europa?
(a amarelo Portugal, a laranja a UE28, a verde a zona euro)

Ao minuto 39' entra Joaquim Aguiar e não podia entrar melhor:
"Mais produtividade não é menos custos nem mais esforço."
A meio do minuto 40' Joaquim Aguiar desvia-se do essencial para dar o exemplo da Autoeuropa em Palmela. Diz Joaquim Aguiar, algo que não é novidade, a unidade da Autoeuropa é unidade mais produtiva de todo o grupo VW. Porque é que digo que Joaquim Aguiar se desvia do essencial? Começou por fazer-nos intuir que ia abordar o numerador da equação da produtividade com aquela afirmação que citei e sublinhei, mas depois dá um exemplo da vantagem do denominador. Basta recuar a 2010 neste blogue para ler em "As anedotas":
"Conseguem encontrar fábricas gémeas, fábricas que fabriquem os mesmos produtos em Portugal e na Alemanha?
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Há uma que salta logo à vista, a AutoEuropa.
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No caso da AutoEuropa, aposta que a produtividade portuguesa é, ou semelhante, ou superior às fábricas congéneres da VW na Alemanha (para modelos com a mesma gama de preço).
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Agora conseguem comparar a produtividade da AutoEuropa com a produtividade de uma unidade que produz a marca Porsche ou a marca Ferrari?
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Na Ferrari e na Porsche especulo que fabricam menos carros por trabalhador que na AutoEuropa e, no entanto, têm uma produtividade muito superior...
.
Excluindo a indústria automóvel conseguem encontrar outro sector onde fábricas "gémeas" compitam ombro a ombro em Portugal e na Alemanha?
.
Não me recordo... a fazer exactamente o mesmo? Duvido!!!"
Se o numerador estiver bloqueado, a unidade com menores custos é mais produtiva, com as mesmas regras de gestão.

Mas as empresas não estão prisioneiras do denominador. Podem fazer o que os livros de Economia e Gestão nunca falam: mudar de numerador, mudar de output, subir na escala de valor, race to the top em vez de race to the bottom.

Ao minuto 43'40 Jorge Marrão lança um tema que ele não desenvolve no sentido que eu vou sublinhar aqui. Diz ele e bem: Associado ao tema do aumento da produtividade, vem o tema do aumento do salário. Gente com um salário superior, ganha apetência para outro tipo de consumo, o que, segundo ele, cria emprego para os que foram desempregados pelo aumento da produtividade.

O que é que nesta frase de Jorge Marrão me salta à vista?
  • Mais produtividade -> mais salário
  • Mais salário -> procura por coisas novas
Agora especulo:
  1. Se o aumento da produtividade for natural, o aumento da procura por coisas novas será natural, e a comunidade responderá a essa procura crescente com as suas próprias soluções;
  2. Se o aumento da produtividade for forçado, o aumento da procura por coisas novas será mais rápido do que a capacidade da comunidade responder a essa procura crescente, o que fará disparar o desiquilibrio da balanço externa e ... problemas mais cedo ou mais tarde
BTW, reconheço que o argumento de Jorge Marrão acerca do aumento do salário implicar mais procura por coisas novas pode estar um pouco estragado, porque hoje temos os empréstimos bancários generalizados que põem NINJAS a comprar tudo e mais alguma coisa, sem eles próprios criarem a riqueza adequada.

Ao minuto 45'40'' Jorge Marrão volta a encarreirar no lado bom da Força ao associar produtividade a mais receita por trabalhador:
"Não tem a ver com esforço, tem a ver com o que é que aquelas pessoas, naquele posto de trabalho conseguiram capturar de receita, de criação de riqueza"
E então vem o seu momento alto neste programa:
"Ou modificam um bocadinho a forma de trabalhar [Moi ici: actuar sobre o denominador da equação] em que é necessário menos recursos ou aumentam a receita"[Moi ici: Importante, distinguir o numerador, do denominador. Pena que não refira o gráfico de Marn e Rosiello para perceber o quanto o impacte da melhoria do numerador é superior ao da melhoria no denominador]
Logo a seguir Jorge Marrão dá um exemplo concreto. E com exemplos concretos as coisas percebem-se muito melhor (recordo logo o meu parceiro das conversas oxigenadoras a contar a argumentação do filho para explicar o sucesso do PAN: é o nome, só coisas concretas - pessoas, animais natureza).

Vamos imaginar que há 3 empresas num sector e que cada uma tem um terço de quota de mercado:
A empresa A tem uma produtividade de 100.
A empresa B tem uma produtividade de 50.
A empresa C tem uma produtividade de 10.

A produtividade do sector é de 53,3.

Voltemos agora às palavras de Jorge Marrão, adaptadas por mim:
"Se nós eliminarmos a empresa mais improdutiva, a produtividade do sector sobe muitíssimo"
 A produtividade do sector sobe para 75, um salto de mais de 40%

Qual a vantagem de eliminar a empresa menos produtiva? Palavras de Jorge Marrão:
"O salário da empresa menos produtiva no sector serve de referência a todas as empresas do sector, para estabelecer o salário do sector"[Moi ici: Não sei se isto se continuará a verificar numa economia com falta de mão de obra]
Este exemplo final de Jorge Marrão é a aplicação das ideias de Maliranta e de Nassim Taleb que nunca me canso de repetir. Por isso, escrevo aqui há anos: "Deixem as empresas morrer!"

Qual o problema da argumentação de Jorge Marrão? É uma argumentação que faz sentido, mas que é proposta por alguém que não vai sofrer as consequências directas da sua aplicação, sem skin-in-the-game. Reparem na diferença:
  • Eu - Deixem as empresas morrer
  • Jorge Marrão e muitos outros neste último ano - Temos de eliminar as empresas 
E Nassim Taleb aqui serve-me de farol:
Don’t take advice from those who are not at risk” for the consequences of their advice"
Quais as consequências da abordagem TEMOS DE ELIMINAR AS EMPRESAS MAIS IMPRODUTIVAS!
  • Desemprego de pessoas concretas;
  • Como o encerramento não é natural, mas induzido artificialmente, não há criação natural de unidades novas a ritmo suficiente para absorver os desempregados. Daí este remate no final deste postal:
"Por cá, politicamente a prioridade é a distribuição. Ao menos, podiam facilitar as condições para que capital estrangeiro investisse no país."
Recordo "Produtividade e socialismo (Parte II)"
"Dá para ficar a pensar muito seriamente na incapacidade das transferências inter-sectoriais gerarem uma massa crítica relevante para o país. A alternativa poderia passar por investimento directo estrangeiro para promover transferências inter e intra-sectoriais com a entrada de novos players.
Só que o campeonato nessa liga não é para amadores:"

BTW, Jorge Marrão desmistifica algo que já critiquei aqui várias vezes, a crença de que subidas fantásticas na produtividade são incompatíveis com trabalhadores com poucas qualificações escolares. Jorge Marrão dá o exemplo das empresas alemãs em Portugal (Bosh?): Basta um pouco de formação básica. O meu clássico: sexta-feira deixa de ser costureira numa fábrica de T-shirts e segunda-feira começa a trabalhar como costureira numa unidade de confecção de air-bags. Imaginem o salto brutal na produtividade daquela pessoa. O velho tema da caridadezinha (2014, 2008)

Para registo recordo Janeiro de 2019 e Agosto de 2009.

Claro que os "espertos" riem-se de nós todos.

domingo, junho 09, 2019

Curiosidade do dia

"A desilusão é o que aparece no fim das ilusões. E que persistirá nesse estado de vazio de futuro enquanto não for feita a crítica (com confissão e penitência) do passado. A crise da bancarrota e do ajustamento não foi usada para abandonar as ilusões. Em lugar da crítica, escolheu-se reformular as mesmas ilusões com um truque de retórica: os que antes se opunham às políticas do ajustamento são os que adoptam as mesmas políticas (até porque não há outras com o valor da dívida que as ilusões do passado acumularam), trocando o programa dos cortes pelo programa das cativações: os bonés são diferentes, mas a cor é a mesma.
...
vai confirmar-se que é a mudança da realidade efectiva das coisas que configura as sociedades e os partidos, não é a sociedade ou os partidos que comandam a mudança. Quando há uma descontinuidade no presente, ela faz com que o futuro que é projectado em função do passado não se confirme. Nestas condições, a memória engana em vez de orientar, e quem conduzir em função do retrovisor não irá ver a curva que está antes do futuro que vai acontecer."
Trechos retirados de "Tempos de desilusão"

sábado, maio 04, 2019

Unintended consequences (parte II)

"Há a ilusão do poder: o exercício do poder conduz a situações em que as consequências das decisões geram resultados muito diferentes dos esperados. A pluralidade das intenções e dos objectivos condena ao fracasso os que acreditam que o exercício do poder é a imposição da sua vontade unilateral e descobrem, demasiado tarde, que o exercício do poder é a coordenação e mobilização das vontades dos outros para a concretização dos objectivos possíveis, nessas circunstâncias e com esses recursos. Há as ilusões do fim: antecedem o colapso de um regime político que pretende estender a sua continuidade para além do seu campo de possibilidades, desencadeando uma ruptura que destrói o que acumulou no passado e reduz o horizonte de construção do futuro. E há o fim das ilusões: é o que se vê no nosso presente."
Como não relacionar isto com a parte I.

Trecho retirado de "Ilusões há muitas"

terça-feira, abril 23, 2019

Curiosidade do dia

"Todo o mundo é feito de mudança, mas o que espanta é que não continue a mudar como mudava. Ter uma ideia em política só vale se tiver a capacidade para distinguir o possível do impossível perante a mudança das circunstâncias.
.
Há quem esteja na política porque tem interesses a defender, servindo-se das ideias para ocultar as suas intenções efectivas. Esses não reconhecem as mudanças nem estão dispostos a aceitá-las quando a realidade efectiva das coisas as tornam evidentes. Se perdem o contrato que celebraram com os seus protectores, não sabem se voltarão a encontrar quem os sustente. Reforçam a expressão das suas convicções até as tornarem dogmas, dividem em vez de mobilizarem, iludem em lugar de orientarem. Refugiam-se no distributivismo do interior para evitarem a competição com o exterior, promovem os monopólios do Estado para não se sujeitarem à comparação da eficiência e eficácia em mercado competitivo."
Trecho retirado de "Interior e exterior"

segunda-feira, janeiro 21, 2019

"O exercício do poder é a gestão de um campo de possibilidades"

"Q: You previously worked at Kimberly Clark. Are there common issues facing the leaders of iconic established consumer brands?
.
A big part of the work is changing behaviors. Kellogg, like Kimberly Clark, like Proctor & Gamble, Unilever, and all the terrific blue-chip companies, all struggle with the same thing: our past success institutionalized behaviors and beliefs. The role of a leader is to help people move beyond those historical beliefs because the environment has changed.
...
I’d say the biggest part of my job is change management. It’s creating an environment where people feel free and comfortable to change, which doesn’t mean anarchy; it means disciplined change."
A isto acrescento:


Agora viro a agulha para a política:
"Aquilo que um dirigente político tem de fazer [Moi ici: deve fazer] é impedir que a sociedade entre no abismo do impossível e, portanto, vai avisando para que não se vá nessa direcção."
"É impossível que os dirigentes políticos europeus não saibam que o mundo mudou. O problema é que os responsáveis políticos europeus sabem que os eleitorados europeus não querem aceitar as implicações dessa transformação. Não se mobilizam para participar numa mudança do mundo que os expulsa do conforto das políticas distributivas e os atira para um novo campo de possibilidades em que ganham os que têm capacidade competitiva em mercado aberto, mas perdem os que dependem das políticas distributivas e precisam da protecção do Estado nacional em mercados alfandegados fechados. Os dirigentes políticos europeus estão a exercer o poder num contexto de duplo constrangimento: sabem que o mundo mudou e que é isso que determina o futuro, mas também sabem que uma parte maioritária do eleitorado não quer essa mudança do mundo e que prefere continuar nas condições do passado. É este duplo constrangimento que produz o vazio em que o poder se exerce.
.
Para conquistarem o poder, os dirigentes políticos europeus não podem falar do futuro. Mas o passado, a que os eleitores europeus querem que os candidatos ao poder lhes indiquem como podem regressar, já não existe." 
"Na origem de tudo: o modelo de sociedade (escrito na Constituição) não é compatível com o modelo económico (sem império e sem centros de acumulação de capital). Este é o motor que mantém o carrossel da dívida em movimento. Governar é tornar os dois modelos - da sociedade e da economia - compatíveis." 
"O exercício do poder é a gestão de um campo de possibilidades, é o desenho de uma trajectória que leva do presente, com os recursos que existem, para um alvo no futuro, gerando e organizando os recursos necessários para se chegar a esse objectivo. Quem não souber que a política é a gestão de um campo de possibilidades não é político - e se exerce uma função política é por razões que não são políticas. Quem não souber desenhar uma estratégia para o futuro poderá ocupar o poder, mas não exercerá o poder, apenas se resignará à inércia das correlações de forças. A política é uma vocação, que identifica e estrutura possibilidades para atingir objectivos compatíveis com essas possibilidades."

Ganhar as eleições não devia ser um embuste, porque depois não é possível cumprir o que se promete.

Trecho inicial retirado de "How Do You Grow A Blue-Chip Brand?"
Restantes trechos retirados de vários textos de Joaquim Aguiar.

segunda-feira, janeiro 07, 2019

#schadenfreude (parte II)

Parte I.

Uns têm políticos-tipo Sr Feliz e Sr. Contente:
"Optam por não falar daquilo que sabem e não podem ignorar.
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Eles sabem, mas fazem de conta que ignoram. ... ora um dirigente político, sobretudo se for legitimado por eleições, não pode optar por esse tipo de tratamento da realidade. Aquilo que um dirigente político tem de fazer é impedir que a sociedade entre no abismo do impossível e, portanto, vai avisando para que não se vá nessa direcção. Estes pelo contrário, o Sr Feliz e o Sr. Contente, estão tão felizes e tão contentes que dizem que vamos continuar a repetir as mesmas coisas. Não, o mundo mudou.
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Agora que o mundo está a mudar à nossa frente, e que estes dirigentes políticos não podem ignorar que isto está a acontecer pergunta-se: "Por que não falam disso?"
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E a verdade é que, mesmo quando falam é para dizer que a crise é nos outros. Nunca analisam quais são as consequências para este pequeno país."(daqui)
Outros, têm políticos que não escondem a realidade, "Ministro das Finanças alemão diz que acabaram os tempos das "vacas gordas"".



sábado, dezembro 08, 2018

"não podem falar do futuro"

"É impossível que os dirigentes políticos europeus não saibam que o mundo mudou. O problema é que os responsáveis políticos europeus sabem que os eleitorados europeus não querem aceitar as implicações dessa transformação. Não se mobilizam para participar numa mudança do mundo que os expulsa do conforto das políticas distributivas e os atira para um novo campo de possibilidades em que ganham os que têm capacidade competitiva em mercado aberto, mas perdem os que dependem das políticas distributivas e precisam da protecção do Estado nacional em mercados alfandegados fechados. Os dirigentes políticos europeus estão a exercer o poder num contexto de duplo constrangimento: sabem que o mundo mudou e que é isso que determina o futuro, mas também sabem que uma parte maioritária do eleitorado não quer essa mudança do mundo e que prefere continuar nas condições do passado. É este duplo constrangimento que produz o vazio em que o poder se exerce.
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Para conquistarem o poder, os dirigentes políticos europeus não podem falar do futuro. Mas o passado, a que os eleitores europeus querem que os candidatos ao poder lhes indiquem como podem regressar, já não existe."
Trecho retirado de "O poder no vazio"

quinta-feira, agosto 16, 2018

Curiosidade do dia

"A evolução na continuidade foi um projecto de poder que acabou na mudança do regime político. E não foi porque houvesse um programa político alternativo. Foi simplesmente porque a insistência na continuidade produziu a mudança, ao querer esconder que essa continuidade era impossível desde que foram desmantelados os impérios europeus, depois da Segunda Guerra Mundial, para que a hegemonia dos Estados Unidos, como construtores e gestores da ordem mundial, se pudesse afirmar. As vontades nacionalistas, por determinadas que sejam, não podem sustentar a continuidade quando há mudança no mundo - e só haverá continuidade para aqueles que souberem evoluir com essa mudança do mundo.
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Em Portugal, o Presidente está feliz e o primeiro-ministro está contente, mas a sociedade que fundaram é de responsabilidade limitada: em caso de falência perdem o capital social, mas preservam os patrimónios pessoais. É porque optam por não correr riscos que continuam a ignorar a crise de 2008 e as suas consequências, escolhendo a continuidade do que já não existe. Numa crise de descontinuidade, como aquela em que estamos, até os patrimónios pessoais se perdem, não há responsabilidades limitadas."
Trechos retirados de "Feliz & Contente, Lda"

domingo, abril 29, 2018

Curiosidades do dia

"A reforma - a capacidade para, ao longo do tempo, ir ajustando as instituições à realidade que vai mudando - é uma característica das culturas protestantes. De facto, o movimento protestante original ficou conhecido para a história como  "A Reforma". Portugal, pelo contrário, alinhou no movimento oposto, "A Contra-reforma".
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Reformar não é com os portugueses. Passam-se anos, décadas, às vezes séculos, e nada acontece, as instituições vão-se degradando, cada vez mais desajustadas da realidade e do mundo em que vivem, e nada muda.
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Escrevem-se artigos nos jornais, protesta-se na televisão, organizam-se conferências, escrevem-se livros, a obsolescência serve continuamente de conversa ao jantar entre a família e os amigos. Mas nada acontece. Em Portugal as coisas não mudam, nem nada se reforma, por argumento intelectual.
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É preciso um acontecimento. De preferência dramático, E tem de estar centrado em pessoas. É então que até as mesas se viram. E as reformas que não se fizeram ao longo de anos, décadas, às vezes séculos, fazem-se então todas de uma vez, de forma brusca e radical que até parece uma revolução." (Fonte 1)
"Não é por deficiência de personalidade que Centeno é equivalente a Gaspar, é a realidade efectiva das coisas que impõe esta convergência. Seja quem for que queira governar Portugal terá de reconhecer que o seu programa terá dois alicerces inamovíveis. Um resulta do fim do império: sem colónias, Portugal precisa da Europa para atingir a escala em que possa sustentar o nível de desenvolvimento que já atingiu - e sem esse alicerce terá de se resignar à regressão e ao empobrecimento. O outro alicerce é a taxa de juro (ou a notação das agências de "rating"): com o nível de dívida herdada do passado, a taxa de juro é a condição necessária para que possa ser emitida mais dívida para amortizar a dívida anterior (e serão precisas duas ou três décadas para se conseguir sair deste carrossel). São estes dois alicerces fixos que produzem a equivalência de Centeno e Gaspar.

Na origem de tudo: o modelo de sociedade (escrito na Constituição) não é compatível com o modelo económico (sem império e sem centros de acumulação de capital). Este é o motor que mantém o carrossel da dívida em movimento. Governar é tornar os dois modelos - da sociedade e da economia - compatíveis." (Fonte 2)