Vivemos um tempo esquisito, o tempo da pós-verdade.
Vou-me abster de usar palavras minhas e vou usar as palavras de Helena Garrido em 2016:
"Não importam os factos, pouco interessa o que é verdade, acredita-se, quase por fé, naquilo que se deseja que seja verdade. É o sentimento que conta, tal como nos mercados. Não é mentira, mas também não é verdade mas é aquilo que queremos que seja a realidade, [Moi ici: Este trecho é particularmente interessante. Por exemplo, quando só nos contam parte da estória] seja porque assim pensam os nossos amigos, a nossa tribo seja o partido ou clube de futebol, ou aqueles a quem damos maior credibilidade que não são – e esta é a grande diferença – especialistas.
Na era dos factos, basta verificar com estatísticas, frases ou relatos para se fazer ou desfazer uma declaração. Nesta nova era é mais importante quem diz, a que “tribo” pertence e especialmente, num mundo de imagem, a forma como se afirma."
Por que recordo isto? Por causas das notícias sobre a semana de 4 dias.
Por que não começam por a aplicar ao SNS? Veriam como resulta. Viram o impacte da redução das 5 horas semanais?
Recordo uma experiência de 2009 sobre a simples redução do horário das 40 para as 35h semanais.
Por que é que estes estudos não falam da amostra de empresas? Que empresas, em que sectores, o que fazem, o que entregam?
Algumas das empresas que participaram no estudo só aplicaram a semana dos 4 dias a parte dos trabalhadores (presumo que os deltas e epsilones ficaram de fora). BTW, leu algures em algum orgão de comunicação social sobre essa particularidade?
Imaginem empresas de fabrico de sapatos, ou serviços municipalizados de transporte, ou supermercados, menos tempo de operação dariam origem a:
- Diminuição de produção, ou horários de funcionamento mais curtos no retalho, gerando perda de vendas e insatisfação dos clientes.
- Horários de funcionamento mais curtos representam uma utilização mais baixa dos activos, ou seja, custos fixos mais altos para os suportar.
- Aumento de custos, para manter os actuais níveis de produção ou de serviço, as empresas terão de contratar pessoal adicional ou pagar mais horas extraordinárias.
- Desafios de coordenação das mudanças para garantir as operações contínuas, particularmente verdade para os processos de fabrico que funcionam 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Dito isto, claro que há sectores onde a semana de 4 dias pode funcionar. Por favor, não a publicitem desta forma. Pessoas menos informadas, como o senhor que ocupa o cargo de presidente da república, podem achar que pode ser aplicada sem custos adicionais.
Segundo o estudo:
"In Portugal, 75 per cent of companies have made at least one organisational change. The most popular was reducing the number and duration of meetings, and defining and enforcing a set of rules. Ten companies have adopted or deepened their knowledge of some organisational software, and nine have automated or eliminated processes. To improve concentration and deep work, several companies have created 'blocks of work' throughout the day for individual work, teamwork, of for responding to emails. Many of today's business problems are related to multiple communication channels in the firm: emails, meetings, phone calls, WhatsApp, or management software, which overlap, creating frictions in the transmission of information. Some companies have created a communication guide, striving to organise and document information so that any worker can access it asynchronously without having to interrupt or involve colleagues. Other changes include: adjusting the timing of meetings with clients or suppliers, or offering time-management training to workers."
Tudo coisas muito úteis para os deltas e epsilones. BTW, por que precisaram da experiência para fazer estas alterações? Fazem sentido para qualquer empresa.
Sem comentários:
Enviar um comentário