sexta-feira, maio 17, 2024

Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas (parte IV)

Parte I, parte II e parte III.

No ano passado apresentei aqui a minha tese para explicar a evolução negativa da produtividade industrial norte-americana. Tese que voltei a referir recentemente em Bons empregos...

Entretanto, esta semana via Twitter fui encaminhado para America's Manufacturing Productivity Problem.

Olhando para os gráficos pode-se concluir que a causa com maior impacte na tendência negativa da produtividade na indústria norte-americana é/foi a deslocalização das indústrias de alta tecnologia. Esta tendência teve um efeito profundo porque os sectores de crescimento elevado da produtividade, como a electrónica, eram um impulsionador significativo da produtividade industrial global. O declínio deste sector por si só explica cerca de 40% do declínio da produtividade industrial durante a década de 2010. A transferência destas indústrias para o estrangeiro não só reduziu a participação da indústria de alta tecnologia nos EUA, como também levou a uma mudança mais ampla para sectores de menor tecnologia e menor produtividade dentro da base industrial norte-americana.

Em a Receita irlandesa e no recente Think again! ilustro como o salto da produtividade irlandesa foi feito à custa do contrário do que aconteceu na indústria norte-americana, em vez de "deslocalização das indústrias de alta tecnologia" tivemos uma "localização das indústrias de alta tecnologia". Daí o título desta série que muitos ainda não perceberam, precisamos de atrair e manter os mastins dos Baskerville.

BTW, desde 2008(?) que olho com curiosidade para a distribuição da produtividade intrasectorialmente. Por isso, no mesmo site referido acima, sobre a produtividade norte-americana, é interessante perceber que a tendência de aumento da dispersão da produtividade, ou seja, a diferença entre os fabricantes mais e menos produtivos, aumentou. Isto é particularmente evidente nos sectores de alto crescimento da produtividade, como a electrónica, onde algumas empresas permanecem altamente produtivas, enquanto a maioria fica para trás devido à difusão mais lenta da inovação e ao crescimento reduzido da I&D. Em países como Portugal acrescentaria também como motivo as paletes e as bofetadas.

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