quarta-feira, julho 03, 2024

HISTÓRIA


 Recordar de Sábado passado.


Curiosidade do dia

Quando não percebemos o fenómeno dos Flying Geese e tentamos defender o passado em vez de abraçar a mudança.

Não é só por cá (parte I)

"Studies on the Labour manifesto. It concludes that, despite recognising both the dire state of the public services and the fiscal squeeze, Labour has no credible plans for addressing either.

It is worth quoting this devastating judgment: "The public service spending increases promised in the 'costings' table are tiny, going on trivial. The tax rises, beyond the inevitable reduced tax avoidance, even more trivial. The biggest commitment, to the much vaunted 'green prosperity plan', comes in at no more than €5bn a year, funded in part by borrowing and in part by "a windfall tax on the oil and gas giants".

"Beyond that, almost nothing in the way of definite promises on spending despite Labour diagnosing deep-seated problems across child poverty, homelessness, higher education funding, adult social care, local government finances, pensions and much more besides. Definite promises though not to do things. Not to have debt rising at the end of the forecast. Not to increase tax on working people. Not to increase rates of income tax, National Insurance, VAT or corporation tax."

This is the politics of evasion. Behind it is a theory of democratic politics: never recognise the truth. As a way to win elections, this might make sense. But, as an approach to government, it is a clear danger, since it prepares nobody for what needs to be done. As a way to treat democracy itself, it is even worse. By treating the voters as mere children, it can only guarantee ever-rising cynicism about our politics. If we cannot admit to voters the harsh realities we face, they will increasingly distrust politicians and so our democracy itself."

Como refere Joaquim Aguiar, ganham-se eleições mas não se ganha legitimidade. 

Trechos retirados de "Absence of honesty in UK election will undermine democracy"

Parte I de III.



terça-feira, julho 02, 2024

Curiosidade do dia

Há cerca de 9 anos escrevi "Para reflexão" onde especulava sobre um mundo à la Mongo onde a produção eléctrica estaria "democratizada". Nesse mundo, o papel das redes eléctricas seria menor.

Como eu estava errado. O futuro poderia ter ido por aí, mas quem ganharia com esse cenário? 

Aprendi em Outubro do ano passado que ainda no consulado de Sócrates as coisas foram canalizadas noutra direcção e o que vamos ter de fazer é um brutal investimento na rede eléctrica. Esta manhã li "Siemens Energy plans 10,000 hires for electricity grid unit, FT says"

Afinal não era exagero.

Lembro-me de descer a A4 enquanto lia "How the Rise of Chinese Textile Manufacturing in Italy Fuelled the Far Right" que comentei em dois postais. Na altura fiquei surpreendido com o que era relatado, fábricas clandestinas repletas de operários chineses em Itália a seguir práticas chinesas.

Entretanto, ontem fiquei siderado com um artigo no FT, "Milan probes into Dior suppliers' illegal labour unsettle luxury sector". Não estamos a falar de fábricas clandestinas a produzir para marcas mixirucas, estamos a falar da Dior...

"The Dior leather bag supplier Milan investigators long had their eyes on was located close to the Via del Lavoro in the suburban city of Opera - or labour street. But behind its doors they uncovered employment practices of another age.

They found evidence of illegally hired workers, forced to sleep inside the factory and work long hours, including nights and holidays, in an unsafe environment, according to a statement from the Milan prosecutor's office.

...

The development has shone a light on practices in the supply chains of the luxury sector, an area hitherto regarded as problematic more for fast fashion than producers of expensive goods.

The Milan prosecutor's action against the supplier follows two other similar actions against upmarket accessories maker Alviero Martini and a Giorgio Armani subsidiary earlier this year. Such examples could be the tip of the iceberg for the luxury fashion industry, investigation insiders warn."

Mais informação aqui.

Confesso que há anos alguém no sector do calçado contou-me umas estórias sobre isto em Itália e pensei que era exagero. Parece que não.




segunda-feira, julho 01, 2024

Curiosidade do dia

Assim que se apanha o freio nos dentes é a corrida para o fundo.

Hoje no JN:


"RENT-A-CAR Alugar um carro este verão será mais barato. Numa altura em que a inflação e o aumento da procura turística pressionam os preços dos serviços ligados à esfera da atividade, o setor do rent-a-car entrou em contraciclo. No primeiro semestre do ano, as tarifas caíram entre 10% a 30% devido ao aumento do número de veículos disponibilizados pelas empresas de aluguer de viaturas.

Ou seja, apesar de a procura continuar pujante é, ainda assim, insuficiente para responder à atual oferta do mercado. Em junho, a frota de rent-a-car disponível foi de 105 mil automóveis, mais 8% quando comparado com o mesmo mês de 2023, e, em agosto, chegará às 120 mil viaturas (+6% face ao período homólogo)."


A primeira parte de Cavaco - prós e contras

O semanário Expresso do passado dia 28 inclui um texto do ex-presidente Cavaco Silva, "Qual a probabilidade de um salto em frente do bem-estar das famílias portuguesas nos próximos 10 anos?"

O texto está dividido em duas partes. Vou focar a atenção na primeira parte.

Primeiro, aquilo em que concordo com o autor:
  • A importância da pergunta: "Qual a probabilidade de, nos próximos 10 anos, Portugal dar um importante salto em frente em matéria de bem-estar das famílias e aproximar-se dos países mais ricos da União Europeia?" (Faz-me lembrar a reunião que o jovem Erik Reinert ouviu da boca do então primeiro-mistro irlandês Charles Haughey em Julho de 1980. Comparem com o discurso dos políticos portugueses desde os socialistas da extrema direita até aos socialistas da extrema esquerda, mas o ponto era a ideia dele de aproveitar a então nascente indústria das TI para dar o salto. Discurso proferido nas TV's em Janeiro de 1980)
  • Claro que toda a gente concorda com "o crescimento da produção interna, da produtividade e da competitividade externa são condições necessárias extremamente fortes para uma evolução positiva do bem-estar das famílias portuguesas." Mas cuidado com o que se entende aqui por competitividade externa, não é sobre a competitividade das empresas - isso pode degenerar no Uganda facilmente - mas é sobre a capacidade do país atrair capital estrangeiro.
  • Outra frase com que toda a gente concorda "O aumento da produtividade é decisivo para que Portugal deixe de ser um dos países da União Europeia com mais baixo poder de compra do salário médio, o qual tem vindo a aproximar-se do salário mínimo. E necessário que a produtividade iguale, pelo menos, a média da União Europeia." A produtividade é a variável-chave.
  • Concordo com a frase que se segue, mas é fácil encontrar gente que discorde dela, sobretudo à esquerda do espectro político "A competitividade nacional na captação de investimento direto estrangeiro de qualidade depende da capacidade competitiva em matéria fiscal em relação aos concorrentes, da celeridade do sistema judicial, do nível de burocracia, da qualificação dos recursos humanos e da estabilidade política. Sem o aumento do peso do investimento estrangeiro será muito difícil a Portugal conseguir o aumento do stock de capital produtivo nos sectores dos bens e serviços transacionáveis e a produtividade, a inovação tecnológica, a integração nas cadeias globais de valor e a modernização do sistema produtivo necessários para alcançar uma melhoria significativa do bem-estar das famílias." Este tem sido um tema recorrente neste blogue ao longo dos últimos anos. Refiro só a título de exemplo "Tamanho, produtividade e a receita irlandesa" e "Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas".
Agora vamos aquilo em que discordo do autor:
  • "o aumento do peso da indústria transformadora, são condições essenciais para que Portugal" - Recordo de Março passado "Era importante que olhassem para os números primeiro (parte l)"
  • "É essencial aumentar o grau de complexidade e o valor acrescentado das exportações, em particular nos sectores de veículos automóveis, máquinas e equipamentos, de modo a baixar o conteúdo de importação das exportações em 10 a 15 pontos percentuais." Aqui, em teoria estou de acordo, mas a realidade recomenda-me ter prudência. Produzir para substituir importações consumidas no país é quase sempre um erro, como relato no caso das conservas. Portugueses são pobres importam sapatos baratos. Portugueses exportam sapatos caros. É quase impossível sustentar empresas portuguesas a produzir artigos para portugueses porque os portugueses não os poderiam pagar. Mas mesmo na substituição das importações também há que ter prudência, recordo o caso das fundições e a Autoeuropa.
  • Por fim, o tema final de discordância. Vamos dar-lhe mais espaço e relevância:
"O facto de as micro e pequenas empresas predominarem em mais de 90% é uma das principais razões da baixa produtividade da nossa economia. Daí a urgência em promover concentrações e fusões de empresas, de modo a ganharem a escala que estimula a adoção de técnicas de gestão e processos tecnológicos modernos que possibilitem o aumento do valor da produção por unidade de trabalho e de capital físico. Quando na União Europeia se debate a falta de escala das grandes empresas para competirem com a China e os Estados Unidos em sectores estratégicos, em Portugal há pouca consciência de que as nossas grandes empresas são pequenas a nível europeu."
Quem acompanha este blogue sabe que me passo com esta argumentação:
  • As micro e pequenas empresas têm produtividades mais baixas? Sim, é verdade.
  • As concentrações e fusões de empresas, de modo a ganharem escala para aumentar a produtividade funcionam? Em teoria é bonito, mas na prática não funciona para o tipo de PME portuguesa. Recordo aqui o caso da Gráfica Mirandela. A ideia de que a fusão de pequenas empresas conduzirá automaticamente ao sucesso é demasiado simplista. A simples combinação de três pequenas empresas de calçado ou têxteis não garante o sucesso, pois requer um modelo de negócio diferente a trabalhar para clientes diferentes a vender produtos mais baratos. Por exemplo, o caso da Gráfica Mirandela que comprou a maior impressora rotativa do mundo, mas faliu, ilustra que ter capacidade em grande escala sem contratos adequados em grande escala é insustentável. Além de que o aumento da produtividade com base no denominador é muito mais fraquinho que o conseguido à custa do numerador. Recordar Marn e Rosiello
  • O grande erro desta argumentação é acreditar que o país pode ter produtividade mais alta se tiver fábricas de sapatos maiores, fábricas de camisas maiores e assim por diante. O grande erro desta argumentação é não perceber os Flying Geese.
Dar o salto pressupõe o aumento do peso do investimento estrangeiro por que precisamos de outro tipo de produtos, de outro tipo de sectores. Algo que custa dizer aos actores no terreno hoje.

Claro que é fácil atacar os actores no terreno. Nunca o faço porque sei que fazem o melhor que sabem e podem. O problema não é por causa deles, mas por causa dos que não estão no terreno. No entanto, deixei de ter ilusões sobre a possibilidade de ter um país mais produtivo só baseado neles.