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sábado, março 22, 2025

Não devia ser um drama, quase que podia ser celebrado

Não devia ser um drama, quase que podia ser celebrado. A menos que seja resultado de uma evolução artificial de custos da mão de obra, não suportada por procura.

Drama mesmo é quando a chegada de algumas empresas é celebrada.

O caderno de Economia do semanário Expresso do passado dia 21 traz um artigo intitulado, "Yazaki Custo da mão de obra penaliza Portugal".

O artigo discute o despedimento de 364 trabalhadores da fábrica da Yazaki Saltano em Ovar, justificado pelo elevado custo da mão de obra em Portugal e pela crise do sector automóvel europeu. A empresa japonesa destaca a concorrência de países com custos mais baixos, como o Egipto, a Roménia, a Bulgária e a Tunísia, onde os salários são significativamente inferiores.

A Yazaki compara os custos salariais entre diferentes países e conclui que a produção no Egipto custa apenas 10% do custo de produção em Portugal. O artigo menciona ainda que a crise no sector automóvel já levou a outros encerramentos e despedimentos em Portugal:

"O custo da mão de obra "está a comprometer a sustentabilidade da produção em Portugal", afirma a Yazaki Saltano na mensagem que justifica o despedimento coletivo de 364 pessoas na sua fábrica de Ovar. 

...

o documento que fundamenta a decisão de despedir 364 dos 2100 trabalhadores da maior empresa de Ovar também refere a crescente "sensibilidade ao preço" das construtoras automóveis. E afirma que "o custo de produção em Portugal faz com que a YSE (Yazaki Saltano EMEA) não seja selecionada para os projetos a que se candidata por uma questão de preço".

E a empresa faz contas relativamente à perda de competitividade do país para concluir que "o mesmo projeto produzido no Egito representa somente 10% do custo de mão de obra de Portugal. Ou seja, um trabalhador em Ovar custa 9 vezes mais do que outro trabalhador no Egito. Portugal também fica a perder face à concorrência da Roménia (38% abaixo), Marrocos, com 27,57% do custo de Portugal, Bulgária (44,4%) ou Tunísia (21,57%), indica o documento a que o Expresso teve acesso. São diferenças "impossíveis de cobrir por via do aumento da produtividade", assume a administração, depois de comparar o salário bruto médio mensal nas suas fábricas nestes países e a respetiva evolução desde 2019. Em Ovar, o valor passou de €808 para €1303, enquanto a Roménia apresenta valores de €464 em 2019 e de €821 em 2025. Na Bulgária, o salário subiu de €361 para €583, em Marrocos saltou dos €284 para os €362, e na Tunísia aumentou dos €163 para os €284. No Egito, onde só há dados do atual exercício, o valor é de €136."

Sabem o que é andragogia?

Vou procurar demonstrar.

A notícia do despedimento colectivo de 364 trabalhadores na fábrica da Yazaki Saltano em Ovar gera previsíveis reacções de preocupação e pessimismo. Afinal, trata-se de um encerramento que afecta directamente centenas de famílias e um reflexo de uma perda de competitividade do país face a mercados onde os custos salariais são significativamente mais baixos. [Moi ici: Recordar a bússola da competitividade e como esta conversa é perigosa para o que realmente interessa, o aumento da produtividade] Contudo, num olhar mais amplo e menos imediatista, este tipo de eventos não deve ser encarado como um drama. Pelo contrário, fazem parte do mecanismo que impulsiona as economias para patamares mais elevados. No postal sobre a bússola da competitividade usei esta imagem:


Reparem que o caminho para "+ produtividade" tem um cemitério de empresas. Já o caminho da "+ competitividade" é o caminho do empobrecimento, das empresas zombies suportadas em subsídios pagos pelo estado com dinheiro dos contribuintes.

A Yazaki opera num sector onde o factor preço é determinante, e os seus clientes têm alternativas mais baratas.

Uma economia saudável e dinâmica não se constrói protegendo indefinidamente empregos de baixo valor acrescentado, mas sim permitindo que sectores mais antigos cedam espaço para novos sectores emergirem. Este é o motor que impulsiona o desenvolvimento económico: quando uma empresa já não consegue operar num determinado contexto, a resposta não deve ser o lamento, mas sim a criação de condições para que novas indústrias, mais produtivas e com maior capacidade de pagar melhores salários, ocupem o espaço deixado vago.

Isto remete para o modelo dos Flying Geese. Os países menos desenvolvidos começam por atrair indústrias intensivas em mão de obra, com baixos salários. Com o tempo, essas indústrias crescem, os salários aumentam, e a produção desses sectores migra para países mais baratos. O país de origem, em vez de colapsar, sobe na cadeia de valor, investindo em sectores mais sofisticados, com melhores salários e maior especialização.

Portugal tem de aceitar que não pode, nem deve, competir apenas pelo factor custo. Se quisermos manter empregos industriais, esses empregos terão de ser sustentados por inovação, automação e produção de bens de maior valor acrescentado. O drama da saída da Yazaki não é que uma empresa de componentes automóveis está a fechar postos de trabalho. O verdadeiro drama será se Portugal não estiver a criar novas oportunidades para absorver essa mão de obra em sectores de maior valor. Recordam-se de "não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas"?

Em vez de lamentarmos a saída de empresas que só conseguem competir com baixos salários, [Moi ici: E isto não é uma crítica, é um facto da vida. Como os produtores de sapatos de St. Louis, foi bom enquanto durou] devemos concentrar-nos em criar um ecossistema onde outras possam pagar melhor. Se a economia funcionar correctamente, no lugar da Yazaki surgirão empresas mais inovadoras, com produtos diferenciados e margens que permitam pagar salários mais elevados. É assim que se sobe na escala de valor, é assim que as sociedades prosperam.

Só que isto implica deixar as empresas morrer!


Nota: No artigo pode ler-se "São diferenças "impossíveis de cobrir por via do aumento da produtividade"" isto é sobre trabalhar o denominador porque o numerador está a diminuir. Recordar os números de Rosiello.

quinta-feira, março 06, 2025

A China e a receita Irlandesa


Mão amiga mandou-me uma cópia de um artigo que vai merecer mais do que um postal aqui no blogue, "China has embraced creative destruction, says Tom Orlik" publicado no número de Março de 2025 da Bloomberg Businessweek.

Primeiro, recordar estes números sobre algumas produtividades por hora em euros:
No artigo da Bloomberg Businessweek encontramos este gráfico eloquente:


O gráfico mostra a evolução da contribuição de dois sectores para o PIB da China: o sector imobiliário (linha preta, em queda) e o sector de alta tecnologia (linha vermelha, em crescimento). Prevê-se que, por volta de 2026, o sector de alta tecnologia ultrapasse o imobiliário em termos de contribuição para o PIB.

E de que é que falamos quando falamos em Teoria dos Flying Geese?

A Teoria dos Flying Geese descreve um padrão em que países seguem uma sequência de industrialização, movendo-se de sectores menos sofisticados para sectores mais avançados. O gráfico acima ilustra como a China está a migrar de uma economia baseada na construção civil, no betão tão querido dos nossos políticos, para uma economia mais tecnológica, seguindo os passos de países como o Japão e a Coreia do Sul.

A China já terceiriza parte da sua produção de baixo valor (como têxteis e manufactura simples) para alguns países do Sudeste Asiático, como o Vietname, Bangladesh e Indonésia. Enquanto isso, foca-se cada vez mais na produção de chips, inteligência artificial, eletrónica avançada e robótica, subindo na hierarquia global da inovação.

O gráfico acima ilustra a Teoria dos Flying Geese e também ilustra como se aumenta a sério a produtividade de um país.

O crescimento do sector de alta tecnologia implica maior produtividade, pois esse sector gera muito mais valor acrescentado por trabalhador e por unidade de capital investido. Enquanto a construção civil depende de grandes volumes de matéria-prima e mão de obra intensiva, o sector de tecnologia avança com inovação e eficiência. Isso reflecte uma mudança estrutural na economia chinesa, orientada para indústrias mais avançadas.

"O Japão não ficou rico a produzir vestuário de forma muito, muito eficiente. Taiwan não ficou rica a produzir rádios de bolso de forma muito, muito eficiente."

Qual o impacte da evolução do gráfico acima nos salários e nível de vida dos chineses? O sector de alta tecnologia paga salários mais elevados do que o sector imobiliário e a manufactura tradicional, pois exige trabalhadores mais qualificados. A crescente procura por engenheiros, programadores e cientistas de dados impulsiona os rendimentos dessas profissões.

Que melhor ilustração para a frase ""It's no longer about how you do it; it's about what you do.""? Que melhor ilustração para a diferença entre trabalhar o denominador (melhorar a eficiência) ou trabalhar o numerador da equação da produtividade:


Por que nos admiramos? É a mesma receita que a seguida pela Irlanda. Acham que a "DVD leadership team" tem voto na matéria?

Por cá temos um gráfico semelhante para o turismo, por exemplo. Acham que é um sector que contribui para o aumento da produtividade agregada do país? Acham mesmo? Mas atenção, as pessoas do turismo estão a fazer a sua parte, o problema são os ausentes, os mastins dos Baskerville.

Finalizo com uma citação de 2007:

"It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled."

Mas, e como isto é profundo:

"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants."


segunda-feira, agosto 19, 2024

Em Portugal, a conversa de café é a norma (parte I)

Em Portugal, a conversa de café é a norma. Discute-se, discute-se mas recorrer a números, quase ninguém o faz.

Vamos por partes, por que é que a produtividade de um país é importante?

A produtividade mede a riqueza criada. Quanto maior a produtividade mais rico é um país. Ou seja, quanto maior a produtividade mais os recursos utilizados, sempre escassos, geram mais riqueza. Esta riqueza pode ser canalizada para:
  • Suportar o investimento, fundamental para a inovação e crescimento económico, os custos do futuro, como escreveu Schumpeter.
  • Melhorar salários. Quando as empresas se queixam de falta de trabalhadores, o problema pode residir na incapacidade de gerar riqueza suficiente para oferecer salários atraentes. A solução passa por aumentar a produtividade, o que permitirá pagar melhor e atrair mão-de-obra qualificada.
  • Pagar mais impostos. Não necessariamente através de taxas mais elevadas, mas sim pela maior quantidade de riqueza gerada.  Este ponto é importante: os governos são como os vizinhos invejosos, querem dar aos seus cidadãos serviços e benesses que os outros governos já dão apesar da riqueza criada ser menor. Por isso, têm de aplicar taxas muito progressivas que acabam a inibir o crescimento económico.
É chocante olhar para os números da produtividade por hora trabalhada de Portugal e da Irlanda:
Quando comparamos a evolução da produtividade entre Portugal, a Irlanda e outros países temos:


Quando falamos de produtividade, referimo-nos à capacidade de maximizar a criação de valor com uma quantidade limitada de recursos, sejam eles tempo, dinheiro, mão-de-obra ou materiais. Assim, uma empresa produtiva não é apenas aquela que produz mais, mas sim aquela que consegue gerar mais valor a partir dos recursos disponíveis.
Como é que a produtividade de um país pode aumentar?

Tratando-se de um rácio, a produtividade pode ser aumentada de duas maneiras:
  • Aumentando o numerador - Aumentando o preço do que se produz.
  • Reduzindo o denominador - Aumentando a eficiência, reduzindo os custos.
Agora chega o ponto crítico: O Carlos consultor versus o Carlos cidadão.

A melhoria da produtividade das empresas existentes nunca será suficiente para que o país dê o salto, é preciso que outro tipo de empresas apareça, é preciso que a composição relativa dos sectores económicos se altere. Por exemplo:

As empresas mais produtivas nos sectores "Ind. têxteis, vestuário e calçado" não conseguem competir com uma empresa mediana no sector "Produtos farmacêuticos".

Como se altera a composição relativa dos sectores económicos? Vamos responder na parte II.




quarta-feira, julho 10, 2024

O foco certo

Na passada Segunda-feira publiquei este postal "Não é só por cá. (parte IV)" onde volto a apresentar as minhas ideias para uma agricultura com futuro, demonstrando a irrazoabilidade de querer bons resultados com a continuação da postura actual. A certa altura recordo um postal de 2010 acerca de um canadiano: façam como o canadiano (2021) recordem a agricultura com futuro (2010).  A mensagem é: Em vez de procurarem mercado para escoar os produtos, procurem mercados que valorizem algo que possam oferecer de forma distinta. Comecem pelo fim, comecem pelo outcome, não pelo output.

Ontem, no jornal The Times apanhei esta foto.

Com esta legenda: 

"Hot property Lee McKendrick, the Wasabi Company's farm manager, grows the plants, a staple of Japanese cuisine, in Dorset and Hampshire. The company sells its produce for £200 a kilo and also has to import from Japan to meet demand"

Agora, ao olhar para o verde desta foto recordo alguém que em tempos me contactou por causa da produção hidropónica de alface.

Olhemos para a equação da produtividade:

E para a foto da Herdmar:


O foco no denominador, na redução de custos, traz retornos marginais. O foco no numerador, no preço que conseguimos por m2, por kg, por dm3, por unidade, por minuto, por ... é o foco certo. Que produtos posso produzir com concorrência baixa e bom preço?

Depois, é começar a pensar no próximo ciclo enquanto o actual dá porque outros virão copiar e com custos mais baixos.

segunda-feira, julho 01, 2024

A primeira parte de Cavaco - prós e contras

O semanário Expresso do passado dia 28 inclui um texto do ex-presidente Cavaco Silva, "Qual a probabilidade de um salto em frente do bem-estar das famílias portuguesas nos próximos 10 anos?"

O texto está dividido em duas partes. Vou focar a atenção na primeira parte.

Primeiro, aquilo em que concordo com o autor:
  • A importância da pergunta: "Qual a probabilidade de, nos próximos 10 anos, Portugal dar um importante salto em frente em matéria de bem-estar das famílias e aproximar-se dos países mais ricos da União Europeia?" (Faz-me lembrar a reunião que o jovem Erik Reinert ouviu da boca do então primeiro-mistro irlandês Charles Haughey em Julho de 1980. Comparem com o discurso dos políticos portugueses desde os socialistas da extrema direita até aos socialistas da extrema esquerda, mas o ponto era a ideia dele de aproveitar a então nascente indústria das TI para dar o salto. Discurso proferido nas TV's em Janeiro de 1980)
  • Claro que toda a gente concorda com "o crescimento da produção interna, da produtividade e da competitividade externa são condições necessárias extremamente fortes para uma evolução positiva do bem-estar das famílias portuguesas." Mas cuidado com o que se entende aqui por competitividade externa, não é sobre a competitividade das empresas - isso pode degenerar no Uganda facilmente - mas é sobre a capacidade do país atrair capital estrangeiro.
  • Outra frase com que toda a gente concorda "O aumento da produtividade é decisivo para que Portugal deixe de ser um dos países da União Europeia com mais baixo poder de compra do salário médio, o qual tem vindo a aproximar-se do salário mínimo. E necessário que a produtividade iguale, pelo menos, a média da União Europeia." A produtividade é a variável-chave.
  • Concordo com a frase que se segue, mas é fácil encontrar gente que discorde dela, sobretudo à esquerda do espectro político "A competitividade nacional na captação de investimento direto estrangeiro de qualidade depende da capacidade competitiva em matéria fiscal em relação aos concorrentes, da celeridade do sistema judicial, do nível de burocracia, da qualificação dos recursos humanos e da estabilidade política. Sem o aumento do peso do investimento estrangeiro será muito difícil a Portugal conseguir o aumento do stock de capital produtivo nos sectores dos bens e serviços transacionáveis e a produtividade, a inovação tecnológica, a integração nas cadeias globais de valor e a modernização do sistema produtivo necessários para alcançar uma melhoria significativa do bem-estar das famílias." Este tem sido um tema recorrente neste blogue ao longo dos últimos anos. Refiro só a título de exemplo "Tamanho, produtividade e a receita irlandesa" e "Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas".
Agora vamos aquilo em que discordo do autor:
  • "o aumento do peso da indústria transformadora, são condições essenciais para que Portugal" - Recordo de Março passado "Era importante que olhassem para os números primeiro (parte l)"
  • "É essencial aumentar o grau de complexidade e o valor acrescentado das exportações, em particular nos sectores de veículos automóveis, máquinas e equipamentos, de modo a baixar o conteúdo de importação das exportações em 10 a 15 pontos percentuais." Aqui, em teoria estou de acordo, mas a realidade recomenda-me ter prudência. Produzir para substituir importações consumidas no país é quase sempre um erro, como relato no caso das conservas. Portugueses são pobres importam sapatos baratos. Portugueses exportam sapatos caros. É quase impossível sustentar empresas portuguesas a produzir artigos para portugueses porque os portugueses não os poderiam pagar. Mas mesmo na substituição das importações também há que ter prudência, recordo o caso das fundições e a Autoeuropa.
  • Por fim, o tema final de discordância. Vamos dar-lhe mais espaço e relevância:
"O facto de as micro e pequenas empresas predominarem em mais de 90% é uma das principais razões da baixa produtividade da nossa economia. Daí a urgência em promover concentrações e fusões de empresas, de modo a ganharem a escala que estimula a adoção de técnicas de gestão e processos tecnológicos modernos que possibilitem o aumento do valor da produção por unidade de trabalho e de capital físico. Quando na União Europeia se debate a falta de escala das grandes empresas para competirem com a China e os Estados Unidos em sectores estratégicos, em Portugal há pouca consciência de que as nossas grandes empresas são pequenas a nível europeu."
Quem acompanha este blogue sabe que me passo com esta argumentação:
  • As micro e pequenas empresas têm produtividades mais baixas? Sim, é verdade.
  • As concentrações e fusões de empresas, de modo a ganharem escala para aumentar a produtividade funcionam? Em teoria é bonito, mas na prática não funciona para o tipo de PME portuguesa. Recordo aqui o caso da Gráfica Mirandela. A ideia de que a fusão de pequenas empresas conduzirá automaticamente ao sucesso é demasiado simplista. A simples combinação de três pequenas empresas de calçado ou têxteis não garante o sucesso, pois requer um modelo de negócio diferente a trabalhar para clientes diferentes a vender produtos mais baratos. Por exemplo, o caso da Gráfica Mirandela que comprou a maior impressora rotativa do mundo, mas faliu, ilustra que ter capacidade em grande escala sem contratos adequados em grande escala é insustentável. Além de que o aumento da produtividade com base no denominador é muito mais fraquinho que o conseguido à custa do numerador. Recordar Marn e Rosiello
  • O grande erro desta argumentação é acreditar que o país pode ter produtividade mais alta se tiver fábricas de sapatos maiores, fábricas de camisas maiores e assim por diante. O grande erro desta argumentação é não perceber os Flying Geese.
Dar o salto pressupõe o aumento do peso do investimento estrangeiro por que precisamos de outro tipo de produtos, de outro tipo de sectores. Algo que custa dizer aos actores no terreno hoje.

Claro que é fácil atacar os actores no terreno. Nunca o faço porque sei que fazem o melhor que sabem e podem. O problema não é por causa deles, mas por causa dos que não estão no terreno. No entanto, deixei de ter ilusões sobre a possibilidade de ter um país mais produtivo só baseado neles.




terça-feira, março 19, 2024

Cuidado como cresce

 Li no ECO "Parar de crescer é começar a morrer":

"Se uma empresa não cresce, definha e morre.

...

crescer é mais do que um objetivo, é um desígnio essencial. 

...

A internacionalização só contribui a sério para o fortalecimento, a valorização e a preservação a longo prazo do capital acionista se as empresas tiverem escala. Dos que não se lancem a sério, com coragem, em processos de crescimento ambiciosos não vai rezar a História, nem sequer no mercado doméstico."

Sabem qual o meu problema com este artigo? Crescer à custa da escala (volume).

As empresas podem crescer à custa da escala (volume), à custa do denominador da equação da produtividade a produzir mais do mesmo, ou podem crescer à custa da subida na escala de valor, à custa do numerador da equação da produtividade a produzir coisas diferentes, coisas com maior valor acrescentado.

O racional é o mesmo do agricultor que só consegue aumentar a produção trabalhando mais e mais terra, é a via cancerosa

Entretanto, já depois de escrever o que está para trás. Deparo com este tweet:


E termino com o bacalhau islandês e a cerveja Kirin.



 

quinta-feira, janeiro 04, 2024

Por causa de uns pastéis de nata (parte II)

 Parte I.

Primeiro, recomendo a visualização deste discuro de Milei:

Agora vamos à visão tradicional dos bens transacionáveis:

É tabu mexer no numerador porque se vê o numerador como um dado e não como uma variável.

Qual a lei da vida nos negócios? Recordar de 2010 The Knowledge Funnel (parte I)


Alguém vai olhar para o denominador e reduzi-lo, passando aquilo que era mistério, para um conjunto de regras heurísticas e, depois, para um algoritmo e, depois quiçá, transformando num conjunto de linhas de programação.

Além disso, mesmo não mexendo no numerador, a lei de Kano:
"Price is like gravity,it always goes down if you do nothing"
Como se reduzem os custos?
  • Reduzindo o custo dos factores de produção
  • Aumentando a eficiência
Numa economia aberta, as empresas que não mexem no numerador estão sempre sob a ameaça de "cair no abismo" quando os clientes as trocam por alguém mais barato:

Voltando ao esquema da parte I:


Sem mexer no que se produz, pode-se mexer no que chamei de "contexto" na figura acima para acrescentar valor através de atributos associados ao produto: rapidez, flexibilidade, ... (não coloco aqui a "marca" deliberadamente).

Mexer no "contexto" permite ser competitivo sem no entanto ser muito mais produtivo:

Foi isto que não vi quando escrevi "Mas claro, eu só sou um anónimo engenheiro da província". No entanto, continuo a não concordar com os economistas citados no postal: Aumentar a produtividade à custa de aumentos de volume e escala não é suficiente. Reparar na lição asiática, o que nos traz ao presente não nos pode levar ao futuro:


Voltando agora ao vídeo de Milei. Simpatizo com a teoria, mas o desafio é criar as condições para que a evolução horizontal na figura acima possa ocorrer a uma velocidade tal que não torne a transição muito dura. Contudo, os governos fazem exactamente o oposto. Em vez de apoiarem o novo, apoiam os incumbentes, fica-se numa terra de ninguém tão bem descrita por Spender e Taleb.

domingo, dezembro 31, 2023

Por causa de uns pastéis de nata

Há dias o @romeu publicou este tweet: 

Pastéis de nata à venda em Nova Iorque a 4 dólares a unidade. E o comentário dele "os pastéis de nata também têm de pagar a renda".

Este tweet é, para citar FCF, paradigmático. 

No mesmo dia deste tweet a capa do JdN trazia:

Só aumentos de produtividade importantes podem garantir o aumento dos salários sem aumento do desemprego. Contudo, penso que esses aumentos de produtividade importantes não poderão ser feitos sem aumento da turbulência empresarial.

Voltemos aos pastéis de nata.

Comecemos pela nossa velha conhecida equação sobre a produtividade e o Evangelho do Valor:

Vivemos num país onde quando se fala de aumentar a produtividade fala-se em reduzir o denominador da equação acima porque se considera que o numerador é um dado e não uma variável. Por isso, no resto do postal vamos ignorar as mexidas no denominador. Recordo:
No resto do postal vou usar um significado para a palavra "Valor" diferente do que costumo usar aqui no blogue. Vou usar a palavra "Valor" como "Preço que uma empresa consegue praticar".

Vamos primeiro aos bens não transaccionáveis. Como aumentar a produtividade de uma empresa que produz bens não transaccionáveis?
  • Se os concorrentes nacionais alinharem, a forma mais simples é ... aumentar os preços.
Por isso, um motorista de autocarro deixa de trabalhar em Portugal e na semana seguinte está a trabalhar na Dinamarca a ganhar 6 vezes mais (os políticos portugueses acham que é por causa da formação).

Por isso, os pastéis de nata em Nova Iorque podem ser vendidos a 4 dólares a unidade.

Vejamos no próximo postal o caso dos bens transaccionáveis e a relação com alguns videos de Milei que circulam no Twitter.

domingo, dezembro 17, 2023

Acerca da produtividade

"A produtividade é uma medida da eficiência dos fatores usados numa economia para produzir os bens e serviços. Como o valor acrescentado dos bens produzidos é equivalente, ao rendimento dos fatores que produzem esses bens, a produtividade é, no fundo, também uma medida do rendimento dos fatores produtivos. 

Nesse sentido o Produto Interno Bruto (PIB) per capita entre diversos países comparamos a produtividade dos fatores produtivos, como o trabalho, e o rendimento desses mesmos fatores.

Em termos agregados, a produtividade do trabalho é calculada como a relação entre o produto total e o trabalho utilizado para produzi-lo. [Moi ici: Tenho de escrever sobre isto. Por que é que se pede a uma empresa para quantificar a sua produtividade e ... ela não o consegue fazer. BTW, já leram o que se escreveu na semana passada acerca da produtividade e da experiência da semana de quatro dias? Leiam e façam um esforço para não rir/chorar. Tenho de escrever sobre isso] Há muitas formas diferentes de fazer esse cálculo, mas, em termos gerais, o objetivo é o mesmo. No fundo o bem-estar médio numa economia só pode subir se a produtividade do trabalho aumentar.

...

Aumentar a produtividade da economia é, a médio prazo, o único ingrediente para aumentar o bem-estar das pessoas na sociedade. Medidas como alterações no salário mínimo ou nas taxas de imposto podem ser populares e adequadas, por razões de equidade. Mas o seu impacto na produtividade pode ser nulo ou até negativo. [Moi ici: O seu impacte pode ser nulo ou até negativo porque não deixamos os zombies morrerem. Recordar o Chapeleiro Louco no país do absurdo] De igual modo sistemas fiscais que beneficiem as empresas de menor dimensão podem ser populares na perspetiva da opinião pública, mas são normalmente negativas em termos de produtividade. [Moi ici: Outra falha clássica na análise da produtividade: atrabuir as falhas às empresas/empresários existentes sem nunca pensar nos mastins dos Baskerville

...

para a economia portuguesa, os indicadores mais preocupantes são do seu baixo crescimento da produtividade relativamente às economias europeias de dimensão semelhante. A especialização setorial da economia portuguesa também pode ser prejudicial aos ganhos de produtividade. Por exemplo, a fileira do turismo tende a ter produtividades do trabalho relativamente baixas. Isso não significa que Portugal possa prescindir do Turismo, mas sugere que se o turismo crescer acima da média da economia a nossa produtividade do trabalho irá provavelmente baixar. Em termos empresariais o discurso da produtividade é normalmente impopular. Os trabalhadores sabem que esse discurso vem acompanhado de medidas de eficiência que são percebidos como cortes nos benefícios. [Moi ici: Este trecho faz-me recordar um postal clássico deste blog acerca dos engenheiro e da produtividade. Achar que a produtividade só aumenta à custa da eficiência] Em parte, isso explica porque no ambiente eleitoral os vários partidos fazem tanta questão de evitar falar na importância do crescimento da produtividade.

...

O crescimento da produtividade, em particular do trabalho, continua a ser o principal desafio da economia portuguesa. [Moi ici: Vamos chegar ao final deste texto e só vamos ficar com a ideia de que a produtividade só aumenta à custa de mexidas no denominador... nem uma pista sobre o Evangelho do Valor ] É aí que reside a chave da criação de empregos melhor remunerados. Condição necessária para evitar a saida do país de muitos jovens que procuram apenas salários suficientes para terem uma vida normal."

Trechos retirados de "A produtividade", publicado no Expresso desta semana.

quinta-feira, julho 27, 2023

Acerca da produtividade no Reino Unido

Li no FT, "Why productivity is so weak at UK companies" com o subtítulo "Longstanding problems of low investment and skills gaps exacerbated by overconfidence and lack of management time".

"But he is still in the vanguard of a collective UK effort to solve the puzzle of why British workers turn out less for every hour they work than their counterparts [Moi ici: Não gosto desta formulação. Como se os trabalhadores fossem os culpados ou a solução] in other advanced economies such as the US, Germany and France.

...

Productivity may be an abstract concept for many, but its consequences are real. Higher output  [Moi ici: Outra linguagem arcaica que não gosto de ver usada qunado se fala de produtividade porque me recorda a mentalidade dos engenheiros - foco no denominador] leads to better wages and a more prosperous economy. But UK productivity has grown by just 0.4 per cent annually in the years since the financial crisis, less than half the rate of the 25 richest OECD countries, according to think-tank the Resolution Foundation. UK household income, which used to be ahead of competitors such as France and Germany, now lags behind.

...

suggests British companies are long on confidence but short on commitment when it comes to action and investment in becoming more productive.

...

"Confidence can be a good thing - self-belief is powerful," says the report. "However, an alternative way of putting it is that we [the UK] are good at complacency." [Moi ici: Bom ponto!]

...

Another potential drag on improving output per worker is a relative lack of business investment. "If UK business investment had matched the average of France, Germany and the US since 2008. ... our GDP would be nearly 4 per cent higher today, enough to raise average wages by around £1,250 a year," the Resolution Foundation said in its recent report "Beyond Boosterism", part of its Economy 2030 research on the UK's economic prospects.

...

The proportion of UK businesses that have taken steps to improve or try regularly to measure and improve productivity is slightly down or unchanged since 2020. Some 37 per cent of businesses have discussed or planned improvements - up 8 percentage points between 2020 and 2022 - but not yet taken action.

...

That in turn feeds into concerns about the wider calibre of British managers, memorably voiced in 2017 by Andy Haldane, then Bank of England chief economist, who suggested "a (lack of management quality" was one reason for the UK's long tail of lagging businesses.

In fact, "our long tail doesn't seem to be much worse than others" , says Greg Thwaites, research director at the Resolution Foundation, and most businesses in the long tail are either too small or simply too unproductive for remedial measures to have a big macroeconomic impact. 

Be the Business chief executive Anthony Impey, who has first hand experience of starting and running technology businesses, also defends British managers. Although he acknowledges the cliche that too many small company leaders work "in" their businesses, rather than "on" their business, he points out that the obsession with day to day operations often reflects the ownership structures of such firms.

Many founders mortgaged their homes to launch or sustain their businesses and for those owners "there's a scale of jeopardy which is very often overlooked, because economists and those in big businesses don't have these sorts of stakes in their jobs", he says.

"If you have that kind of pressure, you're going to work in your business 12 hours a day", leaving little time or energy to plan investment or pause operations to implement improvements.

...

Nor do UK managers, accidental or otherwise, seem especially keen on asking for outside advice. The government's long-running survey of small businesses tracks how many leaders have sought "external advice or information" on their business (excluding "casual conversation"). That proportion dropped from almost a third to less than a quarter between 2018 and 2020 and was almost unchanged in 2021, according to the latest report available.

That is worrying because managers who do not take advice tend towards overconfidence, according to the Productive Business Index, which Be the Business has been compiling since 2021. Its latest edition found that business leaders who took no external advice were actually more confident about their leadership and management skills than those that did seek outside support. But managers without external advisers or non-executive directors were less likely to have a two- to five-year strategic plan or to feel they were prepared for unforeseen events.

...

If there were a single catch-all prescription for self-improvement, businesses would probably have applied it by now. Instead, recent analysis suggests companies need to apply a range of measures.

One would be developing and improving management skills and practices. US smaller companies top the ranking of G7 countries on management and leadership and operating efficiency, and are consistently higher than their UK equivalents in their plans to improve capabilities over the next 12 months."

sábado, julho 08, 2023

Trabalhar o denominador ou o numerador

A continuar a minha leitura de "Flawless consulting: a guide to getting your expertise used" de Peter Block encontrei este trecho:

"In the second edition of this book at the turn of the century, what was new in the discovery phase were the whole-system methodologies described in Chapter Eleven. Since then, probably the most interesting new development in discovery is the growing interest in looking at a system's gifts, capacities, and possibilities. This approach is used in addition to, or sometimes in contrast to, looking at problems - their causes and their solutions.

This approach goes under many names: asset-based community development, positive deviance, positive psychology, appreciative inquiry, future search, and more. Each of these is based on the premise that looking at what in our history we want to preserve, or what is working in a system now, or what a system longs to create in the future is a powerful way to build commitment and sustainability into any consultative or change process."

A abordagem tradicional a que o autor se refere é a de melhorar o que existe através do ataque às causas das falhas, a abordagem nova referida neste trecho é a de procurar os "system's gifts, capacities, and possibilities".

Entretanto, passei parte da semana a preparar uma acção de formação para introduzir um conjunto de pessoas à abordagem por processos para que participem num esforço de melhoria na senda da abordagem tradicional. 

A abordagem tradicional tem o seu lugar. No entanto, em algumas circunstâncias não é a mais adequada. Por isso, ao pensar no país escrevi em 2013: Redsigma - O fim da linha

Como exemplo da abordagem assente em "looking at a system's gifts, capacities, and possibilities" também de 2013: O repovoamento do interior também passa por isto.

De um lado lado temos o trabalhar o denominador (a abordagem tradicional), do outro o trabalhar o numerador (a abordagem dos gifts, capacities, and possibilities).

quinta-feira, junho 22, 2023

A concorrência "desigual" ou A evolução da produtividade (parte VII)

 Parte VI,  Parte VParte IVParte IIIParte II e Parte I.

A desglobalização em curso e as barreiras à entrada de emigrantes nos Estados Unidos geram este resultado inevitável. Por isso, é que o patronato é tão adepto da imigração.

O aumento dos salários na base da pirâmide não só beneficia as pessoas que o recebem, como promove a morte das empresas incapazes de os pagar, podendo contribuir para o aumento real da produtividade agregada do país (nos Estados Unidos ainda não está acontecer porque o numerador não está a crescer mais do que o denominador). Esta morte, como é natural, e não imposta por um governo, liberta recursos para outras empresas quando são precisos e sem que fiquem por aplicar. É, sem tirar nem pôr, ao vivo e a cores, o Flying Geese a funcionar.

Os responsáveis pelas empresas que vão morrendo argumentam como o actual governo de Portugal:

"A secretária de Estado da Promoção da Saúde admitiu esta quarta-feira dificuldades em contratar especialistas de obstetrícia e ginecologia para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), alegando a concorrência "desigual" do setor privado.

...

Segundo disse a governante, o "problema" na contratação destes especialistas para os hospitais públicos reside na "concorrência com os privados que é desigual"."

Havendo mão de obra barata ao preço da chuva ... Portugal não irá crescer se continuar a “exportar ‘mais do mesmo’”

Não há acasos, está tudo relacionado.

terça-feira, junho 20, 2023

A lente macro é tão ...

"When the world's business and political leaders gathered in 2018 at the annual economic forum in Davos, Switzerland, the mood was jubilant. Growth in every major country was on an upswing. The global economy, declared Christine Lagarde, then the managing director of the International Monetary Fund, "is in a very sweet spot." Five years later, the outlook has decidedly soured.

...

A lot has happened between then and now: A global pandemic hit; war erupted in Europe; tensions between the United States and China boiled. And inflation, thought to be safely stored away with disco album collections, returned with a vengeance. But as the dust has settled, it has suddenly seemed as if almost everything we thought we knew about the world economy was wrong. [Moi ici: Mas quem é que achava que estava tudo bem?]

The economic conventions that policymakers had relied on since the Berlin Wall fell more than 30 years ago - the unfailing superiority of open markets, liberalized trade and maximum efficiency look to be running off the rails. [Moi ici: Este blogue sempre achou errada a crença absoluta na maximização da eficiência, basta recordar os marcadores eficiência, eficientismo e denominador]

...

Globalization, seen in recent decades as unstoppable a force as gravity, is clearly evolving in unpredictable ways.  [Moi ici: Outra tema caro a este blogue, há mais de 17 anos que escrevemos aqui sobre as forças a minar a globalização. Recordo O regresso dos clientesEspeculação - um epílogo?] The move away from an integrated world economy is accelerating. And the best way to respond is a subject of fierce debate.

...

As the consulting firm EY concluded in its 2023 Geostrategic Outlook, the trends behind the shift away from ever-increasing globalization "were accelerated by the Covid-19 pandemic - and then they have been supercharged by the war in Ukraine."[Moi ici: Nunca esqueço de Maio de 2020 - El coronavirus actúa como acelerador de cambios que ya estaban en marcha]

...

Associated economic theories about the ineluctable rise of worldwide free market capitalism took on a similar sheen of invincibility and inevitability. Open markets, hands-off government and the relentless pursuit of efficiency would offer the best route to prosperity. [Moi ici: Recordo aquilo a que chamo a doença anglo-saxónica, recordo as críticas que fazemos há anos à automatização - Especulação sobre mais um falhanço da automatização, recordo o que escrevo sobre Kevin O'Leary]

...

The story of the international economy today, said Henry Farrell, a professor at the Johns Hopkins School of Advanced International Studies, is about "how geopolitics is gobbling up hyperglobalization. [Moi ici: O que me impressiona nestas análises é que me parecem demasiado macro. Há mais de uma década que a globalização está a recuar por causa de Mongo, por causa do fim do modelo do século XX, por causa de "We are all weird"]

...

"Ignoring the economic dependencies that had built up over the decades of liberalization had become really perilous," Mr. Sullivan, the U.S. national security adviser, said. Adherence to "oversimplified market efficiency," he added, proved to be a mistake." [Moi ici: O que me impressiona nestas análises é a crença de que a economia é como a física newtoniana, quando a economia é a continuação da biologia"]


Trechos retirados do artigo, "Failures of Globalization Shatter Long-Held Beliefs", publicado no NYT do passado Domingo. 

domingo, junho 11, 2023

A evolução da produtividade (parte IV)

Parte IIIParte II e Parte I.

Em Acerca do Evangelho do Valor uso esta equação:

A maioria das empresas trabalha para reduzir os custos, trabalha o denominador. Uma minoria valoriza acima de tudo o trabalhar o numerador. 

Quem mete todas as fichas no denominador acaba quase sempre na chamada race to the bottom (ver parte III):

No último livro de Seth Godin, "The Song of Significance: A New Manifesto for Teams" pode ler-se:
"The truth is simple: Widget production [Moi ici: Trabalhar o denominador] is fairly straightforward to measure and increase. But those metrics (and methods) don't work for human interactions, insight, or innovation. [Moi ici: Trabalhar o numerador]
...
When we consider the four kinds of work, we can lay them out in a two-by two grid with stakes and trust as the two axes.
High-stakes, low-trust work is the work assigned by the industrialist. [Moi ici: Trabalhar o denominador até mais não, solução para lidar com commodities] This is meeting spec. Test and measure. Surveillance. Traditional management lives in this quadrant. This is how you successfully run a fast-food franchise. Every customer is important, and every output needs to be identical.
Low-stakes, low-trust work is similar, except it's easily outsourced. This isn't work your organization needs to take seriously or personally.
...
The next quadrant is for work that is low stakes but high trust. This is the work of culture creation, of community, of people we care about showing up each day to contribute a bit to the whole. The work is consistent, but it's human, not industrial. The shifts caused by pandemic disruptions, outsourcing, work from home, and AI have disrupted this quadrant.
And the final quadrant, the most important one, is the work with high stakes and high trust. This is significant work, important work, work on the edge. This is the work that creates human value as we connect with and respect the individuals who create it.
It doesn't pay to industrialize this work or to create it under duress. Because then it becomes industrialized and once again joins the race to the bottom.
...
This is a race you don't want to run. Because you might win. Or worse, come in second.
This is the industrialist's race, the race of productivity. [Moi ici: Não esquecer esta frase "the race of productivity", voltaremos a ela numa próxima parte. Recordar Reinert e o Uganda. Por que não associamos produtividade a high trust? Talvez por causa da doença dos engenheiros] This is the challenge of more for less, of mass-market quality at scale.
The race to the bottom also offers low prices, average quality, and plenty of room for excuses about our lack of humanity and a focus on the short term. The race to the bottom is filled with shortcuts and with competitors who are willing to sacrifice integrity for a slight edge.
At first, heading to the bottom is thrilling, because a small head start feels like an extraordinary boon. The sales and profits quickly arrive.
But inevitably, when a competitor shows up, it becomes a race. And to win that race, all the elements that attracted you to the work quickly disappear."

Continua.

terça-feira, maio 02, 2023

Como é que ninguém fala disto?

Recordo o postal recente O que será utilizar bem os fundos comunitários?

O que será preciso para aumentar a produtividade num sector tradicional como o têxtil?

Não é preciso inventar, basta olhar para o sector têxtil alemão, sim alemão.

Recuo a 2015 e ao artigo citado em Diferenciação permite coabitação:

"Estive há tempos num congresso da indústria em Dresden [Alemanha] e quase não se falou de roupa. Falou-se sim da indústria automóvel, da aeroespacial ou da construção", nota Braz Costa, administrador do Citeve e do Centi, um centro de investigação nas áreas da nanotecnologia e dos materiais inteligentes com sede em Famalicão. Não admira por isso que o maior produtor e exportador têxtil da Europa seja a Alemanha. Não de peúgas ou de t-shirts, mas de materiais com que se fazem os painéis dos automóveis, próteses médicas, peças de motores ou asas de aviões."

Qual o salário médio de um trabalhador têxtil alemão? Em 2020 foi de 2971 euros de acordo com dados do Statista. Qual o salário médio de um trabalhador têxtil português? Em 2020 foi de 939 euros de acordo com dados do INE.

Como é que ninguém fala disto?

Cada vez mais vou-me convencendo que os fundos comunitários funcionam como algo que torna esta evolução mais, muito mais lenta.

Mais uma vez, não se chega lá trabalhando no denominador da equação da produtividade, mas no numerador.

sábado, fevereiro 04, 2023

Ilusões infantis

"Acrescentou ainda, que a evolução da produtividade em Portugal "tem sido muito lenta".

"Este é um drama também com que nos confrontamos e é uma questão que suscita inquietação, porque não há nenhuma resposta clara". Referiu ainda que "precisamos da modernização do nosso tecido produtivo" e para isso "o associativismo empresarial pode e deve ter aqui um papel muito importante, porque, por vezes, há falta de escala das empresas portuguesas".

"As pequenas e médias empresas necessitam de se associar para ganhar escala, indo de encontro, ao que a ACIB defende à décadas", afirmou."

Acreditar que o aumento da produtividade que Portugal precisa, o salto de produtividade necessário, será consequência de aumento da escala das empresas existentes é uma ilusão infantil. Basta fazer as contas. Quase ninguém faz contas. Basta fazer uma simulação, basta escolher uma empresa-tipo portuguesa e simular o que seria preciso para que a sua produtividade aumentasse 30/35%. A nível de preço final de venda ou a nível de redução de custos. Não estamos em 1923, estamos em 2023!!!

O que nós precisamos é de "gansos voadores":

Fundir duas empresas têxteis para que a empresa resultante tenha ganhos de escala não garante que o preço dos produtos vendidos suba, apenas garante que os custos de fabrico podem baixar, mas para quem segue este blogue ... o segredo é trabalhar o numerador e não o denominador da equação da produtividade.


Trecho retirado de "Francisco Assis alerta para "problemas sérios" da realidade portuguesa em conferência da ACIB"


quarta-feira, janeiro 25, 2023

Mais do que a redução do custo.

"A Purchase Is Always Based on Value and Never on Price! 

...

What I mean is that if a consumer perceives that they must give more than they get from a transaction, they will stop buying. Ergo, if the price is higher than the utility of the product, there will not be any exchange. In other words, the utility describes whether the value is positive. To obtain sales, one must therefore either increase the value or reduce the cost to sell the product.

...

Perceived value is the consumer’s overall assessment of the utility of a product based on the perception of what is received (benefits) and what is given (costs). This means that value is individual and personal. It is a compromise based on what you get versus what you give.

...

Price is defined as what one sacrifices (money, time, risk) to acquire a product. Price in this context is more than the money you pay for a product."

Aumentar o valor decorre de trabalhar o numerador e/ou de trabalhar o denominador. 

Há anos que escrevo aqui sobre a importância e impacte de aumentar o valor (produtividade) através do numerador, embora a acção mais comum das empresas se foque no denominador com a redução dos custos, para poder reduzir o preço. Aproveito para salientar que ao nível do denominador também se pode trabalhar o tempo e o risco.

Trechos retirados de "Pricing" de Ragnhild Silkoset.

terça-feira, janeiro 03, 2023

Aumentar a produtividade? No way!

Na passada segunda-feira, 2 de Janeiro de 2023, o JdN trazia este gráfico:

Conclusão?




PREOCUPANTE!!!

O que é a produtividade?
A produtividade é um rácio, a produtividade mede um efeito de alavanca.
Investimos numa série de entradas (custos) - o que representa um valor monetário A. 
Obtemos como resposta uma série de saídas que após venda (só após venda, pois isso é que prova que o produto tem valor para o cliente. Não conta produzir um artigo que vai "apodrecer" no armazém sem procura) - o que representa um valor monetário B. 
A produtividade é o rácio B/A. A produtividade mede o retorno do investimento em A?

Como temos escrito aqui no blogue ao longo dos anos, como é que se pode aumentar a produtividade?

Fácil!
Aumentar B ou reduzir A. A tal diferença entre trabalhar o numerador ou trabalhar o denominador.

Só que há um pormaior. A maior parte das pessoas quando pensa em aumentar a produtividade fixa-se em reduzir o A e mantém o B constante. Ora como referi, pela enésima vez, em E o burro era eu! o impacte de trabalhar o B é muito maior do que o impacte de trabalhar o A. 

Ou seja, voltando à aqui famosa pirâmide de Larreché:
A maioria das empresas concentra-se a melhorar a produtividade nas zonas onde o retorno do esforço é menor. 

Aumentar o B significa trabalhar na "Originação de valor", significa aumentar o preço do que se vende porque se cria mais valor para os clientes-alvo. Ou porque se melhora a qualidade do que se produz (aqui melhorar qualidade não é reduzir defeitos), ou porque se começa a trabalhar para clientes-alvo diferentes que dão mais valor à oferta específica que fazemos.

Voltemos ao gráfico do JdN:
  • Reduzir pessoal - trabalhar o A e, como se aprende com Marn e Rosiello, é a medida que menos retorno traz
  • Investir em tecnologia - presumo que seja trabalhar o A. A tecnologia é apenas uma ferramenta
  • Reorganizar os procedimentos e processos - trabalhar o A por excelência. Voltar aos anos 90 do século passado e à reengenharia. Michael Hammer de novo?
  • Flexibilizar o horário de trabalho - muito provavelmente trabalhar o A. O politicamente correcto tem horror a dizer que a produtividade é baixa porque os trabalhadores são preguiçosos. No entanto, os mesmos adeptos do politicamente correcto são os primeiros a defender que trabalhadores com horário mais flexível, ou com melhor salário, serão mais produtivos. Acho estranha esta contradição que mais ninguém refere. 
  • Investir na formação em liderança e gestão - Incógnita ... se continuarem com mentalidade de engenheiro é trabalhar o A
  • Redefinir cadeias de abastecimento - trabalhar o A
  • Não se aplica/não responde - ainda perdidos.
Chegado aqui, interrogo-me: por que deveria esperar um resultado diferente? Basta recordar o Forum para a Competitividade.