terça-feira, agosto 20, 2024

Em Portugal, a conversa de café é a norma (parte II)

Pergunte-se, por que é que nunca lhe mostraram estes números?

Quando escrevi a parte I a minha ideia era escrever uma parte II que respondesse à pergunta "Como se altera a composição relativa dos sectores económicos?" e numa parte III mergulhar nos números. Agora, mudei de ideias. Responderei à pergunta numa parte III e vou dedicar esta parte II aos números.

Pense na quantidade de pessoas que falam e escrevem sobre produtividade. Pense nas dezenas de anos e milhares de conversas em que o tema da produtividade é discutido. Recorde as teorias mais estapafúrdias que aparecem nos media, um exemplo cómico, outro exemplo cómico de 2007 é o da saudade. E recorde os professores de Economia a pedirem estudos, "Formação e salários: não podemos nivelar por baixo", quando basta procurar os números. Não resisti...

Vamos lá aos números a frio sem mais demoras.

Na parte I apresentamos esta comparação:

Alguma vez foram procurar números ao sítio da instituição irlandesa que trata das estatísticas, Central Statistics Office (CSO)? Vamos a esta publicação em particular, "Productivity in Ireland Quarter 3 2023". Nela vão encontrar algo que referimos inicialmente aqui no blogue em 2020, no dia em que nasceu o primeiro campeonato do Amorim, no dia em que chamei a atenção para a falta de informação e conhecimento de Alexandre Relvas sobre este tema em particular. 

No referido site encontramos que a produtividade na Irlanda, por hora trabalhada, no terceiro trimestre de 2023 foi de 103,9 €/h. Reparem neste gráfico:
Três linhas?!!!

Reparem como a prática do CSO é a de apresentar três números em simultâneo:
  • para a economia no seu total - 103,9 €/h
  • para o sector doméstico - 54,4 €/h
  • para o sector estrangeiro, agarrem-se à cadeira - 405,9 €/h
Perguntam vocês: o que é isto de sector doméstico e de sector estrangeiro?

Sector Doméstico: Inclui empresas que são de propriedade maioritariamente irlandesa e que operam principalmente para o mercado interno. Essas empresas têm menos vínculos com as supply-chain globais e são mais representativas da economia local.

Sector Estrangeiro: Compreende as empresas que são de propriedade estrangeira, muitas vezes multinacionais, que operam na Irlanda. Estas empresas estão fortemente integradas nas supply-chain globais e utilizam a Irlanda como uma base para produção e exportação para outros mercados.

No final do artigo abram a "Table 1.1: Labour Productivity by Sector (Euro per Hour)", vejam a produtividade de "Manufacturing sectors dominated by foreign-owned multinational enterprises" (503,6 €/h) e comparem com "Manufacturing sectors dominated by domestic and other enterprises" (88,4 €/h) há aqui um efeito de spillover (recordo que a produtividade por hora trabalhada na Alemanha em 2022 foi de 63 €/h).

Pergunte-se, por que é que nunca lhe mostraram estes números?

Vou repetir-me na parte III, mas conseguem agora relacionar: 
  • a lição irlandesa;
  • os mastins dos Baskerville, os que "não ladram" porque não estão presentes;
  • "a descida do IRC é injusta" - tão dolorosa é a posição do PS como a do PSD. Um porque não a quer, o outro porque não a sabe explicar;
  • Portugal precisa mais delas do que elas de Portugal;
  • Flying Geese;
  • deixem as empresas morrer;
  • Maliranta e Taleb; e
  • falta a parte dolorosa da transição.

2 comentários:

João Pinto disse...

Carlos,

Tendo em conta que usou o caso irlandês e o compara com Portugal, expondo a diferença de produtividade das empresas do sector doméstico e do sector estrangeiro, gostaria que indicasse quatro ou cinco medidas que permitissem atrair aquelas empresas.

Eu tenho uma ideia, mas gostaria de saber a sua opinião: impostos (simplificação, impostos mais baixos), licenciamentos, leis laborais...

CCz disse...

Olá João,
Amanhã escrevo sobre isso na parte III. IMO julgo que a medida mais importante seria tirar-nos desta posição no ranking "Corporate Tax Rank" aqui https://taxfoundation.org/wp-content/uploads/2023/12/2023-International-Tax-Competitiveness-Index-Rankings.png