segunda-feira, outubro 24, 2022

Sem stressors não há informação

Hoje é mais ou menos pacífico dizer-se que algumas estratégias, baseadas em mão de obra barata, são impossíveis de sustentar em Portugal.

Apesar disto, Pode ser que cole à parede, chegaremos um dia à conclusão que estratégias baseadas em energia barata são impossíveis de sustentar em Portugal.

Taleb ensinou-me: "Stressors are information"

Entretanto esta semana:


Sem stressors não há informação, se não há informação, não há sinal de que a mudança seja mesmo necessária.

Se recuarmos a Outubro de 2021 percebemos que o preço da energia não tem nada a ver com a guerra.

domingo, outubro 23, 2022

Evolução não planeada

Imaginem este cenário de evolução do VAB numa empresa:


Conjuga bem com:
"To understand why it’s so important to go with organizational strengths, we need to explore just how diametrically opposed the two models of business really are. The first kind of company competes on a complex-systems model
...
The second kind of company competes on volume operations.
...
If you think business is business, you’re simply wrong. In truth, business takes two distinct forms, and they could scarcely be less alike. One kind of business, as shown in the exhibit “Complex-Systems Model,” is geared toward delivering customized solutions to demanding and deep-pocketed customers. The other, as shown in the exhibit “Volume-Operations Model,” is designed to package a company’s proprietary strength (its core technology, which may or may not be very high-tech) into standard products that meet the generic needs of mass markets."
O que se passa com a empresa acima é a consequência natural da evolução não planeada (folhas na corrente) em que se transitou de um modelo baseado no volume (poucos clientes, pouca variedade e encomendas grandes) para um modelo mais próximo do complexo (muita variedade, encomendas mais pequenas e ... a falha ... o número de clientes não cresceu o suficiente para compensar a mudança).

A empresa não decidiu mudar, não alterou a sua estrutura produtiva ou a sua mentalidade, foi conduzida pelo mercado... não teve voto na matéria, não teve consciência.

Trechos retirados de "Strategy and Your Stronger Hand"




sábado, outubro 22, 2022

Curiosidade do dia

Depois de ter ouvido o podcast de Lex Fridman com John Vervaeke, tenho ouvido diariamente os podcasts de John Vervaeke sobre "Awakening from the Meaning Crisis". Esta semana tive oportunidade de ouvir o nº 20, "Ep. 20 - Awakening from the Meaning Crisis - Death of the Universe".

John Vervaeke continua a ser capaz de me surpreender!!! Que episódio: UAU!

Começa com Santo Agostinho com um conjunto de ideias tão fortes que duraram quase 1000 anos, continua com Tomás de Aquino e como ele resolveu o problema de então recorrendo à ideia do mundo natural e do mundo sobrenatural, à separação da razão do coração. Uma ideia tão bem sucedida que representa o princípio do fim do mundo pré-ciência.

A introdução na Europa dos algarismos indo-árabes que facilitou o cálculo e fez explodir a matemática. O surgimento dos bancos em Itália e da sociedade comercial que começou a expandir a vida sem recurso ao sobrenatural de Tomás de Aquino. Segue-se Copérnico e a sua ideia sobre o heliocentrismo, algo do género: "Fica mais fácil fazer as contas se colocarmos o Sol no centro". Ele não afirma que o Sol está no centro, ele foca-se na Matemática. 

Depois, Vervaeke apresenta-me um Galileu que nunca ninguém me tinha apresentado. O Galileu matemático, o Galileu que muda a noção do mundo, daí o título do episódio. Até Galileu, humanos e o resto do cosmos viviam e faziam parte do mesmo caldo solidário, com vontade, com personalidade. Depois de Galileu, que introduziu termos como inércia e resistência, os humanos ficaram sós, separaram-se do resto do universo. A palavra cosmos antes e depois de Galileu quer dizer coisas diferentes. O mundo resiste aos humanos.

Galileu pensa: vemos o sol levantar-se num lado de manhã e pôr-se num outro lado de noite e afinal o sol não se mexe. Ou seja, somos enganados pelos nossos sentidos. Como nos podemos precaver contra outros enganos? Com a Matemática!!! Galileu introduz ou desenvolve as equações matemáticas que depois Pascal e Descartes expandiriam.

É uma viagem e pêras! No 21 segui-se Lutero e agora no 22 Descarte e Pascal. Já agora, uma curiosidade, como é que Descarte inventou o referencial cartesiano? Por causa de uma mosca que não o deixava dormir. Num quarto, como o da minha mais antiga recordação de infância, com paredes em tijolo-burro, às tantas ele começou a pensar que podia descrever onde estava a maldita mosca se contasse quantos tijolos havia desde a esquina da parede.

Quem vem do Afeganistão para a Europa nunca foi sujeito a uma cultura que evoluiu deste caldo evolutivo.

À espera da autópsia

Ontem de manhã, durante a caminhada matinal li "Ach.Brito foi vendida por um euro. Empresa passou a ser detida por um fundo de capital de risco":

"A Ach.Brito, que inclui as marcas de sabonetes e outros produtos de beleza Claus Porto e Musgo Real, tinha no mercado do turismo um dos seus principais clientes e o plano a seis anos, revelado ao PÚBLICO em 2017, visava “aumentar as vendas da marca [Claus Porto] no estrangeiro”, num investimento de cinco milhões de euros. Mas as suas intenções viriam a ser goradas com a chegada da pandemia, a meio do processo."

Por acaso, ontem de manhã numa empresa usei este esquema de 2008:


Por acaso gosto da marca Ach. Brito e costumo comprá-la. Sempre me questionei sobre a sua presença nos hipermercados.

Gostava de ver estes casos reais da economia portuguesa autopsiados pelas revistas de gestão nacional. Talvez daqui a uns anos possa encontrar algo numa tese de mestrado.

sexta-feira, outubro 21, 2022

A responsabilidade pela formação

Ao ler isto: 

"Perhaps the single most important piece of advice I gave my children as they were growing up, and that I offer in this chapter, is to treat every day as a learning opportunity. Don't make assumptions and check the beliefs of yourself or others against the actual evidence. Keep an enquiring mind. Don't assume that a convenient soundbite tells an accurate story and always recognize that you have more to learn. A comment I have heard from individuals who feel frustrated at work is: “I’ve been in this role two/three years and I haven't learned anything. They haven't provided any courses.” I find that an extraordinary viewpoint - it's your responsibility to be continually learning. There were two glaring issues that struck me when I heard such sentiments: firstly, you can always book your own course, or buy the textbooks."

Recordei logo 2008:

"A formação profissional de cada um, é um assunto demasiado importante para ser delegado em regime de outsourcing a quem quer que seja." 

E 2011:

"O seu futuro é demasiado importante para ser colocado nas mãos do seu chefe, ou patrão. É que, por mais que ele genuinamente o valorize... a empresa pode ter de fechar. Por isso, não confie a sua formação a mais ninguém." 

Trecho retirado de "Deliver What You Promise" de Bali Padda.

quinta-feira, outubro 20, 2022

Quais as consequências destas falências?

Ontem, apanhei isto no Twitter:

Entretanto, no dia anterior tinha lido:

"The backbone of German innovation and a major source of future growth are its small to medium sized businesses. Almost 40% of total corporate turnover is generated by these enterprises, and they account for 55% of value added in the German economy. They also train the future industry workforce, and are responsible for 1.3 million of the 1.5 million training places in German companies. Keen innovators, smaller companies are often investing twice as much in research and development as their larger competitors. Unfortunately, the current crisis is hitting precisely this sector of the economy hardest, driving up insolvencies among Germany’s so called ‘Mittelstand’."

Mais do que uma consequência da guerra, recordo do Sábado passado Pode ser que cole à parede, julgo que isto é consequência de uma transição energética feita por políticos. Ou seja, às três pancadas e sem olhar a consequências e balanços energéticos (ainda recentemente na Califórnia estabeleceram data limite para deixar de vender carros com motor a combustão e bloquearam carregadores eléctricos por receio de apagões).

Quais as consequências destas falências?

Que redesenho da paisagem industrial na Europa?


terça-feira, outubro 18, 2022

Falta mão de obra? (parte II)

Parte I.

Na passada semana recebi um telefonema de um empresário, pessoa da área administrativa que acumulava a função de Responsável pela Qualidade tinha-se demitido. Antevimos dificuldade em encontrar nova pessoa para a função.

Ontem, passei pela empresa e, para minha surpresa, percebi que mais de 60 pessoas já tinham respondido à oferta de emprego. A quase totalidade das pessoas que responderam já estão empregadas.

Que se passa?


segunda-feira, outubro 17, 2022

Falta mão de obra?

Sim, eu sei que a emigração rouba mão-de-obra.

Sim, eu sei que existe imigração.

Sim, eu sei que existe competição entre sectores económicos.

Julgo que este artigo ajuda a ilustrar o que se pode estar a passar, da próxima vez que ouvirem empregadores a dizer que falta mão de obra:

"Carolina Reyes was surprised when she heard that an assistant teacher at her child care center in suburban Maryland was quitting for a job cleaning high school classrooms. The hours — 6 p.m. to midnight — seemed crummy. And the work hardly seemed more satisfying.

But then Reyes, who owns the center, heard about the salary — $24 per hour, compared with the $15 she was able to offer.

The worker was only one of several Reyes lost recently — part of a national exodus from the child care profession. The shortage is contributing to a crisis for parents, as child care providers close their doors or limit enrollment in response to a labor market in which they cannot compete.

There are 100,000 fewer child care workers than there were before the coronavirus pandemic, according to the Bureau of Labor Statistics. Even as private-sector employment fully rebounded over the summer from the job losses caused by COVID-19, the child care sector shrank and was 9.7% smaller last month than it was in February 2020, federal data shows.

Program directors point to a few explanations for the shortage: competition from other sectors, as well as regulations — including license requirements, vaccine and masking rules — that could dim the enthusiasm of some job candidates.

The typical American child care worker earns about $13 per hour, and many earn just above minimum wage. Last year, 29% were so poor that they experienced food insecurity, according to a survey conducted by researchers at the University of Oregon.

Positions stocking shelves at Target, ringing up groceries at Trader Joe’s, and packing and loading boxes at Amazon warehouses now often pay more than jobs in child care programs in many parts of the country. Working at a nail salon or managing pharmacy benefits over the phone can also lead to higher earnings."

Se falta mão de obra é porque há quem pague mais por ela. Se não dá para pagar por ela, talvez seja uma mensagem do mercado a dizer que o negócio não tem pernas para andar, talvez seja de desviar os recursos para outro empreendimento.

Trecho retirado de "Why You Can't Find Child Care: 100,000 Workers Are Missing" do New Yor Times  

domingo, outubro 16, 2022

Dedicado aos que pensam que estas coisas só acontecem em Portugal

Estados Unidos, Outubro de 2002, unidade de fabrico da LEGO.

"You've never been trained in it? I asked the operator on the production line at LEGO. I was holding the operating manual open at the page showing the process that I had been referring to. The machinery was whirring in the background, we had to raise our voices slightly to be heard. There was a row of 12-14 vibratory bowls, each about 1m wide, in which LEGO bricks were automatically sorted and counted, then dropped into bags.

'No,' came the reply.

I took the manual to the supervisor, who told me: I've never even seen it before.'

The official LEGO quality operating processes looked impressive on paper; the problem was that operators did not follow them - or were not even aware of them, in some cases."

Dedicado aos que pensam que estas coisas só acontecem em empresas de vão de escada e em Portugal. 

Trecho retirado de "Deliver What You Promise" de Bali Padda.  

sábado, outubro 15, 2022

Pode ser que cole à parede

Ontem, 13.10.2022 - "Cada falência é uma vitória de Putin", diz o líder da indústria têxtil portuguesa

"O presidente da ATP - Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, Mário Jorge Machado, deixou esta quinta-feira mais um alerta sobre como o disparo do preço do gás natural está a pressionar a indústria têxtil: “Cada falência é uma vitória de Putin, que está a usar o gás como arma económica”."

Parece que o Putin tem as costas largas, e eu sou a última pessoa a querer defende-lo.

A 18.10.2021 - "Já há empresas têxteis a ponderar encerrar portas devido à escalada dos preços da energia"

"Já há empresas têxteis a ponderar encerrar portas devido à escalada dos preços da energia. Com os preços do gás natural cinco vezes mais caros e da eletricidade duas vezes mais elevados do que há três meses, muitas empresas deste setor já fazem contas e admitem não conseguir fazer face ao aumento dos encargos energéticos, a que acresce ainda a subida ou escassez de matérias-primas. Uma situação que poderá comprometer a retoma económica antecipada pelo Executivo, alerta Mário Jorge Machado, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP)."

Em 2013 apresentei este gráfico:


Entre 2005 e 2012 o sector têxtil perdeu 3000 empresas e manteve o volume de exportações. Nesse tempo o impacte da China era visto, justamente, como "É a vida!"

Em 2022 as exportações têxteis estão em alta. Por que devemos salvar empresas? Desconfio que muita gente quer que empresas condenadas pelo mercado sejam salvas pelos contribuintes.

BTW, a propósito disto ""TÊXTEIS PORTUGUESES PASSARAM O TESTE DE STRESS HA 20 ANOS"" onde se pode ler:

"os desafios ao sector são enormes mas “os têxteis portugueses passaram o teste de stress há 20 anos”, disse Pedro Siza Vieira, ex-ministro da Economia,

...

E os que passaram esse teste de stress de há 20 anos não vão agora ser derrotados por mais uma crise."

Este advogado de gabinete lisboeta tem de aprender o que é o índice de turbulência - Debaixo da superfície calma e pacata. Fez-me lembrar a parolice nortenha O provincianismo nortenho!

Qualquer reunião empresarial para que convidem estas personalidades é um sinal para não perder tempo com essas reuniões. O que é que eles sabem da economia transaccionável? Come on!

Portanto:


"Para este responsável, no curto prazo a "prioridade deve ser salvaguardar a indústria têxtil", ao mesmo tempo que esta se prepara para um "futuro competitivo a longo prazo". Futuro esse que terá de ser assente em "fundações fortes", ou seja, em inovação, criatividade, qualidade e sustentabilidade. "Eu sei que estas podem parecer só palavras bonitas, mas acredito que precisamos de continuar a investir em inovação, de continuar a atrair criatividade para as nossas empresas, de produzir artigos de alta qualidade e de nos tornarmos mais sustentáveis porque essa é a receita para o nosso sucesso num mercado globalizado e altamente competitivo", frisa.
Mas tudo isso exige diz Alberto Paccanelli, um "novo quadro regulatório no qual a qualidade e a durabilidade se tornem o norte, [Moi ici: Durabilidade? Come on Are you prepared to walk the talk? Qualidade? O que quer dizer qualidade? Um Fiat tem menos qualidade que um Mercedes? Tudo conversa para levantar barreiras alfandegárias] em que a transparência e a sustentabilidade são premiadas e em que os free riders, que não cumprem com as regras e os standards [europeus], são mantidos fora do mercado". Ou seja, há que garantir que o novo quadro será "justo e equilibrado, o que exige um diálogo constante e próximo entre o regulador e a indústria", defende."

sexta-feira, outubro 14, 2022

Tudo vai depender do tal jogo de forças (parte II)

Recordar Tudo vai depender do tal jogo de forças.

Agora dados de Janeiro a Agosto:


Quando comparamos 2022 com 2019, último ano sem pandemia, dá para perceber que estamos a trabalhar bem:

Imagino que estes três factores, com maior ou menor grau, estão a influenciar o desempenho das nossas exportações.

A nível industrial já detecto um aumento da heterogeneidade do impacte do custo da energia. Por exemplo, no sector do calçado:
  • fábricas de solas fechadas com pessoal em casa, a aguardar que o começo da produção do próximo Verão comece a justificar o retorno à actividade;
  • fábricas de calçado com contratos de electricidade renovados antes de 2022;
  • fábricas de calçado com contratos de electricidade renovados em 2022.
À medida que nos embrenhamos mês após mês num mundo de inflação a 2 dígitos, como vai reagir a economia não-transaccionável?

quinta-feira, outubro 13, 2022

Curiosidade do dia



 

O sabotador!!!

Recordar O retrato (parte III)O retrato (parte II) e O retrato

"In our experience, customers are rarely profit drains because of below-market pricing; they’re profit drains because of an excessively high cost to serve, generally caused by relatively minor factors that are unseen and unmanaged. The good news is that this is often relatively easy to fix: You can create a win-win solution for both companies, increasing the customers’ own profitability while converting many into profit peaks. We call this process of joint cost reduction — increasing profitability by lowering the cost to serve rather than raising prices — conditional pricing."

Relacionar com isto de "your interests overlap, but they are not the same":

"The mantra that 'the customer is always king' requires interpretation, I learned. The customer is transactional; your interests overlap, but they are not the same. You provide a good service; you delight the customer, but you maintain margins sufficient for a good living and protect your own interests. [Moi ici: Demasiadas vezes quem negoceia o preço com o cliente, a seguir aceita alterações que sabotam as margens negociadasYou do not necessarily cede to every demand a consumer makes,"

Treco inicial retirado de "3 Strategies for Managing Your Profit-Drain Customers

 

quarta-feira, outubro 12, 2022

Riscos vs oportunidades

Qunado implementamos um sistema de gestão da qualidade, uma boa prática passa por questionar a realidade existente e determinar riscos colocando questões como:
  • o que pode correr mal?
  • o que costuma correr mal?
  • o que nos pode desviar do resultado pretendido?
Por exemplo:

E como determinar oportunidades para melhorar o desempenho?

Bali Padda no segundo capítulo de "Deliver What You Promise", intitulado "Innovation is a Way of Thinking", escreve:
"We kept asking: why? Why are we doing this? It is human nature to interrogate new proposals far more rigorously than existing procedures. Key to improvement is to interrogate everything, including the obvious, and to involve all relevant individuals in the discussion. 
...
Why do we stick to the same approach for years, instead of continually seeking to improve it, like Formula 1 engineers at the pit stop?"

Olhando para este vídeo:


Enquanto os riscos podem materializar-se por conspiração da realidade, as oportunidades, muitas vezes, têm de ser seleccionadas e perseguidas proactivamente de forma sistemática. É preciso investir para que se materializem.

terça-feira, outubro 11, 2022

Por que ficamos admirados com a falta de produtividade do país?

Há cerca de um mês escrevi Depois, vamos ficar admirados com a falta de produtividade do país. Na semana passada escrevi A brutal realidade de uma foto.

À medida que vou envelhecendo é cada vez mais frequente detectar, encontrar, "cheirar" situações em que supostos "experts" debitam um discurso sobre um tema em que não conseguem passar de superficialidades e de pedidos de estudos. Ainda me recordo da primeira vez, foi sobre Camarate, mas se quiserem uma galeria de cromos tenho uma série de 25 - Aprenda a duvidar dos media (parte XXV).

Por que ficamos admirados com a falta de produtividade do país? Ela é uma consequência natural da nossa mentalidade. Ei-la em todo o seu esplendor:

"O presidente da delegação regional da Ordem dos Economistas, [Moi ici: Não é uma pessoa qualquer] Francisco Bettencourt, alerta para possíveis problemas de "tesouraria" e "viabilidade" das empresas açorianas, devido ao aumento previsto do ordenado mínimo para 2023, defende medidas que ajudem a "compensar" o incremento dos custos. [Moi ici: Reparem na solução para o aumento do salário mínimo ... não é o aumento da produtividade, não é o repensar da forma de trabalhar, não é o encerramento e concentração, não é o aumento dos preços, é a ajuda de Deus ex machina]

"O aumento do ordenado mínimo, embora não compense a subida da inflação para as famílias, porque abrange uma franja muito grande de trabalhadores, implica sempre um investimento muito considerável por parte das empresas, o que pode complicar a sua viabilidade. Acredito que as empresas venham a ter problemas de tesouraria devido a este aumento", [Moi ici: Não diz uma palavra contra o aumento do salário mínimo, mas está preocupado com a incapacidade das empresas para o pagarem. E não acha estranho, e não se questiona] alerta Francisco Bettencourt.

Nesse sentido, o economista realça que esta medida "tem de ser compensada, [Moi ici: Já cá faltava o pedido do apoiozinho, o choradinho pelo subsídio] pelo menos numa fase inicial, de forma a que as empresas possam suportar também os consequentes aumentos da segurança social e de outros impostos, até porque estamos a recuperar de dois anos de pandemia e as empresas ainda não estão com a sua tesouraria equilibrada", ressalva.

Para Francisco Bettencourt, esta compensação terá de partir do Governo da República, uma vez que se trata de uma decisão a nível nacional. "A decisão sobre o aumento do ordenado mínimo é do Governo da República. Como tal, qualquer compensação que haja a esse nível também deverá ser efetuada pela República", afirma. 

...

Francisco Bettencourt fala, por isso, num "ano de 2023 mais complicado" e defende que, ao nível das famílias, terá de haver uma preocupação grande com as camadas mais vulneráveis" por parte do Go- verno açoriano.

Quanto às empresas, destaca que será importante a aposta em "créditos a fundo perdido ou com bonificação dos juros para que possam continuar a sua atividade, [Moi ici: As empresas, segundo o economista, não conseguem suportar o aumento do salário mínimo. Por isso, têm de ser apoiadas. E para fazer face a um 2023 complicado a solução é: créditos a fundo perdido, quem será que paga esse crédito? E mais dívida. E dizer às empresas para mudarem de vida? E dizer às empresas que não têm direito à vida, que têm de fazer pela vida? Dá a ideia que o economista vê a economia como estando, ou devendo estar em estado de equilibrio e não se pode mexer na população das empresas] já que muitas delas ainda não conseguiram recuperar dos dois anos de pandemia", salienta."

Trechos retirados de "Economistas defendem compensações às empresas pelo aumento do ordenado mínimo" publicado no jornal Açoriano Oriental de 9 de Outubro de 2022.

NOTA: Não me promuncio sobre a existência de salário mínimo.

segunda-feira, outubro 10, 2022

Pavões

Ontem fui, mais uma vez, ameaçado. 

Desta vez para que mais dinheiro dos meus impostos seja canalizado para financiar o Portugal Fashion, depois da TAP, da EFACEC, do Euro, da Expo, da ...

Segundo o JN de ontem:

"O Portugal Fashion, um evento de promoção da moda nacional que permite divulgar as fileiras do têxtil e calçado e alavancar a internacionalização do setor, está em risco de não se realizar a partir do próximo ano por falta de financimento europeu. [Moi ici: Por que se organiza um evento como o Portugal Fashion? Haverá algum estudo sobre as consequências da participação das empresas no Portugal Fashion? O evento é eficaz ou não? Se é eficaz, os participantes não estão dispostos a financiar o evento? Se não é eficaz, então não vale a pena fazê-lo!]

...

TÊXTIL VALE 6 MIL MILHÕES A realização do evento no Porto é tida como essencial para o têxtil e o calçado. [Moi ici: Isto cheira-me a um empolamento exagerado do impacte do evento. Imaginam que se o evento fosse mesmo essencial para o têxtil e o calçado não aparecia financiamento privado para o fazer?] Ao dar "visibilidade" à fileira do têxtil nacional, através do "espetáculo que é a passagem dos produtos pós confeção", este certame potencia negócios com valor acrescentado, [Moi ici: Potencia negócios com valor acrescentado para quem? E esses beneficiados não estão dispostos a investir no evento?] novos contactos e atrai pessoas, adianta Mario Jorge Machado, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP).

...

Dentro da fileira, [Moi ici: Têxtil] "o elo mais fraco, que está menos desenvolvido, é o de marcas com origem portuguesa. Não temos conseguido criar marcas com um posicionamento a nivel global". E, "se não tivermos um centro em que se comece a fazer a criação dessas marcas, matamos ou diminuimos significativamente a possibilidade de isso acontecer", explica, ainda, Mário Jorge Machado. [Moi ici: OK, então o presidente da ATP tem estudos que demonstrem o impacte positivo do evento? Pode apresentá-los?] Nesse sentido, se o Portugal Fashion acabar, "vai ser ainda mais difícil" dar visibilidade, sobretudo a nivel internacional, ao setor têxtil e, em particular, às marcas nacionais." [Moi ici: Não têm curiosidade em saber qual o retorno em euros para as marcas que participaram em edições anteriores do evento?] A dimensão internacional vai ficar fortemente prejudicada e diminuida' frisa. [Moi ici: Será que ele disse isto sem se rir?]  Com este evento, há uma promoção setorial e do pais. Por isso, deve haver algum investimento público para fazê-lo, defende o presidente da ATP, descartando a possibilidade de serem as empresas do setor a suportarem todos os encargos." [Moi ici: Então querem organizar um evento que supostamente beneficia as empresas participantes e não querem correr riscos?

Quando referi a minha estupefacção no Twitter, alguém escreveu "pavões" 

domingo, outubro 09, 2022

Os dependentes, e os trouxas afligidos com o sentimento de culpa

Há dias mão amiga encaminhou-me um artigo, "The Impact of the Subconscious on Risk-Based Decision Making" de George Haber.

A certa altura deparo com este trecho e a minha mente foge do tema e voa para outras paragens:

"categorizes safety culture into four stages — reactive, dependent, independent and interdependent. Organizations with little safety culture or maturity reside in the reactive stage, and those with safety systems and an awareness of the need to follow the systems will usually position an organization in the dependent stage. The next phase, referred to as independent is best defined by an internal maturity of the workforce. While in the reactive and dependent stages, workers are typically reliant on the external factors introduced in these two phases. The independent stage, however, requires a shift in which workers develop an internal sense and drive to seek a safer work state through their own awareness, actions and interactions."

Não é a primeira vez que vejo estes modelos de maturidade aplicados a organizações. O que emergiu no meu consciente foi a pergunta: Por que não aplicamos os mesmos modelos a países? Será por ser politicamente incorrecto?

Por exemplo, quando falamos do progresso feito no tempo da troika, quando falamos em Passos Coelho como o gestor da falência no tempo da troika, estamos a falar de uma organização numa fase dependente, pelo menos essa, onde "While in the reactive and dependent stages, workers are typically reliant on the external factors introduced in these two phases". 

Ainda esta semana:

Um protectorado incapaz de agir como um adulto independente. E voltando à linguagem do artigo, os frugais não só têm de ser independentes como interdependentes... têm de nos aturar e tomar conta de nós, que descobrimos uma nova forma de colonialismo, já não sugamos recursos a uma colónia, mas a trouxas afligidos com o sentimento de culpa que lhes ficou da histórica herança cristã.

sábado, outubro 08, 2022

"your interests overlap, but they are not the same"

"The mantra that 'the customer is always king' requires interpretation, I learned. The customer is transactional; your interests overlap, but they are not the same. You provide a good service; you delight the customer, but you maintain margins sufficient for a good living and protect your own interests. [Moi ici: Demasiadas vezes quem negoceia o preço com o cliente, a seguir aceita alterações que sabotam as margens negociadasYou do not necessarily cede to every demand a consumer makes, yet if a loyal customer suggests a discount for a large purchase, you seek ways to accommodate them. It is a relationship based on negotiation and mutual respect, not excessive subservience: the customer is king, but not an autocrat.

...

Ultimately, a business exists to serve a human need, so its orientation, and the application of everyone in the enterprise, must be geared to that. This means that the principles of understanding the customer, meeting their needs, of fairness and assertiveness in negotiations are timeless and will always be central.

...

Customers in business-to-business relationships have their money-making logic, you have yours. Understanding this is key to understanding behaviour and as a guide in negotiations."

A verdade é que a figura acima é uma simplificação da realidade. A figura acima assume que o fornecedor escolheu os seus clientes-alvo. O mais provável é que não o tenha feito e parta do princípio de que tudo o que vem à rede é peixe. 

E para quem faz exercícios sobre partes interessadas na ISO 9001, o que fazem com os requisitos relevantes dos clientes que não coincidem com os da empresa? Dizer não é o princípio de ter uma estratégia para o negócio. Já os oiço: "Sacrilégio!"

OK, continuem a pagar para trabalhar.

Trechos retirados de "Deliver What You Promise" de Bali Padda. 

sexta-feira, outubro 07, 2022

É win-win, mas têm de deixar de olhar para dentro do polimerizador

No livro, "Deliver What You Promise" de Bali Padda, antigo COO da Lego, encontro no prefácio o seguinte diálogo:

"- The first priority is to be flexible.

- No, the first priority is to be reliable. Deliver what we promise. Reliability first, flexibility second."

As empresas certificadas de acordo com a ISO 9001 têm uma cláusula que devem aplicar, a cláusula 4.1 sobre a análise do contexto. A maior parte das empresas segue um ritual ôco, estilo cerimónias do 5 de Outubro, anualmente repetem um exercício de análise do contexto que se limita a bajular a direcção e a equipa de gestão, e a demonstrar como o Titanic vai bem e recomenda-se. Mantêm 95% dos factores que o consultor plantou no sistema aquanda da implementação do sistema e siga. Serve para calar auditores da entidade certificadora.

A minha sugestão para os responsáveis de sistemas de gestão da qualidade, do ambiente, da segurança, da segurança da informação, ... passa por na próxima análise do contexto levarem um recorte da entrevista de António Saraiva ao Público de ontem:

"Acha que pode haver um racionamento de energia neste Inverno para famílias e empresas em Portugal?

Não há uma maneira boa de dar uma má noticia e não quero ser profeta da desgraça ou de más noticias catastrofistas. Mas temos que ter alguma fé [Moi ici: Hope is not a strategy!! Hope is not a good plan!!!que vamos ter chuva em maior quantidade do que tivemos nestes últimos dois anos. Estamos, como sabemos, com a maior seca dos últimos 500. 

... 

Enfim, vamos ter esperança de que vai chover mais, porque, se assim não for, vamos ter que tomar, nós, país, algumas medidas de criar reservas com algumas reduções inteligentes de consumo. " [Moi ici: Que linguagem rebuscada para dizer algo sem ser entendido pela populaça!!!

E levarem um recorte da primeira página do Jornal de Negócios de ontem:


E pensem nas primeiras linhas da cláusula 6.1.1 da ISO 9001: juntar a possibilidade de apagões na rede eléctrica no próximo Inverno (cláusula 4.1), com os requisitos das partes interessadas (clientes e accionistas, cláusula 4.2), para fazer emergir o risco de não conseguir satisfazer as encomendas por falta de energia.

Vai acontecer? Não sei!
Não vai acontecer? Não sei!

O ponto não é adivinhar o futuro, o ponto é preparar a empresa para a eventualidade de acontecer se o risco for elevado. Quem se prepara com antecedência consegue coisas que quem anda com as calças na mão não consegue. Por exemplo, pessoa mal-formada, mas com olho para os negócios de ocasião, em Janeiro de 2020 comprou uma porrada de máscaras cirúrgicas quando ninguém as queria. Em Abril de 2020 vendeu-as com um bom lucro.

A gestão de topo não liga ao responsável do sistema de gestão? Não há problema, façam um relatório, exponham os riscos e perigos da situação e proponham soluções para minimizar a potencial ocorrência. Se ninguém ligar e nada acontecer, não passa nada.
Se ninguém ligar e acontecer, ganham crédito para o futuro.
Se ligarem e não acontecer, foi uma questão de prudência e fizeram bem em chamar a atenção.
Se ligarem e acontecer, ganham crédito para o futuro.

É win-win. Têm é de "deixar de olhar para dentro do polimerizador" e alargar o papel do gestor do sistem de gestão.

quinta-feira, outubro 06, 2022

"an inspiring or urgent reason to change"

"When you create something yourself, you feel ownership of it, and once you own it, you might care enough to improve it. You can say the same thing about teams that create their work process: They feel ownership of their approach, which makes them take responsibility for improving it. Once teams discover and learn what works for them, they can share that learning with other teams across the organization. This process of lateral learning enables the organization to discover which changes it needs to make to build a model that works in its context.
...
Successfully bringing agility into an organization is a journey of discovery and learning. There is no fixed end-state when you can say, "The transformation is done." Instead, the end-state is a dynamic one, in which new insights are continually used to improve the product, processes, and organizational design.
...
Having an inspiring or urgent reason to change is a precondition for a successful transformation. Without it, the chances of lasting change are slim. After all, why would we change if all is running perfectly? Once the reason is there, then the hard work begins."
Trechos retirados de "Creating Agile Organizations: A Systemic Approach" de Ilia Pavlichenko.

quarta-feira, outubro 05, 2022

Uma preocupação

 Um título, "Technology alone won’t solve your organizational challenges", que retrata uma preocupação de anos do meu parceiro das conversas oxigenadoras.

Há anos que o oiço enunciar o seu espanto com as empresas que julgam que a tecnologia é a condição necessária e suficiente para aumentar a produtividade das empresas, o seu espanto com as empresas que não colocam as pessoas na equação. Quem vai operar a tecnologia? Quem vai encontrar os novos clientes para a nova produção?

terça-feira, outubro 04, 2022

Problemas sistémicos

Em Mateus 7:16-19 pode ler-se:
"É pelos seus frutos que os hão de reconhecer. Porventura podem colher-se uvas das silvas ou figos dos cardos? Portanto, a árvore boa dá bons frutos e a árvore má dá maus frutos. Assim pois, uma árvore boa não pode dar maus frutos e uma árvore má não pode dar bons frutos. Toda a árvore que não dá bons frutos corta-se e deita-se ao fogo."

Olhar para a performance do país como um todo:

  • Dívida
  • Estado do SNS
  • Estado da educação
  • Estado da ...
  • Emigração jovem
  • Carga fiscal
  • Aproximação do salário mínimo ao salário médio
  • ...
E concluir que a árvore não dá bons frutos.

Resposta rápida, simples e ... errada: A culpa é dos portugueses.

"Why do people repeat the same unsuccessful behavior in organizations? Why do certain problems in organizations seem to appear again and again? Why aren't improvement actions leading to the expected results? What is probably going on is that the improvement actions are anti- systemic, acting on independent problem events without paying close attention to their relationships and deeper causes.

An organizational design includes, among other things, decisions about the division of work and the assignment of responsibility among units. When units coordinate to get the job done, they create complex interactions and feedback loops- the system's structure-that generate the observable recurring problems.

...

When you see how the system of work constrains people’s behavior, you realize that the recurring problems are mainly due to the system, not to the people themselves. Thus, working on the people when the problem is actually systemic in nature is not the right path to go down.

...

The basis for agility is an environment of exploring new possibilities for improvement. Such an environment cannot overly constrain people's exploration with detailed procedures and rules because that reduces the space for innovative ideas -precisely the opposite of what is needed. Instead, management needs to support self- organization by establishing a few simple rules, a clear goal, and short feedback loops."

Trechos retirados de "Creating Agile Organizations: A Systemic Approach" de Ilia Pavlichenko.

Perante uma variedade de escolha tremenda

Este artigo, "‘There’s endless choice, but you’re not listening’: fans quitting Spotify to save their love of music", é super interessante e tem algo de Mongo nele.

Perante uma variedade de escolha tremenda, por um lado ficamos paralisados, mas é algo mais do que isso. É o não querer uma vida sem agência, por exemplo.  .

segunda-feira, outubro 03, 2022

A brutal realidade de uma foto

Imaginem uma empresa sujeita ao aumento dos custos. Os aumentos podem ser mais rápidos do que a capacidade de criar valor para os suportar. Por exemplo, no caderno de Economia do semanário Expresso da passada semana, no artigo, "Gerir quando quase tudo É "volátil" e "imprevisível"", encontramos este trecho:

"Já em 2022, quando o custo do aço inoxidável aumentou 300%, voltaram a pensar na Herdmar o mesmo mas, mais uma vez, "felizmente, não se verificou". Mas, desde junho, quando terminou o contrato de preço fixo de eletricidade que tinham, a fatura aumentou 500% face ao que pagavam no início do ano, mesmo com os sistemas de produção em autoconsumo que instalaram em 2021."

Agora olhem para a foto que ilustra o artigo, uma foto da Herdmar:


Espero que a foto seja uma montagem artística e não um apanhado do quotidiano da Herdmar. Imaginem os minutos humanos incorporados na manufactura daquela colher, segundo a foto. Quantas colheres são produzidas por aquele humano por mês? Quanto valor é gerado por essa quantidade mensal de colheres?  Quanto desse valor sobra, depois de pagar matérias primas e consumíveis, para pagar salários e o custo do futuro?

Agora reparem como é o pensamento do mainstream em Portugal (no mesmo artigo):
"Por isso é que o economista Leonardo Costa diz que a prioridade do Governo devia ser o aumento da produtividade, a retenção da mão de obra qualificada no país e a melhoria da gestão nas PME, onde "há chefias que têm menos qualificações que os seus trabalhadores", comenta."

Portanto, o aumento da produtividade que o país precisa será obtido à custa da melhoria da gestão nas PMEs existentes, e para isso será fundamental a actuação do governo... 

Pois, em A amostra errada mostro como essa ideia está errada. A única actuação que vejo para o governo é a de criar condições para que empresas de outro campeonato encontrem interesse em vir instalar-se na Sildávia do Ocidente. Não cabe aos governos guiar as empresas no aumento da produtividade, ou na melhoria da gestão, não cabe aos governos escolher vencedores. Deixem as empresas morrer!!! 

Tanta gente precisava de ter esta citação afixada no local de trabalho:

BTW, olhem para os governos que temos tido... acham mesmo que são um exemplo de gestão? TAP, EFACEC, BES, ...

domingo, outubro 02, 2022

A amostra errada

Em Janeiro passado escrevi, Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas. Empresas com elevados níveis de produtividade, empresas com margens que permitem pagar muito melhores salários, têm o mundo para escolher onde se devem localizar.

Em Julho passado escrevi, Depois do hype: O mastim dos Baskerville! onde escrevi:

"Deixem os empresários que estão a trabalhar em paz. Saúdem o seu esforço. Concentrem-se no que chamo o mastim dos Baskerville. Concentrem-se nas empresas e nos empresários que não existem. As melhorias de produtividade que o país precisa dependem das empresas e dos empresários que não existem."

Recordo isto por causa de um texto no último caderno de Economia do Expresso, "Confiança na política fiscal desce para mínimos", onde encontro esta figura:

Pensem na diferença abismal entre os níveis médios de produtividade de Portugal e da União Europeia ... pensam que vai ser colmatada pelas empresas existentes? Pensam que são os incumbentes, craques na obtenção de subsídios e apoios do governo de turno, que vão fazer essa viagem? Não é que eles não queiram, não sabem. Recordar, os macacos não voam.

Portanto, podem fazer todos os inquéritos que quiserem, mas esquecem-se de uma coisa, estão a inquirir a amostra errada.




 

sábado, outubro 01, 2022

O retrato (parte III)


Resultados financeiros decorrem da capacidade de criar, capturar e extrair valor. Recuo a 2008 a Larreché em A originação de valor (parte I)

Imaginem o salário mínimo subir para 2000 euros por mês. 
O que é que isso significaria? Para muitas empresas significaria o fim, ponto. Por mais eficientes que sejam, ou passem a ser, nunca conseguiriam extrair e capturar valor suficiente para serem rentáveis. Por isso é que Taleb fala da incapacidade das empresas subiram na escala de valor quando chegamos a este patamar de exigência:
"Systems don’t learn because people learn individually – that’s the myth of modernity. Systems learn at the collective level by the mechanism of selection: by eliminating those elements that reduce the fitness of the whole, provided these have skin in the game"
Por isso, é que a resposta é a The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!

Não se pode capturar nem extrair mais valor do que aquele que se pode criar. Let this phrase sink in. ⚓

Assim, a primeira preocupação deve ser a criação de valor. Para termos uma empresa sustentável, uma empresa capaz de pagar os seus custos, investir no futuro e remunerar os accionistas quanto precisamos facturar. Quantas unidades temos de produzir a que preço médio? Que cenários são razoáveis?

Que tipos de clientes querem os nossos produtos que podem ser vendidos na gama dos preços que precisamos? Que tipos de construção, que quantidades, como podemos chegar até eles, ou eles a nós? 

Aqui talvez faça sentido uma regra simples para, logo num primeiro contacto contacto, evitar o investimento de tempo em projectos que nunca darão retorno positivo: quantidade vs preço vs construção vs prazo de entrega e eventualmente altura do ano (altura com menos trabalho pode levar a praticar preços mais baixo?)

A seguir: 
  • Como capturar mais valor?
  • Como extrair mais valor?

sexta-feira, setembro 30, 2022

A culpa é dos outros, dos maus

E o ciclo começa a fechar-se, outra vez:

"O motor do crescimento da economia portuguesa este ano vai voltar a ser o consumo privado, que vai superar o crescimento do investimento pela primeira vez em muitos anos, e isso é “uma preocupação” para o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno."

O alinhamento continua a fazer-se para o cumprimento da profecia mais fácil de sempre:

Pena que os defensores do fim da austeridade, das reversões e do virar da página não apareçam agora a dar a cara.

Crianças, não praticam a temperança, depois culpam os outros pelo destino a que chegam. O não-fragilista prepara-se para os problemas, para o fragilista:
"chega a hora de culpar os outros pelos problemas que não souberam prever, não quiseram prever, ou que ajudaram a criar." 

Trecho retirado de "“Motor do crescimento voltou a ser o consumo privado. Isso é uma preocupação”, alerta Centeno"


 

quinta-feira, setembro 29, 2022

Ser um melhor estratega

Num mundo de picos na paisagem competitiva, num mundo de assimetrias, num mundo de paixões, é fundamental aprender a ser um melhor estrategista: 

"to be a great strategist, you need to adopt three mindsets (strategy starts with customers; it involves operating and choosing in a complex adaptive system; and it embraces inventing the future) and possess three requisite skills (qualitative appreciation; dialogue; and juggling more balls).

...

Strategy Starts with Customers

Use every opportunity to talk to customers — both end-customers and channel (if your business sells through a channel). You don’t have to be at all formal or scientific about it. Make it easy to get started by doing it in a comfortable situation.

...

Strategy Involves Operating and Choosing in a Complex Adaptive System

...

So, I encourage them to see everything they do as tweaking, watching the results, tweaking, watching, tweaking, etc. That will help them internalize that their choices neither must nor can be perfect, but that is just fine.

...

Strategy Embraces Inventing the Future [Moi ici: Inventar o futuro não passa por análises no Excel]

To get strategists more comfortable with inventing the future, I encourage the practice of always reverse-engineering the status quo by asking the most important question in strategy: What Would Have to be True (WWHTBT)?"

Trechos retirados de "Becoming a Better Strategist

quarta-feira, setembro 28, 2022

Acerca da responsabilidade

A propósito de:

"Portugal precisa de um espírito mais reformador?

Com certeza que sim. Portugal já não cresce há 22 anos. Tirando a Itália, Portugal é o país que menos cresceu na Europa neste período. É o país que tem neste momento, na última década, uma emigração brutal. Saíram tantos portugueses, um rácio da população tão alto agora como nos anos 60, quando fugiam à guerra colonial. Portugal está num processo de estagnação profundo.
...
Parece-me impossível que alguém de responsabilidade, quiçá mesmo brio profissional ou patriotismo, num cargo de liderança, olhe para esta situação e não ache que é preciso reformar. É preciso fazer algo para Portugal voltar a crescer, para que tantos portugueses não escolham abandonar o país por falta de possibilidades, como tem acontecido nos últimos 22 anos."

terça-feira, setembro 27, 2022

O retrato (parte II)

O retrato (parte I).

Para acelerar o processo, antes de fazer o estudo estatístico previsto na parte I, olha-se para o esquema:

E avança-se com:
  • escolher 2 clientes que parecem encaixar-se em cada uma das 3 categorias da figura acima;
  • recolher todas as encomendas desses 6 clientes;
  • investigar e procurar pistas objectivas para explicar porque é que obtemos os resultados que temos com esses clientes.
Interessante que este tema, tenha sido elegido por Roger Martin para o seu post de ontem, "Shutting Down Losers". Basta olhar para esta imagem dele:

Para recordar a curva de Stobachoff.

"Compared to the academic world, it is almost as hard to stop something that isn’t working, but it is way easier to start something new. Companies start too many things without a lot of thought and struggle mightily with stopping, which is why companies end up continuing lots of things that don’t make sense but form part of the entrenched status quo.
...
[Moi ici: Olhando para o gráfico acima] But whenever I ask about getting rid of the 50% of stuff that takes profits down from 140% to 100%, I get concerted pushback as to why it would be a bad and/or infeasible idea.  [Moi ici: Tão, mas tão comum ...] The arguments take one of two forms, both variants of shared economics.
...
[Moi ici: Só Deus sabe quantas vezes me responderam que não podemos deixar de servir os clientes deficitários porque prejudicaríamos a parte lucrativa do negócio. Lembro-me de mais do que um empresario a expor a sua versão da piada negra "perdemos dinheiro na unidade, mas compensa no agregado". Duhhhhhhh!!!! E eu é que era o burro que não via bem a coisa… 😶] However, if the claim that the wining business would cease winning without continued operation of the losing business is actually true, then the winning business isn’t actually a winning business. In fact, it is not a separable business. The two are one business that (typically) is a mediocre performer. One just looks like it is a winning business because it isn’t being charged the full costs of its operations but rather is being subsidized by the losing business absorbing some of its costs. [Moi ici: Faz-me lembrar as guerras que tinha com um responsável comercial nos anos 90 que não incluía o custo da entrega das emcomendas a clientes a mais de 100 km porque, segundo ele, se incluir esse custo, não ganhamos os projectos] It is important for the combination to be treated as one mediocre business — which is what it actually is. There should be no more heaping of praise on the winning business for winning to such a lovely extent. It is just part of a mediocre business — and in due course, mediocre businesses should be exited."







segunda-feira, setembro 26, 2022

Lerolero

A propósito de:
  • subida na escala de valor;
  • aumento da produtividade à custa de trabalhar o numerador;
  • the flying geese;
  • o exemplo irlandês;
  • os macacos não voam;
No último Dinheiro Vivo, o texto do presidente da CIP, "Em busca de um Acordo de Competitividade e Rendimentos" andamos sempre à volta do jogo do gato e do rato:
"Desde logo, porque a associação destes dois vetores - competitividade e rendimentos - pressupõe a necessidade de os conciliar numa dinâmica positiva. Como já assinalei neste espaço, a única forma de o fazer é conseguir que a produtividade aumente. [Moi ici: O jogo do gato e do rato]
...
precisamos de um enquadramento mais favorável ao investimento, desde logo no domínio da fiscalidade, mas também no acesso ao capital. Precisamos de mais emprego qualificado. Precisamos de libertar as empresas do excesso de custos de contexto que absorvem muito do seu tempo e dos seus recursos." [Moi ici: Acham que é por causa dos custos de contexto que as empresas não aumentam a produtividade?]
Entetanto, em "A Simple Theory of Economic Development at the Extensive Industry Margin" de Dario Diodato, Ricardo Hausmann e Ulrich Schetter, leio:
"It is well known that industrialized countries produce a larger variety and more sophisticated goods when compared to developing countries. This naturally raises the question of how countries can enter new industries and climb the ladder of development.
...
Growth at the extensive industry margin is conceptually very different from growth at the intensive margin. [Moi ici: Esta diferença é fundamental. Representa trabalhar o numerador ou o denominador. Representar trabalhar na criação de valor, ou jogar o jogo do gato e do rato] Crudely speaking, growth at the intensive margin involves doing more- or better-of the same, while growth at the extensive margin requires doing something different. To analyze what this implies for economic development, we present a tractable small open economy model that is centered on three core presumptions: First, industries differ in their input requirements of technologies, occupations, or tacit know-how, for example, not just at the intensive, but also at the extensive margin. Second, if an input is currently not used domestically, then an economy needs to build up the capability to provide this input first, and building up this capability is costly. Third, if firms invest in building up the capability to provide a certain input, this will eventually spill over to the rest of the economy. We show that these presumptions imply that countries are more likely to diversify into products that require fewer new inputs, and provide indirect evidence in support of our main mechanism. We then argue that this basic observation about economic diversification has potentially profound consequences for development.
...
[Moi ici: Os macacos não voam!!!] Crudely speaking, developing countries cannot jump from producing textiles to producing airplanes, but need to gradually climb the ladder of development by building up the capability to produce in ever more sophisticated industries
... Our set-up thus provides a simple framework that can rationalize (i) that countries diversify along the development path; and (ii) that they do so by preferentially entering industries which are similar to a country's current activities in terms of their occupational inputs."

O salto de produtividade que o país precisa nunca será obtido à custa de jogos do gato e do rato. Se os macacos não voam, uma forma de queimar etapas é atrair know-how e capital estrangeiro que já tem experiência e mercado nas novas áreas.

domingo, setembro 25, 2022

"The root of our feelings"

Ontem de manhã, apanhei isto no Twitter:


Depois de ler o tweet de Pflaeging de imediato me veio à memória o que li no dia anterior em “The Empathy Factor - Your Competitive Advantage for Personal, Team, and Business Success” de Marie R. Miyashiro:
"Imagine…. It’s 11:15 AM. You call Bob, a business associate, and ask if he’ll meet you for lunch at Tobey’s Grill at noon to discuss a project you’re both working on that is of high priority. He agrees. You finish up what you’re doing and roll into Tobey’s parking lot at 11:55. You go in and get a table for two and begin checking out the menu. You look at your watch. It’s 12:10. No Bob. You pull out your iPhone and start playing with a few apps. You look at your watch again. It’s 12:25. Still no Bob."
Ao longo do texto a autora apresenta esta tabela em sucessivos estágios de desenvolvimento:
"So first they recognize that the exact same situation can result in many different feelings. Second, they see that their thoughts are not their feelings.
Thoughts are things we tell ourselves in our heads. Feelings are sensations we experience in our bodies.
...
the situation is not the cause of our feelings. If this were true, then we would have the same feelings for the same situation all the time. We can see from the exercise that this is not true—that people experience many different feelings given the exact same situation. We can also easily imagine that the same people could have different feelings about the same situation on a different day.
...
the root of our feelings lies within us, not in the situations or people around us. Our feelings are connected to our own internal needs. By identifying and articulating our own needs, we take responsibility for our feelings. Needs, as defined here, are not desires, wants, or wishes.
...
The causes of our feelings are more closely related to our own needs than to the situation or to Bob. The situation acts as a trigger, a stimulus that activates our awareness of whether our needs are met or unmet."

sábado, setembro 24, 2022

Os pré-socráticos e o seu papel

Em Acerca da realidade escrevo sobre a minha professora de Filosofia do 10º ano, pessoa que caricaturava os filósofos pré-socráticos. É tão fácil caricaturar os filósofos pré-socráticos e obter "aplausos" de putos ignorantes.

Teria sido tão bom a senhora ter preparado melhor a lição, ou não ter sido formada durante a orgia revolucionária, e ter-se focado no papel que eles tiveram para nos raptar do mundo dos mitos. John Vervaeke a partir do minuto 22 explica o papel desses filósofos com o exemplo de Thales:

BTW, este podcast é tão bom:

que me lancei na tarefa de ouvir a série de Vervaeke.



sexta-feira, setembro 23, 2022

O retrato


No modelo do século XX actividade era sinónimo de resultados positivos. 
Em Mongo, actividade não é necessariamente bom sinal, basta recordar os pregos no caixão.

Consigo ver tantas empresas cheias de trabalho, mas que se calhar estão a perder dinheiro. Qual a abordagem que vou seguir com uma delas que me contactou?

1 Listar actividades
  • cartografar as diferentes variantes do processo - ganhar encomendas
  • cartografar o processo que transforma uma encomenda ganha em produto acabado entrado em armazém
  • cartografar o processo que expede o produto acabado e recebe o dinheiro
  • Criar um modelo de custeio com o apoio de empresa de contabilidade
2 Listar clientes

3 Para cada cliente, calcular vendas

4 Para cada cliente e linha de encomenda estimar lucro líquido 
“A margem bruta não prevê o lucro líquido: Vários conjuntos importantes de custos críticos – custos de vendas e marketing, custos operacionais e da cadeia de fornecimento e custos indirectos – não são incluídos no cálculo da margem bruta, e esses custos são decisivos no ambiente de negócios atual (isto é, grande em relação ao lucro líquido, criando uma forte alavancagem de lucro) em que o custo para servir varia muito de cliente para cliente e até mesmo dentro dos clientes.”
5 Classificar clientes em três grupos:

Profit Peaks: clientes de vendas elevadas e lucro elevado (normalmente cerca de 20% dos clientes que geram 150% dos lucros)

Profit Drains: clientes com vendas elevadas e lucro ou prejuízo baixo (normalmente cerca de 30% dos clientes que corroem cerca de 50% dos lucros potenciais)

Profit Drains: clientes com vendas baixas e lucro baixo que geram lucro mínimo

Sem este retrato, nada feito.

Trecho retirado de “Choose Your Customer: How to Compete Against the Digital Giants and Thrive” de Jonathan S. Byrnes