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quarta-feira, julho 05, 2023

Religio - something completely different

Recentemente comecei uma leitura nocturna de "Introdução ao Cristianismo" de Joseph Ratzinger. Logo nas primeira páginas deparo com o tema da diferença entre o crente e o descrente. Ratzinger destaca a natureza entrelaçada da crença e da descrença, e a incerteza inerente que tanto os crentes quanto os descrentes enfrentam nas suas respectivas visões do mundo. Os crentes navegam na dúvida e nos desafios da fé, enquanto os descrentes são assombrados por dúvidas sobre sua própria incredulidade. Ambos são confrontados com a realidade inescapável da existência humana, onde a certeza das próprias convicções nunca é absoluta. Ratzinger enfatiza que rejeitar a crença traz à tona a sua presença inegável e a possibilidade persistente de que ela possa conter a verdade. Em última análise, ressalta o dilema inescapável que todos os indivíduos, independentemente de suas crenças, têm de enfrentar como seres humanos.

Isto está directamente relacionado com a reflexão de outra leitura nocturna do primeiro trimestre, "Patience with God: The Story of Zacchaeus Continuing In Us" de Tomas Halik. Tomas Halík é muito bom:

"I agree with atheists on many things, often on almost everything — except their belief that God doesn’t exist…

In today’s bustling marketplace of religious wares of every kind, I sometimes feel closer with my Christian faith to the skeptics or to the atheist or agnostic critics of religion. With certain kinds of atheists I share a sense of God’s absence from the world. However, I regard their interpretation of this feeling as too hasty, as an expression of impatience. I am also often oppressed by God’s silence and the sense of God’s remoteness. I realize that the ambivalent nature of the world and life’s many paradoxes can give rise to phrases such as “God is dead” to explain God’s hiddenness. But I can also find other possible interpretations of the same experience and another possible attitude to “the absent God.” I know of three (mutually and profoundly interconnected) forms of patience for confronting the absence of God. They are called faith, hope, and love…

Yes, patience is what I consider to be the main difference between faith and atheism. What atheism, religious fundamentalism, and the enthusiasm of a too-facile faith have in common is how quickly they can ride roughshod over the mystery we call God — and that is why I find all three approaches equally unacceptable. One must never consider mystery “over and done with.” Mystery, unlike a mere dilemma, cannot be overcome; one must wait patiently at its threshold and persevere in it — must carry it in one’s heart — just as Jesus’s mother did according to the Gospel, and allow it to mature there and lead one in turn to maturity."

Entretanto, ontem via Twitter cheguei a "O humorista David Baddiel não acredita em Deus, mas gostaria que ele existisse" o que me levou a recordar um filósofo contemporâneo suíço, Alain de Botton, que quer criar uma religião sem Deus porque, sendo ateu, sente necessidade das consequências de uma religião para a sociedade como um todo. O que me leva a outro trecho de Ratzinger e a um episódio das reflexões de John Vervaeke em "Awakening from the Meaning Crisis" sobre a origem da palavra religião e do seu sentido.

Segundo o que percebi, a origem romana da palavra religião, religio, estava relacionada com a prática, com a observância de certas formas e costumes rituais. Não era crucial que houvesse um acto de fé no sobrenatural. Eram os rituais que ligavam o povo às instituições do poder temporal. Recordo que Júlio César foi Pontifex Maximus, sumo sacerdote, contra sua vontade porque não podia usar armas, imposto por Mário o heptacônsul.

domingo, março 05, 2023

Condenados a repeti-los

"So when we use the word myth we tend to mean a falsehood that is widely believed. And that's unfortunate because we've lost the term for what I want to talk about. See myths aren't false stories about the ancient past. They're symbolic stories about perennial patterns that are always with us. That's a very different thing! So a lot of what's going on in myth is an attempt to take these intuitive, implicitly learned patterns and put them into some form that is sharable with ourselves and with each other." (fonte)

Ontem fui ao Antigo Testamento e li o Livro de Ezequiel e ... continua actual.

Por que é que os israelitas foram derrotados pelos babilónios? Porque deixaram o seu sistema político (e religioso, Israel nunca os separou) se corromper de muitas e variadas formas. E mais, e isto faz-me pensar no 25 de Abril - reformar um sistema doente não gera nenhuma sociedade nova; apenas reanima o velho sistema que, cedo ou tarde, acabará sempre nos mesmos vícios. Tão em linha com a mensagem recorrente de Joaquim Aguiar: quem não reconhece os seus erros está condenado a repeti-los.

domingo, dezembro 04, 2022

"uma árvore má não pode dar bons frutos"

Olho para o desempenho económico de Portugal e recordo Mateus 7, 15-20:

"Cuidado com os falsos profetas! Vêm ter convosco como se fossem ovelhas, mas por dentro são lobos ferozes. É pelos seus frutos que os hão de reconhecer. Porventura podem colher-se uvas das silvas ou figos dos cardos? Portanto, a árvore boa dá bons frutos e a árvore má dá maus frutos. Assim pois, uma árvore boa não pode dar maus frutos e uma árvore má não pode dar bons frutos. Toda a árvore que não dá bons frutos corta-se e deita-se ao fogo. Portanto, é pelas suas ações que poderão reconhecer os falsos profetas."

O que é a estrutura legislativa de um país? Uma teoria sobre como pôr esse país a dar bons frutos. 

Lembrei-me disto ao assistir a esta conversa:


Sublinhei:

“… with science what we get that's new is precise mathematical, precise statements of the limit of the theory and what a wonderful cure for dogmatism because when your own theory tells you its limits, if you buy the theory you have to buy the limits, and so you have to buy that you don't have the final answer and that's really the cure for dogmatism. So, theories that I love … a theory where the theory itself is humble enough to tell you where it stops, and also smart enough to be able to veto any bad ideas you have for what's next on that note where do you both see your own theories indicating their limits. [Moi ici: Estruturas legislativas que empobrecem o país deveriam ser enviadas para o caixote do lixo da história. No entanto, estão talhadas em pedra, independentemente dos resultados]

The notion of truth as orientational and navigational rather than as a completed grasp of something, I think is really, really important right now 

if what he said is true, and I agree it is, and I'm saying is true, that means that there are a lot of, and this ties back again to what the spiritual traditions can hold out for us, there are a lot of truths that are not accessible to us unless we're willing to undergo significant transformation

Right, once you give up “oh no, I can just grasp this thing with this universal method Leibniz's calculus”. Once you give that up and you say “no, no, no”. There's going to be this constantly going on that the demand, like the presupposition that you can sort of remain epistemically unaltered in order to get access to truth. I think that is deeply challenged, if not outright falsified, but that presupposition of a universal method is that does not require personal transformation is fundamental to the whole cartesian framework, and see I think the spiritual traditions are there reminding us that “no, no, no”, your methods can do a lot but there's a lot of truths that are only disclosable to you after you go through profound self-correction, which is profound self-transcendence, which is profound transformation, I just wanted to make that point very clear”

terça-feira, novembro 08, 2022

"think again of your biology as economic"

Vervaeke has done it again!!!

Episódio 30 - - Awakening from the Meaning Crisis - Relevance Realization Meets Dynamical Systems Theory


A partir do minuto 32 já ouvi o vídeo três vezes!

A relação entre biologia e economia, tão cara a este blogue, expressa em toda a sua força.

A certa altura sorrio e percebo uma analogia que nunca tinha feito. A teoria da evolução não requer a existência de um Arquitecto Celeste capaz do design inteligente. E eu pensei nos que acreditam que um qualquer governo sabe qual é a melhor estratégia a seguir pelos negócios. 

O que se segue é poesia bio-económica:
"… what I want to argue is: there's no essential design on fitted ness.
Some things are fitted in this sense precisely because they are big, some because they are small, some because they are hard, some because they are soft, some because they're long-lived, some because they are short-lived, some because they proliferate greatly, others because they take care of a few young, some are fast, some are slow, some are singular cellular, some are multicellular. [Moi ici: Isto é sobre Mongo!!! Uma paisagem competitiva super enrugada. Cada vez me convenço mais que o modelo económico do século XX foi um fenómeno passageiro. BTW, os despedimentos em curso em organiações como a Meta fazem-me recordar o que escrevi sobre as plataformas e o "não é winner-take-all"]

Like nothing. Nothing because the answer for that of course is deep and profound because the environment is so complex and differentiated and dynamically changing that niches, ways in which you can fit into the environment in order to right promote your survival autopoietic, are varied and changing. See, this is Darwin's insight, there is no essence to design, and there is no essence to fitted ness. If you try and come up with a theory of how organisms have their design, I'm using this in quotation marks, in terms of trying to determine or derive it from the essence of design you are doomed because it doesn't exist.

Darwin realizes; he didn't need such a theory. He needed a theory about how what's relevant, in this biological sense, but a theory about how an organism is fitted. How it is constantly being designed, and redefined by a dynamic process. See, fitted ness is always redefining itself, reconstituting itself, it is something that is constantly within a process of self-organization because there is no essence, and there is no final design on fitted ness. [Moi ici: Isto é voltar ao meu Verão de 2007 e à leitura de Beinhocker - "So who was the winner? What was the best strategy in the end?"]  Fitted ness has to constantly be redesigning itself in a self-organizing fashion so it can constantly pick up on the way a in which the world is constantly varying and dynamically changing. [Moi ici: Se mais empresas percebessem isto ... se mais empresas percebessem a mensagem da Red Queen - Tem de se correr para ficar no mesmo sítio!!! Se mais empresas percebessem que a sobrevivência não é mandatória e que há que trabalhar para merecer um futuro. Um futuro que será necessariamente diferente do presente. Um futuro que sorrirá a quem melhor se preparou para ele. Se mais empresas percebessem que têm de correr como o Legolas da imagem acima, porque é mesmo isto que acontece, mesmo quando o "mar parece calmo"

There is no essence to fitted ness, but I don't need a theory of fitness all I need is a theory of how fitted ness is constantly being realized in a self-organizing fashion. That's exactly what the theory of evolution is."

Depois, próximo do minuto 43:
"think again of your biology as economic. This is again part of Darwin's great insight. Now you know, don't be confused. Here, when a lot of times when people hear economic they hear financial economy, but that's not what an economy is, an economy is a self-organization, a self-organizing system that is constantly dealing with the distribution of goods and services."

sábado, outubro 22, 2022

Curiosidade do dia

Depois de ter ouvido o podcast de Lex Fridman com John Vervaeke, tenho ouvido diariamente os podcasts de John Vervaeke sobre "Awakening from the Meaning Crisis". Esta semana tive oportunidade de ouvir o nº 20, "Ep. 20 - Awakening from the Meaning Crisis - Death of the Universe".

John Vervaeke continua a ser capaz de me surpreender!!! Que episódio: UAU!

Começa com Santo Agostinho com um conjunto de ideias tão fortes que duraram quase 1000 anos, continua com Tomás de Aquino e como ele resolveu o problema de então recorrendo à ideia do mundo natural e do mundo sobrenatural, à separação da razão do coração. Uma ideia tão bem sucedida que representa o princípio do fim do mundo pré-ciência.

A introdução na Europa dos algarismos indo-árabes que facilitou o cálculo e fez explodir a matemática. O surgimento dos bancos em Itália e da sociedade comercial que começou a expandir a vida sem recurso ao sobrenatural de Tomás de Aquino. Segue-se Copérnico e a sua ideia sobre o heliocentrismo, algo do género: "Fica mais fácil fazer as contas se colocarmos o Sol no centro". Ele não afirma que o Sol está no centro, ele foca-se na Matemática. 

Depois, Vervaeke apresenta-me um Galileu que nunca ninguém me tinha apresentado. O Galileu matemático, o Galileu que muda a noção do mundo, daí o título do episódio. Até Galileu, humanos e o resto do cosmos viviam e faziam parte do mesmo caldo solidário, com vontade, com personalidade. Depois de Galileu, que introduziu termos como inércia e resistência, os humanos ficaram sós, separaram-se do resto do universo. A palavra cosmos antes e depois de Galileu quer dizer coisas diferentes. O mundo resiste aos humanos.

Galileu pensa: vemos o sol levantar-se num lado de manhã e pôr-se num outro lado de noite e afinal o sol não se mexe. Ou seja, somos enganados pelos nossos sentidos. Como nos podemos precaver contra outros enganos? Com a Matemática!!! Galileu introduz ou desenvolve as equações matemáticas que depois Pascal e Descartes expandiriam.

É uma viagem e pêras! No 21 segui-se Lutero e agora no 22 Descarte e Pascal. Já agora, uma curiosidade, como é que Descarte inventou o referencial cartesiano? Por causa de uma mosca que não o deixava dormir. Num quarto, como o da minha mais antiga recordação de infância, com paredes em tijolo-burro, às tantas ele começou a pensar que podia descrever onde estava a maldita mosca se contasse quantos tijolos havia desde a esquina da parede.

Quem vem do Afeganistão para a Europa nunca foi sujeito a uma cultura que evoluiu deste caldo evolutivo.

sábado, setembro 24, 2022

Os pré-socráticos e o seu papel

Em Acerca da realidade escrevo sobre a minha professora de Filosofia do 10º ano, pessoa que caricaturava os filósofos pré-socráticos. É tão fácil caricaturar os filósofos pré-socráticos e obter "aplausos" de putos ignorantes.

Teria sido tão bom a senhora ter preparado melhor a lição, ou não ter sido formada durante a orgia revolucionária, e ter-se focado no papel que eles tiveram para nos raptar do mundo dos mitos. John Vervaeke a partir do minuto 22 explica o papel desses filósofos com o exemplo de Thales:

BTW, este podcast é tão bom:

que me lancei na tarefa de ouvir a série de Vervaeke.