terça-feira, janeiro 09, 2024

Uma via difícil e os escolhedores de vencedores

 E volto a "A Growth Strategy for the Greek Economy":

"Global competition in all sectors of the economy, and particularly in manufacturing, demands a reduction in production costs through the introduction of advanced technologies, and the development of innovative high-quality products. Success in these areas requires R&D activities. However, R&D spending in Greece is low compared to other European countries. For example, in 2018, the R&D spending of Greek firms accounted for 0.57% of GDP, compared to 1.41% on average in the EU (Figure 5-13, Section 5.4)."

O texto sublinhado implica que à medida que os custos de produção baixam, o sistema produtivo tem de ser capaz de produzir e vender muito mais unidades para poder pagar o capital investido. Uma via difícil. 

Outra vez, os autores não colocam a hipótese da economia se mover na horizontal.

A propósito, no JdN de ontem li:

"Se quando venceu as diretas o discurso foi criticado pela falta de preparação, no encerramento do 24.° congresso do PS Pedro Nuno Santos fez questão de dizer ao que vinha: pretende implementar um novo modelo "com mais dinheiro para menos setores" da economia,

...

A grande mudança, anunciou, será feita - se vencer - na forma como os apoios passarão a ser atribuídos, selecionando "um número mais limitado de áreas estratégicas onde concentrar os apoios durante uma década". Defendeu que "é tempo de ser claro e de fazer escolhas [na atribuição de incentivos|". "Só conseguiremos transformara economia com mais dinheiro para menos setores.""

Quem segue este blogue sabe que eu cada vez mais torço o nariz ao efeito nefasto dos subsídios na economia. No entanto, o que acho interessante nesta proposta é saber quais são as áreas estratégicas. Quais os critérios para a sua definição? BTW, "picking winners" sempre deu asneira, daí a minha proposta de longa data "deixem as empresas morrer".

BTW, ainda acerca de Pedro Nuno Santos e este pormaior:

"Isto porque, explicou, "a economia está em profunda transformação", onde "a automatização, a robotização e a inteligência artificial têm um enorme potencial para aumentar a produtividade, mas trazem desafios". "Neste processo, muitos setores altamente lucrativos mas com poucos trabalhadores, deixam de contribuir para o sistema de segurançasocial tanto quanto poderiam e deveriam", enfatizou."

Que mais treta vai inventar ao melhor estilo do jogador de bilhar amador, tão focado na próxima jogada, na jogada imediata, que não se pensa nas consequências dessa jogada. Um clássico deste blogue: Nós não estudámos até ao fim todas as consequências das medidas que sugerimos.

Sempre preocupados em sacar e não em criar riqueza. Aquele "setores altamente lucrativos", faz-me logo pensar no Portugal actual, se ganhas mais de 1800 euros por mês já és rico pela bitola socialista.

Já nem a UE nos consegue salvar deste monstro fiscal.

segunda-feira, janeiro 08, 2024

Come on, aumentar a produtividade à custa de apoiar salários?!

Primeiro, pelo que vou lendo, tenho uma opinião positiva sobre a evolução da economia grega. Recordo, por exemplo este postal do início do passado mês de Dezembro, "A receita irlandesa na Grécia (parte II)", ou este outro publicado no início do passado mês de Outubro, "A receita irlandesa na Grécia".

Segundo, há dias escrevi este postal "Por causa de uns pastéis de nata (parte II)" que termina com um comentário a um video de Milei:

"Voltando agora ao vídeo de Milei. Simpatizo com a teoria, mas o desafio é criar as condições para que a evolução horizontal na figura acima possa ocorrer a uma velocidade tal que não torne a transição muito dura. Contudo, os governos fazem exactamente o oposto. Em vez de apoiarem o novo, apoiam os incumbentes, fica-se numa terra de ninguém tão bem descrita por Spender e Taleb."

Na passado Sexta-feira mão amiga mandou-me este artigo, "A Growth Strategy for the Greek Economy" que me levou ao original.

Escolhi começar pelo capítulo 3, "Vision and goals for the Greek economy" e o que li ... não me agradou:

"Employment in manufacturing has fallen internationally, but in Greece it has declined excessively. This is attributable to distortions that have led to too many self-employed individuals and small businesses that are dominant in the specific environment. In more technologically mature EU member states (the so-called EU15 group), the share of labour in the manufacturing sector was 20% in 2000, and just 14% in 2019. The reasons behind this reduction are new technologies and globalisation, in particular China's emergence and its impact on international trade. In Greece, 14% of the labour force was employed in manufacturing in 2000 and 8.2% in 2019. Based on Greece's technological lag compared to the EU15 countries and its relatively closed economy, one would expect that the share of employment in manufacturing would be larger than in the EU15. Indicatively, in Portugal, which is at the same technological level as Greece, 22.7% of the labour force was employed in manufacturing in 2000 and 17.6% in 2019.

It is important to contain the reduction of employment in Greece's manufacturing sector and to achieve a convergence to the EU average. Currently, Greece exhibits one of the lowest shares of manufacturing activity in the EU, comparable only with the Netherlands and the Nordic countries - economies with much higher per capita income and greater industrial maturity. Policy proposals for enhancing Greece's manufacturing sector, and the remaining sectors examined in this section, are examined in detail in Chapter 6. This section summarises the main directions.

The support of salaried employment is critical to the growth of the manufacturing sector in Greece. Greek manufacturing firms are generally small, in part due to the particularly high number of self-employed in the services sector. When measures to support salaried employment are adopted, these businesses will have a greater comparative advantage in the international markets and will grow."

E recuo a 2006 e à ideia de Blanchard sobre a redução de salários para aumentar a produtividade que comentei em "Redução dos salários em Portugal" (Blanchard retratou-se em 2017). E recordo Reinert e o caso do Uganda e o quadrante do empobrecimento.

O que os autores propõem no artigo citado acima é aumentar a competitividade das empresas apoiando-as no pagamento dos salários dos seus trabalhadores. Weird!!!

O que estes autores não perceberam ainda foi a necessidade do que escrevi acima "mas o desafio é criar as condições para que a evolução horizontal na figura acima possa ocorrer a uma velocidade tal que não torne a transição muito dura". Não conseguem ganhar produtividade a proteger o passado.

domingo, janeiro 07, 2024

Esta pergunta é genuína, mesmo.

 No Dinheiro Vivo de Ontem em "Luís Onofre "Ajudámos os bancos na altura da troika, é tempo dos bancos ajudarem as empresas"" sublinhei:

"A falta de mão-de-obra ainda é um problema?

A especializada, sim. Eu tenho um défice de quase uma dúzia de pessoas na minha empresa e não consigo arranjá-las. E para a conseguirmos especializar um trabalhador é muito complicado, as pessoas acabam por desistir e preferem ir para restauração e o turismo."

Tão estranho... a empresa de Luís Onofre não será das mais pobres do sector e, mesmo assim, não consegue ser mais atraente que a restauração e o turismo? Por que será? 

Esta pergunta é genuína, mesmo.

sábado, janeiro 06, 2024

Não é impunemente ...

 No JN de 4 de Janeiro passado li "Sonae encerra supermercados Go Natural até final do mês". 

Recordei logo o fim da Berg em Onde a vai expôr?

Recordei Sem estar com as mãos na massa...

Recordei Vou apenas especular.

Quando fogem do negócio do preço ... sofrem do que referimos há poucos dias Não é impunemente ...

sexta-feira, janeiro 05, 2024

Confirmation bias

 "The tricky thing about the confirmation bias is that it can look very scientific. After all, we're collecting data. Dan Lovallo, the professor and decision-making researcher cited in the introduction, said, "Confirmation bias is probably the single biggest problem in business, because even the most sophisticated people get it wrong. People go out and they're collecting the data, and they don't realize they're cooking the books." At work and in life, we often pretend that we want truth when we're really seeking reassurance: "Do these jeans make me look fat?" "What did you think of my poem?" These questions do not crave honest answers.

...

The odds of a meltdown are one in 10,000 years.

—Vitali Sklyarov, minister of power and electrification in the Ukraine, two months before the Chernobyl accident

Who the hell wants to hear actors talk?

—Harry Warner, Warner Bros. Studios, 1927

What use could this company make of an electrical toy?

—William Orton, president of the Western Union Telegraph Company, in 1876, rejecting an opportunity to purchase Alexander Graham Bell's patent on the telephone

...

A study showed that when doctors reckoned themselves "completely certain" about a diagnosis, they were wrong 40% of the time. When a group of students made estimates that they believed had only a 1% chance of being wrong, they were actually wrong 27% of the time. We have too much confidence in our own predictions. When we make guesses about the future, we shine our spotlights on information that's close at hand, and then we draw conclusions from that information.

...

The problem is that we don't know what we don't know. ...

The future has an uncanny ability to surprise. We can't shine a spotlight on areas when we don't know they exist."

Trechos retirados de "Decisive - How to Make Better Choices in Life and Work" de Chip and Dan Heath.

quinta-feira, janeiro 04, 2024

Curiosidade do dia

 "Dutch supermarket chain Jumbo said that shoplifting exceeded its annual profits last year, highlighting how the cost of living crisis has driven up crime and is hurting businesses.

The group said yesterday that theft cost it more than €100mn in 2023, against forecast annual post-tax profit of around €80mn.

Retailers worldwide have reported an increase in shoplifting as soaring inflation raised prices faster than wages."

Trecho retirado do FT de hoje, "Dutch supermarket chain Jumbo reels after shoplifting losses exceed annual post-tax profit" 

Por causa de uns pastéis de nata (parte II)

 Parte I.

Primeiro, recomendo a visualização deste discuro de Milei:

Agora vamos à visão tradicional dos bens transacionáveis:

É tabu mexer no numerador porque se vê o numerador como um dado e não como uma variável.

Qual a lei da vida nos negócios? Recordar de 2010 The Knowledge Funnel (parte I)


Alguém vai olhar para o denominador e reduzi-lo, passando aquilo que era mistério, para um conjunto de regras heurísticas e, depois, para um algoritmo e, depois quiçá, transformando num conjunto de linhas de programação.

Além disso, mesmo não mexendo no numerador, a lei de Kano:
"Price is like gravity,it always goes down if you do nothing"
Como se reduzem os custos?
  • Reduzindo o custo dos factores de produção
  • Aumentando a eficiência
Numa economia aberta, as empresas que não mexem no numerador estão sempre sob a ameaça de "cair no abismo" quando os clientes as trocam por alguém mais barato:

Voltando ao esquema da parte I:


Sem mexer no que se produz, pode-se mexer no que chamei de "contexto" na figura acima para acrescentar valor através de atributos associados ao produto: rapidez, flexibilidade, ... (não coloco aqui a "marca" deliberadamente).

Mexer no "contexto" permite ser competitivo sem no entanto ser muito mais produtivo:

Foi isto que não vi quando escrevi "Mas claro, eu só sou um anónimo engenheiro da província". No entanto, continuo a não concordar com os economistas citados no postal: Aumentar a produtividade à custa de aumentos de volume e escala não é suficiente. Reparar na lição asiática, o que nos traz ao presente não nos pode levar ao futuro:


Voltando agora ao vídeo de Milei. Simpatizo com a teoria, mas o desafio é criar as condições para que a evolução horizontal na figura acima possa ocorrer a uma velocidade tal que não torne a transição muito dura. Contudo, os governos fazem exactamente o oposto. Em vez de apoiarem o novo, apoiam os incumbentes, fica-se numa terra de ninguém tão bem descrita por Spender e Taleb.

quarta-feira, janeiro 03, 2024

Não é impunemente ...


No JdN li "Uma das maiores fortunas de Portugal vai fechar Kinda e avançar com despedimento coletivo" de onde sublinhei:
"Em outubro de 2019, um ano depois de ter chegado a Portugal, o grupo Nuvi concluía que o seu negócio de mobiliário e decoração em território nacional não estava a correr bem, tendo contratado John Leitão para liderar a Kinda.
Filho de pai português e mãe inglesa, John Leitão nasceu em Londres em fevereiro de 1981, cresceu em Portugal e formou-se em Engenharia Informática pela Universidade Nova de Lisboa, mas trocou os computadores por uma carreira na consultoria.
Tirou um MBA na Harvard Business School e iniciou a sua vida profissional na Boston Consulting Group (BCG), ao serviço do qual trabalhou em diversas geografias e indústrias, sobretudo no retalho e no marketing.
Chegou a estar um ano no escritório da BCG em Sidney, na Austrália, tendo saído da consultoria em maio de 2013 para o cargo de CEO da marca de alta joalharia e relojoaria suíça de luxo Grisogono, onde se manteve mais de cinco anos.
Voltou à BCG em 2019, tendo em novembro desse ano assumido o cargo de CEO da Kinda, de onde saiu há pouco mais de dois meses.
Agora já sem Leitão, a empresa comunicou aos seus trabalhadores que a Kinda vai fechar e avançar com um despedimento coletivo."

Já escrevi várias vezes sobre este tipo de erro. Recordo o salto de Ron Johnson das lojas da Apple para CEO da JC Penney, e recordo de Julho de 2023, acerca do futuro da Mercedes, Uma pena ...:

"O que quer dizer, acerca do futuro da Mercedes-Benz, que o próximo CEO seja alguém educado no mundo das commodities químicas?

Esse alguém aprendeu uma série de truques, de mnemónicas, de respostas instintivas numa indústria de bolas azuis.

Quer dizer que o futuro estratégico da Mercedes-Benz passa por um mundo de bolas azuis?

Quer dizer que o board da Mercedes-Benz acredita que a empresa tem de operar num mundo de bolas azuis?"

Não é impunemente que se vivem e se acumulam experiências de gestão. 

terça-feira, janeiro 02, 2024

"Al is here to work with us"

No Financial Times de 27 de Janeiro último encontrei o artigo, "Patient monitoring - Al fridges cut readmissions to hospital in NHS pilot":

"A pilot scheme using artificial intelligence in kettles and fridges to monitor discharged hospital patients in England has reduced unplanned readmissions by 77 per cent, its creators have said.

The Onward Care scheme, developed in partnership with Buckinghamshire Healthcare NHS Trust in south-east England, is the first of its kind to be used in the health service.

"Al is here to work with us," said Jenny Ricketts, deputy chief operating officer for the trust. "Not to do the job for us. People, especially the elderly, like human contact. The Al just makes it easier for us to do that."

The system operates by linking AI electronic sensors on kettles and fridges to detect changes in drinking and eating patterns. Variances are then flagged with a member of the Onward Care programme who can arrange help.

...

Adrian McCourt, managing director of the Onward Care service, said the pilot had supported about 140 people at home for 12 weeks after they were discharged from hospital.

He estimated that on average 40 per cent of "frail" patients who may not have fully recovered are readmitted to hospital within six months of being discharged. Under the pilot, he said, this figure has been reduced by 77 per cent. A box similar to Amazon's Alexa voice assistant is put in people's homes. Data is fed into a central dashboard.

"If a patient's behaviour is changing we get a notification which prompts us to investigate," McCourt said. "We also have sensors on fridges and kettles, which we use to understand whether hydration and nutrition is changing."

domingo, dezembro 31, 2023

Curiosidade do dia

Capa do DN de hoje:


Capa do JN de hoje:



Por causa de uns pastéis de nata

Há dias o @romeu publicou este tweet: 

Pastéis de nata à venda em Nova Iorque a 4 dólares a unidade. E o comentário dele "os pastéis de nata também têm de pagar a renda".

Este tweet é, para citar FCF, paradigmático. 

No mesmo dia deste tweet a capa do JdN trazia:

Só aumentos de produtividade importantes podem garantir o aumento dos salários sem aumento do desemprego. Contudo, penso que esses aumentos de produtividade importantes não poderão ser feitos sem aumento da turbulência empresarial.

Voltemos aos pastéis de nata.

Comecemos pela nossa velha conhecida equação sobre a produtividade e o Evangelho do Valor:

Vivemos num país onde quando se fala de aumentar a produtividade fala-se em reduzir o denominador da equação acima porque se considera que o numerador é um dado e não uma variável. Por isso, no resto do postal vamos ignorar as mexidas no denominador. Recordo:
No resto do postal vou usar um significado para a palavra "Valor" diferente do que costumo usar aqui no blogue. Vou usar a palavra "Valor" como "Preço que uma empresa consegue praticar".

Vamos primeiro aos bens não transaccionáveis. Como aumentar a produtividade de uma empresa que produz bens não transaccionáveis?
  • Se os concorrentes nacionais alinharem, a forma mais simples é ... aumentar os preços.
Por isso, um motorista de autocarro deixa de trabalhar em Portugal e na semana seguinte está a trabalhar na Dinamarca a ganhar 6 vezes mais (os políticos portugueses acham que é por causa da formação).

Por isso, os pastéis de nata em Nova Iorque podem ser vendidos a 4 dólares a unidade.

Vejamos no próximo postal o caso dos bens transaccionáveis e a relação com alguns videos de Milei que circulam no Twitter.

sábado, dezembro 30, 2023

Não é uma previsão, é algo que já está a acontecer.

 No DN de 27.12.2023 encontrei este artigo de opinião, "O retumbante sucesso do friendshoring americano":

"Na sequência de uma ordem executiva de 2021 do presidente dos EUA, instruindo a sua Administração a realizar uma revisão das principais cadeias de abastecimento dos EUA, a secretária do Tesouro dos EUA, falando no Atlantic Council, em abril de 2022, anunciou uma nova abordagem da Administração Biden para navegar numa economia global mais adversa a interesses americanos, chamando-a de friendshoring.

...

Esta nova política estado-unidense de busca de cadeias de abastecimento mais resilientes entre parceiros de confiança, através de friendshoring, tem um principal destinatário - a China e as empresas chinesas - e tem-se traduzido em iniciativas como a adoção do CHIPS and Science Act, que têm sido complementadas por outras como o US-EU Trade and Technology Council (TTC), o Minerals Security Partnership (MSP), o Indo-Pacific Economic Framework for Prosperity (IPEF), e a America's Partnership for Economic Prosperity, para "interagir com parceiros confiáveis" e "reduzir as dependências de fontes não-confiáveis de fornecimento estratégico".

...

No plano do comércio externo, o friendshoring aparenta ser um retumbante sucesso. Em menos de dois anos, o México e o Canadá (friendshoring+ nearshoring) ultrapassaram a China como principais fornecedores de bens dos EUA em cadeias de abastecimento diversificadas. As importações dos EUA da China caem 25% no primeiro semestre de 2023; desde 2019, o superavit comercial bilateral do México com os EUA aumentou 40%. A China é agora apenas o terceiro maior fornecedor dos EUA. De acordo com alguns, o aumento das importações dos países vizinhos e parceiros na NAFTA reflete mudanças na procura dos consumidores e na diversificação da cadeia de abastecimento liderada pela pandemia.

As estatísticas mostram também que as exportações chinesas para países que estão a subir no ranking de fontes de importação dos EUA estão a aumentar. O fenómeno não é inédito. Temos vindo a assistir ao desvio comercial de produtos ocidentais para a Rússia através da Ásia Central. A extraordinária coincidência de aumento de fluxos de exportações da China para o México e o Canadá e destes dois países para os EUA leva um articulista da Bloomberga sugerir que as empresas chinesas estão a redirecionar boa parte das suas exportações. Quando ficar claro em Washington que o brilhante plano de friendshoring gera redirecionamento de produtos exportados por empresas chinesas para os EUA via México (e Canadá), é bem possível que tal gere uma nova onda de reação protecionista americana."

Há exactamente uma semana, a diretora comercial de uma empresa de fabrico de máquinas, todas destinadas à exportação, contactou-me para discutir o seu excelente ano. Ela partilhou o sucesso crescente no mercado norte-americano. Recordando que os conheci quando exploravam a América Latina e Sul, inquiri sobre as vendas e presença em países como Chile, El Salvador e México. Ela revelou que um cliente mexicano lhe mencionou a intenção de abrir uma fábrica nos EUA, visando contornar a legislação americana que visa limitar importações do México, devido à recente instalação de empresas chinesas aproveitando a política mencionada no artigo.

Não é uma previsão, é algo que já está a acontecer.

sexta-feira, dezembro 29, 2023

Manipular variáveis: arte e ciência

Há tempos iniciei um projecto com uma empresa que passa por:
  • sistematizar e partilhar conhecimento interno tácito;
  • alimentar uma base de dados para que a decisão de implementar uma acção correctiva seja mais bem fundamentada; e
  • reduzir o tempo de produção não conforme e, assim aumentar a produtividade.
Numa sessão com operários:
  • desenhou-se um modelo do funcionamento da produção;
  • elencaram-se as variáveis que podem afectar a qualidade e a produtividade;
Depois, seleccionaram-se os três principais motivos para produção de defeitos ou de baixa produtividade, e criaram-se fluxogramas onde se encadeiam:
  • o que funciona como alerta de que algo está mal;
  • o que deve ser investigado e em que ordem; e
  • o que deve ser feito em função de diferentes resultados da investigação.
Lembrei-me de tudo isto ao ler na HBR de Janeiro-Fevereiro de 2024 o artigo "The CEO of Gérard Bertrand Group on Turning a Family Wine Business into a Global Brand"

"Many things go into making wine—elements you can’t do much to change, such as the land and the climate, and those you can, such as the grape varieties you plant, how you tend them, when you harvest, how you turn them into wine, and the blend you make. First you must choose the right vines. About 1,500 varieties are available in France. That’s why we have the appellation system: It specifies the varieties that should be used in each region so that the wine produced is recognizably from there. Within those constraints, however, viticulturists have considerable freedom to make choices, such as cutting back on Syrah to add more Grenache, which grows better in the volcanic soils of our region and helps achieve the potential of a terroir with greater minerality. How growers tend the vines is also up to them. They may choose biodynamics to prioritize the health of the plants and the quality of the taste over productivity and consistency. The choice of when to harvest depends on 1,001 different judgments about the weather and how the grapes have ripened. Decisions regarding fermentation and storage can sometimes be precisely determined and other times depend on intuition and experience.

Finally comes blending—my favorite part. Intuition is critical here, because in any given vineyard we may be tasting 50 varieties of grapes grown on different plots. Potential combinations number in the millions, and we can’t calculate our way to the best one. My father was a master blender. He taught me that as the grapes ripen over the critical two-month harvesting period, you must do many tastings each day so that when you need to decide which grapes to blend in which proportions from which plots, you really understand what’s going into the bottle."

quinta-feira, dezembro 28, 2023

Análise de contexto?


Na revista MIT Sloan Management Review do Inverno de 2024 encontrei o artigo "The Looming Challenge of Chemical Disclosures" de Lori Bestervelt, Colleen McLoughlin, e Jillian Stacy.

O artigo discute a crescente pressão regulatória sobre as marcas para compreender e divulgar a composição química dos seus produtos ao longo dos seus ciclos de vida. Isso inclui impactes desde a produção até ao destino final. O desafio reside na falta de conhecimento detalhado sobre os produtos químicos nas cadeias de abastecimento, uma vez que as actuais fichas de dados de segurança estão frequentemente incompletas. As marcas enfrentam dificuldades na obtenção de formulações químicas detalhadas dos fornecedores e precisam de investir em avaliações abrangentes dos perigos químicos. O artigo enfatiza a importância da transparência, da colaboração com fornecedores e da integração de avaliações de riscos químicos nos processos empresariais para uma abordagem mais sustentável.

Recordo experiência no sector do calçado em que vários fabricantes de produtos usados no processo de fabrico do calçado, como tintas e palmilhas, se recusavam a cumprir a lei no âmbito dos regulamentos comunitários abrangidos pelo REACH ((Registration, Evaluation, Authorisation and Restriction of Chemicals). Portanto, enquanto uns vêem riscos, outros podem ver oportunidades para o negócio: A transparência e a colaboração entre marcas e fornecedores são essenciais para mitigar riscos e aproveitar essas oportunidades. 

Agora são os Estados Unidos. 

"New sustainability rules make consumer brands accountable for the composition of their products, but most companies are in the dark.

New and emerging rules in the U.S. responsible for the environmental impacts of products through their entire life cycles are forcing brands to confront a striking knowledge gap: their often inadequate understanding of the chemicals found in their supply chains.

The European Green Deal's Circular Economy Action Plan, which was adopted in March 2020; newly proposed eco-design rules affecting fashion and textiles; and the proposed Corporate Sustainability Due Diligence Directive will require companies to disclose any risks to human rights and the environment. They apply throughout the product life cycle, from the formulation of ingredients and materials to product manufacturing, packaging and distribution, and recycling and disposal. In the U.S., four states — California, Colorado, Maine, and Oregon — have adopted extended producer responsibility laws aimed at packaging materials, and the issue will be a focal point of the U.S. Securities and Exchange Commission's eventual Scope 3 supply chain requirements. On top of such legislation, a host of new regulatory actions focused on materials sourcing and disposal, safety in global supply chains, and the protection of employee safety and human rights are rolling out in jurisdictions around the world. These rules pose a challenge for many of the brands that manufacture, market, and sell the clothes we wear, the cosmetics we apply, and the toys our kids play with, because their companies have very little visibility into the detailed chemical composition of their products.

In the face of regulatory developments, fashion brands have had to reconsider their use of materials, dyes, and a host of chemicals that have been linked to deforestation and pollution. They also need to be able to trace these compounds through every link in the supply chain.

...

Most brands have relied on safety data sheets (SDSs) provided by their suppliers for information on product chemical composition. However, these documents are designed primarily to disclose information on chemicals and chemical compounds that could harm workers or others in the supply chain. They don't provide detailed information on the chemical composition of every material used in a product or offer any meaningful insight into its impact on recycling and disposal.

In our work conducting chemical hazard assessments and product toxicology analyses for some of the world's largest brands, approximately one-third of the SDSs we reviewed contained incomplete or inaccurate information on the chemical makeup of the products and materials they covered. Whether that is a result of suppliers intentionally omitting information or a reflection of the limitations of the SDS as a disclosure tool, the end result is that the brands responsible for these products are often in the dark about what's inside them.

Filling in the gap between the basic information provided in SDSs and the detailed disclosures that will soon be required by global authorities has become a source of conflict and confusion for many brands. Some suppliers are reluctant to share detailed chemical formulations to protect trade secrets, and many brands have been unwilling (or unable) to invest in costly chemistry assessments.

We expect that this problem will be addressed in two ways. First, the market will likely shift to suppliers that can attest to the safety of their products and processes. 

...

Second, companies will have to invest in detailed chemical screening to provide more comprehensive hazard assessments and full formulation disclosures. This approach has also been gaining in popularity as brands seek certainty and an objective means of evaluating their suppliers.

...

The critical first step in the process of removing toxic substances from a supply chain is systematically identifying them. For example, we recently worked on a project with a global footwear brand that had a companywide mission to make its rubber supply chain more environmentally sustainable. It began by building a comprehensive database of its current chemical inventory and checking all entries against a list of known toxins and regulated chemicals in each jurisdiction in which it operates. Only then could it start the process of transitioning to safer chemicals.

As they make progress, brands need to build this institutional knowledge into their sourcing and product development processes to mitigate or eliminate the harmful chemical impacts of future products throughout their life cycles.

In the long run, these initiatives will result in safer, more sustainable consumer products. In the near term, however, expect to see a great deal of disruption and reshuffling of supply chains as more brands start to recognize that the tried-and-true methods of manufacturing and distribution are no longer sufficient in today's sustainability-oriented economy."

A verdade é que cada vez mais nas minhas relações encontro pessoas que fazem escolhas com base nestes pressupostos. Por exemplo, na comida:

  • uma embalagem de canela da marca Continente;
  • amêndoas da Califórnia;
  • sementes de girassol da China.
Há anos comprei um mini-rato de computador numa loja chinesa em Estarreja, ao fim de 15 dias tinha "escamas" na mão direita.

Quantas empresas vão colocar este tema na sua próxima análise de contexto?

Recordar os rinocerontes cinzentos!!!


quarta-feira, dezembro 27, 2023

Saltar para a solução (parte II)

Parte I.

A imagem que se segue ilustra uma falha corrente na definição dos planos de acção para atingir um objectivo:

Quer-se reduzir o consumo de papel em 10% em 12 meses.

O que tem de se fazer para atingir essa meta?
  • Consciencializar os colaboradores para a redução do consumo de papel
  • Incentivar o reaproveitamento de papel nas atividades da empresa

A sério?

Que contas fizeram? Que investigação fizeram? Têm a certeza que estas duas actividades permitem reduzir o consumo de papel em 10%?

Muitas vezes não há qualquer fundamento para justificar que as acções são necessárias e suficientes.

Se repararem, as acções previstas quase não requerem capital... esse costuma ser o alerta que me chama a atenção: planos de acção que não requerem capital são, normalmente, planos da treta. Saltos para a solução. Helicópteros! Muito barulho e energia cinética, mas nenhum movimento em frente.



terça-feira, dezembro 26, 2023

Saltar para a solução

"Research shows that companies devote too little effort to examining problems before trying to solve them. By jumping immediately into problem-solving, teams limit their ability to design innovative solutions.
...
As teams use the methodology, they must understand that problem-framing in today’s intricate business landscape is rarely a linear process. While we’re attempting to provide a structured path, we also recognize the dynamic nature of problems and the need for adaptability."

Saltar diretamente para a resolução de problemas, sem uma análise aprofundada, pode levar a diagnósticos superficiais e, consequentemente, a soluções que não atendem às necessidades reais ou que falham em abordar a raiz do problema.

segunda-feira, dezembro 25, 2023

Dia de Natal!

 


Nasceu o Salvador!!!

"The Child born on earth, in lowliness, in the crib, before the shepherds, is born this day in heaven in glory, in magnificence, in majesty: and the day in which He is born is eternity. He is born forever, All-Power, All-Wisdom, begotten before the day-star: He is the beginning and the end, everlastingly born of the Father, the Infinite God: and He Himself is the same God, God of God, Light of Light, True God of True God. God born of Himself, forever: Himself His own second Person: One, yet born of Himself forever. He it is also that is born each instant in our hearts: for this unending birth, this everlasting beginning, without end, this everlasting, perfect newness of God begotten of Himself, issuing from Himself without leaving Himself or altering His one-ness, this is the life that is in us. But see: He is suddenly born again, also, on this altar, upon that cloth and corporal as white as snow beneath the burning lights, and raised up above us in the hush of the consecration! Christ, the Child of God, the Son, made Flesh, with His Allpower. What will You say to me, this Christmas, O Jesus? What is it that You have prepared for me at Your Nativity?"

Trecho retirado de "The Seven Storey Mountain" de Thomas Merton.

sábado, dezembro 23, 2023

Produtividade e pérolas

Pelos vistos este mês houve uma conferência em Vila Nova de Gaia sobre "A Conferência "Portugal: Um país condenado a ser pobre?", com o  objectivo de debater o papel das empresas e das políticas económicas para aumentar a competitividade, a produtividade e também o bem-estar dos trabalharores.

Algumas pérolas que li na imprensa:

"Um novo paradigma que "obriga as empresas e os responsáveis a atravessarem um processo de aprendizagem e adaptação, que tem de ser pelo menos tão célere quanto a evolução dos cânones geracionais", afirmou Rafael Campos Pereira, que reforçou ainda a importância da reformulação da estrutura fiscal como forma de aumentar o rendimento disponível das famílias, nomeadamente através da redução do IRS.

Além disso, acrescentou, também a diminuição do IRC é fundamental para acelerar o crescimento da economia, permitindo aumentar o investimento das empresas, a inovação e a riqueza gerada, 

...

Rafael Campos Pereira defendeu a importância de Portugal apostar em investimentos estruturantes, "mais do que canalizar recursos para o setor A ou B. Portugal não pode passar ao lado de um caminho que leve a aumentos de produtividade e criação de valor, passando também por aumentar a densidade tecnológica a economia" Terminou lamentando que não haja consenso estratégico político de médio e longo prazo para Portugal, para a economia nacional ou para a marca "Portugal", e destacou a necessidade de o país adotar políticas e estratégias bem definidas, colocando a economia nacional ao mesmo nível de competitividade das economias das nações mais desenvolvidas."

Ninguém fala do mastim dos Baskerville... e do facto dos macacos treparem às árvores e não voarem.

Ninguém fala que a redução do IRC e de outras alcavalas fiscais a fazer-se dá uma boleia para as empresas existentes, quando o objectivo é captar outro tipo de empresas com know-how estrangeiro.

Todos falam da empresa Portugal. A empresa Portugal tem de ter uma marca, tem de ter investimento estruturante, tem de aumentar a densidade tecnológica, ... Porventura existe uma empresa chamada Portugal? Falar em Portugal é típico de um locus de controlo no exterior: outros têm de fazer por nós e para nós. As soluções e progressos dependem de acções de terceiros, em vez da iniciativa interna.

BTW, metade do discurso é sobre a redução de impostos, a outra metade é sobre medidas que implicam o aumento dos mesmos. 

sexta-feira, dezembro 22, 2023

Acerca do futuro.

"Executives engaged in strategic planning typically have a blind spot.

They focus almost exclusively on possible courses of action and pay little attention to the future socioeconomic and environmental context in which those actions will play out. During our combined 70 years of research, practice, and teaching, we, as well as others, have observed that business leaders are inclined, and their organizations configured, to work with only a single implicit view of the future.' That view is typically deeply embedded within their strategies as a set of unquestioned assumptions about the future context. We call these sets of unexamined assumptions ghost scenarios because they are invisible - and because they may come back to haunt executives and companies in unanticipated and unwelcome ways. Underpinning every ghost scenario is a small set of implicit trends that leaders project into the future without questioning whether they might change.

...

Where the Ghosts Hide in Common Strategic Planning Processes

In a SWOT analysis, leaders consider their organization's strengths, weaknesses, opportunities, and threats in relation to only the current scenario and to known competitors, suppliers, customers, regulatory rules, and the like. When identifying and analyzing risks, executives implicitly assume that there is only one scenario. However, in another context (a different scenario), risks might evaporate and new opportunities might arise.

In stakeholder mapping, leaders make an assessment about the attention and power of stakeholders now and in one expected future. An implicit scenario is the background to this assessment. But the importance of stakeholders could change significantly if the context unexpectedly changes.

In game theory and war-gaming, competitors' moves are considered within the context of a ghost scenario, and war games are typically conducted with no consideration of a different future other than the one that is underway. However, changing scenarios could require new tactics and surface unforeseen future combatants."


Trechos retirados de "How Ghost Scenarios Haunt Strategy Execution" de Trudi Lang e Rafael Ramírez

quinta-feira, dezembro 21, 2023

"An organization should define itself by..."

 "An organization should define itself by the need that it is fulfilling and not by its current product and service offerings. [Moi ici: Isto é outra forma de dizer que o foco deve ser no outcome, e não nos outputs. Outcomes que resultam de inputs na vida do cliente.] Finding the best way to address a need in a fast-changing environment amounts to the competitive pursuit of a moving target. Thus, the need is the proper anchor point, leaving us open to adapt our offerings as opportunities arise.

...

Anchoring quality on the creation of the proposed value helps maintain coherence in action amid constant change; it also instills and reinforces a sense of common purpose. It acts as a guide in setting priorities and as a compass to find our way in the numerous trade-offs that we must make in the pursuit of sustainable competitive advantage.

...

A value proposition spells out our commitment to our customers in terms that are significant for them."

Trechos retirado de "Complex Service Delivery Processes - Strategy to Operations" de Jean Harvey.

quarta-feira, dezembro 20, 2023

Imigração, zona de conforto e subida na escala de valor

A propósito da capa do jornal Público de Segunda-feira passada:

Camilo Lourenço no seu podcast diário de Segunda-feira louvou os imigrantes por fazerem o que os portugueses já não querem fazer. Sublinhou mesmo a sua importância para o turismo nacional.

O mesmo Camilo Lourenço no seu podcast de Terça-feira apresentou uns números sobre o turismo e o seu impacte na economia nacional. Elogiou esses números, mas chamou a atenção para a necessidade do turismo subir na escala de valor.

Recordo de Julho passado:

""Salários baixos, horas de trabalho sem fim"

Imigrantes no turismo triturados pelo motor que alimentam

Uns trabalham pelos salários mais baixos da economia nacional, outros passeiam e contribuem para que o turismo continue a ser o motor da economia. Os primeiros são imigrantes, partilham casa com dezenas de pessoas e tentam sobreviver com pouco. Os segundos são turistas, ficam alguns dias e gabam o sol, a comida e os preços baixos. Dos 300 mil trabalhadores do turismo não se sabe quantos são estrangeiros. Mas é certo que o número está a aumentar. À Renascença, Nuno Fazenda, secretário de Estado do Turismo, defende que é necessário aumentar salários no setor. Já em 2023, tivemos o melhor quadrimestre de sempre na área do turismo", conta. Mas a que custo?"

Por que é que um empresário sairá da sua zona de conforto para avançar numa aposta arriscada de subida na escala de valor? Tenho de mandar o vídeo deste postal, Again, por que se pedem paletes de mão de obra estrangeira barata?, a Camilo Lourenço. A garantia da disponibilidade de mão de obra barata diminui a necessidade de subir na escala de valor. Os empresários são humanos, os humanos são satisficers, não maximizers. Recordar Estranho, não? e as raposas levadas para a Austrália É assim tão difícil perceber este fenómeno? (parte II).


terça-feira, dezembro 19, 2023

Acerca da produtividade (parte III)

Acerca da produtividade (parte I) e (parte II).

Não concorda com a resposta?

"A produtividade portuguesa é baixa porque os trabalhadores ganham pouco e, por isso, são preguiçosos, ocupam demasiado tempo em conversa de café."

Quem pensa que proferiria tal resposta?

...

Tem a certeza? Pense outra vez!

...

Vejamos agora o texto no semanário Expresso do passado fim de semana, "Como as empresas otimizaram o tempo":

"A maior parte das empresas que avançaram para a semana de quatro dias mudaram a forma de organização do trabalho para garantir que as tarefas eram executadas num mais curto espaço de tempo pelas mesmas pessoas. Reduzir o número e a duração das reuniões, evitar o desperdício de tempo em conversas pessoais e o atropelo entre múltiplos canais de comunicação, como o e-mail, WhatsApp, telefonemas e diferentes programas, estão entre as práticas que foram sendo ajustadas.

...

Foi preciso dar "mais atenção ao cafezinho". , reduzindo o tempo dos intervalos, e perceber que as reuniões "não podiam ter um período antes e um período depois", , que geram desperdício. [Moi ici: Estes sublinhados fazem-me recuar a 2021 e a um artigo delirantemente mau Se não fosse triste, era cómico!!!]

...

No relatório, Pedro Gomes e Rita Fontinha dizem que as organizações tiveram dificuldade em avaliar em que medida a redução do tempo de trabalho interfere na produtividade. "Verificámos que grande parte das empresas tem dificuldades em medir e quantificar o output, e daí a predisposição natural dos gestores a associar horas de trabalho a produtividade", mas os funcionários acham que há vantagens."

Reduzem a semana de trabalho de 5 para 4 dias e não sabem qual o impacte na produtividade? Mais, nem sabem medir a produtividade?

Outra vez, é olhar para o salto de 35% que é preciso fazer para chegar à media europeia:

É fazer umas contas simples, quanto teria de aumentar a produção do output, vendido ao mesmo preço, com os mesmos recursos, para completar o salto? Recordar A brutal realidade de uma foto.

Pensar que melhorias de eficiência vão ajudar a colmatar aquele gap de 35% é cometer o mesmo erro dos políticos referidos na parte II. Já fizeram contas? Já conseguiram desenhar um itinerário para fazer essa transição?

Boa sorte. 

segunda-feira, dezembro 18, 2023

Acerca da produtividade (parte II)

Acerca da produtividade (parte I)

Há dias publiquei este postal, Sem comentários, com este gráfico:

Quando oiço políticos a falar do fim dos carros movidos a combustíveis fósseis para daqui a uma ou duas legislaturas perco o pouco respeito que ainda podia ter por eles. Olho para o gráfico acima e pergunto?
  • Terão um itinerário concreto?
  • Fizeram contas?
  • Como conseguem garantir que vão ter alternativas?
Este exemplo retrata a leviandade com que políticos tratam tantos e tantos temas. Vejamos outro exemplo, a produtividade.

Qual a diferença de produtividade entre Portugal e outros países da União Europeia? 

Segundo um relatório da Fundação Francisco Manuel dos Santos, a produtividade por hora de trabalho em Portugal é uma das mais baixas da UE, situando-se em cerca de 65% da média da UE27. Isso coloca Portugal como o sétimo país da UE com a menor produtividade por hora de trabalho. Esta situação é contrastante com países como a Irlanda, Luxemburgo e Dinamarca, que estão no topo da lista em termos de riqueza gerada por hora trabalhada:


Como se dá um salto de 35% para chegar à media europeia?

Imaginem que ouviam a seguinte resposta para justificar a baixa produtividade:
  • A produtividade portuguesa é baixa porque os trabalhadores ganham pouco e, por isso, são preguiçosos, ocupam demasiado tempo em conversa de café.
Qual seria a vossa reacção?

Continua.

domingo, dezembro 17, 2023

Acerca da produtividade

"A produtividade é uma medida da eficiência dos fatores usados numa economia para produzir os bens e serviços. Como o valor acrescentado dos bens produzidos é equivalente, ao rendimento dos fatores que produzem esses bens, a produtividade é, no fundo, também uma medida do rendimento dos fatores produtivos. 

Nesse sentido o Produto Interno Bruto (PIB) per capita entre diversos países comparamos a produtividade dos fatores produtivos, como o trabalho, e o rendimento desses mesmos fatores.

Em termos agregados, a produtividade do trabalho é calculada como a relação entre o produto total e o trabalho utilizado para produzi-lo. [Moi ici: Tenho de escrever sobre isto. Por que é que se pede a uma empresa para quantificar a sua produtividade e ... ela não o consegue fazer. BTW, já leram o que se escreveu na semana passada acerca da produtividade e da experiência da semana de quatro dias? Leiam e façam um esforço para não rir/chorar. Tenho de escrever sobre isso] Há muitas formas diferentes de fazer esse cálculo, mas, em termos gerais, o objetivo é o mesmo. No fundo o bem-estar médio numa economia só pode subir se a produtividade do trabalho aumentar.

...

Aumentar a produtividade da economia é, a médio prazo, o único ingrediente para aumentar o bem-estar das pessoas na sociedade. Medidas como alterações no salário mínimo ou nas taxas de imposto podem ser populares e adequadas, por razões de equidade. Mas o seu impacto na produtividade pode ser nulo ou até negativo. [Moi ici: O seu impacte pode ser nulo ou até negativo porque não deixamos os zombies morrerem. Recordar o Chapeleiro Louco no país do absurdo] De igual modo sistemas fiscais que beneficiem as empresas de menor dimensão podem ser populares na perspetiva da opinião pública, mas são normalmente negativas em termos de produtividade. [Moi ici: Outra falha clássica na análise da produtividade: atrabuir as falhas às empresas/empresários existentes sem nunca pensar nos mastins dos Baskerville

...

para a economia portuguesa, os indicadores mais preocupantes são do seu baixo crescimento da produtividade relativamente às economias europeias de dimensão semelhante. A especialização setorial da economia portuguesa também pode ser prejudicial aos ganhos de produtividade. Por exemplo, a fileira do turismo tende a ter produtividades do trabalho relativamente baixas. Isso não significa que Portugal possa prescindir do Turismo, mas sugere que se o turismo crescer acima da média da economia a nossa produtividade do trabalho irá provavelmente baixar. Em termos empresariais o discurso da produtividade é normalmente impopular. Os trabalhadores sabem que esse discurso vem acompanhado de medidas de eficiência que são percebidos como cortes nos benefícios. [Moi ici: Este trecho faz-me recordar um postal clássico deste blog acerca dos engenheiro e da produtividade. Achar que a produtividade só aumenta à custa da eficiência] Em parte, isso explica porque no ambiente eleitoral os vários partidos fazem tanta questão de evitar falar na importância do crescimento da produtividade.

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O crescimento da produtividade, em particular do trabalho, continua a ser o principal desafio da economia portuguesa. [Moi ici: Vamos chegar ao final deste texto e só vamos ficar com a ideia de que a produtividade só aumenta à custa de mexidas no denominador... nem uma pista sobre o Evangelho do Valor ] É aí que reside a chave da criação de empregos melhor remunerados. Condição necessária para evitar a saida do país de muitos jovens que procuram apenas salários suficientes para terem uma vida normal."

Trechos retirados de "A produtividade", publicado no Expresso desta semana.

sábado, dezembro 16, 2023

Curiosidade do dia

 


BTW, será que se justifica um novo aeroporto em Lisboa? 

Modelos mentais, clientes ou concorrentes, qual o foco?

"Any path to understanding complex systems involves building evidence-based, statistically sound abstract representations of different aspects of reality. The same reality can be approached from different perspectives, using different paths and tools, but always through the manipulation of abstractions. As practically minded and down-to-earth as you may be, you cannot shy away from abstractions and deny the omnipresent role of your mental models in guiding your actions. [Moi ici: O mais difícil é reconhecer que vemos o mundo através desses modelos. Anil Seth, "the brain is continually generating predictions about sensory signals" , descreve-nos como um cérebro fechado numa prisão de osso e que aprende a interpretar o mundo através de um jogo de ténis entre sinais recebidos e sinais enviados. E esquecemos que isso está sempre a acontecer. As nossas interpretações são fruto desses padrões de aprendizagem. Há tempos, numa conversa percebi uma reacção de uma maestrina que estranhei, ela estava a dizer que o cântico estava errado. Eu olhei para a folha e fixei-me no que sei ler, o texto. E pensei: Duh! O texto está OK. Depois, percebi que ela estava a referir-se à partitura. A música que lá estava era outra.]

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A company's mission statement defines its raison d'être. Why does it exist? A company's business model specifies how it exists and grows. ... The business model must spell out how and for whom the company creates value and how it translates this value into profit.

...

We shall differentiate the business model concept from that of business strategy, to be construed as the overall game plan to beat competition. [Moi ici: Come on!!! "game plan to beat competition". Um livro que parece tão interessante e com esta linguagem arcaica? Para mim é "game plan to seduce clients" - Getting back to strategy ] The business model further entails the setting up of a sustainable network of partners and suppliers. "What trusted partners can make up for what we cannot do on our own?"


Trechos retirados de "Complex Service Delivery Processes - Strategy to Operations" de Jean Harvey.

sexta-feira, dezembro 15, 2023

"Value Truth over Good News"

Recordo de 2009, "Fake recoveries, os 3 amigos e a linguagem de carroceiro":

"BTW, acham que as empresas de Belmiro de Azevedo, por causa da sua linguagem realista e crua estão a viver um momento de descalabro moral, de desânimo, revoltadas com o discurso da tanga do seu líder? Acham mesmo?

Não estarão antes, cientes da realidade, a fazer das tripas coração, a pensar em alternativas, a tentar criar um amanhã melhor? Qual das duas linguagem promove mais facilmente o cerrar de fileiras?

Se Belmiro de Azevedo replicasse a linguagem do ministro nas suas empresas iria gerar o veneno mais corrosivo das organizações, IMHO, o cinismo."

Relaciono com trechos retirados de "Heuristics for Masterbuilders: Fast and Frugal Ways to Become a Better Project Leader" de Bent Flyvbjerg.

"Value Truth over Good News. This was proposed by a leader who had observed that in most organizations good news is encouraged over bad. As a result, no one wants to be the messenger of bad news. The problem with this approach, the leader said, is that on big, complex projects it is only a matter of time until something goes wrong and bad news appear. As leader, you want to hear about this as quickly as possible, so you can do something about it before it grows worse. To be an effective project leader you therefore cannot afford the good-news culture of most organizations. You need to do the opposite: Encourage your team to always immediately tell you the truth about the project, no matter how bad it is. You need to actively encourage bad news and create an organization in which they travel fast, with clear escalation mechanisms and directives for who does what when things go wrong, so you don't have to spend precious time on figuring this out after the fact, argued this leader. -- Again, there was deep resonance in the room. Another cohort member explained that she used a version of this heuristic: Encourage Bad News. And again, these are heuristics that will help you be a better leader if they resonate with your experience, and you can walk the talk."

quarta-feira, dezembro 13, 2023

"Curar" em vez de prevenir

Há tempos ofereci este livro à minha mulher,  "Outlive", de Peter Attia.

O autor, um especialista em longevidade demonstra o quão desactualizada está grande parte da medicina moderna, em parte porque frequentemente procura "curar" em vez de prevenir doenças crónicas. Curar aqui não é acabar com a doença, apenas mascarar ou esconder os sintomas.

Isto faz-me recordar uma conversa que tive há tempos precisamente sobre isto. Há uma causa-raiz que gera uma série de sintomas perversos. O que se faz? Atacam-se os sintomas sem considerar a hipótese de investir na eliminação da causa-raiz. Complicam-se os sistemas, introduzem-se passos que não criam valor, apenas servem para controlar, e acrescentam-se camadas de complexidade. Nas empresas e, pelos vistos na medicina.

O mesmo se passa na política...

Parei aqui ontem à noite. Esta manhã, 6h30, e estou a ouvir o que vem a seguir ao minuto 7:12 ...


Não há coincidências... 

terça-feira, dezembro 12, 2023

Mixed feelings

No JdN de ontem um artigo que me deixou a pensar e sem uma conclusão definitiva, além de algum pensamento cínico, "A tecnologia dá hipóteses como nunca às PME", uma entrevista ao director-geral da SAP Portugal.

O artigo começa com:

"O país empresarial insiste em demasia em ter "fatos à medida" nos processos informáticos, considera o diretor-geral da SAP Portugal. Em entrevista ao Negócios e Antena 1, Nuno Saramago diz que as empresas, sobretudo as pequenas, teriam a ganhar em utilizar versões padronizadas dos programas de gestão.

...

Muitas vezes temos a tendência de fazer um fato à medida e customizar quando podíamos aproveitar essa energia para customizar aquilo que realmente nos diferencia. Se trabalho num produto específico, é aí que tenho de investir os meus recursos, capital e esforço."

Fiquei com mixed feelings. 

  • Por um lado, o meu radar cínico pensou: Interessante, trabalhar a mensagem de que um ponto fraco da SAP é na verdade um defeito do cliente PME.
  • Por outro lado, lembrei-me dos Wardley Maps e do tema dos pioneiros versus colonos (recordar de 2018, Wardley-Martin). 


segunda-feira, dezembro 11, 2023

Um chihuahua


Leio aqui:

"Foram apresentadas 9 opções para a construção do novo aeroporto de Lisboa, uma questão já com 50 anos. A opção de Alcochete é a que reúne mais consenso, depois da Comissão ter deixado cair as opções de Rio Frio e Poceirão. José Eduardo Martins alerta que, se o novo aeroporto for “o maior ‘hub’ do mundo, com 136 vôos por hora”, como é apresentado, a TAP não poderá ser a única companhia a operar. Daniel Oliveira relembra ainda que, segundo a Confederação do Turismo de Portugal, estamos a perder 3 milhões de euros por dia sem o novo aeroporto. Ainda em análise o caso das Gémeas, que implica Marcelo Rebelo de Sousa, neste programa exibido a 6 de dezembro na SIC Notícias."

Recuei logo a 2008 e 2006 e a O meu baú de tesourinhos deprimentes:

"A 6 de Outubro de 2006 o Semanário Económico publicava um extenso artigo de três páginas sobre a indústria gráfica sob o título "Portugal ganha maior rotativa do mundo"

Eu não conheço nada da indústria gráfica, não conheço nada sobre o modelo de negócio das gráficas, mas na altura, humildemente, ciente da minha ignorância, achei para mim mesmo que este investimento não fazia sentido num país de 10 milhões de habitantes, numa economia que não descola de crescimentos raquíticos vai para quase dez anos, numa altura em que a internet está a comer o mercado dos jornais e não só.

A maior rotativa do mundo deve estar pensada e desenhada para grandes produções, grandes séries, grandes lotes de produção, logo não deve estar adaptada para mudanças rápidas de lote, de série... pensava eu, com isto produzem o que produziam antes numa fracção de tempo mas vão ficar com muito tempo livre... e a maior rotativa para ser viabilizada deve precisar de uma elevada taxa de ocupação, só que só fazem sentido taxas de ocupação elevadas com grandes séries, é absurdamente anti-económico, num negócio de preço-baixo (grandes séries) procurar taxas de ocupação elevadas à custa do somatório de muitas pequenas encomendas... (e o custo das mudanças e limpezas?).

A maior rotativa do mundo pediria o aumento da dimensão média das encomendas, não o aumento puro e simples das encomendas.

Mas quem sou eu... guardei o recorte à espera de ver em que paravam as modas."

E pensei também em "Estratégia? Qual estratégia?":

"Frequentemente, discutimos o país como se o mundo nos encarasse como a potência que foi dominante no tempo das caravelas. Hollywood criou o American Dream e em Portugal apenas uma alienação coletiva poderá pensar que existe um Portuguese Dream por causa do sol e das sardinhas. A triste verdade é que Portugal é hoje um país pequeno, pobre, periférico e irrelevante à escala económica mundial.

Qual é a visão para um crescimento económico sustentável de longo prazo que permita manter o ritmo de crescimento do salário mínimo nacional sem ser por estagnação dos salários das pessoas mais qualificadas que persistem em ficar por cá?

Já agora, se não queremos turistas no alojamento local, nem RNH, nem investidores em imobiliário para Golden Visa, aproveitem para me explicar porque é que a TAP e um novo aeroporto são estratégicos para o país.

Alguém que me explique, por favor, porque eu não estou a entender."

O meu vizinho de escritório é um espanhol com uma empresa de investimentos. Tem um chihuahua. Um cão pequeno daqueles que a gente tem de ter cuidado para não calcar. Quando passo no corredor do edifício e a porta do escritório dele está aberta, lá vem o cão disparado a ladrar como um perdido e a ameaçar morder as canelas... faz-me lembrar os políticos Portugueses a fazer política externa. 

domingo, dezembro 10, 2023

Porquê?

"It's the Benefits, Stupid! A project leader pointed out that project teams and owners focus too little on the benefits of their projects and too much on costs and schedule. It's not that cost and schedule are not important, emphasized this leader. But the ultimate reason for doing projects is their benefits. Cost and schedule are means to an end -- the end being benefits - not ends in themselves. We must therefore keep our eyes on the benefits, or we lose sight of why we do what we do, the leader concluded. - Again, the cohort was sympathetic. And again, our research supports the heuristic. First, we have found that most projects don't even measure benefits, making their study difficult. Second, project managers who do measure and manage benefits perform better than managers who do not. Not only do these managers perform better in delivering benefits, but also in delivering on budget and on time. It appears that once project managers know how to get benefits right, they know how to get everything right. They have graduated to the level of the mature and effective project leader. Therefore, if you don't already focus on benefits in your projects, now is a good time to start. You will not truly master project management until you do."

Relacionar os sublinhados acima com o tema do último artigo de Cavaco Silva.

"Ask Why? This will focus you on what matters, namely the benefits the project will achieve, which are the ultimately purpose of the project. Nietzsche rightly observed that, "to forget one's purpose is the commonest form of stupidity" (Nietzsche 1994: para 206). Good leaders are not stupid. They stay on purpose by asking why? This also prevents you from jumping too quickly to solutions, a classic error in project management and, indeed, all management. Moreover, it prevents you from seeing the project as an end in itself, instead of as a means to an end, another common error. Even a company is just a means to an end, and if you begin to see it as an end in itself then, ironically, that is the beginning to the end. Steve Jobs was crystal clear about his answer to why?: "making wonderful things" or "great products," as he repeated, over and over, like a mantra (Schlender and Tetzeli 2015: 233). Finally, asking and answering why? helps you think from right to left, like Wolstenholme above. The answer to why? is your "right" -- your North Star -- which will guide you every step of the way through delivery. Your "left" is the actions to get you there, your means. In the end, there are only two types of projects. The ones that get things right from the start, by asking why?, and the ones that fix things later. There are no shortcuts. The later you leave the fix the more expensive and stressful it will be. Once you're in the din of delivery, it is easy to forget to ask why? Therefore, remind yourself. Good leaders never stop asking why?"

Trechos retirados de "Heuristics for Masterbuilders: Fast and Frugal Ways to Become a Better Project Leader" de Bent Flyvbjerg.

sábado, dezembro 09, 2023

Risk and objectives

With ISO 9001:2015 came the risk based approach, and with ISO 9000:2015 came a definition of risk:

"Risk - effect of uncertainty

Note 1 to entry: An effect is a deviation from the expected"

It took me just over two years to realize the importance of Note 1 and formulate this approach:

"Therefore, in a strategic approach, the policy must be broken down into objectives for the management system (MS). These objectives cannot be established in a vacuum, but must consider the external context of the organization, its internal reality, and the expectations and values of relevant interested parties.

...

Assessing the external context, internal reality, and interested parties expectations and values allows for the identification of a set of risks that could hinder the company's ability to achieve its performance objectives, as well as a set of opportunities that could potentially benefit the company's ability to reach its performance targets. These risks and opportunities should be evaluated, and actions should be taken to minimize risks and capitalize on opportunities, based on priorities. These actions will be part of achieving the objectives of the desired future MS.

...

Thus, clauses 4.1 and 4.2 of ISO 9001:2015 refer to a moment prior to defining objectives aligned with the policy, influencing it. Meanwhile, clause 6.1 of ISO 9001:2015 refers to a moment after defining objectives, which may contradict or benefit their fulfillment."

This means that we should not determine risks and opportunities in the abstract, but rather by considering the objectives of the management system. Failing to do so runs the serious risk of generating long lists of risks and opportunities resulting from free brainstorming, but with little added value for organizations.

I had never looked for the definition of risk in ISO 31000 ... until some weeks ago.

According to ISO 31000, risk is defined as the effect of uncertainty on objectives. This implies that risk is the possibility of a positive or negative impact on an organization's objectives. Uncertainty refers to the state of having incomplete or imperfect information about something.

The relationship between risk and uncertainty is that uncertainty is the source of risk. In other words, risk cannot exist without uncertainty. For example, if you know with certainty that something will happen, then there is no risk. However, if you don't know with certainty what will happen, then there is a risk.

ISO 31000 defines risk as the effect of uncertainty on objectives. This definition is important because it emphasizes the fact that risk is not just about the probability of something happening. It is also about the impact that something happening will have on an organization's objectives.

Here are some examples of how uncertainty can lead to risk:

  • A company that is planning to launch a new product is uncertain about how the product will be received by consumers. This uncertainty could lead to risk if the product is not well-received and the company loses money.
  • A bank is uncertain about the future of the economy. This uncertainty could lead to risk if the economy takes a downturn and the bank loses money.
  • A government is uncertain about the future of the political climate. This uncertainty could lead to risk if there is a coup or other political instability.

As you can see, uncertainty can lead to risk in many different ways. It is important for organizations to understand the different types of uncertainty that they face and to develop strategies for managing them.

Uncertainty is generated by the internal and external context.

How do you determine risks in your MS, do you take objectives into account?