domingo, outubro 29, 2023

Falta a parte dolorosa da transição (Parte VI)

Como já escrevi aqui muitas vezes a Economia não é como a Física Newtoniana ou de Galileu. O que é verdade hoje amanhã é mentira, e vice versa (aqui por verdade entenda-se o que resulta, não esquecer os modelos de Lindgren). 

Oiço e leio muita gente com ideias e explicações sobre a baixa produtividade de Portugal face à média europeia. No entanto, julgo não andar longe da verdade ao dizer que este anónimo engenheiro da província tem uma explicação que foge do mainstream.

Em séries como "Falta a parte dolorosa da transição" (Parte I, Parte II, Parte III, Parte IV e Parte V) explano as minhas ideias ( a parte I faz ligação a postais mais antigos, por exemplo, uma outra série "Deixem as empresas morrer") que começaram quando descobri Maliranta e a experiência finlandesa.

A produtividade de um país sobe marginalmente quando o somatório das empresas existentes aumentam a sua produtividade, mas para dar saltos de produtividade, o perfil das empresas existentes numa economia no momento t tem de dar lugar a outro perfil no momento t+1 (por perfil entenda-se distribuição de empresas pelos vários sectores económicos). Esta percepção é terrível porque os políticos têm medo dela, porque pressupõe entender o "modelo flying geese" e o problema da competitividade no Uganda (ambos apresentados na referida Parte I acima). Como mete medo, os políticos correm a despejar dinheiro nas empresas existentes para que mudem e aumentem a produtividade, mas o dinheiro é quase sempre usado para defender o passado, em vez de construir o futuro, como Spender ilustrou de forma magistral.

Há semanas que ando a namorar a ideia de comparar a evolução do perfil económico de países ao longo do tempo. Gostava de começar nos anos 60 e perceber a evolução até ao final da primeira década do século XXI. Ainda não o consegui, nem com a IA (falha minha). No entanto, ontem fiz uma pesquisa que me levou a este site da entidade estatística dinamarquesa. A partir daí criei esta tabela com a evolução do número de empresas e da facturação global por sector económico ligado à manufactura.


Sublinhei os sectores que cresceram acima ou abaixo de 20%. E ainda aqueles que cresceram a facturação em mais de 200%.

Interessante o crescimento do número de empresas a par da redução da facturação. Presumo que seja o crescimento da produção artesanal e a alteração de comportamentos de consumidores.

Interessante a redução daquilo a que chamamos "sectores tradicionais"... aprendi tanto com Eric Reinert: "a nation - just as a person - still cannot break such vicious circles without changing professions."

Agora isto fica ainda mais interessante quanto acrescentamos a evolução do número de trabalhadores a tempo inteiro:

Só há 3 sectores a crescerem em número de trabalhadores: o farmacêutico, o fabrico de motores eléctricos e o fabrico de produtos electrónicos. Uma ilustração dos flying geese:

Para onde vão os trabalhadores? Para os serviços! Onde a produtividade é maior.

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