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domingo, março 19, 2023

Uma estória sobre um banco

Ontem, durante as compras da manhã emergiu na minha mente, já não me recordo porquê, a palavra temperança.

Sempre que penso nessa palavra recordo uma estória que li em 2013:

"Sonny, we’ve been in business for 85 years. What makes you think we won’t be in business another 85?"

Usar a maximização, quando se trata de negócios, é demasiado perigoso, demasiado arriscado.

A estória de 2013 é sobre um banco...

sábado, agosto 06, 2022

Hoje é dia de flagelar o país, amanhã será dia de pedir as condições para gerar o que leva à flagelação

 

"Mas, afinal, o que explica níveis de produtividade tão baixos? Em primeiro lugar, diria que o inadequado investimento nos recursos humanos para os tornar capazes de pensarem permanentemente na melhoria contínua dos processos de trabalho, tema absolutamente fundamental para aumentar a eficiência e produtividade das nossas pessoas e organizações. Não só é insuficiente a aposta na formação, através de técnicas de upskilling e reskilling, mas também a falta de estratégias de benefícios indexados à produtividade (colaboradores felizes estão tendencialmente mais alinhados com os objetivos gerais da empresa). 
...
Por outro lado, a produtividade pode ser melhorada, em boa parte, pela capacidade de atrair novas gerações com novas qualificações e competências, e nesse aspeto temos ainda um longo caminho a percorrer, já que o crescente número de jovens qualificados não se reflete em absorção por parte das empresas e, não com pouca frequência, assistimos à alocação destes ativos a sectores onde são menos necessários ou, ainda mais preocupante, em funções que ficam aquém das suas qualificações.
Não restam dúvidas de que a produtividade é sinónimo de empresas mais saudáveis e mais competitivas, mas também é certo que este é um problema estrutural: compete a cada empresa, individualmente, desenvolver estratégias para o alterar. mas são também necessárias políticas comuns que nos permitam, enquanto país, acelerar a nossa competitividade internacional. Afinal, temos as ferramentas necessárias, falta-nos apenas colocar mãos à obra."

Estes trechos foram retirados de "Produtividade procura-se" publicado no caderno de Economia do semanário Expresso do passado dia 5 de Agosto. Num trecho que não citei acima, o autor recorda o estudo da Fundação José Neves onde se conclui que a produtividade portuguesa é apenas 66% da produtividade média da União Europeia. Pensem nisto, imaginem este desafio: o que se precisa é de um salto para passar de 66 para 100%. Como o fazer? 

Os meus dois primeiros sublinhados ilustram o que está na cabeça da maioria das pessoas, mais formação, mais qualificação "et voilá". Nope, mais formação e mais qualificação podem-nos ajudar a passar de 66 para 68 ou 69, não mais do que isso. Melhorar a produtividade à custa da eficiência tem um limite muito concreto, o limite da margem que se consegue extrair de um produto ou serviço, e esse limite é ditado pelo preço. Se um par de sapatos se vende, à saída da fábrica, por 38€ há um limite ao valor gerado pela quantidade e esse preço (BTW, se a quantidade aumentar muito, das duas uma, o preço baixa por pressão dos clientes, ou a produção é deslocalizada para outras paragens).

O terceiro sublinhado é importante. Importante, porque raras vezes o vejo escrito e proclamado "compete a cada empresa, individualmente, desenvolver estratégias para o alterar". Nesta cultura socialista em que nos movemos as empresas pertencem ao povo e ao seu braço armado, o poder político que já nos faliu 3,5 vezes e nem gerir hospitais sabe. É uma grande verdade, mas é mesmo! Por isso, o meu grito permanente: DEIXEM AS EMPRESAS MORRER!!!

Há muitos anos, talvez Agosto de 2007 ou 2008, podia procurar aqui no blogue, mas não o vou fazer, li um livro que me transmitiu uma ideia: A economia é a continuação da biologia por outros meios. Se não deixamos as empresas morrerem. Empresas lideradas por humanos, entidades que não buscam a maximização, mas que são "satisficers" a produtividade vai-se manter mais ou menos a este nível ou baixar em relação a outros se os outros correrem mais depressa. Se as empresas não morrem, não há selecção natural a funcionar ...

O quarto sublinhado é tinto de alguma ironia, há uma política comum, enquanto país, capaz de acelerar a nossa produtividade (BTW, reparem como o autor usa indistintamente as palavras produtividade e competitividade. Quem segue este blogue sabe que podem ser duas coisas comuns, mas que são quase sempre duas coisas distintas). Essa política comum é: DEIXEM AS EMPRESAS MORRER!!!

Quando às segundas, quartas e sextas, lemos nos jornais e vemos nas televisões pedidos para importação de mão-de-obra barata do Bangladesh ou de Cabo Verde, estamos ver pedido de políticas comuns capazes de manterem as empresas sem a necessidade de aumentarem a sua produtividade. Depois, não se admirem se hás terças, quintas e sábados, aparecem os artigos como o aqui citado a flagelar o país por falta de produtividade.

Pela milésima vez vou citar Maliranta e a experiência finlandesa:

""It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled."Mas, e como isto é profundo:"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants." Por favor voltar a trás e reler esta última afirmação."


terça-feira, outubro 30, 2018

O fim do satisficing

"The new habits of today’s shoppers also cater to the high expectations people have today about the value of the products and services they purchase. Today’s consumers — particularly younger ones — are abandoning the deeply entrenched practice of “satisficing.” That was economist Herbert Simon’s term for shoppers’ tendency to settle for “good enough,” because physical access and insufficient information made it impossible to find the “absolute best.” No more; the new goal is maximizing rather than satisficing. These days, the absolute best often seems within reach."
Interessante este sublinhado.

A ser verdade é mais um sintoma de Mongo... o fim do satisficing está em sintonia com o tal "tu não és do meu sangue"


Trecho retirado de "Competing for Shoppers’ Habits"

quinta-feira, maio 11, 2017

Gelo fino (parte II)

Parte I.

Julgo que a parte I está completamente relacionada com este postal de Seth Godin:
"A sailboat without a sail might float.
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For a long time, in fact.
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But without a sail, it can't go anywhere, can't fulfill its function.
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Floating is insufficient." 
E já agora com o satisficing.

No fundo, o que fazem praticamente todos os governos, com a excepção do alemão e pouco mais, em vez de ir à raiz, chutam a lata para mais à frente, empurram com a barriga, "gerem a dívida" e quem vier atrás que se amanhe.

quarta-feira, maio 10, 2017

"driver of productivity differences" (parte II)

Parte I.

Há tempos ao pesquisar algo aqui no blogue cheguei a este postal "estado, estado, estado,...".

A matéria desse postal é reduzida a quase nada quando se pega num país, quando se escolhe um mesmo sector da economia, CAE, e se aprecia o panorama de variabilidade no desempenho das empresas, apesar do Estado, das leis, dos trabalhadores, serem os mesmos.

Aqui no blogue gosto de chamar a atenção para a importância da idiossincrasia no desempenho das empresas:

Por isso, recomendo a leitura de "Good Managers, Not Machines, Drive Productivity Growth":
"When people discuss what drives long-run productivity, they usually focus on technical change. But productivity is about more than robots, new drugs and self-driving vehicles.
...
a huge number of statistical analyses and case studies of the impact of new technologies on firm performance have shown that there is a massive variation in its impact. What’s much more important than the amount spent on fancy tech is the way managerial practices are used in the firms that implement the changes.
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look at the management scores across countries. They are highly correlated with GDP per capita. In fact, almost a third of the cross-country gaps in productivity are explained by management practices.
...
the economic environment is not destiny. Organizations can heal themselves. Firms need to be honest with themselves – many simply do not realize that there is much room for improvement. They need to benchmark themselves rigorously and seek out ways to change, even if this involves external advice."
 Qual é a mensagem do mainstream dos governos, dos políticos, dos media, das associações patronais?

Coitadinhos dos empresários, têm de ser ajudados, têm de ser apoiados, ... olha aqui está o Vosso Salvador: o governo de turno!

A propósito daquele "They need to benchmark themselves rigorously" recordar "Satisficing"

sexta-feira, dezembro 09, 2016

Um anónimo da província fica todo inchado

Um anónimo da província fica todo inchado quando lê coisas destas:

Por um lado, podemos ver a coisa pelo lado irónico e, abalar a posição dos que culpam o euro de tudo com: Pena os Estados Unidos terem aderido ao euro.

Espero comentar com mais tempo e profundidade aqueles artigos. No entanto, a minha explicação está aqui escrita desde Setembro de 2011 em "A bad economy can provide good opportunities for businesses". Um cheirinho aqui:
"As PMEs portuguesas, sem capital suficiente para se deslocalizarem e sem acesso ao sector dos bens não transaccionáveis, fizeram o que se faz quando se está desesperado, saltaram da "burning platform". Muitas não resistiram e foram definhando com mais ou menos rapidez, com mais ou menos estrondo. Contudo, algumas empresas fuçaram e fuçaram até que começaram a descobrir o seu espaço, o seu ecossistema, o seu nicho. A Grande Contracção de 2008-2009 é que escondeu essa revolução estrutural nas PMEs portuguesas que passa despercebida aos olhos do mainstream.
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O facto de uma empresa não se deslocalizar obriga-a a usar a sua herança como uma peça de um puzzle e a ir ao mercado testar e testar diferentes combinações de produtos, de clientes, de soluções até que a herança se case com algo de novo no exterior que resulta, que encaixa, que tem potencial para gerar capital. Depois, o spill-off acaba por contaminar outras empresas existentes e outras mentes,"
E as empresas americanas?
"Quando o contexto macro-económico muda e os modelos de negócio das empresas deixam de carburar como carburavam, as empresas têm de procurar alternativas.
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Quando há capital suficiente e não há paciência dos accionistas, o mais comum é manter o modelo de negócio e apostar na eficiência, apostar na redução dos custos... [Moi ici: Apostando na deslocalização para países de mão-de-obra barata onde é possível manter o modelo de negócio conhecido. Afinal, somos satisficers em vez de maximizers] esquecendo que muitas vezes não é o preço/custo que está mal, os clientes é que mudaram."
Fica todo inchado porque, muito antes destes académicos, já o anónimo tinha estudado a coisa e chegado a uma resposta empiricamente.

segunda-feira, agosto 29, 2016

O maior risco

Quando olhamos para os números do desemprego, desde 2013, verifica-se que o desemprego no sector secundário (Indústria) cai muito mais do que no sector terciário (Serviços).
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Recordar, por exemplo, deste postal "Evolução do desemprego e disparidades" esta tabela:
Julgo que esta tendência se insere na evolução detectada em 2008 (Março e Outubro) e que tenho salientado quer em Portugal, quer no estrangeiro, em postais com os marcadores: inshoring e reshoring.
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Há anos que escrevo sobre isto, sobre o pico da globalização naquele Verão olímpico de 2008 em Pequim. Não só por causa do aumento dos custos na Ásia mas também por causa do advento de Mongo.
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Agora,  em "Why China won’t own next-generation manufacturing" encontra-se mais material para este argumento:
"After three decades of dramatic growth, China’s manufacturing engine has largely stalled. With rising salaries, labor unrest, environmental devastation and intellectual property theft, China is no longer an attractive place for Western companies to move their manufacturing. Technology has also eliminated the labor cost advantage, so companies are looking for ways to bring their high-value manufacturing back to the United States and Europe."
O artigo refere toda uma série de tópicos que suportam a tese do título. Pena que o autor nem uma vez aborde o tema Mongo e as suas exigências de proximidade e interacção entre produção e utilizador. Mesmo que os investimentos referidos no texto resultem, serão basicamente para consumo de proximidade.


O maior risco, para a economia portuguesa, é o da satisficing. Os humanos não são maximizadores. Por isso, é fácil, imaginar muito empresário a abandonar a luta difícil, mais arriscada mas mais remuneradora, da subida na escala de valor, para aceitar o dinheiro mais fácil do low-cost. Claro que esta classificação de "o maior risco" é a de um outsider que não se atreve a criticar cada um dos empresários que optar por esta via, embora tenha pena.



quinta-feira, fevereiro 18, 2016

Correr atrás do prejuízo, não é português é humano

Interessante este exemplo prático da aversão à perda:
"When it comes to getting people to participate in workplace weight loss programs, financial rewards may not be much of an incentive. Penalties, on the other hand, work great.
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For three months, 281 employees at the University of Pennsylvania participated in a step challenge. The goal was to walk at least 7,000 steps a day. Researchers used different incentives: One group got $1.40 for each day they met the goal, while another got $42 up front each month, and lost $1.40 for each day they didn't finish. Also participating in the study, published Monday in the Annals of Internal Medicine, was a group that got to enter a lottery to win $1.40 each time the goal was reached, and a control group that got no money at all.
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Rewarding people with money, it turns out, didn't inspire more people to achieve their goal. About 30 percent of people who got no money performed their 7,000 steps, compared with about 35 percent of those with a potential reward, a statistically insignificant difference, according to lead researcher Dr. Mitesh S. Patel.
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The people who faced a penalty for failure, however, reached their goal 55 percent of the time."
A velha lição, nós humanos, somos satisficers não maximizers. Por isso, tantas vezes, só mudamos quando nos retiram da nossa zona de conforto. Por isso, só agimos a correr em resposta a um "prejuízo" em vez de actuar proactivamente.
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Trechos retirados de "Why Pay Employees to Exercise When You Can Threaten Them?".

quinta-feira, junho 18, 2015

Satisficing vs Constraints

"nature evolves away from constraints, not toward goals"
Como eu gosto desta citação.
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A Natureza, que não é humana, que não reflecte, acaba sempre por encontrar uma solução, não porque se direccione para metas mas porque foge das restrições e constrangimentos.
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Acredito que muitas PME actuam da mesma forma. Apesar da massa cinzenta que têm no seu interior, são muitas vezes prisioneiras da humana preferência pela  satisficiência, em vez da maximização racionalista (o que é bom, por causa da lição dos nabateus). Ou seja, o que está na base do sucesso das PME é, quase sempre, a fuga a uma restrição que as empurrou para fora da zona de conforto e, as obrigou a mudar.
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Matt Ridley em "Waterloo or railways" faz esta concatenação interessante:
"there is a tenuous connection between Napoleon and Stephenson. If Bonaparte’s conquests and the corn laws had not driven up the price of corn, then horse feed would have been cheaper and the coal owners who employed Stephenson would not have risked so much money in letting him build a machine to try to find a less expensive way to pull wagons of coals from the pithead in Killingworth to the staithes on the Tyne."

terça-feira, dezembro 09, 2014

Estratégia e o particular

Estratégia e o particular, o ser diferente, o ser único, mais do que ser o melhor:
"Against the idea that firms operate in competitively efficient environments there are strong intuitions that every firm has to be a “quasi-monopoly” and exploit the particularities of its products, processes, people, and engagements. No two firms can occupy exactly the same economic opportunity space.[Moi ici: O velho Gause e os seus protozoários]
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Strategic work is ultimately about specifics and so more about practice than the analysis of generalizations captured with language.
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Real strategic work is about finding a way through the thicket of principles and particulars, hoping for the wisdom of Solomon and resisting the cop-out of raising one principle over all other aspects—for human situations always mingle both.
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Academics tend to dismiss matrices, preferring rigorous deductions, proofs, and carefully defined generalities that suggest theories. [Moi ici: Este trecho faz-me lembrar muitas conversas no Twitter onde tenho de debater com crentes em leis económicas como se fossem leis newtonianas, gerais e automáticas, com econs em vez de humanos, com maximizers em vez de satisficers] They are less interested in synthetic statements because they apply to particulars. But strategists are always working with particulars and so have limited interest in theoretical statements."
Trechos retirados de "Business Strategy - Managing Uncertainty, Opportunity, and Enterprise" de  J.-C. Spender.

domingo, março 30, 2014

O Vietname da Europa

Um empresário é um ser humano.
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Por norma, um ser humano é um satisficer, não um maximizer. E, tendo em conta os princípios da Effectuation, não me custa acreditar que, desta vez, Daniel Bessa tem razão, "Sair do euro faz de Portugal o Vietname da Europa".

sábado, fevereiro 15, 2014

Somos satisficers não maximizers

Escreveu Camilo Lourenço no Jornal de Negócios da passada Quinta-feira em "O "desenrascanço" como ferramenta":
"Com o consumo estagnado, ou a crescer muito pouco, as empresas que viviam do mercado interno passaram a ter um problema. Muitas delas, percebendo que as coisas não irão mudar muito nos próximos anos (o endividamento provoca indigestão prolongada), foram à procura de soluções: viraram-se para o exterior.
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Mas qual foi o catalizador desse movimento? O "desenrascanco", típica ferramenta de gestão portuguesa (neste caso, a procura de um mercado de substituição)? Ou, como diz Pedro Reis, foi a aposta no exterior, porque ela traz mais valor? Estou convencido de que a primeira hipótese pesou mais do que a segunda: os empresários portugueses são uns "desenrascados". Se fosse a procura de mais valor, teriam ido para o mercado externo mais cedo, quando não havia crise.
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É paradoxal, dir-se-á: o que leva um gestor a centrar-se no mercado interno, que proporciona rentabilidades mais baixas, em detrimento do externo, onde tem margens mais elevadas? Muita coisa: falta de capitais próprios, tamanho das empresas, gestão deficiente, etc. Mas é provável que a principal razão seja outra: o conforto. O crescimento da despesa interna (por recurso a dívida) nos últimos 20 anos dava-lhes a tranquilidade de lucros moderados... mas seguros."
Não creio que seja algo de paradoxal, julgo mesmo que é algo muito humano.
"A maximizer is like a perfectionist, someone who needs to be assured that their every purchase or decision was the best that could be made. The way a maximizer knows for certain is to consider all the alternatives they can imagine. This creates a psychologically daunting task, which can become even more daunting as the number of options increases. The alternative to maximizing is to be a satisficer. A satisficer has criteria and standards, but a satisficer is not worried about the possibility that there might be something better." (daqui)
Daqui:
"Satisficing is a decision-making strategy or cognitive heuristic that entails searching through the available alternatives until an acceptability threshold is met. This is contrasted with optimal decision making, an approach that specifically attempts to find the best alternative available. The term satisficing, a portmanteau of satisfy and suffice, was introduced by Herbert A. Simon in 1956, although the concept "was first posited in Administrative Behavior, published in 1947." Simon used satisficing to explain the behavior of decision makers under circumstances in which an optimal solution cannot be determined. He pointed out that human beings lack the cognitive resources to optimize: We can rarely evaluate all outcomes with sufficient precision, usually do not know the relevant probabilities of outcomes, and possess only limited memory. Simon formulated the concept within a novel approach to rationality, which takes into account these limitations. He referred to this approach as bounded rationality."
 É o mesmo fenómeno que faz dos apoios keynesianos um veneno. O mundo muda e as empresas têm dificuldade em adaptar-se. Então, para ajudar durante a fase de transformação, os governos aparecem com subsídios e apoios associados à produção do tradicional. Esses apoios acabam por diminuir o interesse, ou a urgência, em procurar alternativas de mercado novas e... congela-se a transformação e instala-se a adição. Enquanto o governo tiver dinheiro para torrar, as empresas vão viver ligadas à máquina, felizes e despreocupadas.

sábado, junho 29, 2013

A lição dos nabateus

Descobri este texto "CRM – The Long View" há um bom par de meses e, volta e meia vem-me questionar. É uma espécie de lição dos nabateus, cuidado com a maximização.
"Our fearless leader began reciting this and that from a long list of exceptions that we found. Didn’t these people know anything about consumer compliance? Sheesh! As we moved on from these tedious topics the focust shifted to the financial stability of this 85 year old bank. This was in 1987 and things were still riding high in this part of the country. Yet, this bank was only generating like a 7-10% net profit – something like that. The examiner in charge had been apoplectic about this all week. “How could they stay in business when everyone else has got like 35% net profit margins?”
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The 80 year old President, Chairman, CEO, COO (whatever) struck a match, applied it to the end of his cigar and began puffing until it was just right. He puffed, and puffed and puffed one last time. He then leaned over and blew smoke right in the face of the examiner in charge and said…
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Sonny, we’ve been in business for 85 years. What makes you think we won’t be in business another 85?
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This was the first underpinning in my business foundation. This bank provided it’s community a service they valued. Yes, they knew their customers – and these people were conservative with their money. They just wanted it to grow with as little risk as possible. This bank delivered. The next underpinning came the following year as we, the government, began closing bank after bank and then the S&L crisis hit too. This little bank in Kinderhook? Still going, with that really horrible return of 7-10% year after year after year."

sexta-feira, junho 14, 2013

A lição dos nabateus

A propósito do que fazer com os resultados da construção da curva de Stobachoff da sua empresa:

O que fazer com os clientes não rentáveis?
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Cuidado com os esforços para rentabilizar esses clientes.
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E, relativamente ao clientes mais rentáveis, para reflexão "Maximum Profit Per Customer And The 80/20 Rule"
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Em vez de maximizar, talvez pensar em "satisficing"... outra vez a lição dos nabateus.

quinta-feira, julho 28, 2011

Austrian Economics e comentários à luz de Service-Dominant Logic

"Menger insists throughout his work that value is essentially subjective, and that therefore economics must be in the main a subjective science. Goods have no inherent value in themselves. They are valued because they help to satisfy some human want or need."
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Não, não é um texto sobre service-dominant logic.
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"in a given community the exchange value of a given increment of each good will be determined by the relation between its total available quantity and the intensity of the human need or want that it fills."
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"Thus while the classical Ricardian doctrine held that the "normal" value of consumption goods was determined by their "cost of production," the Austrian doctrine holds that the "cost of production" itself is ultimately determined by the value of consumption goods.
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These two doctrines can be partly reconciled in the statement that though what a good has cost to produce cannot directly determine its value, what it will cost to produce determines how much of it will continue to be made. It is the limit that cost of production puts upon the total quantity of a good produced that determines its marginal value and therefore its market price."
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Agora algo que a service-dominant logic já ultrapassou com a subordinação da troca à experiência durante o uso.
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"To return to Menger: His Principles of Economics next presents a "theory of exchange." In this he points out that men do not buy from or sell to or exchange with each other merely because of a "propensity of men to truck and barter," as implied by Adam Smith, but because each man seeks to maximize his satisfactions (Moi ici: maximize or satisfice?) by exchanging what he values less for what he values more. In this way the satisfaction of all is increased. Exchange is thus an integral part of the whole process of production. (Moi ici: E para lá da troca, não esquecer a experiência do valor durante o uso )  What is being produced is value. (Moi ici: Aqui também há contribuições importantes da service-dominant logic como ilustra esta figura sobre produção versus co-criação de valor) Menger's whole theory of price, to repeat, is developed on the basis of "the subjective character of value.""
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E, para terminar uma referência à treta da macroeconomia neo-clássica:
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"Now "general equilibrium" is defined by these economists (when it ever is) in highly abstract and obscure phrases; but for laymen it might be defined as a condition in which all the tens of thousands or millions of commodities and services are being turned out in the exact quantities and proportions in which they are relatively wanted by producers or consumers, so that there are no "shortages" or "surpluses." All prices reflect costs, and there is no more profit in making one commodity than any other. (In fact, there is no "pure" profit at all.) These economists admit that at any moment this condition does not exist, but they contend that there is a constant long-run tendency toward equilibrium, because when there is an unusual profit in turning out some one product, producers will turn out more of it, and when there is a loss in turning out some other product, producers will make less of it, or transfer to making something else.
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The concept itself is extremely nebulous. Neoclassical economists seem obsessed today with setting up complicated algebraic equations stipulating the conditions of equilibrium or functional relations under "perfect competition" and the like, but it is difficult to specify precisely what their x's and y's stand for. They cannot refer to physical quantities, because you cannot add apples to horses, or a ton of gold watches to a ton of sand. One might add or compare quantities times prices, but what would be the meaning of the total, or any of the parts that make it up? The price, even of one commodity, differs from hour to hour, place to place, and transaction to transaction. The value of the currency itself fluctuates and constantly changes its exchange ratio with commodities. If we simply add or compare "values," then we must recognize that values are purely subjective. They are impossible to measure or to total because they differ with each individual.

If we pass over these fundamental difficulties, where do we arrive? Even if we assume that there may be a persistent long-run tendency toward general equilibrium, we must admit that there is also a persistent short-run and long-run tendency toward the persistence of disequilibrium.

This is not only because there is a tendency of entrepreneurs, in increasing or reducing production in response to market and profit signals, to overshoot the mark, but because individual entrepreneurs, so far from making merely automatic responses, are constantly gaining new knowledge, alert to new opportunities, changing methods and reducing production costs, improving products, innovating — turning out entirely new products or inventions. And consumers too are constantly learning, changing tastes, and demanding new products to meet new wants. So Austrian economists seldom speak of market equilibrium, but of the market process."
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Trechos retirados de "Understanding "Austrian" Economics"
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BTW "For Love of Laissez-Faire"

sexta-feira, junho 17, 2011

É assim tão difícil perceber este fenómeno? (parte II)

Em comentário à parte I, o André escreveu:
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"Mas a descida da TSU é vista como um meio para conseguir esse objectivo, de criar incentivos para que o setor transacionável e de alto valor acrescentado se desenvolva. Agora é certo que a descida da TSU não basta (como pode não ser eficaz: http://psicolaranja.blogs.sapo.pt/969087.html#comentarios), mas infelizemente o mundo político nâo dispõe de muitas outras formas de incentivos."
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Caro André conhece a histório dos coelhos na Austrália?
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Os ingleses introduziram o coelho na Austrália.
Como não tinham predadores, cresceram exponencialmente.

Então, os ingleses resolveram introduzir o inimigo natural do coelho... a raposa, para que elas caçassem coelhos.
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As raposas, que não são burras, assim que se viram naquele novo habitat descobriram muitas presas autóctones muito mais fáceis de capturar que os coelhos. Assim, as raposas só marginalmente caçaram coelhos.
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Sou sempre a favor da redução dos impostos, sempre! Mas não gosto de ser enganado na justificação:

  • Se me vendem a redução da TSU para tornar as empresas que exportam mais competitivas não engulo. Tirando o caso das commodities, associadas a grandes empresas, o preço não é o order-winner das nossas exportadoras. Só conheci o paradoxo de Kaldor na semana passada.
  • Se me venderem a redução da TSU para facilitar a vida às empresas que vivem do mercado interno concordo, o grosso do emprego está aqui e estas empresas vão viver tempos terríveis, o aumento futuro do desemprego virá sobretudo daqui, e tudo o que for feito para lhes aliviar o nó na corda que vai asfixiando o pescoço das empresas será bem vindo.
  • Se me venderem a redução da TSU para capitalizar as empresas concordo.
Agora uma coisa lhe garanto caro André, a redução da TSU não vai criar incentivos para que o sector transaccionável e de alto valor acrescentado se desenvolva. E não vai porque as empresas são geridas por pessoas e as pessoas não são máquinas maximizadoras de benefícios (ainda ontem o Carlos Novais escrevia acerca do eficientismo). As pessoas não procuram maximizar a satisfação como máquinas, ou como formigas, As pessoas, e por isso, as empresas, procuram a satisfação suficiente a tal "satisficing".
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Tenho idade suficiente para recordar o tempo em que o escudo desvalorizava todos os meses, se falar com empresários de empresas exportadoras sobre esse tempo... quase que lhes conseguimos ver a rolar pela face lágrimas de saudade desse tempo. Os clientes pagavam a pronto em moeda estrangeira e eles pagavam grande parte dos custos mais tarde em moeda nacional que valia cada vez menos. Quantas empresas aproveitaram para mudar de modelo de negócio e subir na escala de valor? Muito poucas.
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Para mim é ao contrário, se as empresas, sem mexerem uma palha, vêem o seu rendimento aumentar por intervenção externa, não vão ter estímulo para mudar. Infelizmente, a maioria não muda por causa de relatórios e da reflexão, a maioria muda porque é obrigada a mudar, a maioria só muda quando o status quo se torna insuportável.
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Ainda ontem de manhã numa empresa, a recolher informação para um diagnóstico, ao ouvir as pessoas, na minha mente desenhava-se este arquétipo tão comum: os recursos são escassos, por isso há a tendência para os aplicar naquilo que traz resultados imediatos e alivia a "dor", no entanto, isso põe em causa o investimento fundamental para o médio-longo prazo que só dará gratificação muito mais tarde. E o problema vai-se agravando... silenciosamente. Quando eclode é quase sempre fatal.
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E porque é que o mundo político há-de dar incentivos?
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Lembra-se do bem intencionado: Espanha! Espanha! Espanha!
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Será que o mundo político sabe o que é que merece ser incentivado? Prefiro a tese de Hamel e Valikangas, diversidade é o melhor seguro contra o inesperado.
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Se a sociedade for suficientemente livre economicamente, quem não se auto-incentivar será substituído por novos players.