A pergunta do final da parte I foi: "Como se altera a composição relativa dos sectores económicos?"
A esta pergunta alguns vão responder com outra pergunta: Por que é preciso alterar a composição relativa dos sectores económicos?
Neste blogue ninguém deseja o mal de ninguém, todos fazem falta até que o mercado diga que chegou a hora de morrerem porque não mudaram, ou porque chegaram ao limite da mudança permitida. Recordo que há muitos anos que olho para a economia como uma continuação da biologia. Se os crocodilos encontraram um nicho também algumas empresas em
sectores tradicionais o conseguirão fazer. No entanto,
um nicho é um nicho.
Vamos considerar um cenário onde não se altera a composição relativa dos sectores económicos.
Como pode aumentar a produtividade do país? Este é o campo dos "
Carlos consultor":
Os consultores podem ajudar a conseguir melhorias intrasectoriais. É o mundo da melhoria da eficiência, melhoria da inovação e consequente melhoria de preços.
Os consultores podem também ajudar a conseguir melhorias por
mudança de sector. Por exemplo:
Por exemplo, uma empresa do sector têxtil conseguir migrar para o fabrico de têxteis técnicos para a indústria aeronáutica ou automóvel. Só que isto tem de ser feito em larga escala para o agregado se mexer.
Esta melhoria da produtividade nunca será capaz de trazer o salto para nos tirar dos 66% da média europeia.
E quando se considera um cenário onde se altera a composição relativa dos sectores económicos? Ou seja, quando se mexe a sério no agregado?
Aqui entra o ponto de vista do Carlos cidadão. Os empresários portugueses fazem o melhor que podem e sabem, mas para alterarem a composição relativa dos sectores económicos teriam de ter muito mais capital e, sobretudo mais know-how (reparem como todos os
investimentos industriais da Sonae na Europa deram para o torto, por exemplo). Algumas vozes recomendam a fusão e concentração das empresas porque as empresas maiores têm produtividades superior às empresas pequenas no mesmo sector de actividade. Só que estas vozes não sabem é que o mercado que uma empresa de calçado com 200 trabalhadores tem de servir não é o mesmo mercado, com a mesma proposta de valor que quatro empresas de calçado com 65 trabalhadores servem. Se as juntarem elas não vão conseguir servir nem os antigos nem os novos, por falta de know-how e, muitas vezes, por hardware inadequado.
OK. Onde se arranja know-how e capital em quantidade? Com investimento directo estrangeiro.
Por que é que investimento directo estrangeiro escolheria Portugal? Ver a coluna "Corporate Tax Rank" no "
2023 International Tax Competitiveness Index Rankings". Por isso, escrevi:
Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas. Por isso, acho incrível que os números da parte II e esta necessidade de alterar a composição relativa dos sectores económicos não entre nesta conversa
Descida do IRC é injusta (tanto o PS como o PSD são desesperantes, um porque está contra e o outro porque não sabe defender a necessidade da descida, refugiando-se na necessidade das empresas existente acumularem capital. Sim, isso é verdade, mas a verdadeira razão é muito mais importante, copiar a atractividade irlandesa). Por isso, escrevo há anos sobre os
mastins dos Baskerville. Na estória de Sherlock Holmes os mastins não ladraram e isso era significativo. Neste tema, o significativo são as empresas que não estão presentes na economia portuguesa, as presentes fazem o melhor que sabem com os resultados que temos.
Quando foi o último grande salto da produtividade portuguesa? Quando milhares de alentejanos abandonaram a agricultura e foram trabalhar na cintura industrial de Lisboa. Recordar
Reinert:
"As was so obvious to American economists around 1820, a nation - just as a person - still cannot break such vicious circles without changing professions."
Este tipo de salto pode ser conseguido com investimento directo estrangeiro. Mas não é com apoios para suportar negócios que vivem de apoios. Não, é criar as condições e deixar quem sabe criar riqueza vir.
Acerca da produtividade um dos primeiros choques que tive, porque ia contra o mainstream, foi-me dado por um finlandês,
Maliranta, que escreveu sobre a experiência finlandesa. Com ele aprendi algo deste género: "É amplamente aceite que a reestruturação das empresas aumentou a produtividade ao deslocar trabalhadores pouco qualificados e criar empregos para os altamente qualificados. Contudo, isso é falso. Na sua essência, a destruição criativa significa que as fábricas de baixa produtividade são substituídas por fábricas de elevada produtividade ." Por favor, volte a trás e releia esta última afirmação. O salto de produtividade não é dado por trabalhadores com mais formação (recordar a
caridadezinha ou a azelhice ao estilo de AOC de um presidente da
câmara de Guimarães), mas por outro tipo de empresas.
Outra afirmação que guardo
há anos sobre o tema:
"Systems don’t learn because people learn individually –that’s the myth of modernity. Systems learn at the collective level by the mechanism of selection: by eliminating those elements that reduce the fitness of the whole, provided these have skin in the game."
"By and large, the inability to distinguish the A and B groups rendered these grants socially counter-productive. The funds flowed selectively into the least viable part of the industry, preventing change, and subsidized competition with the A-group, so slowing its growth."
Às vezes penso que se não fossem os apoios da UE a economia portuguesa estaria mais desenvolvida, porque muitos desses apoios são para apoiar as empresas que passam mal. O apoio funciona como uma botija de oxigénio para um zombie.
Por fim recordo os
Flying Geese uma ilustração clara do que é preciso para conseguir a tal alteração da composição relativa dos sectores económicos:
BTW, para conseguir a tal alteração da composição relativa dos sectores económicos tem de haver uma
transição mais ou menos dolorosa.
Como não há esta injecção de capital e know-how, os incumbentes vão
recorrendo a truques para se manterem.