segunda-feira, abril 10, 2023

"Time to zag"

Há anos que escrevo sobre Mongo, como o que está a emergir sobre os escombros do modelo do século XX.

Lembro o que escrevi sobre a "suckiness" dos gigantes, uma série com 15 episódios: "Giants invariably descend into suckiness" (parte XV).

Agora em "The age of average" sublinho:

"I believe that the age of average is the age of opportunity.

When every supermarket aisle looks like a sea of sameness, when every category abides by the same conventions, when every industry has converged on its own singular style, bold brands and courageous companies have the chance to chart a different course. To be different, distinctive and disruptive.

So, this is your call to arms. Whether you’re in film or fashion, media or marketing, architecture, automotive or advertising, it doesn’t matter. Our visual culture is flatlining and the only cure is creativity.

It’s time to cast aside conformity. It’s time to exorcise the expected. It’s time to decline the indistinguishable.

For years the world has been moving in the same stylistic direction. And it’s time we reintroduced some originality.

Or as the ad agency BBH says.

When the world zigs. Zag."


domingo, abril 09, 2023

Domingo de Páscoa


(Jo 20.1-9)

No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo.

Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discipulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: "Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram"

Saíram, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. Olhando para dentro, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou.

Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás, e entrou no túmulo. Viu as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte.

Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou.

De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos.


sábado, abril 08, 2023

Hódie siléntium magnum in terra est

"Lemos nos catecismos que a fé é um dom da graça de Deus.

Mas a fé é, ao mesmo tempo, um ato humano, uma fé peregrina que, enquanto caminhamos neste mundo e neste corpo, nunca pode libertar-se plenamente da penumbra das dúvidas, das limitações da nossa razão, da linguagem, da experiência e da imaginação. Se a fé for viva, será repetidamente ferida, exposta às crises, sim, às vezes até pode ser aniquilada. Dizendo de forma mais amena: há momentos em que a nossa fé, na sua configuração atual, morre - para que possa ser novamente ressuscitada e transformada. Sim, apenas uma fé ferida, na qual são visíveis as «marcas dos pregos», é credível; apenas esta pode curar. Receio que uma fé que não passou pela noite da cruz e que não foi atingida no coração não tem esse poder. Uma fé que nunca ficou cega, que nunca viveu nas trevas, dificilmente pode ajudar aqueles que não viram e não veem. A religião dos «que veem», farisaica, pecaminosamente autoconfiante, a religião não ferida dá pedras em vez de pão, ideologias em vez da fé, teorias em vez do testemunho, advertências em vez da ajuda, obrigações e proibições em vez do amor misericordioso.

...

Não pode ser tudo claro para nós. Ainda não contemplamos a face de Deus. Se a nossa fé for viva e verdadeira, há nela lugar para perguntas, buscas e inúmeras dúvidas. Dizia Martin Heidegger que «o questionar é a piedade do pensamento». As nossas dúvidas não podem ser um obstáculo pecaminoso no caminho para Deus, porque não são dúvidas orgulhosas sobre Deus, mas sim dúvidas sobre as nossas próprias ideias religiosas. Podem ser, pelo contrário, consideradas uma manifestação de humildade que nos aproxima de Deus e nos abre ao seu mistério."

Trechos retirados de "O tempo das igrejas vazias" de Tomás Halík. 

sexta-feira, abril 07, 2023

"Na cruz, morrem as nossas ideias ingénuas sobre Deus"


"Só quem não responde ao mal, quem não retribui os golpes e, assim, trava a espiral da vingança, se torna um espelho no qual vemos o mal tal como é. O inocente, ao contrário de todos os outros, torna-se um espelho puro, não distorcido, diante do mundo. Tal como está escrito, veio para revelar os segredos de muitos corações (cf. Lucas 2,35). O inocente irrita tanto mais o mal quanto o priva das desculpas e de álibis, condena-o sem falar ou culpar. Ao renunciar à violência e à vingança, torna-se o cordeiro sacrificial: o cordeiro que carrega sobre si os nossos pecados, as nossas sombras, as dívidas, as culpas do mundo.

Sim, a cruz é o espelho no qual podemos ver o mal em toda a sua nudez e atrocidade. Esta é a outra face do mundo, na qual estamos envolvidos pelos nossos actos, palavras e pensamentos, ou por não fazermos tudo o que podíamos ou devíamos fazer para o bem dos outros.

Olhemos na luz da fé para o espelho da cruz. Pensemos na espiral do mal que constantemente é posta em marcha. [Moi ici: Por mim] Nunca sabemos onde chegará uma bofetada ou uma palavra dura que lançámos para o mundo. As injustiças sofridas dão origem a mais injustiças; as pessoas vingam-se, frequentemente, por injustiças, descarregando a sua raiva nos outros, nos mais fracos.

Na cruz está suspenso aquele que travou o mal oferecendo a sua face, tornando-se um espelho no qual vemos o mal sem máscaras e sem desculpas. Olhemos para a cruz com os olhos da fé.

...

Os sacerdotes modernos são criticados por falar pouco do Inferno nas suas pregações. Talvez isto aconteça porque a noção do Inferno está associada a ideias infantis ou mesmo perversas no imaginário de muitas pessoas. Não podemos levar a sério os diabos dos contos de fada populares para assustar as crianças, nem as fantasias sadomasoquistas dos pregadores barrocos que falam das câmaras de tortura do submundo para assustar os adultos. Estas ideias perderam força face às experiências históricas com os infernos que as pessoas prepararam umas para as outras na Terra, principalmente nas guerras modernas, nos campos de concentração comunistas e nazistas e nos crimes terroristas do nosso tempo. O Inferno, diz o catecismo, é o estado de separação de Deus. É um estado em que o ser humano se afasta do mais íntimo sentido de vida, isto é, da comunhão com Deus, da vida no amor, É este o estado que testemunha o grito de Jesus na cruz: «Meu Deus, Deus, porque me abandonaste?»

....

O Cordeiro que tira o pecado do mundo leva até Deus as perguntas dolorosas de todos os que sofrem. De todos os infernos terrestres, das câmaras de tortura e campos de concentração, dos hospitais sobrelotados, dos abismos escuros de dor e miséria ressoa a pergunta: «Porquê», a mesma que Jesus grita da cruz para a nuvem escura do silêncio de Deus.

Sim, Jesus desceu a um círculo mais profundo do Inferno, ao Inferno do afastamento de Deus, do silêncio de Deus, na hora da provação. Na cruz, morrem as nossas ideias ingénuas sobre Deus.

...

Deus deixa o seu Filho passar pela noite escura da fé: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?» Chesterton recomendava Cristo como o «Deus para ateus»: se os ateus tivessem de escolher uma religião, deveria ser o Cristianismo, pois, nele. por um instante, Deus parecia ser ateu. A sua fé foi «crucificada» e trespassada pela distância infinita de Deus. «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?» O grito de Jesus parece, à primeira vista, uma expressão de desespero. No entanto, Jesus exprime esta experiência extrema com uma pergunta - «Porque me abandonaste?» Não deixa de questionar, não interrompe o diálogo com o Pai, mesmo quando, naquele momento e em agonia, já não pode esperar uma resposta, do ponto de vista humano. Jesus experimenta o completo abandono de Deus, e, mesmo assim, dá voz à sua pergunta na escuridão. Este momento da cruz (e da cruz da sua fé, se assim podemos dizer revela algo essencial sobre o carácter da fé cristã: a autêntica fé dos discípulos de Jesus tem um carácter de «no entanto», de «apesar de». É uma fé ferida, trespassada e, ainda assim, uma fé que sempre questiona e busca, uma fé crucificada e ressuscitada, ou seja, uma fé verdadeiramente pascal.

«Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?» O hebraico tem duas palavras para o «porquê»: madua (questiona a causa) e lamá (questiona o sentido, o propósito). A palavra que foi aqui, aparentemente, pronunciada, lamá, significa: para quê? Qual é o propósito? Qual é o sentido de tudo isto?

Não esqueçamos que a pergunta dolorosa de Jesus se dirige a Deus - é, portanto, uma oração. Também nós podemos dar às nossas perguntas a forma de uma oração e às nossas orações a forma de perguntas."

Trechos retirados de "O tempo das igrejas vazias" de Tomás Halík. 

quinta-feira, abril 06, 2023

"também vós deveis lavar os pés uns aos outros"

 


"Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. No decorrer da ceia, tendo já o Demónio metido no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, a ideia de O entregar, Jesus, sabendo que o Pai Lhe tinha dado toda a autoridade, sabendo que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-Se da mesa, tirou o manto e tomou uma toalha, que pôs à cintura. Depois, deitou água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que pusera à cintura. Quando chegou a Simão Pedro, este disse-Lhe: «Senhor, Tu vais lavar-me os pés?». Jesus respondeu: «O que estou a fazer, não o podes entender agora, mas compreendê-lo-ás mais tarde». Pedro insistiu: «Nunca consentirei que me laves os pés». Jesus respondeu-lhe: «Se não tos lavar, não terás parte comigo». Simão Pedro replicou: «Senhor, então não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça». Jesus respondeu-lhe: «Aquele que já tomou banho está limpo e não precisa de lavar senão os pés. Vós estais limpos, mas não todos». Jesus bem sabia quem O havia de entregar. Foi por isso que acrescentou: «Nem todos estais limpos». Depois de lhes lavar os pés, Jesus tomou o manto e pôs-Se de novo à mesa. Então disse-lhes: «Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-Me Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque o sou. Se Eu, que sou Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu fiz, vós façais também»."



SORRIA, ESTÁ A SER FILMADO

"Para Rui Rocha, as sucessivas revelações que têm sido feitas desde que se soube que ex-administradora Alexandra Reis recebeu uma indemnização de 500 mil euros comprovam "a falência total da gestão socialista na TAP" e são "o fim da linha" para o Governo.

"Se isto é na TAP, como será no resto todo? Como é na EFACEC, na CP, nas empresas públicas? O que é que se está a passar em Portugal que os portugueses cada vez pagam mais impostos, cada vez têm mais dificuldades em chegar ao fim do mês, e depois a gestão dos serviços públicos é (...) uma verdadeira anedota?", questionou.

O líder da IL considerou que a audição parlamentar da CEO (presidente executiva) da TAP, na terça-feira, mostra que as "pressões políticas" se sobrepuseram "à eficiência e eficácia" na gestão da companhia aérea, o que comprova "a péssima decisão" que foi a sua renacionalização."

Trecho retirado de "TAP: IL considera que declarações da CEO mostram "falência total da gestão socialista"

"Soberba. A troca de emails entre o então secretário de Estado Hugo Santos Mendes e a CEO da TAP é uma rara ocasião para assistirmos a soberba não filtrada de um político que prefere estragar a vida a 200 pessoas - que voam na companhia pública paga com os seus impostos a perturbar o humor do "grande aliado político" de quem tem medo: o Presidente da República. Não passou uma vez pela cabeça do governante Hugo Mendes o incómodo causado as pessoas que iriam apanhar o voo da TAP em Maputo e a falta grosseira de ética - e, porque não, de classe."

Trecho retirado de "A TAP e a política: os 7 pecados capitais" no JdN de hoje.

"É provável que o seu trabalho esteja longe de ter sido imaculado, contudo a passagem de Christine pelo Parlamento deu-nos uma imagem nítida de como se usam empresas públicas como instrumentos de gestão política. Claramente desvalorizaram a ira de uma profissional sem nada a perder e que se sente injustiçada pela forma como foi tratada. Só por isso aqui fica o meu sentido obrigado. Mas há mais a agradecer.

Se não fossem graves, os episódios revelados dariam uma bela sátira da vida portuguesa. Se Portugal fosse um país normal onde os políticos são realmente responsabilizados pelo uso indevido de recursos públicos, esta promiscuidade jamais seria permitida."

Trecho retirado de "Meteram-se com a mulher errada" no Expresso de hoje. 

quarta-feira, abril 05, 2023

"get out of the building"

"I wasn’t completely surprised because as a young marketeer, I made this mistake all the time – thinking that my product was a solution to someone’s problem  – without ever understanding what problems the customers really had. And that I needed to have all the answers when in fact I didn’t even understand the questions.

I suggested that perhaps he should get out of the building and actually talk to some large-scale concrete suppliers and rather than starting with what he wanted to sell them, try to understand what their needs were."

Trecho retirado de "Steve Blank Your Product is Not Their Problem". 

terça-feira, abril 04, 2023

Uma crua e dura realidade

 Há tempos estava a rever a análise do contexto de uma empresa, que vai ser apresentada na reunião de revisão do sistema, ao conversar com a responsável da qualidade gerou-se um diálogo que desembocou numa verdadeira reflexão sobre o futuro da empresa e do seu sector de actividade no país. Chegados aí, senti uma barreira a levantar-se.

Nunca a responsável da qualidade terá possibilidade de seguir essa via na sua empresa. Nunca a revisão do sistema entrará por caminhos que ponham em causa o status quo. Uma pena!

Por exemplo, por um lado a necessidade de "Apostar em ganhar novos clientes em gamas mais altas", por outro a dificuldade em o fazer (procurar novos tipos de clientes, em diferentes canais, com diferentes tipos de produtos) e ao mesmo tempo a pressão do contexto para o aumento dos custos, "António Costa pede "esforço" às empresas para melhorar os salários" e "Escassez de talento afeta 84% dos empregadores nacionais". E se é mesmo difícil subir na escala de valor como responder à evolução do contexto?

Como disseram Maliranta e Nassim Taleb:

"Systems don’t learn because people learn individually – that’s the myth of modernity. Systems learn at the collective level by the mechanism of selection: by eliminating those elements that reduce the fitness of the whole, provided these have skin in the game"

Uma crua e dura realidade quando se evita enfrentar o contexto. 

Chris Martin canta, "when you get what you want and not what you need". Isto é complicado!!!


segunda-feira, abril 03, 2023

O que é a verdade?

 Ontem foi Domingo de Ramos, onde na leitura do Evangelho Jesus é apresentado ao governador Pilatos. Na noite anterior tinha sublinhado na minha leitura:

"participei num debate televisivo de domingo [Moi ici: Nos anos 90 na república checa] com altos representantes desses dois grandes partidos. Ao sair do estúdio, perguntei a um deles: 

- «Agora que estamos a sós, sem câmaras e testemunhas, diga-me, o senhor sabe que tudo aquilo que disse ali durante aquela hora não é de todo verdade, pois não?» 

Olhou para mim com um misto de pena e de desprezo: 

- «Verdade? Qual verdade? Eu dirijo-me aos meus eleitores e a outra parte aos seus.» 

Até hoje, ouço o profundo desprezo com o qual pronunciou a palavra verdade, como se fosse um conceito vulgar da rua. Por outras palavras: a nós, não nos interessa minimamente o que é a verdade, não perdemos tempo com uma pergunta dessas. Pagamos as sondagens, sabemos o que os nossos potenciais eleitores querem ouvir e dizemo-lo a eles. Eles dão-nos os seus votos, o acesso ao poder e ao dinheiro. Quem não entende esse mecanismo, que não se atravesse no nosso caminho.

Naquele dia, compreendi o que Pilatos disse a Jesus: Verdade? O que é, afinal? Qual é o seu valor? Apenas o poder tem valor: não entendes que tenho o poder de te libertar ou de te crucificar?"

Trecho retirado de "O tempo das igrejas vazias" de Tomás Halík. 

domingo, abril 02, 2023

Números interessantes sobre vendas

Números interessantes:

"Only 13% of customers believe a sales person can understand their needs. [Moi ici: Este é o número que mais me impressiona]
Takeaway: Too many people in sales still don't get it. It's not about you. It all starts and stops with the buyer. Good sales professionals are like a doctor diagnosing a patient's illness. If you can't uncover your customer's problems and needs you don't stand a chance at selling them a solution."
...
The average company spends $10K - $15K hiring an individual and only $2K a year in sales training. [Moi ici: Este também impressiona]
Takeaway: Sales training is paramount for new salespeople. If you hire A players but don't invest in their growth you will never have an A team.
...
Retaining current customers is 6 to 7 times less costly than acquiring new ones.
Takeaways: Pay attention to your existing customers. The fact that they are engaged with your brand gives you an advantage that you’d be mistaken not to capitalize on. This is all about account management, up-selling and cross-selling.
...
After a presentation, 63% of attendees remember stories. Only 5% remember statistics.
Takeaway: Tell stories. Storytelling is one of the most powerful techniques salespeople have to communicate and motivate. Using stories to make a connection with a prospect can greatly increase your ability to close deals. How has your product or service helped other companies? How has it caused big changes for other organizations?"

Trechos retirados de "21 Mind-Blowing Sales Stats

sábado, abril 01, 2023

Por que se pedem paletes de mão de obra estrangeira barata? (Parte II)

Recordo daqui:

"Escrevi aqui algures que um dia seríamos (os nossos descendentes) todos tratados como Figos." 

Continuando Por que se pedem paletes de mão de obra estrangeira barata? 

"When tight labor markets last, the adaptations that employers make to reel new workers in and hold on to the ones they have work to the employees' advantage. Wages, benefits, working conditions, investments in training, and options for upward mobility increase and the doors to opportunity open a bit wider than usual. These are not charity acts and while they grow when public benefits like unemployment insurance enable workers to look a bit longer for a better opportunity, they emerge without those buffers just because demand for workers has outstripped the supply. Firms have no choice: they cannot attract labor if they don't offer competitive conditions. Once in place, those benefits are hardthough not impossible-to shake.

...

Employers and intermediary organizations make use of similar strategies in cultivating workers on the margins for opportunities that are going begging in tight labor markets. But for small employers, the training functions, the monitoring required to keep people "in line," and the cultivation of opportunities for upward mobility can be too arduous. This is why these small businesses find intermediaries so important when sourcing unfamiliar workers. Larger employers appreciate the chance to outsource training in soft skills among the hard-to-employ.

...

Arguably, the most interesting feature of intermediary work is the ability to pressure employers to boost job quality. Intermediaries can—and do—make more effort to find good workers for employers who are raising wages and providing benefits. They sideline hiring managers who are fishing to fill low-quality jobs. This is a form of collective bargaining, one that worker-focused intermediary organizations are excited to engage because they can deliver greater economic opportunity to their trainees.

...

people with damaged biographies whether from long periods of unemployment or drug addiction--face steep odds against finding good jobs. But in tight labor markets, they are more likely to find work of some kind, because the demand is there and the supply is not, or at least not in as plentiful quantities as employers need. 

...

The same forces that drive tight labor markets—principally economic growth—also spur an ever-escalating cost of living."

Trechos retirados de "Moving the Needle" de Katherine S. Newman.

sexta-feira, março 31, 2023

A mudança bottom-up!

Flying geese!
Descobri esta expressão há poucos anos, mas foi com Reinert que percebi o seu significado profundo e as suas implicações para a produtividade agregada dos países.

Em tempos de inflação elevada toda a gente quer ver o seu salário aumentado. Qual o problema disso? O nosso tradicional progresso de caracol no aumento da produtividade que gera a famosa guerra do gato e do rato. O pouco que se aumenta em produtividade é comido pelo magro aumento dos salários e "rouba" o capital para pagar os custos do futuro (segundo Schumpeter).
 
Por exemplo, hoje no JN aparece um artigo sobre a guerra entre as vacarias e a indústria de lacticínios, "Indústria desce preço do leite e coloca vacarias em risco":
"A dona dos queijos Limiano e Terra Nostra já anunciou uma descida de 7,8 cêntimos no preço do leite pago à produção. A Penlac vai baixar cinco. Os produtores acusam a indústria de estar "aproveitar-se" das ajudas anunciadas pelo Governo para "esmagar a produção" , garantem que vai voltar a haver fecho de vacarias e falta de leite nos supermercados. Exigem a intervenção do Executivo de António Costa.
"As indústrias pretendem aproveitar-se das ajudas anunciadas para voltar a espremer a margem dos produtores. Qualquer descida no preço do leite levará ao abate de animais, abandono da produção e à falta de leite nas prateleiras", afirma, em comunicado, a Aprolep -Associação dos Produtores de Leite de Portugal."

Agora vou ironizar: Malditas vacarias que esquecem o seu papel social (apesar dos impostos, taxas e taxinhas ainda têm de ser Misericórdias) 

Por alguma razão associo os flying geese ao meu tradicional grito aqui no blogue "The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!"

Se uma vacaria não consegue ser competitiva ou muda de vida ou tem de fechar. As pessoas não estão dispostas a pagar mais ou, simplesmente não podem pagar mais. Os recursos aplicados numa vacaria que fecha vão para outra aposta mais produtiva.

Voltemos à produtividade agregada de um país. Como aumenta? Volto sempre a Maliranta. Na imagem dos flying geese:
O Japão deixou de produzir vestuário porque as empresas produtoras de vestuário deixaram de poder gerar rendimento suficiente que pagasse salários competitivos aos seus trabalhares. Por isso, esses trabalhadores migraram, primeiro para a metalomecânica, depois para a electrónica e assim sucessivamente. 

Há dias no Eco li um artigo que ilustra a mudança que o país precisa de ver acontecer, "De estofador a programador. Eles (re)programaram as suas carreiras para a indústria tecnológica":
"Em comum têm a decisão de reconverter as suas carreiras. Hoje em dia, são os quatro programadores em empresas de diferentes setores. Ganharam em salário e qualidade de vida. São mais valorizados e respeitados profissionalmente do que nunca, dizem."

A mudança bottom-up! Uns mudam de carreira, outros mudam de país. A maioria definha a proteger o passado. 



quinta-feira, março 30, 2023

Acerca de KPIs

Terça pediram-me uma opinião:

1."Se esse KPI está sempre no verde não interessa para nada, porque não é challenging" Eu fiquei de pé atrás quando ouvi isto. E se por acaso for um KPI relevante? O que opinas? 2. Aliás, o critério último da relevância de um KPI não é o dever estar relacionado com a satisfação do cliente?

Por que seguimos um indicador de desempenho?
  • Recordo daqui: "Once again, the reason why a measurement is important to a business or government agency is because of the existence of risk. Without risk, information would literally have no value to decision making.""
Por que é um indicador pode não ser challenging?
  • Recordo daqui: "Usar indicadores da treta; Usar metas da treta"
  • Um indicador pode ser bom, mas ter um desafio de desempenho tão baixo que acaba por estar sempre no verde. Vem-me logo à cabeça uma empresa que em 2022 teve 8 reclamações, em 2021 teve 9 ou 10 reclamações, e que para 2023 propunha uma meta de não mais de 12 reclamações. O responsável da qualidade queria tudo verde.
  • Como saber se um indicador é bom? Se é um indicador estratégico - Está alinhado com a estratégia?  Recordar o mapa da estratégia. Se é um indicador operacional - Serve para medir a eficácia, ou a eficiência, ou a quantidade
O critério último da relevância de um KPI não é o dever estar relacionado com a satisfação do cliente? Proponho que se desenhe o mapa da estratégia, depois escolher os indicadores nas quatro perspectivas. Na perspectiva clientes equacionar 3 resultados desejados: clientes ganhos; clientes satisfeitos e clientes leais.

quarta-feira, março 29, 2023

"wait for the coming of the meteor"

Na passada terça-feira no JN li:


Na segunda-feira, numa conversa com o meu parceiro das conversas oxigenadoras, falámos do crescente número de famílias dependentes de apoios do estado. Falámos do interesse do sistema na manutenção da situação. Já imaginaram que o sucesso de um programa de apoio levaria ao fim do posto de trabalho dos trabalhadores do programa, porque o objectivo de apoio teria desaparecido? Quem aceita isso? Recordei a minha primeira leitura de Peter Drucker, mais de 900 páginas, onde ele propunha que muitos programas do estado fossem iniciados com data de encerramento.

Recordei o trecho que li numa das caminhadas durante os primeiros tempos de lockdown em Devo ser muito burro mesmo! (parte II) - "Toyota leaders swore they would never be reliant on banks again." Quando recordo a estória da Toyota vou sempre aterrar no racional deste postal de 2021, Quando o povo estiver maduro os diques e comportas serão abertos

Enquanto o povo não estiver maduro não vale a pena lutar e gastar energia. Ainda na segunda-feira disse o mesmo.

Entretanto, ontem li "We must become barbarians" onde sublinhei:
"The historian Malcom Yapp invented a wonderful term for this kind of dispersed culture of refusal: jellyfish tribes. In Scott’s words, jellyfish tribalism is “a process of defending cultural and economic autonomy by scattering” to “make the group invisible or unattractive as object of appropriation”.
...
This is why I find the notion of the jellyfish tribe so intriguing. Any attempt at building utopia will fail — but utopia should never be a goal. Some form of free survival is the goal; survival in order to uphold the values of a true human life. There is no easy or standardised way to emulate what Scott calls the “state-repelling characteristics” of the Zomians, but there is one question it might be useful for anyone who seeks to evade Leviathan to ask themselves: what kind of barbarian do I want to be?
...
What we see here, then, is two potential escape routes: one outside, one inside. Shatter zones do not have to literally be in the hills: they can be within our homes and even within our hearts. My heart soars whenever I hear of some remote monastery or surviving rooted community with no online access or even electricity, whose people know exactly where they stand: outside the state, the better to see God and experience creation. Such places are the work of the raw barbarians, and we need more of them.
...
if we coalesce as a jellyfish tribe, we can begin to dissociate ourselves from the state, while creating alternatives to it. Plenty of people are already doing this. They create cultures-within-cultures, parallel economies and ways of living. Like small furry mammals running unnoticed beneath the feet of the tyrannosaurs, we can thus build our own little worlds on the margins and wait for the coming of the meteor, which we can already see coming in the very un-sustainability of technological modernity. The mice don’t attack the dinosaurs, and neither do they wait for them to die out: they just avoid them as best they can, and get on with their work."
Sei que o tal sistema lá de cima não é sustentável, vai durar graças aos apoios dos trouxas frugais do Norte da Europa enquanto por cá se esbanja dinheiro:

 

Só nos resta esperar pelo meteoro. 

terça-feira, março 28, 2023

"this feeling of being “ripped-off”"

"what airlines have forgotten over time is, that if you treat customers like rational customers then you will get rational customers and extremely price sensible customers in the end.  However, there is a good reason why economics is called a dismal science. So if you follow economists, you get a dismal industry.
...
The digital customer is a knowledgeable customer due to all the information he has. So if airlines treat him still like the stupid customer of the past when he had no access the information, customers will feel even more exploit by the airlines as profit maximizers. The bad joke is that the airlines short-term profit seeking behavior is exactly the reason why there is no profit in the airline industry.
...
Airlines have trained their customer to look for the best price and not for value, and now the customers look via comparison engines for the best price and not value.
Airlines have conditioned their customers in the past on price, now that backfires, since customers have to be retrained about value. And as we all know, unlearning is impossible. Airlines have trained customers for a long time on price to be the sole criteria so value strategies will have serious problems to even reach the customers.
...
the difference for the same flight from the same airline can be up to 50%. How can I trust the corporate site, if they want to rip me off? It is not the 50 CHF that annoys me but this feeling of being “ripped-off”."

Trechos retirados de "The strange business model of airlines

segunda-feira, março 27, 2023

"It's the Benefits, Stupid!"

"It's the Benefits, Stupid! A project leader pointed out that project teams and owners focus too little on the benefits of their projects and too much on costs and schedule. It's not that cost and schedule are not important, emphasized this leader. But the ultimate reason for doing projects is their benefits. Cost and schedule are means to an end - - the end being benefits - not ends in themselves. We must therefore keep our eyes on the benefits, or we lose sight of why we do what we do, the leader concluded. - Again, the cohort was sympathetic. And again, our research supports the heuristic. First, we have found that most projects don't even measure benefits, making their study difficult. Second, project managers who do measure and manage benefits perform better than managers who do not. Not only do these managers perform better in delivering benefits, but also in delivering on budget and on time. It appears that once project managers know how to get benefits right, they know how to get everything right. They have graduated to the level of the mature and effective project leader. Therefore, if you don't already focus on benefits in your projects, now is a good time to start. You will not truly master project management until you do."

Trecho retirado de "Heuristics for Masterbuilders: Fast and Frugal Ways to Become a Better Project Leader" 

domingo, março 26, 2023

"the real impacts happen when they act like small ones"

Há anos fixei um tweet de Tom Peters neste postal Too Big To Care que voltei a referir neste outro postal Too big to care.

Ontem, recordei-me dele ao ler Seth Godin em "Is it possible to care at scale?":

"Caring at scale can’t be done by the CEO or a VP. But what these folks can do is create a culture that cares. They can hire people who are predisposed to care. They can pay attention to the people who care and measure things that matter instead of chasing the short term.

Large organizations have significant structural advantages. But the real impacts happen when they act like small ones."


sábado, março 25, 2023

Por que se pedem paletes de mão de obra estrangeira barata?

Volta e meia oiço, ou leio, líderes associativos a pedirem paletes de mão de obra estrangeira barata para resolverem o seu problema.

Qual o impacte da política de imigração de Trump nos salários dos americanos mais pobres?

Qual o impacte de um mercado laboral apertado nos salários dos trabalhadores?

"Given that inadequate employment plays such a powerful role in theories of poverty, it is surprising how little research has been done on whether, or to what extent, tight labor markets reverse these trajectories. Only recently have scholars turned their attention to the impact of tight labor markets on inequality, offering insight into how very tight labor markets have the potential to substantially close the Black-white wage, income, and unemployment gaps. If persistent unemployment or low earnings are indeed the root of most poverty problems, then truly tight labor markets that last long enough to reach those at the bottom of the economic ladder should change the equation in two ways. First, low unemployment should catalyze competition among employers to attract workers, driving them to improve job quality—including raising wages for workers on the bottom rungs. Second, low unemployment should draw jobless workers off the sidelines, transforming applicants with little formal education or employment experience into viable job candidates.

These benefits should flow into the other domains tied to poverty. As hiring managers are forced to look further afield for workers, the stigma attached to having a criminal record, especially a nonviolent one, should be less of a barrier. In theory, when men can claim steady salaries, young women have more choices in the partnership “market.” Tight labor markets provide women with more options as well, including raising children on their own in more economically secure households. As unemployment declines, neighborhood peace should be easier to secure since economic security begets residential stability, which increases social capital and peaceful streets.

...

we explore the gains that can accrue for people living in poverty when labor is scarce and jobs are going begging.

...

Poor workers are instead marked—by race, criminal records, or past unemployment—in ways that are often stigmatized by employers. Our research shows that these qualitative distinctions mean that these workers are categorically excluded from work opportunities until the labor market becomes especially tight, around 4 percent unemployment, at which point opportunities open up."

Interessante, sempre pensei isto e sempre considerei os pedidos de paletes de mão de obra estrangeira barata uma forma de manter os salários baixos. Uma forma de reduzir o imperativo desubir na escala de valor, para que a produtividade acrescida permita pagar os salários crescentes.

Trechos retirados de "Moving the Needle" de Katherine S. Newman.

sexta-feira, março 24, 2023

Rumo ao fundo da tabela


Extraordinário, Roménia agora tem poder de compra superior a Portugal e "Portugal é o sétimo país com menor PIB per capita da UE. Foi ultrapassado pela Estónia e Letónia"

Recordar:

Sabem por que é que acabaram as PPPs? Para impedir comparações como estas entre portas, para não mostrar o estado do SNS.



Quem não os conhecer que os compre

"This article presents results from the first statistically significant study of traffic forecasts in transportation infrastructure projects. The sample used is the largest of its kind, covering 210 projects in 14 nations worth U.S.$9 billion. The study shows with very high statistical significance that forecasters generally do a poor job of estimating the demand for transportation infrastructure projects. For 9 out of 10 rail projects, passenger forecasts are overestimated; the average overestimation is 106%. For half of all road projects, the difference between actual and forecasted traffic is more than +20%. The result is substantial financial risks, which are typically ignored or downplayed by planners and decision-makers to the detriment of social and economic welfare. Our data also show that forecasts have not become more accurate over the 30-year period studied, despite claims to the contrary by forecasters. The causes of inaccuracy in forecasts are different for rail and road projects, with political causes playing a larger role for rail than for road."

Trecho retirado de "How (In)accurate Are Demand Forecasts in Public Works Projects? - The Case of Transportation" de Bent Flyvbjerg, Mette K. Skamris Holm, e Soren L. Buhl, publicado no Journal of the American Planning Association, Vol. 71, No. 2, Spring 2005. 

quinta-feira, março 23, 2023

Iterar mais rapidamente

No início da década de 90 trabalhei com uma empresa japonesa do ramo automóvel no projecto CDW27, que mais tarde seria o Ford Mondeo. O japonês com quem trabalhava gabava-se do cliente Toyota ser muito mais dinâmico que a Ford. Julgo que ele dizia que enquanto a Ford demorava 5 anos a pôr um carro no mercado a Toyota demorava 3 anos, ou então era 7 anos versus 5 anos. Não interessam os números exactos, o que interessa é chamar à reflexão o pensamento de Boyd sobre a vantagem de quem consegue iterar mais depressa, o que tiver o ciclo OODA mais curto:

"The key is the combination — rigor in each step; and getting through more cycles of the OODA Loop faster than the enemy."

Nestes tempos de contexto a mudar a um ritmo alucinante, interrogo-me sobre a vantagem das empresas com um rolling budget versus a que têm um orçamento anual e uma disciplina férrea na sua execução. 

"awarding contracts to domestic companies is a good way to make influential friends and win public support" (parte II)

O ministro João Galamba. 

Este blogue percebe-o tão bem. Ontem ao fm da tarde li, ""Teremos uma fábrica de comboios em Portugal", garante João Galamba".

Como não recordar o recente postal "awarding contracts to domestic companies is a good way to make influential friends and win public support"



quarta-feira, março 22, 2023

"isn’t a license to not worry about costs"

Uma, mais uma, excelente reflexão de Roger Martin, que por sua vez nos põe a pensar. Desta vez é "Cost-Effective Differentiation - Why it Really Matters for your Strategy" da qual sublinho a parte final:

"Real differentiators have the margin room to be aggressive with pricing when needed and, in addition, have the earnings from their high margins to invest in the next differentiation. And low-cost players can grab share by pricing below the level that any other player is game to match. Consequently, ineffective high-value players have difficulty growing. Customers who happen to really value their particular offering remain loyal customers at the price they need to charge. But as with all companies, ineffective high-value players face a downward-sloping demand curve in which higher prices mean lower demand.

Simply, the ability to grow any business is hampered by needing to charge a high enough price to earn a return on costs. If those costs are higher than they need to be, but you add value to a set of customers, you will have a decent business. But it won’t be a great business.

Seeking to be a differentiator isn’t a license to not worry about costs. It is all one singular value equation. The determinant of your competitiveness is the margin between the value you create and the costs you incur. And in that metric: a buck is a buck is a buck."

Recordo trading up versus trading down.

terça-feira, março 21, 2023

Uma regra de polegar

A propósito dos projectos públicos, um exemplo de uma boa prática que deve servir de alerta para as notícias que acompanham o anúncio de obras públicas:

"Subways would seem to be an even harder case for modularization, but when Madrid Metro carried out one of the world's largest subway expansions between 1995 and 2003, it leaned on modularity in two ways. First, the seventy-six stations required for the expansion were treated like Lego, with all sharing the same simple, clean, functional design. Costs plunged, and speed of delivery soared. To amplify those effects, Madrid Metro shunned new technologies. Only proven technologies - those with a high degree of "frozen experience" - were used."


Trecho retirado de "How Big Things Get Done" de Bent Flyvbjerg. 

segunda-feira, março 20, 2023

Alteração de contexto

Hoje no JdN sublinhei:
"Há regras que são simples como: para haver retorno tem que haver risco e, quem promete o contrário, dizendo que não está a correr risco, está a enganar alguém e, no fim, alguém vai pagar a conta."

Recordei logo este esquema de 2008:

Entretanto, também hoje no Twitter fixei:

Isto num país endividado com empresas endividadas é um grande modificador do contexto (já não é o tempo desta política?).

Quantas empresas estão a rever a sua estratégia para equacionar esta alteração de contexto?

Evitar o blame game

Ouvi uma conversa em que o auditor interno corporativo dizia que não auditava as auditorias internas das unidades de negócio, para impedir que as unidades de negócio entrassem num esforço de esconder a realidade, com medo das auditorias corporativas.

Dias depois, recordei algo que li em "Caixa Negra" de Matthew Syed algures em 2018:
"if pilots anticipate being blamed unfairly, they will not make the reports on their own mistakes and near misses, thus suppressing the precious information that has driven aviation's remarkable safety record. This is why blame should never be apportioned for reasons of corporate or political expediency, but only ever after a proper investigation by experts with a ground-level understanding of the complexity in which professionals operate.
The jury did their best to make up their minds on the facts, but it is not easy while sitting in a staid courtroom to make a judgment about split-second decisions made in the cockpit of a 200-ton jumbo jet flying through thick fog at nearly 200 mph.
But if the Oscar November incident shows anything, it is just how easy it is to engage in the blame game. A tragedy very nearly happened, therefore someone had to be punished. Aviation is generally an industry with an empowering attitude toward error, and is rightly considered a leader when it comes to having a just culture. It rarely engages in blame and uses mistakes to drive learning.
...
But what the Oscar November incident reveals is that even a pioneering industry like aviation is not completely immune from the blame tendency. And perhaps it exposes, more than anything, just how far we need to travel to eradicate the blame instinct once and for all."

domingo, março 19, 2023

Uma estória sobre um banco

Ontem, durante as compras da manhã emergiu na minha mente, já não me recordo porquê, a palavra temperança.

Sempre que penso nessa palavra recordo uma estória que li em 2013:

"Sonny, we’ve been in business for 85 years. What makes you think we won’t be in business another 85?"

Usar a maximização, quando se trata de negócios, é demasiado perigoso, demasiado arriscado.

A estória de 2013 é sobre um banco...

sábado, março 18, 2023

Zombies, produtividade e subsídios

Em "How not to grow the economy" li uma espécie de resumo do que tenho escrito por aqui ao longo dos anos:

"But there is a deeper problem with Labour's and the Tories' approach to the productivity slump. While both parties have bought into the new economic consensus - that is, the belief that low business investment is at the root of lacklustre growth - they also share the belief that businesses need more state financial support. In today's circumstances, though, this would act to entrench the low-growth quagmire.

...

But there is a big problem here: state financial aid to business is self-defeating. [Moi ici: A lição de Spender] It hinders the innovation it is meant to promote. State handouts encourage corporate dependency and reduce the pressure on businesses to become more productive and commercially competitive. They often blunt the incentive for producers to experiment with and develop even better technologies. Businesses often end up concentrating on meeting various government criteria and conditions, rather than focussing on what might be best commercially.  [Moi ici: Recordo A economia das carpetes e biombos e O nefasto poder aditivo dos subsídios

...

Not all state-investment measures come with such onerous conditions. But state subsidies are never a free lunch. They are usually prescriptive and they often intrude on normal commercial practices. Whatever their intentions, state incentives often distort business-investment activities.

The contemporary problem for growth has not been too little but too much state support. Sustaining the business status quo with an abundance of subsidies doesn't just distort corporate focus and decision-making. It also helps sustain a zombie economy, by keeping inefficient and even unprofitable businesses afloat. [Moi ici: Recordar Para que servem os apoios e subsídios? e A morte lenta]

...

Zombie firms are those that, without extra support, such as cheap and easy debt facilities or state financial relief, would normally close down due to poor performance. Since the 1980s, this zombification trend has congested the wider economy. It blocks the creative-destructive process by which economies have moved ahead in the past, with lower-productivity, less-efficient businesses giving way to expanding, higher-productivity businesses.

Today, business investment is being held back by a surfeit of the old. Peter Drucker, one of the most influential 20th-century business thinkers, argued that the first step in innovation is to get rid of yesterday. 'If leaders are unable to slough off yesterday', he said, 'they simply will not be able to create tomorrow. [Moi ici: Recordar deixem as empresas evoluir ou morrer, ponto!!!] Drucker argued that dying products, services or processes - even if still profitable today shackle people and resources. This applies not just for individual businesses, but also for the economy in general. An excess of low-productivity firms gums up the whole economy, disincentivising even the healthiest businesses from investing in new advancements.

...

Instead of letting the old go, a profusion of state policies now sustains what already exists. These policies - monetary, fiscal and regulatory - tend to favour larger, incumbent companies at the expense of smaller, younger firms. And it is those smaller, younger firms that would usually be the ones innovating and driving productivity higher. [Moi ici: Recordar Maliranta em Deixar a produtividade aumentar]

...

But perhaps the biggest obstacle is the state's mummification of an already moribund economy. Fortunately, this is probably the easiest one for a government to overcome. It can turn off the corporate-welfare mechanisms that preserve and stultify. And it can start doing so right now."

sexta-feira, março 17, 2023

Some Countries Do 'Ave 'Em

Na quarta-feira ao final do dia li "A economia, as políticas e os negócios" de onde sublinhei:

"Quem quer investir num país assim?

Bom dia, o Governo tem um discurso cada vez mais agressivo contra as empresas, especialmente as maiores e que têm lucros. É trágico. 

...

À medida que as condições económicas e sociais apertam, ou quando o Governo está sob pressão mediática por um qualquer caso, ao fim de sete anos de governação, já se pode identificar um padrão. Em Portugal, é preferível ter uma empresa pequena, e com prejuízos [Moi ici: Subsidize it]. As grandes empresas, com lucros, estão permanentemente em risco, mesmo quando esses lucros são 'vistosos' em termos absolutos mas limitados quando avaliados em função do capital investido (verdadeiramente, o critério que é relevante). 

...

António Costa até pode beneficiar no curto prazo deste discurso contra as empresas, contra os bancos, contra as companhias de energia, de telecomunicações ou da distribuição. Num momento em que os portugueses perdem rendimento disponível, e quando o desemprego começa a dar sinais de agravamento, são um alvo fácil. É a tal habilidade política que todos lhe reconhecem. Mas é ao mesmo tempo a nossa perdição. Quem quer investir num país assim?"


 Agora comparemos com Inglaterra em "How not to grow the economy":

"Despite the many legitimate criticisms of the short-lived Liz Truss administration, it did leave one exceptional legacy. It put the question of economic growth, and the importance of raising productivity, back on the mainstream political agenda.

...

It took an extraordinary triple whammy - the pandemic lockdowns, the postlockdown disruptions to global supply chains, and the war in Ukraine - to finally force the British political class, in the shape of the Truss administration, to acknowledge the dire state of the economy. It put the need for growth back on the agenda."

Este último artigo merece um comentário mais longo. 

quinta-feira, março 16, 2023

Um organismo unido, focado e determinado

Na segunda-feira de manhã cedo ouvi o zunzum sobre o que se passou com o navio de patrulha Mondego.

Ontem de manhã, durante a minha caminhada matinal continuei a leitura de "How Big Things Get Done" de Bent Flyvbjerg. Comecei e acabei a leitura do capítulo 8 - “A SINGLE, DETERMINED ORGANISM”.

O capítulo fala sobre a importância de ter uma equipa coesa na implementação de um projecto e sobre como criar essa coesão. O livro usa o exemplo da construção do Terminal 5 (T5) de Heathrow sob a responsabilidade da British Airports Authority (BAA).

Os subtítulos apresentados no caso são:

  • A DEADLINE SET IN STONE
  • HOW TO BUILD A TEAM
  • MAKING HISTORY
  • 4:00 A. M.
Em Making History pode ler-se:
"Identity was the first step. Purpose was the second. It had to matter that you worked for T5. To that end, the worksite was plastered with posters and other promotions comparing T5 with great projects of the past: the partially completed Eiffel Tower in Paris; Grand Central Terminal under construction in New York; the massive Thames Barrier flood controls in London. Each appeared on posters with the caption "We're making history, too."
...

I grew up in construction and know from firsthand experience that construction workers are sharp as knives at understanding what's happening on their worksites. Moreover, they have a well-founded skepticism of management. They know corporate propaganda when they see it, and they distrust it. "Most guys turn up with cynicism on any site we go to," Richard Harper said. They are usually right to be cynical "because it's all bollocks what the people [management] are saying." Promises aren't kept. Work conditions are poor. Workers aren't listened to. When reality doesn't match the words, corporate PR about teamwork and making history is worse than useless on the shop floor.
The workers brought their usual cynicism to T5, Harper said. "But with that site, within, if not fortyeight hours, a week maximum, everybody had bought into the philosophy of T5. Because they could see T5 was implementing what they said they would do." It started with the on-site facilities. "It was just something mind-boggling," Harper told me, sounding amazed even now. "The guys had never seen this. The toilets, the showers, the canteens were the best I've ever seen on any site I've worked on in the world They were fantastic."
...
Harper said. "If guys had wet gloves, they only had to take them back to the store and they got a fresh pair of gloves. If they had a scratch on the glasses and couldn't see properly, they'd take the glasses back, and they were changed. Guys weren't used to this. This was totally new to them. On other jobs, they told you, 'If you're not happy with the glasses or whatever, buy your own.' " These may sound like small things to outsiders, but as Harper pointed out, for workers they are "massive, just massive. You set a man to work in the morning and you've put the things there that he wants, then you get a good day's work. You start them off in a bad way, and you know the next eight to ten hours, it's going to be very difficult." Multiply that by thousands of workers and thousands of days, and you do indeed get something massive.
T5's managers not only listened to workers, they consulted them, asking some to sit down with designers to explore how designs and workflows could be improved."

Cheguei ao fim do capítulo, desliguei o tablet e voltei ao Mondego ...

"Os militares denunciam "a entrada de água em dois momentos diferentes, falta de manutenção do único dos dois motores que equipam a embarcação, um dos três geradores de energia inoperacionais e diversas fugas de óleo", entre outros problemas."

E pensei, que excelente forma de criar um “A SINGLE, DETERMINED ORGANISM”. 

BTW, nunca esqueço:

quarta-feira, março 15, 2023

Foi você que falou em certificação dos clientes?

Nestes tempos em que se fala tanto de qualidade, de satisfação dos clientes, de certificação, de clientes mistério, de ... 

"Americans are encountering more problems with companies' products and services than ever before, and a higher proportion of them are actively seeking "revenge" for their troubles, a new study has found.

Some 74% of the 1,000 consumers surveyed said they had experienced a product or service problem in the past year. That is up from 66% in 2020, when the study last was conducted, and 56% in 2017. Only 32% told researchers they had experienced a problem in 1976, when a similar version of the study was first conducted.

The percentage of consumers who have taken action to settle a score against a company through measures such as pestering or public shaming in person or online, has tripled to 9% from 3% in 2020, according to the study. That reversed a downward trend with regards to revenge-seeking behavior: The average percentage of customers seeking revenge between 2003 and 2017 was 17%."(1)

"Effective support for years has been looked upon as a consumer right, however, and some customer experience executives say stratifying it into tiers runs the risk of eroding trust among those who can't or don't want to pay." (2)

(1) - As Customer Problems Hit a Record High, More People Seek 'Revenge 

(2) - Want Better Customer Service? Join the (Membership) Club

terça-feira, março 14, 2023

Espirais

"Perhaps most important, management started celebrating progress against inchstones and milestones. The spiral of negativity was replaced by an updraft of accomplishment that everyone could feel. The whole turnaround process took ninety very intense days and nights."

Ter um plano detalhado, querer cumpri-lo a sério.

Trecho retirado de  "How Big Things Get Done" de Bent Flyvbjerg. 

segunda-feira, março 13, 2023

Falta de trabalhadores, baixos salários, mas as empresas não podem fechar

Uma pergunta, uma dúvida que me assalta várias vezes: qual o papel do líder de uma associação empresarial?

Deve o líder de uma associação pensar no futuro do sector, ou no futuro dos membros do sector? Não é a mesma coisa. O futuro não se constrói sem destruição criativa. Daí a opção pela defesa do passado em detrimento do abraço ao futuro.

Já por várias vezes li, ou ouvi, a secretária-geral da AHRESP a queixar-se da falta de trabalhadores para o sector. Ainda em Dezembro passado li:

"Antes da pandemia falávamos numa necessidade de 40 mil, mas com a pandemia esse número agravou-se. O próprio Governo falou na necessidade de cerca de 50 mil postos de trabalho e não foi resolvido. Não foi feito nada para resolver este problema."

Entretanto, no Expresso do passado Sábado li "Por dia, 14 restaurantes estão a fechar portas":

""São números que nos preocupam e que nos levam a reforçar a necessidade de serem criados mecanismos de apoio às empresas que não passem só pelas linhas de crédito. Insistimos na aplicação temporária da taxa reduzida de IVA nos serviços de alimentação e bebidas", defende Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP."

Às segundas, terças e quartas protestamos contra os baixos salários e horrorizamos-nos com a baixa produtividade portuguesa. Às quintas, sextas e Sábados pedimos apoios ao governo de turno para salvar as empresas que praticam baixos salários e empurram a produtividade do país para baixo.

Entretanto, no ECO leio, "Há cada vez mais restaurantes a pedirem gorjeta aos clientes. "E um 'forcing' para que continue esse incentivo"":

"A medida começou a ser implementada em agosto do ano passado, tendo como objetivo "melhoria das condições" dos colaboradores, já que as gorjetas "sempre tiveram um grande peso na composição do rendimento total dos colaboradores", e de modo a permitir uma distribuição 'mais justa e transparente" das mesmas, justifica o responsável.

...

os comerciantes fazem isto no sentido de dar um forcing para que continue esse incentivo de gorjetas. No fundo, para colmatar os baixos salários que pagam na restauração"

Recordo o meu velho grito: Deixem as empresas morrer

domingo, março 12, 2023

Estratégia e noção

Há artigos de jornal que me deixam abananado.

Quinta-feira passada recomendaram-me "Temos um nível de poder baixíssimo sobre os clientes da indústria automóvel" que começa assim:
"Nos últimos cinco anos houve um "pequeno movimento de concentração" na indústria dos moldes, aproveitando uma altura em que várias empresas estão em transição geracional, mas Nuno Silva sublinha que essa consolidação tem ainda de ser acelerada para o setor conseguir equilibrar os argumentos negociais com os grandes clientes, sobretudo no ramo automóvel que assegura 80% das encomendas."

Trabalhar um produto de baixo valor acrescentado, feito por encomenda num mercado com muita oferta e querer ter poder negocial? Come on!

O que aprendi sobre moldes em 2017 - Temos ainda muito trabalho por fazer.

O que recomendo às empresas há muito tempo:

Ainda no mesmo artigo, quer-se subir na escala de valor, mas quer-se dinheiro barato emprestado para adiantar as encomendas, não para investir, ou seja o clássico de Spender que citei em 2015 em Apesar das boas intenções:
"The funds flowed selectively into the least viable part of the industry, preventing change, and subsidized competition".

Arrisco dizer que muitos apoios não são para criar o futuro, mas para baixar custos de produção... recordar Uma espécie de esquema Ponzi 

sábado, março 11, 2023

black swan management"

Bent Flyvbjerg no livro "How Big Things Get Done" refere que por vezes os projectos saem furados não por causa da execução, mas por causa das previsões irrealistas com que foram baseados:

“When delivery fails, efforts to figure out why tend to focus exclusively on delivery. That’s understandable, but it’s a mistake, because the root cause of why delivery fails often lies outside delivery, in forecasting, years before delivery was even begun.”

Uma das formas de evitar estas previsões irrealistas passa por usar informação de projectos anteriores (o título do capítulo é "SO YOU THINK YOUR PROJECT IS UNIQUE?" e o subtítulo é "Think again. Understanding that your project is "one of those" is key to getting your forecasts right and managing your risks.""

Muitos projectos seguem uma distribuição normal.

"But even with a project as simple as a kitchen renovation, the number of possible surprises, each unlikely, is long. Many small probabilities added together equal a large probability that at least some of those nasty surprises will actually come to pass. Your forecast did not account for that."

No entanto, os projectos grandes podem seguir um outro tipo de distribuição:

"There is, however, a big, fat-tailed caveat on all this. Imagine you have a graph with the costs of one thousand kitchen renovations that takes the shape of a classic bell curve—with most projects clustered around the mean in the middle, very few projects on the far right or far left, and even the most extreme data points not far removed from the mean.

...

But as noted in chapter 1, my analysis revealed that only a minority of the many project types in my database are “normally” distributed. The rest—from the Olympic Games to IT projects to nuclear power plants and big dams—have more extreme outcomes in the tails of their distributions. With these fat-tailed distributions, the mean is not representative of the distribution and therefore is not a good estimator for forecasts. For the most fat-tailed distributions, there isn’t even a stable mean that you can expect outcomes to cluster around because an even more extreme outcome can (and will) come along and push the mean further out, into the tail toward infinity. So instead of good old regression to the mean, you get what I call “regression to the tail.” In that situation, relying on the mean and assuming that your result will be close to it is a dangerous mistake.

...

If you face a fat-tailed distribution, shift your mindset from forecasting a single outcome (“The project will cost X”) to forecasting risk (“The project is X percent likely to cost more than Y”), using the full range of the distribution.

...

Contingencies might have to be 300, 400, or 500 percent over the average cost—or 700 percent, as we saw for the Montreal Olympics. That’s prohibitive. Providing such contingencies would not be budgeting; it would be blowing up the budget. So what can you do about the tail? Cut it off. You can do that with risk mitigation. I call it "black swan management".

...

Some tails are simple to cut. Tsunamis are fat-tailed, but if you build well inland or erect a high enough seawall, you eliminate the threat. Earthquakes are also fat-tailed, but build to an earthquake-proof standard, as we did with the schools in Nepal, and you are covered. Other tails require a combination of measures; for a pandemic, for instance, a blend of masks, tests, vaccines, quarantines, and lockdowns to prevent infections from running wild. That’s black swan management.

...

The critical next step is to stop thinking of black swans the way most people do. They are not bolt-from-the-blue freak accidents that are impossible to understand or prevent. They can be studied. And mitigated."

Um exemplo da mitigação apresentado é: construção de uma linha ferroviária em Inglaterra. Qual o motivo mais comum para paragem de uma obra? Achados arqueológicos! Mitigação: Contratar arqueólogos para estarem de prevenção para intervirem e reduzirem tempo de paragem.

sexta-feira, março 10, 2023

"É só fazer as contas!"

Do JdN do passado dia 8 de Março, no artigo "Produtividade subiu 4,6%. Ganhos são estruturais?", retiro e sublinho o seguinte número:

"Segundo dados do INE ao Negócios, que recuam a 1995, no ano passado cada trabalhador português produziu 41,6 mil euros. Ou seja, a produtividade aparente do trabalho, o indicador mais utilizado e que, basicamente, divide a riqueza nacional (o PIB real) por número de trabalhadores"

No mesmo artigo ainda se lembra:

"Ainda assim, a produtividade portuguesa mantém-se abaixo da média (104,1 contra 107,9, no indice calculado pelo Eurostat)."

Depois, o mesmo JdN, mas de 9 de Março, dedica uma página a uma empresa tecnológica portuguesa, como se fosse a última Coca-Cola no meio do deserto, que facturou 5 milhões de euros em 2022 com 140 trabalhadores. Como diria uma certa personagem, "É só fazer as contas!" facturou quase 36 mil euros por trabalhador.  Estranho!!!

Fui confirmar, acabo de ler as contas de uma empresa de calçado com que trabalho que factura cerca de 57 mil euros por trabalhador ... (tem mais de 100 trabalhadores)

quinta-feira, março 09, 2023

"Moi ici: E o cidadão lê e rejubila com o pulo"

Aqui no blogue não nos queremos enganar a nós próprios. Por isso, nunca usamos 2020 como referencial para comparação económica. E mesmo 2021 é enganador porque o primeiro trimestre foi afectado pelos lockdowns. Por exemplo, quando tratamos aqui os dados das exportações usamos 2019 como referencial. Por exemplo aqui:

Assim, soa a estranho e a manhosidade perceber a capa do JdN de ontem:
Depois, no texto do artigo:
"Depois de dois anos de pandemia de covid-19, a produtividade aparente do trabalho aumentou 4,6% em 2022 e atingiu o valor mais alto da série do INE.
...
Ou seja, a produtividade aparente do trabalho, o indicador mais utilizado e que, basicamente, divide a riqueza nacional (o PIB real) por número de trabalhadores, aumentou 4,6% face ao ano anterior. De acordo com a série do gabinete de estatística, não só este foi o crescimento mais elevado em 27 anos, como é o valor de produtividade mais alto da série. [Moi ici: E o cidadão lê e rejubila com o pulo]
...
[Moi ici: E depois, a surpresa ...] Por isso, João Cerejeira, professor de Economia da Universidade do Minho, prefere comparar o crescimento da produtividade em 2022 com 2019. Nesse caso, houve um aumento de 1,1%. "Ou seja, em três anos houve un crescimento entre 0,3 e 0,4% por ano. Não é assim tão expressivo", frisa. Aliás, a subida da produtividade face ao pré-pandemia fica em linha com a média histórica (1%). [Moi ici: Extraordinário... na capa do jornal ainda se interrogam se será estrutural... querem fazer de nós parvos?! ]"
Quantos dos 15 preparam as capas dos jornais?


quarta-feira, março 08, 2023

"awarding contracts to domestic companies is a good way to make influential friends and win public support"

"O ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, defendeu que o concurso deve ter “repercussão na indústria e no povo português”.

Queremos produção e fabrico em Portugal. Quem quiser cumprir as regras do caderno de encargos, será bem-vindo. E quem quiser produzir aqui, terá condições para criar não só para Portugal como para outras zonas do mundo”, disse o ministro em dezembro na cerimónia de lançamento do concurso.

Pedro Nuno Santos disse ainda que “este concurso é um impulsionador para que Portugal venha a fazer parte do clube dos fabricantes de comboios na Europa."

Lembrei-me destas cenas e de muitas outras em que se apela aos "campeões nacionais":

por causa destes trechos de "How Big Things Get Done" de Bent Flyvbjerg:
"MARGINALIZING EXPERIENCE
...
Politicians everywhere know that awarding contracts to domestic companies is a good way to make influential friends and win public support with promises of jobs, even if the domestic company will not perform as well as its foreign competitor because it is less experienced. When this happens -and it happens routinely -those responsible put other interests ahead of achieving the project's goal. At a minimum, such an approach is economically dubious, and sometimes it is ethically dodgy, too, or downright dangerous. And elected officials are far from alone in doing this. Big projects involve big money and big self-interest. And since "who gets what" is the core of politics, there is politics in every big project, whether public or private.
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A Canadian example is arguably even more egregious. When the Canadian government decided it wanted to buy two icebreakers, it didn't buy them from manufacturers in other countries that were more experienced with building icebreakers, deciding instead to give the contracts to Canadian companies. That's national politics. But rather than give the contracts to one company so that it could build one ship, learn from the experience, and deliver the second ship more efficiently, it gave one contract to one company and the other to another company. Splitting the contract "will not lead to these natural learning improvements," noted a report by the parliamentary budget officer, Yves Giroux - a report that found that the estimated cost of the icebreakers had soared from $2.6 billion (Canadian) to $7.25 billion. So why do it? One company is in a politically important region in Quebec, the other in a politically important region in British Columbia. Splitting the contracts meant twice the political payoff -at the cost of experience and billions of dollars."